Última atualização: Fanfic Finalizada

Prólogo

, (26), está no auge do sucesso. A cantora, que iniciou sua carreira aos vinte anos, tem alcançado uma extensa lista de conquistas para seu currículo durante esse último ano.
Lançado no final de 2016, seu quarto álbum de estúdio - intitulado ‘Happiness’ - alcançou o topo das principais paradas musicais e permaneceu assim por quase 10 semanas consecutivas e para confirmar o sucesso, a gata saiu mundo afora com a “Happiness Tour” que se estendeu por quase todo o ano de 2017, além de marcar presença nas principais premiações e conquistar diversos prêmios como ‘Artista Feminina Favorita’, ‘Melhor Álbum’, ‘Melhor Tour do Ano’, ‘Melhor Canção’ e ‘Melhor Videoclipe’ - ambas as últimas pelo single ‘Always Been You’. E se ainda não fosse suficiente, a cantora está nomeada em quatro categorias na 60ª edição do Grammy Awards que acontece nesse final de semana, sendo uma delas a mais importante da noite com “Álbum do Ano”.
Apesar de estar esbanjando sucesso mundo afora, sua vida amorosa não parece espelhar essa felicidade toda. Recentemente, a assessoria da estrela confirmou que seu relacionamento de longa data com o empresário chegou ao fim em meados de setembro passado devido a problemas não revelados. Mas, segundo rumores, a relação já não era de extrema importância para a cantora. Uma das provas foi quando ela preferiu estar presente no VMAs, ao invés de ficar ao lado do noivo - agora ex - que se recuperava de um acidente de carro.”

27 de janeiro, 2018
The Hollywood Reporter



Capítulo Único

tinha se desacostumado com o frio cortante que fazia em Nova York quando estavam na metade do inverno. Por sorte, não havia nevado nos últimos dias e a cantora agradeceu mentalmente pelo fraco sol e céu azul que fazia naquele dia. Havia chegado na cidade há poucos dias por conta do Grammy Awards que aconteceria no dia seguinte e que tinha presença confirmada e, como já estava com sua apresentação devidamente pronta, ensaiada e livre de compromissos, resolveu dar uma volta pela cidade. A princípio, não foi muito longe de onde estava hospedada, apenas andara pelas ruas do sofisticado bairro do SoHo. Por todo o caminho tentou a todo custo ignorar um certo pedido que seu coração fazia, mas, depois de muitas voltas à esmo, se cansou de recusar e foi para o lugar onde criara memórias com alguém que não a queria mais por perto.
Coney Island é um dos bairros do Brooklyn mais conhecido por suas atrações brilhantes e praias lotadas durante o verão novaiorquino, mas que naquele momento não passava de um lugar deserto e sem graça. Isso para algum turista desavisado que ia visitar o local em pleno inverno; para alguém como ela que passou o final da adolescência visitando a região independente do clima, o local permanecia como sempre fora: como sua segunda casa.

