09. Free The Animal

Finalizada em: 01/05/2015

Capítulo Único

Atualmente, em nosso mundo as pessoas são todas iguais.
Todos são como milhares, milhões, bilhões de clones vestindo roupas quase idênticas, falando e fazendo sempre as mesmas coisas.
Tudo muito repetitivo, muito chato, muito ridículo.
Eu era diferente.
Eu simplesmente não ligava para as coisas fúteis que as pessoas da minha idade gostavam. Eles sempre gostavam das coisas extravagantes, que foram especialmente feitas para chamar a atenção.
Eu não, eu não gostava disso.
Eu gostava das coisas discretas, coisas que passavam despercebidas, coisas que as outras pessoas não prestavam atenção, coisas que elas fingiam nem existir.
Coisas como .
Todos realmente ignoravam aquela garota nerd, desajeitada e mal vestida que andava tropeçando nos próprios pés pelos corredores do colégio.
Só lembro-me de algumas vezes que ela foi notada por outras pessoas.
A primeira vez foi no começo do último ano do colegial. As aulas tinham começado há menos de uma semana e todo mundo se conhecia muito bem com exceção de três ou quatro novos alunos, era um dos novatos.
Luke, o filho de um grande empresário e o cara mais popular e cobiçado do colégio, decidiu fazer uma festa na sua casa para começar bem as aulas.
Claro que todo mundo foi à festa que seria a mais comentada por semanas.
Eu não queria ir, não estava com vontade de fingir que estava me divertindo ou que estava interessado no que aqueles jovens fúteis tinham para falar, mas Melissa, minha amiga de infância, me convenceu a ir. Então fui por ela e por Oliver, mesmo sabendo que não me divertiria.
Vou ser sincero, tudo estava uma merda até aparecer em um vestido azul marinho bem simples e salto alto. Eu já tinha visto ela pelos corredores na primeira semana, já tinha me interessado em conhecer aquela criatura que se escondia atrás dos livros, não falava com ninguém, caminhava olhando para os próprios pés e visitava frequentemente a psicóloga do colégio. Naquela noite ela estava diferente, estava vestida como todas as outras garotas, porem ainda chamava a minha atenção por causa da mudança repentina.
Seus cabelos estavam soltos, seu rosto maquiado e sua pele mais exposta.
No momento que a vi chegar, percebi que ela sempre seria o centro das atenções quando não estivesse usando aqueles óculos ridículos e aquelas roupas horríveis.
Luke se interessou por ela, mesmo ela parecendo não dar a mínima para ele. Acho que tudo que queria era ir para casa, mas por algum motivo desconhecido continuava ali, no meio de pessoas que não tinham nada a ver com ela, sorrindo como se estivesse se divertindo e tentando manter as mãos de Luke longe dos seus quadris.
Ela era estranha.
Assim como eu.
Naquela época eu não a conhecia de verdade, só sabia que ela era a nerd atrapalhada que todos do colégio fingiam não notar a presença e também sabia que uma hora ou outra ela ia acabar caindo de cima daquele salto e provavelmente torcendo o pé, mas quando aconteceu foi pior do que eu havia pensado.
Estava todo mundo dentro da casa, a maioria tão embriagada que nem conseguia se manter em pé. , que não vi bebendo nenhuma gota de álcool a festa inteira, estava lá fora andando na beirada da piscina quando a vi cair lá dentro sem mais nem menos.
Uma eternidade pareceu se passar enquanto eu processava a imagem dela se debatendo desesperadamente na água. Foi uma luta enorme para obrigar meu corpo alcoolizado a sair do lugar, abrir passagem entre as pessoas para chegar até a piscina e salvá-la. A garota de debatia tanto que se eu não a tirasse logo da água ela morreria por causa do seu desespero.
Pulei na água sem pensar duas vezes e a segurei firmemente, ela também se segurou em mim com tanto desespero que foi difícil arrastá-la para a beirada da piscina e tirá-la da água.
Por um momento pensei que não ia conseguir, mas consegui.
tossia muito, estava com os olhos arregalados de medo, tremendo de frio e prestes a chorar enquanto eu segurava seu rosto entre minhas mãos. Sua pele era macia, mas estava gelada por causa do banho repentino.
Hoje em dia ela ri quando ao se lembra do incidente, mas no momento foi algo desesperador para nós dois.
- Você está bem? – perguntei e os olhos dela pareceram finalmente focar a minha imagem.
Foi quando eu fiquei sem ar pela primeira vez por causa dela.
- Eu não sei nadar. – ela sussurrou enquanto me olhava com aqueles olhos profundamente verdes.
- Percebi. – respondi com um sorriso sarcástico. – E também não sabe andar de salto.
Confesso que falei sem pensar porque algo nela me deixou confuso, meio sem fôlego, meio retardado, sei lá. Aquele era meu jeito de ser. Eu não era muito gentil com ninguém ao meu redor, nem mesmo com meus amigos, mas eles já estavam acostumados com a minha babaquice, não.
- O que? – perguntou, enquanto piscava os olhos de incredulidade.
- Vai dizer que é mentira? – perguntei, erguendo a sobrancelha e observando a expressão mudar. Era apenas a verdade, ela não devia se sentir ofendida por uma coisa que era verdade.
Devia?
- Não, mas não precisa jogar na minha cara. – respondeu, afastando o rosto das minhas mãos.
- Preciso sim, já que essa foi a causa para você cair na piscina. – respondi, cruzando os braços enquanto a via tirar os sapatos. – Você já é um perigo com aquele all star ridículo, com salto então...
- Como se atreve? – Perguntou, indignada. – Você nem me conhece.
- Princesa, ninguém precisa te conhecer para saber que você não duraria muito sobre essa coisa. – respondi apontando para os sapatos em suas mãos.
abriu as bocas varias vezes, antes de falar.
- Idiota! – disse ela, antes de se levantar e correr para longe como se sua vida dependesse disso.
Só então percebi que haviam pessoas ali e que estavam todas rindo dela, do modo que falei com ela. Eu tinha dado um bom entretenimento para aquele bando de idiotas nas custas da pobre .
Eu era um babaca, eu sei.
Mas tentei reparar meu erro.
Fui atrás dela.
estava chegando próxima ao seu Jeep Wrangler pick-up quando a encontrei.
- Hey, – a chamei. apenas olhou para trás por alguns segundos e decidiu me ignorar continuando a andar para o seu carro. – me desculpa por falar daquele jeito. – pedi enquanto acelerava o passo.
