Capítulo Único
“Ele nocauteou o adversário em menos de um minuto!”
“Como sempre mostrando ao que veio, senhoras e senhores, esse é o nosso lutador norte americano, Dukhan.”
“A arena está lotada essa noite. E ainda há uma legião de fãs no estacionamento, assistindo por telões que a equipe disponibilizou para quem ficou sem ingresso.”
“ Dukhan está fazendo história, conquistando o mundo”.
“Muitos lutadores só atingiram a fama que ele tem depois de anos dando o sangue na arena, mas Dukhan é imbatível.”
“Depois de Dukhan, aquele cinturão de ouro nunca teve outro dono!”
A câmera acompanhava os passos do treinador Carlos Dukhan, voltando para a academia onde tudo começou. Seus cabelos brancos, a barba na mesma coloração e por fazer, ele sorria, esbanjando saúde ao chegar aos cinquenta e nove anos, quase batendo na casa dos sessenta com uma disposição de dar gosto.
Usando o seu fiel conjunto da Adidas preto com branco e o tênis da mesma marca, com uma mochila sobre seu ombro esquerdo.
Ele abriu o cadeado da academia, empurrando a porta de correr e revelando o local, passando para dentro e acendendo as luzes. Não estava no seu melhor estado e isso deixava Carlos um pouco envergonhado. Não voltava ali fazia um bom tempo, desde que mudaram de academia para uma que mesmo construiu em sua casa.
A parte de musculação contava com os aparelhos quebrados e enferrujados e o espelho, que tomava conta da parede inteira, estava pichado em algumas partes e quebrado. A pichação perturbava um pouco a cabeça de Carlos, que preferiu andar para o outro lado do galpão.
Em sua mente, Carlos se lembrava dos bons momentos, da infância de , os garotos do colégio gritando pelo seu nome na adolescência e lotando os treinos, a academia a todo vapor com adultos que se sentiam motivados em se exercitar na mesma academia que um jovem lutador como .
Ele subiu no ringue, se pendurando às cordas com precaução e olhando para a câmera que o gravava.
Carlos: Eu estava parado exatamente aqui, quando o vi chegar por aquela porta.
O treinador balançou as cordas.
Carlos: Ele sempre foi alto. Mas estava mais magro que o normal, já que havia fugido de casa fazia uma semana. Usava uma calça de moletom cinza, toda suja e surrada nos joelhos e uma camiseta branca, cheia de manchas de sujeira e alguns resquícios de sangue.
Era de manhã, estava todo dolorido por ter dormido no chão novamente em uma parte do parque que ninguém o incomodaria entre os arbustos. Arrumou seu pequeno travesseiro que guardava de recordação de quando era apenas um bebê na mochila, junto ao lençol fino que roubou da vizinha antes de partir.
O dinheiro que tinha guardado estava quase no fim e ele não sabia se iria conseguir se alimentar.
Sentia-se fraco andando pelas ruas da cidade de Baltimore, a cidade a qual foi a única onde ele conseguiu uma passagem de última hora para fugir e estava mais barato.
As pessoas na rua o olhavam de uma maneira que o fazia se sentir acuado, eles o repreendiam por estar sujo, viravam a cara quando ele pedia por uma informação e o ignoravam.
Quando passou em frente à academia que levava o nome Dukhan sobre o letreiro acima de sua cabeça, um filme passou diante de seus olhos.
Lembrou dos dias que passava em frente à televisão, assistindo aos filmes de luta, das brincadeiras com os amigos que imitava os golpes e a sua vontade de ser um vencedor o consumiu, fazendo ele estufar o peito com a ideia de dar um rumo em sua vida.
Carlos conversava animadamente com um dos seus alunos que tinha ganho recentemente um campeonato regional, ele estava com o pé enfaixado e por isso não podia treinar com os demais. Mas isso não os impedia de falar sobre a vitória entre os intervalos.
Louis Turner tinha dezoito anos e liderava o ranking juvenil, mas passava pela porta o garoto que estava prestes a arrematar os seus títulos.
Ao vê-lo, Louis riu do seu estado com um amigo ao seu lado.
— O que faz aqui, garoto? — Carlos perguntou, ao se apoiar nas cordas do ringue curioso com a chegada do garoto que deveria ter no máximo uns nove ou dez anos, o seu porte físico era bem magro.
