Theodore Roosevelt Island, Washington, D.C. – Estados Unidos
Triskelion, Quartel General da SHIELD
- Agente Romanoff. – ouvi a voz de Nick Fury assim que passei pela porta. Tinha sido convocada para uma reunião de emergência e o tom que ele usou ao falar meu nome, não era dos melhores. – Que bom que chegou tão rápido, sente-se, por favor.
- Algum problema, Nick? – perguntei, vendo sua expressão dura e preocupada.
- Dos grandes. – ele jogou uma pasta em minha direção, dentro havia alguns papeis que falam sobre códigos nucleares norte coreanos e tinham alguns documentos em russo. – Um grupo rebelde russo conseguiu roubar um arquivo confidencial e secreto contendo códigos de lançamento nuclear de bases espalhadas por todo o planeta. Se essas informações caírem em mãos erradas, é possível que aja um ataque de destruição em massa. Pela quantidade de códigos, mais da metade do planeta pode ser atingido. Já conseguimos interceptar negociações com grupos islâmicos, mas temos que impedir antes que consigam concretizar qualquer coisa. E você é a pessoa em que eu mais confio para a missão.
- Temos algum nome? – perguntei, sem tirar os olhos dos papéis, tentando pegar alguma informação que eu tenha perdido.
- Ivan Nijinsky. – Fury falou, apertando uma tecla em seu computador e fazendo com que a foto do homem aparecesse na tela atrás de si. – Chefe da Orekhov, um braço da máfia russa que comanda parte de Moscou. A última conversa que interceptamos, um dos homens citou seu nome e em nosso banco de dados, ele consta como líder. – olhei para o homem na tela, o cabelo raspado bem curto, rente a cabeça, os olhos escuros e a pele clara. Ele não me era estranho. – Natasha, não preciso pedir que você tenha cuidado, certo?
- Não precisa se preocupar comigo, Nick. – falei, fechando a pasta e olhando em sua direção, com um sorriso seguro nos lábios. – É com eles que você precisa se preocupar.
Kitai-gorod, Moscou – Rússia
Enquanto eu caminhava pela rua, mantinha um sorriso fraco nos lábios ao observar as pessoas ao redor. Sempre com pressa, sempre sem tempo, sempre privilegiando aquilo que não deveria ser o mais importante na vida. Será que se soubessem que o mundo tinha chances de acabar, eles mudariam de atitude? Passariam seus últimos dias com a família? Usariam o tempo que lhe restam para fazer algo que realmente valesse a pena? Difícil, confesso, provavelmente iriam apenas reclamar do tempo que não tiveram de realizar seus sonhos, mas será que era questão de tempo ou escolha?
Era estranho estar na Rússia mais vez, eu estranhava as pessoas, o sotaque, nem parecia que eu tinha nascido aqui. Estava na parte oeste da cidade, onde a movimentação não era tão grande e a aparência não era das melhores. Tinha marcado com um conhecido num bar, tínhamos negócios a tratar.
- Senhorita Alianovna, que grande prazer revê-la. – ouvi a voz de Mikhail assim que passei pela porta. Virei a cabeça para a esquerda, vendo-o sorrir em minha direção. Mikhail era um antigo conhecido, tínhamos trabalhado juntos na minha primeira missão junto a KGB, mas desde que eu tinha indo para os Estados Unidos, não tínhamos mais nos visto. Mas quando soube o que precisaria fazer por aqui, pensei que ele poderia ser útil. Ele era alto, tinha cerca de 40 anos, seu cabelo escuro e de corte baixo contratava com a pele clara e os olhos azuis. Tinha sido desligado da KGB anos atrás por corrupção e agora fazia alguns trabalhos extraoficiais, sejam eles legais ou não.
- Gostaria de poder dizer o mesmo, Mikhail, mas nosso último encontro não foi dos melhores. – falei, vendo fingir surpresa.
- Deixe-me então acabar com essa má impressão. Qual é a grande urgência? – olhei para os lados, sem saber se deveria confiar nele ou no local.
- Digamos que algumas informações importantes estão sendo comercializadas aqui e eu preciso de nomes.
- Bem, para eu saber de nomes, preciso saber quais são as informações. – o moreno falou, já soando meio impaciente.
- Eu sei que não posso confiar em você, Mikhail. – comentei, vendo-o sorrir de lado.
- Não é como se você tivesse muita escolha.
Decidi levá-lo para um lugar mais seguro, onde eu pudesse ter certeza que não tinham outros olhos e ouvidos para prestarem atenção em nossa conversa. Era um quarto de hotel barato, bem diferente do que o que a SHIELD tinha me reservado, mas eu não poderia ser vista, oficialmente, com ele, isso poderia colocar tudo a perder. Assim que entramos, fiz uma pequena revista para saber se ele não estava armado ou com alguma escuta, mas mal sabia ele que eu tinha feito uma varredura com o meu celular assim que tínhamos chegado ao bar, era tudo mera formalidade.
- Bem, podemos ir direto ao assunto agora. – falei, retirando o casaco pesado e deixando sobre a cama. – Estão comercializando códigos de lançamento nuclear norte coreanos aqui na Rússia. Não sei quem os roubou, não sei quem é o comprador, apenas sei que há uma transação em curso. Provavelmente é algum grupo rebelde, não sei, talvez você saiba.
- Códigos nucleares? Grupo rebelde? – Mikhail disse, como se estivesse absorvendo a informação – Isso provavelmente vale milhões, Natalia.
- Eu sei disso, por isso preciso recuperá-los e mantê-los em segurança. A CIA já está no caso há meses, mas não conseguem nada de concreto. Então achei que seria mais fácil tentar ir até a fonte ou achar alguém que pudesse me levar até ela. Pelo menos uma dica, um nome.
- Eu não conheço ninguém. – Mikhail disse e eu balancei a cabeça lentamente, negando.
- Eu sei que isso é uma mentira, se você não quer me falar, tudo bem. Há alguém por aí com códigos que podem explodir metade do mundo e eu não posso perder o meu tempo. Encerramos essa conversa por aqui, assim eu poupo tempo e dinheiro.