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se mudara para Nova York aos 18 anos quando junto de seus pais decidiram que morar na cidade facilitaria seu ingresso na carreira musical que tanto sonhava. Entre aulas de canto e atuação, a garota passava a maior parte do seu tempo livre descobrindo a cidade enquanto buscava inspiração para compor suas próprias músicas. Em pouco tempo descobriu a região praiana, e que rapidamente se tornou um de seus lugares favoritos. O lugar era um prato cheio para a cantora, principalmente no verão. Enquanto os turistas e residentes iam até lá para se divertir nos parques ou apenas aproveitar as férias relaxando na extensa faixa de areia das praias, ela passava horas sentada observando as pessoas e criando histórias para elas. Foi num desses dias que, enquanto presenciava uma cena fofa de uma criança com sua mãe mais à frente, sentiu que estava sendo observada. Quando olhou para um dos lados encontrou um garoto - que logo descobriria ser dono dos olhos mais lindos que já vira - analisando-a. Não fizeram contato, mas quando foi embora para casa, torceu para que no dia seguinte ele ainda estivesse por lá.
A jovem passou uma semana sem ir a Coney Island depois de flagrar o garoto a observando. Não por medo ou constrangimento, mas sim porque sua tia tinha ido visitá-los e como ficaria hospedada por uma semana, restou para a garota fazer companhia à mulher enquanto os pais estavam fora trabalhando. Quando se viu sem visitas, correu para o lugar na primeira oportunidade que surgiu. O lugar estava mais cheio do que de costume naquele dia; parecia que quanto mais o fim do verão se aproximava, mais pessoas iam visitar a área. Estava se encaminhando ao seu lugar de sempre quando se surpreendeu por ele já estar ocupado.
— Achei que eu tinha te assustado e que nunca mais ia voltar - escutou o garoto dizer assim que se aproximou.
— Ah. eu só não pude vir mesmo - disse enquanto se sentava a uma distância considerável dele.
— Eu ia entender sabe, na verdade, já estava me convencendo disso.
— Ah é? Então você costuma ficar encarando as pessoas até elas desaparecerem de medo?
— Nah, só as que me chamam a atenção. - E sorriu.
prendeu a respiração quando o olhou. Tinha reparado no garoto no outro dia, não ia mentir. Notara que era bonito, mas ele estava longe e difícil de reparar em detalhes. Mas agora com ele próximo dela, era outra coisa. Ele tinha um rosto bem desenhado e na proporção certa. Seus olhos eram , mas que se tornavam um verde meio piscina quando estavam sob a luz do sol. A garota percebeu que o estava encarando por um bom tempo e sem graça, voltou seu olhar para frente.
— E aí, quais são seus planos para hoje? Ou veio ficar sentada observando os outros e escrevendo igual todas as outras vezes? Afinal, o que você tanto escreve aí? - apontou para o caderninho que ela carregava com a cabeça.
— Hum, são alguns pensamentos que tenho, situações que vejo e uso como inspiração para compor músicas.
— Sério? Então você é cantora?
— Não oficialmente, pelo menos por enquanto.
— Aposto que sua vez vai chegar logo. Posso ver? - quando viu que a garota ficou receosa, continuou - Prometo não fazer nenhuma piadinha de mau gosto. - E sorriu para incentivá-la. A garota se rendeu e entregou o caderno a ele, espiando-o passar as páginas com o canto de olho. Após muitos minutos, o garoto se deu por satisfeito e lhe devolveu o material.
— São muito boas, você escreve bem. No que você se inspirou para escrever “A Place in This World”?
— Ah, obrigada. E essa foi uma ideia que eu tive logo quando cheguei aqui em Nova York pouco tempo atrás. - E contou sobre a ideia para ele.
O garoto pareceu tão interessado na história por trás da composição que acabou pedindo para que ela falasse de algumas outras que haviam chamado sua atenção. Percebeu que a menina falava com tanta paixão das ideias que tinha e de tudo o que estava fazendo para conquistar um espaço na música, que era difícil não se empolgar junto. Passaram umas três horas ora conversando sobre assuntos diversos, ora observando os visitantes e criando histórias para eles, e só pararam quando o garoto foi chamado para ajudar com o descarregamento de uma caminhonete cheia de suprimentos para um dos restaurantes que havia ali.
— Ei, ! - gritou um homem da porta dos fundos - Vem ajudar tua mãe com o carro - e vendo o menino fazer um sinal com a mão, entrou de volta no estabelecimento.
— Preciso ir, mas se estiver a fim, posso te mostrar os parques depois. Aposto cinco dólares que você nem chegou a entrar neles. - disse se levantando.
— Acertou, mas se pensa que vou te dar cinco dólares assim tão fácil está enganado, vai precisar se esforçar.
— Então espero que tenha trazido a carteira, porque quando estivermos lá dentro jogando, você vai se arrepender de não ter aceitado essa aposta.
— Vamos ver, então. - E ambos sorriram se desafiando.
Aquele havia sido um dos dias mais divertidos que já tivera. Após ajudar o garoto com as compras do restaurante, a levou para conhecer os dois parques de diversão que havia ali, o Luna Park e Deno’s Wonder Wheel. Como seus pais possuíam um estabelecimento no local, tinham o direito de algumas visitas cortesias aos parques durante o mês e aproveitou o benefício para levar a menina. Foram em todos os brinquedos, dos mais bobos e infantis aos mais radicais que arrancaram gritos e gargalhadas dos dois. Depois, pararam para comer no Nathan’s, a lanchonete famosa por servir o mais tradicional cachorro-quente de Nova York. E aproveitando que já estavam ali, caminharam pela areia da praia com insistindo para carregar suas sandálias assim não se encheriam de areia. Com as energias carregadas, se aventuraram nas mais diversas barracas de jogos que ficavam espalhadas pelos parques e tendo cumprindo sua promessa da aposta. Mas no fim, o garoto não havia pedido mais do que os cinco dólares iniciais que gastou comprando sorvete para ambos.
Antes que fosse embora e voltasse para casa, a fez passar na frente do Ford Amphitheater, uma grande casa de shows que recebia diversos eventos e atrações musicais durante a temporada de verão, que ia de junho a setembro.
— Todos os anos eles abrem inscrições para que os artistas locais possam se apresentar durante o verão. Se você tiver interesse ano que vem, as inscrições começam em março. – E olhou de relance para a garota que observava impressionada o imponente prédio à frente.
— Qualquer um pode participar?
— As inscrições valem para qualquer um, mas, para se apresentar de fato, é preciso passar por uma pré-seleção. Se for aprovada, você entra na lista oficial. Os shows são bem legais e o público adora. É uma ótima oportunidade para mostrar o seu talento.
— Obrigada pela dica, vou tentar na próxima seleção. - Olhou para o relógio em seu pulso. - Preciso mesmo ir, mamãe vai me matar se eu chegar muito tarde.
— Sem problemas, eu te acompanho até o metrô. - E retomaram a conversa animada que havia sido pausada quando chegaram no prédio.
— Bom, senhorita, sua carruagem lhe espera. - e sinalizou para a entrada do metrô - Espero que tenha se divertido. – E colocou as mãos no bolso.
— Eu adorei, muito mesmo! Obrigada pelo dia de hoje. - Olhou para a entrada do metrô e de volta para ele - Bom, acho que é isso. Te vejo por aí?
— Estarei por aqui o dia inteiro até o fim do mês.
— A gente se vê então - se levantou na ponta dos pés e lhe deu um beijo na bochecha - E obrigada, de novo.
— O prazer foi meu.
Sorrindo, a garota se afastou e antes que pudesse sumir de suas vistas, ela lhe mandou um tchauzinho.
Aquele foi o primeiro dia da amizade que construíram. apareceu em todos os dias daquele verão sempre o encontrando próximo a um grande relógio dourado, que eles apelidaram de relógio de ouro e que marcava o início do calçadão. Havia se tornado o ponto de encontro deles. Quando o verão acabou, continuaram indo até lá sempre que estavam livres; ele de suas obrigações da faculdade, ela com a música. Quando o inverno chegou de vez, passaram a frequentar a casa um do outro fazendo com que seus pais se tornassem amigos também. Depois que conhecera Laura, irmã de , tornara-se presença frequente na casa e tornou-se inseparável da garota, que perdia apenas para o irmão. Não foi surpresa para ninguém quando anunciaram que estavam namorando, dias depois do Ano Novo de 2010; até esperavam que o anúncio fosse feito bem antes.
O ano de 2010 não foi muito fácil para . Seus esforços pareciam não dar em nada e estava ficando frustrada de perder tempo e dinheiro de seus pais. Para não se sentir inútil por completo, começou a tocar em alguns bares próximos a sua casa que ficava no Brooklyn e se inscreveu para o festival de verão de Coney Island como avisara no dia que se conheceram, mas a sorte não estava mesmo ao seu lado pois não passou na pré-seleção. Os covers e demos que enviou para as rádios também não tiveram muito efeito, sendo provável que muitos deles nunca veriam a luz do dia e ficariam jogados em alguma gaveta junto de outros que também nunca seriam escutados. No auge do desespero, enviou currículo para trabalhar no Ellen’s Stardust, o famoso restaurante de garçons cantores localizado em Manhattan. Seu foco não era a Broadway assim como o de seus colegas de trabalho, mas não podia reclamar. Ela faria o possível para que alguém a notasse.
O emprego no restaurante lhe deu uma leve fagulha de esperança no final daquele ano. Conseguira um papel em um musical da Off-Broadway sendo uma personagem secundária, que seria a melhor amiga da protagonista. Ainda não era o que queria, mas sentia que aquela oportunidade poderia abrir algumas portas mais à frente. Em março do ano seguinte, se inscreveu novamente para os shows de verão e finalmente foi escolhida para integrar a lista oficial da temporada. Montou uma setlist diversificada, mas que não fosse muito complicada de se tocar sozinha e com apenas um violão e ensaiou exaustivamente para mostrar o que tinha de melhor naquele palco.
Cantar em Coney Island havia sido surreal para a garota. A casa de shows do lugar comportava muita gente, mais de mil pessoas, se fosse contar. Claro que não eram todos os dias que o local enchia assim e ela havia experimentado cantar para tantas pessoas juntas somente uma vez, mas que fora a melhor de todas.
Por conta do trabalho, seus pais podiam vê-la cantar apenas nos finais de semana, mas não deixavam de demonstrar o orgulho por vê-la crescendo profissionalmente quando não estavam. Por outro lado, esteve em todas as suas apresentações, sem exceções. O garoto havia testemunhado de perto o quanto a garota havia se esforçado e lutado para conseguir aquele espaço. Ela merecia estar ali, o palco era o seu lugar. Em todo aquele tempo juntos, não havia deixado de estar ao seu lado em nenhum momento; a apoiou em todas suas decisões sendo boas ou não, enxugou suas lágrimas quando sentia-se frustrada e insuficiente e lutou por ela, mesmo quando a jovem parecia exausta demais para continuar naquele caminho. Ele a amava demasiadamente e continuaria fazendo tudo aquilo por ela sem pedir nada em troca. Talvez nada fosse demais, mas alguns beijos e a chance de estar ao seu lado já parecia ser o suficiente. E sem nenhuma surpresa, havia sido ele quem segurara sua mão quando a cantora foi abordada por Mark Wright, um dos empresários da Hollywood Records, em um fim de tarde de agosto.

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A mulher caminhou lentamente até um dos bancos gelados do calçadão e apertou mais o casaco em volta do corpo ao se sentar. Por ser uma região litorânea, o vento ali batia com muito mais força e deixava a temperatura bem mais baixa que no centro da cidade, mas não se importou muito. As lembranças daqueles anos e do que vivera no local a manteria aquecida, pelo menos ainda podia contar com aquilo. Reparou bem no lugar a sua volta, e não se surpreendeu muito pelas poucas mudanças que aconteceram no decorrer dos últimos anos. O charme do lugar era o seu estilo retrô e a fim de manterem o sentimento clássico de “aqui terei o melhor verão da minha vida”, os donos dos parques e restaurantes pouco se modernizaram. Apenas alguns consertos e reparos, principalmente nos brinquedos, eram feitos.
Ficou sentada e perdida em pensamentos por um bom tempo até perceber que não estava mais sozinha no local. Avistou um senhor, que aparentava estar por volta dos sessenta anos, caminhando com o seu cachorro próximo de onde estava. O animal se adiantou para ela alegre e balançando o rabo em busca de carinho. A mulher tirou uma das mãos que estava escondida dentro do bolso e fez um afago na cabeça do bichinho. Feliz, o cachorro atreveu-se a se levantar nas patas traseiras e pedir por mais, fazendo os adultos rirem. Depois de muito carinho com direito a voz infantil e algumas lambidas em troca, o animal se afastou satisfeito com seu dono. Sentiu saudades de Chopp, o cachorro que adotara com quando foram morar juntos a alguns anos atrás.

