Alguma coisa ainda dizia que manter aquele relacionamento era a coisa certa a se fazer. Mesmo após tantos desentendimentos, tantos distanciamentos e tanto desinteresse mútuo, um não conseguia dizer basta para o outro, porque ficar junto era o certo a ser feito...
Mas aquela situação em que se encontravam era, de fato, culpa de ambos. Quando fora promovido de cargo, descobriu uma nova vocação da qual sempre soube que seria excelente: ser líder. Agora ele era o coordenador de toda a equipe de advogados do maior escritório de advocacia da cidade de São Paulo. Nem precisa dizer que sua vida era mais jurídica do que social... sempre estava no escritório resolvendo alguma questão que normalmente envolvia honorários. Isso garantia a boa vida de sua esposa e de sua filha, Maria, que tinha somente poucos meses de vida.
, por outro lado, descobriu que sua vocação era realmente ser mãe. Dedicava-se tanto a pequena garota que pouco pensava em voltar a trabalhar. Dispensava babás, queria acompanhar tudo de perto e, diferentemente do que todos pensaram um dia, ela se dava bem trocando fraldas e lavando as roupas da filha.
E cada um se dedicou tanto as suas novas vocações que nem se deram conta que já não dormiam no mesmo quarto.
chegava tarde do trabalho, por volta das dez da noite. Passava no quarto da filha e normalmente encontrava a esposa deitada dormindo na cama da criança. Fazia um carinho rápido em Maria e logo saia. Tomava banho, comia e dormia. Era frequente, rotineiro e normal.
Não havia aquela coisa de “como foi seu dia?”, “o que você fez hoje?”, “alguma evolução da nossa supergarotinha?”. Nada. O casal, se assim ainda se poderia dizer, sequer conversava. Foi um desgaste automático, poder-se-ia dizer até que natural.
E era estranho, quase absurdo, pensar que eles tinham chegado naquele ponto. Nenhum admitia, entretanto, que o casamento de cinco anos estava quase fadado ao fracasso. Logo agora, depois do nascimento da Maria que ambos desejaram tanto.
Mas foi numa conversa, numa quinta-feira em que tinha saído para beber com o pessoal do trabalho, que soube que sua vida estava errada. Seus colegas de trabalho perguntaram-no como era a vida de casado, e não foi capaz de dar uma resposta além de “normal”. Mas o que estava sendo normal?
Um dos colegas, que era divorciado, narrou que estava sentindo falta da rotina do casamento. Ele se culpava por ter buscado na rua tudo aquilo que já tinha em casa. Foi ganancioso e acabou perdendo tudo o que tinha, inclusive, o acompanhamento integral da vida dos filhos que agora conviviam em casas diferentes. Ele sentia falta dos diálogos, das noites abraçados, das surpresas em datas comemorativas, enfim, de ter efetivamente alguém para compartilhar a vida.
E foi aí que deu-se conta de que ele também sentia falta de tudo isso. Embora casado, era como se não estivesse. Ele tinha alguém pra dividir tudo, multiplicar e somar, mas tudo o que tinha feito nos últimos meses era diminuir.
Que ele amava a esposa era verdade, mas eles tinham se perdido no meio do caminho e antes que tudo acabasse como a rotina do colega, pensou que era hora de mudar e recomeçar.
Dirigindo no caminho para casa, passou no restaurante favorito de , pediu algumas iguarias da comida japonesa e uma garrafa de vinho para levar. Sempre achou a combinação estranha, mas para ela combinava. Isso que importava.
Girando a chave da casa, pode ver a esposa com a filha no colo e admitiu para si mesmo que aquela era uma cena absurdamente linda, tanto que ficou paralisado por um longo instante antes de se aproximar das duas mulheres.

- Ela fez cocô, preciso trocá-la. – fez que ia sair, mas foi impedida pelas mãos fortes e também suaves de seu marido.
- Deixa, hoje eu troco. A proposito, trouxe comida para nós, depois de trocar a Maria vou arrumar a mesa. Por que você não aproveita esse tempinho para tomar um banho?