- Está desculpado. – respondeu enquanto pegava a chave e abria a porta do carro. – agora me deixa em paz.
- Não precisa ser tão grossa. – falei chegando até ela. – Eu sei que fui um babaca, mas salvei sua vida.
- E o que você quer? – ela perguntou se virando para mim. – Um prêmio?
- Um “obrigado” seria um bom começo. – respondi cruzando os braços.
- Pelo o que? Por me salvar e depois me tratar mal daquela forma na frente de toda aquela gente? – ela perguntou.
- Já pedi desculpas. – respondi enquanto ela rolava os olhos.
- Okay. – disse ela enquanto entrava na pick-up. – Me deixa em paz, tenho que voltar para casa.
Por mania olhei para o relógio e vi que eram onze e cinquenta.
- A Cinderela tem que chegar em casa antes da meia noite? – perguntei olhando para ela. – O feitiço vai acabar ou o que?
- Não é da sua conta. – ela respondeu, fechando a porta e ligando o carro.
Suspirei e me afastei enquanto a vi dar partida.
Ela tinha despertado muita curiosidade em mim.
Eu ia descobrir quem era aquela garota.
E descobri.
era filha de um grande bancário chamado Hamish .
O cara era um verdadeiro magnata, muito influente na alta sociedade e muito amigo de Nathan, o pai do Luke.
foi à festa do Luke por causa do pai dela, isso ficou bem claro enquanto descobria mais sobre Hamish. Estava na cara que ela não tinha ido por livre e espontânea vontade. O cara era muito ambicioso, só pensava em dinheiro e parecia ser capaz de vender a própria mãe se recebesse uma boa oferta. Estava disposto a encontrar alguém rico para sua filha, por isso a obrigou a ir à festa de Luke.
Era engraçado pensar em morando numa casa luxuosa, tendo a sua disposição as melhores roupas e mesmo assim se vestindo com aqueles trapos que ela ia para o colégio e chamava de roupas.
Não sabia o motivo, mas entendia que ela só queria ser invisível para as pessoas.
Mas não era.
Pelo menos não para mim.
Depois do ocorrido na festa do Luke, passei a observar mais a pequena e a irritá-la também só para ter um pouquinho da sua atenção. Tinha algo nela que me deixava em inquieto, não me conformava que um ser humano pudesse ser tão pateticamente maravilhoso como ela era.
Meus amigos sabiam da minha paixão secreta – ou devo dizer obsessão? – por . Então quando ela aparecia pelos corredores eles não me deixava em paz.
Lembro-me do dia que descobri que não era o único interessado nela.
Era um dia como outro qualquer, eu estava indo para aula com meus amigos, apareceu no corredor e eles começaram a falar dela sem parar.
- Você tem um tipo de amor platônico por ela. – disse Melissa, enquanto parávamos de andar para que Oliver bebesse um pouco de água no bebedouro localizado no corredor principal do colégio.
Melissa se virou para mim com um sorriso malicioso, cheio de dentes brancos, alinhados e perfeitos. Minha amiga era muito bonita, loira, dos olhos azuis, corpo violão, boca carnuda... Um turbilhão vivo de clichês. Eu poderia facilmente me apaixonar por ela se não fosse o fato dela ser como uma irmã para mim.
- Não começa. – falei rolando os olhos tentando não olhar na direção que ela voltou a olhar, mas era quase impossível me conter. – Você vê romantismo em tudo.
- Só vejo a verdade. – disse ela, voltando a se virar para mim. – Nem você mesmo acredita nessas suas mentiras sobre não sentir nada por ela.
- Não enche. – respondi. – Essa coisa de amor platônico não existe.
- Na vida existe sim, na física não. – disse Oliver enquanto ajeitava os óculos em seu rosto dando o sinal de que começaria a jogar para cima de nós informações inúteis. Ele era o gênio do nosso grupo, o cara que sabia de tudo sobre tudo e sempre nos dava informações que a gente nem queria saber. Oliver era loiro, alto e magro demais. – Os elétrons quando são atraídos por corpos positivos ou neutros, não os rejeitam. Na física, que tudo parece ser complicado, a atração é simples.
Quem dera se na vida real esse conceito fosse o mesmo, se tudo fosse uma simples equação do tipo: você apaixonado + a pessoa dos seus sonhos = felizes para sempre ao cubo.
Queria muito que fosse assim, queria mesmo.
O que me contentava era poder estar perto dela, sempre fazendo de tudo para ela me notar, até mesmo irritá-la profundamente.
Eu a amava e ela me odiava, mas eu não sofria com isso.
Sabe aquela frase: “do ódio ao amor é apenas um passo?” Um dia eu faria com que desse esse maldito passo.
- Mas aqui a coisa também é simples. – respondeu Melissa. – Duas pessoas se comendo com os olhos e com o pensamento, mas são idiotas demais para admitir que se amam e que esse ódio fingindo não engana ninguém.
- Cala a boca, Melissa. – pedi e finalmente olhei na direção que tanto evitei.
Minha vinha pelo corredor toda desajeitada carregando uma porrada de livros que ela mal conseguia aguentar.
Acho que ninguém entendia porque fui me apaixonar por ela. Quer dizer, tinha várias garotas mais arrumadas e até mais bonitas, mas mesmo assim meu dia só ficava feliz quando via o rosto daquela criatura desastrada na minha frente.
não estava usando maquiagem alguma, estava mal vestida como sempre e seus cabelos pretos estavam completamente presos em uma trança embutida. Os óculos estavam quase caindo de seu rosto, os livros estavam se desequilibrando e o desastre estava prestes a acontecer. Dava para ver isso a quilômetros de distância.
Pensei em ajudá-la, mas ela era pura teimosia e orgulho, não aceitaria nada que viesse de mim. Cutuquei Oliver discretamente, que olhou na direção dela e depois para mim, completamente confuso. Fiz sinal com a cabeça para que ele fosse ajudá-la com os livros e ele rapidamente capitou a mensagem, sorrindo e indo na direção dela em seguida.
- Posso te ajudar? – ele perguntou assim que chegou até ela.
ergueu os seus grandes e lindos olhos verdes para Oliver. Ela estava tão distraída em se manter em pé, equilibrar os livros e manter os óculos em seu rosto que não percebeu a aproximação do meu amigo. Olhou ao redor procurando por mim e Melissa. Ela sabia que sempre andávamos juntos e onde Oliver estivesse, Melissa e eu também estaríamos. Seus olhos verdes me observaram por alguns segundos preciosos e eu acenei com um sorriso no rosto antes dela se voltar para Oliver.