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A jovem, que havia acabado de completar vinte e três anos, tinha conseguido alguns dias de folga entre seus compromissos de divulgação do seu segundo disco lançado recentemente. Entrou em estúdio para gravar o primeiro álbum logo após ter assinado contrato com a Hollywood Records em 2011, tendo descoberto que vinha sendo observada por um olheiro desde sua estreia no musical da Off-Broadway e que havia chamado a sua total atenção ao se apresentar em Coney Island. Diante disso, alguns empresários da gravadora decidiram investir no seu talento e ali estava três anos depois. Com o dinheiro que ela e vinham ganhando em seus respectivos trabalhos, investiram em um imóvel e foram morar juntos em Park Slope, um bairro residencial despretensioso que, assim como suas antigas casas, também ficava no Brooklyn. O relacionamento deles nunca esteve tão bem e estável como naquele momento, e sentiam-se confiantes e animados para iniciarem a vida a dois. Como não houve qualquer resistência ou desaprovação por parte de suas famílias, logo estavam ali desempacotando suas coisas na casa nova.

Estavam andando por Manhattan já havia algum tempo quando resolveram parar para descansar. Tinham ido procurar por uma massa de macarrão que a garota havia experimentado a alguns meses atrás durante a breve turnê que fizera pelo México e que pretendia fazer naquele Dia de Ações de Graça. Ainda não tinham encontrado, mas faltavam alguns mercados para visitar então ainda mantinham a esperança de achar. Como não fazia muito frio naquele dia, puderam parar em um parque sem muita preocupação e típico para aquela época do ano, as árvores estavam tomadas das cores laranja, amarelo e vermelho e aproveitando a beleza do lugar, tiraram algumas fotos do local. Ocasionalmente, alguns fãs da cantora apareceram pedindo por uma foto, que a mulher aceitou tirar de bom grado. Quando decidiram que estava na hora de voltar à andança, se assustaram com uma coisa pequenininha correndo por suas pernas.
— Chopp, volta aqui!
Se viraram na direção da voz e encontraram uma menina correndo desenfreada em direção ao cachorro. se apressou para alcançar o animal e ao apanhá-lo mais a frente, voltou conversando com o bichinho.
— Onde você pensa que estava indo hein, coisinha? Que coisa feia correr da sua mamãe desse jeito.
Ao se juntar à mulher e a garota que havia desistido de correr quando o viu ir atrás do cachorro, devolveu o filhote para a garota.
— Pronto, aqui está o fujão.
— Muito obrigada tio, minha mãe ia brigar feio comigo se ele sumisse.
— Não foi nada. Aliás gostei do nome que você deu para ele.
— Ah, é só um nome provisório até alguém querer ficar com ele.
— Você o está doando?
— Sim, tem ele e mais dois irmãozinhos. Mamãe não quis ficar com eles, então esperamos crescer e viemos até aqui doar. Quer conhecer os outros?
— Claro, por que não? - E os três saíram em direção ao pequeno abrigo que a menina e sua mãe haviam montado para os filhotes.
— Esses aqui são o Cuco e Thor - a garota disse assim que chegaram, apontando para os outros dois cachorros. O casal se agachou para que pudessem brincar com os bichinhos enquanto a menina falava mais sobre os pequenos.
— Acho que ele gostou de você - disse ao ver Chopp, o fugitivo, choramingar pela atenção do homem.
— Pronto, coisinha. - falou colocando o cachorro sobre suas pernas quando se sentou de vez - Pode ficar aqui, mas sem fugir de novo, ok? Você ainda é muito novinho para sair desbravando o mundo assim. Pode se perder e nunca encontrar uma mamãe ou papai que queiram cuidar de você.
O cachorro o olhava como se compreendesse tudo o que o homem dizia e, para demonstrar, se deitou em suas pernas e ficou quietinho enquanto recebia carinho. sorriu com aquilo, sabia que o homem passara a infância inteira pedindo um animalzinho para os pais, mas por não terem muito espaço em casa não podiam satisfazer o desejo do filho. E conseguia facilmente ver em sua expressão que o homem estava se corroendo de vontade de perguntar se podiam ficar com um deles.
— Se quiser, podemos ficar com ele - disse e recebeu um sorriso largo do homem.
— Tem certeza? Ele vai acabar ficando sozinho quando você estiver em turnê e eu no trabalho. - disse preocupado, mas tinha os olhos brilhando com a expectativa de poder ficar com ele.
— Podemos deixá-lo na casa dos meus pais e você o busca quando sair do trabalho, eles não vão se importar.
O homem passou a mão no cachorro e o levantou na altura dos olhos. Esticado, sua parte mais visível era a barriga redondinha de comida.
— O que você acha, doguinho? - o cachorro piscou sonolento. - Eu acho que isso foi um sim.
A menina, que havia parado para prestar atenção na conversa dos adultos, gritou empolgada com a decisão. Se levantaram e após acertarem os detalhes da adoção com a mulher mais velha, o homem aconchegou o cãozinho em seus braços e o cobriu com uma parte do casaco.
Parados na calçada enquanto esperavam um semáforo abrir, o homem se virou em direção à mulher e sorriu enquanto falava:
— Obrigado por isso, significa muito para mim.
— Tudo para te fazer feliz. Feliz Dia de Ação de Graças. - E lhe deu um selinho antes de atravessarem a rua.

“A cantora e seu namorado foram flagrados adotando um cãozinho enquanto passeavam por Manhattan nesta quinta-feira de Ação de Graças. Pelas fotos abaixo, podemos ver que os pombinhos se apaixonaram pelo animal à primeira vista e não pensaram duas vezes em levá-lo para casa. O casal, que não tem problemas com demonstrações de carinho em público, recentemente decidiu juntar os panos e morar juntinhos num bairro tranquilo do Brooklyn. Desejamos uma vida longa ao casal!” - People Magazine

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Tinha levantado e caminhado um pouco para se aquecer do frio que fazia e acabou indo até o píer do local. Ficou encarando a imensidão do mar à sua frente e suspirou quando olhou de relance para sua mão direita e viu aquele dedo, que costumava ser ocupado por um anel, vazio. Se lembrou com riqueza de detalhes do dia em que a pediu em casamento ali mesmo onde estava. Haviam decidido passar a véspera de Ano Novo ali em Coney Island com suas famílias e já tinha lido sobre os rumores do suposto pedido nos meses anteriores; como os tabloides sabiam disso, ela não fazia a menor ideia já que a própria não havia sido pedida em nada, então como não passava de rumores, não levou o assunto adiante. Por isso a surpresa inesperada quando viu de joelhos assim que o relógio apontou meia-noite.

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— Eu queria ter feito isso a mais tempo, mas algum engraçadinho saiu espalhando por aí que uma certa cantora iria ganhar um anel, então tive que conter a ansiedade para que a surpresa fosse para valer. Pensei bastante em como e onde fazer isso, mas, quando decidimos passar o ano novo aqui, percebi que seria o lugar perfeito. Se não fosse por esse lugar, talvez nunca teria conhecido você e amado alguém tanto quanto eu te amo. Se não fosse aquele caderninho que você carregava para todos os cantos e que me despertou curiosidade, talvez hoje seríamos dois estranhos para o outro e eu não seria tão feliz como sou ao seu lado. Com esse pedido, eu prometo continuar me esforçando todos os dias para ser o cara que irá acordar ao seu lado em todas as manhãs, que irá esperar ansiosamente pelo dia de te ver de novo depois de uma turnê longa e distante, que verá você criar músicas incríveis a partir das mais diversas e malucas ideias. Que te aplaudirá de pé em todos os momentos da sua vida, porque o amor e orgulho que sinto por você cresce a cada dia. Então, pelo poder investido em Coney Island para que nos juntássemos... , você aceita se casar comigo?
Por um momento a mulher não soube como responder; suas palavras ficaram presas na garganta por ter sido pega de surpresa. Tinha se emocionado com o discurso se debulhando em lágrimas enquanto ria nervosa. Quando conseguiu se acalmar um pouco, respondeu à pergunta com aquela palavrinha de três letras que havia imaginado dizer a ele muitas vezes antes:
— Sim, eu aceito! Muitas vezes sim!
E ali, sendo tomada pelos lábios do rapaz em um beijo que a fazia sentir borboletas no estômago só de lembrar, pensou que o mundo podia desabar sobre sua cabeça e ela não se importaria. Desde que estivesse com ele, tudo ficaria bem.