- Dinheiro? – sua voz soou interessada.
- Se isso fizer você lembrar algum nome, posso conseguir uma quantia. Qual o seu preço?
- Quanto vale esses códigos? – retrucou.
- Isso importa?
- Preciso saber de números para saber quanto pedir, certo? – respondeu, com um tom superior que eu odiava em sua voz.
- Milhões, bilhões, talvez. Estamos falando de uma arma de destruição em massa. – falei, vendo seu olhar se iluminar por pura ganância.
- 250 mil rublos por nome, pagamento adiantado. – disse, como se estivesse em alguma posição de comando na situação. Retirei a arma da minha cintura, engatilhando e colocando em cima da mesa, bem na sua frente, mostrando que ele não tinha controle sobre nada ali.
- Nome primeiro, dinheiro depois. – sua expressão se tornou dura, mas ele sabia que não conseguiria nada comigo dessa forma. Se quisesse os 250 mil rublos, teria que ser do meu jeito ou eu conseguiria o nome de outra forma, mais dolorosa.
- Ok. – ele suspirou, derrotado. – Ivan Nijinsky.
Reprimi um sorriso.
Eu estava na pista certa.
Com um nome, eu poderia procurar sem que ninguém soubesse que eu estava atrás dele, mas acabaria gastando muito tempo que eu não tinha. Os minutos que eu perdia na busca, eram mais perto da venda dos códigos para alguém. Então usando meus próprios conhecimentos, fui até a parte da cidade comandada pelo Orekhov, chegando a um restaurante com uma aparência nada amistosa. Me sentei no bar, pedindo uma bebida qualquer, apenas para disfarçar. Pelo canto dos olhos, vi que tinha uma porta nos fundos do salão, onde quase todos os homens que entravam passavam por ela após uma liberação com um cartão magnético. Um deles passou por mim e perdeu mais tempo do que o comum me olhando, percebi quando ele fez que iria passar o cartão para liberar sua entrada, mas o guardou novamente, voltando na direção do bar, caminhando até onde eu estava. Seu olhar se pousou em mim, enquanto ele sentava ao meu lado, com as mãos no bolso do casaco longo que usava.
- O que uma senhorita como você faz num lugar como esse? – ele perguntou, com a malícia escorrendo em seu tom de voz. Levantei meu olhar de minha bebida, encarando-o pelo canto dos olhos, com um sorriso fraco dos lábios.
- Não sei. – respondi, usando um tom doce, quase ingênuo. – Talvez procurando alguém como você. – era incrível como homem acreditava em qualquer coisa, desde que alimentasse o seu ego ou que o fizesse ter a esperança de transar com alguém.
- Talvez seja o seu dia de sorte. – ele disse, sorriso abertamente, como se isso o tornasse mais sedutor. Me aproximei um pouco, passando minha mão pelo seu braço, descendo até perto da entrada do bolso onde ele guardava o cartão de acesso.
- Talvez... – falei, com a voz bem arrastada, fazendo com que sua atenção ficasse presa em meu rosto, para que ele não percebesse o leve movimento que fazia para pegar o cartão em seu casaco e passar para o meu. – Então por que você não me espera no banheiro? – sugeri, erguendo uma sobrancelha, vendo a expressão dele se alarmar. Provavelmente isso não acontecia muito com ele. Sem muito pensar, o homem se levantou e seguiu até o banheiro masculino. Assim que ele estava longe, aproximei o seu cartão de acesso do meu celular, para que ele fizesse a leitura e copiasse todos os códigos. Após completar o processo, disfarcei, e caminhei atrás dele, sem chamar muita atenção. Assim que entrei, ele estava parado encostado na divisória de uma das cabines, com um sorriso safado nos lábios.
- Você demorou.
- Mas agora eu já estou aqui. – murmurei, andando até a sua frente e empurrando, para que caísse sentado no vaso sanitário. – E a espera vai valer muito a pena.
- Mal posso esperar. – respondeu, com a voz repleta de expectativa. Suas mãos subiram pela minha perna, até pararem em minha bunda. Suspirei, com nojo de suas mãos.
- Eu não disse que você poderia me tocar. – falei, próximo ao seu ouvido, descendo as mãos até o seu pescoço, o envolvendo com delicadeza. – Agora você vai pagar. – segurei com mais firmeza, fazendo um movimento rápido, antes que ele pudesse perceber o que estava acontecendo. Ouvi o estalo de seu pescoço se quebrando e apoiei seu corpo inanimado na parede. – Isso é para você entender, de uma vez por todas, que não se deve tocar numa mulher sem que ela te dê permissão.
Eu estava sentada no escuro, numa sala que parecia ser de um dos chefes do movimento. Sua cadeira era grande e confortável, o couro escuro e pesado a deixava ainda mais aconchegante, tanto que não tornou a espera penosa, longe disso, foram vinte minutos bem agradáveis. Quando o homem entrou na sala, ele não percebeu minha presença de imediato, acendeu a luz e, ainda de costas para a mesa, começou a tirar o casaco.
- Ivan Nijinsky. – falei, com a voz baixa cadenciada. Ele girou o corpo rapidamente, procurando a arma que carregava, mas eu já estava com a minha apontada em sua direção. – Sem armas e sem falar nada além do que eu perguntar. – informei, levantando e caminhando até onde ele estava. Tirei o revolver que estava na parte de trás do seu cinto, o outro que carregava junto a bota e mais uma faca que estava escondido no outro pé. – Sente-se, por favor. Teremos uma conversa muito esclarecedora nos seus próximos e últimos minutos de vida. E, claro, se fizer qualquer barulho que não deve, esses minutos serão sumariamente encurtados. – o guiei até uma das cadeiras que ficavam em frente a mesa, fazendo com que ele se sentasse, amarrei suas mãos nos apoios para o braço e suas pernas e me apoie na mesa à sua frente, mantendo a arma apontada para o seu rosto. – Quero que me diga tudo o que sabe sobre códigos nucleares norte coreanos que foram roubados.
