Capítulo 1
Sentado no sofá branco, onde cabiam mais três pessoas do lado, dentro do cenário do programa de entrevistas mais assistido do período da manhã, viu a apresentadora bebericar um pouco da água servida no mesmo instante que os diretores anunciaram vinte segundos para voltarem ao ar.
Passou a mão nos cabelos para dar uma última ajeitada e viu a equipe técnica pedir silêncio aos telespectadores e respirou fundo. Uma contagem regressiva silenciosa foi feita, até a mulher receber uma confirmação de que podia continuar.
- Então, , sabemos que o enfoque do filme não era esse, mas houve muitos momentos em que a pauta era sobre relembrar. O passado. – o homem maneou a cabeça, concordando de leve – Por isso, hoje vamos reviver alguns dos seus momentos em frente às câmeras e ouvir o que tem a comentar sobre eles.
- Oh, não sei se isso é uma boa ideia, Bright! – deixou escapar propositalmente em tom dramático, ao mesmo tempo em que escondia o rosto constrangido entre as mãos. Com bons anos de experiência nas costas, o ator sentia-se mais a vontade para brincar.
O estúdio foi preenchido por risadas coletivas e não escondeu o prazer que sentiu em causar tantas reações, deixando escapar uma gargalhada escandalosa, ato que estendeu a reação acalorada dos fãs que assistiam na plateia. Era de conhecimento público que além de talento para atuar, o astro gostava de cantar por hobby, além de se envolver em situações vergonhosas com facilidade.
A primeira situação que expuseram foi a dele chegando no aeroporto depois de uma viagem para outro estado, após o fim das filmagens de uma série. estava tão distraído que acabou errando a abertura da porta automática, resultando em dezenas de cliques sequenciais dele trombando com o vidro e em seguida massageando a cara sem conseguir esconder a dor e a vergonha pelo flagra.
O segundo momento foi um corte dos bastidores em que os colegas de gravação e ele recebiam presentes de fãs que acampavam do lado de fora do hotel em que estavam para a estreia.
- Surreal. Só posso dizer obrigado aos fãs que estiveram sempre por mim. Sempre que forem fazer essas loucuras, lembrem-se de se cuidar, comer e se hidratar.
Um coro de palmas pôde ser ouvido e no meio alguns gritos finos incontidos.
O terceiro momento foi para testar o coração das fãs principalmente. Eram fotos das câmeras do hotel o flagrandoo homem apenas de sunga pelos corredores.
- Roubaram as minhas roupas! – alegou vividamente – Eu fui dar um mergulho na piscina e quando voltei para buscar ar, minhas roupas tinham sumido!
O público ria da desgraça, alegrando os produtores atrás das câmeras, que aprovavam o modo como a entrevista estava sendo conduzida. Engajamento sempre trazia boas estatísticas nos relatórios.
- , para fechar: como anda o coração?
O público no set se empolgou.
- Batendo. – caçoou, desconversando de forma discreta – Ainda bem.
A entrevistadora ainda rindo da piada boba replicou:
- Ainda bem mesmo. Tenho certeza que seus fãs são muito gratos. Mas o que gostaríamos de saber é se o que você tinha aí dentro há anos ainda permanece.
A pauta sobre relacionamentos amorosos era o conteúdo mais sensível do ator. Não queria que revivessem algum caso bem enterrado. Não havia polêmica. A não ser que eles considerassem como polêmica o número extenso de relacionamentos que teve ao decorrer dos anos. Todos os fins foram os mais pacíficos possíveis e ainda teve os casos que nem ao começo chegou, contudo todos noticiados e estampados nas capas da mídia.
não se envergonhava. Assim como estava lutando para alavancar a carreira, buscava encontrar alguém em quem pudesse confiar o coração e compartilhar as pequenas vitórias de todos os dias. Era um sentimento diferente de ter amigos. Muito perto de alcançar a casa dos trinta, o ator começava a enxergar as coisas diferentes. Era importante para ele, ter alguém com quem contar no final do dia, alguém que ele pudesse apoiar e o apoiasse de volta. Infelizmente, nenhum caso anterior tinha dado certo. Tudo o que ele podia dizer era: paciência. A fila andava e em algum momento, iria dar certo.
Mesmo não existindo nenhuma polêmica, o assessor tratou de correr atrás para garantir que não houvesse assuntos desconfortantes no bloco. Seja lá para onde os produtores do programa quisessem levar a discussão, o combinado era nenhum assunto delicado.
- Não entendi a questão. – levou a mão à nuca.
- Pode deixar que a gente refresca a sua memória. Podem soltar o vídeo!
enxergou na tela uma versão mais nova de si, no mesmo programa do canal. O rosto liso, os cabelos feitos: era ele no começo da carreira, após ser cotado para uma série colegial para adolescentes ao lado de e . No entanto, o que mais denunciava o fato dele ser um novato na indústria era a postura ansiosa diante das lentes. conseguia se lembrar perfeitamente da pressão que era manter uma boa imagem, sem falar besteiras, mas também não passar uma vibe careta, manter um sorriso no rosto mesmo que estivesse com prisão de ventre, ser sempre agradecido e outras dezenas que coisas que tinha que memorizar.
Ele vivia petrificado.
Naquela entrevista, em específico, um pouco menos, apesar de ser uma das primeiras gravações das quais participou.
Um sorriso ameaçou a aparecer com o desenrolar da cena. Por mais que fosse perigoso divagar em uma transmissão ao vivo, o ator não segurou o ímpeto de relembrar aquele dia.
Os estúdios do canal Height eram tão grandes e apertados ao mesmo tempo, lembrou-se de ter pensado. Muitas pessoas corriam de um lado para o outro. Havia luzes, câmeras, gente falando no telefone, pessoas se arrumando no meio do corredor e programas acontecendo nos cenários ao lado, enquanto eles passeavam com o vigilante da entrada.
Nessa hora, um tremor de excitação passou pelo corpo de e ele soube que faria de tudo para aquele sonho continuar. Ao seu lado, os dois amigos de série caminhavam meio duros, encarando tudo com o mesmo semblante impressionado. Haviam sido lançados na indústria juntos, com a série adolescente que circulava no momento. Era a primeira promoção que faziam para o canal e era impossível não estarem nervosos.
- Rapazes, encontrei alguém que poderá guia-los melhor aqui dentro. – o vigilante anunciou, balançando o braço grande no ar para que fossem vistos – !
Ao identificarem quem o homem chamava, os olhos de se arregalaram quase no mesmo instante em que os outros dois começaram a cotovelá-lo.
- Essa não é a... – começou e foi silenciado.
- Cala a boca, .
- Mas eu só ia...
- Bom dia, Celso! – a figura cumprimentou ao se aproximar, dando uma rápida olhada no trio, logo voltando à atenção ao segurança – Chamou?
- Está muito ocupada?
- Para você, jamais! – a mulher brincou, arrancando um sorriso enorme do mais velho.
- Perdeu, ! – , o mais alto deles, soprou baixinho, recebendo um olhar matador de volta.
gargalhou, atraindo a atenção da mulher e do guarda, que estavam alheios às provocações deles e quis se enterrar.
- Bom dia, meninos! Me chamo e a partir de agora, vocês estão sob minha responsabilidade. – exibiu um sorriso que fez tremer mais uma vez.
- Ei, você não é a que grava uns vídeos muito bons para a internet? – , por fim, conseguiu fazer a pergunta que queria desde o início, agora sem interrupções – O que faz em um estúdio de televisão?
- Eu mesma! Agradecida pelo “muito bons”. Sobre a segunda pergunta: eu trabalho aqui, bobinho!
- Estão bem encaminhados, rapazes. – o vigia voltou a se pronunciar ao sentir que era a sua deixa – Até mais.
- Bom trabalho, Celso!
- Para vocês também. Tchau!
O homem seguiu por um lado e o grupo pela direção contrária.
- Vocês não devem me acompanhar fora dos vídeos, mas trabalho na Height também, como auxiliar da produção.
- A gente estava acompanhando suas últimas atualizações até ontem. – justificou para que ela entendesse que eles eram fãs de verdade, para o espanto dos amigos – Deixamos esse detalhe passar em algum momento.
Muito diferente dos papéis que interpretavam em frente às telas, era de conhecimento que era o mais quieto deles e raramente tomava iniciativa ou parte nas conversas fora das câmeras, por isso a surpresa.
- Hm, sério? – os olhou, empolgada, por cima do ombro – E o que acharam do meu trabalho no geral?
- Cara, fala sério, você é muito engraçada! – começou, apertando os passos para andar ao lado dela.
se sentiu frustrado. Deus estava dando todas as chances da vida dele naquele dia. Iria aparecer em um programa de muita audiência com os amigos e de quebra, esbarraram com no estúdio: uma de suas maiores admirações platônicas. O lamentável é que desde a aparição dela, ele ainda não tinha conseguido abrir a boca para fazer um elogio. Até tinha puxado conversa. Se antes estava nervoso com as perguntas que fariam no programa, ele tinha motivos em dobro agora.
- Eu não sei se fico feliz ou com muita vergonha de vocês me assistirem. Vocês têm isso também? Para gravar, eu sou ok, adoro, mas fico com muita vergonha de me assistir.
- Hm... Eu não. – respondeu prontamente – Eu gosto de ver o gatão que eu sou. – fez uma cara galante e explodiu em risada. e foram juntos, mais pela curtição com a cara do amigo – Nossa, , ofende mais que está pouco. – o ator novato fingiu estar machucado.
- Desculpa... – voltou a rir – Ai, ai, mas é que você também é muito engraçado. A cara que você fez... – mordeu o lábio para evitar outra crise.
- Não liga, não, , é narcisista assim. Gosta de atenção. – aproveitou a chance para debochar, arrependendo-se no instante seguinte pelo olhar diabólico que o outro deu.
- A gente começou a te acompanhar faz pouco tempo. – mudou o assunto e sentiu que estava pisando em ovos – Quem nos mostrou as suas redes foi o . Ele que fez a indicação e não nos deixa perder nenhuma atualização. – insinuou, maldoso.
De soslaio, foi possível ver balançar a cabeça, dando a entender que não tomaria partido na discussão. sentiu o rosto pinicar de calor.
- Verdade? – a mulher parou de andar para encará-los, ficando ainda mais animada, sem perceber as reais intenções de – Muito obrigada! Um dia, se desistir da carreira de ator, posso te contratar como marketing. – disse em tom brincalhão antes de voltar a andar e procurar o destino final deles.
- Não brinca, que ele vai mesmo. – alfinetou mais uma vez, dessa vez recebendo um chute na panturrilha.
Para a sorte, ou não, de , ela não ouviu a última parte. A cabeça de virava de um lado para o outro no extenso corredor de portas brancas que haviam acabado de adentrar.
- Vocês estão sendo muito gentis comigo, enchendo o meu trabalho de elogios. – falou, ainda olhando para as placas dos camarins, buscando pelo nome deles – Mas preciso confessar: não vi a série de vocês ainda.
- O quê? – os três replicaram, como se fosse inadmissível.
- Pois é... – a mulher ficou constrangida – Não tenho costume de acompanhar coisas que ainda estão passando. Fico me remoendo de ansiosa pelas atualizações. – riu, vendo a boba que era.
- Mas não é essa a graça? – indagou.
- Pode ser, mas prefiro ver quando tudo tiver finalizado. Sem decepções por temporadas canceladas ou atores sendo trocados.
- Até lá, vai ter perdido toda a movimentação e discussão nas redes – foi que abriu a boca dessa vez, ainda não entendendo como uma figura do entretenimento como ela podia não acompanhar parte do entretenimento.
- Culpada! – assumiu, dando os ombros – Chegamos! Esse é o camarim de vocês. – abriu a porta e deu passagem para que os convidados entrassem – Os maquiadores virão para arrumá-los daqui a pouco. Temos água e comidinhas no canto caso sintam fome. Mais tarde, alguém vem passar as instruções e colocar os microfones.
- E você? – quis saber. Ela era o ponto de segurança deles no lugar.
- O que tem eu?
- Para onde vai?
- Lugar nenhum? Preciso ir checar algumas coisas nos bastidores ainda. Qualquer coisa, gritem!
Com a mão na maçaneta, pronta para sair, ainda viu os três trocarem olhares tensos.
- Não se preocupem! Vai dar tudo certo! Bebam uma água para ajudar com a ansiedade. Vai ter uma equipe inteira para dar apoio. Podem confiar. – sorriu terna, mas eles permaneceram estacados na mesma posição.
- Como você faz para relaxar quando estão prestes a entrar no ar? – tomou coragem para perguntar a ela.
- Olha... – não soube dar uma resposta boa – Não tem muito o que fazer e nem para onde correr. – riu – Na maioria das vezes que apareço, não é planejado, até porque deveria ficar só nos bastidores, mas... – parou para pensar, deixando o restante na expectativa.
- Mas...? – incitou a mulher a continuar
- Tem uma coisa que dá para fazer: massagem!
- Massagem? – fez careta.
- Sim! Quando fico muito ansiosa, eu faço uma massagem. – deu um passo para dentro do camarim, decidindo que não iria sair ainda – Assim ó... – olhou os lados e foi em direção de que era o mais próximo.
