Capítulo Único
Por muitos e muitos anos, o garoto dentro do homem adormeceu. Era e continuava sendo normal que isso acontecesse quando a vida nos bate de forma brusca por muito tempo.
E foi isso que aconteceu com , o garoto esperançoso e cheio de vida, que perdeu-se dentro de si mesmo. Mas não mal interprete, ele não se tornou o tipo de pessoa ruim que nós vemos hoje em dia. Ele apenas deixou de acreditar em si e no universo ao seu redor, mesmo que a vida lhe desse centenas, milhões ou bilhões… Não seria suficiente. Não por egoísmo, mas sim porque aquilo não lhe traria sua felicidade ou seu “eu” para si outra vez.
Foi por isso mesmo que o universo decidiu ajudar, pois, a falta que o homem sentia de si mesmo era algo absurdamente doloroso, tanto para ele, quanto para quem o visse.
Mas havia esperança.
— Tio, ? — a criança de no máximo 8 anos chamou pelo seu apelido, puxando a barra da manga de seu terno, tirando a atenção que o homem, que tinha se perdido em seus pensamentos enquanto olhava para o fogo da lareira a sua frente.
— Huh? — ele respondeu, direcionando o olhar ao mais novo.
— O que você pediu? — a criança perguntou, sorrindo e olhando para as meias penduradas na lareira. sorriu e se abaixou para pegar o garoto no colo.
A tradição da família a respeito das meias de natal havia mudado depois que o próprio , quando era criança, insistiu que deveria deixar uma cartinha em sua meia de natal. O menino explicou que deveria deixar a cartinha porque não queria brinquedos, ele queria fazer desejos. Ele sabia que “papai noel” não era o gênio de Aladdin, mas ainda sim tentou, mesmo que na época não entendesse muito bem qual era o propósito daquilo, decidiu que gostaria de algo diferente.
— é o primeiro a protestar em dizer o que pediu quando se trata de seus desejos, mas está curioso sobre o que eu pedi? — disse rindo e apertando com delicadeza uma das bochechas do menor — Pois bem, eu te digo o que eu pedi se você me contar o que você, pediu. — arqueou uma das sobrancelhas, sorrindo em seguida — Esse será nosso segredo, o que você acha?
O mais novo respirou fundo e analisou a proposta. Poderia ser pequeno mas era inteligente e sabia quando seria favorável para si ou não.
— Certo! — o garotinho disse — Mas não podemos em hipótese alguma dizer a outras pessoas.
— Você não confia no seu tio, garoto? — perguntou, rindo e fazendo cócegas no garoto, que ria desesperadamente.
— Confio — disse em meio a risos. — Eu apenas… — ele respirou fundo depois que o mais velho parou — Escute, não pedi nada para mim, então pode ser que mamãe e papai fiquem com ciúmes quando descubram isso.
— Você não pediu nada para você? — perguntou, curioso, colocando o garoto no chão mais uma vez — Para quem pediu?
— Não! — o mais novo respondeu, sorrindo e segurando sua cartinha, que estava dentro da meia de cor verde e azul que ele mesmo havia escolhido — Eu pedi por…— hesitou em dizer — Tio ! — ele olhou desconfiado para o mais velho — Eu perguntei primeiro!
— Está bem, está bem — respondeu , rindo — Por que não pegamos uns doces escondido da sua mãe e vamos ao terraço? Eu te contarei uma história.
— Vamos! — o garotinho bateu palmas, animado, puxando o tio pelas escadas depois de encherem os bolsos de doces.
Caminharam pela enorme casa que viviam e subiram até um dos quartos, mais precisamente o de , que tinha saída para o terraço da casa.
— Okay, estamos prontos? — perguntou, terminando de se acomodar.
— Sim! — respondeu, se aconchegando em seu cobertor.
— Então, aqui vamos nós — disse, respirando fundo e logo após soltando um sorriso terno para o garoto — Meu pedido de natal é o mesmo todo ano — começou explicando — Eu peço por uma estrela cadente que uma vez apareceu em minha vida e se foi na mesma velocidade.
— Uma estrela cadente? — o garoto perguntou curioso.
balançou a cabeça positivamente e riu da careta que o garoto fez, podia ser visto a confusão em sua cabeça através dela.
— Você gostaria de escutar uma história, Eun? — o mais velho perguntou, com o olhar perdido na imensidão do céu, mas ainda assim, pôde ver de canto de olho que o garoto assentiu — Hm, por onde começamos?
— Pelo começo! — o garoto brincou.
— Muito bem, comecemos pelo começo, você está pronto? — ele perguntou e o garoto assentiu mais uma vez — Nós vamos começar com a história de um garotinho e sua própria estrela na terra.
Flashback
24/12/2006
Em um breve lapso de tempo, os olhos de se fecharam. Naquela noite, mesmo ansioso e já com uma idade avançada para acreditar, sempre teve e manteve seu espírito natalino muito forte. Sempre acreditou que ficar acordado na véspera de natal o traria algo extraordinário, por isso sempre fazia isso com gosto. Quando abriu os olhos, percebeu que continuava deitado no sofá da sala de sua casa. Abriu os olhos com o sol que tocou suas pálpebras trazendo um incômodo e reclamou brevemente.
Era 25 de Dezembro, estava chateado porque havia dormido, mas ainda assim feliz que seu feriado favorito do ano havia chegado.
— ! — escutou ser chamado e se levantou depressa, chegando ao quarto de seus pais — Seu pai e eu temos que trabalhar hoje, você não se importa se deixarmos a abertura dos presentes para a hora do jantar, certo?
— Por que você não vai àquele parque por um tempinho? — o pai disse enquanto arrumava a gravata no espelho — Tenho uma reunião importante em casa hoje e não posso ser incomodado.
— Ele mal o vê e quando você está em casa, ele é obrigado a sair? — a mãe murmurou baixo.
— O que você disse? — pai parou imediatamente o que fazia e olhou para a mulher, que tinha a resposta na ponta de sua língua.
— Eu vou! — disse, rapidamente fingindo um sorriso — Não se preocupem, vou encontrar alguns amigos da escola, combinamos e eu esqueci de pedir a vocês.
— Menos mal, é bom ver meu filho finalmente ter amigos de sua idade — o homem disse, se referindo aos amigos que tinha antes de se mudarem de cidade. J, Min, SJ, N, H e Y eram seus amigos de coração e nunca os esqueceria, haviam prometido uns aos outros que, quando crescessem, se encontrariam e continuariam a jornada que começaram juntos — Aqueles seus amigos não tinham muito futuro, sabe? Você precisa de amigos com o mesmo status que você.
O fato é que até os 8 anos sua vida não era assim, muito menos seus pais.
Eram uma família unida e sem problemas que apoiavam sempre uns aos outros. Quando o pai começou a ganhar dinheiro com seus negócios antes falidos e a mãe arranjou amigas Socialites, que eram independentes e tinham seus clubes aleatórios, que não tinha a menor ideia do que seria, tudo mudou.
— Claro! — o garoto respondeu com um sorriso falso no rosto.
***
Não muito tempo depois, se sentou no balanço do parquinho em meio à neve de dezembro que caia. Há muito tempo seus pais não tinham mais tempo para se preocuparem consigo. De aqui, percebemos como tudo de pouco desmoronou, talvez não do lado de fora, mas dentro de si.
— Está nevando! — ele escutou um gritinho baixo e animado.
— Senhorita! — outro grito, chamando seja quem fosse, pareceu desesperado — A senhorita não pode estar aqui fora!
— Olhe, ! — os olhos de pousaram em uma garotinha branca, quase da cor da neve, com os lábios arroxeados, talvez pelo frio, já que era possível ver que não trazia suficiente agasalho para o frio que fazia — O meu desejo de natal se realizou!
— Senhorita, para dentro, por favor! — a babá disse quase tendo um ataque — Se não vai entrar, ao menos coloque um agasalho mais grosso.
— Agora sim você falou a coisa certa! — ela disse, sorrindo sapeca, o que fez com que risse um pouco alto demais — Não se pode deixar passar um dia como esse — balançou a cabeça positivamente, olhando para o chão, sem saber que a garota o observava depois de ouvir sua risada.
— Viu, ele concorda! — O garoto levantou a cabeça rapidamente e a olhou assustado por ter sido pego escutando a conversa das duas.
— , você irá assustá-lo com sua forma nada sutil de ser — a babá disse, ajeitando o casaco no corpo da garotinha.
— Ele não parece assustado — ela disso e a babá a olhou desconfiada — Talvez um pouco?
A garotinha andou em direção a sorrindo, a cena foi rápida mas pareceram séculos para ele. Ele pensou, naquele momento, o quão angelical — apesar de sua aparência doente e fraca — ela parecia ser.