- Eu não sei de nada. – disse, baixo, me fazendo apenas rolar os olhos.
- É sério que você vai dificultar as coisas logo agora? Entrei na sede de vocês em alguns minutos, não fui vista ou impedida por nenhum de seus homens, até porque nenhum deles foi bom o suficiente para me encontrar. Então você sabe que eu posso conseguir essa informação de qualquer jeito, pode ser do jeito mais fácil, com você me contando, ou do mais difícil, com eu fazendo você me contar. – ponderei, vendo sua expressão se tornar dura, mas ainda se mantendo em silêncio. – Tudo bem, vamos do jeito mais difícil. – puxei a faca que ele mesmo carregava, apoiando a ponta no dorso da sua mão, vendo uma pequena bolha de sangue se formar. – Em algumas culturas dá azar matar alguém usando sua própria arma... – comentei, fazendo a faca percorrer o caminho entre sua mão, indo até o seu ombro, próximo ao seu pescoço. Fiz a lâmina passa bem devagar por toda a extensão do seu pescoço, vendo-o respirar fundo e uma gota de suor brotar em sua testa. – Mas eu não estou muito preocupada com isso.
- Dimitri Gorbachov. – ele falou, com dificuldade, como se tivesse um bolo em sua garganta impedindo que ele pudesse falar normalmente. – Ele nos repassou os códigos para vendermos. Nós estamos só negociando em nome dele, para ganharmos uma parte, só isso. Os códigos estão com ele, foi ele que conseguiu.
- Mas – minha voz soou surpresa, mais do que eu gostaria de aparentar. – Gorbachov é...
- Diretor da KGB, sim. – afirmou, respirando fundo e molhando os lábios antes de falar. – Olha, eu não sei quem você é e posso continuar sem saber. Você tem a informação que precisa, é só me soltar e seguiremos nossos caminhos, cada um para um lado. – havia ansiedade em sua voz, quase beirando o desespero.
- Me desculpe, Ivan, mas... – falei, caminhando até parar em suas costas. Apoiei minhas mãos em seus ombros. – Negócios são negócios. – passei a faca por todo seu pescoço, vendo o sangue brotar e escorrer vigorosamente, me dirigi à porta, pronta para encontrar Gorbachov.
- Sua dica estava correta, Mikhail. - falei, enquanto colocava uma mala com dinheiro na sua frente. – Seu pagamento pela informação.
- Eu não lhe daria uma dica furada, Alianovna. – ele sorriu de lado, pegando a bolsa e deixando perto do seu corpo. – O que conseguiu arrancar dele? Algo bom?
- Nada de muito interessante. – menti, olhando atentamente cada reação dele. – Só confirmei a participação do grupo na venda e consegui o local onde farão a primeira transação. Vou até lá tentar impedir.
- Primeira transação? – perguntou, como se tivesse sido pego desprevenido em algo que deveria saber. – Eu não sabia que já tinham um comprador certo. Quando será isso? – sorri abertamente, quase gargalhando.
- Por que quer saber? Quer ser meu parceiro por mais uma noite? – disse, com a voz divertida.
- Você sabe que eu posso te ajudar. – ele ponderou e eu balancei a cabeça, afirmando.
- Claro que sei, da mesma forma que me ajudou quando eu deixei que atravessassem o meu peito com uma bala por você. Só que você tinha um acordo com o cara que deveríamos prender e me deixou lá para morrer, assim ninguém ficaria sabendo do seu envolvimento. – vi seu olhar ficar nublado e sua expressão mudar. – Não é exatamente esse tipo de ajuda que eu preciso. Porém não posso fazer essas coisas sozinha. Me encontre amanhã às 22hs no ancoradouro, eles marcaram no armazém sul.
- Natalia, isso pode ser perigoso. – ponderou, como se estivesse realmente preocupado.
- Eu sei, você está com medo?
- Nick? – falei ao telefone, na linha segura. Aquele telefone só tocava em situações de extrema emergência.
- Natasha, como está a missão? – sua voz pareceu ansiosa, como se estivesse preocupado.
- A KGB está envolvida. Isso pode ser bem maior do que esperávamos. Digo, pode envolver o governo russo. – falei, apressada. Enquanto caminhava rapidamente pelas ruas de São Petersburgo. Já era quase 22hs e eu precisava saber se Mikhail iria me encontrar. E queria saber o que ele estava escondendo. Ou melhor, confirmar minha desconfiança.
- Você não vai conseguir desmontar isso sozinha, traga as informações para passarmos a frente. Não se coloque em risco desnecessário.
- Pode ficar tranquilo, Nick. Eu sei o que estou fazendo. – desliguei o telefone assim que entrei no ancoradouro. Cheguei ao armazém antes do horário combinado, me escondi num ponto onde Mikhail não me veria e aguardei. Alguns minutos depois, ouvi uma aproximação e, em seguida, a sua silhueta adentrando o local. Ele olhou ao redor, bem atentamente, como se estivesse se certificando que não havia ninguém lá. Colocou a mãos no bolso e pegou celular, que começou a tocar, com o barulho ecoando pelo lugar.
“Não tem ninguém aqui ainda”, ele disse, parecia irritado. “Ela combinou comigo às 22hs, ainda falta cerca de dez minutos.”
Ele parou de falar e ficou só ouvindo, sua expressão denunciava que a pessoa do outro lado não parecia muito satisfeita com o rumo que as coisas estavam tomando.
“Eu sei que Nijinsky está morto, mas ela não vai chegar até nós. Se ele não contou nada, ela não vai descobrir, Ivan era o único que sabia da sua participação.”
Era Gorbachov no outro lado da linha, eu tinha certeza. Assim como sabia que Mikhail estava envolvido nisso. Gorbachov tinha sido chefe de operações no período em que atuávamos juntos na KGB, ele era responsável por diversas missões e Mikhail era como seu braço direito. Quando descobriram que Mikhail estava envolvido com o traficante de drogas que estávamos investigando, ele foi afastado, mas nunca cogitaram averiguar se Gorbachov também estava envolvido, até porque ele era um nome grande e importante na KGB há quinze anos, naquela época. Agora ele era um dos diretores, quase trinta anos de trabalho. Sua reputação e influencia deveriam ser enormes hoje em dia. Como derrubar um cara assim de um dia para o outro?
