Capítulo I
Sentimentos são algo que você não consegue evitar. Alguns frios por aí dizem que sim, que é fácil e etc. Esses frios são os Arianos. (piadinha interna, era necessário). Mas eu, como boa pisciana que sou, nunca soube esconder sentimentos, tampouco evita-los. As vezes sou tachada como trouxa, ou qualquer apelido que inventaram para quem sente demais. Como se isso fosse um defeito. Por favor né? Desde quando sentir é errado? Estamos numa época em que se eu sinto e demonstro, sou tachada como trouxa, apegada demais, burra. Absurdo. Diga-se de passagem que eu não me arrependo de sentir. Se deu certo, ótimo. Se não deu, aprendizado. E essa história é um aprendizado.
Ouvi dizerem por ai quando alguma menina dizia “ele me magoou, é um idiota” respostas como “Você só escolhe caras errados, por quê não nota em outros? Isso que dá priorizar só beleza.” Não que Nicholas não fosse bonito. De longe, mas eu não o escolhi por besteira e nem o encontrei nessas noites de balada. Ou aquele crushzinho de sempre. Ele é acima de tudo, meu melhor amigo. A pessoa que eu mais confio no mundo, ou confiava. Já que os últimos acontecimentos não cooperaram para tal fato.
Eu ‘tô começando uma história pelo final. O que é, no mínimo, estranho. Entretanto, contudo, todavia, finais são necessários para que hajam recomeços. E é disso que trata uma história. Não vale a pena lutar por algo que só eu me esforçava. Ele me fazia feliz? Sim. Mas isso mudou com o tempo e eu não culpo a mim. Culpo a ele. Já que eu fiz tudo da melhor forma possível. E ainda sim, ele preferiu procurar tudo que ele tinha fora daqui. Foram vários vacilos, mas vários perdões. Várias brigas e várias reconciliações. Eu fazia de tudo por ele e ele já tinha começado a me tratar como um nada. Todo mundo via isso, mas eu não. Eu estava cega. Sabe quando você gosta tanto de alguém que parece que você não vê lado errado, defeitos. Alias, defeitos? Ele não tinha isso. Ele era perfeito. Um príncipe, na verdade. E eu era uma princesa. Ao menos no filme da Louise. Eu era uma princesa, só esqueci de me lembrar que contos de fada ficaram na infância e no livro da branca de neve.
Capítulo II
- Só não entendi o porquê, Nicholas. O porquê de simplesmente não conversar comigo e dizer o que te incomodava.
- Porque não dava, . Eu queria você e quero ainda, mas eu detestava você de amizade com .
- O Samuel é meu amigo, por Deus!
- Eu sou seu melhor amigo, . E tendo a mim, você não precisa de mais ninguém
- Nicholas, para de ser possessivo assim. Eu posso ter amigos e posso ter minha vida. Sou sua namorada e não sua propriedade.
- Sim, . Você é minha e sabe disso. – Ele disse beijando meus ombros de forma que ele sabia como me distrair e deixar aquela discussão pra depois. Ou especificamente para nunca. Já que no dia seguinte tudo acordava bem. Tudo era rosa novamente e sendo rosa. Eu voltava para o conto de fadas. No qual só eu não havia notado. O príncipe que eu julgava ser príncipe, era um sapo que me remetia a um relacionamento completamente abusivo. Mas me perguntam hoje em dia. “Ele te batia?” Não, ele não me batia. Mas quem é que disse que relacionamento abusivo é isso?
Ele não me batia, mas fez eu me afastar da minha família, dos meus amigos, e de tudo que possa (de longe) causar uma briga.
Ele não me batia, mas sentia muito ciúmes, afinal ele me amava demais.
Ele não me batia, mas dissolvia meus sonhos.
Ele não me batia, mas te chantageava sem que eu me desse conta.
Ele não me batia, mas me impunha as vontades dele, os amigos dele, as músicas dele, os passeios dele.
Ele não me batia, mas eu perdi minha personalidade e minha vontade.
Eu fui ficando cada dia mais e mais sozinha, mais e mais isolada do mundo e presa num relacionamento sem futuro. Cada dia com mais medo do que podia me acontecer por decisão dele ou por decisão minha mesmo. A tristeza se torna maior do que os poucos momentos bons.
