Julho de 2014

— Ansiosa para a faculdade? — foi o primeiro a quebrar o silêncio.
— Talvez. — voltou a ficar em silêncio, o que não era nada normal para uma pessoa como ela. sabia muito bem, os quase 12 anos convivendo com ela deixava isso bem claro.
— Ei, o que aconteceu? — Seu tom carinhoso fez com que fechasse os olhos, tentando guardar aquele momento na sua memória.
— Não é nada, sério. — Ela forçou um sorriso, quando virou o rosto rapidamente para encarar os olhos de seu melhor amigo. E, naquele momento, sabia que tinha cometido um erro.
— Todos esses anos, e você ainda tenta mentir para mim, . — Ela deu de ombros, tentando não se importar com a fala do garoto. Mas seus sentimentos diziam o contrário.
— Só vai ser estranho não ter você lá. Acho que essa é a parte mais difícil.
e eram melhores amigos desde a infância, mas não estavam prontos para o balde de água fria que a realidade despejou quando chegou o momento de ambos irem para a faculdade. Era hora de começar uma nova etapa de suas vidas e trilhar novos caminhos.
Tentando arrastar cada vez mais o momento da despedida, os dois aproveitavam para olhar as estrelas, naquela noite de verão, no terraço da casa de . A última vez que estavam fazendo aquilo, mas odiava pensar que seria a última vez, como se num futuro, eles não fossem se reencontrar. Para ele, sempre seria uma parte de sua vida, e não importava o tempo que ficassem longe, um dia eles voltariam a se reencontrar.
— Você sabe que será para sempre meu melhor amigo, não sabe? — disse, enquanto observava as estrelas ao lado de .
— Eu sei, e você também. Espero que nunca esqueça disso. — segurou com delicadeza a mão de sua amiga, fazendo um carinho enquanto aproveitavam aquelas últimas horas. — Espera aqui um pouco.
levantou-se rapidamente e voltou para o seu quarto, deixando uma curiosa no terraço. Não demorou muito para que o garoto voltasse para o lugar de antes com uma pequena caixa em mãos. abriu a pequena caixa com delicadeza, arregalando os olhos com a pequena gargantilha que encontrou na caixa.
— , não vai me dizer que gastou suas economias com isso? — Ela sussurrou, surpresa. Não queria gritar com medo de que os pais do amigo a ouvissem e o xingassem depois.
— Não foi nada. Quero que você tenha uma lembrança de mim. — Ele sorriu, pegando a corrente e colocando em volta do pescoço de .
— Acho que você esqueceu das centenas de fotos que temos juntos, das várias histórias que temos para contar para quem quiser ouvir e algumas cicatrizes espalhadas por nossos corpos, essas aí renderam boas histórias. — disse entre risos, fazendo gargalhar e concordar com a amiga.
— Nossos pais não ficaram tão felizes assim, mas você tem um ponto. — Ele terminou de colocar o colar e puxou o corpo de junto ao seu, abraçando a amiga pela cintura. — Vou sentir sua falta.
— Eu também. — Ela disse, deixando a cabeça descansar no peito de e aproveitando as últimas horas ao lado de seu melhor amigo.


