Capítulo Único
O meu quarto se encontrava em um breu e eu não ligava pra isso. Estava deitada na cama, com uma bola de tênis nas mãos e a jogando pra cima, e a pegando novamente quando caia. Já havia perdido as contas, de quantas vezes tinha feito, e há quanto tempo estava ali.
Minha mente estava presa em acontecimentos de dias atrás, quando briguei com e ele ficou muito chateado comigo, e com razão. Eu tinha mentido pra ele, uma das piores coisas que uma pessoa pode fazer com outra, pra mim, é a mentira.
Deixei a bolinha cair sobre a minha barriga e me virei, pegando meu celular e abrindo uma conversa com ele, e lá estavam várias mensagens que ele não tinha sequer visualizado.
“Oi”
“Nós podemos conversar?”
“Por favor, deixa eu te ligar?”
“Por favor, Jules?”
Meus olhos começaram a marejar e eu iria chorar novamente, mas me contive. Respirei fundo e tentei ignorar aquele bolo que se formava em minha garganta, deixei o celular de lado, colocando os pés pra fora da cama e saindo dali.
Caminhei pra fora do quarto, notando que era noite e eu nem tinha percebido isso. Passei as mãos pelos olhos, os sentindo cheios de lágrimas, e assim caminhei até a cozinha.
Vi meu pai terminando de jantar e o cumprimentei com um murmúrio.
— Achei que fosse dormir. — o ouvi dizer ao me olhar.
Dei de ombros e fiz um bico ligeiro, abri a geladeira, pegando uma latinha de Coca Cola e assim de abri-la, ouvi uma batida na porta.
— Deixa que eu abro.
Um pingo de esperança brotou em meu peito pensando que poderia ser , então andei até a porta da frente, abrindo ansiosamente e já sentindo meu peito palpitar.
— Ah. Oi.
Era a minha melhor amiga. Não que eu não a amasse, no entanto não era quem eu gostaria de ver agora, tanto que ela percebeu.
— Desculpa. — ela pediu, e eu acabei rindo fraco, mas a minha vontade era de chorar.
Me sentei na escadinha ali, que dava para a calçada e observei a iluminação da rua vendo que estava de fato bem mais tarde do que imaginava.
— Eu só queria saber como você está. — senti ela se sentar ao meu lado.
Respirei fundo pensando em como responderia aquele tipo de pergunta.
— Tô ótima. — respondi com a voz fina.
— Você conseguiu falar com ele?
Neguei com a cabeça e dei um suspiro pesado, tão pesado que meu peito chegou a doer por conta situação.
— As coisas entre vocês vão se acertar. Você vai ver.
Não que eu não acreditasse na minha melhor amiga, todavia, as coisas entre eu e tinham terminado muito mal.
— Obrigada. — murmurei baixinho.
Ficamos algum tempo em silêncio e aquela era a melhor coisa, eu tinha a minha melhor amiga ao meu lado, me apoiando, e ao mesmo tempo, ela não estava enchendo a minha cabeça de coisas.
Era a última coisa que eu precisava naquele momento.
O dia seguinte começou da mesma forma que os anteriores, não tive vontade de levantar da cama, mas precisava, pois já iriamos entrar em recesso de fim de ano. Coloquei uma roupa quente, pegando um cachecol, o cachecol que havia me dado no meu segundo aniversario que passamos juntos, e aquilo já foi motivo para que eu tivesse vontade de chorar.
Droga.
Pela neve estar caindo de forma moderada lá fora, peguei carona com o meu pai, em sua camionete vermelha. Durante todo o trajeto, ele foi falando que ficaria no trabalho o dia inteiro, e provavelmente só voltaria à noite.
— Me liga se precisar de alguma coisa? — Ele me questionou assim que parou em frente a escola.
O olhei e dei o meu melhor sorriso forçado.
— Claro. — Respondi. Eu não ligaria nem se precisasse. — Eu pego o ônibus, tá? Ele para perto de casa, à tarde não vai nevar tanto assim...