- Não precisa... – começou a dizer, mas foi interrompida pela queda dos seus livros.
Os dois se abaixaram rapidamente para pegar os livros.
Afinal, pra onde ela ia com tudo aquilo?
Apenas rolei os olhos enquanto Melissa deu uma risadinha abafada porque achava engraçado e fofo o jeito desastrado de . Eu achava que era irritante e perigoso. Ela sempre estava derrubando coisas, quase caindo de escadas, cheia de roxos pela linda pele... Deus! Alguém precisava ensinar aquela menina a andar sem tropeçar nos próprios pés.
- Não precisa se preocupar em me ajudar. – disse para Oliver que a ignorou e continuou a pegar os livros do chão.
- Quero ajudar. – ele respondeu. – Aonde vai com tantos livros?
- Biblioteca. – disse ela ainda agachada. – Peguei alguns para ler já que li todos da minha coleção.
- Tem uma coleção de livros? – ele perguntou se levantando e ela fez o mesmo enquanto segurava firmemente seus livros.
- Tenho uma coleção enorme, mas decidi que preciso ficar um tempo sem gastar com livros. – disse ela, dando de ombros. – Agora pego emprestado os da biblioteca.
- Mas não é permitido pegar tantos livros assim. – disse a ela, enquanto me aproximava. Percebi que ela engoliu em seco e ficou tensa apenas ao ouvir minha voz.
suspirou pesadamente e se virou para mim com cara de desprezo.
- A bibliotecária deixou que eu pegasse porque sabe que sempre devolvo tudo em perfeito estado e no prazo. – ela respondeu enquanto me olhava.
- Não acho que seja por isso. – respondi para ela enquanto me aproximava. Aproveitei que ela estava com as mãos ocupadas e a toquei, colocando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha pra poder ver melhor o lindo rosto que ela tinha. – Aposto que foi por causa do seu sobrenome, ou algo do tipo.
pareceu prender a respiração enquanto seus olhos se arregalavam com meu toque repentino.
- Não gosto de ser tratada diferente por causa da minha família. – disse ela rapidamente. – Não pegaria tantos livros se o motivo para essa permissão fosse meu sobrenome.
Isso era verdade, mas tinha algo que era mentira naquela história toda. Preciso dizer que depois de um tempo descobri que ela estava doando os livros para a biblioteca, mas não queria que ninguém soubesse das suas boas ações. Como já disse, ela não gostava de atenção.
Dei de ombros e me aproximei dela um pouco.
- Vou fingir que acredito que você é diferente do resto da sua família. – respondi para ela num sussurro.
- Não haja como se soubesse tudo sobre mim ou minha família. – disse ela entredentes.
Pronto! Eu já poderia dormir em paz aquela noite, depois de vê-la brava daquela forma.
Ela sempre era linda, mas quando ficava brava era magnifica. O sangue subia para suas bochechas, seus olhos pareciam ganhar mais cor e seus lábios formavam um biquinho perfeito para serem beijados. Eu tive que tocá-la novamente.
- Acredite em mim, princesa. – falei enquanto segurava seu queijo entre meus dedos para mantê-la olhando para mim. – Eu sei tudo.
Os olhos dela se arregalaram de surpresa e depois pareciam em chamas quando ela soltou os livros no chão e afastou minhas mãos do seu rosto com certo desespero.
- Tire suas mãos imundas de mim, . – disse ela quando tentou me empurrar para trás, mas aquela criatura era tão franca que eu nem sai do lugar.
- Sai de perto dela, . – uma voz masculina surgiu no corredor e eu rolei os olhos antes mesmo de ver Luke se aproximar.
Aquele riquinho metido achava que era quem? O príncipe encantado? sua princesa em apuros? E eu o lobo mal?
Ele era patético.
Levantei as mãos em sinal de paz com um sorriso enquanto o via se aproximar.
- Eu não fiz nada. – disse, enquanto observava se abaixar para pegar os livros e, novamente, Oliver lhe ajudava. Talvez ele fosse o príncipe certo para , não eu e nem Luke. – Só estávamos oferecendo ajuda para ela.
- Desde quando você oferece ajuda para a minha ? – perguntou ele, que me olhava com raiva.
dele? Eu pensei em rir, rir muito e esperar dizer a Luke que ela não era dele, mas ela não disse nada, não negou.
Isso significava que ela era dele?
Não, ela não podia fazer isso.
- Desde o dia em que a salvei da morte. – respondi olhando para que ergueu os olhos para mim mordendo os próprios lábios de nervosismo. – E até hoje ela nunca me agradeceu por isso.
Ela suspirou pesadamente parecendo se lembrar daquele dia.
- Ajudar uma pessoa esperando algo em troca, até mesmo um agradecimento, significa que não foi feito de coração. – respondeu num sussurro.
- E quem disse que eu tenho coração? – perguntei a ela, com meu melhor sorriso.
- Achei que até os piores seres como você, tinham um. – respondeu ela, voltando à atenção para os livros.
- Se enganou. – respondi.
Oliver me olhou com reprovação e eu fiz uma careta em resposta.
- Acho melhor irmos. – disse ele. - Antes que cheguemos atrasados na minha aula preferida.
Oliver se levantou e deu um sorriso gentil para que sorriu de volta.
Eu suspeitava que ela sentisse algo por Oliver, às vezes a pegava olhando na nossa direção, mas Melissa vivia insistindo que era para mim que a pequena olhava.
Quem dera.
- Isso! Vão embora e deixem que eu cuido da minha garota.
Garota dele?
Sério?
Dei uma última olhada em ajoelhada no chão recolhendo seus malditos livros e não negando nada.
Que merda!
Pensei em mandar ele para o quintos dos infernos, segurar pelos braços e dizer que ela só podia estar louca em namorar alguém como Luke. Queria dizer que ela merecia algo melhor, não algo como eu, mas talvez algo como Oliver.
Mas tudo que fiz foi segui meu caminho para a sala de aula.
Ela me irritava, o jeito dela me irritava, gostar dela me irritava, saber que ela estava com Luke me matava.
- Ás vezes você pega pesado com seu amor platônico. – disse Melissa, enquanto me seguia pelo corredor. – É tão difícil assim ser gentil com ela?
- Ela não é meu amor platônico. – respondi. – Amores platônicos geralmente são baseados na perfeição. não é perfeita e eu sei disso porque odeio cada defeito dela.