A surpresa de era evidente. Algo estava estranho, e embora nunca limpasse a criança como deveria, ela também deveria dar um crédito, afinal, ele era o pai e seria bom tomar um banho despreocupado.
Retornando, viu uma cena que lhe provocou um certo riso. estava com a filha no colo, ela dormindo e ele cochilando. Pegou a criança de seus braços, levou-a ao quarto, a acomodou e depois se dirigiu ao quarto do casal para buscar um cobertor para .
Com delicadeza retirou os sapatos do marido e ajudou a deitar-se no sofá. parecia extremamente cansado e ela decidiu não acordá-lo. Pegou as sacolas que estava em cima da mesa da sala, levou-as a cozinha e serviu-se, degustando uma boa taça de vinho do Porto.
Na manhã seguinte, acordou assustado. Achou até que não estava em casa dada a circunstância de que estava dormindo no sofá. Olhou no relógio e viu que poderia acabar se atrasando para o trabalho, fato que fez com que corresse o máximo que podia com o banho, a troca de terno, e procurar algo na geladeira para comer.
Antes de sair, todavia, passou no quarto da filha para vê-la e também para desculpar-se com que dormia tranquilamente na cama que havia no quarto. Deu um beijo no topo da testa de cada uma das mulheres e saiu apressado.
Mas diferentemente do que havia pensado, Luiza estava acordada. E agora tinha um sorriso bobo no rosto, pois, depois de tanto tempo, sentiu-se notada pelo marido.
Naquela tarde, recebeu flores. Um buquê de callas e astromélias, as suas preferidas. Com elas um bilhete com um pedido de desculpas por ter dormido na noite anterior e um convite para saírem àquela noite.
Embora extremamente feliz com o convite, Maria ainda era muito pequena e ela não sabia nem porque, mas tinha receios com babás, por isso resolveu digitar uma mensagem no celular para o marido agradecendo as flores e o convite, mas que preferia não deixar a filha sob cuidados de terceiros. Não obteve resposta, fato que a deixou até chateada, pois ela o havia chateado... Mas poxa, ele tinha que entender. Era a filha deles que tinha somente meses de vida e que não sabia ainda o que era ficar longe da mãe.
Mas uma nova surpresa estava a caminho. À noite, Luiza ouviu pedras no quarto da filha. Extremamente assustada, dirigiu-se a janela do quarto e tentou observar o que se passava no andar de baixo. Era uma clichê serenata se desenhando bem diante dos seus olhos... O marido e um violão, o cunhado e um violino. Ela sempre achava que os dois teria dado uma bela dupla de alguma coisa, mas eles sempre fizeram da música um hobby.
Tocaram La Belle de Jour de Alceu Valença. cantava sorrindo e notava o sorriso largo nos lábios da esposa. Aquela música tinha sido tema de inúmeros momentos por eles vividos. Foi ao som dessa música o pedido de namoro e o de casamento, que, diga-se de passagem, foi o momento mais especial da vida de ambos, mas esse é um caso pra outra estória.
foi de encontro ao marido e lhe selou um beijo. Daqueles apaixonados, intensos e verdadeiros. Depois de tanto tempo, aquele beijo era tão necessário e urgente que mal se deram conta que o irmão de estava presente e nem notaram quando ele foi embora.
Havia um belo jantar preparado no quintal da casa. aparentemente havia preparado tudo para que a noite fosse especial e na mesa, a babá eletrônica.

- Amor, me desculpa por ter dito não ao seu convite de sair pra jantar, a Ma...
- Shiii – interrompeu – Você tem toda razão. Nosso pequeno tesouro merece toda a atenção da mulher mais maravilhosa do mundo.

Ele puxou a mão da mulher depositando um beijo molhado no local.
- Por que você mudou assim de repente?
- Eu sempre amei você, isso você sabe, né? Corro atrás de você desde que me entendo por gente. Demorei pra ter uma chance nesse coração aí... Mas nos últimos tempos, eu estava esquecendo o quanto eu te amava. Dei atenção demais ao que também é importante, no caso, o meu trabalho, mas o mais importante... Você, amor, é mais importante que o meu trabalho. E eu não preciso te perder pra saber disso.
- Você não vai me perder...

Um outro beijo apaixonado. Cortado parcialmente para que fizesse o seguinte pedido:

- Eu estava pensando, minha querida , mas que tal você dormir na nossa cama hoje? Ou me convidar pra dormir naquela pequena cama de solteiro com você, relembrando os velhos tempos?

sorriu entre o beijo respondendo-o em seguida.

- Eu acho que a gente pode dormir no conforto daquela cama enorme de casal. Qualquer coisa a babá eletrônica grita, né?

tomou em seus braços, carregando-a para o quarto do casal. Ali tentaram, depois de muito tempo, consumar o amor que havia entre eles, mas Maria acordou durante o sexo, interrompendo-os a primeira vez aquela noite. Só que eles retomaram, quantas vezes foram necessárias e nos próximos meses o amor voltou a reinar naquela casa.
diminuiu a carga horária no trabalho. distribuía seu tempo com novos afazeres e foi aceitando, aos poucos, a ajuda de uma babá de verdade.
Eles viram e filmaram os primeiros passos da filha, inclusive as primeiras palavras de Maria que decepcionou a mamãe, pois embora ela tenha passado a maior parte do tempo de vida com , Maria primeiro chamou o papai. Isso ela jamais esqueceria, nem ele.
Mas não durou muito aquele amor naquele local. Eles precisavam mudar para um lugar maior, pois anunciou que uma nova semente havia sido plantada em seu ser. Aquela metáfora deixou de cabelo em pé, mas ele ficou feliz, não tinha como não ficar...
E com o pezinho direito de Maria inauguraram a nova casa. E com o amor de verdade para frente seguiram.

Nota da autora: Não sei bem o que dizer sobre essa mini estorinha, mas posso dizer que to apaixonadinha sim kkk. Vou explicar o porquê: Tantas vezes a gente se dedica para certas coisas da vida que não são tão importantes quanto os laços que a gente cria. Seja numa amizade, seja num relacionamento, seja propriamente a família. Perdemos momentos quando focamos demais em algo e deixamos de viver... E isso não é saudável em nenhum aspecto, principalmente no nosso coração. Foward, a música, fala disso. Essa estorinha tem um pouco disso. E aposto que na sua vida também há algo nesse sentido. Então vai meu conselho: Hoje, agora de preferência, diga para alguém que a ama. Pergunte se ela está bem e ofereça um pouco da sua atenção, vai fazer toda a diferença! E beijos de muita luz para todas vocês <3



Outras Fanfics:
02. Pillowtalk - Ficstape #050: Zayn – Mind Of Mine - parte 2 sairá no ficstape da Ellie Golding, música 07. Holding on for life
A Fotografia - Restritas - Outros/Shortfics

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