— V-você é o treinador? — perguntou incerto do que estava prestes a fazer, ainda mais com os rapazes que o olhavam de uma maneira esnobe.
— Sim, sou eu! No que posso te ajudar? — Carlos arqueou a sobrancelha, curioso para saber mais sobre o garoto.
— E-eu preciso de ajuda — pediu, olhando fixamente para Carlos, tentando esquecer os olhares de reprovação dos demais à sua volta. — E-eu quero que você me treine. Quero ser um lutador, ou melhor, eu quero ser um campeão — o garoto disse em palavras firmes e confiantes.
Carlos podia ver os olhos do garoto brilhantes e aquilo o tocou, fazendo seus olhos se encherem de lágrimas.
Já por outro lado, o seu lutador achou graça, rindo do pobre garoto junto aos colegas. Qualquer treinador no lugar de Carlos teria a mesma reação que Louis, o mandando dar o fora da sua academia após humilhá-lo.
Mas aquele não era o perfil de Carlos, ele odiava isso nas pessoas e naquele momento odiou Louis.
— Gostam de rir, não é mesmo? — Carlos olhou para seus alunos de um jeito descontraído e eles concordaram. — Então vão me fazer rir muito. Todos em fila em cima do ringue agora — ordenou-o que subissem rapidamente. — Você também Louis.
— Mas, treinador, eu não poss..
— AGORA. — Louis tremeu com o grito, subindo com dificuldades no ringue. — Só vão sair daqui após cem abdominais. — Ao ouvirem a ordem, começaram a reclamar. — CALADOS. Isso é para vocês aprenderem a não rirem do sonho das pessoas. — Ele olhou para o garoto. — Agora comecem! — ordenou, antes de descer do ringue, ficando frente a frente com o garoto. — Qual o seu nome? — perguntou, esticando a mão para cumprimentá-lo.
— Bolton. — O garoto estendeu a mão para apertar a do treinador e ele a segurou, observando os dedos machucados ainda com sangue.
O treinador olhava para um quadro sem foto na parede, com o nome de Louis Turner, sentia pena do fim que o rapaz deu em sua vida, tornando-se um viciado em drogas.
Andou até o escritório e olhou para a câmera.
Carlos: Quando entramos para conversar em meu escritório, ele estava emocionando com a oportunidade de podermos conversar, eu lembro de ter fechado a porta e sentado à sua frente, e ele simplesmente desabou em lágrimas, contando-me toda a sua história. havia fugido de casa fazia uma semana. Ele era filho adotivo de uma família perfeita, que acabou morrendo em um trágico acidente de carro, ele foi o único sobrevivente e o conselho tutelar achou que a melhor solução para ele fosse voltar a morar com os pais biológicos. A mãe era uma viciada, que não parava em emprego nenhum, e o padrasto um bandido perigoso, que ameaçou tirar sua vida com uma arma apontada para sua cabeça. Ele estava cansado de viver aquele inferno todos os dias. Eu o acolhi, o deixei que tomasse banho no vestiário, coloquei suas roupas para lavar e pedi-lhe uma boa refeição. Ele queria começar a treinar naquele dia mesmo, mas eu o mandei ter calma.
Se passava uma sequência de fotos do arquivo pessoal de Carlos daquele ano em que conheceu . O garoto ainda magro demais, conhecendo sua casa e também sua mulher, Genevive.
Carlos: Fazia um ano que eu havia perdido o meu filho, Gabriel, com a mesma idade que . Gabriel era um garoto alegre e inteligente, adorava participar das equipes de cálculos do colégio, mas era uma perdição para os esportes. Era um pouco acima do peso e isso fez com que ele sofresse bullying no colégio. Ele escondia de nós o sofrimento que passava e quando descobrimos, já era tarde. Quando cheguei com em casa àquela noite, a minha mulher teve a mesma sensação que eu tive quando eu o vi. Ela o abraçou tão forte, como se Deus tivesse nos dados a chance de cumprir a missão que falhamos com nosso filho.
Em seguida, se passavam fotos do filho, Gabriel, ele no Halloween fantasiado, em alguns campeonatos de matemática, representando o colégio com os amigos. Com um sorriso sempre estampado no rosto.
Logo após as fotos de Gabriel, começavam as fotos de .