- Mas ama as qualidades, que são mais do que os defeitos. Consequentemente, você a ama mais do que a odeia. – disse Oliver acompanhando meus passos e ajeitando os óculos em seu rosto. – E amor platônico é qualquer tipo de relação afetuosa ou idealizada em que se abstrai o elemento sexual, por vários gêneros diferentes, como em um caso de amizade pura, entre duas pessoas. Amor platônico também pode ser um amor impossível, difícil ou que não é correspondido.
- Ou seja, é amor platônico. – concluiu Melissa me olhando com um sorriso vitorioso e Oliver concordou. Apenas bufei.
- É só uma coisa estupida que vai acabar passando um dia. – respondi.
- Tá demorando. – comentou Melissa. – Dizem que paixão dura apenas quatro meses e depois disso, é amor.
- Eu já ouvi dizer que é quatro anos. – comentou Oliver.
- Eu só quero que vocês dois parem de rotular o que sinto por aquela garota. Não perceberam que agora ela pertence ao Luke? – respondi assim que chegamos à porta da sala de aula. – Esse assunto morreu aqui.
Entrei na sala e meus amigos me seguiram finalmente em silencio.
Cheguei a pensar que no fundo fosse igual as demais garotas que só se interessava pelos caras mais populares e bonitões.
Não que Luke fosse bonitão, ele não era. Não mesmo. Mas depois que a raiva por causa do ciúme foi passando parei, observei e percebi que não parecia muito feliz com Luke, ela parecia sempre está fugindo e se escondendo dele pelos cantos do colégio, parecia até mesmo incomodada quando ele a tocava ou beijava.
Por namorar Luke ela se tornou popular.
Todos reparavam nela, falavam sobre ela.
Todos sabiam quem era , mas ninguém a conhecia.
Não como eu.
Apesar de não gostar de chamar atenção, entrou para o grupo de teatro do colégio. Atuar era algo que sempre quis fazer, mas não fazia porque chamava a atenção, mas na nossa escola era diferente, ninguém gostava ou assistia às peças.
Sinceramente não sei o que deu em mim quando me inscrevi para participar daquela merda também. Na verdade, eu até sei. Eu só queria ficar perto dela e consegui.
Consegui mais do que ficar perto. Consegui um beijo.
Eu esperava entrar na peça apenas como um figurante, nem queria participar daquela coisa, nem sabia atuar, só queria estar no mesmo lugar que .
O que eu não contava era que a senhora McGregor, professora responsável pelo grupo de teatro, colocaria eu e nos papeis principais, mesmo contra a nossa vontade. esperneou, implorou, ameaçou largar a peça, mas a abençoada senhora McGregor não cedeu e a pequena acabou aceitando. No começo eu também fui contra, mas quando li o roteiro percebi que sem saber a senhora McGregor tinha me dado um grande presente.
Os ensaios eram sempre depois do horário da última aula, ficávamos horas repassando as falas, reproduzindo as cenas e só me dirigia à palavra quando necessário.
Eu não me importava, eu só queria que chegasse o dia da peça.
E ele chegou.
Eu estava nervoso, suando frio, mas ansioso. Não estava preocupado se a peça seria boa ou não, só queria que chegasse logo na cena final.
Subir ao palco foi a parte fácil. Ver que tinha mais pessoa do que eu esperava na plateia me deixou nervoso, tornando difícil me lembrar das falas, mas fiz o melhor que pude. Porem quando entrou em cena em um vestido vermelho longo que parecia ter sido feita sobre medida para o seu corpo, eu quase fiquei sem ar.
Ela era a coisa mais linda que eu já tinha visto na vida, era como um anjo tentando esconde-se do mundo. De tanto pensar sobre isso cheguei à conclusão de que ela era demais para seres tão podres como nós, o mundo simplesmente não merecia ver ou conhecer uma criatura tão maravilhosa quanto ela. Era como um castigo por sermos o que somos.
Quando chegou a cena do beijo eu mal conseguia controlar minha ansiedade. Era a última cena, nós estávamos tão perto, as falas saiam da minha boca quase como suspiros, o cheiro dela estava me deixando embriagado, eu queria colocar minhas mãos nela, queria sentir a textura da sua pele, o sabor que tinham seus lábios.
Enquanto dizia suas últimas falas ergui as mãos para tocar seu rosto e ela prendeu a respiração esperando pelo meu toque enquanto as últimas palavras saiam da sua boca.
Eu não queria ser bruto, porque sempre era bruto demais e queria que com ela fosse diferente.
Quando minhas mãos ásperas tocaram seu rosto macio, soltou o ar preso em seus pulmões devagar e umedeceu a boca com a ponta de sua língua. Não dava para ficar longe por mais tempo. Me aproximei, fechei os olhos e senti seus lábios macios e úmidos tocarem os meus com delicadeza. Ficamos paralisados por alguns segundos pressionando nossos lábios um contra o outro. Eu não queria ser rápido, nem rude, mas não sabia como ser gentil e carinhoso do jeito que ela merecia.
O que me surpreendeu foi reagir subindo suas mãos até minha nuca e a acariciando. Ela estava encenando, mas eu não, eu ouvia o aplauso do público ao fundo, sabia que tinham muitas pessoas nos assistindo, mas não resisti, desisti do seu autocontrole. Segurei firmemente em sua cintura, minha língua pediu passagem por entre seus lábios e surpreendentemente me deu. Seus braços se envolveram ao redor do meu pescoço e me puxaram para mais perto, colando nossos corpos. Ela era a coisa mais saborosa que eu já tinha provado na vida. A vontade de devora-la viva era quase incontrolável, chegava a doer.
O beijo dela foi tão intenso, tão desejoso que eu esqueci as coisas ao meu redor. Não queria parar de beijá-la nunca, não ia parar, mas algo fez com que ela recuperasse a razão e descesse as mãos até meu peito me empurrando para trás.
levou a mão a boca me olhando com cara de espanto, em seus olhos dava para perceber que ela não sabia o que falar, não sabia o que havia acabado de fazer, não sabia por que tinha deixado aquilo acontecer.
Eu engoli em seco antes de olhar à minha volta, as cortinas estavam fechadas e os aplausos ainda podiam ser ouvidos do outro lado quando saiu correndo do palco.
- , espera! – tentei impedi-la de ir, mas nunca vi uma garota correr tão rápido quanto ela naquele dia.
Depois disso ela passou a evitar esbarrar comigo em qualquer lugar enquanto eu continuava a observando de longe, vendo seu relacionamento forçado com Luke indo de mal a pior.