Assustado com a aproximação repentina, recuou, obrigando a rolar os olhos.
- Eu não vou te bater, homem! – exclamou impaciente.
Um pouco mais distante do casal, não segurou a língua nervosa e murmurou à que estava logo do lado:
- Ele não reclamaria também, se batesse.
assentiu.
- Geralmente, eu pego as minhas mãos e junto elas. – os dedos finos de alcançaram as palmas de , unindo-as como quem pega água da torneira – Depois posiciono em frente ao peito, do lado onde o coração está batendo acelerado de nervoso e massageio. – colocou as próprias mãos sobre as do homem para demonstrar – Fazendo pressão assim.
engoliu seco com a aproximação inesperada. Precisou engolir ainda mais saliva quando sentiu o toque quente e delicado dela em suas mãos e depois sobre o peito. Os olhos dela ficaram o tempo todo voltados para os movimentos que estava demonstrando, concentrada em fazê-lo entender, foi nesse instante que ele se aproveitou para analisar os traços do rosto com mais atenção.
Muito mais bonita pessoalmente, concluiu.
O exercício era para acalmá-los, no entanto estava fazendo um esforço sobrenatural para não transparecer que estava seguindo pelo caminho oposto.
- É só isso? – disse alto, fazendo todos os rostos da sala se virar para ele – Precisava ter ido até e passado a mão nele para mostrar isso?
pareceu ter levado um choque com a constatação. Recuou alguns passos, quase tropeçando nos próprios pés
– Digo... – o ator continuou, sustentando um sorriso triunfal – Acho que se você dissesse que era uma massagem no peito, nós três teríamos entendido o recado.
deixou sair um risinho, fazendo a coloração do rosto de se intensificar. A mulher abria e fechava a boca sem saber o que falar. Quando parava para pensar no que havia dito, nem ela sabia o porquê de ter recorrido ao ator quando poderia ter demonstrado em si mesma a simulação. Começou a rir de nervoso, atraindo um olhar de compaixão de .
era um demônio em um corpo de ator.
- Meu deus... – os olhos dela iam se esbugalhando mais – Bom... Vocês sabem que pode acontecer de encontrarmos soluções que às vezes não são as mais práticas, não é? – riu nervosa.
- Bem pontuado. – resolveu entrar na brincadeira – Salva pela boa resposta, . – jogou uma piscadela de olho para ela.
– Agora que eu sei que vocês sabem fazer a massagem... – foi andando de costas até a porta, com o rosto queimando de vergonha – Eu posso ir né...
- ... – rolou os olhos – Eles estão curtindo com a sua cara.
- Pois deixe que brinquem. – pediu, recompondo um pouco da dignidade que ainda guardava – Quando a produção estiver editando as chamadas para o site, vou me certificar de que escolham closes bem feios deles para as capas dos vídeos. – sorriu vingativa.
- Miau, miau. Mostrando as garrinhas!
O cérebro da mulher precisou de alguns milésimos a mais para certificar de que o que havia escutado era real. Quando se deu conta, estava tendo outra crise de riso causada por .
- , você não perde a oportunidade de calar a boca, cara. – precisou alertar, ainda que estivessem do mesmo lado da discussão instantes atrás.
tinha uma mão tampando o rosto pela vergonha alheia que sentia do amigo fazendo mais um papel de otário. O lado bom era a gargalhada da mulher, que lhe era familiar pelos conteúdos que consumia dela. Pessoalmente, era muito mais deleitosa, dava para ver que era uma reação singela e honesta.
- Eu preciso mesmo ir. – avisou, ainda exibindo um sorriso pela crise que tivera – , eu te venero como pessoa. Precisamos marcar de gravar juntos. As pessoas iam te amar.
- Humilha mais, . – fez uma expressão magoada – No , – apontou com o dedo indicador – você quer fazer massagem. Com o , - indicou com o queixo – você quer gravar. Eu não sirvo, né?
- Tchau, . – despediu-se, puxando a maçaneta e foi quem caçoou desta vez, com uma risada artificial.
- Hahaha! Se fodeu!
- ! – a chamou pela última vez – Vou ver consigo liberar um horário para você na minha agenda su-per – frisou – corrida com a minha secretária. – comentou em um tom pomposo – Quem sabe, com sorte, você não consiga algo no próximo mês?
A mulher olhou incrédula para o ator e resolveu entrar na atuação.
- Oh, eu seria tão privilegiada! – replicou em tom sonhador, piscando exageradamente – Teria eu, a honra, a sorte e a felicidade de contracenar com o melhor ator da atualidade: o ? – dramatizou, recobrando a postura em seguida – Agora é sério, preciso trabalhar. Tchau!
Bastou que a porta se fechasse para tomar a iniciativa de ir atrás dela. Os companheiros de cena que ficaram para trás, no camarim, não entenderam, tampouco ligaram.
- , espera. – chamou-a, alcançando a mesma em passos largos.
- O que foi? – ela virou com o cenho franzido – Precisam de mais alguma coisa?
- Ah, não. Só queria esclarecer uma coisa: não fica ofendida com as brincadeiras do , por favor!
- Ofendida? – repetiu assustada – Claro que não! Quem tinha que estar ofendido era você. Por um momento, achei que ia ser denunciada por abuso de ator. – riu nervosa.
- não sabe o que fala. Tem vezes que passa dos limites. – reiterou.
- Dessa vez, ele estava certo. – defendeu – Bom, fez sentido, né? Não era a minha intenção me aproximar de você “daquele” jeito, mas podia ser meu inconsciente querendo... – deu os ombros, mordendo o lábio ao mesmo tempo em que olhava para todos os pontos, menos os olhos do ator.
pôde sentir o coração falhar em uma batida.
- , olha para mim. – ela o fez e os dois ficaram conectados – Acho que vou precisar de outra massagem, olha. – puxou a mão dela para sentir os batimentos.
A mulher arfou, prendendo a respiração.
- Er... – usou a mão livre para se abanar – Ficou quente, de repente, né?
- ! – outra mulher chegou no corredor gritando pela auxiliar, essa desvencilhou-se das mãos do homem discretamente – Onde você se meteu, garota? Estão te procurando!
- Até mais, !
Quando a tela sofreu uma transição, voltando a mostrar o logotipo do programa, a apresentadora Bright tinha um sorriso de rasgar, sendo acompanhada por palmas animadas da plateia. Se não fosse pela agitação, o ator continuaria perdido em lembranças.
- Você sabia que e eu somos grandes amigas hoje? Aquela garota está voando! Um brilho da nova geração!
O homem apenas balançou a cabeça em concordância, ainda esperando para ver no que daria o assunto. de garota não tinha nada aos olhos dele. Ela era uma mulher completa.
- Ah, sim. Ela nunca decepciona. Sou muito fã!
Suspiros de admiração foram captados do público.
- Eu ouvi suspiros? – a entrevistadora se virou para a plateia – Temos admiradores de aqui? – quis saber, recebendo uma manifestação tímida – Espero que o coração de vocês não quebre com a resposta que vou receber agora. – a postura corporal se voltou para o convidado – ... – um sorriso ladino se fez visível nela – Há quase meia década, neste mesmo palco e programa, você me disse o nome da quando perguntei sobre o seu tipo ideal. Qual é o seu tipo hoje?
devolveu o sorriso, fazendo um mistério para responder. Aquela era uma pergunta boba, porém público feminino pareceu ficar na expectativa e o silêncio que dominou contribuiu para o suspense. Poderiam chamá-lo de bobo pelo que iria responder, talvez considerassem uma jogada de marketing, mas ser sincero não prejudicaria ninguém nesse caso.
- Não existe outra resposta possível além de .
A temperatura no estúdio pareceu subir.
Um coro de animação se iniciou e a mulher na poltrona ao lado também não se conteve. Os burburinhos demoraram a cessar. Eufórica, a dona do programa tinha as mãos em frente ao peito, como se estivesse tocada com o que acabou de escutar.
- Ele é um homem fiel, pessoal! – o ator, sem graça com a constatação, viu na camisa que trajava a fuga para os dedos trêmulos – Fãs de , achei que vocês iam quebrar a cara, mas acho que todos devem ter infartado depois do que ouviram. – risos gerais de aprovação preencheram o ambiente.
- Pena que ela é muita areia para o meu caminhão. – suspirou.
Por um instante, o silêncio tornou a reinar. Mais outro segundo e ele se deu conta do erro que tinha cometido, os olhos saltaram um pouco e ele ficou sem reação. Aquela era uma daquelas falas que deveriam ficar apenas no inconsciente.
- Er... Eu disse o que eu acho que disse em voz alta? – sentiu o rosto esquentar quando recebeu acenos ao buscar o público.
Inesperadamente, a apresentadora começou a ter uma crise de risos. , nervoso, a acompanhou e todos ficaram sem saber como proceder.
- Como pode um homem crescido desse ficar chorando desse jeito? – ela quis saber, sem fôlego, usando os cartões de roteiro que tinha em mãos para se abanar – Nunca escutou que para muita areia a gente faz duas viagens?
- No caso de , acho que vou precisar de pelo menos três. – deu uma resposta rápida para sair do clima constrangedor e as fãs foram ao à loucura. Respirou aliviado internamente. Estava no controle das coisas de novo.
- Você é fogo, ! – Bright acusou, embasbacada – ... – buscou a câmera principal e viu pelos monitores de assistência que recebia o foco – Alguém vai, com certeza, fazer isso chegar a você. Amada, está esperando o quê? Vocês são bonitos, talentosos... Imagina os filhos que poderiam fazer? – brincou, arrancando reações positivas.
- , se eu fosse você, escutaria a Bright, ela sabe das coisas. – deu uma piscada, sem perder a oportunidade.
Dos bastidores, sinalizaram que o tempo havia acabado.
- E é com essa que terminamos o programa de hoje. , seus últimos comentários?
- , me liga! – sibilou, charmoso, para todas as câmeras focadas em si, com os dedos fazendo gesto de um telefone, causando mais alvoroço dos presentes – E assistam à “Um Futuro Esquecido”.
✨ ✨ ✨
Dentro da van, onde o levavam para a próxima parada de divulgações, sentiu o celular apitar. Três novas mensagens de .
: seu grandíssimo filho da puta!
: o cara não perde uma mesmo
: foi pra lá para promover o seu filme ou falar da sua paixonite pela ???
O ator riu nervoso.
: tá nervosinho pq provavelmente vai levar mais um fora
Uma festa de comemoração pelos bons números nos primeiros dias no cinema.
Sem dar uma pausa para o amigo, continuou o metralhando com mensagens para zoar.
: como sei que você não vai perder a chance de se humilhar
: lamber o chão que ela pisa
: achei legal te contar
: ficou mais felizinho, amor?
: vou ser recompensado à noite pela informação?
Haviam várias menções de seu nome. A maioria eram fotos e prints engraçados de momentos das gravações do dia. O ego ficava muito massageado com todos os elogios que recebia. Ver que existiam pessoas dispostas a criar fã clubes para reunir informações sobre si e espalhar o alcance dos trabalhos ainda era uma realidade que não descia.
@MaurícioGonzalez: Dia corrido hoje! Só agradecimentos! Mandem coisas aleatórias, engraçadas, sobre vocês...
@MaurícioGonzalez: Vamos interagir, pessoal!!!!
A linha do tempo começou a ficar mais ativa.
Em um apartamento não muito longe, outra pessoa que estava tendo que lidar com um surto de notificações nas redes sociais era . Tinha passado o dia inteiro nas gravações do programa que ainda era um trabalho em segredo, mas sabia que tinha acontecido algo e seu nome estava no meio. Durante o expediente, os colegas mais próximos contaram por cima. Teimosa que só ela era, acreditaria e se aquietaria depois que visse tudo com os próprios olhos.
Encontrar a origem do furdunço não foi complicado, todo instante surgia alguém mandando o vídeo da tal entrevista para que ela se inteirasse. Olhou com apreensão para a melhor amiga antes de dar o play.
e ela eram colegas de república na faculdade. Felizmente, o futuro foi generoso e ambas puderam seguir bem com suas carreiras. Enquanto enfrentava o início do estrelato na indústria do entretenimento, passava seus dias pesquisando e se ocupando com o doutorado. Vez ou outra, os horários batiam e permitiam que tivessem uma folga juntas, como o momento atual.
Ao fim do clipe cortado, tinha os braços cruzados contra o corpo e balançava a cabeça achando graça. O coração parecia mais aquecido do que nunca. Não iria mentir que não gostou do que ouviu. Entretanto, às vezes tinha a impressão de que as declarações do ator preenchiam algo nela que ia além do ego.
- Vocês querem o mundo, casal? Eu dou! – cantarolava, rodopiando pela sala – É real! , você é com certeza um mulherão da porra. Uma sereia que pescou um peixão. Eu shippo muito! , é? – citou os nomes combinados – Eu sou uma péssima amiga, não é? – saltou para o sofá e não esperou pela resposta – Não deveria estar incentivando vocês, quando todos sabem da extensa lista do e sobre como os relacionamentos dele nunca duram.