“Não se preocupe, eu darei o jeito nisso.” Mikhail falou, num tom ríspido. “Sim, mesmo que isso signifique dar um jeito nela.”
Sorri abertamente. Bem, ele poderia tentar.
- Você sabia que Dimitri Gorbachov estava envolvido em tudo isso e decidiu por não me contar, certo? – perguntei, vendo Mikhail se assustar e reprimir um grito. Eu estava sentada na sala de sua casa e ele não tinha percebido minha presença. – Você já foi mais atento, Mikhail. Pelo menos durante seus anos como agente da KGB, você não teria sido pego de surpresa dessa forma. Muito menos guardaria arquivos e informações tão importante em seu próprio apartamento.
- Primeiro, eu não sabia que Gorbachov estava envolvido. Segundo, eu não sou agente há quase quinze anos, perdi a prática. – respondeu, enquanto caminhava o centro da sala, para se aproximar de mim. – E sobre arquivos, eu não sei do que você está falando. – Peguei a faca que tinha roubado de Ivan, arremessando em sua direção. Mikhail desviou rapidamente, mostrando que seus reflexos ainda estavam bons. – Você está louca? – ele gritou, depois que a faca passou a centímetros de seu rosto.
- Não, apenas testando. Você sabe que se eu quisesse acertar, teria acertado. – levantei, indo até onde ele estava, parando bem na sua frente. – E, aparentemente, seus reflexos continuam os mesmos. Será que o caráter também?
- O que você está insinuando?
- Eu não insinuo nada, eu falo. – rebati, fazendo-o olhar diretamente para os meus olhos. – O ancoradouro era apenas uma isca e você caiu. Continua sendo o mesmo de quinze anos atrás: despreparado, inconsequente e irresponsável. Guarda documentos que comprovam o seu envolvimento em diversas negociações. Vocês vendem armas de destruição em massa para terroristas. E com as provas que eu consegui em seu próprio apartamento, você e Gorbachov vão cair.
- Eu não sei do que você está falando. – se apressou em dizer.
- Sabe como eu consegui descobrir o seu envolvimento nesse caso? Foi tão fácil, você conseguiu destruir todo o “plano perfeito” em apenas uma reação. A sua falta de controle colocou tudo a perder. No momento em que você ficou totalmente fora de si com a possível transação que ocorreria hoje, deixou clara a sua participação em todo o plano. É a sensação de não estar no controle, não é? De ser sempre uma marionete para o Gorbachov. – dei mais um passo em sua direção, ficando a menos de um metro de distância dele.
- Eu não sou uma marionete. – disse, com o maxilar travado, deixando claro o seu descontentamento.
- Então por que age como uma? Será que é porque se cortar as cordas, não vai sobrar nada? – vi que ele respirou fundo e apenas sorri de lado, vendo que ele continuava suscetível e fraco. Me aproximei novamente, ficando com o corpo bem próximo ao dele, se forma que eu conseguia encará-lo nos olhos. – Você não ia acabar comigo, Mikhail? O que está esperando?
Mikhail tentou me dar um soco, mas desviei e o acertei na costela direita. Ele arfou, tentando respirar fundo, antes de vir com tudo em minha direção, me jogando contra a parede, enquanto tentava apertar meu pescoço com suas mãos. Dei uma pisada em seu joelho, conseguindo com que ele me soltasse o suficiente para que eu lhe desse uma cabeçada. Ainda tonto, ele deu alguns passos para trás, enquanto tentava alcançar a arma que carregava com ele, mas que acabei chutando para longe. Vindo com tudo novamente, ele conseguiu me derrubar no chão e dar dois socos no meu rosto e um em meu estômago. Lutei contra o ar que escapou dos meus pulmões, mas me levantei rapidamente, limpando um pouco de sangue que saia de um corte próximo ao meu lábio inferior. Mikhail me olhava com a expressão mais assustada do que confiante. Corri em sua direção, jogando as pernas para o alto, passando-as pelo seu pescoço e jogando-o ao chão, onde ele ainda permanecia com o pescoço preso entre minhas pernas. Apertei com vontade, vendo-o ficar vermelho por não conseguir respirar. Tentou fazer força para que eu soltasse, mas eu não fiz, pelo contrário, apertei mais ainda, até que ele estava quase imóvel, então eu soltei, me levantando. Peguei a arma que tinha chutado para longe e parei na sua frente, olhando-o de cima.
- Você lembra quando levei um tiro por você? – perguntei, agachando para tentar ouvi-lo, mas ele ainda estava com dificuldade de respirar. – Você lembra disso aqui? – perguntei, trazendo a blusa para o lado e mostrando a cicatriz que tinha entre a clavícula e o peito. – Hoje nós vamos quitar nossas dívidas, mas você não vai tomar um tiro por mim. Vai levar um tiro dado por mim. – completei, colocando a arma colada em seu peito.
Olhei bem fundo dentro dos seus olhos enquanto apertava o gatilho. O barulho, com certeza, tinha chamado atenção da vizinhança, então eu não poderia demorar. Guardei a arma comigo, recolhi todos os documentos que tinha encontrado e sai pela porta, fazendo o mínimo de barulho possível.
Assim que estava há quarteirões de distância, peguei o telefone e liguei para Fury na linha segura. Ele atendeu logo após o primeiro toque.
- Estou voando para casa em algumas horas e as boas notícias são que eu tenho as provas para entregarmos a CIA e há menos um traidor no mundo.
Hello, world! I'm your wild girl!
I'm your ch-ch-ch-ch-ch-cherry bomb
Triskelion, Quartel General da SHIELD
- Agente Romanoff. – ouvi a voz de Nick Fury assim que passei pela porta. Tinha sido convocada para uma reunião de emergência e o tom que ele usou ao falar meu nome, não era dos melhores. – Que bom que chegou tão rápido, sente-se, por favor.