Todos os dias desejava que aquela coisa chegasse ao fim. E depois de quase quatro meses, eles finalmente terminaram.
parecia aliviada enquanto voltava a ser excluída e ignorada pela grande maioria dos nossos colegas.
Fiquei um bom tempo pensando em algo que a fizesse ver que eu não era tão cretino como demonstrava ser, mas não tive nenhuma ideia até meus amigos lembrarem-me de um baile de máscara que a escola estava organizando.
Foi quando vi uma chance de mudar as coisas entre nós.
- Com quem você vai ao baile de máscaras? – Oliver perguntou a Melissa.
Nós estávamos sentados no refeitório do colégio depois de uma aula chata de Biologia.
- Eu nem sei se vou. – respondeu Melissa enquanto levava seu lanche à boca e mordia um pedaço.
- Por quê? – ele perguntou franzindo a testa.
- Por que não gosto daquela gente. – ela respondeu rolando os olhos. – Você sabe, Oliver.
- E você, ?
- Também não gosto daquela gente. – respondi sorrindo. – Mas talvez eu vá...
- Talvez? – ouvi uma voz feminina dizer logo atrás de mim. Fiz uma careta para Melissa e Oliver que estavam sentados na minha frente enquanto uma criatura loira se agarrava em meu pescoço e sentava em meu colo. Coisa que eu não gostei nenhum pouco.
Rebecca Smith sorriu para mim, passando suas mãos pelas minhas costas. Quem ela pensava que era para me tocar daquela forma?
- Talvez. – respondi olhando para ela com um sorriso tão falso quando a cor de seus cabelos. – Por quê?
- Apenas achei que ia me convidar para ir ao baile. – disse, dando de ombros e passando a mão pelo meu rosto.
- O que te fez pensar isso? – perguntei.
- Nossa dança no Red Club no último fim de semana. – disse, abrindo um sorriso malicioso para mim. – E o que aconteceu depois dela...
- Ah! – sorri finalmente me lembrando.
Na semana anterior eu tinha visto saindo junto com Luke, eles estavam bem vestidos, parecia que teriam uma noite especial e isso ferrou minha mente me levando ao lugar mais próximo que tinha bebida, o Red Club. Bebi demais e fiz o que não devia, dormi com a garota mais superficial que já tive o desprazer de conhecer.
- Era você? – perguntei tentando parecer realmente surpreso, mas eu era um péssimo ator, acho que ela percebeu.
- Como? – ela perguntou, enquanto o sorriso sumia de seu rosto. – Não lembra?
- Querida, eu nem lembro que dancei depois de tanta bebida. – menti.
Rebecca pareceu indignada.
- Como pode não lembrar? – perguntou, se levantando rapidamente do meu colo.
Graças a Deus!
- Do mesmo jeito que não me lembro de muitas outras noites de bebedeira. – respondi sorrindo. – mas se você quiser um replay, prometo que ficarei bêbado o suficiente para gostar e sóbrio o suficiente para lembrar.
Sim, eu era muito rude e cretino quando queria.
- Você é um idiota mesmo. – disse ela me olhando com cara de nojo. – Só uma perdedora como a para gostar mesmo de você.
Quando ouvi as palavras dela, o sorriso sumiu completamente do meu rosto.
- ? – perguntei voltando a sorrir para disfarçar meu interesse. – A me odeia.
- Pelo amor de Deus, dá pra ver a quilômetros de distância que ela é louquinha por você. Acho que foi aquele beijo da peça que a deixou caindo aos seus pés. Dizem até que foi isso que levou ao término dela e de Luke. – disse Rebecca. – Precisava ver a cara dela quando me ouviu falar no vestiário feminino sobre a minha noite com você. A pobrezinha parecia que estava passando mal.
- Se sou tão idiota quanto diz, porque estava se gabando por aí pela noite que passou comigo? – perguntei intrigado.
- Porque apesar de idiota, você é um dos caras mais gatos daqui. – disse dando de ombros. – A maioria das garotas morre de amores por você, mas disfarçam por causa desse seu jeito ogro de ser.
Voltei a sorrir enquanto levava o lanche a minha boca.
- Você diz esse jeito? – perguntei mordendo um grande pedaço do lanche e mastigando de boca aberta.
Rebecca fez cara de nojo novamente.
- Ridículo. – disse ela se afastando e eu virei para Melissa e Oliver que estava quase se acabando de rir.
- Ela tem razão. – disse Melissa sorrido. – Você é um ogro ridículo e idiota.
- Mas isso faz você me amar. – respondi depois de engolir.
- Pode apostar. – respondeu ela piscando para mim. – Ouviu bem a parte sobre a ?
- Ouvi. – falei enquanto um sorriso se formava em meu rosto. – Acho que tive uma ideia.
- Que ideia? – perguntou Oliver.
- Melissa e eu vamos juntos... – falei sorrindo para Melissa que rapidamente concordou enquanto mordia novamente seu lanche. – E você chama a para ir com você. – Falei para Oliver que me olhou surpreso.
- O que? – perguntou confuso.
- Eu quero que a vá ao baile, mas ela não aceitaria ir comigo. – respondi dando de ombros.
- E depois?
- Eu não sei, cara. – respondi num sussurro. – Eu tenho sonhado todas as noites dessa semana com essa maldita garota.
- E? – perguntou Melissa me incentivado a continuar.
- E talvez eu possa fazer com que esse sonho se torne realidade. – respondi olhando para minha amiga que estava com um sorriso de orelha a orelha.
- É tão engraçado a forma como você admite que gosta dela, depois nega e depois volta a admitir.
- Cale a boca, Melissa. – respondi sorrindo e olhando para Oliver. – Você topa?
- Não tenho nada a perder. – respondeu ele dando de ombros. – Então topo.
- Ótimo. – respondi olhando para entrada do refeitório. estava sorrindo, andando no meio de alguns dos seus colegas do xadrez, procurando uma mesa para se sentar. – Porque acho que esse é o momento.
Ela olhou na nossa direção por alguns segundos antes de continuar seu caminho para uma mesa não tão longe de nós.
- Vai lá, campeão. – falou Melissa.
Oliver olhou para ela e suspirou antes de se levantar e ir em direção à mesa onde estava com três dos seus colegas nerds.
Apenas observei Oliver se aproximar, sentar ao lado dela e conversar.
Ela pareceu surpresa e confusa, olhou na minha direção, voltou a olhar para Oliver e sacudiu a cabeça em negação. Oliver continuou falando e ela negando, ele segurou a mão dela entre as suas e ela paralisou.
Prendi a respiração com a cena. Merda!
Oliver continuou a falar, desviou o olhar para mim mais uma vez e então concordou. Pude ver seus lábios se movimentando e formando um “sim”.
