Última atualização: 22/05/2021

Capítulo Único

olhava para o teto do quarto sem realmente ver muita coisa.
Era sábado à noite, mas ele preferiu trocar qualquer um dos planos sugeridos pelos amigos para ficar em casa. Não estava com cabeça para divertir-se. Na verdade, havia dias desde que não tinha cabeça para nada que não fosse perder-se nos próprios pensamentos.
Respirou fundo, suspirando ao soltar o ar. Piscou com força mas, mesmo assim, seus olhos não podiam ver nada. É que já era tarde da noite e ele estava com as luzes todas apagadas.
Tentou até mesmo colocar uma música calma para tocar, tinha lido em algum lugar que isso ajudava a relaxar e a cair no sono, mas ele logo descobriu que era tudo balela. Aparentemente, nada conseguia ajudá-lo a dormir e as olheiras embaixo dos olhos eram a maior prova disso.
Seu celular estava jogado em cima da cama, virado para baixo. A frustração de abrir a caixa de mensagens e não encontrar nenhuma nova de uma certa pessoa estava tirando-lhe a tranquilidade.
– Não é possível que ela já esteja dormindo. – Sussurrou para si mesmo.
Tateou a cama até encontrar o aparelho. Desbloqueou a tela e voltou a abrir o aplicativo de mensagens. Abriu a conversa com , apenas para constatar o que já sabia: nenhuma mensagem nova. Havia vinte e sete dias desde que não tinha uma só mensagem nova dela. Uma ligação, um sinal de vida, nada.
O dedo foi imediatamente para o botão que ligaria para a mulher, mas parou no caminho. não faria isso, afinal, se quisesse falar com ele, ela mesma teria encontrado em contato antes. Até porque foi quem tomou a iniciativa de terminar com o que eles tinham. Então não era quem deveria ir atrás da mulher, certo?
Errado.
Porque sabia – lá no fundo, ele sabia – que, se havia colocado um ponto final no que eles tinham, ela o fizera por culpa dele.
– Ah, por que você tem que ser assim, ? – Perguntou para si, mesmo já sabendo a resposta.
era orgulhoso demais e esse orgulho exacerbado o fizera chegar até ali, sozinho, em um sábado à noite, pensando onde estaria e, pior, com quem estaria.
Um calafrio passou pela sua espinha. Não gostava nem de pensar nisso.
Entrou no aplicativo do Instagram, temendo arrepender-se com o que poderia encontrar, mas a verdade é que surpreendeu-se ao ver que acabara de postar uma foto nos stories.
– Minhas costas ainda doem do dia que ajudei a trocar esses móveis de lugar. – Comentou baixinho.
conhecia muito bem o lugar da foto, o que significava que estava em casa. E a julgar pela garrafa de vinho tinto e taça solitária em cima da mesa, estava sozinha.
Aquilo o fez sentar na cama, tão rápido que as costas estralaram. Uma ideia lhe ocorreu – não que ele já não tivesse pensado na hipótese antes mas, naquela noite, pensou que ir até a casa dela, mesmo depois de falar que não queria vê-lo novamente, pudesse ser uma boa.
Quer dizer, eles já haviam discutido outras vezes, já tinham "terminado" outras vezes, e sempre voltava para ele, então não tinha por que ser diferente daquela vez, certo?
Errado de novo. Porque, em todas as vezes que dizia não querer continuar com ele, era ela mesma quem ligava para depois. E já fazia vinte e sete dias desde que o rapaz não tinha nenhum tipo de notícia dela. E, pensando bem, colocando-se na posição da mulher, agiria da mesma forma.