Meu pai me deu um beijo na testa e eu fechei os olhos momentaneamente. Sorri fraco, já abrindo a porta da camionete e saindo para o ar frio, assim que isso aconteceu, mesmo com as roupas senti meu corpo tremer. Coloquei o capuz e apressei os meus passos em direção a entrada da escola.
Meus passos foram tão rápidos que acabei escorregando e caindo antes de entrar, resmunguei ao sentir a minha bunda bater em algo gélido e fechei os olhos fazendo uma careta rápida.
— Porra!
Senti alguém me levantar, e não demorei para estar em pé novamente, meu rosto virou imediatamente para a pessoa e eu engoli seco ao ver .
— Valeu. — sussurrei.
Sabia que meu rosto estava levemente corado por conta do frio, e agradecia aos deuses por causa disso, já que pela proximidade dos nossos corpos eu estaria vermelha de vergonha, como sempre ficava.
Ainda senti as mãos dele nos meus braços como se esperasse que eu caísse de novo, então estava de certa forma, me protegendo.
Ficamos nos olhando nos olhos por longos segundos, e reparei que seu corte de cabelo estava diferente do habitual, e aquilo me deu uma saudade gigantesca que fez com que meu peito doesse.
— Não tem problema.
Vi ele se mover para sair de perto de mim e abri a boca pra dizer alguma coisa, no entanto nada saiu. Acabei engolindo seco e tomando coragem.
— Eu sei que foi minha culpa. Por isso te pedi desculpas. — minha voz saiu tremida.
Fechei as mãos cobertas pelas luvas em punho, como se aquilo fosse me dar forças pra continuar falando.
— E eu sei que você me odeia. — meus olhos se encheram de lágrimas instantaneamente.
apenas me olhou e eu pude notar como ele estava quebrado e aquilo tudo era culpa minha. Culpa minha.
Fechei meus olhos, sentindo uma lágrima escorrer ao passo que meu coração palpitava de dor em meu peito.
— Eu preciso que você entenda que depois do que aconteceu nós nunca mais vamos voltar a ser como antes.
Ok. Talvez tivesse sido uma péssima ideia começar aquela conversa com ele.
O sinal tocou, anunciando o início das aulas, e a minha vontade era voltar correndo pra casa.
Concordei com a cabeça para que ele entendesse que ouvi e compreendi a sua fala, engoli seco e mordi a parte de dentro da minha boca.
— A gente se vê.
O vi me dar um aceno com a cabeça e começar a andar pelo corredor, conforme ele se afastava, meu coração se quebrava em mais pedaços, se possível. O cheiro do frio, onde eu estava, era evidente e eu queria ir embora.
Acabei brigando comigo mesma e aceitando ir assistir as aulas, minha primeira era de Biologia, então seria no laboratório no terceiro andar. Apenas me dirigi até lá de corpo, porque a alma já tinha morrido há muito tempo.
Passei boa parte da manhã naquele colégio encarando o relógio da parede de todas as salas de aula, e todos tinham o mesmo problema: os ponteiros se moviam lentamente. Será que estavam estragados? Essa era a minha maior indagação naquele momento.
Os dias foram passando em câmera lenta, era como se todos os ponteiros do mundo estivessem estragados e não se movessem da forma correta. Quando chegou o Natal, fui passar com a família da minha mãe na Califórnia, foi bom sair e pensar em outras coisas, e principalmente estar longe de tudo que havia acontecido.
O frio de Vancouver também não me deixava com muitas saudades da cidade.
Voltei pra casa no fim de Janeiro, que foi quando as aulas voltaram, e com ela: o frio, a neve, o vento e a sensação de que nada de bom acontecia. Tentei por várias noites sair com os meus amigos, o que foi bom em algumas, mas em outras tudo que queria era ficar em casa.
Até o dia da formatura a minha vida foi assim, entre deveres da escola, escolher o vestido pro baile, por mais que tivesse zero vontade de ir, e me inscrever nas faculdades que gostaria de estudar.
Por mais que eu amasse o meu pai e a nossa vida a dois, depois que ele se divorciou da minha mãe, não me via morando em Vancouver mais.