Oliver sorriu para ela e se levantou.
- Ela não queria ir por sua causa. – disse ele enquanto voltava a se sentar em seu lugar.
- É porque ela sabe que nós iremos junto. – respondi e ele concordou.
- Exatamente. – disse ele. – Mas eu prometi que ia conversar com você para que fosse gentil com ela.
- E ai ela aceitou? – perguntou Melissa.
- Sim. – respondeu ele. – Então não estrague tudo.
- Não vou. – falei sorrindo e apoiando os cotovelos sobre a mesa. – Vou mostrar a ela que posso ser um cara gentil e um amigo maravilhoso.
- Você nunca foi um amigo maravilhoso para mim. – disse Melissa, franzindo a testa.
- Você nunca mereceu. – dei de ombros.
- Você é um imbecil. – respondeu ela, rolando os olhos e voltando a comer seu lanche.
- Quando vem de você, é elogio. – respondi sorrindo enquanto Melissa fazia uma careta para mim.
Eu realmente nunca tinha sido um amigo maravilhoso para Melissa, nem pro Oliver, nem para ninguém. Na verdade, sempre fui bem babaca com todo mundo.
Eu queria mesmo mudar, queria ser uma companhia agradável pelo menos para , então nos dias seguintes pedi aos meus amigos que me ajudassem a praticar a gentileza e sinceramente... Ser gentil não era fácil, mas eu consegui.
E quando o dia do baile chegou, ser gentil já não era tão difícil.
se sentou com a gente, conversou animadamente com Melissa e com Oliver e me evitou o máximo possível, foi bem rude quando pode ser e me deixou realmente irritado quando se levantou para dançar e se esfregar em Oliver.
- Ela está tentando te provocar. – disse Melissa enquanto bebia um gole de refrigerante do seu copo.
- Eu sei. – respondi com os olhos fixos no corpo de junto ao de Oliver que parecia prestes a correr por não saber o que fazer. O coitado não sabia se corria ou ficava.
- O Oliver está quase gritando socorro. – comentou e eu sorri me levantando da minha cadeira.
- Vou salvá-lo. – falei e Melissa fez sinal com as mãos para que eu fosse de uma vez.
Comecei a andar na direção de Oliver que parecia aliviado ao me ver se aproximar.
- Posso falar com você? – perguntei a enquanto abria passagem entre as pessoas. – Não pode me evitar para sempre.
se virou para mim. Seu corpo estava completamente ereto e sua cabeça um pouco erguida para que pudesse me encarar com seu olhar de ferro. Ela não estava muito mais baixa do que eu por causa do salto que usava, mas mesmo assim eu tinha que abaixar um pouco a cabeça para encara-la de volta.
- Não estou te evitando. – mentiu.
- Eu vou ali... Atrás da Melissa. – disse Oliver se afastando rapidamente, mas eu o ignorei.
- Então, vamos conversar. – falei, assim que vi que meu amigo já estava distante.
ergueu a sobrancelha e levou as mãos à cintura.
- Sobre?
- Nós dois. – respondi engolindo em seco enquanto ela parecia me medir dos pés à cabeça.
- Não temos o que conversar sobre isso. – respondeu ela, voltando a me encarar. – Não existe nós dois.
No começo fiquei sem palavras, depois com a raiva dominando minha mente pensei em arrasta-la dali a força, mas por último percebi que eu não podia ser um babaca. Eu precisava que ela visse que eu não era tão ruim assim.
- Por favor. – pedi com sinceridade.
Vi a expressão indiferente de se dissolver rapidamente dando espaço para a mais pura surpresa. Ela pareceu ficar desconsertada por um momento, pois não esperava que eu pudesse ser nada mais além de rude e imbecil.
Suspirou profundamente e cruzou os braços em frente ao corpo.
- Seja rápido. – disse ela antes de se virar e abrir passagem pela pista de dança em direção à saída do ginásio.
Eu a segui, enquanto pensava no jeito certo de dizer todas as coisas que queria. Eu queria explicar tudo o que se passa dentro de mim, falar sobre todos os dias de espera para receber um beijo que nunca vinha, dizer que antes dela aparecer não tinha nada que me chamasse à atenção de verdade, nada que me fizesse sofrer ou sentir qualquer outra coisa profunda.
Eu sabia que era um grosseiro, inútil, bastardo e nojento, mas eu mudaria por ela. Com ela eu podia ser diferente.
Os passos de sobre o salto alto ecoavam pelo corredor do colégio, ela ainda não sabia andar muito bem sobre eles, mas pelo menos estava conseguindo se equilibrar de um jeito meio cômico. Não era nada sexy, aquilo me dava vontade de pega-la no colo.
- Acho que aqui está bom. – falei parando de andar também parou e se virou para mim cruzando os braços novamente.
- Então, pode falar.
Eu estava tremendo um pouco, minhas mãos estavam suadas e as palavras simplesmente não saiam da minha boca. Eu queria toca-la, mas não podia sem antes explicar tudo.
Que merda!
Eu não era bom em me expressar em voz alta.
Queria que houvesse um jeito dela saber o que eu queria dizer sem que eu precisasse dizer.
ergueu a sobrancelha esperando que eu começasse a falar, mas eu simplesmente não conseguia.
- Me chamou para conversar ou para ficar olhando para minha cara? – ela perguntou um pouco impaciente.
Suspirei e dei um passo na sua direção.
- Acho que os dois.
recuou um passo, parecendo nervosa.
- A parte de ficar olhando você já fez, agora fale.
Parecia que tínhamos trocado os papeis. Acho que ela tinha aprendido comigo a ser tão terrivelmente grossa.
- Ok. – falei concordando e olhando em seus olhos. – Eu gosto muito de você, .
Os olhos dela se arregalaram, seus braços caíram ao lado de seu corpo e seu rosto ficou um pouco pálido.
- O que...
- Gosto de você. – respondi me aproximando dela aproveitando que agora ela parecia desarmada e acessível. Ergui as mãos e toquei seus ombros, deslizei as mãos pela extensão de seus braços até seus cotovelos e a puxei para perto de mim. – Não consigo falar tudo sobre esse sentimento, mas ele existe, apesar de eu não saber como senti-lo ou expressá-lo.
- Eu não acredito. – disse ela, abaixando os olhos enquanto começava a tremer. – Você não está falando sério... – Ela suspirou novamente vendo em minha expressão que eu estava sendo mais sincero do que nunca. – Por quê?
- Por que eu gosto de você? – perguntei confuso. – Não sei exatamente, . Talvez por você ser diferente de todos os...