Talvez não o quisesse de volta. Talvez ela realmente tivesse superado-o. Mas precisava tentar. Não tentar mais uma vez, mas tentar pela primeira vez, já que, além de orgulhoso demais, também era um covarde. E desde que lhe dera as costas, não tinha tido a coragem de procurar por ela.
Suas noites de insônia, contudo, lhe diziam qu,e se quisesse voltar a dormir bem e, de preferência, ao lado de , ele deveria tomar uma atitude e tentar reverter o estrago que causou no que foi, de longe, o melhor relacionamento que já teve.
E tomado por um impulso de coragem, jogou as cobertas para longe e pulou da cama. Nem se importou em colocar uma roupa bonita, apenas jogou um casaco por cima da camiseta que usava e calçou o primeiro par de tênis que encontrou, fazendo combinação com a calça de moletom que colocou mais cedo para dormir.
Enquanto dirigia pelas ruas de Seul, pegou-se pensando em como sua vida tinha chegado até ali. Conhecera por intermédio de um amigo que tinham em comum. O interesse foi mútuo e imediato, mas demoraram um certo tempo até encontrarem-se novamente.
Durante todos os dias que deram-se até, de fato, saírem pela primeira vez, e não deixaram de trocar mensagens um dia sequer, e aquilo criou entre eles uma amizade sem cobranças. As segundas intenções estavam ali, era bem óbvio, mas ambos respeitavam a agenda do outro. Sabiam que, quando finalmente encontrassem-se, valeria a pena. E enquanto isso não acontecia, as conversas até de madrugada eram o suficiente.
era o tipo perigoso de cara que, nas palavras de , "você começa dando risada e, quando vê, já está sem roupa, embaixo dele, na cama". Não que ela reclamasse disso. era uma pessoa extrovertida e uma excelente companhia.
Ele gostava muitíssimo de passar seus dias pensando em para, de noite, encontrá-la "sem-compromisso-nenhum" para falar das peripécias de mais um dia de trabalho.
As coisas não eram complicadas com . Seu relacionamento era muito bem definido: eles não tinham definição, não tinham rótulo. Eram apenas bons amigos que partilhavam de algumas aventuras na cama, e aquilo era divertido.
A verdade é que não percebeu quando as coisas deixaram de ser tão simples para , quando seus encontros casuais e despedidas sem promessas simplesmente passaram a não serem mais o bastante para ela.
– Como pôde ser tão idiota, ? – Questionou-se enquanto pisava no acelerador após o semáforo ficar verde.
chegou a "terminar" com algumas vezes. Ele não gostava de pensar nessa palavra. Ela dizia que não queria continuar encontrando-o daquela forma, que gostaria que coisas entre eles evoluíssem para um outro nível, mas o rapaz sempre ignorava ou, pior, dizia que ela estava confusa. Como poderia terminar com algo que nunca havia começado, afinal de contas?
– Você é um completo idiota, .
De todas as vezes em que dizia que não iria encontrá-lo de novo, foi ela quem o procurou. De todas as vezes em que fazia greve de silêncio em não responder suas mensagens, era também a mulher quem chamava-o ali, no final do dia.
Aquela situação era confortável para ele. Tinha a melhor amiga ali, do seu lado, e ele sabia, sabia, que os movimentos de , de afastar-se dele, não durariam nem mesmo um dia.
Até que tiveram a última conversa há, exatamente, vinte e sete dias.