Em um fim de tarde de Junho e terminava de fazer as unhas do meu pé, cantarolávamos Shake It Off da Taylor Swift juntas e riamos de algumas partes.
— Tá lindo, vai. — ela disse ao olhar para as unhas que tinha feito, acabei rindo e concordei com a cabeça.
— Ta lindo, vai.
Uma notificação apareceu na tela do meu celular, que estava jogado por ali e eu apenas olhei, quando vi de quem era o e-mail recebido, peguei o aparelho e dei um grito.
— Merda!
Com as mãos completamente tremulas eu abri meu e-mail e lá estava ele.
— ! Leia! — pedi, séria. Entreguei o celular nas mãos dela.
Ela me olhou com o cenho franzido, e eu mexi a mão para que ela lesse ligeiramente. Poderia ser uma carta de recusa ou uma carta de aceitação.
- É UM E-MAIL DO MIT, TINE! — ouvi o grito dela.
Balancei a cabeça positivamente e me sentindo muito feliz pela primeira vez há tempos, no entanto, aquilo poderá dar muito ruim.
— LÊ LOGO, PORRA!
Embaixo do logo do MIT tinha uma linha no mesmo tom de vermelho e bem depois:
“ Brown
Olá, Brown,
Parabéns! Você foi aceita como aluna de graduação no Verão. Nossa orientação no campus começa a partir de Agosto e as aulas começam em Setembro. Mais detalhes sobre os eventos no campus serão enviados nas datas mais próximas do início das aulas.”
Meu rosto estava tomado de lágrimas, eu não consegui segurar. Assim que terminou de ler, as suas últimas palavras foram aos gritos.
— ELES VÃO TE MANDAR MAIS INFORMAÇÕES!
Pulei nos braços dela, sem saber se poderia ou não machucar, eu não me importava. Apenas chorei, e permiti que meu coração se enchesse de felicidade depois de tanta coisa bizarra que aconteceu nesse último ano.
E que ano.
Senti os beijos da minha melhor amiga por todo o meu rosto e ri disso, me afastei lentamente dela e ri.
— Que loucura eu vou pra Boston!
Sai em disparada do meu quarto, abrindo a porta e descendo as escadas na maior velocidade que consegui.
— PAI! — gritei.
Não o encontrei na sala, com o cenho franzido, e meu coração na boca, fui até a parte externa da casa e lá estava ele lavando aquela camionete.
— PAI!
Ele parou o que estava fazendo imediatamente, me olhou com os olhos arregalados e eu me aproximei dele, já me jogando em seus braços.
— Pai, eu fui aceita no MIT, em Boston! — murmurei contra o seu pescoço.
— ! — meu pai me abraçou de volta, ele era de poucas palavras, mas eu sabia o que estava sentindo, por isso sorri e senti lágrimas rolarem pelo meu rosto na mesma hora.
Senti um beijo na minha testa e ri disso, quando nos afastamos, notei seus olhos vermelhos.
— Hoje vamos jantar no Black + Blue. Você merece. E pode chamar a .
Concordei com um sorriso sincero, e realmente feliz nos lábios.
— Perfeito, pai. Obrigada.
Voltei pra dentro em passos ligeiros, cheguei no quarto, fechando a porta e dei a notícia a , a ouvi falar que teria que sair com os pais e fiz um bico, no entanto, ela disse que estava brincando e eu a derrubei na cama e comecei a bater naquele ser com um dos meus travesseiros.
A minha vida estava de cabeça pra baixo e do nada voltava ao normal. Aos poucos.
Um mês depois foi a nossa formatura, em um local aberto da nossa enorme escola, foram colocadas várias cadeiras para os convidados, e formandos, no gramado e um tablado a frente.
Os detalhes eram todos em azul e branco, a cor da nossa escola, mas particularmente achei tudo lindo e uma nostalgia de despedida se instalava em meu peito.
