Capítulo Único
Parte 1
Entrei em casa, sentindo a diferença de temperatura do lugar. Meus olhos buscaram por null, e pude encontra-la por entre o amontoado de cobertas em cima da minha cama. Tirei o casaco e segui para o banho, sem falar com a garota que se encontrava ali deitada.
Juntei-me a ela minutos depois, sentindo o cheiro de cereja que emanava de seus cabelos e o calor de seu corpo, quando ela me abraçou.
null costumava dizer que minha cama era o melhor lugar do mundo, por isso eu a encontrava deitada por entre os cobertores sempre que chegava do trabalho. Apesar de tudo, nunca consegui entender o que de tão especial tinha no meu flat de dois cômodos.
- Como foi o seu dia? - ouvi null perguntar após alguns minutos abraçados.
- Foi cansativo, carreguei engraçados de cerveja a tarde toda, minhas costas estão me matando. - coloquei a mão na lombar, fazendo uma careta de dor ao sentir o local dolorido.
null me olhou com pesar. E eu já sabia que o que viria a seguir seria um discurso do quanto meu trabalho me prejudicaria com passar dos anos. Por isso a calei com um beijo.
- Por que fez isso? - a garota perguntou risonha, assim que nossas bocas se separaram.
- Gosto de como a sua boca se encaixa na minha. - respondi sorrindo, vendo-a sorrir de volta.
- Tudo bem, agora me deixa te fazer uma massagem.
- Não precisa, null, sério, eu tô bem.
Ela de nada respondeu, ajoelhou-se na cama e deu tapinhas na minha barriga, indicando que era pra eu me virar.
Não ofereci resistência, claro que não, eu adorava as mãos de null tocando meu corpo. E uma massagem seria bem vinda, no fim das contas.
null se levantou por um instante, voltando com um pote de algum creme que ela costumava passar em mim.
O conteúdo do recipiente estava gelado, mas logo foi aquecido pelas mãos quentes de null acariciando minhas costas.
- Tem alguma luta hoje? - perguntei.
- Seria bom se tivesse - a ouvi dizer - Meu pai quer que eu vá a mais um desses bailes beneficentes.
- Claro que quer. - acabei soando sarcástico. - Eu tenho um trabalho de garçom hoje, sou um idiota, é claro que você vai estar lá.
- null - me repreendeu a garota - Já te disse pra não pensar assim, você sabe que eu odeio esses jantares tanto quanto você.
- Não é você que está limpando mesas e servindo champanhe enquanto todos te tratam mal, null. - respondi bravo.
- Qual é, null, você tinha me dito não se envergonhar do seu trabalho.
- Não é vergonha, e só... Que eu queria estar do outro lado ao menos uma vez. Estar lá como um convidado, como seu acompanhante. Não com seu pai me olhando com desdém e seus amigos me tratando mal.
- null, olha pra mim – a garota parou de acariciar minhas costas, me fazendo virar para olha-la – Não importa sua condição, em qualquer lugar que seja. Eu sempre vou te olhar cheia de admiração e amor, porque é isso que eu sinto por você. Não liga pra ninguém, ‘tá? Eles não te enxergam do mesmo jeito que eu.
- Eu te amo, null.
- Eu também, null, você é o melhor amigo do mundo. Não sei o que seria de mim sem você.
- É, null, você também é uma ótima... Amiga. – sorri frouxo, tentando disfarçar minha frustração.
null me amava, não tinha duvidas disso. Sempre fomos cúmplices um do outro. Ela faria qualquer coisa por mim, assim como eu faria qualquer coisa por ela. Ela se sentia atraída por mim, de fato, já que beijos e transas aconteciam frequentemente entre nós. Mas eu sempre tive certeza de que não era o príncipe encantado que null esperava. Ela não queria se casar comigo, não queria ter uma família comigo, não estava apaixonada por mim. Eu sempre estive apaixonado por ela.
null foi embora algum tempo depois, alegando precisar se arrumar para o evento. Ainda fiquei deitado por algum tempo no espaço que antes era ocupado pela mulher que nublava meus pensamentos. Sentindo o cheiro de cereja no travesseiro, acabei adormecendo por algumas horas.
Quando acordei já era noite, precisava correr ou chegaria atrasado. Tive que pegar o metrô para chegar ao meu destino, já que um carro não era algo que cabia no meu orçamento.
Acabei levando uma bronca por chegar cinco minutos atrasado. Aceitei ouvir tudo calado, mesmo sabendo que o tratamento especial que ganhava era por que o Sr. null não ia muito com a minha cara.
Comecei a trabalhar um tempo depois, não ligando muito para os convidados, que ainda eram poucos. Meus pensamentos às vezes fluíam até null, e eu me pegava procurando-a entre os presentes do evento.
Tive um deslumbre da mulher que meus olhos insistiam em procurar cerca de meia hora depois, meus olhos se prenderam na garota que entrava acompanhada do pai, usando um vestido preto que chegava a cobrir seus pés, null estava radiante. Eu sabia que mesmo não gostando daqueles eventos a garota nunca seria capaz de ser rude com alguém.
Continuei fitando-a por um tempo, na esperança que meu olhar atraísse o seu. É claro que não deu certo. null estava ocupada demais pra prestar atenção em um simples garçom.
Fui tirado de meus devaneios quando alguém esbarrou em mim, chamando a atenção de todos, quando gritou para que eu saísse de seu caminho. null finalmente prestou atenção em mim, me lançando um sorriso que foi impossível não retribuir. Minha felicidade não durou muito, já que alguns minutos depois null estava em um canto conversando com o cara que havia esbarrado em mim.
Tentei ignorá-los veemente.
E consegui, pelo menos até certo tempo.
- Ei, garçom, por que você não vem servir a gente? – ouvi dizerem, quando eu passei próximo a mesa de null.
Respirei fundo e me forcei a ficar calmo, aproximei-me deles e ofereci a bebida.
O que veio a seguir foi o desfecho daquela noite. Matthew acertou a bandeja que eu segurava, fazendo todo o conteúdo contido ali se despedaçar quando encontrou o chão.
- Porra, cara! Não sabe nem fazer o seu trabalho direito. Seu inútil. – o maldito Matt disse, carregando um sorriso irônico em seu rosto. – Junte os cacos agora ou o Sr. null vai me ouvir reclamar de você. E eusoube que você precisa de cada centavo do seu salário.
Me agachei, começando a juntar os cacos da bagunça que o idiota havia feito. Olhei para null, esperando que ela me defendesse como eu a defenderia numa situação parecida.