Fevereiro de 2019

apertou o casaco grosso no corpo, tentando escapar dos flocos de neve e do vento gélido em seu rosto, totalmente em vão. Ela odiava o inverno, ainda mais quando precisava sair de casa para trabalhar. Quando adentrou o grande prédio da editora em que trabalhava, pôde respirar aliviada e esquentar seu corpo com o ar quente do local.
— ! — Ouviu Clarice gritar seu nome, carregando dois copos de café fumegantes. — Meu Deus, que cara é essa? — A morena lhe entregou um copo, e não podia agradecer mais a amiga por conter chocolate quente ao invés do café amargo que, às vezes, era obrigada a engolir para se manter acordada no serviço.
— Acordada até tarde para terminar aquele artigo que a Miranda pediu de última hora. — Clarice revirou os olhos, odiava a chefe, principalmente quando pensava que os funcionários não tinham vida fora da empresa. E, conhecendo o suficiente, ela sabia que a amiga não conseguia dizer não. No ponto de vista de Clarice, era um dos poucos defeitos de .
— Mas se te anima, Miranda logo, logo deixará de ser nossa chefe. Eu espero que o novo editor-chefe seja, no mínimo, gostoso. — A morena dizia com um sorriso no rosto, fazendo gargalhar. Só ela mesmo para ter aquele pensamento.
— Eu espero que tenha vida social, ou que entenda, que nós também temos. Só preciso colocar meu sono em dia e tudo volta a fluir normalmente. — tinha um tom sonhador e sua voz.
— E Skyler, como está? — Enquanto o elevador não chegava no décimo segundo andar, elas tentavam colocar as fofocas naquele pouco espaço de tempo.
— Ah, ótimo. — sorriu, lembrando da filha de cinco anos. — Animada com a escola e tudo mais. Hoje ela vai passar a tarde na casa da minha mãe, então não preciso sair correndo daqui.
— Então isso significa que podemos sair daqui direto para um happy hour? — Clarice não perdia a oportunidade de chamar para sair.
— Isso significa que o happy hour vai ser entre mim e a minha cama. Fica para a próxima, amiga.
A porta do elevador se abriu, mas antes que as duas amigas pudessem se acomodar em suas mesas, Matthew apareceu na frente das duas como um raio.
— Credo, Matt, que susto! — Clarice colocou a mão no peito, como se pudesse controlar seus batimentos cardíacos devido ao susto.
— Desculpa, meninas, mas Miranda quer todo mundo no auditório agora. — As duas se olharam, surpresas. — Eu acho que é sobre o novo editor-chefe, só espero que ele seja gostoso.
— Vocês dois não prestam nenhum pouquinho. — disse rindo, tentando acompanhar a conversa entre os dois amigos ao seu lado.
Assim como Clarice, e Matthew, a maior parte dos funcionários da editora chegavam e já se acomodavam no auditório para a reunião de última hora. Assim que a presença de Miranda subiu no pequeno palco improvisado, as vozes foram diminuindo até ficar em completo silêncio.
— Bom dia a todos. Agora que estão todos em seus lugares, vamos começar a reunião. — Miranda começou a falar, prendendo a atenção de todos. — Eu gostaria de chamar ao palco, , o novo Editor-chefe.
Os olhos de ficaram presos no homem a sua frente, quando escutou aquele nome até achou que seria coincidência, mas a figura do seu melhor amigo de terno e gravata não deixava mentir que era ela estava certa. Ela reconheceria em qualquer lugar que fosse, independente de quanto tempo passasse.
não conseguia prestar atenção em mais nada naquele lugar, estava em cima daquele palco, mas a sua boca apenas se movia, como se não saísse nenhum som capaz de ouvir. Sua mente estava um turbilhão, era impossível voltar ao trabalho depois daquela surpresa.
— Por que ele está te olhando com esse jeito de maluco? — Clarice perguntou baixo, não querendo chamar atenção das pessoas ao seu redor.
— Eu não sei. — mentiu. Apesar de manter uma amizade com Clarice, não mencionara em nenhum momento. Era doloroso pensar que não veria mais o amigo, ainda que compreendesse que a vida dos dois tinham seguido rumos diferentes.
— Bom, de qualquer forma, ele é um gato. — Matthew balançou a cabeça concordando com a fala de Clarice. não julgava os dois, não tinha mudado quase nada, e ele se tornara um homem ainda mais bonito do que lembrava.
O alívio percorreu o corpo de quando a reunião acabou, e ela saiu em disparada daquela sala. Descendo as escadas correndo, não queria correr o risco de pará-la no corredor enquanto esperava o elevador. Ela precisava de ar puro. Fora dos olhos julgadores de seus amigos, acendeu um cigarro e sentou no meio fio do estacionamento. Aquilo era péssimo, ela tinha prometido parar de fumar. Odiava ainda manter aquele hábito, mas não via outra saída quando ficava tão estressada àquele ponto. O sentimento de confusão era tanto, que nem a neve e o frio foram motivo para deixá-la irritada.
— ? — deu um pulo de susto, ela não imaginava ouvir seu apelido dito por ele tão cedo. estava alguns passos de distância de onde estava.
— Eu já vou voltar ao trabalho. — Não queria que ele pensasse que ela estava matando tempo.
— Eu sei que vai, ouvi falar muito bem do quanto você é responsável. Mas não é por isso que estou aqui. — encurtou ainda mais a distância entre os dois. — Como você está?
— Não sei, . Foi uma surpresa e tanto. — Ela balançou a cabeça, tentando organizar seus pensamentos.
— Eu imagino. — Ele concordou. — Eu não consegui contar que estaria voltando. No fundo, achei que você nem estivesse mais aqui.
— Bom, existe muita coisa que você nem imagina sobre a minha vida. — não conseguia esconder nada de , nunca conseguiu. E, agora, mesmo depois de anos longe um do outro, ela sentia que nunca perdeu a confiança no seu melhor amigo. — Seguimos caminhos diferentes, . É uma longa história.
— Acho que agora nós temos todo o tempo do mundo para nos atualizarmos sobre a vida um do outro. Eu não vou a lugar algum, .
As palavras saíam com tanta tranquilidade da boca de que podia ouvi-lo contar sobre a sua vida quantas horas fossem necessárias. A verdade é que ela adoraria fazer isso, mas não sabia como ele ia reagir a tudo que ela tinha para contar. E, além disso, agora tinha a Skyler. não era mais uma adolescente sonhadora que deixou para trás. Ela tinha se tornado uma mãe com várias responsabilidades em suas costas.
— Eu acho… — Ela tentou recusar a oferta, mas não conseguiu. — Acho que podemos conversar. — sorriu, aliviado, esperando que apagasse o cigarro e segue para dentro do prédio ao seu lado.

