Capítulo Único
Antes
— Desculpe, Martina, não consigo senti-lo — foi sincera, depois de minutos tentando localizar dentro das terras da Academia, tornando o clima do quarto mórbido. — Pode ser que não esteja conseguindo lê-lo pela distância. É possível, mas a impressão que fica é que a consciência dele… — comprimiu os lábios para uma pausa pesarosa — evaporou.
Agora
Com o sumiço de , um novo decreto foi feito pelo Conselho: assim que encontrado, ele voltaria a ser isolado pela inconstância e descontrole emocional. Por comportar duas personalidades distintas dentro de si, os mais velhos consideraram que a convivência colocava o bem estar dos demais em risco, afinal, a outra forma contra a qual batalhava diariamente era impiedosa e impulsiva, não tendia a distinguir amigos de inimigos.
— Você prometeu que não deixaria fazerem isso com ele! — Martina despejava contra o tutor, o tom de voz aumentando conforme o choro subia. — Estou decepcionada… — Os ombros caíram. — Nós confiamos em você. Ele confiava em você.
Magoada, não quis dar brechas para que Samuel inventasse alguma justificativa esfarrapada. Deveria saber desde o início que, com a morte dos pais, seria o irmão e ela contra o mundo. Era exigir muito que alguém pudesse ter compaixão a mais. Estava decidida a encontrar o irmão antes que o Conselho pudesse colocar as mãos sujas sobre ele.
✨
Entendia as razões e, em parte, os temores da , não era à toa que se compadeceu e resolveu patrulhar pelos terrenos da Academia também. Duas pessoas cobriam mais território. Contudo, não deixava de bater na tecla de que aquele era um assunto grave demais para ser tratado dessa forma. Elas sozinhas não davam conta.
Depois que se separaram, começou a usar o celular de apoio para orientar. tinha apenas uma lanterna e um sonho, e mesmo assim descobriu um túnel abandonado. Com seu acesso limitado pela vegetação que crescia sem padrão de cortes, teria deixado passar, se não fosse uma fumaça saindo do topo da construção. Onde havia fumaça, um dia existiu fogo. Organizou os pensamentos, torcendo para que Anna pudesse captar e buscar reforços. Não sabia exatamente onde estava, mas esperava que os lapsos de memória os ajudassem a encontrá-la depois.
“Procure Samuel. Vão atrás de Martina e me encontrem nesse ponto. Achei ele”, mentalizou, antes de saltar contra uma pedra para entrar pela fresta apertada entre as plantas.
— Te achei!
Tão rápida quanto entregou sua presença, rapidamente foi jogada contra o concreto frio. arfou ao notar que as írises dele estavam alteradas para fendas. Movimentou os braços para que servissem de escudo enquanto posicionava um pé para frente e o outro atrás. Pronta para o combate. Ela era boa em chutar.
No entanto, aparentemente, precisaria treinar muito mais.
Os golpes que investia eram fortes e ágeis, bastaria um em cheio para ela estar encrencada. Dito e feito, sentiu os sentidos entrarem em pane ao ser golpeada no estômago, puxou todo o ar que podia para si e assim veio outro golpe certeiro.
não conseguia frear.
Pare.
Pare, insistia para o próprio corpo, sem sucesso.
“Uma pele tão bonita, vai contrastar bem com o mar de vermelho que se formará”.
— Saia! — Avançava sem controle para cada vez mais perto de , que recuava na mesma velocidade. — SAIA! ME DEIXA! — Tremia, totalmente perturbado. Já não sabia se estava pedindo aquilo para a voz ou para ela.
Ainda que o conhecesse pouco, nunca imaginou que ele poderia gritar naquela intensidade. A voz de parecia diferente, mais grossa que a usual. Em seguida, o viu levar as mãos para tampar os ouvidos.
“Deixe-a sentir o nosso poder.”
Quando se deu conta, os dedos quentes e cheios de calos contornavam o pescoço da outra. O corpo tremia em batalha interna para ver quem ficaria com o controle. Não importava quanto batesse contra sua cabeça ou abafasse os ruídos externos, a voz sempre vinha, e quanto mais o tempo passava, mais perdia sua luz.
“Eles querem te trancar”.
Ficou tão focado em eliminar sua segunda personalidade que ignorou os protestos da colega se debatendo desesperadamente em busca de ar. Foi só com o engasgo dela que retornou para a superfície.