Respirei fundo quando notei que a garota sequer me olhava. Voltei a catar os cacos.
Matthew rodeou-me, indo parar atrás de mim. Fingi não notar. O que não deu certo, já que fui empurrado por cima dos cacos que juntava.
Soltei um urro de dor, sentindo os cacos penetrar a palma de minha mão. A bebida contida nos recipientes quebrados fazia as feridas arderem. Eu estava caído sob cacos de vidro e álcool.
Senti duas mãos macias tocarem o meu braço quase que imediatamente, me ajudando a levantar. null se postou ao meu lado, me analisando com preocupação. Eu estava cego de raiva, e quase parti pra cima do mauricinho que se achava no direito de fazer aquilo comigo.
Não pude, entretanto. John null apareceu um tempo depois, se colocando entre mim e Matthew Thompson. Aquele idiota.
- O que está acontecendo aqui? – a voz imponente de John falou.
A música já havia parado há algum tempo, todos os convidados nos encaravam.
- Receio que esse garçom não saiba fazer o seu trabalho direito, Sr. null. Eu e null estávamos conversando quando, provavelmente por ciúmes, esse pobretão tentou jogar bebida em mim, mas como é um inútil mesmo, acabou quebrando todos os copos.
null segurava meu braço com força, o sangue em minhas mãos começava a pingar. Eu estava a ponto de socar o rostinho daquele infeliz.
- Sabe que não vai receber pagamento por esse vexame, não é? – O Sr. null dirigiu seu olhar a mim. – Retire-se imediatamente.
- Não. – ouvi null dizer decidida – Foi o Matthew quem fez isso com ele.
- null. – John a interrompeu, lançando-lhe um olhar repreensor.
- Não vou me calar ao ver meu melhor amigo ser ofendido e diminuído a noite toda. null foi profissional durante todo o tempo, e isso aqui. – apontou para meus machucados – foi causado por um de seus convidados, ele pode processá-los por danos morais e físicos, se quiser.
John olhou nos meus olhos pela primeira vez na noite, e neles não encontrou qualquer sinal de hesitação. Eu era forte desde que null estivesse ao meu lado.
- Agora, se puderem nos dar licença, estamos indo.
- Não quero que vá com um de meus subordinados, null. O que os outros convidados vão pensar de nós?
- Até mais, papai.
[...]
Entrei no carro de null sem dirigir sequer uma palavra, quis ficar assim durante todo o tempo, mas tive que ceder quando vi que o caminho que ela fazia não me levaria para casa.
- Pra onde estamos indo?
- Pro hospital, null. – null respondeu soando preocupada.
- Não foi nada demais, não preciso ir, null.
- Tem um corte fundo na sua palma que pode precisar de pontos, além de que pode ter ficado algum caco ai dentro. Não tente discordar, null.
Me rendi, calando-me por mais alguns minutos.
- É verdade aquele lance de processar o seu pai? Quer dizer, eu posso fazer isso?
null suspirou antes de começar a falar.
- Pode sim, null, e eu te entenderia perfeitamente se você fizesse isso. Mas meu pai tem dinheiro e contatos, seria quase impossível de você ganhar.
Também suspirei, frustrado. Não porque eu queria o dinheiro do pai de null, mas porque ele sairia ganhando mesmo estando errado. Tudo por causa dos malditos números em sua conta bancária.
Sempre seria assim.
Chegamos ao hospital e, por ser tarde, tinham poucas pessoas para ser atendidas. Não tivemos que esperar muito, e logo uma enfermeira analisava minhas mãos.
De fato havia sobrado um caco de vidro na minha mão direita, que apesar de ser pequeno resultaria numa inflamação caso continuasse ali.
null me levou para casa quando os curativos já estavam em minhas mãos, subimos os três lances de escadas que levavam até meu apartamento em silêncio. Estava preparado para me despedir da garota, visto que ela nunca dormia ali por conta do pai, beijei a testa dela, mas querendo sua boca na minha. Aquele não era o momento, entretanto.
null entrou no apartamento antes de mim, despindo-se do vestido que usava e buscando uma de minhas camisetas do armário. Eu ainda estava atônito, parado na porta sem entender o porquê dela estar ali.
- Vai ficar parado aí a noite toda? – ouvi null perguntar, enquanto caminhava em direção ao banheiro.
Sai do meu transe, andando até o meu quarto e começando a despir-me também.
null voltou minutos depois, sem a maquiagem que havia usado durante toda a noite. Estava linda.
Senti que ela me abraçou por trás, deixando um beijo singelo em minhas costas desnudas. Virei de frente para ela, sorrindo simplesmente por ter ela perto de mim.
Em seguida, a garota pegou minhas mãos levando-as até a altura de seus lábios, onde também depositou beijos que me proporcionaram sensações incríveis.
A sensação de que alguém se importava comigo.
A beijei com todo o amor contido em mim, null retribuiu sem hesitar.
Mais do que rápido null desceu as mãos até minhas calças, desabotoando o cinto num piscar de olhos.
Nos guiei ate a cama, deixando as caças abandonadas no chão do quarto. Coloquei as mãos por dentro na camiseta que null vestia, sentindo sua pele queimar sob a minha. Quebramos o beijo em busca de ar, e a boca da garota foi direto ao meu pescoço, me arrepiei com o toque, apertando sua cintura em resposta. null gemeu baixo em meu ouvido, e eu procurei sua boca novamente. Beijamo-nos com fervura, minhas mãos acharam seus seios fartos, não pude me conter de aperta-los. A garota então desceu a mão até minha boxer, apertando o local que pulsava por ela. Foi a minha vez de gemer
Com pressa, a moça tirou a própria camisa, deixando seu tronco desnudo. Me empurrou até que eu estivesse deitado na cama e sentou-se por cima da minha ereção, me fazendo soltar mais um gemido. A mulher se debruçou sobre mim, me calando com um beijo. Desceu os lábios pelo meu pescoço, peito e abdômen, chegando a barra de minha boxer, onde passou a língua, deixando um rastro de saliva quente no lugar. Senti as mãos de null baixar o único tecido que ainda havia no meu corpo, me deixando completamente nu. Sem me deixar pensar, null agarrou meu pênis, começando devagar com os movimentos de vai e vem. Fechei os olhos, apreciando o carinho e fui surpreendido mais uma fez pela quentura de sua boca substituindo o movimento de suas mãos em meu membro. Gemi alto. null também soltou um grunhido.