A menina cheia de vida, que tinha lindos planos, dá lugar à uma menina de cabeça baixa, sem muitos sorrisos, mal-humorada, que só pensa em agradar o príncipe encantado que eu tinha idealizado
Então quando me dizem “vocês eram perfeitos um para o outro” eu tento pensar na quantidade de casais “perfeitos” que vivem por ai. Quantas vezes, quando eu me encontrava solteira eu analisava casais ‘felizes’ abraçados naquela pracinha, ou andando de mãos dadas no shopping enquanto eu andava com a sacola de uma loja preferida sozinha e pensava ‘por que não eu? Em meio a tantos casais perfeitos, por que não eu? Mas depois de certo tempo, sendo o casal “perfeito” eu percebi que isso não existe. Quando na verdade, ninguém sabe o que acontece no interior de cada um. No fundo, talvez aquele casal que você vê quando está sentado terminando um lanche no Burguer King ou andando de mãos dadas cheios de sorrisos são na verdade solitários. É solidão, isso não é questão para quem está solteiro. Solidão é sentir-se vazio. E 60 por cento dos casais que vocês consideram perfeitos sentem-se vazios. Mas a comodidade, ou o fato de ser um relacionamento abusivo lhes dificultam a colocar um fim. Porque o fim é sempre complicado, você acha que não vai ser suficiente pra ninguém. Mas deixa eu te contar um segredo? Qualquer pessoa que te faz querer se encaixar nela, não é uma pessoa pra você. Eu tinha o tamanho certo, mas quis me diminuir tanto pra entrar em um relacionamento pequeno. Eu mergulhei fundo em um relacionamento completamente raso.
Capítulo III
Deixei o cabelo crescer, não mudei a cor e fiz milhões de dietas. Eu mudei meus hábitos, minhas amizades e mesmo assim não era o suficiente. Ouvi um conselho de uma amiga e resolvi ir ao salão. Cortei as madeixas na altura do ombro e pintei de preto. É preto mesmo e cheguei em casa, completamente ansiosa pra ver Nicholas. Dois anos de namoro era uma data mais que especial.
A buzina soou e eu sai porta a fora.
- Que merda é essa?
- Que merda, amor?
- Seu cabelo, Ray.
- Ah, você gostou? Resolvi mudar.
- Mudar? Sempre disse que eu preferia louro e grande.
- Mas eu estava cansada daquela cor, amor.
- Estragou até meu dia, vamos pra casa pedir uma pizza.
- Mas é nosso aniversário de namoro, Nicholas.
- Eu sei e você estragou nossos planos.
E eu achava que era verdade. Afinal, se meu namorado não tinha gostado, por que é que eu ia gostar?
Eu estava ali para agradá-lo, não era?
- , você tá linda! – Samuel, meu amigo, ultrapassou a porta da sala ao me ver sentada na beirada da mesa da sala da faculdade.
- Ah, não precisa mentir.
- E por que eu ia mentir, louca?
- Nicholas já me disse que o louro ficava melhor.
- Eu te acho linda de qualquer jeito e você é quem precisa gostar.
- Eu já disse que você é o melhor amigo do mundo?
- Eu sei, morena. Eu sei. – E eu o abracei. Ele sempre me animava, sempre me dizia a verdade. E eu começava a entender que na verdade quem quer te ver feliz faz de tudo para ver você sorrir.
- Convencido.
- Falando nisso, aquela banda que você gosta. Vai fazer dois shows no Brasil, né?
- Que banda?
- Little sei lá o quê.
- Little Mix e desde quando você sabe que eu gosto delas?
- Há muito tempo, eu noto em você, baixinha.
- Mas o que tem elas?
- Eu desembolsei uns ingressos num sorteio. E o show é em agosto, se quiser. Eu posso talvez, te dar um ingresso.
- Fala sério! Você não fez isso.
- Só se você me ensinar a dançar. – Ele imitou uma dancinha ridícula.
- Eu definitivamente vivo você, garoto! – E o abracei.
Capítulo IV
Eu precisava terminar com aquilo. E dar um inicio. É um inicio pra mim. Por mais duro que tenha sido eu me sentia aliviada.
- Eu só queria ter ouvido toda a verdade; sem mentiras, enganos, falhas. Nunca cobrei nada de você. Só te pedia para ser sincero, claro, verdadeiro. Podia ter me mandado a real de que tinha outra pessoa envolvida na nossa história.Custava nada chegar e falar que não estava mais afim de nós e que, daqui pra frente, iria viver outra vida, outro mundo, outro amor. Eu iria, mesmo não querendo, aceitar numa boa. Mesmo com o coração doendo em ouvir uma verdade, eu ia ter que saber a lidar com a realidade da vida: de que você, que era o meu grande amor, estava partindo de uma vez e sem volta. E seria melhor se machucar com a verdade, do que se ferir com uma mentira. A verdade, um dia, passará. A mentira é uma dor eterna.
- Para com isso, . Você vive em um conto de fadas, não saberia lidar com isso.
- Eu notei essa sua mudança radical, pois de um dia para o outro você já não era mais o mesmo. Faltava algo em você que eu não sabia como explicar. Eu sentia. E meu sexto-sentido nunca falhou. Só me dei conta de que eu não fazia mais parte dos seus planos quando você parou de se importar por toda minha importância. Se distanciou. Ficou frio. Era de poucas palavras. Não puxava mais assunto. Era curto e grosso. Não tinha mais o mesmo carinho, a mesma vontade, o mesmo interesse.