●

O restante do dia quase se arrastou devido a ansiedade de e a tentativa de Clarice de lhe arrancar qualquer migalha que servisse de informação, o que foi totalmente em vão. Quando o relógio marcou o fim do expediente, não demorou para pegar sua bolsa e seu casaco e sair o mais rápido possível do prédio.
— Não pense que eu não percebi que você anda esquisita, amanhã conversamos melhor. — Clarice deu um beijo no rosto de e a deixou sozinha no estacionamento. não demorou muito para aparecer no local.
— Então, existe algo que eu preciso muito saber antes de te deixar em casa? — abriu a porta do carro para e esperou a amiga se acomodar no banco do carona.
— Na verdade, existe sim. — limpou a mão suada na calça de tanto nervosismo. — Eu tenho uma filha de cinco anos, Skyler. Ela está na minha mãe hoje, então sei não se vai conseguir conhecê-la.
— Tenho certeza de que nos conheceremos muito em breve. Está preparada para ela saber das nossas histórias constrangedoras? — aliviou o clima, fazendo gargalhar.
— Ela só tem cinco anos, por favor. Minha filha é bem mais comportada comparado a mim na idade dela, palavras da minha mãe.
— Eu sinto muito em te informar, mas isso está prestes a mudar. Agora eu estou de volta, linda. — revirou os olhos, ainda rindo, com as palavras do amigo.
O percurso até a casa de foi rápido, principalmente depois que começou a fazer piada e relembrar alguns momentos bobos que os dois passaram juntos.
— Mamãe! — Skyler saiu correndo em direção a mãe, agarrando suas pernas.
— Oi, meu amor. — percebeu a mudança na voz da amiga, e não pôde deixar de admirar a cena. Quando jovens, ele lembrava de dizer várias vezes que não teria filhos tão cedo. Mas, assim como ele, ela também não era mais a pessoa de anos atrás. — Ei, deixa a mamãe te apresentar um amigo.
Os olhos de Skyler se arregalaram quando ela viu parado logo atrás. Sem dizer nenhuma palavra, a menina voltou correndo para a sala de estar da casa, deixando os dois adultos sem saber o que fazer.
— Mamãe, é o menino da foto. — Skyler voltou carregando um retrato em mãos, uma foto tirada antes de sair da cidade. não sabia o que dizer, às vezes, a filha a surpreendia tanto que a deixava sem palavras.
— Quem você acha mais bonito, Skyler? — se abaixou, ficando na mesma altura da menina. Sky colocou a mão no queixo, pensando, olhou da foto para o homem a sua frente e, por fim, deu de ombros.
— Os dois, mas você é mais velho.
— Skyler! — arregalou os olhos, mas não conseguiu ficar séria por muito tempo.
— ? — Lauren, a mãe de apareceu no topo da escada. — Escutei algumas vozes enquanto separava a roupa para o banho de Sky, imag… — ?
A mais velha arregalou os olhos, surpresa por reencontrar o amigo de infância da filha.
— Boa noite, senhora Zucker.
— Ah, para com isso. — Ela abanou a mão, em sinal de que não precisavam daquelas formalidades todas. — É bom te ver de novo. Fico feliz que esteja de volta.
Lauren não esperou para dar-lhe um abraço apertado, sendo retribuído pelo mais novo.
— Acredite em mim, minha filha está muito mais feliz do que aparenta. — ela disse baixo, mas não o suficiente para que não escutasse. — Eu vou indo então, qualquer coisa me liga, . Que bom te ver mais uma vez,
— Mãe! Meu Deus, eu juro que não era para isso estar acontecendo.
— Relaxa, por que você não dá banho na Sky e eu preparo a janta?
— Desde quando você sabe cozinhar, ?
— Pelo visto, você não foi a única que mudou, .
apenas balançou a cabeça, aquela noite estava sendo uma surpresa e tanto para ela. Mas no fundo se sentia feliz por ter de volta na sua vida. O único problema era não saber até quando ele ficaria nela, mesmo que não quisesse pensar naquilo, seu coração acelerava só de pensar numa possível partida. pegou Sky pela mão e a levou até o quarto, pegou a roupa que sua mãe já tinha separado para a menina e a colocou no banho. Skyler era esperta o suficiente e teimava em tomar banho sozinha, as vezes deixava, mas em outros momentos era mais rápido quando ela mesma dava o banho na filha.