Puxei-a para cima quando senti que estava chegando ao meu ápice. Inverti nossas posições na cama, deixando-a por baixo. Repeti o mesmo que ela havia feito comigo: beijei sua boca e pescoço, mas parei nos seios para dar-lhes uma atenção especial. A null segurou meus cabelos, gemendo meu nome baixinho. Continuei beijando e sugando toda a pele exposta, inebriado pelo cheiro de cereja e sexo que exalavam daquela mulher. Cheguei à melhor parte, segurando a calcinha dela por entre os dentes e baixando devagar. Senti a ansiedade de null, que fechou os olhos e respirou fundo. Voltei para cima, beijando a parte interna de suas coxas. Acariciei de leve seus lábios externos.
- null, por favor. - ouvi null dizer num pedido sôfrego.
- O que você quer, null?
- Quero seus dedos, sua boca, eu quero você, null.
Ouvir isso foi o suficiente, penetrei três dedos nela, ouvindo-a chamar pelo meu nome assim como eu chamava o dela minutos atrás, por entre gemidos e lufadas de ar. null me impediu de continuar com a brincadeira, tirando meus dedos de dentro dela e me empurrando até que eu estivesse sentado na cama. Esticou-se, pegando uma camisinha no criado mudo e vestindo-a em mim. Sentou-se em meu colo, começando com movimentos lentos, mas logo aumentando o ritmo. null buscou apoio na cabeceira da minha cama, enquanto eu segurava forte em sua cintura. Inclinou-se, mordendo meu ombro para conter seus gemidos. Em vão. null inclinou a cabeça pra trás, deixando seus seios pra mim, por minha vez deliciei-me com aquela região, colocando meu rosto entre eles.
Acabamos deitados depois de um tempo, exaustos demais para continuar naquela posição. Continuei com os movimentos até sentir meu ápice perto. null também dava indícios de que logo chegaria lá. Por fim, gozamos. Apreciei o êxtase que null null causava em mim por um tempo até levantar para jogar a camisinha fora. Quando voltei null já estava com a minha camiseta de novo, também vesti minha boxer e me deitei ao lado dela. A abracei por trás, deixando um beijo singelo no seu pescoço. null encarava sem parar o telefone.
- O que foi, null? - perguntei preocupado.
- Meu pai não para de me ligar, ele quer que eu vá pra casa.
- Quer que eu te leve?
- Não. Hoje eu quero ficar aqui com você, amanhã eu falo com ele.
- Tudo bem, dorme agora, anjo.
null balançou a cabeça em sinal positivo, aconchegou-se mais em meu abraço e logo estava ressonando baixinho.
Também me permiti adormecer depois de uma noite turbulenta, me permitindo enganar a mim mesmo com a ideia de que null me amava tanto quanto eu a amava.
[...]
Acordei com o cheiro de café da manhã vindo da cozinha. null já estava de pé cozinhando para nós dois. Ela me viu assim que levantei da cama, me lançando um sorriso que faria qualquer mau humor sumir. Foi impossível não sorrir de volta, fui até ela, lhe roubando um selinho.
- Vamos aproveitar que eu ganhei dispensa do trabalho hoje é curtir o dia juntos?
- Não posso null, tenho que treinar hoje, a eliminatória do campeonato é em dois dias. E ainda tenho que encarar meu pai, acho que não vai dar pra voltar aqui.
- Que droga.
- É verdade. Mas aproveita o dia, você diz o contrário, mas eu sei que seu trabalho te cansa muito.
- Você também diz o contrário, null, como se lutar boxe não fosse cansativo o suficiente.
- É diferente, null, é adrenalina pura. Às vezes eu fico tão focada que nem sinto meu corpo se cansar. - null sempre falou do boxe com um brilho nos olhos, era realmente sua paixão. Desejava que seus olhos também brilhassem quando ela falasse de mim. - Não é maçante, repetitivo ou chato.
- Eu sei null, você fala isso sempre. É por isso que eu sempre vou te apoiar nisso.
- Obrigada, null, agora tenho que ir. Tenta não dormir o dia todo, seu bobão. - null pegou o vestido que havia jogado num canto a noite anterior e o vestiu.
- Acho que vou chamar o Louis pra gente ir a algum lugar.
- Tudo bem. - a garota veio até mim, deixando um beijo na minha bochecha, se dirigindo até a porta em seguida. - Eu te ligo!
O baque na porta foi ouvido, eu estava sozinho afinal.
Parte 2
Ouvi meu celular tocar algumas horas depois de null ir embora, eu ainda estava esparramado na cama assistindo a qualquer coisa na TV. Procurei meu celular nos bolsos da calça do dia anterior, não me preocupando em olhar quem me ligava. Atendi.
- null null? – ouvi uma voz feminina perguntar do outro lado da linha.
- Sou eu. Quem é?
- Aqui é da Red Ocean, o Sr. null deseja falar com você.
- John null? O que o pai da null iria querer comigo?
- Não me foi dito, Sr. null. Você pode comparecer às 14h de hoje?
- Hm... Tudo bem. – confirmei meio hesitante.
Louis também me ligou naquela tarde e marcamos de nos encontrar num bar próximo ao centro. Minha mente estava nublada. Eu não sabia o que pensar sobre o meu encontro com o pai de null. Pensei em ligar para a garota e contar que o pai dela havia me chamado para uma conversa, mas certamente ela iria querer interferir, então guardei só para mim.
Tive que ir de metrô e o trajeto demorou cerca de uma hora, felizmente cheguei na hora certa, John null não demorou a me atender.
Entrei na sala me sentindo pequeno em meio a tanto luxo. John estava sentado atrás de uma mesa enorme, me encarando incrivelmente amigável. Achei estanho, visto que o comportamento de John nunca foi assim quando destinado a mim. Desviei o olhar do empresário, focando em um quadro de null em sua mesa, sorri inconscientemente. O Sr. null tossiu para chamar minha atenção.
- Creio que não saiba por que está aqui, não é rapaz?
- Na verdade não.
- Conheceu Matthew Thompson no evento de ontem, não é?
Meu cenho se contraiu ao ouvir aquele nome, cerrei meus punhos pela raiva, mas me acalmei ao sentir a dor dos cortes.
- Tive a infelicidade de conhecê-lo, mas por que a pergunta?
- Veja bem, ele é rico e vem de uma família influente. null é uma moça jovem, mas ela precisa de um companheiro, alguém que faça bem para ela. Ela tem que tirar essa história de lutar da cabeça!
Engoli a seco, temendo pelo que viria a seguir.
- Não estou entendendo.