“Casamento à vista!

E não é que a nossa querida está cada vez mais perto de subir ao altar? Com direito a postagem no instagram, a estrela de 24 anos confirmou que foi pedida em casamento, pelo seu agora noivo, na virada do Ano Novo de 2015. Já havíamos avisado sobre certos rumores que esse dia estava próximo, porém a assessoria da cantora chegou a negar os boatos. Mas agora é oficial! Sempre discretos em relação à suas vidas pessoais, o casal mantém o relacionamento desde 2010.” - E! Entertainment

Passou por aquele ano andando como se estivesse pisando em nuvens. Sua vida estava ótima; agora sim sentia estar no melhor momento do seu relacionamento com e de sua carreira. Com o fim da turnê que promovia seu terceiro disco, sua agenda diminuiu bastante, o que proporcionou novas experiências artísticas para a mulher, como dar a voz para personagens animados, participação especial em uma série que estava em alta e alguns comerciais para a televisão. Também comparecera nas principais premiações daquele ano, levando para casa alguns prêmios que a consagrou ainda mais como uma das artistas musicais de maior sucesso da atualidade.

Com a criatividade à flor da pele, começou a trabalhar no seu quarto álbum bem no início de 2016 logo após as festas de fim de ano. Já nos primeiros meses, se reuniu com os executivos da gravadora algumas vezes para definir as estratégias do novo material e quando tiveram todos os detalhes acertados, entrou em estúdio para dar andamento na concepção do disco. Para aquele projeto, convidou alguns artistas que sempre pensou em colaborar e ficou extremamente feliz com o retorno positivo da maioria deles. Estava tão focada na produção que entrou em um ritmo frenético de trabalho, e quando se deu conta já era final de agosto e completava vinte e cinco anos.
Como era seu aniversário, ela e sua equipe decidiram encerrar as gravações mais cedo assim poderiam descansar, algo que todos precisavam, além de aproveitarem melhor a pequena festa que haviam preparado ali no estúdio para a cantora. A mulher silenciosamente agradeceu a pausa; sentia-se exausta. Era normal sentir-se mais cansada quando os trabalhos para a finalização do CD ficavam a todo vapor, pois passava muito mais tempo dentro do estúdio do que fora e já estava habituada à rotina. Só que daquela vez não era apenas o ritmo de trabalho que a fazia sentir-se mais cansada que o habitual.
As duas últimas semanas foram difíceis para a mulher, mas ela tentava a todo custo não demonstrar nenhum desconforto ou dor para não levantar suspeita e evitar questionamentos. Não tinha certeza se agira certo, tomada por medo e incertezas, apenas fez o que achou ser o certo no momento e tentava não pensar muito nas consequências que poderiam surgir.
Sentada com o celular nas mãos, fingiu estar resolvendo um assunto importante enquanto esperava seus produtores e engenheiros saírem da sala de gravação para a de estar onde aconteceria a comemoração, e suspirou quando se viu sozinha. Desde que fizera o procedimento, poucas vezes conseguiu ficar cem por cento sozinha, era como se todos estivessem a rondando prontos para desmascará-la. A única pessoa que sabia de tudo era Anne, sua assistente, pois fora para ela que correra quando sentiu que se não desabafasse seus receios enlouqueceria.
? - Anne a chamou da porta - Você vem? Todo mundo já está na sala te esperando.
— O já chegou? - respondeu olhando a mulher sobre o ombro. Viu Anne olhar para os lados e entrou encostando a porta.
— Ainda não, mas me mandou uma mensagem avisando que estava para chegar, não deve demorar muito. - A cantora assentiu brevemente - Já contou para ele?
— Não. Ainda estou tentando decidir o melhor momento para fazer isso e quanto mais eu penso, mais sinto vontade de não contar nada. Com sorte, ele nunca vai ficar sabendo.
— Você sabe que isso não é justo com ele, né? - disse enquanto se sentava de frente para a cantora.
— Eu sei - disse cansada - Você acha que fui muito egoísta com ele?
— Sinceramente, acho que você devia ter conversado com ele antes, afinal ele é uma parte importante dessa equação. Mas você também é livre para fazer o que quiser. Enfim, não sei se estou fazendo muito sentido. Ainda assim, independente dos motivos que te levou a decisão final, você precisa conversar com o , tenho certeza de que ele irá entender e te apoiar como sempre fez.
A cantora assentiu e agradeceu com um sorriso fraco. A verdade é que estava receosa em como ele reagiria ao acontecido. Sempre que precisava tomar uma decisão importante, ela corria para o homem que por sua vez estava sempre pronto para ajudá-la com algum problema. E mesmo se sua decisão fosse a mais sábia ou não, ele a apoiava mesmo assim. Talvez tenha ido um pouco longe demais dessa vez.
Antes que pudessem dizer mais alguma coisa, uma batida de leve na porta assustou as duas mulheres que se viraram na direção do barulho.
— Estou atrapalhando? - o homem que segurava um bolo de aniversário em uma das mãos estranhou o semblante da noiva - Está tudo bem?
A mulher respondeu que sim e se encaminhou para a porta. Quando ficou próxima dele, o homem a beijou no topo da cabeça e afagou seus cabelos num carinho. Anne, que tinha se levantado junto com a cantora, se adiantou e pegou o bolo das mãos do homem e os três se encaminharam para a outra sala onde os convidados os esperavam.

Os dias e meses seguintes que antecederam o lançamento de seu quarto álbum foram tão intensos que não tivera tempo para focar em qualquer coisa que não fosse os preparativos para a estreia do disco, intitulado “Happiness”. Num período de dois meses, havia lançado dois singles que haviam sido sucesso absoluto e garantido à cantora a permanência no Top10 das principais paradas musicais. A recepção do público e das críticas foram tão boas que o álbum foi esperado com grande ansiedade, e rapidamente atingiu a primeira posição dos charts ao ser lançado e acabou ficando por lá por mais algumas semanas.
Se os meses anteriores haviam sido intensos, a divulgação do álbum nas semanas seguintes superou com facilidade o quesito intensidade. A cantora marcou presença em diferentes programas de televisão do país, alguns sendo no mesmo dia, foi entrevistada em diversas estações de rádio e foi uma das atrações do show de Réveillon da Times Square. Depois de seguir com a agenda lotada de eventos naquele fim de ano, a cantora teve o mês de janeiro para aproveitar o novo ano e comemorar seu merecido sucesso ao lado do noivo e da família. No início de fevereiro, com muito mais compromissos a cumprir e uma turnê com todos os ingressos esgotados, a mulher saiu país e mundo afora.

Enquanto promovia a “Happiness World Tour” durante o ano de 2017, a cantora ainda lançou mais dois singles acompanhados de seus videoclipes que foram gravados no Brasil e Nova Zelândia, respectivamente, quando passou com a turnê pelos dois países. Uma das faixas escolhida, intitulada de “Always Been You”, havia sido criada pela mulher logo após ter acordado com os braços do homem ao seu redor e coberta apenas pelo cobertor pesado na tarde daquele dia de ano novo em que tinha sido pedida em casamento. Ali, deitada com a respiração tranquila do homem batendo em seu pescoço, memorizou alguns versos para que não os esquecesse quando tivesse a oportunidade de registrar em um papel: “You're the only one that my heart keeps coming back to. It's always been you, it's always been you. (Você é a único para quem meu coração continua voltando. Sempre foi você, sempre foi você).”

Estava na Espanha, em um dia pela manhã enquanto arrumava seus pertences para deixar o hotel e finalmente voltar para casa, quando Anne entrou de repente em seu quarto um tanto quanto apavorada.
— Bom dia para você também - a mulher disse risonha, mas ao perceber a expressão da outra voltar a ficar séria - O que foi?
— Você precisa ver isso - e entregou o celular que segurava para a cantora.
gelou ao ler o título e a pequena notícia em seguida.