- Nem esquenta, ! – gesticulou com as mãos no ar, como se não fosse nada demais – Pode ficar tranquila que contra esses, eu sou bem vacinada. – viu a encarar de volta, não sentindo muita confiança. Rolou os olhos – é um jogador. Ele não gosta tanto de mim assim. – concluiu, permitindo que um sorriso saísse – E ninguém é mais pé no chão que eu nesses casos.
- Chata! – continuou cantando as falas.
- Mas isso não quer dizer que eu não posso tirar uma casquinha e de quebra me divertir. – exibiu um semblante travesso, mordendo o lábio inferior.
, não aprovou o que ouvira pela romântica incurável que era.
- Amiga... – ela buscou a mão da – Eu prefiro acreditar que nunca deu certo para ele antes, porque vocês estão destinados a ficarem juntos. Quase todo final de ano, vocês se pegam em alguma festa ou premiação. – pontuou – Vocês são compatíveis, gostam e respeitam o outro pela profissão e como pessoas. Analisa comigo: o cara está há cinco anos afirmando com todas as letras para todo mundo que você é perfeita para ele e pode ser que seja isso mesmo!
- Eu, hein... – desvencilhou-se da amiga – Sai para lá. Vai ser viajada assim no inferno! – recebeu um olhar ferido e percebeu que talvez tivesse sido grossa além dos limites – Desculpa. é muito legal, mas não me lembro de ter trocado mais do que uma dúzia de palavras com ele. – mentiu – Não sei o que passa na cabeça dos fãs, e sua também, para nos considerar um casal, quando tudo de interação que tivemos foi uma participação conjunta naquele programa de gincanas da televisão.
- E só com esse pouco todo mundo viu a química de vocês! Fala sério, vocês não se desgrudaram naquele programa. Vale lembrar que ele ficou o tempo todo do seu lado, tentando te ajudar ao invés de ganhar o jogo.
- Porque ele é gentil e só!
- ! Está falando com a sua melhor amiga, a que divide o teto com você! Está se esquecendo de que eu sei o que acontece nos bastidores? Nunca achou suspeito que independente de quantas mulheres tenha ficado, ele fique sempre solteiro no final do ano?
- Não? Que tipo de doente repara nessas coisas? – foi ofendida mais uma vez, sem intenção – Desculpa! Desculpa! – pediu – Sei lá, vai que as namoradas dele odeiam o natal?
riu com todas as forças que tinha nos pulmões.
- Você é uma comédia, . A outra possibilidade é que ele sabe que vai te encontrar em alguma social, belíssima, e quer estar disponível. – rolou os olhos.
- ... – proferiu o termo, que inventaram a partir do nome deles combinado, com uma expressão cansada, ignorando as insinuações da outra – As pessoas são muito emocionadas. Não podem ver um homem e uma mulher no mesmo recinto que já veem coisas.
- Mas elas não estão erradas nesse caso. Vocês já trocaram saliva e outras coisas que nem devo saber. – foi a vez de cruzar os braços.
- Mas... – mirou a amiga com um olhar mortífero – As pessoas não sabem disso. O que acontece nos bastidores...
- Fica nos bastidores. – completou como uma criança fazendo a tarefa de casa – Que combinam, combinam. – resmungou.
- Ok. – cerrou os olhos – Não entendi. Você – apontou o dedo em riste para a outra – disse que ele não é muito bom para confiar o meu coração e logo em seguida, fica tentando me jogar em cima. Eu estou muito bem resolvida, mas para que lado você quer que eu vá exatamente?
- Ah, sei lá. – se perdeu no próprio raciocínio – Não estou te pedindo para se apaixonar, mas poderia facilitar e ser mais aberta aos flertes dele.
- Mais do que já abri para ele? – questionou, atribuindo um segundo sentindo na conversa. Vendo que a amiga a encarou horrorizada, não conseguiu se segurar e gargalhou.
- Eu desisto! – praguejou – Vocês que se danem! – levantou os braços em desistência e olhou para o alto, como se fossem um caso sem solução.
- É melhor assim. – deu um sorriso satisfeito – Vai me contar como estão indo as pesquisas?
- Para quê? – se levantou de súbito – Você não vai entender nada.
- Não é bem assim! – colocou a mão no peito – Está insultando a minha inteligência, . – recebeu um olhar inquisidor – Talvez não entenda tudo do seu doutorado, talvez nada. – confessou – Mas amo escutar você sendo a mulher mais inteligente desse mundo. – sorriu – Sou totalmente interessada.
Contente, se jogou para um abraço.
- Obrigada, ! Você é a melhor amiga que poderia ter. – voltou à posição de antes e descansou a cabeça no ombro de – Por onde começo? Ah, você nem sabe quem colocaram de novo no nosso laboratório...
Pelo reflexo da televisão desligada, viu tagarelar sobre o dia no trabalho e se sentiu completa. Não havia nada mais incrível no mundo do que assistir alguém falar dos assuntos favoritos de maneira empolgada.
Para a , brilhava quando falava do doutorado e ela só sentia por não ter ninguém mais naquele momento para compartilhar aquela visão.
Passou a mão nos cabelos para dar uma última ajeitada e viu a equipe técnica pedir silêncio aos telespectadores e respirou fundo. Uma contagem regressiva silenciosa foi feita, até a mulher receber uma confirmação de que podia continuar.
- Então, , sabemos que o enfoque do filme não era esse, mas houve muitos momentos em que a pauta era sobre relembrar. O passado. – o homem maneou a cabeça, concordando de leve – Por isso, hoje vamos reviver alguns dos seus momentos em frente às câmeras e ouvir o que tem a comentar sobre eles.
- Oh, não sei se isso é uma boa ideia, Bright! – deixou escapar propositalmente em tom dramático, ao mesmo tempo em que escondia o rosto constrangido entre as mãos. Com bons anos de experiência nas costas, o ator sentia-se mais a vontade para brincar.
O estúdio foi preenchido por risadas coletivas e não escondeu o prazer que sentiu em causar tantas reações, deixando escapar uma gargalhada escandalosa, ato que estendeu a reação acalorada dos fãs que assistiam na plateia. Era de conhecimento público que além de talento para atuar, o astro gostava de cantar por hobby, além de se envolver em situações vergonhosas com facilidade.
A primeira situação que expuseram foi a dele chegando no aeroporto depois de uma viagem para outro estado, após o fim das filmagens de uma série. estava tão distraído que acabou errando a abertura da porta automática, resultando em dezenas de cliques sequenciais dele trombando com o vidro e em seguida massageando a cara sem conseguir esconder a dor e a vergonha pelo flagra.
O segundo momento foi um corte dos bastidores em que os colegas de gravação e ele recebiam presentes de fãs que acampavam do lado de fora do hotel em que estavam para a estreia.
- Surreal. Só posso dizer obrigado aos fãs que estiveram sempre por mim. Sempre que forem fazer essas loucuras, lembrem-se de se cuidar, comer e se hidratar.
Um coro de palmas pôde ser ouvido e no meio alguns gritos finos incontidos.
O terceiro momento foi para testar o coração das fãs principalmente. Eram fotos das câmeras do hotel o flagrandoo homem apenas de sunga pelos corredores.
- Roubaram as minhas roupas! – alegou vividamente – Eu fui dar um mergulho na piscina e quando voltei para buscar ar, minhas roupas tinham sumido!
O público ria da desgraça, alegrando os produtores atrás das câmeras, que aprovavam o modo como a entrevista estava sendo conduzida. Engajamento sempre trazia boas estatísticas nos relatórios.
- , para fechar: como anda o coração?
O público no set se empolgou.
- Batendo. – caçoou, desconversando de forma discreta – Ainda bem.
A entrevistadora ainda rindo da piada boba replicou:
- Ainda bem mesmo. Tenho certeza que seus fãs são muito gratos. Mas o que gostaríamos de saber é se o que você tinha aí dentro há anos ainda permanece.
A pauta sobre relacionamentos amorosos era o conteúdo mais sensível do ator. Não queria que revivessem algum caso bem enterrado. Não havia polêmica. A não ser que eles considerassem como polêmica o número extenso de relacionamentos que teve ao decorrer dos anos. Todos os fins foram os mais pacíficos possíveis e ainda teve os casos que nem ao começo chegou, contudo todos noticiados e estampados nas capas da mídia.
não se envergonhava. Assim como estava lutando para alavancar a carreira, buscava encontrar alguém em quem pudesse confiar o coração e compartilhar as pequenas vitórias de todos os dias. Era um sentimento diferente de ter amigos. Muito perto de alcançar a casa dos trinta, o ator começava a enxergar as coisas diferentes. Era importante para ele, ter alguém com quem contar no final do dia, alguém que ele pudesse apoiar e o apoiasse de volta. Infelizmente, nenhum caso anterior tinha dado certo. Tudo o que ele podia dizer era: paciência. A fila andava e em algum momento, iria dar certo.
Mesmo não existindo nenhuma polêmica, o assessor tratou de correr atrás para garantir que não houvesse assuntos desconfortantes no bloco. Seja lá para onde os produtores do programa quisessem levar a discussão, o combinado era nenhum assunto delicado.
- Não entendi a questão. – levou a mão à nuca.
- Pode deixar que a gente refresca a sua memória. Podem soltar o vídeo!
enxergou na tela uma versão mais nova de si, no mesmo programa do canal. O rosto liso, os cabelos feitos: era ele no começo da carreira, após ser cotado para uma série colegial para adolescentes ao lado de e . No entanto, o que mais denunciava o fato dele ser um novato na indústria era a postura ansiosa diante das lentes. conseguia se lembrar perfeitamente da pressão que era manter uma boa imagem, sem falar besteiras, mas também não passar uma vibe careta, manter um sorriso no rosto mesmo que estivesse com prisão de ventre, ser sempre agradecido e outras dezenas que coisas que tinha que memorizar.
Ele vivia petrificado.
Naquela entrevista, em específico, um pouco menos, apesar de ser uma das primeiras gravações das quais participou.
Um sorriso ameaçou a aparecer com o desenrolar da cena. Por mais que fosse perigoso divagar em uma transmissão ao vivo, o ator não segurou o ímpeto de relembrar aquele dia.
Os estúdios do canal Height eram tão grandes e apertados ao mesmo tempo, lembrou-se de ter pensado. Muitas pessoas corriam de um lado para o outro. Havia luzes, câmeras, gente falando no telefone, pessoas se arrumando no meio do corredor e programas acontecendo nos cenários ao lado, enquanto eles passeavam com o vigilante da entrada.
Nessa hora, um tremor de excitação passou pelo corpo de e ele soube que faria de tudo para aquele sonho continuar. Ao seu lado, os dois amigos de série caminhavam meio duros, encarando tudo com o mesmo semblante impressionado. Haviam sido lançados na indústria juntos, com a série adolescente que circulava no momento. Era a primeira promoção que faziam para o canal e era impossível não estarem nervosos.
- Rapazes, encontrei alguém que poderá guia-los melhor aqui dentro. – o vigilante anunciou, balançando o braço grande no ar para que fossem vistos – !
Ao identificarem quem o homem chamava, os olhos de se arregalaram quase no mesmo instante em que os outros dois começaram a cotovelá-lo.
- Essa não é a... – começou e foi silenciado.
- Cala a boca, .
- Mas eu só ia...
- Bom dia, Celso! – a figura cumprimentou ao se aproximar, dando uma rápida olhada no trio, logo voltando à atenção ao segurança – Chamou?
- Está muito ocupada?
- Para você, jamais! – a mulher brincou, arrancando um sorriso enorme do mais velho.
- Perdeu, ! – , o mais alto deles, soprou baixinho, recebendo um olhar matador de volta.
gargalhou, atraindo a atenção da mulher e do guarda, que estavam alheios às provocações deles e quis se enterrar.
- Bom dia, meninos! Me chamo e a partir de agora, vocês estão sob minha responsabilidade. – exibiu um sorriso que fez tremer mais uma vez.
- Ei, você não é a que grava uns vídeos muito bons para a internet? – , por fim, conseguiu fazer a pergunta que queria desde o início, agora sem interrupções – O que faz em um estúdio de televisão?
- Eu mesma! Agradecida pelo “muito bons”. Sobre a segunda pergunta: eu trabalho aqui, bobinho!
- Estão bem encaminhados, rapazes. – o vigia voltou a se pronunciar ao sentir que era a sua deixa – Até mais.
- Bom trabalho, Celso!
- Para vocês também. Tchau!
O homem seguiu por um lado e o grupo pela direção contrária.
- Vocês não devem me acompanhar fora dos vídeos, mas trabalho na Height também, como auxiliar da produção.
- A gente estava acompanhando suas últimas atualizações até ontem. – justificou para que ela entendesse que eles eram fãs de verdade, para o espanto dos amigos – Deixamos esse detalhe passar em algum momento.
Muito diferente dos papéis que interpretavam em frente às telas, era de conhecimento que era o mais quieto deles e raramente tomava iniciativa ou parte nas conversas fora das câmeras, por isso a surpresa.