, hoje vai ser a última vez em que você vai me trazer para casa. – Ela disse.
Ele soltou uma risadinha.
– Finalmente decidiu qual modelo de carro vai querer comprar? – Perguntou, referindo-se às últimas semanas, nas quais acompanhou de concessionária em concessionária para ajudá-la a escolher um bom carro econômico.
– Não me refiro a isso. Digo que não vamos mais sair juntos, então você não terá mais o porquê para me trazer para casa.
A risada dele foi diminuindo até desaparecer por completo.
– O que quer dizer?
– Quero dizer que estou terminando com seja lá o que tenhamos.

apertava os olhos com força todas as vezes em que lembrava desse momento. Porque a sua reação, frente à fala de , foi de rir.
Idiota, idiota, idiota.

– Vai deixar de ser minha amiga, ? – Foi o que ele perguntou.
– Na verdade, vou deixar de te amar. – Ela respondeu.
engoliu em seco. tinha usado a palavra proibida entre eles.
– E se, para deixar de te amar, eu tiver que deixar de ser sua amiga, então sim, vamos parar de nos ver e de conversar.


A pior parte, a pior parte, foi que, por mais que tivesse sentido o peito apertar naquele dia, e tivesse tido noites péssimas desde então, o rapaz nada fez para tentar convencer a mudar de ideia. Ele não tentou convencê-la a ficar, não tentou convencê-la a voltar, porque acreditava que não precisava.
tinha certeza de duas coisas: a primeira, que voltaria para ele, como sempre fazia, mais cedo ou mais tarde; e a segunda, que ainda que não quisesse vê-lo novamente, em nada aquilo mudaria na sua vida, pois , até aquele momento, não tinha percebido que o relacionamento deles também tinha deixado de ser tão simples para ele próprio.
Foi realmente bastante irônico quando finalmente deu-se conta. Quando deu-se conta de que, quando conseguia cair no sono, ia conversar com ele nos seus sonhos. E quando não conseguia pregar os olhos, seus pensamentos ficavam presos nela.
Durante o dia, enquanto precisava concentrar-se no trabalho, enquanto buscava inspiração para fazer letras de músicas belíssimas, era em que ele pensava. Quando estava com amigos, questionava-se onde a mulher estaria.
Chegou a escrever dezenas de mensagens, mas todas foram apagadas antes de serem enviadas. Quis ligar para ela incontáveis vezes, mas nunca teve coragem para isso, porque além de covarde e de ter medo de ser rejeitado por ela, tinha vergonha de admitir que demorara tanto tempo para perceber o sentimento que nutria por . O ego e a falta de coragem se tornaram os piores inimigos de .
E enquanto estacionava em frente ao prédio de e desligava o motor do carro, perguntava-se qual deveria ser o próximo passo. Quer dizer, demorou tanto tempo para dar-se conta dos seus sentimentos pela mulher, deixou-a esperando por tantos dias que já nem sabia se merecia uma segunda chance. Mas ele precisava tentar, certo?
– E se ela não atender?
Era uma possibilidade, uma possibilidade altíssima.
– Bem, não tem como as coisas ficarem piores do que já estão.
E tentando acreditar que o universo pudesse estar do seu lado naquela noite, foi até o inferno e tocou o número treze. Ouviu o eletrônico tocar uma, duas, três, quatro vezes, até desligar. Deu alguns passos para trás apenas para confirmar que as luzes no apartamento de ainda estavam acesas, e então voltou a apertar o número treze. Ela atendeu no segundo toque.
– Sim?
abriu a boca, mas nada saiu de lá. também não falou nada do outro lado, já que, com certeza, estava vendo-o pela câmera do interfone.
– O que está fazendo aqui?
Ele precisou limpar a garganta.
– Eu… Eu queria te ver. E conversar com você, é importante.
ficou alguns segundos esperando pela resposta de , e quando essa não veio, tentou chamar sua atenção novamente.
? Ola-á?
Foram preciso alguns minutos para perceber que o clima esfriando lá fora significava que o tempo estava passando e não iria lhe responder mais, já que tinha desligado.
Chutou o ar, colocou as mãos dentro dos bolsos da calça e voltou para o carro cabisbaixo.
Não podia dizer que estava surpreso, afinal, já imaginava que poderia ser recepcionado dessa forma – ou, melhor dizendo, que poderia não ser recepcionado por ela. Ele merecia isso, afinal de contas. Mas estava decepcionado, isso era bem verdade.
Bateu a porta do carro e levou as mãos no rosto, esfregando os olhos.
– Que grande perda de tempo. – Jogou a cabeça para trás, permanecendo de olhos fechados.
Mas o que você esperava, ? Que viesse correndo para os seus braços?