- E agora você depois de todo esse discurso continua chorando? Para! Você tem que parar de achar que sua vida é um conto de fadas, você tá louca!
- Fiquei com muitas perguntas na cabeça durante dias, mas hoje eu descobri todas as respostas que você nunca conseguiu me falar. Você trocou o que tinha em vida por algo de momento; de prazer; de curtição. Você é um tremendo cabeça fraca. Vacilão. Isso que você é. Espero que tenha tomado uma boa decisão na vida e feito a escolha certa porque, mesmo eu sentindo uma saudade daquilo que éramos e que fomos, quando você voltar com aquela cara de pau perguntando se eu sinto sua falta e se eu te quero de volta... quem não vai ter respostas para suas perguntas vai ser eu.
E sai dali. Do meio da lanchonete da faculdade. Eu não conseguia sentir dor por ter terminado. Eu tinha sido “trocada” e isso não era bom. Mas quando você coloca um fim em algo que te deixa com dor de cabeça, a vida dá até uma emoção a mais. E é isso que a gente precisa, né? Emoção.
Capítulo V
Meses depois
Eu estava terminando de ver a mulher ajeitar o cabelo em minha cabeça e sorria para as câmeras que terminavam de me filmar.
Jornalismo.
Eu estava finalmente me formando. E nem parecia real. Passei por Yasmin, minha melhor amiga e acenei sorrindo. Me encostei na parede de onde Samuel observava o lugar com um sorriso ladino.
- Tá pensando em quê?
- Nisso tudo.
- Mais uma etapa concluída, né?
- Sim.
- Eu amo tanto esse clima.
- Você ama tanto, . Queria ser assim. – O encarei sem entender exatamente onde ele queria chegar.
- Não entendi.
- Amar, . Nunca fiz isso.
- Já se apaixonou?
- Já, duas vezes.
- Por quem?
- Por uma menina no ensino médio e por uma garota que conheci aqui na faculdade.
- Sabe qual o seu problema, Samu?
- Você não se acha digno de ser feliz. Mas, você só vai amar quando se permitir.
- É isso, . Essa garota, ela é muito especial e já sofreu bastante. Também.
- Fala pra ela, Samu. Aceita a felicidade.
- Eu disse.
- E ela?
- Disse pra eu dizer. – Eu o encarei estupefata.
- Ela... sou.. eu?
- É, morena.
Ficamos em silêncio, apenas observando os sorrisos que eram dados ali. A vista era maravilhosa, significava felicidade.
As pessoas, procuram vida em outros planetas há tempos. Mas sabe? Existe dentro de você. Vida inquieta. Pulsante e correndo pelas suas veias. E agora, o que vai fazer com isso?
Eu nasci pra amar, até doer. Para rir sem ter controle nenhum. Quero experimentar de todas a sensações do mundo. Aquela era uma sensação nova. Cada vez que envolvesse algo relacionado á sentir. Eu sentiria uma pulsação nova. Porque eu estava viva.
- Samu, eu quero você. Mas no momento eu preciso do Samuel, meu amigo. E pode ser que provavelmente eu precise você no futuro e quero ter você comigo. O amor é engraçado, ele pode acontecer de formas diversas. Você pode ajudar alguém á reacender um amor fraco. Pode entregar seu amor para alguém e ter dois corações dividindo esse amor. E, se quer saber, apesar de tudo eu queria no momento todo o amor pra mim. E não via problema nenhum nisso. Cansei de me conter, me iludir. Coloquei os dois pés nos chão e deixei a cabeça nas nuvens. – O encarei e vi os olhos brilhando em minha direção, mas logo nos chamaram para o auditório. Depositei um beijo leve nos seus lábios e ali eu sabia que eu ia me apaixonar novamente. Mas no momento eu já estava apaixonada, só que por mim. E acredite, minha paixão por ele podia esperar. Já que o meu amor por mim, valia mais.
Fim.
Nota da autora: Garota, relacionamentos nunca são fáceis. Você precisa tomar uma dose pesada de paciência e compreensão antes de se jogar nos braços de alguém, antes de mergulhar de cabeça em uma relação, porque tudo o que você tem no começo é um meio termo, um "pode dar certo", nada muito claro. Se for pra começar algo, que seja por inteiro, não pela metade de um sentimento que um dia vai cair por terra, e se for pra desistir, desista de tantas lágrimas que nunca levam a lugar nenhum, se for abrir mão, abra mão de continuar acomodado no sofá achando que a dor vai sarar sozinha. Não estou falando pra ir embora na primeira briga, na primeira discussão, estou falando pra vocês serem melhores do que qualquer diferença de personalidade e de opinião, porque se não forem, é preciso deixar ir de vez em quando.
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