— Onde estão seus amigos? O que você está fazendo aqui fora sozinho? Você mora por aqui? Eu não lembro de ter te visto pela janela do meu quarto — eram muitas perguntas ao mesmo tempo, sentiu que poderia pifar naquele momento. Desde que chegou, não havia feito amigos e passava a maior parte do seu tempo em sua casa.
— Uma pergunta de cada vez, ! — a pequena revirou os olhos rindo.
— Você também veio de outra galáxia? — ela perguntou baixinho, como se fosse contar um segredo para que a babá não escutasse.
— Eu o quê? — ele perguntou, confuso.
— Provavelmente não — ela riu baixinho, se sentando normal no balanço — Mamãe diz que eu sou como uma estrela cadente, apenas de passagem na terra.
— Mas estrelas cadentes caem e…— tinha um conhecimento muito amplo sobre as estrelas, desde sempre gostou de observá-las. Quando seu pai lhe deu um telescópio, foi quase o dia mais feliz de sua vida.
— Eu sei! — ela respondeu rápido — Somos realmente parecidas. Talvez você tenha uma galáxia prateada, eu vejo a minha todos os dias no momento em que o dia cai e as estrelas aparecem junto à lua.
— Eu não conheço essa — ele disse, a olhando diretamente pela primeira vez.
— É porque você não a está vendo da forma certa! — ela disse, sorrindo para os pés, que brincavam com a neve.
— E como seria a “forma certa”? — perguntou curioso.
— Você precisa acreditar primeiro! — ela então o olhou e ele pôde sentir, no fundo de seu coração e no brilho dos olhos da garota, a forte sensação de conhecê-la há mais tempo do que imaginava.
30/12/2006
— , chegou! — a mãe da garotinha gritou das escadas, ouvindo passos animados descerem os degraus rapidamente.
— Você veio! — ela disse, animada — Feliz aniversário!
A garotinha o abraçou forte e a mãe sorriu triste, se sentindo cruel por permitir que o garoto passasse por aquilo tão cedo. , pelo contrário, sabia das condições de , pois havia sido avisado pela babá — ela não queria que o garoto tivesse problemas, e ? Já estava acostumada a viver sem pessoas ao seu redor desde que ficou doente.
— Você é a única pessoa com quem eu realmente queria estar no meu aniversário! — ele disse, abraçando-a de volta. Poderia não parecer muito, mas em cinco dias havia ficado mais próximo da garota do que de qualquer pessoas que já havia sido parte de sua vida. Nem a seus pais se sentia tão conectado como se sentia com ela. E a mãe de podia enxergar isso de maneira clara assim que os dois se juntavam durante as tardes.
“Você tem uma irmã nessa vida que nunca te esquecerá mesmo depois dela.”
“Você tem um irmão nessa vida que nunca te esquecerá mesmo depois dela.”
Eles citavam sempre que se viam a frase que inventaram quando se conheceram.
“Porque mesmo que estejamos em galáxias diferentes, nos reencontraremos”
“Porque mesmo que estejamos em galáxias diferentes nos, reencontraremos”
Criaram isso para se lembrarem de quem eram e nunca se esquecerem de como eram nessa idade.
“Você sou eu” — ela dizia.
“Eu sou você” — ele completava.
A verdade é que eles eram mais como almas que precisavam uma da outra. A força de se revigorava quando estava com e ele sentia a ponta de esperança que lhe faltava, novamente em seu peito.
tinha pouca idade, mas pensava e refletia sobre o tempo. O tempo todo desejando em muitos momentos que ele apenas congelasse e o mundo continuasse agindo.
31/12/2006
“Familiares da paciente Lee?”
foi o primeiro a se levantar, sendo puxado para baixo por sua mãe com uma cara emburrada por estar no hospital às 3 da manhã por alguém que seu filho havia conhecido há alguns dias, em vez de estar na festa de comemoração da empresa do marido. Ainda sim, não ligou e se esquivou, pedindo permissão à mãe de para se aproximar, a mulher assentiu.
“Ela está bem, meu rapaz, mas deverá passar a noite no hospital em estado de observação”
— Eu posso ficar? — ele perguntou, aflito, algo em seu coração dizia que não era certo partir.
— Meu querido. — a mãe de se abaixou um pouco, ficando da altura de , e segurou suas mãos, que nesse momento se encontravam frias pelo nervosismo — está bem, eles não permitem que uma criança fique por aqui pela noite, com exceção dos pacientes. Além disso — ela olhou desconcertada para a mãe do garoto —, sua mãe está cansada, o que você acha de passar para buscá-lo amanhã pela manhã?
balançou a cabeça positivamente e olhou para a mãe, que não ligou, balançando a cabeça e dando sinal positivo.
— Desculpe pelo inconveniente! — ela se levantou e ficou de frente para a mãe de , que não esboçou nenhuma reação, apenas assentiu outra vez.
— Diga a ela que nos vemos em breve! — o garoto pediu, soltando um sorriso preocupado por suas palavras, realmente temia perdê-la.
— Eu direi e posso até mesmo dizer o que ela te responderá — a mulher disse sorrindo.
— Em breve é muito vago! — disseram ao mesmo tempo, sorrindo — Em breve é tempo demais.
01/01/2007
Um telefonema pela manhã mudou toda sua jornada, sua estrela cadente havia partido sem se despedir.
Realmente, “em breve” era muito vago.
Realmente, “em breve” era muito tempo.
Seu coração sentiu sua falta imediatamente por uma vida inteira
Flashback off
— E, por isso…— , que contava a história com seus olhos atentos ao céu a sua frente, desviou por um momento, dando de frente com a imagem de seu sobrinho dormindo enrolado nos cobertores com chocolate ainda preso em sua mão.
O mais velho pegou o garoto no colo e o levou para o quarto em que estava hospedado — , na realidade, nunca teve irmãos. era filho de um de seus amigos de infância. E, sim, seguiram seus caminhos juntos, os sete foram para a mesma faculdade e até mesmo viveram juntos por uma boa parte de suas vidas.
colocou o garoto em sua cama, sorriu vendo que dormia em paz, e apagou a luz. Mas antes de fechar a porta, ouviu ser chamado pelo pequeno.
— Eu pedi por você, Tio ! — ele disse, sonolento — Eu pedi para que o que você tanto deseja se torne realidade. Mesmo que seja ganhar um espelho novo.
O fato de já tê-lo visto encarar o espelho diversas vezes fez com que refletisse sobre a forma que lidava com as coisas e o fez lembrar do porquê fazia aquilo com frequência.
Flashback
31/12/2006
— Eu tenho uma solução caso você sinta muito a minha falta — a garota disse, puxando ele pela mão, guiando-o até seu quarto e o colocando de frente para o espelho — Aqui.
andou em direção ao espelho e assoprou vapor quente de sua boca, deixando uma pequena parte dele embaçada. Então, ela desenhou uma estrela com seu dedo onde estava embaçado e bateu quatro vezes no local, como se batesse em uma porta.
— Sempre que você sentir a minha falta, sempre que você se sentir sozinho — ela disse — A qualquer momento que quiser, você pode fazer isso que eu te escutarei da minha galáxia. E mesmo que eu não possa te responder, saiba que eu sempre estarei com você, aqui! — ela disse apontando um dedo para o coração do garoto — Afinal, “Você sou eu” — a garota disse.
— “Eu sou você” — completou.
Flashback off
foi em frente ao espelho, repetiu os movimentos e esperou que algo acontecesse. Sentia o aperto em seu peito de forma mais intensa naquela noite.
Foi quando a viu, ali, através do espelho, sorrindo para o amigo, irmão e principalmente alma de sua alma. parecia diferente, mas totalmente reconhecível.
Ela era sua galáxia prateada.
Havia entendido depois de muito tempo que, assim como a mãe de remetia a ela uma galáxia especial, chegando em casa do trabalho no momento em que o dia cai e as estrelas aparecem junto a lua, havia se tornado algo extremamente rápido e insubstituível. Havia, ou melhor, sempre foi sua galáxia prateada.
— Você veio para me levar com você, Estela? — ele perguntou, melancólico.
— Você sabe que não, sabe que isso não passa de um sonho — ela sorriu amável e compreensível.
— Eu sei! — respondeu com um suspiro em seguida.
— É bom te ver assim, tão de perto — ela disse, atravessando o espelho — É bom ver que você cresceu e realmente cumpriu nossos acordos — a garota riu, mexendo em uma de suas unhas — Eu andei te observando da minha galáxia por muito tempo, mas apenas recebi a permissão de estar aqui hoje, pela missão de te fazer lembrar.
— Lembrar? — ele perguntou, confuso.