O primeiro aniversário junto à nova família e um enorme bolo de chocolate que ele havia pedido igual ao de Matilda, com onze velas coloridas espalhadas por cima do bolo. Ele estava feliz e usava um chapéu de papel azul ao lado de Carlos, que estava abaixado ao seu lado para assoprar as velinhas enquanto Genevive colocava pratinhos e garfos sobre a mesa.
Carlos: estava feliz, frequentando o mesmo colégio que Gabriel estudava. Os amigos do meu filho diziam para mim que Deus havia mandado outro filho para que não ficássemos tristes e que eles não ficassem sem amigos. Era bom assim, se alimentando direito, aprendendo a ler e a escrever, tendo a infância que toda criança merece.
Uma outra câmera agora acompanhava os passos de Genevive, a mãe de , até um parque perto de sua casa que eles costumavam frequentar. O garoto não brincava, mas gostava de caminhar acompanhando sua mãe todos os dias no final da tarde.
Genevive: Lembro claramente do dia que estávamos sentados neste mesmo banco e estava deitado com a cabeça no meu colo. Ele me agradecia por tê-lo acolhido de uma maneira tão intensa que meu coração se aterrorizou, pensando que aquilo poderia ser um tipo de despedida. E as lágrimas já tomavam conta dos meus olhos quando ele se levantou do meu colo, se ajoelhou na minha frente e disse as seguintes palavras: “Irei honrar o nome da família que me acolheu. Vou me tornar um lutador, treinarei todos os dias até me tornar um campeão e poder dar a você e ao Carlos o melhor que a vida tem a oferecer como forma de agradecimento.” Eu o abracei e ele chorou em meus braços, me chamando de mãe pela primeira vez.
Carlos: Não foi fácil para nós dois vê-lo começar a treinar. Ele não reclamava, mas sabíamos que sentia dores no corpo, passava a maior parte do dia cansado e acabou deixando algumas notas no colégio caírem. Nós nunca o desmotivamos, pelo contrário, a cada dia nos empenhávamos mais em fazê-lo acreditar em seu sonho.
Genevive: Foi quando o primeiro campeonato chegou. E meu marido Carlos convocou seu melhor amigo, Diego Casablanca, para ajudar a treinar nosso filho.
Carlos: Eu conheço Diego de longas datas, quando ainda estudávamos juntos na faculdade de Educação Física. Ele sempre foi aquele cara feito para a vida, não criava raízes, então sempre que a gente queria vê-lo, tínhamos que ligar e ver por onde é que ele estava, e, para a minha sorte, ele estava visitando a família da sua irmã na cidade vizinha e veio empolgado para conhecer o meu garoto e tomar uma cerveja.
Então Diego apareceu sentado na varanda do seu apartamento com uma maravilhosa vista para o mar de Malibu.
Diego: A primeira reação que tive ao saber que Carlos tinha um novo garoto foi me questionar por quantos anos eu havia viajado. E quando ele me contou que tinha dez anos, eu me perguntei quando é que foi que ele pulou a cerca.
Começava a passar uma sessão de fotos de Carlos e Diego, na faculdade, no casamento de Carlos e em outros momentos, como pescarias, shows, acampamentos do dia 4 de julho.
Diego: Fiquei extremamente emocionado com a história de , chorei ao conhecê-lo e dei um prejuízo enorme ao cartão de crédito de Carlos, o fazendo pagar todas as cervejas que me prometeu durante os anos, e no dia seguinte... tinha que me dar motivos em cima daquele ringue para que eu ficasse na cidade.
Carlos: E foi o que o meu garoto fez.
Genevive: calou sua boca cancelando o seu passaporte pelos meses seguintes.
Diego: O que mais eu poderia fazer? Quando eu disse a por que ele precisava da minha ajuda, ele foi até a sua mochila, pegou o caderno com a capa do UFC e me disse “Quero ser o dono desse cinturão daqui há alguns anos.”
Genevive: Ele sempre foi destemido e corajoso e o seu foco o fez se destacar, não somente por ser nosso filho. Eu tinha o dever de mantê-lo com os pés firmes no chão e colocava em sua cabeça que derrotas podiam vir a acontecer.
Carlos: Gen o mantinha firme.
Diego: Foi fácil no começo que nem podíamos acreditar. Ele se destacou ao ganhar todos os regionais que participava, depois passamos para os estaduais, foi quando a coisa começou a melhorar...