- Hm, sério? – os olhou, empolgada, por cima do ombro – E o que acharam do meu trabalho no geral?
- Cara, fala sério, você é muito engraçada! – começou, apertando os passos para andar ao lado dela.
se sentiu frustrado. Deus estava dando todas as chances da vida dele naquele dia. Iria aparecer em um programa de muita audiência com os amigos e de quebra, esbarraram com no estúdio: uma de suas maiores admirações platônicas. O lamentável é que desde a aparição dela, ele ainda não tinha conseguido abrir a boca para fazer um elogio. Até tinha puxado conversa. Se antes estava nervoso com as perguntas que fariam no programa, ele tinha motivos em dobro agora.
- Eu não sei se fico feliz ou com muita vergonha de vocês me assistirem. Vocês têm isso também? Para gravar, eu sou ok, adoro, mas fico com muita vergonha de me assistir.
- Hm... Eu não. – respondeu prontamente – Eu gosto de ver o gatão que eu sou. – fez uma cara galante e explodiu em risada. e foram juntos, mais pela curtição com a cara do amigo – Nossa, , ofende mais que está pouco. – o ator novato fingiu estar machucado.
- Desculpa... – voltou a rir – Ai, ai, mas é que você também é muito engraçado. A cara que você fez... – mordeu o lábio para evitar outra crise.
- Não liga, não, , é narcisista assim. Gosta de atenção. – aproveitou a chance para debochar, arrependendo-se no instante seguinte pelo olhar diabólico que o outro deu.
- A gente começou a te acompanhar faz pouco tempo. – mudou o assunto e sentiu que estava pisando em ovos – Quem nos mostrou as suas redes foi o . Ele que fez a indicação e não nos deixa perder nenhuma atualização. – insinuou, maldoso.
De soslaio, foi possível ver balançar a cabeça, dando a entender que não tomaria partido na discussão. sentiu o rosto pinicar de calor.
- Verdade? – a mulher parou de andar para encará-los, ficando ainda mais animada, sem perceber as reais intenções de – Muito obrigada! Um dia, se desistir da carreira de ator, posso te contratar como marketing. – disse em tom brincalhão antes de voltar a andar e procurar o destino final deles.
- Não brinca, que ele vai mesmo. – alfinetou mais uma vez, dessa vez recebendo um chute na panturrilha.
Para a sorte, ou não, de , ela não ouviu a última parte. A cabeça de virava de um lado para o outro no extenso corredor de portas brancas que haviam acabado de adentrar.
- Vocês estão sendo muito gentis comigo, enchendo o meu trabalho de elogios. – falou, ainda olhando para as placas dos camarins, buscando pelo nome deles – Mas preciso confessar: não vi a série de vocês ainda.
- O quê? – os três replicaram, como se fosse inadmissível.
- Pois é... – a mulher ficou constrangida – Não tenho costume de acompanhar coisas que ainda estão passando. Fico me remoendo de ansiosa pelas atualizações. – riu, vendo a boba que era.
- Mas não é essa a graça? – indagou.
- Pode ser, mas prefiro ver quando tudo tiver finalizado. Sem decepções por temporadas canceladas ou atores sendo trocados.
- Até lá, vai ter perdido toda a movimentação e discussão nas redes – foi que abriu a boca dessa vez, ainda não entendendo como uma figura do entretenimento como ela podia não acompanhar parte do entretenimento.
- Culpada! – assumiu, dando os ombros – Chegamos! Esse é o camarim de vocês. – abriu a porta e deu passagem para que os convidados entrassem – Os maquiadores virão para arrumá-los daqui a pouco. Temos água e comidinhas no canto caso sintam fome. Mais tarde, alguém vem passar as instruções e colocar os microfones.
- E você? – quis saber. Ela era o ponto de segurança deles no lugar.
- O que tem eu?
- Para onde vai?
- Lugar nenhum? Preciso ir checar algumas coisas nos bastidores ainda. Qualquer coisa, gritem!
Com a mão na maçaneta, pronta para sair, ainda viu os três trocarem olhares tensos.
- Não se preocupem! Vai dar tudo certo! Bebam uma água para ajudar com a ansiedade. Vai ter uma equipe inteira para dar apoio. Podem confiar. – sorriu terna, mas eles permaneceram estacados na mesma posição.
- Como você faz para relaxar quando estão prestes a entrar no ar? – tomou coragem para perguntar a ela.
- Olha... – não soube dar uma resposta boa – Não tem muito o que fazer e nem para onde correr. – riu – Na maioria das vezes que apareço, não é planejado, até porque deveria ficar só nos bastidores, mas... – parou para pensar, deixando o restante na expectativa.
- Mas...? – incitou a mulher a continuar
- Tem uma coisa que dá para fazer: massagem!
- Massagem? – fez careta.
- Sim! Quando fico muito ansiosa, eu faço uma massagem. – deu um passo para dentro do camarim, decidindo que não iria sair ainda – Assim ó... – olhou os lados e foi em direção de que era o mais próximo.
Assustado com a aproximação repentina, recuou, obrigando a rolar os olhos.
- Eu não vou te bater, homem! – exclamou impaciente.
Um pouco mais distante do casal, não segurou a língua nervosa e murmurou à que estava logo do lado:
- Ele não reclamaria também, se batesse.
assentiu.
- Geralmente, eu pego as minhas mãos e junto elas. – os dedos finos de alcançaram as palmas de , unindo-as como quem pega água da torneira – Depois posiciono em frente ao peito, do lado onde o coração está batendo acelerado de nervoso e massageio. – colocou as próprias mãos sobre as do homem para demonstrar – Fazendo pressão assim.
engoliu seco com a aproximação inesperada. Precisou engolir ainda mais saliva quando sentiu o toque quente e delicado dela em suas mãos e depois sobre o peito. Os olhos dela ficaram o tempo todo voltados para os movimentos que estava demonstrando, concentrada em fazê-lo entender, foi nesse instante que ele se aproveitou para analisar os traços do rosto com mais atenção.
Muito mais bonita pessoalmente, concluiu.
O exercício era para acalmá-los, no entanto estava fazendo um esforço sobrenatural para não transparecer que estava seguindo pelo caminho oposto.
- É só isso? – disse alto, fazendo todos os rostos da sala se virar para ele – Precisava ter ido até e passado a mão nele para mostrar isso?
pareceu ter levado um choque com a constatação. Recuou alguns passos, quase tropeçando nos próprios pés
– Digo... – o ator continuou, sustentando um sorriso triunfal – Acho que se você dissesse que era uma massagem no peito, nós três teríamos entendido o recado.
deixou sair um risinho, fazendo a coloração do rosto de se intensificar. A mulher abria e fechava a boca sem saber o que falar. Quando parava para pensar no que havia dito, nem ela sabia o porquê de ter recorrido ao ator quando poderia ter demonstrado em si mesma a simulação. Começou a rir de nervoso, atraindo um olhar de compaixão de .
era um demônio em um corpo de ator.
- Meu deus... – os olhos dela iam se esbugalhando mais – Bom... Vocês sabem que pode acontecer de encontrarmos soluções que às vezes não são as mais práticas, não é? – riu nervosa.
- Bem pontuado. – resolveu entrar na brincadeira – Salva pela boa resposta, . – jogou uma piscadela de olho para ela.
– Agora que eu sei que vocês sabem fazer a massagem... – foi andando de costas até a porta, com o rosto queimando de vergonha – Eu posso ir né...
- ... – rolou os olhos – Eles estão curtindo com a sua cara.
- Pois deixe que brinquem. – pediu, recompondo um pouco da dignidade que ainda guardava – Quando a produção estiver editando as chamadas para o site, vou me certificar de que escolham closes bem feios deles para as capas dos vídeos. – sorriu vingativa.
- Miau, miau. Mostrando as garrinhas!
O cérebro da mulher precisou de alguns milésimos a mais para certificar de que o que havia escutado era real. Quando se deu conta, estava tendo outra crise de riso causada por .
- , você não perde a oportunidade de calar a boca, cara. – precisou alertar, ainda que estivessem do mesmo lado da discussão instantes atrás.
tinha uma mão tampando o rosto pela vergonha alheia que sentia do amigo fazendo mais um papel de otário. O lado bom era a gargalhada da mulher, que lhe era familiar pelos conteúdos que consumia dela. Pessoalmente, era muito mais deleitosa, dava para ver que era uma reação singela e honesta.
- Eu preciso mesmo ir. – avisou, ainda exibindo um sorriso pela crise que tivera – , eu te venero como pessoa. Precisamos marcar de gravar juntos. As pessoas iam te amar.
- Humilha mais, . – fez uma expressão magoada – No , – apontou com o dedo indicador – você quer fazer massagem. Com o , - indicou com o queixo – você quer gravar. Eu não sirvo, né?
- Tchau, . – despediu-se, puxando a maçaneta e foi quem caçoou desta vez, com uma risada artificial.
- Hahaha! Se fodeu!
- ! – a chamou pela última vez – Vou ver consigo liberar um horário para você na minha agenda su-per – frisou – corrida com a minha secretária. – comentou em um tom pomposo – Quem sabe, com sorte, você não consiga algo no próximo mês?
A mulher olhou incrédula para o ator e resolveu entrar na atuação.
- Oh, eu seria tão privilegiada! – replicou em tom sonhador, piscando exageradamente – Teria eu, a honra, a sorte e a felicidade de contracenar com o melhor ator da atualidade: o ? – dramatizou, recobrando a postura em seguida – Agora é sério, preciso trabalhar. Tchau!
Bastou que a porta se fechasse para tomar a iniciativa de ir atrás dela. Os companheiros de cena que ficaram para trás, no camarim, não entenderam, tampouco ligaram.
- , espera. – chamou-a, alcançando a mesma em passos largos.
- O que foi? – ela virou com o cenho franzido – Precisam de mais alguma coisa?
- Ah, não. Só queria esclarecer uma coisa: não fica ofendida com as brincadeiras do , por favor!
- Ofendida? – repetiu assustada – Claro que não! Quem tinha que estar ofendido era você. Por um momento, achei que ia ser denunciada por abuso de ator. – riu nervosa.
- não sabe o que fala. Tem vezes que passa dos limites. – reiterou.
- Dessa vez, ele estava certo. – defendeu – Bom, fez sentido, né? Não era a minha intenção me aproximar de você “daquele” jeito, mas podia ser meu inconsciente querendo... – deu os ombros, mordendo o lábio ao mesmo tempo em que olhava para todos os pontos, menos os olhos do ator.
pôde sentir o coração falhar em uma batida.
- , olha para mim. – ela o fez e os dois ficaram conectados – Acho que vou precisar de outra massagem, olha. – puxou a mão dela para sentir os batimentos.
A mulher arfou, prendendo a respiração.
- Er... – usou a mão livre para se abanar – Ficou quente, de repente, né?
- ! – outra mulher chegou no corredor gritando pela auxiliar, essa desvencilhou-se das mãos do homem discretamente – Onde você se meteu, garota? Estão te procurando!
- Até mais, !
Quando a tela sofreu uma transição, voltando a mostrar o logotipo do programa, a apresentadora Bright tinha um sorriso de rasgar, sendo acompanhada por palmas animadas da plateia. Se não fosse pela agitação, o ator continuaria perdido em lembranças.
- Você sabia que e eu somos grandes amigas hoje? Aquela garota está voando! Um brilho da nova geração!
O homem apenas balançou a cabeça em concordância, ainda esperando para ver no que daria o assunto. de garota não tinha nada aos olhos dele. Ela era uma mulher completa.
- Ah, sim. Ela nunca decepciona. Sou muito fã!
Suspiros de admiração foram captados do público.
- Eu ouvi suspiros? – a entrevistadora se virou para a plateia – Temos admiradores de aqui? – quis saber, recebendo uma manifestação tímida – Espero que o coração de vocês não quebre com a resposta que vou receber agora. – a postura corporal se voltou para o convidado – ... – um sorriso ladino se fez visível nela – Há quase meia década, neste mesmo palco e programa, você me disse o nome da quando perguntei sobre o seu tipo ideal. Qual é o seu tipo hoje?
devolveu o sorriso, fazendo um mistério para responder. Aquela era uma pergunta boba, porém público feminino pareceu ficar na expectativa e o silêncio que dominou contribuiu para o suspense. Poderiam chamá-lo de bobo pelo que iria responder, talvez considerassem uma jogada de marketing, mas ser sincero não prejudicaria ninguém nesse caso.
- Não existe outra resposta possível além de .
A temperatura no estúdio pareceu subir.
Um coro de animação se iniciou e a mulher na poltrona ao lado também não se conteve. Os burburinhos demoraram a cessar. Eufórica, a dona do programa tinha as mãos em frente ao peito, como se estivesse tocada com o que acabou de escutar.
- Ele é um homem fiel, pessoal! – o ator, sem graça com a constatação, viu na camisa que trajava a fuga para os dedos trêmulos – Fãs de , achei que vocês iam quebrar a cara, mas acho que todos devem ter infartado depois do que ouviram. – risos gerais de aprovação preencheram o ambiente.
- Pena que ela é muita areia para o meu caminhão. – suspirou.