— Sim, lembrar! — ela respondeu se levantando — Lembrar da verdadeira felicidade, lembrar do verdadeiro significado de seus desejos de natal, lembrar quem você era quando nos conhecemos anos atrás. O menino que eu conheci, por mais que ainda lhe faltasse muitas coisas, era feliz e você já o aprisionou por muito tempo, não acha?
— Eu não aprisionei nada, ou melhor, ninguém! — se defendeu.
— Aprisionou, sim! — respondeu, mexendo em suas coisas ao redor do quarto, pegando uma das fotos que tiraram quando eram crianças.
— Não entendo — ele disse, confuso, se sentando na ponta da cama, colocando as mãos sobre o rosto. — Você aprisionou muito a si mesmo — ela o olhou, desolada — Venha, hoje eu te mostrarei seus três “eus” interiores, você entenderá o que estou querendo dizer.
Exatamente naquele instante, uma aventura sem limites começaria. Era aquilo um sonho ou realidade? se questionava frequentemente enquanto agarrava a mão da garota que parecia tão real quanto sua própria existência.
— Você é real? — perguntou sem gaguejar. — Tão real quanto flores no inverno ou rosas no deserto — ela disse e ele a olhou confuso.
— Você é real! — dessa vez, ele afirmou, segurando forte a mão quente da pessoa que o encarava.
— Sonhos também são reais — respondeu, atravessando o espelho — Você só precisa saber diferenciá-los.
Com essa fala, ele atravessou o espelho em que ela já se encontrava dentro.
— Feche os olhos — a garota disse.
— Isso vai fazer com que você desapareça? — perguntou, apertando mais a mão da garota em temor de que ela partisse de repente.
— Não — ela respondeu rindo — Eu só preciso que você mentalize algo importante de sua infância.
então fechou seus olhos e mentalizou o dia em que a conheceu.
— Não, eu não sou a sua memória favorita — ela disse baixinho enquanto passava por trás dele, afinal conhecia bem seus pensamentos — Eu não faço parte apenas do seu passado, então as poucas memórias que você tem sobre nós não são as que eu preciso. Venha, irei te mostrar.
Ele abriu os olhos e ela agarrou sua mão, o guiando a uma pequena fonte no meio de uma escuridão imensa em que se encontravam. A fonte brilhava fortemente, iluminando a si mesma e a maioria das coisas à sua volta. Sua água em um tom azul escuro, jorrava sem sequer deixar que uma gota caísse, dentro dela, assim que e se aproximaram, apareceu o reflexo dele, e junto, três pontos brilhantes que atravessavam sua testa.
— Essas são as suas estrelas das memórias — ela disse, rindo dele, que tocava sua testa sem parar — Aparece em seu reflexo da fonte rajada, porque são as três fases mais especiais de sua vida.
— Só aparece em meu reflexo na fonte? — perguntou, olhando mais uma vez os três pontos brilhantes.
— Sim! — respondeu — A fonte é encantada, existe no mundo dos humanos em um local sagrado, onde é muito bem guardada, mas aqui nós recebemos livre acesso quando temos alguma missão especial.
— Onde ela fica? — ele perguntou, curioso — Digo, no meu mundo, onde ela fica?
— Se eu contasse, você também descobriria a cidade perdida de Shangri-Lá, então é melhor eu manter esse segredo comigo — ela disse baixinho — Não quero me encrencar quando voltar, mas se você quiser dar uma volta nas montanhas do Tibet um dia, eu…
Trovões surgiram como estrondo pelo local, os assustando.
— Parei, era só uma brincadeira! — ela disse levantando as mãos e olhando para cima, mesmo que não tivesse céu ou algo para olhar — Eu disse que não podia contar — ela sussurrou.
— O que foi isso? — ele perguntou, confuso.
— Provavelmente meu superior assistindo da sala de gravações — ela disse enquanto posicionava as mãos dele sob a fonte — Pronto para ver sua primeira lembrança?
— Eu… — não teve tempo suficiente para que respondesse.
afundou a cabeça do rapaz na água da fonte e eles foram parar em sua antiga casa de infância, a que tinha quando seus pais ainda não trabalhavam como loucos e, principalmente, a mesma que cresceu com seus amigos.
— Desculpa, esse é o processo! — ela disse rindo enquanto ele se sacudia molhado — Deixa eu dar um jeito nisso — estalou os dedos e deixou ele seco outra vez — Bem melhor.
— Por que estamos aqui? — perguntou, olhando as coisas ao redor, vendo um calendário que marcava a data daquele dia como natal.
— É natal de 2004 — ela disse sorrindo assim que os garotinhos corriam por eles — Você era bem pequeno nessa época.
— 2004 foi o primeiro natal que eles passaram comigo — murmurou, olhando a cena admirado.
— Exatamente — ela disse, se sentando no sofá ao lado do pequeno — Você se lembra o que aconteceu nesse natal em especifico?
— Foi o natal em que eu mudei a tradição das meias de natal, pela primeira vez — ele respondeu, vendo a si mesmo colocar um pedaço de papel dobrado dentro da meia de natal.
— Foi aqui que tudo começou — falou sorrindo — se não tivesse sido essa tradição e seus constantes pedidos, talvez nunca tivéssemos a oportunidade de nos conhecermos nessa vida.
— Nessa vida? — perguntou, curioso.
— Conversamos sobre isso depois — ela disse entrando em um dos cômodos.
Os pais e os avós de reunidos junto dos vizinhos, pais dos amigos do garoto, na cozinha para comemorar aquele momento, fazia com que sorrisse com a cena. Ela emanava amor, calor, ou seja, família.
— Ver todos felizes era a sua maior felicidade e preocupação nessa época — ela comentou observando o garoto passar pela cozinha e roubando um mandu do prato de seu pai — Você realmente sabia como viver nessa época , quase me bateu uma leve inveja, mas — ela abaixou o tom de voz — eu não posso dizer isso. Inveja é pecado e se meu chefe escuta...— ela fez sinal, passando uma das mãos sobre a garganta, indicando que “morreria” se dissesse aquilo.
— Mas você já está morta — ele disse, rindo, mas parando em seguida e se questionando se aquilo havia sido falta de respeito ou não.
— Existem outros castigos piores do que a morte depois que você morre, sabia? — respondeu, rindo — Por exemplo, ficar responsável por cada estrela que nasce e morre durante centenas de anos ou, pior — ela disse, colocando as mão na testa ao se lembrar de um amigo que passou por isso —, ser responsável pela designação dos meteoros que vão diretamente em colisão com algum planeta ou são destruídos no meio do caminho. É um jogo mortal, se você erra, BUM! — fez uma explosão com as mãos — Você pode causar milhares de baixas e acabar com algum planeta importante.
— Existe vidas em outros planetas? — perguntou, curioso, enquanto ela entrava no antigo quarto dele.
— Não vou te contar, tive que esperar anos para descobrir — ela disse, rindo — vamos?
passou pelo espelho que tinha no quarto e ele a seguiu, estavam novamente na fonte, mas, naquele momento, três espelhos os rodeavam.
— Eu só mudei a personificação das estrelas — ela disse rindo com ele observando cada um dos espelhos.
— Vamos por esse agora? — ele perguntou, apontando para o espelho do lado oposto em que saíram.
— Não! — ela respondeu — Esse vamos por último.
Ela segurou sua mão mais uma vez e dessa vez não precisou atravessar pelas águas da fonte.
— Sem água dessa vez? — ele perguntou e ela riu.
— A fonte precisava de livre acesso a suas memórias na primeira vez, então, agora já não tem mais necessidade — respondeu, olhando o jardim em que haviam saído — Sempre quis te agradecer por ter feito um jardim das minhas flores favoritas em sua casa — disse, agachando-se e olhando as inúmeras camélias naquele jardim.
— Me lembro que naquela época levou algumas ao quarto em que você estava e eu perguntei o que eram — ele sorriu ao lembrar da mulher simpática. — Ela me disse que camélias eram suas flores favoritas por resistirem ao inverno.
— Ela me conhecia bem — ela respondeu, sorrindo — Vamos!
estalou os dedos e eles foram parar dentro de sua enorme casa de atualmente.
— Por que estamos aqui? — ele perguntou.
— Porque você precisa ver como sua vida está sendo levada — ela disse, se posicionando de frente a porta de entrada.
O que observavam entrou com pressa na casa, tirou seus sapatos para que não sujassem a entrada, pendurou seu casaco e seu cachecol no cabide que deixava ali ao lado e atendeu ao telefonema que recebeu no mesmo momento que pisou os pés na sala. Andava para lá e para cá, mexia em seus óculos e nos papéis sobre sua mesa no escritório que tinha na casa.