Carlos: Ele fechou seu primeiro contrato com um patrocinador aos quinze anos.
Diego: Ele estampava as embalagens de balas e chicletes de uma famosa marca que tinha gosto de energético e prometia energia para os esportes.
Os dois riram ironicamente, enquanto se passavam as fotos que havia tirado para estampar as embalagens da tal marca, ele com caixas e mais caixas de bala na porta da casa, distribuindo para seus colegas no colégio.
Diego: Ele começou a ficar popular no colégio depois disso, os garotos e as garotas sempre queriam vê-lo treinar, e começavam a se reunir na academia.
Genevive: não entendia o porquê disso. Ele não fazia o tipo que queria ser uma estrela e se esbanjar.
Carlos: A fama com as garotas também chegou.
Genevive: As garotas faziam fila para pedir que ele fosse o seu par nos bailes, mas ele sempre preferia ir sozinho com seus amigos.
Diego: Até aparecer em sua vida.
A sequência de fotos mostrava com os amigos, ele treinando enquanto todos estavam à sua volta assistindo, outras eles todos juntos na porta do colégio, as fotos formais nos bailes.
E a última foto mostrava Paixão, com um vestido preto, parada ao lado de , mostrando a língua junto aos seus amigos.
A câmera focou em Genevive, que revirava os olhos, escondendo o rosto entre as mãos após rir, negando com a cabeça.
Diego: Ou, como eu gosto de chamá-la, “O terror de Genevive”.
Nesse momento, a câmera rodava pela cidade de Los Angeles até chegar ao bairro onde ficava localizada a casa de e , a câmera bateu na porta e ela abriu, os chamando para entrar e se aconchegando na poltrona do cinema particular que tinha em sua casa para contar a sua história.
Com a companhia mais que especial do filho de um ano, que dormia tranquilamente em uma das poltronas, acompanhado pelo cachorro, que também dormia.
Carlos: O que falar da garota de cabelos vermelhos que conquistou o coração do nosso lutador?
Genevive: Não posso negar que ela nos trouxe alguns problemas.
Era nítido os ciúmes no ar vindo de Genevive com os braços cruzados, fazendo rir.
Diego: estava acostumado a ganhar dentro dos ringues, por conhecer todas as técnicas e treinar diariamente, mas o jogo do amor não é tão fácil quanto parece.
Carlos: Isso era o que pensávamos.
: Ei, rapazes, eu posso contar a nossa história?
Carlos e Diego: Claro.
Genevive: Fique à vontade, querida.
então sorriu ao fazê-los ficarem quietos e respirou fundo antes de começar.
: Você aí de casa provavelmente deve me conhecer como a “garota dos cabelos vermelhos” e as fotos icônicas dentro do ringue beijando , que são capas de diversas fanfics no Wattpad.
Em seguida, as fotos de fanfics no topo da lista do Wattpad com as fotos do casal de capa apareciam.
: Mas eu tenho certeza que você não sabe nada sobre mim.
Genevive: Mostre a eles que você não é apenas um rostinho bonito.
: Então vamos lá. Muito prazer em conhecê-los, me chamo Paixão, tenho atualmente vinte e cinco anos, sou formada em Marketing, sou casada desde os dezoito e tenho um lindo bebê de um ano e seis meses, chamado Gabriel. Escolhemos esse nome para o nosso filho, pois acreditamos que seria uma forma de homenagear os pais de e olhe só para esse rostinho, ele super combina com esse nome.
A câmera focou no bebê, que dormia sereno, e depois mostrou com os olhos lacrimejados.
: A minha história com começou quando meus pais reataram o seu relacionamento e ele nos trouxe de volta para os Estados Unidos. Eu morava no Brasil com a minha mãe desde os meus três anos de idade, visitava os meus pais nas férias de julho e foi entre essas idas e vindas que eles se aproximaram e deram mais uma chance para o amor. Comecei a frequentar o mesmo colégio que e, depois de alguns desentendimentos com professores, acabei me mudando para a turma dele e percebi que ele era basicamente o “dono” daquele território. Os garotos se sentavam ao seu lado no fundo da sala, as garotas suspiravam por ele nas carteiras da frente e eu era a única que estava entediada com toda aquela fama, mas eu sempre o achei bonito e atraente, nunca gostei dos músculos, seus olhos brilhantes e o sorriso que poucas vezes ele mostrava eram encantadores... Demonstravam que ele era uma pessoa boa e com um coração puro e inocente, mesmo demonstrando tanta violência no esporte que ele praticava.