- Você perpetua essas ideias na cabeça da minha filha, ontem ela não dormiu em casa e eu sei muito bem que a culpa é sua. - a voz do homem subiu alguns décimos - Imagine se a família de Matt descobre que minha filha dormiu no Brooklyn com um bastardo que nem você?
Eu ia me preparar para devolver todas as ofensas direcionadas a mim, quando fui interrompido por ele.
- Sei que sente falta da sua mãe, fiquei sabendo que ela mora na Califórnia. Também sei que você quer fazer uma faculdade de cinema, mas não pode pagar. Não é?
Concordei com um aceno, não entendendo como ele sabia de tudo aquilo.
- Posso pagar a faculdade para você. Uma bolsa de cem por cento na melhor faculdade da Califórnia. Ainda pago a sua passagem de ida, porque sei que você não teria dinheiro nem para isso. Em troca quero que você se afaste de null. Nenhuma ligação, e-mail ou mensagem trocada. Quero você longe dela.
Encarei a janela atrás do homem, sem reação diante do que ele havia me proposto. Era meu sonho... E ainda tinha a minha mãe.
Meus olhos se voltaram para a foto de null, minha decisão estava tomada.
- Quero o que é melhor para a null. - respondi num tom de voz firme, o Sr. null já abria um sorriso. - E o melhor para ela é ficar ao meu lado. null não se importa de ir até o Brooklyn, as vezes parece que ela prefere o meu loft a sua mansão. Sabe por quê? Porque comigo a null é livre, você é um maldito babaca machista que não pode apoiar a sua filha no maior sonho dela. O boxe é a vida da garota, e eu a apoio sim! Porque sei que ela é forte e é capaz. E quanto ao Thompson, tão babaca quanto você! Sei muito bem que null repudia esse tipo de gente e nunca aceitaria qualquer tipo de contato com aquele otário, mesmo se eu não estivesse aqui. Agora sinto em ter que ir embora, já ouvi asneiras demais por hoje.
- Pense bem na minha proposta. Ainda está de pé. - ainda pude ouvi-lo dizer antes de bater a porta atrás de mim.
Saí do edifício com a sensação de que havia feito a coisa certa, apesar de ter sentido um aperto no peito ao me lembrar de minha mãe. Eu nunca conseguiria viver longe de null, e pode soar meu convencido, mas sei que ela também não viveria sem mim. Com a mente cheia, decidi ligar para Louis e antecipar o encontro. Eu precisava despejar em alguém os últimos acontecimentos. Meu amigo concordou e em meia hora já estávamos acomodados em alguma lanchonete próxima à sede da Red Ocean. Depois de nos sentarmos em uma das mesas mais afastadas Louis se prestou a apenas ouvir meu monólogo infindável. Falei sobre o “acidente” do dia anterior e mostrei os curativos em minhas mãos. Contei sobre a proposta de John null e sobre a saudade que eu sentia de minha mãe. Pensei na faculdade que eu sempre quis cursar. E principalmente, falei de null.
- Talvez eu devesse ir mesmo, a null precisa de alguém que possa dar um futuro descente a ela. Eu sou só um pobretão que sequer tem dinheiro para ligar para a própria mãe.
- Cara, a null quer você do lado dela, você sabe que ela nunca iria se afastar por você não ter dinheiro. E se vocês ficarem mesmo juntos sabe que ela nunca aceitaria ser bancada por você.
- Tem isso também, eu não aguento mais estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe dela. Sem saber em qual momento eu posso beija-la ou em qual ela ficaria brava se eu o fizesse. Quero ama-la e ser retribuído, mas às vezes null parece ser inalcançável.
- Você tem que tentar null. Se não se declarar nunca vai saber se é retribuído. E mesmo que ela não sinta nada de volta, e melhor saber a verdade do que se firmar em falsas esperanças.
- Talvez você esteja certo.
- Mas e ai, tem certeza que quer desistir do seu sonho por uma garota?
- null é o meu maior sonho.
Louis e eu ainda ficamos conversando por bastante tempo e no fim do dia meus pensamentos já eram mais leves. Tomei um banho ao chegar em casa e me prostei na cama com a intenção de não fazer mais nada aquele dia. null acabou me ligando próximo às dez horas, e eu sorri com a ideia de poder ouvir a minha garota antes de finalmente dormir.
- Oi null! Como foi o seu dia? - null perguntou parecendo animada do outro lado da linha.
- Nada demais, sai com Louis para beber um pouco. E você? – preferi omitir minha conversa com o null
- O treino foi pesado, amanhã eu tenho uma luta do campeonato. Eu tô tão animada, é a minha chance, null!
- Sei que vai conseguir null. Desculpe por não poder ir te ver. – respondi com um pesar na voz.
- Nah, sei que vai estar torcendo por mim de qualquer lugar do mundo.
- Você está certa.
- Sei que amanha é terça-feira e você provavelmente vai estar cansado do trabalho, mas eu queria muito sair pra comemorar. Isso é, se eu conseguir passar.
- Deixa de ser tão pessimista. E é claro que eu vou com você. Aonde quer ir?
- Naquele pub aqui perto de casa, sabe?
- Ahn, claro. – aquele que só tem playboys, pensei. – Você não chamou aqueles seus amigos, chamou?
- Na verdade eu até chamei as meninas, mas elas disseram que não querem comemorar a minha loucura.
- Sinto muito, não liga pra elas.
- Não me importo.
Ela se importava, eu sabia que sim. Mas null nunca gostou de revelar seus sentimentos. Nunca deixava ninguém ver uma lágrima sequer cair de seus olhos. A null me considerava seu melhor amigo, mas mesmo assim eu nunca fiquei sabendo das frustrações da garota. Eu desconfiava que ela descarregava todos os seus sentimentos na luta, fossem eles bons ou ruins.
Não insisti no assunto, e logo despedimo-nos. Lembrei-me do que Louis me falara sobre me declarar para null, pensei que o momento certo poderia ser na noite que viria. null estaria feliz, comemorando sua entrada no campeonato, talvez fosse o momento perfeito. Eu queria aquilo. Não pensei na hipótese de algo dar errado, apenas deixei me levar pelo sono, e desejei que o dia de amanhã fosse exatamente como eu imaginei.
Não foi isso que aconteceu.
É claro que não foi isso que aconteceu.
Onde eu estava com a cabeça de achar que algo daria certo na minha vida?
null conseguiu se classificar, é claro. Como havíamos combinado, iríamos comemorar a Vitória dela num pub. null me buscou por volta das dez, durante o trajeto, no carro, tudo foi incrível, a alegria da garota era contagiante. Nada poderia dar errado, certo?