Sentiu como se acordasse de um longo pesadelo e estivesse abrindo os olhos pela primeira vez no dia. A nitidez dos pensamentos o permitiu analisar. Ao se dar conta de que as mãos estavam no pescoço vermelho e irritado de , amaldiçoou-se. Recuou aos tropeços, caindo de bunda feito bicho assustado com muito receio de fazer besteira.
tossia com violência, e embora o pescoço estivesse livre, sentia a garganta seca. Engasgou-se e tossiu repetidas vezes ao mesmo tempo que massageava a região pressionada. Mal lutou e estava suando. Abalado, não conseguia enxergar que era nos momentos de montanha-russa emocional que o outro se revelava.
“Deixe que eu te ajude”.
Um soluço de cansaço. Mais um. Depois outro. Desmanchava-se em lágrimas.
“Nos conhecemos tempo o suficiente para saber que pode deixar a parte pesada comigo”.
estava em meio a uma crise e não sabia o que fazer. Ouvi-lo chorar a deixava desconcertada. Martina compartilhou a situação por cima, estava entendido que ele não tinha controle de nada, consequentemente não tinha culpa. O corpo dele parecia estar dormente, imerso em toda a confusão e dor que liberava a cada soluço. se aproximou lentamente do garoto que permanecia ajoelhado, jogando o tronco para frente e para trás, feito criança perdida. Quem visse de fora, poderia julgar o receio dela em chegar mais perto como medo. De fato era, mas não dele, e sim de machucá-lo ainda mais do que já haviam feito. Imitou os gestos dele até que ficassem com os olhos na mesma altura.
Os olhares se encontraram e sentiu a tristeza inundá-la. Os olhos brilhantes por causa das lágrimas transpareciam bem como ele estava perdido.
“Mate-a!”
— Não é crime ser um fodido ou estar quebrado. — permaneceu com a mão no rosto dele. — Fora deste túnel, ainda tem motivos para lutar, . Gente que se importa com você. É egoísta te pedir para que lute pelos outros, mas estou o fazendo mesmo assim. — A mão dele que circuncidava o pulso dela intensificou o aperto, causando uma queimação forte que a obrigou a fazer uma careta para segurar o gemido de dor.
“Esse é o tipo de elo que te enfraquece. Quebre-o!”
A dor se intensificou, fazendo os dedos que acariciavam a bochecha dele tremerem. pressionava um lábio contra o outro para não ceder à dor, mas o pulso certamente ficaria marcado.
— Martina está desesperada atrás de você — confidenciou o óbvio em um tom contido e suave.
Não importava mais.
“Já foi muito longe para desistir agora. Se voltar com ela, será trancafiado novamente”.
— …
Desde quando a voz suave dela tinha esse efeito de tilintar em suas veias?
“Acha que todos esquecerão o que fez?”
“Não é digno de pena, nem de perdão”.
Sua outra metade era intragável, mas tinha um fundo de razão. era idiota se acreditava que voltariam de mãos dadas para a Academia e ficariam bem.
— …
Sem controle sobre si, golpeou com um tapa na região da têmpora, e labaredas surgiram, formando um grande círculo. Ela caiu dura contra o chão, desnorteada, ainda que não estivesse totalmente apagada.
Os anjos pareciam estar com ela, porque a cavalaria chegou.
— , o que você fez? — A voz de uma Martina assustada ecoou assim que entrou na caverna, no encalço de Samuel, e viu caída dentro do fogo. A mais nova dos estava com o coração saindo pela boca ao imaginar como o irmão se sentiria ao recobrar a consciência e se dar conta de que feriu mais gente. Por outro lado, a pergunta que fizera em automático por surpresa acabou soando como uma afirmação de julgamento e desprezo a , que se sentia cada vez mais distante e apático.
A última lembrança que tinha antes das pálpebras pesadas finalmente fecharem era de um clarão.
✨
Cada vez que os dedos passeavam delicadamente pelas marcas de queimadura sobre o pulso, seu corpo inteiro estremecia. O relevo das queimaduras assustava um pouco, ainda que tivessem garantido que não seria permanente.
Respirou fundo.
Fazia pouco mais de uma semana desde o incidente no túnel. perdeu o controle em um determinado momento, ocasionando uma bomba de calor que só não causou estragos maiores porque Samuel anulou parte dos efeitos. Por mais que tivessem brigado diante do Conselho para retirarem a declaração e pouparem , pôde sentir em um ponto da reunião que a decisão estava tomada… Muito antes do incidente. Mesmo que fossem três pessoas que estavam na cena com alegações fortes, os mais velhos estavam com a mente feita.