, na época do colégio, era uma garota bem magra, que adorava usar roupas maiores que seu corpo, calças rasgadas, unhas pintadas de preto e seu cabelo vermelho era uma marca registrada. As amigas seguiam o mesmo estilo diferenciado, a fazendo rir ao relembrar essa época.
: Eu e finalmente começamos a nos aproximar, graças à minha amiga, Katherine, que começou a namorar um dos lutadores que treinavam com o pai dele. Em um certo dia, ela me arrastou para um treino em que eu passei raiva ao vê-lo disputado pelas garotas e fui embora cedo, emburrada. No outro dia, no colégio, antes das aulas começarem, ele veio falar comigo, perguntando se algo tinha acontecido e começamos a conversar. Conversamos entre as trocas de aula que ele ia à minha mesa perto da janela e ficávamos olhando o jardim. Depois ele me chamou para assistir o seu treino e eu não fui. Sabia que ia passar raiva... Então ele deu um jeito para que eu fosse... Sozinha.
Carlos: pediu para que organizássemos um treino fechado, dizendo que um empresário muito famoso iria querer conhecê-lo. Fechamos a academia em plena quarta feira e ele chegou com com uma bandana nos olhos, pelos fundos da academia.
: Quando ele tirou a bandana e eu vi que estávamos só eu, ele e os treinadores, eu quase morri de vergonha, acho que fiquei vermelha o treino inteiro. Mas tinha feito eu me sentir especial e aquilo me deu uma certa segurança.
Genevive: Foi depois desse dia que as minhas dores de cabeça começaram. Ele me pedia conselhos de como agradá-la. Comprava rosas, chocolates...
: Eu comecei a colocar bilhetes escondidos. Em seus cadernos, mochila, armários. era um gênio em todas as matérias do colégio, mas me disse que era ruim em uma matéria ou outra para que estudássemos juntos. Depois de tanto estudar, ele me chamou para sair com alguns amigos.
Diego: deu uma boa canseira nele.
: O nosso primeiro beijo só foi acontecer na final de um campeonato. Ele tinha apanhado tanto que eu jurava que ele fosse sair em uma maca direto para o hospital. Quando ele levantou o cinturão, ainda cambaleando por causa das pancadas, gritando aos quatro ventos que ele era o vencedor, eu só consegui correr em sua direção, passando por todos os seguranças, o agarrando pelos braços.
Genevive gravava o momento em que a garota saía correndo do seu lado para os braços do filho.
: Eu tinha certeza de que eu o amava. E ele precisava saber disso naquele momento. Eu tentei o surpreender, mas acabei sendo surpreendida.
Diego: caiu de joelhos na frente de assim que eu coloquei o cinturão em volta do seu corpo, ela achou que ele estava passando mal ou algo do tipo, mas ele apenas segurou suas mãos e a pediu em namoro ali mesmo.
Carlos: Ele tinha o cinturão, a garota e uma legião de fãs. Do que mais ele precisava?
Genevive: De um contrato.
: Que chegou poucas horas depois, quando estávamos em um momento comprometedor no hospital.
Era possível ver as bochechas de corarem. E ela explicou que depois do primeiro beijo dado naquela noite, ela tinha certeza de que era certamente o homem de sua vida e não queria largá-lo um segundo sequer. Quando ele estava de repouso no quarto e um contratante quis o conhecer, eles estavam aos beijos, sendo pegos de surpresa.
Marcos: Não posso negar que ver aquele jovem machucado com forças para beijar a namorada e ainda declarar-se sem ligar para a dor que sentia fica nítido em minha memória todas as vezes que lembro daquela cena. Digo que só aceito me apaixonar se for para viver algo na mesma intensidade que o e a , e tenho certeza de que muitas pessoas pelo mundo pensam o mesmo que eu.
Marcos estava em um belo escritório, acompanhado da sua cobra de estimação enrolada em seu antebraço, sua coloração era vermelha e preta e ela subia calmamente pelo braço do empresário.