— 20 das suas 24 horas no dia são assim — disse, bufando — Eu já reprisei inúmeras vezes essas cenas. Você nunca descansa, nunca dorme o suficiente, nunca vive o suficiente e, se continuar assim, morrerá aos vinte e oito de um ataque cardíaco.
— Eu preciso trabalhar — respondeu, analisando a cena.
— Mesmo no natal? — ela perguntou, mudando a memória.
Dessa vez, o homem se despedia dos amigos, alegando que algo havia surgido e que ele precisava ir. As crianças, que o adoravam, ficavam cada vez mais decepcionadas pelo tio nunca poder estar com eles, e seus amigos sempre preocupados sobre o quão solitário ele deveria se sentir.
— Quando você passa o natal com eles — ela estalou os dedos e apontou para as famílias reunidas ali, na cena atual, a que havia acontecido antes que aquela aventura começasse — Você fica melancólico e isso piora a cada ano. Eu entendo que você sente muito sobre não ter se despedido, eu entendo que a nossa ligação não é algo substituível — suspirou — Mas eu não quero ser a memória que te faz perder tudo que a vida lhe ofereceu de bom — ela colocou a mão sobre os ombro dele — O amor.
Ela mostrou então a cena de cada uma das crianças na casa escrevendo suas cartinhas para serem colocadas na meia.
pediu para que fosse mais feliz e encontrasse o que havia perdido de tão raro, assim como todas as crianças. Todos eles haviam tido o mesmo pensamento, todos eles queriam ver o tio feliz e mais presente.
— A vida te deu mais do que uma família — ela disse — Além de que permitiram que nós nos encontrássemos — ela suspirou. — Se eu soubesse que seria assim, nunca teria saído do prédio naquele dia. Eu nunca iria querer ser o motivo que aprisionou aquele lindo espírito jovial que você sempre teve.
se sentiu triste o suficiente para que não fosse necessário voltar à fonte através de outro espelho da casa. Ela apenas atravessou um corredor sendo seguida por ele — que permanecia calado — e estavam mais uma vez na fonte.
— Último espelho, ! — ela disse sem olhar para ele — Eu não queria mesmo chegar nessa parte, mas fui obrigada desde que desci para cumprir essa missão.
Ela não segurou sua mão ou fez gracinha alguma, ela apenas estalou os dedos e o espelho veio sobre ele, fazendo com que atravessassem.
— — disse, inquieto, a buscou, mas não a encontrou em lugar algum — não tem graça.
— Realmente — sua voz ecoou pela mesma mansão que estavam minutos atrás, só que dessa vez, a luz não era algo presente na cena — Não tem graça, não tem vida, não tem amor, não tem carinho — ela suspirou — Não tem nada.
estalou os dedos mais uma vez e as luzes se acenderam de repente. se viu sentado em um sofá de um dos cômodos de sua casa, seu olhar vazio alternava entre a porta e o calendário em cima da mesa, que marcava trinta um de dezembro.
— É ano novo — ele disse baixo, observando a expressão vazia no próprio eu do futuro.
E isso não mudou, até o som do seu celular tocar e seu outro eu atender.
“Ah, você não poderão vim? Tudo bem, eu entendo. Três crianças não é fácil de cuidar mesmo, mas se mudarem de ideia as portas estarão abertas”
— Eles desistiram de tentar compensar sua felicidade, — disse baixinho, aparecendo ao seu lado — Eles desistiram de nunca serem suficientes para você.
— Mas eles sempre foram mais do que suficientes para mim — ele respondeu com um tom amargurado em sua voz.
— Não é isso que você tem mostrado a eles — ela disse, se afastando.
Mais uma vez, seus dedos estalam e a mudança de datas especiais no calendário mudavam, mas a cena não.
— É sempre a mesma coisa — ela respondeu, se posicionando ao lado da mesa onde o calendário ficava — A não ser por uma pessoa que nunca desistiu de você.
A campainha tocou.
“, você está aqui!” o eu dele disse ao sobrinho.
“Me desculpe pelo atraso, tio, o senhor deve ter achado que eu não viria” o garoto, que agora já não era tão garoto assim, disse, sorrindo.
— Ele se mudará em breve — ela disse. — Essa é sua última visita. Veio apenas para se despedir, porque aceitou uma oferta de trabalho em outro país — respirou fundo — Ele te convidava para ir junto com ele ou ir visitá-lo nessas datas, mas você nunca foi, não foi no casamento dele, não foi sequer no nascimento do filho dele — disse, indignada, e a olha com profunda tristeza — Você simplesmente deixou de existir no futuro de cada um deles.
— Isso não pode acontecer — ele falou — Eles são minha família, assim como você já foi um dia.
— Exatamente isso que você deveria ter feito desde o começo — ela respondeu.
O cenário mudou, com um estrondo vindo do céu, e ambos acabaram indo parar na fonte mais uma vez e os espelhos já não estavam mais lá.
— Meu tempo está acabando aqui — ela disse, olhando para a fonte que ameaçava desaparecer — Preciso que você entenda que somos especiais um para o outro — continuou — Nossas almas são, mas você tem uma vida aqui, como eu tenho uma lá onde provavelmente eu te encontrarei outra vez.
— Nós nos encontramos outra vez? — o homem perguntou.
— Nós sempre nos encontramos, — ela respondeu, sorrindo.
Ele tentou alcançar a mão dela, mas já não estava mais ali de forma material. Então, suas mãos atravessam, fazendo com que fosse impossível que se tocassem diretamente.
— Você sou eu e eu sou você, lembra? — ela perguntou, sorrindo — Por favor, deixe com que sua criança interior seja livre, não a aprisione mais. Viva, ame, desame e desgoste se for preciso também, mas seja você — disse antes que a fonte sumisse de uma vez, a levando junto — Me prometa que tentará a todo custo?
— Eu prometo! — jurou.
— Eu sou você — ela disse, desaparecendo em seguida.
— E você sou eu — ele respondeu baixinho.
Não demorou um segundo, seus olhos se abriram e mais uma vez ele estava em seu quarto, deitado sobre sua cama. Acabara de despertar do sonho mais louco de sua vida.
document.write(Tae) murmurou, atônito, olhando para mesa olhando para onde a garota havia mexido em suas coisas e nada estava fora do lugar. Deitou sua cabeça no travesseiro mais uma vez e fitou o teto — Por favor, diga que não foi um sonho.
E de fato, não havia sido um sonho!
Sua mão direita foi em direção a seu peito e ele de repente se recordou.
Desceu as escadas da casa com pressa, assustando a todos que estavam ali, reunidos na cozinha, conversando.
— Aconteceu alguma coisa? — um deles perguntou, preocupado.
— está bem? — foi a vez da mãe do pequeno perguntar.
— Ele está ótimo — respondeu ofegante — Que horas são?
— Nove horas em ponto — alguém respondeu, olhando o relógio assustado. Aquela era a hora que desde sempre haviam marcado para abrir os presentes — Acordou exatamente na hora de abrirmos os presentes, você recebeu um espírito de natal ou o quê? — perguntou, rindo.
— Eu vou chamar as crianças — disse, subindo as escadas correndo.
— Levantem !— ele gritou, passando no quarto em que cada uma estava — Hora de abrirmos os presentes.
desceu com todas as pequenas figuras sonolentas atrás de si.
— Quem vai primeiro? — algum deles perguntou.
— Eu! — respondeu rapidamente, se aproximando da enorme árvore que havia no centro de sua sala.
separou seus presentes, mas também ajudou a distribuir os outros.
— Você se esqueceu de um, Tio — disse, olhando na parte de trás da árvore, vendo um pequeno pacote bem embrulhado com o nome dele.
— Quem me deu esse? — o tio perguntou, curioso, a todos ali e ninguém disse nada, apenas olharam confusos uns para os outros.
Então, abriu o pacote, que continha uma máquina fotográfica vintage junto de um bilhete.
“Não se esqueça de viver intensamente, crie memórias, por mim e por você”
Ele sorriu, afinal aquela era a confirmação que precisava.
— Foi real — ele disse, sorrindo para o papel — Foi real! — repetiu para si mesmo.
— Do que está falando? — um de seus amigos perguntou.
— Eu tive uma ideia! — ele respondeu, atônito — Vamos todos viajar, aproveitar o final do ano juntos em outro lugar, patinar…
— Pescar? — disse, esperançoso, fazendo com que seu sorriso abrisse, afinal, era realmente filho de seu pai.
— E por que não? — disse, pegando o garoto no colo — Vamos todos aproveitar, sem planos ou desculpas. Apenas vamos viver os dias que temos e já não voltam.
E foi isso que ele fez.
Ele aproveitou até não poder mais, até envelhecer, mas não sozinho.