— Mamãe, qual o nome do seu amigo? — Skyler perguntou de repente, e podia sentir que ela estava pensando em algo.
— , a mamãe já falou dele para você. — lavava os cabelos da filha enquanto a menina olhava curiosa para a mãe.
— O vai ser meu novo papai? — Mais uma vez, Skyler estava surpreendendo a mãe.
— Sky, é um amigo da mamãe. Eu não sei o que vai acontecer. — Apesar de Skyler ser uma criança de cinco anos, gostava de conversar com a filha. Eram raros os momentos que não contava para a filha o que estava sentindo, apenas quando sabia que determinados assuntos não eram para crianças.
Quando desceu com a filha, as duas já de banho tomado, já tinha terminado o jantar. O macarrão à bolonhesa estava maravilhoso, e Skye não fez birra na hora da janta, querendo até mesmo repetir o prato. Quando os três terminaram de jantar, colocou um desenho animado para a filha assistir na sala, aproveitando para terminar de arrumar a cozinha.
— , para, sério. Você já fez a janta. E nem conseguimos conversar.
— Vamos ter muito tempo para isso. — Ele se encostou no mármore da ilha no meio da cozinha. — Senti sua falta.
puxou o corpo de junto ao seu, sentindo o aroma de morango nos cabelos da mulher. Para era como voltar no tempo e ter a mesma sensação de quando estava nos braços de naquela noite de verão. Ela sentia tanta falta daquilo.
— Eu também senti. Muito. — Ela o apertou forte pela cintura, descansando seu rosto na curva do pescoço de . Depois de muito tempo, sabia que aquele era o seu lugar favorito, mas assim como aquela de anos atrás, a de agora continuava sendo covarde o suficiente para esconder seus sentimentos. separou os corpos o suficiente para olhar nos olhos de .
— Eu sei que não imaginou nosso reencontro desse jeito, mas eu prometo que não vou a lugar algum.
— , você não precisa me prometer nada.
— Eu preciso sim, até porque não pretendo te perder de novo. — O coração de parecia uma escola de samba, mas ela tinha que ser racional. Não podia colocar uma pessoa na vida de Skyler, e se depois essa mesma pessoa fosse partir? Ela poderia suportar um coração partido, mas sua filha não.
— Do que está falando, ? — Sua voz saiu mais baixa, quase trêmula.
— Quando eu fui embora eu já sabia que te amava, mas pensei que não era o melhor momento para contar, e ainda achei que o sentimento fosse mudar ao longo desses anos. Mas quando te vi hoje de manhã, eu sabia que ainda era o mesmo apaixonado pela minha melhor amiga. A diferença é que eu não quero ser só o seu melhor amigo, .
— Eu tenho uma filha agora, . Tenho certeza de que você vai se cansar logo, logo, e não posso deixar que a Sky passe por isso. As coisas já foram complicadas demais com o pai da minha filha.
— Se você me permitir, eu vou ficar ao seu lado, ao lado de vocês, . Não estou aqui para tornar a vida de vocês mais complicada, pelo contrário. E vou fazer isso se você me permitir.
Se tinha uma coisa que sabia fazer era cumprir com suas promessas, e, sinceramente, não conseguia suportar ter longe de novo. Talvez aquele fosse o recomeço que ela precisava, e não deixaria aquela oportunidade escapar.
— Eu não quero você longe das nossas vidas, . — Os olhos dele brilharam em alívio com a resposta de . Poderia parecer loucura, mas eles sabiam que, dessa vez, estavam fazendo a coisa certa.

But it's the last time
The last time that I'm falling
The last time that I'm falling
Till I fall again for you
Fall again for you
Fall again for you

Nota da autora: Sem nota.

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