- Não. – disse me interrompendo e balançando a cabeça enquanto erguia os olhos quase afogados em lágrimas para mim. – Se gosta tanto de mim então por que sempre age como uma babaca comigo?
- Porque... Eu... Eu não sei. Eu só… Estava tentando evitar. – respondi.
concordou engolindo em seco.
- Por quê?
- Porque eu não estava acostumado a sentir esse tipo de coisa em relação a ninguém. Eu sabia que você nunca se envolveria com um cara como eu, que nunca teria sua atenção, então fiz de tudo para consegui-la.
- Eu...
- Eu não sei o que você faz comigo, porque seu jeito desastrado me irrita, mas também me faz querer te colocar num cantinho seguro e não deixar que nada lhe aconteça. – respondi levando uma das minhas mãos ao seu rosto.
- Foi um ano pra você me dizer isso? – perguntou indignada.
- Desculpe. – respondi rapidamente. – Eu só...
- Você é tão imbecil. – disse ela olhando fixamente para meus olhos. – Mas eu também gosto muito de você.
- Gosta? – perguntei surpreso e ela concordou.
- Sim, apesar de me achar bem idiota por isso. Gostar de um cara que nunca me tratou bem é uma baita idiotice. – disse ela me olhando com reprovação.
- Desculpa, eu sei que a maioria das vezes, quase sempre, sou bem babaca, mas eu realmente gosto de você – falei, segurando o pequeno e delicado queixo dela entre meus dedos. Os olhos dela permaneceram fixos nos meus por um longo período, olhando diretamente para a minha alma como só ela sabia fazer.
- Me beija, . – disse ela, num sussurro, se inclinando na minha direção, posicionando suas mãos atrás da minha nuca e me puxando para que nossos lábios se selassem em um beijo.
Foi nesse momento que eu me apaixonei infinitamente por ela.
Fui completamente nocauteado e colocado em uma montanha russa. Era assim que me sentia no começo do meu relacionamento com . Nós erámos tão diferente e tão iguais que chegava a ser engraçado.
Quando nós estávamos juntos parecia que um tipo de animal interior se libertava, trazendo à tona um lado estranhamente extremo de nós dois.
Tudo entre nós era extremo.
Ou estávamos bem demais, ou mal demais, era oito ou oitenta, luz ou escuridão, verão escaldante ou inverno rigoroso. Não tinha meio termo.
Eu sabia que todos olhavam para nós dois e pensavam que não duraria. Cheguei a acreditar nisso quando terminou o ensino médio e a distância, por causa da faculdade, tornou as coisas difíceis para nós. As brigas por causa do ciúme começaram, a saudade doía e a reconciliação sempre via quando eu ia parar na porta dela de madrugada depois de dirigir por quase três horas sem paradas para pedir desculpas pelas besteiras que tinha falado ao telefone.
Quando estávamos juntos, o tempo passava rápido e quando estávamos longe, o relógio parecia parar.
Pode parecer que tudo foi péssimo ou ruim, mas não foi. Apesar das brigas, da saudade, das loucuras dela e das nossas diferenças eu não conseguia me imaginar amando outra pessoa que não fosse . Ela sorria sem parar e logo depois chorava, me deixando muito preocupado, tinha uns surtos do nada, ficava quieta no canto e eu a respeitava, esperava passar, sem soltar a sua mão, eu nunca soltaria.
Eu nunca soltei.
Nem mesmo quando ela me pediu para sumir da sua vida por causa do ciúme que a cegava. tinha me ligado para me xingar de todos os nomes possíveis por causa de uma foto postada em uma rede social onde eu estava abraçando uma amiga da faculdade. Antes que eu pudesse explicar a situação ela desligou na minha cara e não atendeu nenhuma das minhas chamadas.
Era um dia chuvoso, final de tarde, eu deveria me preparar para as provas finais, mas tudo que fiz foi pegar meu carro e dirigir até a porta dela.
Por um bom tempo ela se recusou a abrir, me deixando do lado de fora, molhado e com frio enquanto batia em sua porta e pedia uma chance para explicar.
Aquela foto era do aniversário da minha amiga, onde eu a abracei para dar os parabéns e o fotógrafo se aproximou pedindo para tirar uma foto.
Simples assim, mas ela não quis me ouvir.
Fui obrigado a voltar para meu apartamento com medo, medo do fim.
Nunca foi tão difícil pegar no sono.
Na manhã seguinte quando acordei, acordei decidido em ir para a aula, fazer a prova, buscar algumas coisas em casa e ir atrás de , mas não precisei.
Depois da prova, quando passei em meu apartamento, dei de cara com sentada no meu sofá. Ela estava diferente da época do colegial. Não usava mais óculos, suas roupas estavam na moda e ela até tinha aprendido a andar direito, sem cair ou tropeçar.
Mas o olhar... O olhar era o mesmo que ainda me deixava sem fôlego quando estava fixo no meu, lendo meus pensamentos e vendo minha alma.
- Oi. – disse ela num sussurro enquanto se levantava.
- Oi. – respondi de volta, sem me mover nenhum centímetro. Era a primeira vez que brigávamos e ela ia atrás de mim. Aquilo me paralisou, me deixou com um pouco medo. – Que milagre você por aqui.
sorriu, um sorriso triste que fez meu coração se apertar dentro do peito.
- Verdade. – disse ela se encolhendo um pouco. – Acho que devia vir mais vezes.
- Eu ia gostar muito. – respondi ainda sem me mexer e a vi suspirar.
- Você está bem? – perguntou baixinho. – Quer dizer, depois de ontem...
- Eu tive prova hoje de manhã, mas ia te ver agora a tarde. – falei a interrompendo. – Ia te explicar sobre a foto...
- Ia? – perguntou arregalando os olhos um pouco surpresa, me fazendo rir.
- Você sabe que eu não consigo ficar em paz até que tudo se resolva.
- Eu sei. Desculpa por agir daquela forma, mas eu tenho medo de que a distância entre nós te leve a conhecer outra pessoa. – respondeu num sussurro, olhando para os próprios pés. – Mas dessa vez eu fui muito cruel...
- Quase uma Cruella De Vil. – falei, cruzando os braços, a vendo rolar os olhos e andar na minha direção. – Mas eu te entendo.
Permaneci parado enquanto ela levava sua mão ao meu rosto, aquecendo todo meu corpo.
- Quero que ouça algo. – disse, me olhando fixamente. Só percebi que ela estava com o controle do som na outra mão, quando apertou o play e uma música começou a tocar.
sorriu, jogando o controle no sofá e aproximando seu rosto do meu, passando suas mãos delicadas pelo meu rosto sem cortar o nosso contato visual.
Eu não conhecia a música, mas conhecia a voz divina da Sia.