Por um instante, o silêncio tornou a reinar. Mais outro segundo e ele se deu conta do erro que tinha cometido, os olhos saltaram um pouco e ele ficou sem reação. Aquela era uma daquelas falas que deveriam ficar apenas no inconsciente.
- Er... Eu disse o que eu acho que disse em voz alta? – sentiu o rosto esquentar quando recebeu acenos ao buscar o público.
Inesperadamente, a apresentadora começou a ter uma crise de risos. , nervoso, a acompanhou e todos ficaram sem saber como proceder.
- Como pode um homem crescido desse ficar chorando desse jeito? – ela quis saber, sem fôlego, usando os cartões de roteiro que tinha em mãos para se abanar – Nunca escutou que para muita areia a gente faz duas viagens?
- No caso de , acho que vou precisar de pelo menos três. – deu uma resposta rápida para sair do clima constrangedor e as fãs foram ao à loucura. Respirou aliviado internamente. Estava no controle das coisas de novo.
- Você é fogo, ! – Bright acusou, embasbacada – ... – buscou a câmera principal e viu pelos monitores de assistência que recebia o foco – Alguém vai, com certeza, fazer isso chegar a você. Amada, está esperando o quê? Vocês são bonitos, talentosos... Imagina os filhos que poderiam fazer? – brincou, arrancando reações positivas.
- , se eu fosse você, escutaria a Bright, ela sabe das coisas. – deu uma piscada, sem perder a oportunidade.
Dos bastidores, sinalizaram que o tempo havia acabado.
- E é com essa que terminamos o programa de hoje. , seus últimos comentários?
- , me liga! – sibilou, charmoso, para todas as câmeras focadas em si, com os dedos fazendo gesto de um telefone, causando mais alvoroço dos presentes – E assistam à “Um Futuro Esquecido”.
✨ ✨ ✨
Dentro da van, onde o levavam para a próxima parada de divulgações, sentiu o celular apitar. Três novas mensagens de .
: seu grandíssimo filho da puta!
: o cara não perde uma mesmo
: foi pra lá para promover o seu filme ou falar da sua paixonite pela ???
O ator riu nervoso.
: vai tomar no cu você
: caralho
: foram quase 30 min promovendo e 2 segundos falando dela
: e nem fui eu que chamei
: qual é: caralho
: foram quase 30 min promovendo e 2 segundos falando dela
: e nem fui eu que chamei
: tá nervosinho pq provavelmente vai levar mais um fora
: do que você está falando?
: ela foi convidada para o nosso after Uma festa de comemoração pelos bons números nos primeiros dias no cinema.
Sem dar uma pausa para o amigo, continuou o metralhando com mensagens para zoar.
: como sei que você não vai perder a chance de se humilhar
: lamber o chão que ela pisa
: achei legal te contar
: ficou mais felizinho, amor?
: vou ser recompensado à noite pela informação?
: já mandei você ir se foder hoje?
: vc ta me contando pq tem alma de fofoqueiro amigão
Depois dessa sessão de novidades e outras ideias trocadas, o astro de “Um Futuro Esquecido” só conseguiu voltar a pegar no celular a noite. Recém-saído do banho, ele buscou o aparelho e conferiu que não havia ligações perdidas. Deu os ombros, ainda não era nenhum Leonardo DiCaprio recebendo pilhas de propostas. Enquanto esperava o lanche que pediu pelo aplicativo chegar, entrou no Twitter para interagir com os fãs e ver o que estava em alta no momento.: vc ta me contando pq tem alma de fofoqueiro amigão
Haviam várias menções de seu nome. A maioria eram fotos e prints engraçados de momentos das gravações do dia. O ego ficava muito massageado com todos os elogios que recebia. Ver que existiam pessoas dispostas a criar fã clubes para reunir informações sobre si e espalhar o alcance dos trabalhos ainda era uma realidade que não descia.
@MaurícioGonzalez: Dia corrido hoje! Só agradecimentos! Mandem coisas aleatórias, engraçadas, sobre vocês...
@MaurícioGonzalez: Vamos interagir, pessoal!!!!
A linha do tempo começou a ficar mais ativa.
Em um apartamento não muito longe, outra pessoa que estava tendo que lidar com um surto de notificações nas redes sociais era . Tinha passado o dia inteiro nas gravações do programa que ainda era um trabalho em segredo, mas sabia que tinha acontecido algo e seu nome estava no meio. Durante o expediente, os colegas mais próximos contaram por cima. Teimosa que só ela era, acreditaria e se aquietaria depois que visse tudo com os próprios olhos.
Encontrar a origem do furdunço não foi complicado, todo instante surgia alguém mandando o vídeo da tal entrevista para que ela se inteirasse. Olhou com apreensão para a melhor amiga antes de dar o play.
e ela eram colegas de república na faculdade. Felizmente, o futuro foi generoso e ambas puderam seguir bem com suas carreiras. Enquanto enfrentava o início do estrelato na indústria do entretenimento, passava seus dias pesquisando e se ocupando com o doutorado. Vez ou outra, os horários batiam e permitiam que tivessem uma folga juntas, como o momento atual.
Ao fim do clipe cortado, tinha os braços cruzados contra o corpo e balançava a cabeça achando graça. O coração parecia mais aquecido do que nunca. Não iria mentir que não gostou do que ouviu. Entretanto, às vezes tinha a impressão de que as declarações do ator preenchiam algo nela que ia além do ego.
- Vocês querem o mundo, casal? Eu dou! – cantarolava, rodopiando pela sala – É real! , você é com certeza um mulherão da porra. Uma sereia que pescou um peixão. Eu shippo muito! , é? – citou os nomes combinados – Eu sou uma péssima amiga, não é? – saltou para o sofá e não esperou pela resposta – Não deveria estar incentivando vocês, quando todos sabem da extensa lista do e sobre como os relacionamentos dele nunca duram.
- Nem esquenta, ! – gesticulou com as mãos no ar, como se não fosse nada demais – Pode ficar tranquila que contra esses, eu sou bem vacinada. – viu a encarar de volta, não sentindo muita confiança. Rolou os olhos – é um jogador. Ele não gosta tanto de mim assim. – concluiu, permitindo que um sorriso saísse – E ninguém é mais pé no chão que eu nesses casos.
- Chata! – continuou cantando as falas.
- Mas isso não quer dizer que eu não posso tirar uma casquinha e de quebra me divertir. – exibiu um semblante travesso, mordendo o lábio inferior.
, não aprovou o que ouvira pela romântica incurável que era.
- Amiga... – ela buscou a mão da – Eu prefiro acreditar que nunca deu certo para ele antes, porque vocês estão destinados a ficarem juntos. Quase todo final de ano, vocês se pegam em alguma festa ou premiação. – pontuou – Vocês são compatíveis, gostam e respeitam o outro pela profissão e como pessoas. Analisa comigo: o cara está há cinco anos afirmando com todas as letras para todo mundo que você é perfeita para ele e pode ser que seja isso mesmo!
- Eu, hein... – desvencilhou-se da amiga – Sai para lá. Vai ser viajada assim no inferno! – recebeu um olhar ferido e percebeu que talvez tivesse sido grossa além dos limites – Desculpa. é muito legal, mas não me lembro de ter trocado mais do que uma dúzia de palavras com ele. – mentiu – Não sei o que passa na cabeça dos fãs, e sua também, para nos considerar um casal, quando tudo de interação que tivemos foi uma participação conjunta naquele programa de gincanas da televisão.
- E só com esse pouco todo mundo viu a química de vocês! Fala sério, vocês não se desgrudaram naquele programa. Vale lembrar que ele ficou o tempo todo do seu lado, tentando te ajudar ao invés de ganhar o jogo.
- Porque ele é gentil e só!
- ! Está falando com a sua melhor amiga, a que divide o teto com você! Está se esquecendo de que eu sei o que acontece nos bastidores? Nunca achou suspeito que independente de quantas mulheres tenha ficado, ele fique sempre solteiro no final do ano?
- Não? Que tipo de doente repara nessas coisas? – foi ofendida mais uma vez, sem intenção – Desculpa! Desculpa! – pediu – Sei lá, vai que as namoradas dele odeiam o natal?
riu com todas as forças que tinha nos pulmões.
- Você é uma comédia, . A outra possibilidade é que ele sabe que vai te encontrar em alguma social, belíssima, e quer estar disponível. – rolou os olhos.
- ... – proferiu o termo, que inventaram a partir do nome deles combinado, com uma expressão cansada, ignorando as insinuações da outra – As pessoas são muito emocionadas. Não podem ver um homem e uma mulher no mesmo recinto que já veem coisas.
- Mas elas não estão erradas nesse caso. Vocês já trocaram saliva e outras coisas que nem devo saber. – foi a vez de cruzar os braços.
- Mas... – mirou a amiga com um olhar mortífero – As pessoas não sabem disso. O que acontece nos bastidores...
- Fica nos bastidores. – completou como uma criança fazendo a tarefa de casa – Que combinam, combinam. – resmungou.
- Ok. – cerrou os olhos – Não entendi. Você – apontou o dedo em riste para a outra – disse que ele não é muito bom para confiar o meu coração e logo em seguida, fica tentando me jogar em cima. Eu estou muito bem resolvida, mas para que lado você quer que eu vá exatamente?
- Ah, sei lá. – se perdeu no próprio raciocínio – Não estou te pedindo para se apaixonar, mas poderia facilitar e ser mais aberta aos flertes dele.
- Mais do que já abri para ele? – questionou, atribuindo um segundo sentindo na conversa. Vendo que a amiga a encarou horrorizada, não conseguiu se segurar e gargalhou.
- Eu desisto! – praguejou – Vocês que se danem! – levantou os braços em desistência e olhou para o alto, como se fossem um caso sem solução.
- É melhor assim. – deu um sorriso satisfeito – Vai me contar como estão indo as pesquisas?
- Para quê? – se levantou de súbito – Você não vai entender nada.
- Não é bem assim! – colocou a mão no peito – Está insultando a minha inteligência, . – recebeu um olhar inquisidor – Talvez não entenda tudo do seu doutorado, talvez nada. – confessou – Mas amo escutar você sendo a mulher mais inteligente desse mundo. – sorriu – Sou totalmente interessada.
Contente, se jogou para um abraço.
- Obrigada, ! Você é a melhor amiga que poderia ter. – voltou à posição de antes e descansou a cabeça no ombro de – Por onde começo? Ah, você nem sabe quem colocaram de novo no nosso laboratório...
Pelo reflexo da televisão desligada, viu tagarelar sobre o dia no trabalho e se sentiu completa. Não havia nada mais incrível no mundo do que assistir alguém falar dos assuntos favoritos de maneira empolgada.
Para a , brilhava quando falava do doutorado e ela só sentia por não ter ninguém mais naquele momento para compartilhar aquela visão.
Capítulo 2
sabia que nunca deixariam aquela fala morrer e não havia nada que ele pudesse fazer para reverter isso. Os sentimentos naquela entrevista eram reais e continuavam sendo: era seu tipo ideal. Só não sabia se era certo ficarem a importunando por uma coisa que ele havia dito. temia que ela pudesse ficar saturada com o assunto.
Depois de muita cobrança dos internautas, veio a público para responder às declarações. Dar satisfações se tornava um dever depois entravam para o mundo do estrelato. Assim como ele, ela era uma pessoa muito sincera, por isso a base forte e fiel de seguidores.
Em um vídeo curto de quase um minuto gravado em um formato caseiro, assistiu a figura de aparecer sorridente enquanto cobrava postura de quem quer que estivesse a ajudando com a câmera. Então, começou:
- Olá? – acenou freneticamente para a lente – Se você encontrou esse vídeo por um acaso e não me conhece ainda, eu sou . Às vezes, faço alguns bicos e passo um pouco de vergonha em alguns programas do canal Height. – brincou – Também tenho um canal na internet onde converso sobre assuntos aleatórios, mas, porém, entretanto e todavia, hoje não vim para falar do meu trabalho. Vim para comentar sobre uma pauta que vocês não me deixam esquecer! – exasperou com entusiasmo – Recentemente, o ator do momento, , do filme Um Futuro Esquecido, voltou a repetir que eu era o tipo ideial dele. – fez gestos como se o autor da fala estivesse louco e se viu obrigado a rir sozinho para a tela do celular – Em um mundo onde existem mulheres extraordinárias, fico muito lisonjeada por ser a escolhida. – os olhos brilhantes de foram direto para a câmera e sentiu como se ela o mirasse diretamente – Obrigada mesmo! Mas espera... Vocês estão ouvindo isso? Não? Como que não? É o choro da Beyoncé e Rihanna por não terem tido a minha sorte! Até passo mal com tanta sorte! – agiu teatralmente fingindo um desmaio e o foco começou a balançar ao mesmo tempo em que uma risada escapou atrás da câmera, tirando a estabilidade da gravação – Segura direito essa câmera, ! – repreendeu – Era só isso mesmo. Agradecer e mostrar para vocês que eu vi a entrevista e estou ciente do tombo que o nutre por mim. – fez uma jogada de cabelo para o lado e empinou o nariz – Não me admira, eu sou uma princesa! – exibiu-se com poses exageradas – Tchau!