“Teria esperado por um bebê?


Fonte próxima à artista afirma que a cantora esteve grávida em meados de agosto passado, mas que decidiu pelo aborto logo após o descobrimento da gestação de poucas semanas. A fonte, que não revelou sua identidade, diz que a celebridade contou com a ajuda da clínica e dos profissionais responsáveis para que a realização do procedimento fosse a mais discreta possível.
A cantora, que se encontra em turnê pela Europa, sempre fora reservada em relação a sua vida pessoal e nunca chegou a falar a respeito do assunto. Só saberemos se os rumores são verdadeiros ou não quando a estrela decidir se manifestar.

*Até a publicação dessa matéria não tivemos nenhum retorno da artista ou de sua assessoria.” - TMZ

— Meu Deus do céu - a cantora desabou na cama tremendo - Como é que eles ficaram sabendo disso? - disse levando as mãos à cabeça.
— Eu juro que não saiu nada da minha boca , estou tão chocada quando você.
— Eu sei que não, confio em você Anne, sempre confiei. O ! - disse em um sobressalto - Pelo amor de Deus, eu preciso falar com ele. - E saiu a procura do celular.
— Mas ele já não sabe?
— Se eu te falar que simplesmente esqueci, você vai acreditar? Parece surreal, mas foi isso que aconteceu. - Discou apressada os números decorados enquanto andava de um lado para o outro sem parar.
— Como assim você esqueceu, ? Quem esquece de contar algo assim?
— Eu ia contar dias depois da festinha que houve lá no estúdio, só estava pensando em como abordar o assunto, mas entramos num ritmo louco de trabalho e fiquei tão focada e ocupada que a situação desapareceu da minha mente. Principalmente depois que me senti 100% recuperada. Aí veio o lançamento do Happiness e todo o resto. Juro que não tive a intenção de esconder isso dele. - retornou à ligação pela quinta vez enquanto se explicava para a assistente, mas, como todas as anteriores, a chamada foi recusada.

, eu preciso falar com você. Por favor, me atende."

Ligou novamente, mas não foi atendida.

, por favor, não acredite em nada do que você leu.”

Alguns segundos sem resposta e o bombardeou de novas mensagens.



“POR FAVOR”

“ME ATENDEEEEEEEEEEE”

“EU TO TE IMPLORANDO, ATENDE ESSE TELEFONE”

“POR FAVOR!!!!!!!!!!!!!!!”

Esperou inquieta pelos tracinhos azuis que indicariam que o homem havia lido suas mensagens. Pareceram horas ao invés de minutos para que fossem lidas e prendeu a respiração enquanto esperava pela resposta. Esperou por um, dois, cinco minutos e nada, nenhuma resposta. Desesperada, ligou novamente e só se deu conta do tamanho do estrago quando a chamada caiu na caixa postal.

“Não faz isso comigo, juro que tem uma explicação.”

Tentara entrar em contato com durante a manhã inteira, mas sem sucesso. Pediu para que Anne também tentasse e o resultado foi o mesmo. Ligou para os pais, que ainda não tinham escutado sobre a notícia, e acabou precisando falar a verdade levando um sermão bem merecido dos mais velhos em seguida, mas que lhe prometeram entrar em contato se conseguissem falar com o genro. Os sogros e a cunhada não atenderam.
Sem ter muito o que fazer para remediar a situação, apenas esperou o horário para embarcar no avião que a levaria de volta para os Estados Unidos horas depois. A viagem, que duraria 10 horas, pareceu levar o dobro e sem poder usar o aparelho celular enquanto estava sobre as nuvens, apenas pôde torcer para que conseguisse de alguma forma resolver a merda que tinha feito.

Seu voo pousou em Nova York de madrugada e, sem se despedir de sua equipe, correu para casa. Não quis comentar a situação com ninguém além de Anne, e agradeceu por ter sua vontade respeitada. Estava desesperada, consumida pelo cansaço da longa viagem não dormida, desolada, mas acima de tudo estava com raiva. Raiva de si, raiva do infeliz que espalhara a notícia, raiva de que não a atendeu. Chegou em casa e a encontrou no mais absoluto silêncio. Chamou por Chopp e estranhou quando o cachorro não veio. No escuro e sem fazer muito barulho, percorreu a casa toda à procura de sinal de vida e estranhou ainda mais quando encontrou a cama do casal bagunçada, não era de sair e deixar a cama sem arrumar. Pegou o celular do casaco que usava e o tirou do modo avião pela primeira vez desde que desembarcou na cidade e não encontrou nenhuma ligação ou mensagem do noivo, mas sentiu seu coração parar por alguns segundos quando viu a curta mensagem que sua mãe enviara:

sofreu um acidente e foi levado para o hospital. Está internado, mas passa bem. Estamos no Brooklyn Center.”

Sem esperar, saiu em disparada para a rua e foi atrás de um táxi. Caminhava apressada pela rua em direção a um ponto de táxi que sabia que tinha ali perto, quando notou que um carro andava lentamente ao seu lado, como se acompanhasse seus passos. Virou o rosto na direção do veículo e viu que no lado do passageiro havia um homem segurando uma câmera a fotografando enquanto andava. Paparazzis. Ótimo, era só o que faltava., pensou amargurada. Apressou o passo e logo chegou à parada sendo recebida atenciosamente por um motorista.
Quando pôs o primeiro pé para fora do carro, foi bombardeada de flashes dos paparazzis que a esperavam na porta. Depois de muito custo e com a ajuda de um segurança, a mulher conseguiu entrar ilesa no hospital. Ainda conseguia escutar seus gritos perguntando se o que saíra no TMZ era verdade enquanto dava seu nome e o do paciente que procurava.
Ao chegar na sala de espera do andar, encontrou seus pais, os sogros e Laura, sua cunhada, espalhados pelos sofás do recinto. Sua mãe acordou assustada do leve cochilo que tirava quando a chamou baixinho e seu pequeno alvoroço acabou acordando os demais. Um arrepio passou por seu corpo ao ter os cinco pares de olhos julgadores a analisando e sentiu-se péssima imediatamente. Deixou as lágrimas que estavam presas a horas caírem e envolta dos braços de sua mãe, chorou até o cansaço levar a melhor. Quando despertou horas mais tarde, ainda estava sendo abraçada pela mãe que falava com alguém num volume baixo para que não acordasse.
— O que aconteceu? - respondeu com a voz falha.
— Nada demais, querida. Como está se sentindo?
— Não sei para ser sincera. Como está?
— Está bem, Laura está com ele nesse instante. - A mulher assentiu e respirou fundo antes de soltar a pergunta que queria fazer.
— Qual a chance de eu poder ir vê-lo?
A mais velha olhou de relance para o marido que estava em pé ao seu lado e calmamente respondeu à mais jovem:
— Não acho que seja uma boa ideia. Ele ainda está fraco e uma discussão agora não vai ajudá-lo em nada, é melhor esperar para conversarem quando estiverem em casa.
assentiu conformada, tinha uma vaga ideia que a possibilidade de a deixarem visitá-lo já havia sido discutida entre a família e a chance de a decisão ser positiva era quase nula. Por isso, se conteve em ficar ali sentada por horas e raramente sendo envolvida em algum assunto.