E foi isso que aconteceu com , o garoto esperançoso e cheio de vida, que perdeu-se dentro de si mesmo. Mas não mal interprete, ele não se tornou o tipo de pessoa ruim que nós vemos hoje em dia. Ele apenas deixou de acreditar em si e no universo ao seu redor, mesmo que a vida lhe desse centenas, milhões ou bilhões… Não seria suficiente. Não por egoísmo, mas sim porque aquilo não lhe traria sua felicidade ou seu “eu” para si outra vez.
Foi por isso mesmo que o universo decidiu ajudar, pois, a falta que o homem sentia de si mesmo era algo absurdamente doloroso, tanto para ele, quanto para quem o visse.
Mas havia esperança.
— Tio, ? — a criança de no máximo 8 anos chamou pelo seu apelido, puxando a barra da manga de seu terno, tirando a atenção que o homem, que tinha se perdido em seus pensamentos enquanto olhava para o fogo da lareira a sua frente.
— Huh? — ele respondeu, direcionando o olhar ao mais novo.
— O que você pediu? — a criança perguntou, sorrindo e olhando para as meias penduradas na lareira. sorriu e se abaixou para pegar o garoto no colo.
A tradição da família a respeito das meias de natal havia mudado depois que o próprio , quando era criança, insistiu que deveria deixar uma cartinha em sua meia de natal. O menino explicou que deveria deixar a cartinha porque não queria brinquedos, ele queria fazer desejos. Ele sabia que “papai noel” não era o gênio de Aladdin, mas ainda sim tentou, mesmo que na época não entendesse muito bem qual era o propósito daquilo, decidiu que gostaria de algo diferente.
— é o primeiro a protestar em dizer o que pediu quando se trata de seus desejos, mas está curioso sobre o que eu pedi? — disse rindo e apertando com delicadeza uma das bochechas do menor — Pois bem, eu te digo o que eu pedi se você me contar o que você, pediu. — arqueou uma das sobrancelhas, sorrindo em seguida — Esse será nosso segredo, o que você acha?
O mais novo respirou fundo e analisou a proposta. Poderia ser pequeno mas era inteligente e sabia quando seria favorável para si ou não.
— Certo! — o garotinho disse — Mas não podemos em hipótese alguma dizer a outras pessoas.
— Você não confia no seu tio, garoto? — perguntou, rindo e fazendo cócegas no garoto, que ria desesperadamente.
— Confio — disse em meio a risos. — Eu apenas… — ele respirou fundo depois que o mais velho parou — Escute, não pedi nada para mim, então pode ser que mamãe e papai fiquem com ciúmes quando descubram isso.
— Você não pediu nada para você? — perguntou, curioso, colocando o garoto no chão mais uma vez — Para quem pediu?
— Não! — o mais novo respondeu, sorrindo e segurando sua cartinha, que estava dentro da meia de cor verde e azul que ele mesmo havia escolhido — Eu pedi por…— hesitou em dizer — Tio ! — ele olhou desconfiado para o mais velho — Eu perguntei primeiro!
— Está bem, está bem — respondeu , rindo — Por que não pegamos uns doces escondido da sua mãe e vamos ao terraço? Eu te contarei uma história.
— Vamos! — o garotinho bateu palmas, animado, puxando o tio pelas escadas depois de encherem os bolsos de doces.
Caminharam pela enorme casa que viviam e subiram até um dos quartos, mais precisamente o de , que tinha saída para o terraço da casa.
— Okay, estamos prontos? — perguntou, terminando de se acomodar.
— Sim! — respondeu, se aconchegando em seu cobertor.
— Então, aqui vamos nós — disse, respirando fundo e logo após soltando um sorriso terno para o garoto — Meu pedido de natal é o mesmo todo ano — começou explicando — Eu peço por uma estrela cadente que uma vez apareceu em minha vida e se foi na mesma velocidade.
— Uma estrela cadente? — o garoto perguntou curioso.
— Você gostaria de escutar uma história, Eun? — o mais velho perguntou, com o olhar perdido na imensidão do céu, mas ainda assim, pôde ver de canto de olho que o garoto assentiu — Hm, por onde começamos?
— Pelo começo! — o garoto brincou.
— Muito bem, comecemos pelo começo, você está pronto? — ele perguntou e o garoto assentiu mais uma vez — Nós vamos começar com a história de um garotinho e sua própria estrela na terra.
24/12/2006
Em um breve lapso de tempo, os olhos de se fecharam. Naquela noite, mesmo ansioso e já com uma idade avançada para acreditar, sempre teve e manteve seu espírito natalino muito forte. Sempre acreditou que ficar acordado na véspera de natal o traria algo extraordinário, por isso sempre fazia isso com gosto. Quando abriu os olhos, percebeu que continuava deitado no sofá da sala de sua casa. Abriu os olhos com o sol que tocou suas pálpebras trazendo um incômodo e reclamou brevemente.
Era 25 de Dezembro, estava chateado porque havia dormido, mas ainda assim feliz que seu feriado favorito do ano havia chegado.
— ! — escutou ser chamado e se levantou depressa, chegando ao quarto de seus pais — Seu pai e eu temos que trabalhar hoje, você não se importa se deixarmos a abertura dos presentes para a hora do jantar, certo?
— Por que você não vai àquele parque por um tempinho? — o pai disse enquanto arrumava a gravata no espelho — Tenho uma reunião importante em casa hoje e não posso ser incomodado.
— Ele mal o vê e quando você está em casa, ele é obrigado a sair? — a mãe murmurou baixo.
— O que você disse? — pai parou imediatamente o que fazia e olhou para a mulher, que tinha a resposta na ponta de sua língua.
— Eu vou! — disse, rapidamente fingindo um sorriso — Não se preocupem, vou encontrar alguns amigos da escola, combinamos e eu esqueci de pedir a vocês.
— Menos mal, é bom ver meu filho finalmente ter amigos de sua idade — o homem disse, se referindo aos amigos que tinha antes de se mudarem de cidade. J, Min, SJ, N, H e Y eram seus amigos de coração e nunca os esqueceria, haviam prometido uns aos outros que, quando crescessem, se encontrariam e continuariam a jornada que começaram juntos — Aqueles seus amigos não tinham muito futuro, sabe? Você precisa de amigos com o mesmo status que você.
O fato é que até os 8 anos sua vida não era assim, muito menos seus pais.
Eram uma família unida e sem problemas que apoiavam sempre uns aos outros. Quando o pai começou a ganhar dinheiro com seus negócios antes falidos e a mãe arranjou amigas Socialites, que eram independentes e tinham seus clubes aleatórios, que não tinha a menor ideia do que seria, tudo mudou.
— Claro! — o garoto respondeu com um sorriso falso no rosto.
Não muito tempo depois, se sentou no balanço do parquinho em meio à neve de dezembro que caia. Há muito tempo seus pais não tinham mais tempo para se preocuparem consigo. De aqui, percebemos como tudo de pouco desmoronou, talvez não do lado de fora, mas dentro de si.
— Está nevando! — ele escutou um gritinho baixo e animado.
— Senhorita! — outro grito, chamando seja quem fosse, pareceu desesperado — A senhorita não pode estar aqui fora!
— Olhe, ! — os olhos de pousaram em uma garotinha branca, quase da cor da neve, com os lábios arroxeados, talvez pelo frio, já que era possível ver que não trazia suficiente agasalho para o frio que fazia — O meu desejo de natal se realizou!
— Senhorita, para dentro, por favor! — a babá disse quase tendo um ataque — Se não vai entrar, ao menos coloque um agasalho mais grosso.
— Agora sim você falou a coisa certa! — ela disse, sorrindo sapeca, o que fez com que risse um pouco alto demais — Não se pode deixar passar um dia como esse — balançou a cabeça positivamente, olhando para o chão, sem saber que a garota o observava depois de ouvir sua risada.
— Viu, ele concorda! — O garoto levantou a cabeça rapidamente e a olhou assustado por ter sido pego escutando a conversa das duas.
— , você irá assustá-lo com sua forma nada sutil de ser — a babá disse, ajeitando o casaco no corpo da garotinha.
— Ele não parece assustado — ela disso e a babá a olhou desconfiada — Talvez um pouco?
A garotinha andou em direção a sorrindo, a cena foi rápida mas pareceram séculos para ele. Ele pensou, naquele momento, o quão angelical — apesar de sua aparência doente e fraca — ela parecia ser.
— Onde estão seus amigos? O que você está fazendo aqui fora sozinho? Você mora por aqui? Eu não lembro de ter te visto pela janela do meu quarto — eram muitas perguntas ao mesmo tempo, sentiu que poderia pifar naquele momento. Desde que chegou, não havia feito amigos e passava a maior parte do seu tempo em sua casa.