Chorei colocando o vestido, passando maquiagem, no carro com o meu pai, antes de chegar, quando chamaram meu nome pra que eu pegasse o diploma e tirando fotos com os meus amigos.
— Eu tô muito orgulhoso de você, sabia? — meu pai me dava um abraço carinhoso e eu ri disso.
— Obrigada. É muito importante pra mim.
Notei meu pai erguer o olhar, mas me olhar logo depois, ele me acariciou no rosto e disse um “Te vejo depois” baixinho. Então eu me virei, e vi .
Meu coração palpitou assim que coloquei os olhos nele, umedeci meus lábios e tentei analisar as suas feições.
— Parabéns pelo MIT, . Você é realmente... Incrível. — ele soltou uma risada nasalada.
— Obrigada. — respondi simplesmente.
Por mais que meu coração estivesse batendo fortemente naquele momento, tudo que eu já senti não existia mais, todo aquele sofrimento de pensar em vê-lo, ou falar com ele, tudo havia sido deixado pra trás como um carro ultrapassado por outro em alta velocidade.
— Sabe, por muitas vezes eu pensei nas coisas que você falou. — comecei a falar e vi que ele tinha uma expressão confusa. — Eu errei e fui culpada por tudo, mas você me tratou como um monstro, e isso sei que não sou.
Passei a língua pelo lábio superior tentando me controlar.
— Eu mudei, mas por mais que doesse, mudei por mim, pois é o que mais importa. Eu. E você não soube entender isso e naquela época eu não entendia que era sim o melhor pra mim.
Sorri rapidamente sabendo que tinha que colocar um ponto final.
— E agora eu vou fazer a faculdade dos meus sonhos. Vou cursar Engenharia Nuclear. Saiba que você me fez muito feliz, mas os dias que passou me odiando... — neguei com a cabeça e suspirei pesadamente.
O olhei pela última vez, sabendo que aquela seria realmente a última vez que nos veríamos e sorri fraco, já dando as costas e no instante em que fiz isso, senti um peso sair das minhas costas e de longe já vi com o meu pai e os dois pareciam conversar sobre algo muito engraçado.
E corri até eles, corri enquanto deixava de fato tudo pra trás. A partir daquele momento a minha vida seria outra. E eu gostava disso.
Minha mente estava presa em acontecimentos de dias atrás, quando briguei com e ele ficou muito chateado comigo, e com razão. Eu tinha mentido pra ele, uma das piores coisas que uma pessoa pode fazer com outra, pra mim, é a mentira.
Deixei a bolinha cair sobre a minha barriga e me virei, pegando meu celular e abrindo uma conversa com ele, e lá estavam várias mensagens que ele não tinha sequer visualizado.
“Oi”
“Nós podemos conversar?”
“Por favor, deixa eu te ligar?”
“Por favor, Jules?”
Meus olhos começaram a marejar e eu iria chorar novamente, mas me contive. Respirei fundo e tentei ignorar aquele bolo que se formava em minha garganta, deixei o celular de lado, colocando os pés pra fora da cama e saindo dali.
Caminhei pra fora do quarto, notando que era noite e eu nem tinha percebido isso. Passei as mãos pelos olhos, os sentindo cheios de lágrimas, e assim caminhei até a cozinha.
Vi meu pai terminando de jantar e o cumprimentei com um murmúrio.
— Achei que fosse dormir. — o ouvi dizer ao me olhar.
Dei de ombros e fiz um bico ligeiro, abri a geladeira, pegando uma latinha de Coca Cola e assim de abri-la, ouvi uma batida na porta.
— Deixa que eu abro.
Um pingo de esperança brotou em meu peito pensando que poderia ser , então andei até a porta da frente, abrindo ansiosamente e já sentindo meu peito palpitar.
— Ah. Oi.
Era a minha melhor amiga. Não que eu não a amasse, no entanto não era quem eu gostaria de ver agora, tanto que ela percebeu.
— Desculpa. — ela pediu, e eu acabei rindo fraco, mas a minha vontade era de chorar.
Me sentei na escadinha ali, que dava para a calçada e observei a iluminação da rua vendo que estava de fato bem mais tarde do que imaginava.