Por sorte, não sofrera graves ferimentos no acidente de carro, havia perdido o controle da direção e batido o veículo em um poste quando tentava sair de casa que estava tomada por paparazzis após a publicação da notícia, e em poucos dias tinha sido liberado. Por insistência de sua mãe e muito a contragosto, acabou voltando para casa antes mesmo que o homem recebesse alta. Como a própria apontou, não fazia muito sentido ela continuar ali com a mesma roupa que chegara, sem se alimentar direito e sem poder ver o homem. Em casa, ela poderia descansar melhor e se preparar para a conversa que teria com o noivo.
Estava há algumas horas sentada na ponta do sofá em silêncio e olhando para o nada quando escutou o sutil barulho da maçaneta abrindo a porta da frente e sentiu o coração acelerar. Ouviu a voz da sogra que conversava com alguém, mas barulhos de patas entrando pelo corredor a impediu de escutar o que a mulher dizia e logo viu Chopp correr eufórico em sua direção. Se abaixou para fazer carinho no animal; morria de saudades dele, mas acabou levantando-se outra vez quando viu parado e a encarando do portal da sala.
Seu semblante era de cansaço e além de estar um pouco pálido, a mulher notou que ele mantinha o braço esquerdo apoiado em uma tipoia e tinha alguns pequenos curativos na testa e no queixo. Sentiu um nó na garganta ao vê-lo tão fragilizado daquele jeito e sua única vontade era de ir ao seu encontro, abraçá-lo e prometer que tudo ficaria bem; mas se conteve. Não sabia como seria recebida e estava com medo de descobrir assim tão cedo, então tudo que fez foi continuar parada lá até o homem desistir de encará-la e seguir seu caminho pelo corredor.
Betty resolveu ficar por algumas horas até que o filho se reinstalasse em casa ajudando-o com algumas coisas já que no momento tinha apenas um braço livre. acompanhou os dois a distância, não queria que sua presença causasse qualquer tipo de desconforto no homem, uma vez que ele não dirigiu seu olhar a ela uma única vez desde horas atrás. Quando a mais velha decidiu ir embora depois de garantir que o filho estava bem, a acompanhou até a saída e agradeceu a presença da mulher.
— Apenas dê um tempo a ele. - Foi o conselho que recebera da mais velha.
A mulher assentiu e decidindo seguir o conselho, voltou para onde esteve sentada durante toda a manhã e, na mesma posição de antes, esperou pelo momento que sentenciaria o futuro dos dois.

Era por volta das oito da noite quando resolveu pôr fim à sua agonia. Escutou seus passos lentos descendo a escada e no escuro, ajustou a posição se preparando para o que viria a seguir. O homem se manteve distante durante todo o dia e não chegou a trocar uma só palavra com ele. O viu acender a luz e andar até se sentar no sofá à sua frente, e quando seus olhares se cruzaram, perdeu o fôlego ao encontrar os olhos que costumavam ser tão amáveis a encaravam de forma fria. Engoliu em seco.
— Então? - ele foi o primeiro a quebrar o silêncio.
— Como você se sente?
— Estou bem, mas já estive melhor - a mulher assentiu e o homem foi direto ao ponto - Quando ia me contar?
, eu. eu não sei mais o que dizer. Só me desculpa, por favor.
— Só um pedido de desculpas não é suficiente para algo nessa proporção.
— Eu sei. Eu não deveria ter sido tão estúpida e egoísta.
— Sabe o que eu tenho pensado ultimamente? Que talvez eu não seja tão importante para você como imaginei, que entre mim e sua carreira, eu ocupo a segunda posição.
— Quê? Não, não é assim. Eu ia te contar, juro que ia, mas as coisas estavam uma loucura naquela época por conta do disco e acabei me deixando levar pelo trabalho e quando vi, o problema parecia ter sido a tanto tempo que não vi razão de trazer o assunto à tona de novo.
— E preferiu me deixar saber pelos tabloides.
— Não, essa nunca foi minha intenção. Eu nem sei como eles ficaram sabendo disso, não faço ideia de quem seja a pessoa que vazou a informação. O procedimento foi em completo sigilo, a própria Anne que me indicou porque sabia que a clínica manteria a minha privacidade.
— Ah, então eu era o único que não sabia?
— Claro que não! Só a Anne sabia disso.
O homem ficou encarando a mulher sem saber o que pensar. Procurou por sinais de que mentia, mas não encontrou nada além de arrependimento em seu olhar.
— Quando cheguei no estúdio, naquele seu aniversário, sobre o que você e Anne conversavam?
— Sobre isso, ela estava me encorajando a te contar logo sobre o procedimento e tentava me confortar dizendo que você entenderia os meus motivos.
— E quando me viu, fingiu que estava tudo bem. Por que não me contou ali mesmo? Ou ainda naquele dia? Por que me deixou de fora disso?
— Eu ainda estava pensando na melhor maneira de abordar o assunto, estava receosa com a forma que você poderia reagir.
O homem se levantou nervoso.
— Ainda assim, eu tinha o direito de saber, principalmente da gravidez.
— Eu fiquei com medo, ok? - disse se levantando também.
— Com medo do que? O que podia ser tão mais assustador do que me contar que estava grávida?
desviou o olhar.
— Está vendo? Você nem tem a coragem de olhar na minha cara e dizer a verdade.
Sem receber uma resposta, o homem saiu em direção a entrada da casa sendo acompanhado de perto pela mulher.
— Aonde você vai?
— Não sei, eu só preciso tomar um pouco de ar.
A mulher segurou seu braço bom o impedindo de abrir a porta.
, por favor, espera.
, - disse devagar. - A não ser que queira ser sincera comigo, você não pode me impedir de sair.
— Ok, eu fiz burrada, tá bom? - disse jogando os braços para o alto - Não te contei da gravidez porque fiquei com medo de você me pedir pra ficar com o bebê e o quanto isso atrapalharia o lançamento do CD e da turnê. Tive medo de te decepcionar e acabar aceitando a ideia e com isso ter que deixar meu trabalho de lado. Aí fui lá e abortei. Era isso o que queria ouvir? Pronto, falei. Sim, eu fiquei apavorada e fui egoísta a ponto de escolher minha carreira ao invés de um futuro bebê.
— Sabe o que mais me machuca nessa história toda? - disse decepcionado - É que você não foi capaz de confiar em mim e de me falar o que estava acontecendo, de esconder algo dessa importância. Não cabia apenas a você decidir o que fazer. Juntos chegaríamos a uma decisão e independente de qual fosse ela, eu te apoiaria como sempre fiz durante todos esses anos.
— Me desculpa , nunca quis que as coisas fossem desse jeito.
— Já não tenho tanta certeza assim. Durante todos esses anos eu fui relevante para você ou só fui mais uma de suas conquistas? Em algum momento durante a turnê, você chegou a pensar em pelo menos uma data para o casamento ou também esteve ocupada ao extremo para lembrar desse pequeno detalhe?
De novo, nenhuma resposta.
— Não precisa me esperar, vou dormir essa noite na minha mãe, nos falamos amanhã.
E para jogar a última pá de areia sobre o buraco em que estava, disse:
— Eu meio que preciso estar em Los Angeles amanhã, é dia de VMAs.
O homem a encarou sem acreditar.
— Realmente não é só coisa da minha cabeça. - E saiu fechando a porta às suas costas.

Tinha viajado para Los Angeles no início da manhã de domingo após a conversa com . Não pregara o olho depois que o homem saiu e só conseguiu descansar de verdade quando estava no avião e com a ajuda de remédio. Entre provas de roupas, maquiagem e cabelo, a tarde passou voando e logo se viu atravessando o red carpet ao som de gritos dos fotógrafos pedindo por atenção.
Fugiu dos jornalistas, não estava com cabeça para entrevistas e muito menos esclarecer se os rumores recentes eram verdadeiros ou não. Como se estivesse sendo castigada por suas ações, a edição daquele ano estava completamente parada e sem graça e, entediada e talvez por remorso de estar ali, teve vontade de ir embora no meio da premiação, mas acabou ficando por insistência de Anne que a lembrara que tinha grandes chances de ganhar na próxima categoria que estava indicada como “Melhor Vídeo Pop” por “Always Been You", seu último single lançado.
— Isso é UAU! - disse ao subir no palco quando seu nome foi anunciado como a vencedora - Gravar um videoclipe é muito mais complicado do que parece, e quando você resolve fazer isso no meio de uma turnê, se torna três vezes mais difícil. Receber esse prêmio é um meio de mostrar que nossos esforços para que tudo saísse perfeito não foram em vão. Por isso, eu queria deixar aqui o meu agradecimento a toda a equipe que, junto comigo, trabalhou e passou muito frio durante alguns dias. - A mulher riu - E em especial, também quero agradecer aos meus pais e aos fãs que votaram, eu não seria nada sem o apoio de vocês, muito obrigada!