Chegamos ao pub e não foi difícil de entrar. null pagou minha entrada mesmo com a minha relutância em aceitar. De cara amarrada entrei no pub, a música era alta e o ambiente escuro, as luzes coloridas ofuscava minha visão. null me puxou direto para o bar, me fazendo tropeçar nos próprios pés pela rapidez. Ela pediu Vodka, eu preferi pegar uma cerveja. null virou o álcool do copo de uma vez, me puxando para pista em seguida. Levei a garrafa de cerveja comigo, e fingi dançar enquanto observava null fechar os olhos e requebrar o quadril. Dei um gole, apreciando a visão. A null estava no ápice de sua felicidade, linda.
Me aproximei mais dela, acreditando que aquela era a hora.
Era agora.
Eu ia me declarar.
- Quero te falar uma coisa - falei próximo ao seu ouvido, devido a musica alta
- Deixa pra depois, null!
- Eu preciso que você esteja sóbria pra ouvir o que eu tenho a te dizer.
- Mas eu ainda estou sóbria! Depois você me fala, vamos curtir.
Cedi, e continuamos na pista. Vez ou outra a null me fazia ir até o bar buscar algo para ela.
null continuou me dizendo ainda estar sóbria depois do segundo copo de vodka, e do terceiro, e do quarto também.
- Já chega null
- Tudo bem, null. O que você queria me falar?
- Tem certeza que vai se lembrar disso amanhã?
- Você sabe que sim.
Eu sabia. A puxei pela mão até um local mais afastado, onde a música era mais baixa. Tudo que encontrei foi o corredor que levava ao banheiro, afinal. Ao menos havia poucas pessoas e um sofá mais ao canto. Um grande espelho revestia a parede, o que me fez encarar a minha imagem no espelho por alguns segundos, nervoso demais para dizer alguma coisa.
null me encarava sentada no sofá, esperando por alguma reação minha, dali eu conseguia ver o seu braço arroxeado, hematoma conseguido durante a sua disputa.
- null, eu... - tentei começar, não consegui. Tomei ar, tentando falar de novo - Se lembra de como a gente se conheceu?
- Sim, no supermercado, eu...
- Você queria um pote que estava alto demais - a interrompi - nós trocamos duas frases e eu olhei em seus olhos por dois segundos, mas eu desejei que você voltasse no próximo dia. E eu sai do meu lugar muitas vezes, tentei mudar de cargo, só pra poder ver quando você voltaria. Mas você não voltou. Então a gente se encontrou aquele dia no campus da sua faculdade e você começou a despejar em mim o quanto você não gostava de cursar direito, eu fiquei hipnotizado, eu só sabia sorrir diante do seu monólogo. Porque você é apaixonante. Mas eu logo percebi que o que você queria comigo era amizade. Aceitei e estava tudo bem. Pelo menos eu achei que estava. Até você me beijar naquela festa. Eu me senti o cara mais feliz do mundo naquele dia, null. Acreditei que finalmente iríamos ser um casal, mas no dia seguinte você despejou um balde de água fria em mim. Amizade colorida. Era isso que você queria e eu aceitei. Eu quis porque era o único jeito de eu ter uma parte de você comigo. E eu não sei decifrar os seus sentimentos, null, às vezes você parece incrivelmente distante, mas então você está tão perto. O que eu quero dizer e que eu sou apaixonado por você desde o dia em que fitei seus olhos naquele supermercado.
Soltei uma lufada de ar ao terminar falar, me sentindo um pouco mais leve, mas olhando apreensivo para null. A garota me olhava atônita. Eu imaginava que ela sabia como eu me sentia, mas talvez eu estivesse enganado.
- Eu... Não sei o que dizer. - null falou, se levantando do sofá - Eu preciso de ar.
A garota então saiu em disparada pra fora do corredor, corri atrás dela, buscando-a em meio ao amontoado de pessoas na boate. Não encontrei. Sai do pub, sentindo o vento gélido bater em meu rosto, procurei pelo carro de null, felizmente estava estacionado no mesmo lugar que ela deixou. Procurei-a em meio a pouca luz da rua. Nada. Me perguntei como null conseguia ser tão rápida em cima de um par de saltos mesmo após beber tanto. Incerto de qual direção seguir acabei indo para a direita. Torcendo estar no caminho certo.
Corri até chegar num beco aonde um cara ia pra cima de uma garota. Por entre as sombras consegui perceber que era null a garota que enfrentava o homem. Na pressa corri para ajudá-la, não me dando conta de que era null quem batia no cara. Tentei tira-la de perto dele quando vi que o cara estava quase inconsciente. null se desvencilhou de meus braços. Deixando um último chute no estômago do homem, que cuspiu sangue, tossindo um pouco.
- Pensa em mim na próxima vez que for tentar estuprar uma garota. Seu idiota. Depois dessa espero que nunca mais tente, ou eu te caço até o fim do mundo.
- Vem, null.
Estávamos saindo do beco quando um barulho de sirene foi ouvido, e do carro saíram dois policiais.
- Parados! O que vocês fizeram com esse cidadão?
- Foi em legítima defesa, policial. - null respondeu.
- Vá chegar se ele está bem. - um dos policiais falou, o outro se abaixou próximo a onde o sujeito estava caído.
- Ele está vivo, mas inconsciente. Porta drogas e uma arma branca, senhor.
- Certo. - o policial pegou um rádio. - Preciso de uma viatura na Seven Street, próximo ao Midnight Club.
Era isso, eu finalmente poderia descansar daquela noite agitada. Com sorte null me levaria em casa.
- Vocês estão detidos.
[...]
6- Está liberado, Sr. null. Obrigada pela sua colaboração. – o delegado disse assim que saí da sua sala, null encarava o nada, sentada em uma cadeira próxima dali.
- E a null?
- A Srta. null precisa esperar o responsável dela.
Concordei com um aceno, indo me sentar perto da garota.
- null eu...
- Eu preciso de tempo, null. - ela falou sem ao menos olhar pra mim. – Só vai pra sua casa, eu te ligo depois.
- Tudo bem.
Esperei pacientemente pela ligação de null nos sete dias que se sucederam a aquele fatídico dia. Nada. A garota parecia não querer me ver nunca mais, e eu respeitei a decisão dela. Mesmo que doesse em mim não poder ouvir sua voz ou vê-la encolhida em minha cama me esperando chegar do trabalho. Sem null, acabei caindo numa rotina monótona e chata, tudo que eu fazia era dormir e trabalhar. Ás vezes Louis me ligava, mas nossas conversas ao telefone eram breves. Sem a garota, acabei tendo a certeza de que null null coloria meu mundo.