— Eu só queria saber como você está. — senti ela se sentar ao meu lado.
Respirei fundo pensando em como responderia aquele tipo de pergunta.
— Tô ótima. — respondi com a voz fina.
— Você conseguiu falar com ele?
Neguei com a cabeça e dei um suspiro pesado, tão pesado que meu peito chegou a doer por conta situação.
— As coisas entre vocês vão se acertar. Você vai ver.
Não que eu não acreditasse na minha melhor amiga, todavia, as coisas entre eu e tinham terminado muito mal.
— Obrigada. — murmurei baixinho.
Ficamos algum tempo em silêncio e aquela era a melhor coisa, eu tinha a minha melhor amiga ao meu lado, me apoiando, e ao mesmo tempo, ela não estava enchendo a minha cabeça de coisas.
Era a última coisa que eu precisava naquele momento.
O dia seguinte começou da mesma forma que os anteriores, não tive vontade de levantar da cama, mas precisava, pois já iriamos entrar em recesso de fim de ano. Coloquei uma roupa quente, pegando um cachecol, o cachecol que havia me dado no meu segundo aniversario que passamos juntos, e aquilo já foi motivo para que eu tivesse vontade de chorar.
Droga.
Pela neve estar caindo de forma moderada lá fora, peguei carona com o meu pai, em sua camionete vermelha. Durante todo o trajeto, ele foi falando que ficaria no trabalho o dia inteiro, e provavelmente só voltaria à noite.
— Me liga se precisar de alguma coisa? — Ele me questionou assim que parou em frente a escola.
O olhei e dei o meu melhor sorriso forçado.
— Claro. — Respondi. Eu não ligaria nem se precisasse. — Eu pego o ônibus, tá? Ele para perto de casa, à tarde não vai nevar tanto assim...
Meu pai me deu um beijo na testa e eu fechei os olhos momentaneamente. Sorri fraco, já abrindo a porta da camionete e saindo para o ar frio, assim que isso aconteceu, mesmo com as roupas senti meu corpo tremer. Coloquei o capuz e apressei os meus passos em direção a entrada da escola.
Meus passos foram tão rápidos que acabei escorregando e caindo antes de entrar, resmunguei ao sentir a minha bunda bater em algo gélido e fechei os olhos fazendo uma careta rápida.
— Porra!
Senti alguém me levantar, e não demorei para estar em pé novamente, meu rosto virou imediatamente para a pessoa e eu engoli seco ao ver .
— Valeu. — sussurrei.
Sabia que meu rosto estava levemente corado por conta do frio, e agradecia aos deuses por causa disso, já que pela proximidade dos nossos corpos eu estaria vermelha de vergonha, como sempre ficava.
Ainda senti as mãos dele nos meus braços como se esperasse que eu caísse de novo, então estava de certa forma, me protegendo.
Ficamos nos olhando nos olhos por longos segundos, e reparei que seu corte de cabelo estava diferente do habitual, e aquilo me deu uma saudade gigantesca que fez com que meu peito doesse.
— Não tem problema.
Vi ele se mover para sair de perto de mim e abri a boca pra dizer alguma coisa, no entanto nada saiu. Acabei engolindo seco e tomando coragem.
— Eu sei que foi minha culpa. Por isso te pedi desculpas. — minha voz saiu tremida.
Fechei as mãos cobertas pelas luvas em punho, como se aquilo fosse me dar forças pra continuar falando.
— E eu sei que você me odeia. — meus olhos se encheram de lágrimas instantaneamente.
apenas me olhou e eu pude notar como ele estava quebrado e aquilo tudo era culpa minha. Culpa minha.
Fechei meus olhos, sentindo uma lágrima escorrer ao passo que meu coração palpitava de dor em meu peito.
— Eu preciso que você entenda que depois do que aconteceu nós nunca mais vamos voltar a ser como antes.
Ok. Talvez tivesse sido uma péssima ideia começar aquela conversa com ele.