Até o final da estação, voltaria a ser confinado, tendo aulas e treinamentos particulares com Samuel.
Soltou o ar pelo nariz com força.
Em cima daquela mureta, balançava os pés, acompanhando as brisas carregando as folhas para longe. Logo, não estava mais sozinha. Olhou para o lado onde sentia uma inquietação e encontrou . Voltou sua atenção para frente. Permaneceram quietos, apreciando a vista, e um se acostumando com a presença do outro. estava aproveitando a calmaria do dia para registrar o que seriam as últimas horas dela neste espetáculo de paisagem. O Instituto estava totalmente restaurado com os dormitórios reformados após o incêndio.
Ainda que não fosse como esperavam, os caminhos de cada um pareciam voltar para os eixos. Mesmo que as condições impostas não fossem o que o tutor e ele esperavam para uma vida liberta, estavam otimistas com os estudos laboratoriais de um remédio em desenvolvimento atualmente para auxiliar no controle das emoções e pensamentos.
— Disseram que não é para sempre — ele iniciou a conversa, querendo rir de nervoso.
— O quê? — girou a cabeça para o observar, não compreendeu.
— Meu confinamento… Me deixaram acreditar que não será para sempre. — Colocou as mãos para trás, olhando para cima agora. — Apenas até encontrarem uma fórmula, pode ser amanhã, e também pode ser nunca. — Soltou o ar pela boca. — Já me conformei. Quero aproveitar bem meus últimos dias e me ocupar com coisas que me importam.
Com rostos virados um para o outro, encararam-se demoradamente com tamanha intensidade que ficou encabulada a ponto de sentir as bochechas queimarem. A garota virou o rosto para frente, tentando conter o súbito calor e também um sorriso discreto.
— Se cuidem. Não estarei aqui para salvar mais nenhum Bunda-Mole — zombou, saltando da mureta e dando batidinhas na calça para entrar. As malas não se fechariam sozinhas.
— A gente se vê, — soprou para que os ventos carregassem o desejo até as forças que seriam capaz de realizá-lo.
Parado ali, viu a imagem dela se distanciar com graça, como se fosse um anjo.
O anjo que o despertou várias vezes contra as trevas.
— Desculpe, Martina, não consigo senti-lo — foi sincera, depois de minutos tentando localizar dentro das terras da Academia, tornando o clima do quarto mórbido. — Pode ser que não esteja conseguindo lê-lo pela distância. É possível, mas a impressão que fica é que a consciência dele… — comprimiu os lábios para uma pausa pesarosa — evaporou.
Agora
Com o sumiço de , um novo decreto foi feito pelo Conselho: assim que encontrado, ele voltaria a ser isolado pela inconstância e descontrole emocional. Por comportar duas personalidades distintas dentro de si, os mais velhos consideraram que a convivência colocava o bem estar dos demais em risco, afinal, a outra forma contra a qual batalhava diariamente era impiedosa e impulsiva, não tendia a distinguir amigos de inimigos.
— Você prometeu que não deixaria fazerem isso com ele! — Martina despejava contra o tutor, o tom de voz aumentando conforme o choro subia. — Estou decepcionada… — Os ombros caíram. — Nós confiamos em você. Ele confiava em você.
Magoada, não quis dar brechas para que Samuel inventasse alguma justificativa esfarrapada. Deveria saber desde o início que, com a morte dos pais, seria o irmão e ela contra o mundo. Era exigir muito que alguém pudesse ter compaixão a mais. Estava decidida a encontrar o irmão antes que o Conselho pudesse colocar as mãos sujas sobre ele.
Depois que se separaram, começou a usar o celular de apoio para orientar. tinha apenas uma lanterna e um sonho, e mesmo assim descobriu um túnel abandonado. Com seu acesso limitado pela vegetação que crescia sem padrão de cortes, teria deixado passar, se não fosse uma fumaça saindo do topo da construção. Onde havia fumaça, um dia existiu fogo. Organizou os pensamentos, torcendo para que Anna pudesse captar e buscar reforços. Não sabia exatamente onde estava, mas esperava que os lapsos de memória os ajudassem a encontrá-la depois.
“Procure Samuel. Vão atrás de Martina e me encontrem nesse ponto. Achei ele”, mentalizou, antes de saltar contra uma pedra para entrar pela fresta apertada entre as plantas.
— Te achei!