— Uma pergunta de cada vez, ! — a pequena revirou os olhos rindo.
— Você também veio de outra galáxia? — ela perguntou baixinho, como se fosse contar um segredo para que a babá não escutasse.
— Eu o quê? — ele perguntou, confuso.
— Provavelmente não — ela riu baixinho, se sentando normal no balanço — Mamãe diz que eu sou como uma estrela cadente, apenas de passagem na terra.
— Mas estrelas cadentes caem e…— tinha um conhecimento muito amplo sobre as estrelas, desde sempre gostou de observá-las. Quando seu pai lhe deu um telescópio, foi quase o dia mais feliz de sua vida.
— Eu sei! — ela respondeu rápido — Somos realmente parecidas. Talvez você tenha uma galáxia prateada, eu vejo a minha todos os dias no momento em que o dia cai e as estrelas aparecem junto à lua.
— Eu não conheço essa — ele disse, a olhando diretamente pela primeira vez.
— É porque você não a está vendo da forma certa! — ela disse, sorrindo para os pés, que brincavam com a neve.
— E como seria a “forma certa”? — perguntou curioso.
— Você precisa acreditar primeiro! — ela então o olhou e ele pôde sentir, no fundo de seu coração e no brilho dos olhos da garota, a forte sensação de conhecê-la há mais tempo do que imaginava.
— , chegou! — a mãe da garotinha gritou das escadas, ouvindo passos animados descerem os degraus rapidamente.
— Você veio! — ela disse, animada — Feliz aniversário!
A garotinha o abraçou forte e a mãe sorriu triste, se sentindo cruel por permitir que o garoto passasse por aquilo tão cedo. , pelo contrário, sabia das condições de , pois havia sido avisado pela babá — ela não queria que o garoto tivesse problemas, e ? Já estava acostumada a viver sem pessoas ao seu redor desde que ficou doente.
— Você é a única pessoa com quem eu realmente queria estar no meu aniversário! — ele disse, abraçando-a de volta. Poderia não parecer muito, mas em cinco dias havia ficado mais próximo da garota do que de qualquer pessoas que já havia sido parte de sua vida. Nem a seus pais se sentia tão conectado como se sentia com ela. E a mãe de podia enxergar isso de maneira clara assim que os dois se juntavam durante as tardes.
“Você tem um irmão nessa vida que nunca te esquecerá mesmo depois dela.”
Eles citavam sempre que se viam a frase que inventaram quando se conheceram.
“Porque mesmo que estejamos em galáxias diferentes nos, reencontraremos”
Criaram isso para se lembrarem de quem eram e nunca se esquecerem de como eram nessa idade.
“Eu sou você” — ele completava.
A verdade é que eles eram mais como almas que precisavam uma da outra. A força de se revigorava quando estava com e ele sentia a ponta de esperança que lhe faltava, novamente em seu peito.
tinha pouca idade, mas pensava e refletia sobre o tempo. O tempo todo desejando em muitos momentos que ele apenas congelasse e o mundo continuasse agindo.
“Familiares da paciente Lee?”
foi o primeiro a se levantar, sendo puxado para baixo por sua mãe com uma cara emburrada por estar no hospital às 3 da manhã por alguém que seu filho havia conhecido há alguns dias, em vez de estar na festa de comemoração da empresa do marido. Ainda sim, não ligou e se esquivou, pedindo permissão à mãe de para se aproximar, a mulher assentiu.
“Ela está bem, meu rapaz, mas deverá passar a noite no hospital em estado de observação”
— Eu posso ficar? — ele perguntou, aflito, algo em seu coração dizia que não era certo partir.
— Meu querido. — a mãe de se abaixou um pouco, ficando da altura de , e segurou suas mãos, que nesse momento se encontravam frias pelo nervosismo — está bem, eles não permitem que uma criança fique por aqui pela noite, com exceção dos pacientes. Além disso — ela olhou desconcertada para a mãe do garoto —, sua mãe está cansada, o que você acha de passar para buscá-lo amanhã pela manhã?
balançou a cabeça positivamente e olhou para a mãe, que não ligou, balançando a cabeça e dando sinal positivo.
— Desculpe pelo inconveniente! — ela se levantou e ficou de frente para a mãe de , que não esboçou nenhuma reação, apenas assentiu outra vez.
— Diga a ela que nos vemos em breve! — o garoto pediu, soltando um sorriso preocupado por suas palavras, realmente temia perdê-la.
— Eu direi e posso até mesmo dizer o que ela te responderá — a mulher disse sorrindo.
— Em breve é muito vago! — disseram ao mesmo tempo, sorrindo — Em breve é tempo demais.
Um telefonema pela manhã mudou toda sua jornada, sua estrela cadente havia partido sem se despedir.
Realmente, “em breve” era muito vago.
Realmente, “em breve” era muito tempo.
Seu coração sentiu sua falta imediatamente por uma vida inteira
— E, por isso…— , que contava a história com seus olhos atentos ao céu a sua frente, desviou por um momento, dando de frente com a imagem de seu sobrinho dormindo enrolado nos cobertores com chocolate ainda preso em sua mão.
O mais velho pegou o garoto no colo e o levou para o quarto em que estava hospedado — , na realidade, nunca teve irmãos. era filho de um de seus amigos de infância. E, sim, seguiram seus caminhos juntos, os sete foram para a mesma faculdade e até mesmo viveram juntos por uma boa parte de suas vidas.
colocou o garoto em sua cama, sorriu vendo que dormia em paz, e apagou a luz. Mas antes de fechar a porta, ouviu ser chamado pelo pequeno.
— Eu pedi por você, Tio ! — ele disse, sonolento — Eu pedi para que o que você tanto deseja se torne realidade. Mesmo que seja ganhar um espelho novo.
O fato de já tê-lo visto encarar o espelho diversas vezes fez com que refletisse sobre a forma que lidava com as coisas e o fez lembrar do porquê fazia aquilo com frequência.
— Eu tenho uma solução caso você sinta muito a minha falta — a garota disse, puxando ele pela mão, guiando-o até seu quarto e o colocando de frente para o espelho — Aqui.
andou em direção ao espelho e assoprou vapor quente de sua boca, deixando uma pequena parte dele embaçada. Então, ela desenhou uma estrela com seu dedo onde estava embaçado e bateu quatro vezes no local, como se batesse em uma porta.
— Sempre que você sentir a minha falta, sempre que você se sentir sozinho — ela disse — A qualquer momento que quiser, você pode fazer isso que eu te escutarei da minha galáxia. E mesmo que eu não possa te responder, saiba que eu sempre estarei com você, aqui! — ela disse apontando um dedo para o coração do garoto — Afinal, “Você sou eu” — a garota disse.
— “Eu sou você” — completou.
foi em frente ao espelho, repetiu os movimentos e esperou que algo acontecesse. Sentia o aperto em seu peito de forma mais intensa naquela noite.
Foi quando a viu, ali, através do espelho, sorrindo para o amigo, irmão e principalmente alma de sua alma. parecia diferente, mas totalmente reconhecível.
Ela era sua galáxia prateada.
Havia entendido depois de muito tempo que, assim como a mãe de remetia a ela uma galáxia especial, chegando em casa do trabalho no momento em que o dia cai e as estrelas aparecem junto a lua, havia se tornado algo extremamente rápido e insubstituível. Havia, ou melhor, sempre foi sua galáxia prateada.
— Você veio para me levar com você, Estela? — ele perguntou, melancólico.
— Você sabe que não, sabe que isso não passa de um sonho — ela sorriu amável e compreensível.
— Eu sei! — respondeu com um suspiro em seguida.
— É bom te ver assim, tão de perto — ela disse, atravessando o espelho — É bom ver que você cresceu e realmente cumpriu nossos acordos — a garota riu, mexendo em uma de suas unhas — Eu andei te observando da minha galáxia por muito tempo, mas apenas recebi a permissão de estar aqui hoje, pela missão de te fazer lembrar.
— Lembrar? — ele perguntou, confuso.
— Sim, lembrar! — ela respondeu se levantando — Lembrar da verdadeira felicidade, lembrar do verdadeiro significado de seus desejos de natal, lembrar quem você era quando nos conhecemos anos atrás. O menino que eu conheci, por mais que ainda lhe faltasse muitas coisas, era feliz e você já o aprisionou por muito tempo, não acha?
— Eu não aprisionei nada, ou melhor, ninguém! — se defendeu.
— Aprisionou, sim! — respondeu, mexendo em suas coisas ao redor do quarto, pegando uma das fotos que tiraram quando eram crianças.
— Não entendo — ele disse, confuso, se sentando na ponta da cama, colocando as mãos sobre o rosto. — Você aprisionou muito a si mesmo — ela o olhou, desolada — Venha, hoje eu te mostrarei seus três “eus” interiores, você entenderá o que estou querendo dizer.