- Algum problema, Nick? – perguntei, vendo sua expressão dura e preocupada.
- Dos grandes. – ele jogou uma pasta em minha direção, dentro havia alguns papeis que falam sobre códigos nucleares norte coreanos e tinham alguns documentos em russo. – Um grupo rebelde russo conseguiu roubar um arquivo confidencial e secreto contendo códigos de lançamento nuclear de bases espalhadas por todo o planeta. Se essas informações caírem em mãos erradas, é possível que aja um ataque de destruição em massa. Pela quantidade de códigos, mais da metade do planeta pode ser atingido. Já conseguimos interceptar negociações com grupos islâmicos, mas temos que impedir antes que consigam concretizar qualquer coisa. E você é a pessoa em que eu mais confio para a missão.
- Temos algum nome? – perguntei, sem tirar os olhos dos papéis, tentando pegar alguma informação que eu tenha perdido.
- Ivan Nijinsky. – Fury falou, apertando uma tecla em seu computador e fazendo com que a foto do homem aparecesse na tela atrás de si. – Chefe da Orekhov, um braço da máfia russa que comanda parte de Moscou. A última conversa que interceptamos, um dos homens citou seu nome e em nosso banco de dados, ele consta como líder. – olhei para o homem na tela, o cabelo raspado bem curto, rente a cabeça, os olhos escuros e a pele clara. Ele não me era estranho. – Natasha, não preciso pedir que você tenha cuidado, certo?
- Não precisa se preocupar comigo, Nick. – falei, fechando a pasta e olhando em sua direção, com um sorriso seguro nos lábios. – É com eles que você precisa se preocupar.
Kitai-gorod, Moscou – Rússia
Enquanto eu caminhava pela rua, mantinha um sorriso fraco nos lábios ao observar as pessoas ao redor. Sempre com pressa, sempre sem tempo, sempre privilegiando aquilo que não deveria ser o mais importante na vida. Será que se soubessem que o mundo tinha chances de acabar, eles mudariam de atitude? Passariam seus últimos dias com a família? Usariam o tempo que lhe restam para fazer algo que realmente valesse a pena? Difícil, confesso, provavelmente iriam apenas reclamar do tempo que não tiveram de realizar seus sonhos, mas será que era questão de tempo ou escolha?
Era estranho estar na Rússia mais vez, eu estranhava as pessoas, o sotaque, nem parecia que eu tinha nascido aqui. Estava na parte oeste da cidade, onde a movimentação não era tão grande e a aparência não era das melhores. Tinha marcado com um conhecido num bar, tínhamos negócios a tratar.
- Senhorita Alianovna, que grande prazer revê-la. – ouvi a voz de Mikhail assim que passei pela porta. Virei a cabeça para a esquerda, vendo-o sorrir em minha direção. Mikhail era um antigo conhecido, tínhamos trabalhado juntos na minha primeira missão junto a KGB, mas desde que eu tinha indo para os Estados Unidos, não tínhamos mais nos visto. Mas quando soube o que precisaria fazer por aqui, pensei que ele poderia ser útil. Ele era alto, tinha cerca de 40 anos, seu cabelo escuro e de corte baixo contratava com a pele clara e os olhos azuis. Tinha sido desligado da KGB anos atrás por corrupção e agora fazia alguns trabalhos extraoficiais, sejam eles legais ou não.
- Gostaria de poder dizer o mesmo, Mikhail, mas nosso último encontro não foi dos melhores. – falei, vendo fingir surpresa.
- Deixe-me então acabar com essa má impressão. Qual é a grande urgência? – olhei para os lados, sem saber se deveria confiar nele ou no local.
- Digamos que algumas informações importantes estão sendo comercializadas aqui e eu preciso de nomes.
- Bem, para eu saber de nomes, preciso saber quais são as informações. – o moreno falou, já soando meio impaciente.
- Eu sei que não posso confiar em você, Mikhail. – comentei, vendo-o sorrir de lado.
- Não é como se você tivesse muita escolha.
Decidi levá-lo para um lugar mais seguro, onde eu pudesse ter certeza que não tinham outros olhos e ouvidos para prestarem atenção em nossa conversa. Era um quarto de hotel barato, bem diferente do que o que a SHIELD tinha me reservado, mas eu não poderia ser vista, oficialmente, com ele, isso poderia colocar tudo a perder. Assim que entramos, fiz uma pequena revista para saber se ele não estava armado ou com alguma escuta, mas mal sabia ele que eu tinha feito uma varredura com o meu celular assim que tínhamos chegado ao bar, era tudo mera formalidade.
- Bem, podemos ir direto ao assunto agora. – falei, retirando o casaco pesado e deixando sobre a cama. – Estão comercializando códigos de lançamento nuclear norte coreanos aqui na Rússia. Não sei quem os roubou, não sei quem é o comprador, apenas sei que há uma transação em curso. Provavelmente é algum grupo rebelde, não sei, talvez você saiba.
- Códigos nucleares? Grupo rebelde? – Mikhail disse, como se estivesse absorvendo a informação – Isso provavelmente vale milhões, Natalia.
- Eu sei disso, por isso preciso recuperá-los e mantê-los em segurança. A CIA já está no caso há meses, mas não conseguem nada de concreto. Então achei que seria mais fácil tentar ir até a fonte ou achar alguém que pudesse me levar até ela. Pelo menos uma dica, um nome.
- Eu não conheço ninguém. – Mikhail disse e eu balancei a cabeça lentamente, negando.
- Eu sei que isso é uma mentira, se você não quer me falar, tudo bem. Há alguém por aí com códigos que podem explodir metade do mundo e eu não posso perder o meu tempo. Encerramos essa conversa por aqui, assim eu poupo tempo e dinheiro.
- Dinheiro? – sua voz soou interessada.
- Se isso fizer você lembrar algum nome, posso conseguir uma quantia. Qual o seu preço?