O homem achou que não fosse acontecer, mas estava caindo de amores por nesta vida mais uma vez.
Suspirou.
Não era como se ele escolhesse babar toda vez que ela surgia respirando em seu campo de visão. só não havia encontrado ninguém que causasse todas as emoções que conseguia fazê-lo sentir, com um só olhar.
Maldita.
Ele era rendido pela mulher desde a primeira entrevista na Height. Ela e a massagem no peito.
Mais um suspiro.
Talvez não devesse ter tido a iniciativa de beijá-la na festa de natal da há quatro anos também. Foi como pisar no céu, de tão leve que foi o contato entre as bocas, e em seguida voar para o inferno, pela intensidade que adotaram em segundos.
Desde o acontecido, parecia viciado e nada parecia tão certo quanto a língua dela se entrelaçando com a dele. Bastaria um “não” e ele recobraria os sentidos. O coração seria partido e ele se encarregaria de juntar os pedaços na maior boa vontade, porém isso nunca acontecia.
não o rejeitava, apenas pedia calma.
Todo ano eles se reencontravam na cama dele e felizmente, eram sempre as melhores experiências que poderiam compartilhar entre si, confidentes.
Todavia, nem tudo podia ser só flores. O vídeo ingênuo que a mulher liberou para responder aos fãs acabou chamando mais atenção dos tabloides do que o esperado. A mídia, que sempre mirava em palha que pudesse virar fogo, encontrou em , uma artista em ascensão com um novo programa na tevê anunciado e , que estava vivendo a melhor fase como ator, a faísca que e a movimentação que o público precisava.
sempre se espantou com o fato de que a relação, ou uma possível, entre duas pessoas sempre era motivo de incômodo.
Começaram a revirar o passado de ambos e criar dezenas de especulações. Criaram linhas do tempo que ligavam todas as notícias entre eles para encontrar uma falha que denunciasse um relacionamento inexistente. Fãs até reassistiram as premiações dos anos anteriores para analisar o comportamento corporal deles e flagrá-los em uma mesma cena.
Loucura.
O que havia de tão sobrenatural em duas pessoas interessadas entre si tentando fazer dar certo?
Infelizmente, pela sociedade machista que reinava, as opiniões negativas acabaram caindo nas costas da futura apresentadora.
@anom954069: é claro que está tentando escorar na fama dele #abominavel
@ciclana23: quem?
@beltrana89342: ele tem dedo podre, não vão longe
@user62091: ficou evidente no vídeo que ela é só mais uma nariz em pé
A internet era imprevisível e muito cruel. Uma vez que alguém dava o aval para queimar uma pessoa, o circo armado virava um caça às bruxas. viu os dias passarem e, com eles, arranjarem um motivo todo o dia para diminuir a qualquer custo: sua maquiagem, o cabelo, o jeito de se vestir. Viu pessoas perdendo a cabeça e se revelando em sua pior forma: sendo invasivas e reproduzindo falas de efeito que eram reproduções de discursos intolerantes e de ódio. Basicamente, segundo eles, era ruim por ser .
se sentiu mal e culpado.
Até ameaça de morte encontrou nas redes dela e precisaram limitar os canais de comunicação para que não descessem ainda mais o nível, se é que era possível.
Ele nem ao menos tinha conseguido contatar ela para saber como estava.
- Escuta, preciso fazer alguma coisa para ajudá-la. – o ator andava de um lado para o outro no set de filmagens.
- Respira, . – pediu o agente – Já entramos em contato com a equipe de e eles disseram que vão tomar medidas judiciais contra aqueles que estão espalhando rumores falsos.
- Não é o suficiente! – esbravejou, atraindo a atenção de alguns técnicos ao redor – mal começou a comandar o programa dela e já estão armando um boicote. Eles a ameaçaram de morte! Por nada! – agitava os braços pelo ar, incrédulo.
- Não estou justificando, mas todos estão passiveis de sofrer ataques cibernéticos depois que aceitam se expor. Se não ficar na sua, podemos ser os próximos. Juízo. – pediu o agente corpulento se afastando para atender uma ligação.
Imitando o assessor, alcançou o próprio celular e discou para um número familiar.
- Alô? – a pessoa na outra linha respondeu.
- ? – olhou para o redor, checando que ninguém os escutava – Preciso de um favor seu. É o seguinte...
✨ ✨ ✨
Depois de passar pela portaria e deixar o elevador, considerou ser seguro tirar o capuz do moletom cinza e o boné. Não havia a possibilidade de terem jornalistas dentro do condomínio de .
Checou três vezes a plaquinha do apartamento, antes de apertar a campainha.
- ? – uma mulher que ele não conhecia o reconheceu.
Por um momento, o pânico bateu. Teria a anta do arranjado o endereço errado? O cérebro começou a varrer por toda a vasta experiência de fugir dos paparazzis que abrigava para dar uma boa desculpa de estar ali.
Um ator de Hollywood, em um condomínio comum, na calada da noite.
- Desculpa, acho que foi enga...
- Você está aqui para ver a , não é?
A menção do apelido fez todos os músculos dele relaxarem. Limitou-se a concordar com a cabeça.
- Por favor, entra!
- ... – uma voz familiar se fez ouvida, seguida por uma cabeça que surgiu atrás da parede que dividia a cozinha da sala – ... – o tom mudou.
- Eu... Er... – se enrolou. Ela só precisava de uma desculpa boba, mas o cérebro tinha dado um curto circuito – Eu vou ver... Os pães... Como eles estão... Na padaria? Tchau! – disparou pela porta de pijama e pantufas.
O som da porta batendo anunciou que eles estavam a sós.
- Meu deus, não me diz que você veio aqui para trazer mais problemas, porque eu sou capaz de arrancar todos os meus cabelos de estresse. – despejou, saindo de trás da parede que a ocultava – Por favor, sente-se. Quer comer ou beber alguma coisa?
Ele prontamente negou, fazendo uma varredura pela de cima a baixo. Aparentemente, ela estava bem.
- , como você está?
- Fodida, né? – foi direta, acomodando-se na poltrona ao lado – A internet me jogou para cristo. – passou a mão no rosto, mostrando cansaço – Tirando isso, sigo bem. E você?
Eles ficaram se encarando. Ela não parecia brava com ele, pela análise rápida nas expressões, pelo contrário, parecia querer saber de verdade sobre o estado do próprio.
- Me sentindo culpado. – suspirou, jogando os braços para trás da cabeça antes se acomodar no encosto – Eu fui o merda que não pensou nas consequências quando taquei o seu nome na televisão. – olhava vagamente para o teto.
- Não esquenta, está tudo bem! Não pode carregar o fardo por existir tanto lixo se escondendo atrás das telas. É só a podridão da internet saindo das profundezas do inferno mais uma vez. Hoje fui eu, amanhã vão cansar de mim e caçar outra. – disparou a repetir o mesmo discurso que estava entalado nos últimos dias difíceis.
- Fácil falar. – o ator soltou uma risada ácida, fechando as mãos em punhos – Eu te joguei na fogueira dessa vez. Não tem como dormir em paz. Visitei o seu perfil e vi as ameaças. – desviou o olhar do teto a tempo de ver os ombros dela murcharem.
- Ah... – forçou um sorriso – Você viu... – a fala morreu.
Inquieto, deixou o sofá e se ajoelhou diante da mulher e da poltrona onde estava. As mãos dele buscaram a dela para fazer carinhos circulares na palma, enquanto falava.
- Eu sinto muito mesmo. Se pudesse fazer com que os alvos viessem para mim, eu faria.
rolou os olhos e deixou um fino sorriso escapar.
- Não tem que bancar o herói para cima de mim sempre. Eu não vou cair na sua rede, pescador. – a apresentadora deu uma piscada marota e logo desviou o olhar – Eu já disse que não tem que se sentir culpado. As coisas só aconteceram. Não é como se eu ligasse para alguém, que nem o rosto revela, me ameaçando. Só fico um pouco assustada com o teor pesado das mensagens, mas não absorvo para mim. Faz parte do nosso trabalho.
- Não faz, não. – contrariou, inconformado – Nada justifica. Mas e o programa? – mudou o foco.
- Não vai acontecer nada. – garantiu – Eu não fiz nada de errado. Se quiserem me cortar, é aí que o bicho vai pegar. Como já avisei: sou uma mulher preparada e bem resolvida. Bright e as outras mulheres do canal tem me dado um apoio incondicional. – mirou o teto, estava agradecida, mas igualmente exausta.
- E você pode contar com a minha também. – garantiu.
Ambos trocaram um sorriso cúmplice e sincero.
- Viu? Estou bem. Tudo vai ficar bem. Portanto, pode voltar para casa e dormir com a tranquilidade de um bebê, .
- Eu tenho certeza que dormiria melhor com você ao meu lado. – os olhos dela o atingiram como raios – Brincadeiras à parte... – limpou a garganta – Não estou me sentindo muito melhor, se quer saber.
contou até três e disparou inúmeros xingamentos ao homem diante de si mentalmente.
- Sou eu quem está com a carreira ferrada, mas é você que precisa ser consolado? – se assustou e se sentiu pior.
- Me desculpa. Talvez seja por isso que não devamos ficar juntos. Você viu como eu erro toda hora. – baixou o olhar sem graça.
- ! – chamou-o seriamente, vendo-o levantar o rosto – Seu único erro foi me amar demais. – mordeu o lábio para segurar a risada e falhou.
Também prendendo a risada, o ator começou a bater a cabeça contra o apoio macio da poltrona. Ela tinha que sempre melhorar o clima com uma brincadeira.
- Alguém, alguma vez, já disse que você é meio perturbada, ?
- Oh, já! – confirmou, tirando o celular do bolso do moletom canguru – Preferi interpretar como um elogio.
- Tinha que ser... – balançou a cabeça, desacreditado – Seu apartamento é bem legal. – analisou o ambiente rapidamente e depois voltou para ela, estranhando o silêncio. estava distraída com algo na tela. Aproveitou para passar os olhos com mais calma pelo apartamento.
Simples e bem espaçoso.
- E você ainda disse que eu não ia conhecer a sua casa tão cedo. – tornou a puxar assunto.
- Oi? – ele finalmente recebia atenção – O que estava dizendo?
- Lembra quando ficamos juntos pela primeira vez?
- Como me esqueceria? O tempo passou e você não mudou nada. Continua o mesmo homem emocionado de antes. – caçoou – Eu falava um “A” e escorriam litros de baba dessa sua boca.
- Naquela noite, fomos para a minha casa. – optou por não contrariá-la, uma vez que errada ela não estava.
- E?
- Você disse que eu não ia conhecer seu apartamento tão cedo. Pois olhe para onde estou agora? – sustentava um sorriso de orelha a orelha.
- Isso não quer dizer nada.
- Quer sim. O próximo passo, segundo o filósofo contemporâneo Luan Santana, é arranjarmos dois filhos e um cachorro.
- Calma, calma... – pediu de olhos arregalados, fazendo o desenho de cruzes no ar simultaneamente – Está parecendo até a , meu deus... – um estalo lhe veio à mente – ! – bateu na testa sabendo que tinha se esquecido de algo – Agradeço a preocupação, mas já viu que estou inteirinha. Sua visita se encerra aqui, ! – anunciou, levantando-se em um pulo para expulsá-lo.
- Está sendo muito mal educada, se quer saber. – reclamava no caminho da sala até a porta, com as mãos dela o empurrando nas costas.
- me mandou mensagens perguntando se ela podia subir. Era isso que estava conferindo no celular. A coitada está passando frio no térreo para nos deixar conversar, mas se arrependeu, porque precisa dormir e acordar cedo amanhã. – riu.
- Me lembre de agradecê-la por esse desserviço. Tirando o meu tempo com a minha garota. – fingiu estar triste para então escapar das mãos dela e passar o braço pelo pescoço da mesma.
- Folgado. A casa é dela. Sinto em informar, mas você é a sobra. – tirou o braço dele de si assim que alcançaram a porta – E eu não falaria assim da fã número um de .
- Hm... É sério? – o rosto do ator se iluminou.
- Eu nunca faria uma brincadeira de mau gosto dessas.
fingiu receber dois tiros certeiros no peito.
- Pisa mais, . – fez uma voz de sofrido – Pisa, que eu gosto mais.
Ela achou graça no teatrinho dele.
- Eu simplesmente não sei o que faço com você. A verdadeira atualização do meme do homem que gosta de apanhar de mulheres bonitas.
- Ahá! – exclamou, como se tivesse descoberto a eletricidade – Então, quer dizer que você se acha bonita, mulher muito mais que bonita?
- Quando vir no térreo, pode a mandar subir. Boa noite, . – fechou a porta, ignorando a deixa dele para ficarem ainda mais tempo enrolando ali.
não conseguiu se distanciar nem cinco passos que já estavam batendo na porta.
Rolou os olhos.
- Esqueceu alguma coisa? – questionou, de cenho franzido e mãos na cintura.