O sinal tocou, anunciando o início das aulas, e a minha vontade era voltar correndo pra casa.
Concordei com a cabeça para que ele entendesse que ouvi e compreendi a sua fala, engoli seco e mordi a parte de dentro da minha boca.
— A gente se vê.
O vi me dar um aceno com a cabeça e começar a andar pelo corredor, conforme ele se afastava, meu coração se quebrava em mais pedaços, se possível. O cheiro do frio, onde eu estava, era evidente e eu queria ir embora.
Acabei brigando comigo mesma e aceitando ir assistir as aulas, minha primeira era de Biologia, então seria no laboratório no terceiro andar. Apenas me dirigi até lá de corpo, porque a alma já tinha morrido há muito tempo.
Passei boa parte da manhã naquele colégio encarando o relógio da parede de todas as salas de aula, e todos tinham o mesmo problema: os ponteiros se moviam lentamente. Será que estavam estragados? Essa era a minha maior indagação naquele momento.
Os dias foram passando em câmera lenta, era como se todos os ponteiros do mundo estivessem estragados e não se movessem da forma correta. Quando chegou o Natal, fui passar com a família da minha mãe na Califórnia, foi bom sair e pensar em outras coisas, e principalmente estar longe de tudo que havia acontecido.
O frio de Vancouver também não me deixava com muitas saudades da cidade.
Voltei pra casa no fim de Janeiro, que foi quando as aulas voltaram, e com ela: o frio, a neve, o vento e a sensação de que nada de bom acontecia. Tentei por várias noites sair com os meus amigos, o que foi bom em algumas, mas em outras tudo que queria era ficar em casa.
Até o dia da formatura a minha vida foi assim, entre deveres da escola, escolher o vestido pro baile, por mais que tivesse zero vontade de ir, e me inscrever nas faculdades que gostaria de estudar.
Por mais que eu amasse o meu pai e a nossa vida a dois, depois que ele se divorciou da minha mãe, não me via morando em Vancouver mais.
Em um fim de tarde de Junho e terminava de fazer as unhas do meu pé, cantarolávamos Shake It Off da Taylor Swift juntas e riamos de algumas partes.
— Tá lindo, vai. — ela disse ao olhar para as unhas que tinha feito, acabei rindo e concordei com a cabeça.
— Ta lindo, vai.
Uma notificação apareceu na tela do meu celular, que estava jogado por ali e eu apenas olhei, quando vi de quem era o e-mail recebido, peguei o aparelho e dei um grito.
— Merda!
Com as mãos completamente tremulas eu abri meu e-mail e lá estava ele.
— ! Leia! — pedi, séria. Entreguei o celular nas mãos dela.
Ela me olhou com o cenho franzido, e eu mexi a mão para que ela lesse ligeiramente. Poderia ser uma carta de recusa ou uma carta de aceitação.
- É UM E-MAIL DO MIT, TINE! — ouvi o grito dela.
Balancei a cabeça positivamente e me sentindo muito feliz pela primeira vez há tempos, no entanto, aquilo poderá dar muito ruim.
— LÊ LOGO, PORRA!
Embaixo do logo do MIT tinha uma linha no mesmo tom de vermelho e bem depois:
“ Brown
Olá, Brown,
Parabéns! Você foi aceita como aluna de graduação no Verão. Nossa orientação no campus começa a partir de Agosto e as aulas começam em Setembro. Mais detalhes sobre os eventos no campus serão enviados nas datas mais próximas do início das aulas.”
Meu rosto estava tomado de lágrimas, eu não consegui segurar. Assim que terminou de ler, as suas últimas palavras foram aos gritos.
— ELES VÃO TE MANDAR MAIS INFORMAÇÕES!
Pulei nos braços dela, sem saber se poderia ou não machucar, eu não me importava. Apenas chorei, e permiti que meu coração se enchesse de felicidade depois de tanta coisa bizarra que aconteceu nesse último ano.
E que ano.
Senti os beijos da minha melhor amiga por todo o meu rosto e ri disso, me afastei lentamente dela e ri.
— Que loucura eu vou pra Boston!