Marcos: Eu sabia que merecia reconhecimento desde os primeiros momentos daquela luta e não aguentei esperar para ir atrás dele. Nós fechamos contrato no outro dia, em um jantar em família. Por incrível que pareça, Carlos e Genevive me aceitaram como um filho... Me atrevo a dizer que Gen me aceitou mais rápido do que aceitou .
: Ah, que isso!
negou com a cabeça e na tela aparecia os quatro dando risadas dela, até mesmo a mãe de que não conseguia conter o riso.
Genevive: Em minha defesa, ele estava ajudando a realizar o sonho do meu filho.
Na sequência, mais arquivos pessoais iam sendo mostrados. O jantar em família e o contrato sendo assinado quando já tinha se recuperado um pouco melhor da luta, mas ainda assim tinha o rosto bem machucado. Reuniões, novos uniformes para equipe, a academia toda reformada para ser um local de treino somente dele, as lutas que ele ganhou em seguida, seus prêmios, entrevistas, revistas nas quais ele se tornou capa por ser tão jovem e dono de tantos títulos, o pedido de namoro que fez a , foto deles em família junto à namorada, fotos no Brasil, de braços abertos, em frente ao Cristo Redentor, uma luta em solo brasileiro a qual lhe rendeu um título e atraiu mais fãs.
Carlos: Sonho este que batalhamos dia após dia para ajudar a realizá-lo.
Diego: Ninguém podia estragar aquilo. Era um momento nosso. Era a nossa hora e, quando isso aconteceu, todos nós ficamos extremamente abalados, sem saber como reagir!
Genevive: Isso nos prejudicou. Queríamos defendê-lo como uns leões que defendem seus filhotes custe o que custar. Perdemos a razão, xingamos quem achávamos que deveríamos xingar e isso acabou virando o palco perfeito para o caos.
Neste momento, a câmera saía da sala de cinema da casa de e seguia subindo as escadas, andando por um extenso corredor, onde abriu a porta, gravando tudo ao redor até parar, gravando dos pés até a cabeça, o lutador observando a vista que tinha da janela do seu quarto em silêncio, com um semblante sério, ele desviou o olhar para a câmera e respirou fundo, andando até a sua cama e sentando na beirada, observando as próprias mãos com alguns machucados de treino.
: É claro que eu sabia que em algum momento da minha vida e com a minha carreira nas alturas a minha mãe biológica iria me procurar. Eu até queria que ela me procurasse e me pedisse desculpas por tudo o que me fez passar, isso apenas me motivou a ir embora e por sorte encontrei pessoas boas no meu caminho, que me ajudaram a me tornar a pessoa que sou hoje. Mas a pessoa que eu sou não é a pessoa que a mídia mostra.
Então uma pausa dramática seguiu com cenas de diversos jornais explanando a notícia que o maior lutador dos últimos tempos havia agredido o padrasto, antes de uma importante luta, no banheiro. As câmeras de segurança do local claramente manipuladas mostravam o exato momento em que ele partia para cima do homem sem deixar que ao menos ele tivesse chance de se defender contra seus golpes.
: Tudo estava perfeitamente bem. Eu sabia que ela estava atrás de mim, cheguei a contar a Gen e a que ela conseguiu o meu número e me ligava várias vezes ao dia. Isso foi tirando minha concentração, me deixando inseguro e nervoso, não me sentia bem e era claro isso durante os treinos daquela semana. Diego disse que eu só iria melhorar depois de resolver esse problema pendente, então eu atendi uma ligação, marcamos um encontro no centro da cidade e nos encontramos. foi comigo, eu não queria estar sozinho em um momento como aquele, parecia que eu já sabia o que estava à minha espera, sabe? Minha mãe estava bêbada e não falava nada com nada e não demorou muito tempo para que o seu marido aparecesse e tentasse me tirar do sério com suas provocações baratas. Ele viu que o meu ponto fraco era a quando a respondeu de maneira grossa e aquilo mexeu comigo. Eu não deixaria ninguém a maltratar ainda mais, alguém que já me fez muito mal no passado.
: Ele ficou transtornado de uma forma que eu nunca tinha visto. Ele ficou tão mal que, mesmo depois de termos ido embora, ele ainda estava tenso com tudo o que aconteceu.
Genevive: Ele me contou que foi a pior experiência da sua vida reencontrar aquela mulher que lhe colocou no mundo e quase o tirou dele. Ele chorou no meu colo igual uma criancinha e pediu para que eu nunca o deixasse.