Seu discurso de agradecimento apenas aumentou os rumores que seu relacionamento não estava indo bem. Quando foi vista entrando em um apartamento luxuoso em Los Angeles com algumas malas semanas depois, foi o que faltava para os tabloides confirmassem o fim de sua relação com . Ao voltar para Nova York após a premiação, iniciaram uma nova discussão, dessa vez muito mais pesada que a anterior e, ambos de cabeça quente, acabaram dizendo coisas que não deviam. Para não se machucarem ainda mais, decidiram terminar por ali.
Cinco meses haviam passado desde que se viram pela última vez, e mentiam toda vez que se diziam estar bem. Não estavam e era notório para as pessoas que estiveram junto dos dois durante os últimos anos, mas pouco podiam fazer para ajudar. Ambos ainda estavam muito machucados com os acontecimentos finais do relacionamento e reconheciam que aquele tempo era necessário para que pudessem pensar no que queriam para suas vidas sem a interferência do outro. Ainda assim, em alguns momentos, se pegavam desejando por um beijo ou abraço a mais.

🎡 🎡 🎡

O relógio marcava próximo das dezessete horas e o sol terminava de se pôr quando decidiu ir embora. O frio estava ficando insuportável e se não saísse dali logo pegaria um resfriado, sendo obrigada a usar o playback, o que não achava ser muito profissional numa apresentação do Grammys.
Ainda perdida em lembranças, voltou por todo o caminho que percorrera até o píer andando devagar sem dar muita atenção ao que acontecia ao seu redor. Só foi reparar na presença de um homem parado no relógio de ouro quando já estava bem próxima a ele e não pode evitar chamar seu nome quando o reconheceu.
?

Fazia tanto tempo que não pronunciava seu apelido em voz alta, que se sentiu estranha ao fazê-lo. Ainda tinha aquele direito? Afinal, se não fosse por suas atitudes não estaria ali no frio olhando para um homem diferente do que costumava conhecer. O cabelo comprido era o mais fácil de notar, mas, quando olhou em seu rosto, percebeu que o cabelo era a mudança mais fácil de consertar. Seu semblante agora era fechado, triste e seus olhos não tinha mais o brilho costumeiro.
Sentiu-se miserável ao desejar que o homem, que não era mais o que ela costumava conhecer, a respondesse como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Se odiou por desejar, nem que fosse por um minuto, que voltassem a ser a e o de anos atrás, que se encontravam naquele mesmo lugar prontos para mais um dia em que se conheceriam mais um ao outro.
Sentiu-se tudo e nada ao mesmo tempo, e antes que o homem pudesse escutar o que restava de seu coração quebrar em mil pedaços, correu para o estacionamento onde um segurança a esperava dentro de um carro aquecido.

Enquanto voltava para o hotel, diversas coisas passaram por sua cabeça, coisas que gostaria de dizer a , que poderiam mostrá-lo o quanto se arrependia pelo o que fizera, pelo o que falara. Seu coração doía de saudade, de tristeza, de amargura, de arrependimento. Tentando aliviar um pouco a dor, abriu um bloco de notas vazio em seu celular e escreveu tudo o que desejava falar para ele, expressara toda a saudade que sentia, todas as lembranças que reviveu em Coney Island.
Pouco tempo depois, já em seu quarto quentinho, teve uma ideia de que poderia ser arriscada, mas que também pudesse valer de algo. Fez algumas ligações e em poucos minutos, com o casaco vestido e o celular em mãos, saiu para o estúdio mais próximo.
Se reuniu com um grande amigo seu, vocalista de uma de suas bandas indie-rock favoritas, e juntos trabalharam noite à dentro na ideia que a cantora tivera. Empolgados com o resultado que surgia, decidiram continuar trabalhando até que desse a hora da mulher sair para a premiação. Faltava poucos minutos para o evento começar, a cantora dispensara completamente estar no tapete vermelho, quando finalmente se deu por satisfeita e com a ajuda de Anne, terminou de se arrumar.
— Você tem certeza disso? Ainda dá tempo de voltar atrás - a assistente disse.
— Certeza eu não tenho nenhuma, mas sinto que preciso fazer isso.
— Tudo bem, só espero não ter que lidar de novo com uma chorando sem parar por uma semana inteira.

Desde o começo de sua carreira, esteve em cima de um palco incontáveis vezes, nos últimos anos esteve diante de plateias enormes que nem em seus melhores sonhos pensara estar, e enfrentou todas elas na maior tranquilidade. Mas ali, prestes a entrar no palco da maior premiação musical do mundo, sentia suas pernas fraquejar e uma vontade de sair correndo.
Se arriscara completamente ao mudar sua apresentação exaustivamente ensaiada por semanas para uma planejada da noite para o dia, e com uma música que ninguém conhecia. Mas era o que precisava fazer, precisar abrir seu coração da melhor forma que sabia: através da música.

Ainda tremia pela apresentação feita a uma hora atrás quando o momento mais esperado por todo cantor indicado na categoria mais importante da noite: Álbum do Ano. Concorria com artistas incríveis e que fizeram ótimas campanhas com seus discos e independente do resultado ficaria feliz pelo ganhador. Sentia o coração querer sair para fora do peito enquanto escutava os nomeados à categoria e prendeu a respiração durante aqueles intermináveis segundos antes do anúncio.
Entrou em choque ao ouvir seu nome anunciado como o vencedor. Viu a plateia se levantar e aplaudir e só voltou ao mundo real ao sentir braços a rodeando em comemoração. Viu sua mãe com o rosto coberto de lágrimas de felicidade e a abraçou forte deixando algumas lágrimas escaparem também. Depois de muitos abraços das pessoas próximas a ela e que contribuíram na criação do CD, a cantora subiu ao palco acompanhada dos produtores e engenheiros musicais.
Após seus discursos de agradecimento, a cantora se aproximou do microfone e olhando para o prêmio em suas mãos ainda sem acreditar, se pronunciou.
— Ok, estar no Grammy já é surreal para qualquer profissional da música, ser nomeado vira um nível acima do surreal, mas estar aqui segurando um prêmio dessa categoria, eu nem sei descrever o sentimento. Estar aqui é um sonho para todos nós e eu só tenho a agradecer a todos que me ajudaram a chegar até aqui: minha equipe fantástica, meus pais que sempre me incentivaram, meus fãs que me deixam vivenciar coisas incríveis, mas sobretudo, queria agradecer a uma pessoa que esteve ao meu lado por muito tempo e que sem esperar nada em troca, talvez o mínimo de senso da minha parte, me apoiou da melhor forma durante toda a minha trajetória. Se não fosse por esse ser humano incrível, eu provavelmente não estaria aqui hoje e muitas das músicas desse Álbum do Ano escolhido não existiram. Então, esse é um agradecimento por tudo o que você representa na minha vida, por tudo o que fez e eu não soube valorizar. E é também um pedido de desculpas, assim como na música, desculpa por todas as vezes que não te coloquei em primeiro lugar, de verdade.