- Quanto vale esses códigos? – retrucou.
- Isso importa?
- Preciso saber de números para saber quanto pedir, certo? – respondeu, com um tom superior que eu odiava em sua voz.
- Milhões, bilhões, talvez. Estamos falando de uma arma de destruição em massa. – falei, vendo seu olhar se iluminar por pura ganância.
- 250 mil rublos por nome, pagamento adiantado. – disse, como se estivesse em alguma posição de comando na situação. Retirei a arma da minha cintura, engatilhando e colocando em cima da mesa, bem na sua frente, mostrando que ele não tinha controle sobre nada ali.
- Nome primeiro, dinheiro depois. – sua expressão se tornou dura, mas ele sabia que não conseguiria nada comigo dessa forma. Se quisesse os 250 mil rublos, teria que ser do meu jeito ou eu conseguiria o nome de outra forma, mais dolorosa.
- Ok. – ele suspirou, derrotado. – Ivan Nijinsky.
Reprimi um sorriso.
Eu estava na pista certa.
Com um nome, eu poderia procurar sem que ninguém soubesse que eu estava atrás dele, mas acabaria gastando muito tempo que eu não tinha. Os minutos que eu perdia na busca, eram mais perto da venda dos códigos para alguém. Então usando meus próprios conhecimentos, fui até a parte da cidade comandada pelo Orekhov, chegando a um restaurante com uma aparência nada amistosa. Me sentei no bar, pedindo uma bebida qualquer, apenas para disfarçar. Pelo canto dos olhos, vi que tinha uma porta nos fundos do salão, onde quase todos os homens que entravam passavam por ela após uma liberação com um cartão magnético. Um deles passou por mim e perdeu mais tempo do que o comum me olhando, percebi quando ele fez que iria passar o cartão para liberar sua entrada, mas o guardou novamente, voltando na direção do bar, caminhando até onde eu estava. Seu olhar se pousou em mim, enquanto ele sentava ao meu lado, com as mãos no bolso do casaco longo que usava.
- O que uma senhorita como você faz num lugar como esse? – ele perguntou, com a malícia escorrendo em seu tom de voz. Levantei meu olhar de minha bebida, encarando-o pelo canto dos olhos, com um sorriso fraco dos lábios.
- Não sei. – respondi, usando um tom doce, quase ingênuo. – Talvez procurando alguém como você. – era incrível como homem acreditava em qualquer coisa, desde que alimentasse o seu ego ou que o fizesse ter a esperança de transar com alguém.
- Talvez seja o seu dia de sorte. – ele disse, sorriso abertamente, como se isso o tornasse mais sedutor. Me aproximei um pouco, passando minha mão pelo seu braço, descendo até perto da entrada do bolso onde ele guardava o cartão de acesso.
- Talvez... – falei, com a voz bem arrastada, fazendo com que sua atenção ficasse presa em meu rosto, para que ele não percebesse o leve movimento que fazia para pegar o cartão em seu casaco e passar para o meu. – Então por que você não me espera no banheiro? – sugeri, erguendo uma sobrancelha, vendo a expressão dele se alarmar. Provavelmente isso não acontecia muito com ele. Sem muito pensar, o homem se levantou e seguiu até o banheiro masculino. Assim que ele estava longe, aproximei o seu cartão de acesso do meu celular, para que ele fizesse a leitura e copiasse todos os códigos. Após completar o processo, disfarcei, e caminhei atrás dele, sem chamar muita atenção. Assim que entrei, ele estava parado encostado na divisória de uma das cabines, com um sorriso safado nos lábios.
- Você demorou.
- Mas agora eu já estou aqui. – murmurei, andando até a sua frente e empurrando, para que caísse sentado no vaso sanitário. – E a espera vai valer muito a pena.
- Mal posso esperar. – respondeu, com a voz repleta de expectativa. Suas mãos subiram pela minha perna, até pararem em minha bunda. Suspirei, com nojo de suas mãos.
- Eu não disse que você poderia me tocar. – falei, próximo ao seu ouvido, descendo as mãos até o seu pescoço, o envolvendo com delicadeza. – Agora você vai pagar. – segurei com mais firmeza, fazendo um movimento rápido, antes que ele pudesse perceber o que estava acontecendo. Ouvi o estalo de seu pescoço se quebrando e apoiei seu corpo inanimado na parede. – Isso é para você entender, de uma vez por todas, que não se deve tocar numa mulher sem que ela te dê permissão.
Eu estava sentada no escuro, numa sala que parecia ser de um dos chefes do movimento. Sua cadeira era grande e confortável, o couro escuro e pesado a deixava ainda mais aconchegante, tanto que não tornou a espera penosa, longe disso, foram vinte minutos bem agradáveis. Quando o homem entrou na sala, ele não percebeu minha presença de imediato, acendeu a luz e, ainda de costas para a mesa, começou a tirar o casaco.
- Ivan Nijinsky. – falei, com a voz baixa cadenciada. Ele girou o corpo rapidamente, procurando a arma que carregava, mas eu já estava com a minha apontada em sua direção. – Sem armas e sem falar nada além do que eu perguntar. – informei, levantando e caminhando até onde ele estava. Tirei o revolver que estava na parte de trás do seu cinto, o outro que carregava junto a bota e mais uma faca que estava escondido no outro pé. – Sente-se, por favor. Teremos uma conversa muito esclarecedora nos seus próximos e últimos minutos de vida. E, claro, se fizer qualquer barulho que não deve, esses minutos serão sumariamente encurtados. – o guiei até uma das cadeiras que ficavam em frente a mesa, fazendo com que ele se sentasse, amarrei suas mãos nos apoios para o braço e suas pernas e me apoie na mesa à sua frente, mantendo a arma apontada para o seu rosto. – Quero que me diga tudo o que sabe sobre códigos nucleares norte coreanos que foram roubados.
- Eu não sei de nada. – disse, baixo, me fazendo apenas rolar os olhos.