Sai em disparada do meu quarto, abrindo a porta e descendo as escadas na maior velocidade que consegui.
— PAI! — gritei.
Não o encontrei na sala, com o cenho franzido, e meu coração na boca, fui até a parte externa da casa e lá estava ele lavando aquela camionete.
— PAI!
Ele parou o que estava fazendo imediatamente, me olhou com os olhos arregalados e eu me aproximei dele, já me jogando em seus braços.
— Pai, eu fui aceita no MIT, em Boston! — murmurei contra o seu pescoço.
— ! — meu pai me abraçou de volta, ele era de poucas palavras, mas eu sabia o que estava sentindo, por isso sorri e senti lágrimas rolarem pelo meu rosto na mesma hora.
Senti um beijo na minha testa e ri disso, quando nos afastamos, notei seus olhos vermelhos.
— Hoje vamos jantar no Black + Blue. Você merece. E pode chamar a .
Concordei com um sorriso sincero, e realmente feliz nos lábios.
— Perfeito, pai. Obrigada.
Voltei pra dentro em passos ligeiros, cheguei no quarto, fechando a porta e dei a notícia a , a ouvi falar que teria que sair com os pais e fiz um bico, no entanto, ela disse que estava brincando e eu a derrubei na cama e comecei a bater naquele ser com um dos meus travesseiros.
A minha vida estava de cabeça pra baixo e do nada voltava ao normal. Aos poucos.
Um mês depois foi a nossa formatura, em um local aberto da nossa enorme escola, foram colocadas várias cadeiras para os convidados, e formandos, no gramado e um tablado a frente.
Os detalhes eram todos em azul e branco, a cor da nossa escola, mas particularmente achei tudo lindo e uma nostalgia de despedida se instalava em meu peito.
Chorei colocando o vestido, passando maquiagem, no carro com o meu pai, antes de chegar, quando chamaram meu nome pra que eu pegasse o diploma e tirando fotos com os meus amigos.
— Eu tô muito orgulhoso de você, sabia? — meu pai me dava um abraço carinhoso e eu ri disso.
— Obrigada. É muito importante pra mim.
Notei meu pai erguer o olhar, mas me olhar logo depois, ele me acariciou no rosto e disse um “Te vejo depois” baixinho. Então eu me virei, e vi .
Meu coração palpitou assim que coloquei os olhos nele, umedeci meus lábios e tentei analisar as suas feições.
— Parabéns pelo MIT, . Você é realmente... Incrível. — ele soltou uma risada nasalada.
— Obrigada. — respondi simplesmente.
Por mais que meu coração estivesse batendo fortemente naquele momento, tudo que eu já senti não existia mais, todo aquele sofrimento de pensar em vê-lo, ou falar com ele, tudo havia sido deixado pra trás como um carro ultrapassado por outro em alta velocidade.
— Sabe, por muitas vezes eu pensei nas coisas que você falou. — comecei a falar e vi que ele tinha uma expressão confusa. — Eu errei e fui culpada por tudo, mas você me tratou como um monstro, e isso sei que não sou.
Passei a língua pelo lábio superior tentando me controlar.
— Eu mudei, mas por mais que doesse, mudei por mim, pois é o que mais importa. Eu. E você não soube entender isso e naquela época eu não entendia que era sim o melhor pra mim.
Sorri rapidamente sabendo que tinha que colocar um ponto final.
— E agora eu vou fazer a faculdade dos meus sonhos. Vou cursar Engenharia Nuclear. Saiba que você me fez muito feliz, mas os dias que passou me odiando... — neguei com a cabeça e suspirei pesadamente.
O olhei pela última vez, sabendo que aquela seria realmente a última vez que nos veríamos e sorri fraco, já dando as costas e no instante em que fiz isso, senti um peso sair das minhas costas e de longe já vi com o meu pai e os dois pareciam conversar sobre algo muito engraçado.
E corri até eles, corri enquanto deixava de fato tudo pra trás. A partir daquele momento a minha vida seria outra. E eu gostava disso.