Sem a presença constante da null no meu apartamento e passando muito tempo sozinho, acabei pensando demais no que não devia. Inclusive na proposta do Sr. null. null me impedia de ir pra Califórnia, agora não havia mais impedimento. Deixe de ser burro, null vai te ligar e tudo vai voltar a ser como antes. Ela não é um impedimento. Eu repreendia a mim mesmo.
Duas semanas depois eu já não tinha mais tanta certeza se ela voltaria. Ás vésperas da semifinal do campeonato null sequer tinha dado sinal de vida. Eu nem sabia se ela estava bem. Provavelmente sim.
Ela costumava dizer que precisava de mim pra vencer qualquer luta, que eu era quem a trazia sorte. Mentirosa. Eu sempre falava com ela antes de suas disputas, geralmente por telefone, já que o meu trabalho me impedia de ver algumas de suas lutas. Então, faltando três dias para a semifinal eu já não tinha esperanças em ter null perto novamente.
Ouvi meu celular tocar e consequentemente meu coração acelerar. Encarei o visor, vendo que era o nome de null que brilhava ali. Atendi.
- Não sei se consigo olhar pra ele e não pensar em tudo o que ele me disse naquela noite, sobre gostar de mim desde sempre. Acho que nunca mais seremos os mesmos. E eu não ‘tô pronta pra olhar nos olhos dele e dizer que eu não sinto o mesmo. Sei que ele vai ficar decepcionado, mas essa distância é melhor pra nós dois. E é verdade que somos de mundos diferentes, o pobretão e a riquinha nunca dariam certo. O null é tão...
A chamada terminou ali, num monólogo de null se referindo a mim na terceira pessoa. Era isso.
Foi então que eu tomei a minha decisão.
Parte 3
null’s P.O.V
Coloquei o vestido em frente ao corpo, decidindo que estava curto demais para mim. Encarei o rosto de Rebecca através do espelho, que fez um joinha com os dedos, aprovando o modelito. Rolei os olhos, deixando o vestido de lado e partindo para o closet em busca de algo melhor.
- Amiga, e aquele cara, o null? – ouvi Becky perguntar do quarto.
Suspirei.
- Não sei se consigo olhar pra ele e não pensar em tudo o que ele me disse naquela noite, sobre gostar de mim desde sempre. Acho que nunca mais seremos os mesmos. E eu não ‘tô pronta pra olhar nos olhos dele e dizer que eu não sinto o mesmo. Sei que ele vai ficar decepcionado, mas essa distância é melhor pra nós dois. O null é tão fofo, sei que ele me entenderia.
- Você ‘tá certa em manter distância desse cara, null, ele não é no mesmo nível que a gente.
- Você tem razão. O null não está no mesmo nível que nós duas, ele é superior a mim, a você e a qualquer outro. Sabe por quê? Porque ele nunca humilhou ninguém pra se sentir melhor, ele não precisa de todo o dinheiro do mundo, porque ele valoriza o que ele tem. E, céus! Ele me apoia, ele me ama e faz tudo por mim e pelos amigos dele. Ele divide o pouco que ele tem enquanto os ricos querem tudo pra si. Ele é o garoto mais incrível que eu conheço. Como eu pude pensar em ficar longe do meu null?
Rebecca me olhava atônita, sem palavras pra me responder. Ignorei-a, buscando meu celular pelo quarto.
- Sabe onde está meu celular? – direcionei meu olhar a ela.
- Não faço a menor ideia.
- null, ainda não está pronta? – meu pai apareceu na porta – Vá se arrumar agora, quero você na sala em trinta minutos.
- Eu preciso falar com o null antes, me dá só alguns minutos.
- De novo esse garoto? Não quero desculpas. Trinta minutos ou não vai poder sair de casa pelo resto da semana. Você decide.
- Mas depois de amanhã é a semifinal do campeonato, não posso perder!
- O tempo está passando. – apontou para o relógio.
Me virei para a cama, encarando Rebecca. Você não tinha me dito que não sabia onde meu celular estava? – falei, apontando para o meu celular ao seu lado na cama.
- Ah, eu não vi. – a garota me estendeu o aparelho. – Vou deixar você se arrumando.
Encarei o celular, pensando em ligar. Olhei minhas ultimas chamadas, lembrando que o número de null sempre ficava nas chamadas mais recentes. Seu nome não aparecia naquela lista há vários dias.
Dei de ombros, pensando em ligar depois. Eu precisava ficar pronta logo.
[...]
Encarei o celular, aflita. Já era a quarta vez que eu ligava para o null, o garoto parecia decidido a me ignorar. Eu o compreendia depois do meu silêncio de duas semanas. Não tentei deixar recado, eu sabia que ele nunca ouvia nenhum deles. Pensei em faltar ao treino e ir até a casa dele, mas não podia me dar ao luxo de faltar. Era meu futuro em jogo.
Fui, com os pensamentos nublados e o rosto de null em minha mente. Acabei me sentindo melhor depois de algumas horas treinando. Depois, mesmo exausta eu quis dirigir até onde null estivesse, mas minha treinadora me proibiu de sair naquela noite. Alegando que eu precisaria descansar para o dia seguinte. Concordei, decidindo que o veria antes do campeonato.
Dormi logo que cheguei em casa, não me permitindo pensar em nada. Só acordei na manhã seguinte, me arrumei rapidamente, passando pela cozinha para comer uma fruta e logo pegando as chaves do meu carro. Não falei com ninguém antes de sair, apenas dirigi decidida até o tão conhecido Loft. Subi as escadas de dois em dois, pronta pra pular nos braços do garoto e ser recebida pelo melhor abraço do mundo.
Bati na porta antes de entrar, receosa por achar que talvez null estivesse com raiva de mim. Nada. Olhei no relógio, constatando que era cedo demais para ele estar no trabalho. Dei de ombros, peguei minha chave e abri a porta.
Me surpreendi com o que encontrei no loft.
Quer dizer, com o que não encontrei no loft.
O lugar estava completamente vazio, nenhum sinal de que null um dia esteve ali. Olhei nos armários, buscando alguma coisa que dissesse que aquele foi seu lar por algum tempo.
Quando me dei conta do que estava acontecendo chorei. Me encolhi num cantinho do loft e despejei as lagrimas sob as minhas mãos. Ele tinha me deixado. Ou eu o tinha deixado antes? Não sei.