Exatamente naquele instante, uma aventura sem limites começaria. Era aquilo um sonho ou realidade? se questionava frequentemente enquanto agarrava a mão da garota que parecia tão real quanto sua própria existência.
— Você é real? — perguntou sem gaguejar. — Tão real quanto flores no inverno ou rosas no deserto — ela disse e ele a olhou confuso.
— Você é real! — dessa vez, ele afirmou, segurando forte a mão quente da pessoa que o encarava.
— Sonhos também são reais — respondeu, atravessando o espelho — Você só precisa saber diferenciá-los.
Com essa fala, ele atravessou o espelho em que ela já se encontrava dentro.
— Feche os olhos — a garota disse.
— Isso vai fazer com que você desapareça? — perguntou, apertando mais a mão da garota em temor de que ela partisse de repente.
— Não — ela respondeu rindo — Eu só preciso que você mentalize algo importante de sua infância.
então fechou seus olhos e mentalizou o dia em que a conheceu.
— Não, eu não sou a sua memória favorita — ela disse baixinho enquanto passava por trás dele, afinal conhecia bem seus pensamentos — Eu não faço parte apenas do seu passado, então as poucas memórias que você tem sobre nós não são as que eu preciso. Venha, irei te mostrar.
Ele abriu os olhos e ela agarrou sua mão, o guiando a uma pequena fonte no meio de uma escuridão imensa em que se encontravam. A fonte brilhava fortemente, iluminando a si mesma e a maioria das coisas à sua volta. Sua água em um tom azul escuro, jorrava sem sequer deixar que uma gota caísse, dentro dela, assim que e se aproximaram, apareceu o reflexo dele, e junto, três pontos brilhantes que atravessavam sua testa.
— Essas são as suas estrelas das memórias — ela disse, rindo dele, que tocava sua testa sem parar — Aparece em seu reflexo da fonte rajada, porque são as três fases mais especiais de sua vida.
— Só aparece em meu reflexo na fonte? — perguntou, olhando mais uma vez os três pontos brilhantes.
— Sim! — respondeu — A fonte é encantada, existe no mundo dos humanos em um local sagrado, onde é muito bem guardada, mas aqui nós recebemos livre acesso quando temos alguma missão especial.
— Onde ela fica? — ele perguntou, curioso — Digo, no meu mundo, onde ela fica?
— Se eu contasse, você também descobriria a cidade perdida de Shangri-Lá, então é melhor eu manter esse segredo comigo — ela disse baixinho — Não quero me encrencar quando voltar, mas se você quiser dar uma volta nas montanhas do Tibet um dia, eu…
Trovões surgiram como estrondo pelo local, os assustando.
— Parei, era só uma brincadeira! — ela disse levantando as mãos e olhando para cima, mesmo que não tivesse céu ou algo para olhar — Eu disse que não podia contar — ela sussurrou.
— O que foi isso? — ele perguntou, confuso.
— Provavelmente meu superior assistindo da sala de gravações — ela disse enquanto posicionava as mãos dele sob a fonte — Pronto para ver sua primeira lembrança?
— Eu… — não teve tempo suficiente para que respondesse.
afundou a cabeça do rapaz na água da fonte e eles foram parar em sua antiga casa de infância, a que tinha quando seus pais ainda não trabalhavam como loucos e, principalmente, a mesma que cresceu com seus amigos.
— Desculpa, esse é o processo! — ela disse rindo enquanto ele se sacudia molhado — Deixa eu dar um jeito nisso — estalou os dedos e deixou ele seco outra vez — Bem melhor.
— Por que estamos aqui? — perguntou, olhando as coisas ao redor, vendo um calendário que marcava a data daquele dia como natal.
— É natal de 2004 — ela disse sorrindo assim que os garotinhos corriam por eles — Você era bem pequeno nessa época.
— 2004 foi o primeiro natal que eles passaram comigo — murmurou, olhando a cena admirado.
— Exatamente — ela disse, se sentando no sofá ao lado do pequeno — Você se lembra o que aconteceu nesse natal em especifico?
— Foi o natal em que eu mudei a tradição das meias de natal, pela primeira vez — ele respondeu, vendo a si mesmo colocar um pedaço de papel dobrado dentro da meia de natal.
— Foi aqui que tudo começou — falou sorrindo — se não tivesse sido essa tradição e seus constantes pedidos, talvez nunca tivéssemos a oportunidade de nos conhecermos nessa vida.
— Nessa vida? — perguntou, curioso.
— Conversamos sobre isso depois — ela disse entrando em um dos cômodos.
Os pais e os avós de reunidos junto dos vizinhos, pais dos amigos do garoto, na cozinha para comemorar aquele momento, fazia com que sorrisse com a cena. Ela emanava amor, calor, ou seja, família.
— Ver todos felizes era a sua maior felicidade e preocupação nessa época — ela comentou observando o garoto passar pela cozinha e roubando um mandu do prato de seu pai — Você realmente sabia como viver nessa época , quase me bateu uma leve inveja, mas — ela abaixou o tom de voz — eu não posso dizer isso. Inveja é pecado e se meu chefe escuta...— ela fez sinal, passando uma das mãos sobre a garganta, indicando que “morreria” se dissesse aquilo.
— Mas você já está morta — ele disse, rindo, mas parando em seguida e se questionando se aquilo havia sido falta de respeito ou não.
— Existem outros castigos piores do que a morte depois que você morre, sabia? — respondeu, rindo — Por exemplo, ficar responsável por cada estrela que nasce e morre durante centenas de anos ou, pior — ela disse, colocando as mão na testa ao se lembrar de um amigo que passou por isso —, ser responsável pela designação dos meteoros que vão diretamente em colisão com algum planeta ou são destruídos no meio do caminho. É um jogo mortal, se você erra, BUM! — fez uma explosão com as mãos — Você pode causar milhares de baixas e acabar com algum planeta importante.
— Existe vidas em outros planetas? — perguntou, curioso, enquanto ela entrava no antigo quarto dele.
— Não vou te contar, tive que esperar anos para descobrir — ela disse, rindo — vamos?
passou pelo espelho que tinha no quarto e ele a seguiu, estavam novamente na fonte, mas, naquele momento, três espelhos os rodeavam.
— Eu só mudei a personificação das estrelas — ela disse rindo com ele observando cada um dos espelhos.
— Vamos por esse agora? — ele perguntou, apontando para o espelho do lado oposto em que saíram.
— Não! — ela respondeu — Esse vamos por último.
Ela segurou sua mão mais uma vez e dessa vez não precisou atravessar pelas águas da fonte.
— Sem água dessa vez? — ele perguntou e ela riu.
— A fonte precisava de livre acesso a suas memórias na primeira vez, então, agora já não tem mais necessidade — respondeu, olhando o jardim em que haviam saído — Sempre quis te agradecer por ter feito um jardim das minhas flores favoritas em sua casa — disse, agachando-se e olhando as inúmeras camélias naquele jardim.
— Me lembro que naquela época levou algumas ao quarto em que você estava e eu perguntei o que eram — ele sorriu ao lembrar da mulher simpática. — Ela me disse que camélias eram suas flores favoritas por resistirem ao inverno.
— Ela me conhecia bem — ela respondeu, sorrindo — Vamos!
estalou os dedos e eles foram parar dentro de sua enorme casa de atualmente.
— Por que estamos aqui? — ele perguntou.
— Porque você precisa ver como sua vida está sendo levada — ela disse, se posicionando de frente a porta de entrada.
O que observavam entrou com pressa na casa, tirou seus sapatos para que não sujassem a entrada, pendurou seu casaco e seu cachecol no cabide que deixava ali ao lado e atendeu ao telefonema que recebeu no mesmo momento que pisou os pés na sala. Andava para lá e para cá, mexia em seus óculos e nos papéis sobre sua mesa no escritório que tinha na casa.
— 20 das suas 24 horas no dia são assim — disse, bufando — Eu já reprisei inúmeras vezes essas cenas. Você nunca descansa, nunca dorme o suficiente, nunca vive o suficiente e, se continuar assim, morrerá aos vinte e oito de um ataque cardíaco.
— Eu preciso trabalhar — respondeu, analisando a cena.
— Mesmo no natal? — ela perguntou, mudando a memória.
Dessa vez, o homem se despedia dos amigos, alegando que algo havia surgido e que ele precisava ir. As crianças, que o adoravam, ficavam cada vez mais decepcionadas pelo tio nunca poder estar com eles, e seus amigos sempre preocupados sobre o quão solitário ele deveria se sentir.