- Que bom que perguntou. – abriu o melhor sorriso que tinha, antes de puxá-la pelo rosto para um longo selinho – Beijo de boa noite dado. Se cuida, . Precisando de alguma coisa, sabe onde me localizar. – passou as mãos pelos cabelos para posicionar o boné – Até!
Do mesmo jeito turbulento que chegou, o assistiu desaparecer. Involuntariamente, os dedos foram em direção aos lábios que ainda pareciam dormentes com o contato recente.
Um dia depois da visita noturna, , contrariando os todos os pedidos do assessor, lançou uma carta oficial em suas redes, se posicionando. Nela, reiterou mais uma vez as qualidades da mulher e pediu por empatia, maturidade e principalmente mais respeito por parte do público.
Com isso, os rumores sobre eles estarem saindo aumentaram. Em contrapartida, os ataques, em sua maioria, cessaram. seguiu bem com o próprio programa, conquistando cada vez mais o público pelo carisma e espontaneidade. Nada disso era novidade para o . Ele sempre bateu na tecla de que tinha o dom de entreter.
Sorriu orgulhoso.
Muito contrário do que ele queria também, ambos não tornaram a se cruzar. Até o dia da festa de comemoração do filme dele.
Com o copo cheio em mãos, o ator ficou aguardando pacientemente pela sua vez na fila por um pouco de atenção da bela mulher. Alguns dos colegas da produção parabenizavam pelo programa. Essa trajava um vestido preto, frente única, que se prendia ao pescoço com um laço amarrado na nuca, deixando os ombros e as costas descobertas. Os fios estavam embolados em um coque bagunçado, sendo enfeitados por uma tiara de pedras rosa e dourada.
A verdadeira e única rainha do mundo dele.
- Parabéns de novo, ! Estaremos te assistindo sempre que der, você é luz.
riu envergonhada.
- Vocês são muito gentis nas palavras. – reiterou, vendo o casal se afastar – A gente se vê!
- Se esse fosse o mundo dos quadrinhos, você seria a Mulher Maravilha. – falou galanteador, para que percebesse sua presença e a viu tentar impedir um sorriso ao mesmo tempo em que rolava os orbes – Uma bela mulher de infinitas qualidades.
- É mesmo, ? – não caiu na ladainha – Se eu sou ela, você é o Bozo, eu presumo. – zombou.
- Eu preferiria o Batman, se é que me entende – piscou – É sério, . Quando você aparece, tudo brilha mais. – ela fingiu enfiar o dedo na goela para vomitar com tanta melação – As minhas palavras naquela carta para a tevê não foram para encher linguiça. Você é humilde, é ótima em fazer as pessoas rirem e se sentirem melhor, sabe liderar, ganhar o público e...
- Parou por quê? – cobrou, com as sobrancelhas e o nariz empinado, fitando as unhas bem feitas como se fossem o mais interessante no momento – A lista das minhas “infinitas” – frisou – qualidades terminou?
Em passos sorrateiros, se moveu até parar atrás dela.
- E beija bem. – completou com um sussurro contra o ouvido dela, vendo a pele exposta arrepiar – Mas acho que essa parte não era boa para jogar em rede nacional.
suspirou levemente irritada, fechando os olhos e as mãos com força.
- Por que você tem que ser assim? – deu meia volta, ficando cara a cara com o homem – Por que você tem que ser a droga de um gostoso, ? – esbravejou entredentes, segurando-o pela gola.
- Porque eu preciso estar a sua altura. – fitou-a seriamente, sem desviar – Gostosa. – os dedos passearam discretamente pelas costas desnudas da mulher, até chegar à bunda, onde encheu as mãos com um aperto.
A apresentadora estreitou o aperto na gola e ficou rígida.
- , você vai acabar se machucando com a brincadeira. – alertou, tentando não se entregar com o calor que estava sentindo espalhar por toda a pele.
- Hm. Não vou. – bebericou um pouco do conteúdo que carregava – Eu sou um homem crescido. Bem crescido, como você já viu antes. – riu presunçoso e por fim, se afastou, para o desgosto da mulher – Além disso, achei que estava claro que estava atrás da mulher que gostava e não de uma babá para cuidar de mim. – deu mais dois passos para trás para que pudessem conversar confortavelmente sem que pudesse se perder, distraído com qualquer detalhe da beleza dela – Não precisa ficar tentando me proteger, .
Atrevida, ela tirou o copo dele para roubar um gole, não sem soltar o ar de forma pesada antes.
- Nunca vou me acostumar com você falando todas essas coisas na maior cara lavada. Eu não sou tudo isso que você acha que eu sou, . Você está idealizando uma coisa e no fim, pode se frustrar.
- Nada do que disser vai me fazer recuar. – reforçou – A não ser que você me diga “não”, óbvio. Mas você nunca disse, . – abriu um sorriso – E que eu eu entendo com isso é que você gosta um pouquinho de mim.
- Cada um inventa a realidade que lhe convir. – deu os ombros, zombeteira.
- É mesmo? E o que acha de uma envolvendo nós dois longe daqui e uma pilha de roupas no chão?
Ambos trocaram um olhar cúmplice.
- Essa eu já acredito ser mais palpável. – riu travessa.
- Palpável é outra coisa. – desceu o olhar para os peitos dela.
- Safado. – desferiu um tapa no braço dele – Falando sério: não pode deixar a festa que fizeram para você!
- É mesmo? Então, só assiste.
Dito, pegou na mão dela e entrelaçou os dedos com firmeza.
- , o que deu em você para estar sendo tão inconsequente hoje? – indagou enquanto chegavam no estacionamento – Você devia ir mais devagar.
- O tempo é muito curto para tudo o que quero fazer com você.
riu, balançando a cabeça sem acreditar.
- Calma, calma...
Depois de muita cobrança dos internautas, veio a público para responder às declarações. Dar satisfações se tornava um dever depois entravam para o mundo do estrelato. Assim como ele, ela era uma pessoa muito sincera, por isso a base forte e fiel de seguidores.
Em um vídeo curto de quase um minuto gravado em um formato caseiro, assistiu a figura de aparecer sorridente enquanto cobrava postura de quem quer que estivesse a ajudando com a câmera. Então, começou:
- Olá? – acenou freneticamente para a lente – Se você encontrou esse vídeo por um acaso e não me conhece ainda, eu sou . Às vezes, faço alguns bicos e passo um pouco de vergonha em alguns programas do canal Height. – brincou – Também tenho um canal na internet onde converso sobre assuntos aleatórios, mas, porém, entretanto e todavia, hoje não vim para falar do meu trabalho. Vim para comentar sobre uma pauta que vocês não me deixam esquecer! – exasperou com entusiasmo – Recentemente, o ator do momento, , do filme Um Futuro Esquecido, voltou a repetir que eu era o tipo ideial dele. – fez gestos como se o autor da fala estivesse louco e se viu obrigado a rir sozinho para a tela do celular – Em um mundo onde existem mulheres extraordinárias, fico muito lisonjeada por ser a escolhida. – os olhos brilhantes de foram direto para a câmera e sentiu como se ela o mirasse diretamente – Obrigada mesmo! Mas espera... Vocês estão ouvindo isso? Não? Como que não? É o choro da Beyoncé e Rihanna por não terem tido a minha sorte! Até passo mal com tanta sorte! – agiu teatralmente fingindo um desmaio e o foco começou a balançar ao mesmo tempo em que uma risada escapou atrás da câmera, tirando a estabilidade da gravação – Segura direito essa câmera, ! – repreendeu – Era só isso mesmo. Agradecer e mostrar para vocês que eu vi a entrevista e estou ciente do tombo que o nutre por mim. – fez uma jogada de cabelo para o lado e empinou o nariz – Não me admira, eu sou uma princesa! – exibiu-se com poses exageradas – Tchau!
O homem achou que não fosse acontecer, mas estava caindo de amores por nesta vida mais uma vez.
Suspirou.
Não era como se ele escolhesse babar toda vez que ela surgia respirando em seu campo de visão. só não havia encontrado ninguém que causasse todas as emoções que conseguia fazê-lo sentir, com um só olhar.
Maldita.
Ele era rendido pela mulher desde a primeira entrevista na Height. Ela e a massagem no peito.
Mais um suspiro.
Talvez não devesse ter tido a iniciativa de beijá-la na festa de natal da há quatro anos também. Foi como pisar no céu, de tão leve que foi o contato entre as bocas, e em seguida voar para o inferno, pela intensidade que adotaram em segundos.
Desde o acontecido, parecia viciado e nada parecia tão certo quanto a língua dela se entrelaçando com a dele. Bastaria um “não” e ele recobraria os sentidos. O coração seria partido e ele se encarregaria de juntar os pedaços na maior boa vontade, porém isso nunca acontecia.
não o rejeitava, apenas pedia calma.
Todo ano eles se reencontravam na cama dele e felizmente, eram sempre as melhores experiências que poderiam compartilhar entre si, confidentes.
Todavia, nem tudo podia ser só flores. O vídeo ingênuo que a mulher liberou para responder aos fãs acabou chamando mais atenção dos tabloides do que o esperado. A mídia, que sempre mirava em palha que pudesse virar fogo, encontrou em , uma artista em ascensão com um novo programa na tevê anunciado e , que estava vivendo a melhor fase como ator, a faísca que e a movimentação que o público precisava.
sempre se espantou com o fato de que a relação, ou uma possível, entre duas pessoas sempre era motivo de incômodo.
Começaram a revirar o passado de ambos e criar dezenas de especulações. Criaram linhas do tempo que ligavam todas as notícias entre eles para encontrar uma falha que denunciasse um relacionamento inexistente. Fãs até reassistiram as premiações dos anos anteriores para analisar o comportamento corporal deles e flagrá-los em uma mesma cena.
Loucura.
O que havia de tão sobrenatural em duas pessoas interessadas entre si tentando fazer dar certo?
Infelizmente, pela sociedade machista que reinava, as opiniões negativas acabaram caindo nas costas da futura apresentadora.
@anom954069: é claro que está tentando escorar na fama dele #abominavel
@ciclana23: quem?
@beltrana89342: ele tem dedo podre, não vão longe
@user62091: ficou evidente no vídeo que ela é só mais uma nariz em pé
A internet era imprevisível e muito cruel. Uma vez que alguém dava o aval para queimar uma pessoa, o circo armado virava um caça às bruxas. viu os dias passarem e, com eles, arranjarem um motivo todo o dia para diminuir a qualquer custo: sua maquiagem, o cabelo, o jeito de se vestir. Viu pessoas perdendo a cabeça e se revelando em sua pior forma: sendo invasivas e reproduzindo falas de efeito que eram reproduções de discursos intolerantes e de ódio. Basicamente, segundo eles, era ruim por ser .
se sentiu mal e culpado.
Até ameaça de morte encontrou nas redes dela e precisaram limitar os canais de comunicação para que não descessem ainda mais o nível, se é que era possível.
Ele nem ao menos tinha conseguido contatar ela para saber como estava.
- Escuta, preciso fazer alguma coisa para ajudá-la. – o ator andava de um lado para o outro no set de filmagens.
- Respira, . – pediu o agente – Já entramos em contato com a equipe de e eles disseram que vão tomar medidas judiciais contra aqueles que estão espalhando rumores falsos.
- Não é o suficiente! – esbravejou, atraindo a atenção de alguns técnicos ao redor – mal começou a comandar o programa dela e já estão armando um boicote. Eles a ameaçaram de morte! Por nada! – agitava os braços pelo ar, incrédulo.
- Não estou justificando, mas todos estão passiveis de sofrer ataques cibernéticos depois que aceitam se expor. Se não ficar na sua, podemos ser os próximos. Juízo. – pediu o agente corpulento se afastando para atender uma ligação.
Imitando o assessor, alcançou o próprio celular e discou para um número familiar.
- Alô? – a pessoa na outra linha respondeu.
- ? – olhou para o redor, checando que ninguém os escutava – Preciso de um favor seu. É o seguinte...
✨ ✨ ✨
Depois de passar pela portaria e deixar o elevador, considerou ser seguro tirar o capuz do moletom cinza e o boné. Não havia a possibilidade de terem jornalistas dentro do condomínio de .
Checou três vezes a plaquinha do apartamento, antes de apertar a campainha.
- ? – uma mulher que ele não conhecia o reconheceu.
Por um momento, o pânico bateu. Teria a anta do arranjado o endereço errado? O cérebro começou a varrer por toda a vasta experiência de fugir dos paparazzis que abrigava para dar uma boa desculpa de estar ali.
Um ator de Hollywood, em um condomínio comum, na calada da noite.
- Desculpa, acho que foi enga...
- Você está aqui para ver a , não é?
A menção do apelido fez todos os músculos dele relaxarem. Limitou-se a concordar com a cabeça.
- Por favor, entra!
- ... – uma voz familiar se fez ouvida, seguida por uma cabeça que surgiu atrás da parede que dividia a cozinha da sala – ... – o tom mudou.
- Eu... Er... – se enrolou. Ela só precisava de uma desculpa boba, mas o cérebro tinha dado um curto circuito – Eu vou ver... Os pães... Como eles estão... Na padaria? Tchau! – disparou pela porta de pijama e pantufas.