Só sei que fiquei ali por horas, e só acordei do meu transe quando um cara entrou no loft.
- Quem é você, garota, como entrou aqui?
Estendi a chave do loft, incapaz de dizer algo.
- Bem, você vai ter que me devolver. O garoto que morava aqui se mudou ontem.
- Pra onde ele foi? – consegui dizer baixo, minha voz estava rouca por conta do choro.
- Eu não sei da vida pessoal dos meus inquilinos. Agora você pode ir embora?
Me levantei, colocando a chave na mão dele e dando uma ultima olhada no lugar, me recordando dos muitos momentos que passamos juntos ali. Encarei o local onde a cama deveria estar e desejei poder voltar no tempo. Sem mais o que fazer, dei as costas para as minhas lembranças e segui para fora.
A partir dali tudo pareceu acontecer no modo automático. Não sei como cheguei em casa, muito menos de como consegui chegar ao local da disputa. Eu parecia estar em estado catatônico.
- Essa aqui é a minha casa, é claro que é bem menor que a sua, mas dá pro gasto – null me disse quando entramos no loft pela primeira vez. – E é engraçado, porque dá pra ver a casa inteira daqui da porta. Bom, na verdade não é tão engraçado. Já que é basicamente um cômodo dividido em dois.
- Eu adorei! – respondi sincera.
Só acordei quando senti socos pelo meu corpo, olhei ao meu redor, tentando discernir onde eu estava. No ringue. Era a hora de reagir. Reuni toda minha força e troquei de lugar com a minha oponente. A partir dali minha mente se nublou. Passei a dar socos e chutes sem ao menos pensar antes. Só parei ao ouvir o som do apito, indicando o fim do confronto. O juiz levantou meu braço, indicando que eu era a vencedora. Uma salva de palmas foi ouvida. Meus ouvidos zumbiam. Eu só queria estar sozinha.
- Você foi incrível, null! Ninguém ganha de você – null disse assim que eu saltei do ringue. Abrindo os braços para me receber, mesmo eu estando suada.
- Obrigada por estar aqui – minha voz saiu abafada por conta do abraço – Ninguém nunca está lá por mim.
- Eu sempre vou estar aqui pra você.
[...]
- Qual é,null, já faz três semanas! Você tem que desistir desse cara. – John falou.
Estávamos sentados no refeitório do campus esperando a aula começar, meu humor era dos piores e nos últimos dias eu preferia ir para a biblioteca a ter que encarar qualquer um dos meus amigos. Não adiantava, eles sempre queriam falar do null ou do boxe, mas a única coisa que sabiam era criticar.
Eu já havia explodido e gritado com eles uma vez ou outra, mas mesmo assim eles pareciam gostar de me ver irritada. O fato é que eu estava empenhada em falar com null null nas ultimas semanas, mas ele parecia ter sumido de Londres. Tentei ligar, mas ele sabia bem como ignorar uma pessoa. Fui atrás de Louis, que por lealdade ao amigo não quis me dar nenhuma pista de onde null poderia estar. A principio me tranquei no meu quarto e não quis sair de lá para nada e, no auge da minha irritação, decidi que treinar era a melhor coisa a se fazer. Meu corpo pedia arrego, mas ao menos meus pensamentos eram detidos.
- Amiga, você pode vir comigo um pouquinho? – Rebecca chamou a minha atenção.
- Não quero ver a bolsa nova que você comprou, Becky.
- É importante.
- Tudo bem.
Nos afastamos do pessoal, indo até o banheiro feminino. Rebecca parecia apreensiva, o que me deixou parcialmente nervosa.
- ‘Ta bom. – a garota começou. – Se lembra daquele dia que você decidiu procurar o null de novo?
Concordei com um aceno.
- Antes disso você falou umas coisas sobre ele e eu, hm, eu peguei seu celular e liguei pra ele. Eu acho que é por isso que ele sumiu, ele ouviu tudo o que você falou dele.
- O QUE? Rebecca, como você pode fazer isso? Eu estava confusa, e você ouviu as coisas boas que eu falei dele também.
- Eu sei, null, mas eu desliguei antes dele ouvir a parte boa. Seu pai me disse que era melhor você se afastar dele e me pediu ajuda, eu achei que era verdade e concordei.
- Ah meu Deus, eu sinto tanto a falta dele. – falei já sentindo lágrimas nos olhos.
- null, abre os olhos. Você está se enxergando?
- O que? – perguntei confusa.
- Você está a ponto de se quebrar, null, me diz, quando você chorou na frente de qualquer pessoa? Acha que é só porque você sente falta do seu amigo? Você ama o null, null null.
- O que? Você ‘tá louca? Eu só sinto falta do abraço dele, e do cheiro dele, e do beijo dele e... – parei por um instante – Eu o amo?
Rebecca concordou, num aceno.
- Eu amo null null! Becky, amar dói muito.
- Eu sei, null, e é por isso que você tem que ir atrás dele.
- Não dá mais, eu perdi ele pra sempre.
- Pra sempre é muito tempo, null.
[...]
null null, meu amor.
É isso aí, você não leu errado, você sempre foi e sempre será o meu amor. Eu sempre te amei, em intensidades diferentes, mas sempre foi amor.
Você não faz ideia do quanto sua presença me faz falta, você sumiu e levou consigo parte de mim. Ás vezes me pego sentada na porta do seu loft, esperando que você apareça por lá magicamente. Felizmente ainda não mora ninguém lá, ou me chamariam de louca. Então é assim que as pessoas que amam se sentem? Como se o mundo estivesse passando bem na frente dos nossos olhos, e nós só assistimos. Nas ultimas duas semanas eu não vivi, só existi. E só agora me dei conta de que você era quem fazia meu mundo ter sentido, porque eu sempre fui apaixonada por você, null. Me desculpe pelo que você ouviu no telefone, eu nunca pensaria nada disso de você. Eu não faço ideia de onde você está, null, mas espero que Louis entregue esta carta a você. É o meu ultimo fio de esperança. Sem você meu mundo é monocromático. Preciso do seu beijo para me aquecer e do seu abraço para me colorir. A final do campeonato é em dois dias, espero te ver lá.
Da sua null xx
Toquei a campainha, esperando que Louis me ajudasse ao menos daquela vez. O homem não tardou a abrir a porta, soltando um suspiro ao perceber que era eu.
- Você de novo, null? Já disse que não vou falar onde o null está.
- Não precisa me dizer nada – me apressei a falar, vendo que ele ameaçava fechar a porta. – Só entrega isso pra ele, tudo bem? – estendi a carta. Louis pegou relutante.