I love you so, wanna throw you from the roof
(Eu te amo tanto, quero te jogar do telhado)
The pressure builds, wanna put my hands through you
(A pressão aumenta, quero colocar minhas mãos em você)
I’ll squeeze you tight until you take your last breath
(Eu vou te apertar até seu último suspiro) Loving you to death, loving you to death.
(Amar você até a morte, amar você até a morte)


Sorri, enquanto a ouvia sussurrar a letra da música contra os meus lábios. A letra daquela música era o jeito que tinha arrumado para descrever o que sentia em relação a mim, em relação a nós dois.

The pressure’s rising I won’t make it through tonight
(A pressão está subindo, não vou fazer direito essa noite)
This love immortal is an assassins delight
(Este amor imortal é um prazer assassino)
Just blow me up or run me down, or cut my throat
(Apenas me golpeie, me execute ou corte minha garganta)
And when it’s time for you to die
(E quando for a hora de você morrer)
I’ll let you know
(Eu vou deixar você saber)


- Detonate me. – ela sussurrou, antes de me puxar para um beijo.
Suas mãos subiram para minha nuca, me agarrando com força como se todo o ar do mundo estivesse em mim e ela precisasse sugá-lo dos meus lábios para sobreviver.

Shoot me like a cannon ball
(Me atire como uma bala de canhão)
Granulate me
(Me pulverize)
Kill me like an animal
(Me mate como um animal)
Decapitate me
(Me decapite) Hit me like a baseball
(Bata-me como uma bola de beisebol)
Emancipate me
(Me emancipe) Free the animal, free the animal
(Liberte o Animal, liberte o animal)


Tirei a mochila das minhas costas e a joguei no chão. prendeu meu lábio inferior entres seus dentes e o mordeu com certa forma me fazendo gemer de dor, as mãos dela subiram pelo meu tórax por baixo camisa, levantei os braços e a tirei, jogando no chão. Eu mesmo tratei de abrir meu cinto e minha calça, enquanto se apressava em se livrar da jaqueta e dos seus tênis.
Voltei a beijá-la com um desespero que nunca tinha sentido igual, enquanto a ajudava a se livrar de suas roupas que destacavam suas curvas perfeitas. Eu queria parti-la enquanto a penetrava, queria que ela me rasgasse com suas unhas e dentes.

I love you so I’m putting you in quicksand
(Eu te amo tanto por isso estou te colocando na areia movediça)
You take your chances when you kiss the hitman
(Você se aproveita das chances quando beija o assassino)
The animal’s inside of this infinite jest
(A piada infinita de dentro do animal)
Loving you to death, loving you to death.
(Amar você até a morte, amar você até a morte)


Eu a levei ao sofá quando nossas roupas já estavam todas no chão.
Subi minhas mãos pela sua parte interior da sua coxa até sua intimidade e a acariciei ouvindo um gemido baixo sair dos lábios dela.
- Preciso de você dentro de mim. – ela sussurrou, envolvendo as pernas ao redor do meu quadril e me puxando para cima, para voltar a me beijar.
- Você que manda. – respondi antes de selar nossos lábios.

The pressure’s rising I won’t make it through tonight
(A pressão está subindo, não vou fazer direito essa noite)
This love immortal is an assassins delight
(Este amor imortal é um prazer assassino)
Just blow me up or run me down, or cut my throat
(Apenas me golpeie, me execute ou corte minha garganta)
And when it’s time for you to die
(E quando for a hora de você morrer)
I’ll let you know
(Eu vou deixar você saber)

Ajeitei-me sobre colocando minha ereção na entrada da sua intimidade e foi que me puxou fazendo penetra-la completamente, fazendo-me sentir a melhor sensação do mundo, que era estar com ela, dentro dela, a sentindo envolta de mim. Movimentei-me um pouco para trás e voltei a preenchê-la por inteiro ouvindo aquele som delicioso de prazer saindo dos lábios dela. Comecei a me movimentar mais rápido e com mais força porque o desejo estava me corroendo por dentro. Nós tínhamos nossos dias mais calmos, onde fazíamos sem presa e com perfeição. Mas aquele dia, queríamos apenas foder como animais.
Rápido e forte.

Shoot me like a cannon ball
(Me atire como uma bala de canhão)
Granulate me
(Me pulverize)
Kill me like an animal
(Me mate como um animal)
Decapitate me
(Me decapite) Hit me like a baseball
(Bata-me como uma bola de beisebol)
Emancipate me
(Me emancipe) Free the animal, free the animal
(Liberte o Animal, liberte o animal)


Senti meu corpo começar a formigar e a sensação de que iria explodir como uma bomba nuclear se apossou de mim quando a intimidade dela começou a pulsar.
Existia no mundo som mais bonito do que a mistura de nossos gemidos, a voz da Sia e a batida de nossos corações?
A resposta era e ainda é: Não, não existe e nunca vai existir.


FIM!



Nota da autora: Murder me ruin me. Look what you do to me. Beautiful pain baby, pour acid rain on me. Kill me with your loving. (Me mate, me arruíne. Olhe o que você fez para mim. Linda dor, querido, derrame chuva ácida em mim. Me mate com seu amor) <3
Olá gente, como vão vocês? Eu estou bem, obrigada. HAHA! Espero que tenham gostado de FTA, eu simplesmente me apaixonei por mais essa muisca da Sia rainha, da voz maravilhosa <3 Acho que ficou bom, não ficou? Espero que sim HSUAHUS Enfim, beijinhos para vocês e até a próxima. ;*



Outras Fanfics:
We need to talk about your father – Restrita/Em andamento
Boys Don’t Cry – Supernatural/Finalizada
Por trás das câmeras – Supernatural/Em andamento
10. Feelings - Ficstape album V do Maroon 5/ Finalizada
13. Sex and Candy - Ficstape album V do Maroon 5/ Finalizada



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