O som da porta batendo anunciou que eles estavam a sós.
- Meu deus, não me diz que você veio aqui para trazer mais problemas, porque eu sou capaz de arrancar todos os meus cabelos de estresse. – despejou, saindo de trás da parede que a ocultava – Por favor, sente-se. Quer comer ou beber alguma coisa?
Ele prontamente negou, fazendo uma varredura pela de cima a baixo. Aparentemente, ela estava bem.
- , como você está?
- Fodida, né? – foi direta, acomodando-se na poltrona ao lado – A internet me jogou para cristo. – passou a mão no rosto, mostrando cansaço – Tirando isso, sigo bem. E você?
Eles ficaram se encarando. Ela não parecia brava com ele, pela análise rápida nas expressões, pelo contrário, parecia querer saber de verdade sobre o estado do próprio.
- Me sentindo culpado. – suspirou, jogando os braços para trás da cabeça antes se acomodar no encosto – Eu fui o merda que não pensou nas consequências quando taquei o seu nome na televisão. – olhava vagamente para o teto.
- Não esquenta, está tudo bem! Não pode carregar o fardo por existir tanto lixo se escondendo atrás das telas. É só a podridão da internet saindo das profundezas do inferno mais uma vez. Hoje fui eu, amanhã vão cansar de mim e caçar outra. – disparou a repetir o mesmo discurso que estava entalado nos últimos dias difíceis.
- Fácil falar. – o ator soltou uma risada ácida, fechando as mãos em punhos – Eu te joguei na fogueira dessa vez. Não tem como dormir em paz. Visitei o seu perfil e vi as ameaças. – desviou o olhar do teto a tempo de ver os ombros dela murcharem.
- Ah... – forçou um sorriso – Você viu... – a fala morreu.
Inquieto, deixou o sofá e se ajoelhou diante da mulher e da poltrona onde estava. As mãos dele buscaram a dela para fazer carinhos circulares na palma, enquanto falava.
- Eu sinto muito mesmo. Se pudesse fazer com que os alvos viessem para mim, eu faria.
rolou os olhos e deixou um fino sorriso escapar.
- Não tem que bancar o herói para cima de mim sempre. Eu não vou cair na sua rede, pescador. – a apresentadora deu uma piscada marota e logo desviou o olhar – Eu já disse que não tem que se sentir culpado. As coisas só aconteceram. Não é como se eu ligasse para alguém, que nem o rosto revela, me ameaçando. Só fico um pouco assustada com o teor pesado das mensagens, mas não absorvo para mim. Faz parte do nosso trabalho.
- Não faz, não. – contrariou, inconformado – Nada justifica. Mas e o programa? – mudou o foco.
- Não vai acontecer nada. – garantiu – Eu não fiz nada de errado. Se quiserem me cortar, é aí que o bicho vai pegar. Como já avisei: sou uma mulher preparada e bem resolvida. Bright e as outras mulheres do canal tem me dado um apoio incondicional. – mirou o teto, estava agradecida, mas igualmente exausta.
- E você pode contar com a minha também. – garantiu.
Ambos trocaram um sorriso cúmplice e sincero.
- Viu? Estou bem. Tudo vai ficar bem. Portanto, pode voltar para casa e dormir com a tranquilidade de um bebê, .
- Eu tenho certeza que dormiria melhor com você ao meu lado. – os olhos dela o atingiram como raios – Brincadeiras à parte... – limpou a garganta – Não estou me sentindo muito melhor, se quer saber.
contou até três e disparou inúmeros xingamentos ao homem diante de si mentalmente.
- Sou eu quem está com a carreira ferrada, mas é você que precisa ser consolado? – se assustou e se sentiu pior.
- Me desculpa. Talvez seja por isso que não devamos ficar juntos. Você viu como eu erro toda hora. – baixou o olhar sem graça.
- ! – chamou-o seriamente, vendo-o levantar o rosto – Seu único erro foi me amar demais. – mordeu o lábio para segurar a risada e falhou.
Também prendendo a risada, o ator começou a bater a cabeça contra o apoio macio da poltrona. Ela tinha que sempre melhorar o clima com uma brincadeira.
- Alguém, alguma vez, já disse que você é meio perturbada, ?
- Oh, já! – confirmou, tirando o celular do bolso do moletom canguru – Preferi interpretar como um elogio.
- Tinha que ser... – balançou a cabeça, desacreditado – Seu apartamento é bem legal. – analisou o ambiente rapidamente e depois voltou para ela, estranhando o silêncio. estava distraída com algo na tela. Aproveitou para passar os olhos com mais calma pelo apartamento.
Simples e bem espaçoso.
- E você ainda disse que eu não ia conhecer a sua casa tão cedo. – tornou a puxar assunto.
- Oi? – ele finalmente recebia atenção – O que estava dizendo?
- Lembra quando ficamos juntos pela primeira vez?
- Como me esqueceria? O tempo passou e você não mudou nada. Continua o mesmo homem emocionado de antes. – caçoou – Eu falava um “A” e escorriam litros de baba dessa sua boca.
- Naquela noite, fomos para a minha casa. – optou por não contrariá-la, uma vez que errada ela não estava.
- E?
- Você disse que eu não ia conhecer seu apartamento tão cedo. Pois olhe para onde estou agora? – sustentava um sorriso de orelha a orelha.
- Isso não quer dizer nada.
- Quer sim. O próximo passo, segundo o filósofo contemporâneo Luan Santana, é arranjarmos dois filhos e um cachorro.
- Calma, calma... – pediu de olhos arregalados, fazendo o desenho de cruzes no ar simultaneamente – Está parecendo até a , meu deus... – um estalo lhe veio à mente – ! – bateu na testa sabendo que tinha se esquecido de algo – Agradeço a preocupação, mas já viu que estou inteirinha. Sua visita se encerra aqui, ! – anunciou, levantando-se em um pulo para expulsá-lo.
- Está sendo muito mal educada, se quer saber. – reclamava no caminho da sala até a porta, com as mãos dela o empurrando nas costas.
- me mandou mensagens perguntando se ela podia subir. Era isso que estava conferindo no celular. A coitada está passando frio no térreo para nos deixar conversar, mas se arrependeu, porque precisa dormir e acordar cedo amanhã. – riu.
- Me lembre de agradecê-la por esse desserviço. Tirando o meu tempo com a minha garota. – fingiu estar triste para então escapar das mãos dela e passar o braço pelo pescoço da mesma.
- Folgado. A casa é dela. Sinto em informar, mas você é a sobra. – tirou o braço dele de si assim que alcançaram a porta – E eu não falaria assim da fã número um de .
- Hm... É sério? – o rosto do ator se iluminou.
- Eu nunca faria uma brincadeira de mau gosto dessas.
fingiu receber dois tiros certeiros no peito.
- Pisa mais, . – fez uma voz de sofrido – Pisa, que eu gosto mais.
Ela achou graça no teatrinho dele.
- Eu simplesmente não sei o que faço com você. A verdadeira atualização do meme do homem que gosta de apanhar de mulheres bonitas.
- Ahá! – exclamou, como se tivesse descoberto a eletricidade – Então, quer dizer que você se acha bonita, mulher muito mais que bonita?
- Quando vir no térreo, pode a mandar subir. Boa noite, . – fechou a porta, ignorando a deixa dele para ficarem ainda mais tempo enrolando ali.
não conseguiu se distanciar nem cinco passos que já estavam batendo na porta.
Rolou os olhos.
- Esqueceu alguma coisa? – questionou, de cenho franzido e mãos na cintura.
- Que bom que perguntou. – abriu o melhor sorriso que tinha, antes de puxá-la pelo rosto para um longo selinho – Beijo de boa noite dado. Se cuida, . Precisando de alguma coisa, sabe onde me localizar. – passou as mãos pelos cabelos para posicionar o boné – Até!
Do mesmo jeito turbulento que chegou, o assistiu desaparecer. Involuntariamente, os dedos foram em direção aos lábios que ainda pareciam dormentes com o contato recente.
Um dia depois da visita noturna, , contrariando os todos os pedidos do assessor, lançou uma carta oficial em suas redes, se posicionando. Nela, reiterou mais uma vez as qualidades da mulher e pediu por empatia, maturidade e principalmente mais respeito por parte do público.
Com isso, os rumores sobre eles estarem saindo aumentaram. Em contrapartida, os ataques, em sua maioria, cessaram. seguiu bem com o próprio programa, conquistando cada vez mais o público pelo carisma e espontaneidade. Nada disso era novidade para o . Ele sempre bateu na tecla de que tinha o dom de entreter.
Sorriu orgulhoso.
Muito contrário do que ele queria também, ambos não tornaram a se cruzar. Até o dia da festa de comemoração do filme dele.
Com o copo cheio em mãos, o ator ficou aguardando pacientemente pela sua vez na fila por um pouco de atenção da bela mulher. Alguns dos colegas da produção parabenizavam pelo programa. Essa trajava um vestido preto, frente única, que se prendia ao pescoço com um laço amarrado na nuca, deixando os ombros e as costas descobertas. Os fios estavam embolados em um coque bagunçado, sendo enfeitados por uma tiara de pedras rosa e dourada.
A verdadeira e única rainha do mundo dele.
- Parabéns de novo, ! Estaremos te assistindo sempre que der, você é luz.
riu envergonhada.
- Vocês são muito gentis nas palavras. – reiterou, vendo o casal se afastar – A gente se vê!
- Se esse fosse o mundo dos quadrinhos, você seria a Mulher Maravilha. – falou galanteador, para que percebesse sua presença e a viu tentar impedir um sorriso ao mesmo tempo em que rolava os orbes – Uma bela mulher de infinitas qualidades.
- É mesmo, ? – não caiu na ladainha – Se eu sou ela, você é o Bozo, eu presumo. – zombou.
- Eu preferiria o Batman, se é que me entende – piscou – É sério, . Quando você aparece, tudo brilha mais. – ela fingiu enfiar o dedo na goela para vomitar com tanta melação – As minhas palavras naquela carta para a tevê não foram para encher linguiça. Você é humilde, é ótima em fazer as pessoas rirem e se sentirem melhor, sabe liderar, ganhar o público e...
- Parou por quê? – cobrou, com as sobrancelhas e o nariz empinado, fitando as unhas bem feitas como se fossem o mais interessante no momento – A lista das minhas “infinitas” – frisou – qualidades terminou?
Em passos sorrateiros, se moveu até parar atrás dela.
- E beija bem. – completou com um sussurro contra o ouvido dela, vendo a pele exposta arrepiar – Mas acho que essa parte não era boa para jogar em rede nacional.
suspirou levemente irritada, fechando os olhos e as mãos com força.
- Por que você tem que ser assim? – deu meia volta, ficando cara a cara com o homem – Por que você tem que ser a droga de um gostoso, ? – esbravejou entredentes, segurando-o pela gola.
- Porque eu preciso estar a sua altura. – fitou-a seriamente, sem desviar – Gostosa. – os dedos passearam discretamente pelas costas desnudas da mulher, até chegar à bunda, onde encheu as mãos com um aperto.
A apresentadora estreitou o aperto na gola e ficou rígida.
- , você vai acabar se machucando com a brincadeira. – alertou, tentando não se entregar com o calor que estava sentindo espalhar por toda a pele.
- Hm. Não vou. – bebericou um pouco do conteúdo que carregava – Eu sou um homem crescido. Bem crescido, como você já viu antes. – riu presunçoso e por fim, se afastou, para o desgosto da mulher – Além disso, achei que estava claro que estava atrás da mulher que gostava e não de uma babá para cuidar de mim. – deu mais dois passos para trás para que pudessem conversar confortavelmente sem que pudesse se perder, distraído com qualquer detalhe da beleza dela – Não precisa ficar tentando me proteger, .
Atrevida, ela tirou o copo dele para roubar um gole, não sem soltar o ar de forma pesada antes.
- Nunca vou me acostumar com você falando todas essas coisas na maior cara lavada. Eu não sou tudo isso que você acha que eu sou, . Você está idealizando uma coisa e no fim, pode se frustrar.
- Nada do que disser vai me fazer recuar. – reforçou – A não ser que você me diga “não”, óbvio. Mas você nunca disse, . – abriu um sorriso – E que eu eu entendo com isso é que você gosta um pouquinho de mim.
- Cada um inventa a realidade que lhe convir. – deu os ombros, zombeteira.
- É mesmo? E o que acha de uma envolvendo nós dois longe daqui e uma pilha de roupas no chão?
Ambos trocaram um olhar cúmplice.
- Essa eu já acredito ser mais palpável. – riu travessa.
- Palpável é outra coisa. – desceu o olhar para os peitos dela.
- Safado. – desferiu um tapa no braço dele – Falando sério: não pode deixar a festa que fizeram para você!
- É mesmo? Então, só assiste.
Dito, pegou na mão dela e entrelaçou os dedos com firmeza.
- , o que deu em você para estar sendo tão inconsequente hoje? – indagou enquanto chegavam no estacionamento – Você devia ir mais devagar.
- O tempo é muito curto para tudo o que quero fazer com você.
riu, balançando a cabeça sem acreditar.
- Calma, calma...