A câmera focou em Carlos chorando, escondendo o rosto entre as mãos, sem saber o que dizer.
Diego: Quando vi que ele estava mal, após o encontro, eu tinha que ser racional e pensar em sua carreira. Eu o coloquei contra a parede e pressionei para que ele pensasse sobre os seus ideais e seu sonho, ele não poderia perder, ele tinha que continuar o seu legado. Mandei ele se desligar de tudo, tirei o celular, computador, o afastei dos pais, de . Ele dormia na academia e permanecia focado em seu corpo e no treino.
Marcos: Diego parecia estar sob o controle da situação. Eu tentava apagar qualquer rastro que a mídia falasse da mãe biológica de e tentávamos manter tudo em ordem, mas na noite da luta tudo escapou entre os nossos dedos.
Genevive: A mãe biológica fingiu se passar por uma amiga minha e conseguiu passar para dentro da área, se escondendo no banheiro. O marido, que nunca foi flor que se cheire, deu o seu jeito e ela continuou com as inúmeras ligações para o meu filho, até que um funcionário lhe entregou um bilhete dela, dizendo que queria conversar e pediu para que ele fosse até ela.
: Eu não iria conseguir lutar pensando que ela estava naquela arena me observando, eu não iria me sentir bem, iria perder a concentração, Diego ficaria com raiva de mim por isso e eu decepcionaria a minha família e os meus fãs. Quando cheguei ao banheiro, a mulher se jogou em meus braços, chorando muito, dizendo que o marido estava lhe maltratando, que ela não aguentava mais apanhar, que ele a ameaçou de morte e que não sabia mais o que fazer. Eu pedi para que ela se acalmasse e mandei uma mensagem para vir me ajudar. Ela, percebendo o que eu fiz, começou a dizer que estava passando mal para que eu a segurasse, pois ela poderia desmaiar a qualquer momento e seu marido apareceu. Ele dizia as coisas mais baixas que me acertavam de um jeito que eu não... Que eu só não consigo explicar, entende?
: A conexão que tenho com o é tão grande que, no momento que ele saiu de perto de mim, eu já sabia que tinha alguma coisa errada acontecendo. Um aperto no meu peito e o ar faltando em meus pulmões me fizeram procurá-lo pouco tempo depois que ele saiu de perto. Quando a mensagem apitou em meu celular, eu corri o mais rápido que eu pude. Ver aquela mulher jogada aos braços do meu namorado, ele todo rígido e tenso por conta dos desaforos que estava ouvindo, me deixou extremamente abalada e eu só o puxei para que saíssemos daquele lugar, não queria saber o que estava acontecendo. Foi neste momento que aquele homem me atacou.
: Quando aquele homem colocou as mãos sujas em cima da minha namorada, a puxando bruscamente pelo braço e colocando o dedo em sua cara para que ela não se intrometesse na conversa... Eu não tive outra reação a não ser colocar ela para trás do meu corpo e partir para cima dele. Eu sabia que estava errado quando acertei o primeiro soco, eu sabia que estava manchando a história que tinha construído e estava trazendo decepção ao Carlos, que sempre me falou para nunca levantar a mão para ninguém fora de uma luta, ou treino. Eu sabia que faria Gen chorar e assustaria com a minha violência... Mas, na minha cabeça, só vinham os flashes daquele homem me batendo quando criança, me xingando, me deixando sem comida, dizendo que eu era um nada, minha mãe rindo, bêbada, drogada, os dois juntos me maltratando. Eu só queria que aquela dor passasse e ele sentisse tudo o que eu estava sentindo no momento...
: Quando eu vi aquela mulher rindo enquanto eu, desesperada, gritava para parar e pedia por ajuda, eu sabia que tudo era uma armação para que ele se desconcentrasse. Eu fui tentar sair do banheiro para procurar por ajuda e ela me ameaçou com um estilete, me impedindo de sair do banheiro e, antes que ela viesse para cima de mim, os seguranças da arena chegaram!
: Eu me lembro de ter sido tirado de cima daquele traste por quatro homens, que me jogaram no chão, e me abraçou fortemente, chorando desesperada. Eu olhava para minhas mãos cheias de sangue, sem acreditar no que estava acontecendo, e Carlos e Diego chegaram.