Tão rápida quanto entregou sua presença, rapidamente foi jogada contra o concreto frio. arfou ao notar que as írises dele estavam alteradas para fendas. Movimentou os braços para que servissem de escudo enquanto posicionava um pé para frente e o outro atrás. Pronta para o combate. Ela era boa em chutar.
No entanto, aparentemente, precisaria treinar muito mais.
Os golpes que investia eram fortes e ágeis, bastaria um em cheio para ela estar encrencada. Dito e feito, sentiu os sentidos entrarem em pane ao ser golpeada no estômago, puxou todo o ar que podia para si e assim veio outro golpe certeiro.
não conseguia frear.
Pare.
Pare, insistia para o próprio corpo, sem sucesso.
“Uma pele tão bonita, vai contrastar bem com o mar de vermelho que se formará”.
— Saia! — Avançava sem controle para cada vez mais perto de , que recuava na mesma velocidade. — SAIA! ME DEIXA! — Tremia, totalmente perturbado. Já não sabia se estava pedindo aquilo para a voz ou para ela.
Ainda que o conhecesse pouco, nunca imaginou que ele poderia gritar naquela intensidade. A voz de parecia diferente, mais grossa que a usual. Em seguida, o viu levar as mãos para tampar os ouvidos.
“Deixe-a sentir o nosso poder.”
Quando se deu conta, os dedos quentes e cheios de calos contornavam o pescoço da outra. O corpo tremia em batalha interna para ver quem ficaria com o controle. Não importava quanto batesse contra sua cabeça ou abafasse os ruídos externos, a voz sempre vinha, e quanto mais o tempo passava, mais perdia sua luz.
“Eles querem te trancar”.
Ficou tão focado em eliminar sua segunda personalidade que ignorou os protestos da colega se debatendo desesperadamente em busca de ar. Foi só com o engasgo dela que retornou para a superfície.
Sentiu como se acordasse de um longo pesadelo e estivesse abrindo os olhos pela primeira vez no dia. A nitidez dos pensamentos o permitiu analisar. Ao se dar conta de que as mãos estavam no pescoço vermelho e irritado de , amaldiçoou-se. Recuou aos tropeços, caindo de bunda feito bicho assustado com muito receio de fazer besteira.
tossia com violência, e embora o pescoço estivesse livre, sentia a garganta seca. Engasgou-se e tossiu repetidas vezes ao mesmo tempo que massageava a região pressionada. Mal lutou e estava suando. Abalado, não conseguia enxergar que era nos momentos de montanha-russa emocional que o outro se revelava.
“Deixe que eu te ajude”.
Um soluço de cansaço. Mais um. Depois outro. Desmanchava-se em lágrimas.
“Nos conhecemos tempo o suficiente para saber que pode deixar a parte pesada comigo”.
estava em meio a uma crise e não sabia o que fazer. Ouvi-lo chorar a deixava desconcertada. Martina compartilhou a situação por cima, estava entendido que ele não tinha controle de nada, consequentemente não tinha culpa. O corpo dele parecia estar dormente, imerso em toda a confusão e dor que liberava a cada soluço. se aproximou lentamente do garoto que permanecia ajoelhado, jogando o tronco para frente e para trás, feito criança perdida. Quem visse de fora, poderia julgar o receio dela em chegar mais perto como medo. De fato era, mas não dele, e sim de machucá-lo ainda mais do que já haviam feito. Imitou os gestos dele até que ficassem com os olhos na mesma altura.
Os olhares se encontraram e sentiu a tristeza inundá-la. Os olhos brilhantes por causa das lágrimas transpareciam bem como ele estava perdido.
“Mate-a!”
— Não é crime ser um fodido ou estar quebrado. — permaneceu com a mão no rosto dele. — Fora deste túnel, ainda tem motivos para lutar, . Gente que se importa com você. É egoísta te pedir para que lute pelos outros, mas estou o fazendo mesmo assim. — A mão dele que circuncidava o pulso dela intensificou o aperto, causando uma queimação forte que a obrigou a fazer uma careta para segurar o gemido de dor.
“Esse é o tipo de elo que te enfraquece. Quebre-o!”
A dor se intensificou, fazendo os dedos que acariciavam a bochecha dele tremerem. pressionava um lábio contra o outro para não ceder à dor, mas o pulso certamente ficaria marcado.
— Martina está desesperada atrás de você — confidenciou o óbvio em um tom contido e suave.
Não importava mais.
“Já foi muito longe para desistir agora. Se voltar com ela, será trancafiado novamente”.