- É sério que você vai dificultar as coisas logo agora? Entrei na sede de vocês em alguns minutos, não fui vista ou impedida por nenhum de seus homens, até porque nenhum deles foi bom o suficiente para me encontrar. Então você sabe que eu posso conseguir essa informação de qualquer jeito, pode ser do jeito mais fácil, com você me contando, ou do mais difícil, com eu fazendo você me contar. – ponderei, vendo sua expressão se tornar dura, mas ainda se mantendo em silêncio. – Tudo bem, vamos do jeito mais difícil. – puxei a faca que ele mesmo carregava, apoiando a ponta no dorso da sua mão, vendo uma pequena bolha de sangue se formar. – Em algumas culturas dá azar matar alguém usando sua própria arma... – comentei, fazendo a faca percorrer o caminho entre sua mão, indo até o seu ombro, próximo ao seu pescoço. Fiz a lâmina passa bem devagar por toda a extensão do seu pescoço, vendo-o respirar fundo e uma gota de suor brotar em sua testa. – Mas eu não estou muito preocupada com isso.
- Dimitri Gorbachov. – ele falou, com dificuldade, como se tivesse um bolo em sua garganta impedindo que ele pudesse falar normalmente. – Ele nos repassou os códigos para vendermos. Nós estamos só negociando em nome dele, para ganharmos uma parte, só isso. Os códigos estão com ele, foi ele que conseguiu.
- Mas – minha voz soou surpresa, mais do que eu gostaria de aparentar. – Gorbachov é...
- Diretor da KGB, sim. – afirmou, respirando fundo e molhando os lábios antes de falar. – Olha, eu não sei quem você é e posso continuar sem saber. Você tem a informação que precisa, é só me soltar e seguiremos nossos caminhos, cada um para um lado. – havia ansiedade em sua voz, quase beirando o desespero.
- Me desculpe, Ivan, mas... – falei, caminhando até parar em suas costas. Apoiei minhas mãos em seus ombros. – Negócios são negócios. – passei a faca por todo seu pescoço, vendo o sangue brotar e escorrer vigorosamente, me dirigi à porta, pronta para encontrar Gorbachov.
- Sua dica estava correta, Mikhail. - falei, enquanto colocava uma mala com dinheiro na sua frente. – Seu pagamento pela informação.
- Eu não lhe daria uma dica furada, Alianovna. – ele sorriu de lado, pegando a bolsa e deixando perto do seu corpo. – O que conseguiu arrancar dele? Algo bom?
- Nada de muito interessante. – menti, olhando atentamente cada reação dele. – Só confirmei a participação do grupo na venda e consegui o local onde farão a primeira transação. Vou até lá tentar impedir.
- Primeira transação? – perguntou, como se tivesse sido pego desprevenido em algo que deveria saber. – Eu não sabia que já tinham um comprador certo. Quando será isso? – sorri abertamente, quase gargalhando.
- Por que quer saber? Quer ser meu parceiro por mais uma noite? – disse, com a voz divertida.
- Você sabe que eu posso te ajudar. – ele ponderou e eu balancei a cabeça, afirmando.
- Claro que sei, da mesma forma que me ajudou quando eu deixei que atravessassem o meu peito com uma bala por você. Só que você tinha um acordo com o cara que deveríamos prender e me deixou lá para morrer, assim ninguém ficaria sabendo do seu envolvimento. – vi seu olhar ficar nublado e sua expressão mudar. – Não é exatamente esse tipo de ajuda que eu preciso. Porém não posso fazer essas coisas sozinha. Me encontre amanhã às 22hs no ancoradouro, eles marcaram no armazém sul.
- Natalia, isso pode ser perigoso. – ponderou, como se estivesse realmente preocupado.
- Eu sei, você está com medo?
- Nick? – falei ao telefone, na linha segura. Aquele telefone só tocava em situações de extrema emergência.
- Natasha, como está a missão? – sua voz pareceu ansiosa, como se estivesse preocupado.
- A KGB está envolvida. Isso pode ser bem maior do que esperávamos. Digo, pode envolver o governo russo. – falei, apressada. Enquanto caminhava rapidamente pelas ruas de São Petersburgo. Já era quase 22hs e eu precisava saber se Mikhail iria me encontrar. E queria saber o que ele estava escondendo. Ou melhor, confirmar minha desconfiança.
- Você não vai conseguir desmontar isso sozinha, traga as informações para passarmos a frente. Não se coloque em risco desnecessário.
- Pode ficar tranquilo, Nick. Eu sei o que estou fazendo. – desliguei o telefone assim que entrei no ancoradouro. Cheguei ao armazém antes do horário combinado, me escondi num ponto onde Mikhail não me veria e aguardei. Alguns minutos depois, ouvi uma aproximação e, em seguida, a sua silhueta adentrando o local. Ele olhou ao redor, bem atentamente, como se estivesse se certificando que não havia ninguém lá. Colocou a mãos no bolso e pegou celular, que começou a tocar, com o barulho ecoando pelo lugar.
“Não tem ninguém aqui ainda”, ele disse, parecia irritado. “Ela combinou comigo às 22hs, ainda falta cerca de dez minutos.”
Ele parou de falar e ficou só ouvindo, sua expressão denunciava que a pessoa do outro lado não parecia muito satisfeita com o rumo que as coisas estavam tomando.
“Eu sei que Nijinsky está morto, mas ela não vai chegar até nós. Se ele não contou nada, ela não vai descobrir, Ivan era o único que sabia da sua participação.”
Era Gorbachov no outro lado da linha, eu tinha certeza. Assim como sabia que Mikhail estava envolvido nisso. Gorbachov tinha sido chefe de operações no período em que atuávamos juntos na KGB, ele era responsável por diversas missões e Mikhail era como seu braço direito. Quando descobriram que Mikhail estava envolvido com o traficante de drogas que estávamos investigando, ele foi afastado, mas nunca cogitaram averiguar se Gorbachov também estava envolvido, até porque ele era um nome grande e importante na KGB há quinze anos, naquela época. Agora ele era um dos diretores, quase trinta anos de trabalho. Sua reputação e influencia deveriam ser enormes hoje em dia. Como derrubar um cara assim de um dia para o outro?