- Ele está namorando agora, null. Acho melhor deixar meu amigo em paz.
- Namorando? – falei num tom sôfrego, tentando segurar as lágrimas que viriam a seguir, eu não choraria na frente dele.
Parte 4
null’s P.O.V
- Ela esteve aqui há três dias – Louis me disse, estávamos conversando por facetime há algum tempo.
- Por que você não me disse antes?
- Cara, você ‘tá sofrendo demais por essa garota. Eu tentei te ajudar.
- E o que ela disse?
- Ela me entregou uma carta, disse que era pra você. Aí eu falei que você tinha uma namorada e que era melhor te deixar em paz. Acho que ela ficou bem abalada, dude.
- Que carta? Ela ‘tá bem?
- Aparentemente sim. Eu coloquei a carta no correio naquele mesmo dia. Não sei se deve demorar pra chegar aí na Califórnia.
- Espero que não. – pensei
- Mas então, como anda a faculdade?
- Até que está legal, cara. Mas seria melhor se a null estivesse aqui.
Louis rolou os olhos, cansado de ouvir sobre null. A campainha tocou e eu deixei o celular de lado, indo atender já que estava sozinho em casa.
Fiquei em alerta assim que vi cartas passando por debaixo da porta, certamente a de null estaria no meio. Esqueci-me de Louis, correndo os olhos pelos remetentes, até achar o nome de null num envelope azul claro.
- null? Ainda ‘tá ai? – ouvi a voz de Louis vinda do meu celular.
- A carta da null chegou, Louis.
- E então?
- Acho que eu estou indo pra Londres.
[...]
- MERDA, MERDA! Não vai dar tempo. Por que esse voo tinha que atrasar justo hoje? – eu estava no aeroporto, impaciente quanto a demora do voo, faltava menos de uma hora para null lutar.
Fiquei aflito durante todo o caminho, ansioso demais para conseguir parar quieto. Quando o avião pousou, quase saltei pra fora do aeroporto, me jogando na frente de um taxi para me levar até o ringue o mais rápido possível.
Talvez o taxista tenha ficado com raiva de mim por apressa-lo a cada cinco minutos.
Não dei importância, afinal. Tudo pela null.
Quando enfim cheguei, detive meus passos ao avistar uma ambulância chegar rápido ao local. Encarei os paramédicos entrando, enquanto vários curiosos assistiam tudo. Sem conseguir me mover, assisti tudo de perto. Até ver null sendo carregada por uma maca até a ambulância.
- ! – gritei. Largando minhas malas na calçada e correndo até ela. Fui detido pelos paramédicos.
- O que você é dessa garota? – um deles perguntou.
- Sou o namorado dela. Me deixem passar! – entrei na ambulância, encarando o rosto cheio de hematomas da minha garota. Tentei toca-la, mas fui impedido. Então apenas a fitei até chegarmos ao hospital, sentindo lagrimas escorrerem pelo meu rosto.
O Sr. null chegou cerca de meia hora depois, me encarando com fúria, mas não dirigindo sua palavra a mim. Também fingi não nota-lo. Liguei para Louis enquanto aguardava por noticias, pedindo para que ele resgatasse minhas malas. John sentou-se algumas cadeiras depois de mim, ainda sem dizer nada. Esperei aflito por noticias. Uma enfermeira aproximou-se algum tempo depois.
- Quem é o responsável por null null? – a moça perguntou. Eu e John nos levantamos ao mesmo tempo.
- Sou o pai dela – a voz grossa de John se sobressaiu no silencio do lugar.
- Você pode ir vê-la. Ela ainda está acordada, mas logo vai dormir por conta dos remédios.
O homem acenou positivamente, seguindo a mulher até um corredor. Perdi-os de vista e me sentei de novo, tentando me acalmar.
John voltou poucos minutos depois, com uma cara de desgosto aparente.
- Ela quer te ver.
Sorri inconscientemente. Me levantando e seguindo rápido até seu quarto.
- null estava mole, quase cochilando quando entrei no lugar. Seu braço estava engessado e havia vários curativos por todo o seu corpo. A garota deu um sorriso fraco ao me ver, e eu sorri de volta. Me aproximando.
- null, você voltou. – ela disse com a voz fraca. Beijei-lhe a testa, me sentando numa poltrona ao lado de sua cama.
- Sim null, eu tô aqui agora. O que aconteceu?
- Ela me nocauteou – a garota soltou um riso fraco – Eu perdi o campeonato null, não ganhei o contrato.
- Não se preocupa com isso, null.
- Cadê a sua namorada? – não tive tempo de responder, pois a garota caiu na inconsciência, dopada pelos remédios.
[...]
Eu e null estávamos rindo de algo que passava na TV do hospital quando um homem entrou no quarto, sendo acompanhado pela enfermeira. null estava ali há três dias. E eu não quis sair de perto dela em momento algum. Tudo foi esclarecido. Ainda me sentia mal por saber que era o culpado por ela estar ali, mas null me garantiu que tudo estava bem.
O homem se apresentou, dizendo que era empresário de lutadores de boxe e estava procurando novos lutadores. Os olhos de null se arregalaram assim que ouviu aquilo. E ela só faltou pular de alegria quando o ouviu dizer que queria ser seu empresário. Infelizmente seu braço ainda estava engessado.
- Só tem um problema, você vai ter que se mudar. – o sorriso de null murchou. – Pra Califórnia. – Arregalei os olhos encarando a garota atônita na minha frente.
Eu estava cogitando largar a faculdade e voltar pra perto de null, em Londres.
Mas pelo visto o destino estava preparando algo maior para nós.
- Se tudo der certo você poderá mudar em dois meses.
- EU TOPO!
- Certo, Srta. null. Nos vemos em breve. – o homem enfim falou, nos deixando a sós.
- Você ouviu isso, null? Parece que nos vamos pra Califórnia!
- Mora comigo. – falei sem pensar.
- Namorar com você? – null perguntou confusa.
- Isso também, mora, namora, faz tudo comigo. null null!
- SIM, SIM, SIM! – null gritou feliz, me puxando para um abraço.
- A beijei, mostrando o quanto eu gostava daquela garota.
- Eu te amo. – ela me disse pela primeira vez.
- Eu também te amo. – respondi sorrindo.
Era o nosso novo começo. Conseguimos enfim enfrentar as barreiras impostas sobre o nosso amor, e eu nunca mais deixaria que elas fossem reerguidas.
Fim.
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