Epílogo

Alguns meses se passaram após seu discurso comentadíssimo no Grammys e que trouxe muitas manchetes especulativas sobre o que aconteceria agora na vida amorosa da cantora, mas a mulher não deu muita importância. Cantara e discursa de coração aberto, apenas queria que ele soubesse o quanto ela se sentia mal por todo o sofrimento causado; ela sabia ser cedo demais para tentar fechar as feridas que ainda estavam abertas. Por isso, não hesitou em voltar para Los Angeles na terça-feira seguinte à premiação, assim evitava qualquer tipo de loucura que pudesse fazer estando perto demais do homem.
Tinha voltado para Nova York apenas para comemorar seu aniversário próxima dos pais, pois morria de saudade por não os ver mais com tanta frequência, e para aproveitar os últimos fim de verão na cidade. Quando os produtores dos shows de verão de Coney Island descobriram que ela estaria na cidade durante o evento, logo a convidaram para uma participação especial. A cantora acabou aceitando o pedido e não pode deixar se se emocionar ao subir naquele pequeno palco depois de tantos anos.
Após finalizar o show, caminhou com seus pais pela extensa areia da praia e só pararam porque os mais velhos foram chamados por um casal de amigos. Sem quer ser indelicada, pediu licença aos casais com a desculpa de buscar algo para beber, mas tudo o que fez foi se sentar na primeira mureta que encontrou e tirar o celular do bolso.
Estava em processo de composição para seu quinto álbum, mas decidiu ir devagar daquela vez. Queria filtrar bem as ideias que tinha antes de sair escrevendo qualquer coisa. A experiência que teve com Coney Island, música que cantara no Grammy, foi o que a motivou caminhar por águas um pouco mais profundas. Adorou o resultado da canção quando teve a oportunidade de ver sua performance e decidiu seguir naquele estilo para ver no que dava.
Mas como estava ali, onde praticamente tudo começou, não quis perder a oportunidade de reviver aquele momento e com o celular em mãos e o bloco de notas aberto, foi anotando algumas coisas que chamavam sua atenção.
— Vejo que ainda não perdeu a mania de passar horas observando a vida alheia. - Ela escutou e sentiu seu coração bater mais forte.
Virou para olhá-lo e percebeu que ele tinha um sorriso discreto no rosto. Também percebera que voltara usar o cabelo em corte curto, mas tinha uma barba rala no rosto que o deixava ainda mais lindo.
— Vejo que ainda não perdeu a mania de observar os observadores da vida alheia - ela rebateu.
— Nossa, essa foi péssima. Você já foi melhor nisso.
— Talvez seja falta de prática.
— Pode ser. - e homem se sentou ao seu lado.
Passaram bons minutos em silêncio observando o horizonte. A mulher não sabia como seguir a conversa, não esperava ser abordada por ele tão cedo, por isso esperou que ele quebrasse o silêncio.
— O que você já tem aí? - ele apontou com a cabeça para o celular.
— Nada de tão importante, só escrevi para reviver o momento. - Viu o homem assentindo pelo canto do olho. Passaram ais alguns minutos em silêncio.
viu seus pais terminarem a conversa com o outro casal, mas quando perceberam que ela estava acompanhada, e por quem, decidiram continuar sua caminhada pela areia. A mulher respirou fundo, se sentia muito tentada a seguir os dois e deixar o homem para trás, havia ficado nervosa com a aproximação. Talvez fosse mais covarde do que pensava.
E talvez tivesse percebido seus planos porque antes que a mulher desse o impulso para saltar, ele tocou sua mão a impedindo. Um choque elétrico passou pelos dois.
, eu queria falar com você.
— Sobre?
— Para ser sincero, não sei ao certo. Talvez sobre nada, talvez sobre tudo.
— Acho que você precisa ser um pouquinho mais específico que isso.
— Eu só, sei lá. só queria escutar sua voz de perto. Ao vivo, sem ser pela internet ou televisão.
— Entendi. - Parou para pensar em algum assunto que pudessem navegar sem muito perigo. - Assistiu ao show?
— Ah, cheguei apenas no final. Fiquei preso com algumas coisas que precisei resolver mais cedo. Mas pelo o que vi, o pessoal adorou.
— Ah, fico feliz. Se tudo der errado algum dia, pelo menos ainda sei fazer show acústico. - Sorriu fraco
— Difícil algo dar errado para Miss Álbum do Ano de 2018.
— Se você diz. - Deu de ombros - Como está o Chopp?
— O mesmo de sempre: só come, bebe e dorme. - Ele riu quando a mulher respondeu um “típico”. - Ele sente sua falta. - disse baixinho.
— É, eu também. - E suspirou.
— Esses meses atrás, ele achou um sutiã perdido e ficou andando com ele para cima e para baixo e quando foi dormir, dormiu com a cara em cima dele.
— Mas esse cachorro é um pervertido! - a mulher riu alto sendo acompanhada pelo homem.
Quando as risadas morreram, não se conteve.
— Eu também sinto a sua falta. - disse olhando para a mulher.
Ela respirou fundo e sentiu um nó se formar na garganta. Sentiu o homem segurar sua mão e ao olhar em sua direção, viu que ele estava tão próximo, o mais próximo que chegara a quase um ano.
, eu... - falou num sussurro, mas foi interrompida pelo homem.
— Eu tenho uma leve ideia do que você possa dizer, mas, de verdade, nem me importo mais com o que passou. Não me importo porque a saudade que eu sinto de você me consome tanto, que não sobra espaço para mais nada e eu não aguento mais viver assim.
— Eu juro que nunca quis que nada disso acontecesse entre nós, nunca foi minha intenção colocar a carreira acima de você, acima de nós. Reconheço que não foi certo não ter contado sobre a gravidez e me arrependo por isso. Eu fiquei com medo pelo CD, mas também com medo de te perder quando soubesse que eu não queria seguir adiante com aquilo, que você fosse me julgar mal.
— Se você tivesse falado comigo antes do procedimento, eu tentaria entender seus motivos. Talvez eu ficasse chateado? Talvez. Mas eu saberia lidar e passaria. A decisão final seria sua de qualquer jeito. Eu jamais te obrigaria passar por algo que não se sentisse preparada.
— Meu Deus, - a mulher passou as mãos pelo rosto - você é incrível, sabia?
— Algumas pessoas já me disseram isso. - disse convencido - Aliás, fui considerado um ser humano incrível ao vivo para o mundo todo.
A mulher riu e o homem aproximou mais seu rosto do dela.
— Aquele dia que te vi aqui, durante o inverno, por um momento achei que fosse um delírio ou a realização de um sonho, porque tudo o que desejava naquele momento, era voltar ao passado quando eu ficava ali te esperando chegar. E aí você apareceu e foi embora tão rápido, que pensei que estivesse ficando doido. O que fazia aqui sozinha no frio?
— Vim porque senti saudades do lugar enquanto andava por Manhattan, e era a única forma de me sentir próxima a você.
— E a música?
— Escrevi naquela noite com o Dean. Depois que te vi e voltei para o carro, passei o caminho todo até o hotel escrevendo tudo o que queria dizer para você, mas não consegui. Também algumas lembranças que surgiram enquanto estava por aqui.
— Ficou uma música e tanto. Depois de lançada oficialmente se tornou a número um da minha playlist.
— Bom, agradeça a Coney Island, o mérito é todo dela.
— E da cantora-compositora incrível também. - olhou ao seu redor - A gente tem história aqui, hein?
— E se temos. - Sorriu com a fala do homem. – Mas, falando sério agora, me desculpa por tudo, fui egoísta e injusta com você.
— A gente pode continuar essa conversa depois, antes eu aposto cinco dólares que você ainda não andou na montanha-russa nova - disse divertido.
— Ah cara, você de novo com isso!? - reclamou rindo.
— Se você quiser, a gente pode apostar outra coisa, então. - falou sugestivo.
— Tipo o quê?
— Tipo um beijo. - E se aproximou até que seus narizes se tocassem.
— E eu tenho que pagar agora ou só depois? – disse baixinho enquanto encarava seus olhos.
— Pode ser quantas vezes você quiser. - E a beijou.


Fim



Nota da autora: Oie!
Se você chegou até que aqui, eu espero muito que tenha gostado da fic! Escrevê-la foi bem desafiador porque é minha segunda história escrita em toda a vida e, depois de muitos momentos de surto e desespero, nem acredito que consegui finalizá-la. Então, para deixar essa autora iniciante que vos fala feliz, não esqueça de deixar um comentário sobre o que achou, ok? Vou adorar saber o que você mais gostou ou o que poderia ter sido melhor ❤.
*Algumas considerações sobre a história*
Alguns lugares e datas foram adaptados para que se encaixassem no roteiro da história, como por exemplo, a casa de shows Ford Amphitheater que somente foi inaugurada em Coney Island em julho de 2016; na fic, o local existe desde antes de 2009, ano que marca a mudança da pp para NY.
As músicas “A Place in This World” e “Always Been You” usadas na história pertencem à dona da indústria fonográfica Taylor Swift e do reizinho Shawn Mendes, respectivamente.



Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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