— Quando você passa o natal com eles — ela estalou os dedos e apontou para as famílias reunidas ali, na cena atual, a que havia acontecido antes que aquela aventura começasse — Você fica melancólico e isso piora a cada ano. Eu entendo que você sente muito sobre não ter se despedido, eu entendo que a nossa ligação não é algo substituível — suspirou — Mas eu não quero ser a memória que te faz perder tudo que a vida lhe ofereceu de bom — ela colocou a mão sobre os ombro dele — O amor.
Ela mostrou então a cena de cada uma das crianças na casa escrevendo suas cartinhas para serem colocadas na meia.
pediu para que fosse mais feliz e encontrasse o que havia perdido de tão raro, assim como todas as crianças. Todos eles haviam tido o mesmo pensamento, todos eles queriam ver o tio feliz e mais presente.
— A vida te deu mais do que uma família — ela disse — Além de que permitiram que nós nos encontrássemos — ela suspirou. — Se eu soubesse que seria assim, nunca teria saído do prédio naquele dia. Eu nunca iria querer ser o motivo que aprisionou aquele lindo espírito jovial que você sempre teve.
se sentiu triste o suficiente para que não fosse necessário voltar à fonte através de outro espelho da casa. Ela apenas atravessou um corredor sendo seguida por ele — que permanecia calado — e estavam mais uma vez na fonte.
— Último espelho, ! — ela disse sem olhar para ele — Eu não queria mesmo chegar nessa parte, mas fui obrigada desde que desci para cumprir essa missão.
Ela não segurou sua mão ou fez gracinha alguma, ela apenas estalou os dedos e o espelho veio sobre ele, fazendo com que atravessassem.
— — disse, inquieto, a buscou, mas não a encontrou em lugar algum — não tem graça.
— Realmente — sua voz ecoou pela mesma mansão que estavam minutos atrás, só que dessa vez, a luz não era algo presente na cena — Não tem graça, não tem vida, não tem amor, não tem carinho — ela suspirou — Não tem nada.
estalou os dedos mais uma vez e as luzes se acenderam de repente. se viu sentado em um sofá de um dos cômodos de sua casa, seu olhar vazio alternava entre a porta e o calendário em cima da mesa, que marcava trinta um de dezembro.
— É ano novo — ele disse baixo, observando a expressão vazia no próprio eu do futuro.
E isso não mudou, até o som do seu celular tocar e seu outro eu atender.
“Ah, você não poderão vim? Tudo bem, eu entendo. Três crianças não é fácil de cuidar mesmo, mas se mudarem de ideia as portas estarão abertas”
— Eles desistiram de tentar compensar sua felicidade, — disse baixinho, aparecendo ao seu lado — Eles desistiram de nunca serem suficientes para você.
— Mas eles sempre foram mais do que suficientes para mim — ele respondeu com um tom amargurado em sua voz.
— Não é isso que você tem mostrado a eles — ela disse, se afastando.
Mais uma vez, seus dedos estalam e a mudança de datas especiais no calendário mudavam, mas a cena não.
— É sempre a mesma coisa — ela respondeu, se posicionando ao lado da mesa onde o calendário ficava — A não ser por uma pessoa que nunca desistiu de você.
A campainha tocou.
“, você está aqui!” o eu dele disse ao sobrinho.
“Me desculpe pelo atraso, tio, o senhor deve ter achado que eu não viria” o garoto, que agora já não era tão garoto assim, disse, sorrindo.
— Ele se mudará em breve — ela disse. — Essa é sua última visita. Veio apenas para se despedir, porque aceitou uma oferta de trabalho em outro país — respirou fundo — Ele te convidava para ir junto com ele ou ir visitá-lo nessas datas, mas você nunca foi, não foi no casamento dele, não foi sequer no nascimento do filho dele — disse, indignada, e a olha com profunda tristeza — Você simplesmente deixou de existir no futuro de cada um deles.
— Isso não pode acontecer — ele falou — Eles são minha família, assim como você já foi um dia.
— Exatamente isso que você deveria ter feito desde o começo — ela respondeu.
O cenário mudou, com um estrondo vindo do céu, e ambos acabaram indo parar na fonte mais uma vez e os espelhos já não estavam mais lá.
— Meu tempo está acabando aqui — ela disse, olhando para a fonte que ameaçava desaparecer — Preciso que você entenda que somos especiais um para o outro — continuou — Nossas almas são, mas você tem uma vida aqui, como eu tenho uma lá onde provavelmente eu te encontrarei outra vez.
— Nós nos encontramos outra vez? — o homem perguntou.
— Nós sempre nos encontramos, — ela respondeu, sorrindo.
Ele tentou alcançar a mão dela, mas já não estava mais ali de forma material. Então, suas mãos atravessam, fazendo com que fosse impossível que se tocassem diretamente.
— Você sou eu e eu sou você, lembra? — ela perguntou, sorrindo — Por favor, deixe com que sua criança interior seja livre, não a aprisione mais. Viva, ame, desame e desgoste se for preciso também, mas seja você — disse antes que a fonte sumisse de uma vez, a levando junto — Me prometa que tentará a todo custo?
— Eu prometo! — jurou.
— Eu sou você — ela disse, desaparecendo em seguida.
— E você sou eu — ele respondeu baixinho.
Não demorou um segundo, seus olhos se abriram e mais uma vez ele estava em seu quarto, deitado sobre sua cama. Acabara de despertar do sonho mais louco de sua vida.
E de fato, não havia sido um sonho!
Sua mão direita foi em direção a seu peito e ele de repente se recordou.
Desceu as escadas da casa com pressa, assustando a todos que estavam ali, reunidos na cozinha, conversando.
— Aconteceu alguma coisa? — um deles perguntou, preocupado.
— está bem? — foi a vez da mãe do pequeno perguntar.
— Ele está ótimo — respondeu ofegante — Que horas são?
— Nove horas em ponto — alguém respondeu, olhando o relógio assustado. Aquela era a hora que desde sempre haviam marcado para abrir os presentes — Acordou exatamente na hora de abrirmos os presentes, você recebeu um espírito de natal ou o quê? — perguntou, rindo.
— Eu vou chamar as crianças — disse, subindo as escadas correndo.
— Levantem !— ele gritou, passando no quarto em que cada uma estava — Hora de abrirmos os presentes.
desceu com todas as pequenas figuras sonolentas atrás de si.
— Quem vai primeiro? — algum deles perguntou.
— Eu! — respondeu rapidamente, se aproximando da enorme árvore que havia no centro de sua sala.
separou seus presentes, mas também ajudou a distribuir os outros.
— Você se esqueceu de um, Tio — disse, olhando na parte de trás da árvore, vendo um pequeno pacote bem embrulhado com o nome dele.
— Quem me deu esse? — o tio perguntou, curioso, a todos ali e ninguém disse nada, apenas olharam confusos uns para os outros.
Então, abriu o pacote, que continha uma máquina fotográfica vintage junto de um bilhete.
Ele sorriu, afinal aquela era a confirmação que precisava.
— Foi real — ele disse, sorrindo para o papel — Foi real! — repetiu para si mesmo.
— Do que está falando? — um de seus amigos perguntou.
— Eu tive uma ideia! — ele respondeu, atônito — Vamos todos viajar, aproveitar o final do ano juntos em outro lugar, patinar…
— Pescar? — disse, esperançoso, fazendo com que seu sorriso abrisse, afinal, era realmente filho de seu pai.
— E por que não? — disse, pegando o garoto no colo — Vamos todos aproveitar, sem planos ou desculpas. Apenas vamos viver os dias que temos e já não voltam.
E foi isso que ele fez.
Ele aproveitou até não poder mais, até envelhecer, mas não sozinho.
Fim!
Nota da autora: Especial é a definição dessa história aqui! Inner child veio em um momento que eu mesma estava querendo escrever uma história de natal e ela fluiu tão bem que eu tive que mandar. Enfim, espero que você tenha gostado, não esquece de deixar seu comentário no link aqui embaixo, quero muito saber a sua opinião.
Xoxo Caleonis
Nota da Beta: Eu me arrepiei por completo e chorei com essa história, sem mentira! A escrita delicada, o enredo envolvente, a sensibilidade do recado transmitido... Sério! Me senti completamente envolvida, torcendo pelo Tae e, como disse, me emocionando junto com ele! Coisa mais linda essa FIC, viu? <3
Caixinha de comentários: O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Xoxo Caleonis
Nota da Beta: Eu me arrepiei por completo e chorei com essa história, sem mentira! A escrita delicada, o enredo envolvente, a sensibilidade do recado transmitido... Sério! Me senti completamente envolvida, torcendo pelo Tae e, como disse, me emocionando junto com ele! Coisa mais linda essa FIC, viu? <3
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