“Não se preocupe, eu darei o jeito nisso.” Mikhail falou, num tom ríspido. “Sim, mesmo que isso signifique dar um jeito nela.”
Sorri abertamente. Bem, ele poderia tentar.
- Você sabia que Dimitri Gorbachov estava envolvido em tudo isso e decidiu por não me contar, certo? – perguntei, vendo Mikhail se assustar e reprimir um grito. Eu estava sentada na sala de sua casa e ele não tinha percebido minha presença. – Você já foi mais atento, Mikhail. Pelo menos durante seus anos como agente da KGB, você não teria sido pego de surpresa dessa forma. Muito menos guardaria arquivos e informações tão importante em seu próprio apartamento.
- Primeiro, eu não sabia que Gorbachov estava envolvido. Segundo, eu não sou agente há quase quinze anos, perdi a prática. – respondeu, enquanto caminhava o centro da sala, para se aproximar de mim. – E sobre arquivos, eu não sei do que você está falando. – Peguei a faca que tinha roubado de Ivan, arremessando em sua direção. Mikhail desviou rapidamente, mostrando que seus reflexos ainda estavam bons. – Você está louca? – ele gritou, depois que a faca passou a centímetros de seu rosto.
- Não, apenas testando. Você sabe que se eu quisesse acertar, teria acertado. – levantei, indo até onde ele estava, parando bem na sua frente. – E, aparentemente, seus reflexos continuam os mesmos. Será que o caráter também?
- O que você está insinuando?
- Eu não insinuo nada, eu falo. – rebati, fazendo-o olhar diretamente para os meus olhos. – O ancoradouro era apenas uma isca e você caiu. Continua sendo o mesmo de quinze anos atrás: despreparado, inconsequente e irresponsável. Guarda documentos que comprovam o seu envolvimento em diversas negociações. Vocês vendem armas de destruição em massa para terroristas. E com as provas que eu consegui em seu próprio apartamento, você e Gorbachov vão cair.
- Eu não sei do que você está falando. – se apressou em dizer.
- Sabe como eu consegui descobrir o seu envolvimento nesse caso? Foi tão fácil, você conseguiu destruir todo o “plano perfeito” em apenas uma reação. A sua falta de controle colocou tudo a perder. No momento em que você ficou totalmente fora de si com a possível transação que ocorreria hoje, deixou clara a sua participação em todo o plano. É a sensação de não estar no controle, não é? De ser sempre uma marionete para o Gorbachov. – dei mais um passo em sua direção, ficando a menos de um metro de distância dele.
- Eu não sou uma marionete. – disse, com o maxilar travado, deixando claro o seu descontentamento.
- Então por que age como uma? Será que é porque se cortar as cordas, não vai sobrar nada? – vi que ele respirou fundo e apenas sorri de lado, vendo que ele continuava suscetível e fraco. Me aproximei novamente, ficando com o corpo bem próximo ao dele, se forma que eu conseguia encará-lo nos olhos. – Você não ia acabar comigo, Mikhail? O que está esperando?
Mikhail tentou me dar um soco, mas desviei e o acertei na costela direita. Ele arfou, tentando respirar fundo, antes de vir com tudo em minha direção, me jogando contra a parede, enquanto tentava apertar meu pescoço com suas mãos. Dei uma pisada em seu joelho, conseguindo com que ele me soltasse o suficiente para que eu lhe desse uma cabeçada. Ainda tonto, ele deu alguns passos para trás, enquanto tentava alcançar a arma que carregava com ele, mas que acabei chutando para longe. Vindo com tudo novamente, ele conseguiu me derrubar no chão e dar dois socos no meu rosto e um em meu estômago. Lutei contra o ar que escapou dos meus pulmões, mas me levantei rapidamente, limpando um pouco de sangue que saia de um corte próximo ao meu lábio inferior. Mikhail me olhava com a expressão mais assustada do que confiante. Corri em sua direção, jogando as pernas para o alto, passando-as pelo seu pescoço e jogando-o ao chão, onde ele ainda permanecia com o pescoço preso entre minhas pernas. Apertei com vontade, vendo-o ficar vermelho por não conseguir respirar. Tentou fazer força para que eu soltasse, mas eu não fiz, pelo contrário, apertei mais ainda, até que ele estava quase imóvel, então eu soltei, me levantando. Peguei a arma que tinha chutado para longe e parei na sua frente, olhando-o de cima.
- Você lembra quando levei um tiro por você? – perguntei, agachando para tentar ouvi-lo, mas ele ainda estava com dificuldade de respirar. – Você lembra disso aqui? – perguntei, trazendo a blusa para o lado e mostrando a cicatriz que tinha entre a clavícula e o peito. – Hoje nós vamos quitar nossas dívidas, mas você não vai tomar um tiro por mim. Vai levar um tiro dado por mim. – completei, colocando a arma colada em seu peito.
Olhei bem fundo dentro dos seus olhos enquanto apertava o gatilho. O barulho, com certeza, tinha chamado atenção da vizinhança, então eu não poderia demorar. Guardei a arma comigo, recolhi todos os documentos que tinha encontrado e sai pela porta, fazendo o mínimo de barulho possível.
Assim que estava há quarteirões de distância, peguei o telefone e liguei para Fury na linha segura. Ele atendeu logo após o primeiro toque.
- Estou voando para casa em algumas horas e as boas notícias são que eu tenho as provas para entregarmos a CIA e há menos um traidor no mundo.
Hello, world! I'm your wild girl!
I'm your ch-ch-ch-ch-ch-cherry bomb
Fim.
Nota da autora: Olha, meu estilo é coisinha fofinha, mas onde eu ia arrumar um amorzinho com Cherry Bomb? Sem condições, né? Então é isso aí. Já diz o ditado: quem gostou, ótimo. Quem não gostou, desculpa. Juro que vou melhorar.
Beijos da That.
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