Buscou pelo celular no bolso de trás da calça, pronto para ligar para algum de seus amigos para perguntar se os convites de mais cedo ainda estavam de pé, afinal, tudo o que ele queria, no momento, era esquecer o papel patético que acabara de fazer. Mal teve tempo de apertar o botão da discagem, contudo. Tomou um susto ao ver a porta do passageiro abrir, mas foi a imagem de entrando no carro que fez com que ele ficasse sem palavras, com o celular a caminho do ouvido.
usava um sobretudo escuro e terminava de ajeitar o cabelo quando virou para ele. E como se não fizesse dias que eles não se viam, como se entrada dela tivesse sido perfeitamente combinada, a mulher perguntou:
– E então, o que tem para me falar?
estaria mentindo se dissesse que não sentiu o queixo cair.
O que estava acontecendo ali?
– Hm… Oi?
cruzou os braços na frente do corpo.
– Você fez eu sair de casa, em uma noite fria de outono, para dizer oi?
sentiu a boca abrir e fechar algumas vezes, sem sair som algum dali.
– Certo, se não tem nada para falar, então eu vou voltar…
– Não! Espera!
Ela mal tinha feito menção de abrir a porta do carro, mas isso pareceu ser o bastante para despertar .
estava ali, pronta para ouvir o que quer que ele tivesse a dizer, e isso era tudo o que queria, certo?
Pela primeira vez naquela noite, sim, estava certo.
– Certo, como eu deveria dizer isso?
Pensou rapidamente no que tinha preparado para falar para quando visse-a, mas aí lembrou de que não havia preparado nada para dizer, porque nem mesmo sabia se a mulher lhe daria uma chance para tanto. Mas ele costumava ser bom com as palavras, então talvez, só talvez, ele não estivesse tão em apuros assim.
– Eu senti a sua falta. – Começou. – Muita. E mesmo sabendo que você não queria me ver, pensei em arriscar e tentar te encontrar.
levou a cabeça até o encosto do banco.
– Bem, eu estou aqui.
– E eu também. – Ele respondeu. – Eu estou aqui, de verdade. E, diferente de como era antes, não quero mais me enganar quanto ao que sinto por você.
prendeu a respiração.
– Este coração é seu, . – Ele disse, levando a mão ao peito. – Eu falo sério quando digo que, no fundo, meu coração sempre foi seu, eu só não sabia disso antes.
Esperou por alguns segundos, e quando falou, tinha um tom de repreensão na voz.
– Demorou um pouco para perceber, né?
fez cara de culpado.
– Me desculpe por te fazer esperar. Essa palavra chamada amor é intensa demais. Confesso que me assustei com a ideia de estar apaixonado por alguém, mas a surpresa passou rápido. Agora, eu só quero ficar contigo, te abraçar e dizer tudo o que eu sinto, sem medo. Isso, é claro, se você me aceitar de volta.
ergueu as sobrancelhas.
– Eu preciso ter certeza de que isso não é da boca para fora. Não podemos ficar nesse vai e vem, .
– Não é! Eu digo, de verdade, que não é. Eu estou dentro, . Porque para mim, é só você. O que eu sinto é só por você. O que eu faço, o que eu penso, o que eu escrevo… É sempre para você. – Disse, fazendo menção às últimas músicas que escreveu, tomando por inspiração os momentos que passava com a mulher. – É só você, .
Talvez tivesse outras palavras que ele poderia usar para expressar o que sentia mas, naquele momento, tendo na sua frente, ele mal conseguia pensar direito. Seu coração batia tão rápido que o rapaz achou que poderia sair do peito a qualquer momento, especialmente enquanto esperava por uma resposta dela.
A mulher encostou no banco e sentou de frente para ele.
– Você sabe que podia só ter me ligado, não sabe? Hoje é uma das noites mais frias do ano, por Deus, !
E completamente surpreso com a escolha de palavras dela, por não estar esperando receber esse tipo de resposta, começou a rir.
– Achei que você não atenderia a minha ligação.
Ela deu de ombros.
– E achou certo, eu não iria atender mesmo. Você deu sorte que sou curiosa e desci para falar com você.
E então começou a rir junto dele, porque apesar do clima do lado de fora estar muito frio, o clima dentro do carro estava leve, como há muito não era. Porque eles sabiam que as coisas não iriam voltar a ser como antes mas, ainda assim, estavam prontos para começarem uma nova história, uma muito melhor do que a que estavam vivendo.
Sabendo disso, o convidou para subir, o que prontamente aceitou. E de mãos dadas, foram continuar sua conversa no quentinho do apartamento dela, para depois colocarem fim à saudade que estavam deles.


Fim.



Nota da autora: "Oi, oi, gente! A fanfic está curtinha, mas foi escrita com muito carinho <3 Esse ficstape está mais do que perfeito, então espero que vocês estejam gostando das fanfics! Deixem um comentário cheio de amor e indiquem a fanfic para as amigas <3
Beijos de luz
Angel"





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