Carlos: Quando vi suas mãos cheias de sangue, eu imaginei que o pior tinha acontecido. Ele estava ofegante e olhava para o rapaz caído no chão, sem reação que definisse o que ele estava sentido.
Diego: Eu não pensei muito, apenas entrei em sua frente e o levantei para que ele despertasse do choque que estava sentindo. Lhe dei o meu moletom para que ele vestisse e escondesse as mãos machucadas para que voltássemos ao seu vestiário.
: Faltava apenas uma hora para a luta e a notícia do que estava acontecendo nos bastidores já circulava pela arena e também em alguns sites de fofoca. Não sabíamos se era melhor cancelar a luta ou seguir com ela. A mãe de havia sido apreendida e o padrasto levado ao hospital às pressas.
Marcos: Se cancelássemos, só íamos confirmar as especulações do público.
Genevive: Se continuássemos, entraria para a história com aquele cinturão, porém seria massacrado pela mídia.
: De todos os jeitos, eu me tornaria um monstro depois daquele acontecido no banheiro... Então eu resolvi me tornar um monstro com um cinturão.
Diego: Foi ele quem pediu para que o show continuasse. Ele queria fazer aquilo nem que aquela fosse a última luta de toda a sua carreira. Ele precisava mostrar para si mesmo que o seu passado nunca mais iria o abalar.
Carlos: Eu sabia que estava abalado e só queria fazer o que era certo, sem ao menos saber o que era o certo naquele momento. Ele não me olhava nos olhos e fingia não me ouvir quando me aproximava para lhe falar que ele não precisava lutar. Ele só prestava atenção em Diego, pois sabia que ele nunca o deixaria desistir.
: Ele estava com medo do que iria acontecer quando saísse daquele vestiário, pronto para subir no octógono e lutar, foi por isso que me puxou pela mão e me fez prometer que, independente do resultado, eu nunca o deixaria. E foi com toda a emoção que aquele momento podia trazer que eu disse que nunca iria o deixar e que estava grávida.
Genevive: A notícia pegou a todos de surpresa. nunca desistiria daquela luta mesmo tendo que lidar com as consequências mais tarde.
: Eu ganhei a luta.
As imagens seguintes mostravam com o cinturão em volta de sua cintura, muito emocionado, abraçado ao seu pai Carlos e a Diego.
: E tive que lidar com as consequências.
Marcos: A mãe biológica de não mediu esforços em tentar acabar com a vida do filho quando, ao sair da delegacia, foi ao hospital atrás do marido. As enfermeiras alegaram que eles brigaram e que logo em seguida ele sofreu uma parada cardíaca, e ela saiu correndo... Ela foi atrás de um jornalista que lhe entregou um cartão na saída da arena e vendeu uma história completamente suja e distorcida do filho, e alegou que ele tirou a vida de seu marido.
Carlos: A notícia foi veiculada antes mesmo que pudéssemos sair da arena. Aquela história tomou proporções absurdas e os nossos nervos à flor da pele não ajudaram muito a limpar a barra do nosso garoto.
Diego: Batemos de frente com qualquer um que perguntasse algo ao nosso garoto. Lembro de ter derrubado uns três ou quatro jornalistas. A equipe de segurança não dava conta. Tentavam machucar a Genevive e a por informações, quebraram os vidros da nossa van, tudo estava fora de controle.
“Mãe biológica relata que conversa com o filho antes de sua última luta acabou em tragédia.”
“BOMBA! Dukhan é acusado pela mãe biológica de tirar a vida padrasto.”
“De herói a vilão. Clique aqui para saber mais sobre o que rolou na noite de ontem antes da luta!”
FIM
Nota da autora: Sem nota.
Nota da beta: Nossa, que ódio dessa mãe biológica dele! Fazer tudo isso por pura maldade, pqp! Eu fiquei curiosa pra saber como ficaram as coisas depois de todo esse escândalo. Adoraria ver isso numa continuação hehehe.
Adorei a fic, Karol! ♥
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Nota da beta: Nossa, que ódio dessa mãe biológica dele! Fazer tudo isso por pura maldade, pqp! Eu fiquei curiosa pra saber como ficaram as coisas depois de todo esse escândalo. Adoraria ver isso numa continuação hehehe.
Adorei a fic, Karol! ♥
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