— …
Desde quando a voz suave dela tinha esse efeito de tilintar em suas veias?
“Acha que todos esquecerão o que fez?”
“Não é digno de pena, nem de perdão”.
Sua outra metade era intragável, mas tinha um fundo de razão. era idiota se acreditava que voltariam de mãos dadas para a Academia e ficariam bem.
— …
Sem controle sobre si, golpeou com um tapa na região da têmpora, e labaredas surgiram, formando um grande círculo. Ela caiu dura contra o chão, desnorteada, ainda que não estivesse totalmente apagada.
Os anjos pareciam estar com ela, porque a cavalaria chegou.
— , o que você fez? — A voz de uma Martina assustada ecoou assim que entrou na caverna, no encalço de Samuel, e viu caída dentro do fogo. A mais nova dos estava com o coração saindo pela boca ao imaginar como o irmão se sentiria ao recobrar a consciência e se dar conta de que feriu mais gente. Por outro lado, a pergunta que fizera em automático por surpresa acabou soando como uma afirmação de julgamento e desprezo a , que se sentia cada vez mais distante e apático.
A última lembrança que tinha antes das pálpebras pesadas finalmente fecharem era de um clarão.
Cada vez que os dedos passeavam delicadamente pelas marcas de queimadura sobre o pulso, seu corpo inteiro estremecia. O relevo das queimaduras assustava um pouco, ainda que tivessem garantido que não seria permanente.
Respirou fundo.
Fazia pouco mais de uma semana desde o incidente no túnel. perdeu o controle em um determinado momento, ocasionando uma bomba de calor que só não causou estragos maiores porque Samuel anulou parte dos efeitos. Por mais que tivessem brigado diante do Conselho para retirarem a declaração e pouparem , pôde sentir em um ponto da reunião que a decisão estava tomada… Muito antes do incidente. Mesmo que fossem três pessoas que estavam na cena com alegações fortes, os mais velhos estavam com a mente feita.
Até o final da estação, voltaria a ser confinado, tendo aulas e treinamentos particulares com Samuel.
Soltou o ar pelo nariz com força.
Em cima daquela mureta, balançava os pés, acompanhando as brisas carregando as folhas para longe. Logo, não estava mais sozinha. Olhou para o lado onde sentia uma inquietação e encontrou . Voltou sua atenção para frente. Permaneceram quietos, apreciando a vista, e um se acostumando com a presença do outro. estava aproveitando a calmaria do dia para registrar o que seriam as últimas horas dela neste espetáculo de paisagem. O Instituto estava totalmente restaurado com os dormitórios reformados após o incêndio.
Ainda que não fosse como esperavam, os caminhos de cada um pareciam voltar para os eixos. Mesmo que as condições impostas não fossem o que o tutor e ele esperavam para uma vida liberta, estavam otimistas com os estudos laboratoriais de um remédio em desenvolvimento atualmente para auxiliar no controle das emoções e pensamentos.
— Disseram que não é para sempre — ele iniciou a conversa, querendo rir de nervoso.
— O quê? — girou a cabeça para o observar, não compreendeu.
— Meu confinamento… Me deixaram acreditar que não será para sempre. — Colocou as mãos para trás, olhando para cima agora. — Apenas até encontrarem uma fórmula, pode ser amanhã, e também pode ser nunca. — Soltou o ar pela boca. — Já me conformei. Quero aproveitar bem meus últimos dias e me ocupar com coisas que me importam.
Com rostos virados um para o outro, encararam-se demoradamente com tamanha intensidade que ficou encabulada a ponto de sentir as bochechas queimarem. A garota virou o rosto para frente, tentando conter o súbito calor e também um sorriso discreto.
— Se cuidem. Não estarei aqui para salvar mais nenhum Bunda-Mole — zombou, saltando da mureta e dando batidinhas na calça para entrar. As malas não se fechariam sozinhas.
— A gente se vê, — soprou para que os ventos carregassem o desejo até as forças que seriam capaz de realizá-lo.
Parado ali, viu a imagem dela se distanciar com graça, como se fosse um anjo.
O anjo que o despertou várias vezes contra as trevas.
FIM
Nota da autora: Nada a comentar sobre os milhares de furos e questões não respondidas nessa segunda parte da história. Não é o que planejei, mas espero em um futuro melhorá-la. A você que chegou até aqui, meus sinceros agradecimentos!
Com carinho,
Hales.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Com carinho,
Hales.
COMENTÁRIOS: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI