Capítulo Único
O bate estaca ensurdecedor e os corpos suados se movimentando descontroladamente pela pista de dança o deixavam confuso. Era tarde demais, ele havia bebido demais, era quente demais e ele não conseguia mais achar seus amigos. A confusão de pessoas parecia mais animada a cada música e ele não sabia até quando aguentaria o choque das trombadas que recebia sem vomitar tudo o que havia bebido.
Mas, após inúmeras pisadas de pé e empurrões, ele nadou pelo mar de universitários até um rosto conhecido. Bem, conhecido é a palavra certa, apesar de já ter intimidade com os traços da menina. Em dois anos ele pensara, otimisticamente, ter trocado 20 frases com a garota. Não que isso o importasse muito, no começo de sua convivência com . É verdade que agora as coisas haviam mudado, ao menos em sua cabeça. passou a desenvolver um "amor unilateral", coisa que o arrepiava só de pensar. Não gostava de usar a palavra amor, mas realmente não sabia descrever como outra coisa, afinal, ele a ama.
Ele a ama pelo piercing de total mal gosto no lóbulo direito da orelha. Ele a ama pelos cadarços desamarrados que fazem um barulho irritante ao passar pelos degraus do auditório. Ele a ama pelo tic-ti-tac que ela insistia em fazer com os dedos sobre a mesa. "Tenha paciência", ele pensava, nos primeiros dia de aula, "ninguém vai a lugar algum". Ele a ama, porque primeiro ele a odiou. Ela simplesmente andava pelos corredores tomando muito espaço, fazendo muitos mínimos barulhos. Fivelas presas na mochila, cadarços, unhas, anéis, piercings auriculares batendo uns nos outros rápido de mais enquanto ela tentava passar depressa por entre o corredor sempre tão calmo da faculdade. Quase uma sinfonia desastrosa. Ele a ama porque a odiou e a odiou por achar que ela não ligava, nem pra nada nem ninguém. Que fazia por birra, egoísmo. Entrando no meio da aula e deixando a porta bater, tropeçando na escada, arrastando a bandeja de comida do refeitório contra o metal, batendo suas botas de combate no chão como se ele fosse seu, como se tudo sempre pertencesse a ela.
Então, infelizmente algum amigo desafortunado conhecia Catarina, que havia chegado em alguma festa aleatória com duas meninas engraçadas do primeiro ano, surpresa a dele que uma delas era .
E assim ela entrou na vida dele, agora sendo mais que pensamentos de ódio, sendo uma voz do outro lado da mesa quando a galera se reunia, sendo um esbarrão desajeitado nas festa da faculdade, sendo um sorriso tímido quando um dos dois dizia algo engraçado.
Após algum tempo ele tinha informações suficientes: para ela peles eram sempre sem graça de mais para não serem perfuradas por argolas coloridas, a vida é curta de mais pra perder 20 segundos por dia amarrando os tênis, passa tão rápido, que você precisa correr para alcançá-la. "Um minuto você pensa que está em total controle e depois você está assistindo a vida pela janela do asilo, eu não quero isso" lembra de ter escutado, durante uma conversa nada sóbria que teve com os amigos.
Então ele passou a entender a confusão de todos seus sons, de toda sua pressa. Ela queria ter tudo, mais do que podia aguentar, mais aulas, mais vida, menos calma. Tudo precisava ter alguma profundidade, pessoas mornas a entediam e o chão um dia seria seu. Ela falava com certeza na voz, ele acreditava.
E, naquele momento, naquela festa, após tanto álcool bombeando seu corpo, ele não resistiu a imagem de se movendo agitada na pista. Seu corpo fazia parte da música, ele pensou, e uau, como ele queria ser parte de todo aquele ritmo. Só alguns passos foram precisos para que ele estivesse perto dela. O bar era logo ali e caso algo desse errado, era só ele entrar em coma alcoólico.
Ela estava de costas, o quadril se movendo involuntariamente de um lado ao outro, o cabelo escapava do coque feito de última hora e grudava por sua nuca suada. Não tinha a menor ideia de como resistir a tudo isso.
- Ei! - Sua voz saiu rouca e baixa demais para o tamanho do barulho que estudantes bêbados eram capazes de produzir. - Ei, !
Um tapa gentil no ombro dela foi necessário para chamar a atenção.
- Hey! - A empolgação na voz da garota era legítima, mas ela ainda parecia menos alterada do que .
Ela sorriu e as vozes ao redor diminuíram lentamente, ele pareceu um tanto mais sóbrio e começou a se perguntar onde havia ido parar a coragem de dez segundos atrás. Seu corpo ferveu mais do que deveria e tinha certeza que sentia seu rosto queimar.
- Achei que não viria, Catarina disse que você estaria ocupada… Por causa das provas. - As vezes, ele deveria ouvir seus instintos e apenas desistir de se comunicar com seres humanos, mas, como sabemos, ele havia bebido demais.
-Você perguntou por mim, então? - O sorriso malicioso da garota fez uma chama diferente acender em seu cérebro, ela nunca tinha lhe lançado aquela expressão tão feroz. E ele gostou, como gostou.
- É… Eu acho… Que talvez... - Ela se aproxima um pouco, se inclina, oportunamente coloca seu rosto perto da curva de seu pescoço, quase tocando seu ouvido com os lábios. - Nós devêssemos ficar.
Ela se afasta de repente, ele prende a respiração por alguns segundos, se sente começando a suar. Quando havia se tornado um pré adolescente apaixonado? Céus, era idiota se sentir tão nervoso.
O sorriso dela agora era um pouco menor.
- , não sei, eu vim mais pra… dançar, sabe?
A risada controlada, a deixa confusa, ele parecia um pouco constrangido, talvez até chateado. Bem, ela achara que ele só estava chapado demais e precisava de alguém para beijar, não era isso?
Ele soltou um okay sem voz, um sorriso de lado e foi em direção ao que o levaria de ambulância até o hospital. Mas, alguma coisa o fez voltar, dar cinco passos difíceis para trás, olhar nos olhos dela de novo e curvar um pouco a cabeça pro lado, as bochechas se tornando vermelhas de novo.
- Tem certeza? Eu não quero ser um babaca… Mas…
Ela não tinha ideia do que a voz baixa do garoto queria dizer e nunca havia sido realmente boa em ler lábios. Mas costumava achar uma graça quando ele abria e fechava a boca tantas vezes sem nunca realmente falar nada, ou quando ele passava a pontas dos dedos pelo maxilar em direção a nuca, era obviamente um sinal de desconcertamento.
Ela sorriu, o corpo se movendo vagarosamente em direção ao rapaz, os corpos se encaixaram com facilidade e leveza, os olhos estavam próximos de mais para serem desviados e o ar era pouco ao ponto de não existirem mais dúvidas. Suas bocas se aproximaram, seus braços se enroscaram e procurou apoio em qualquer superfície atrás de si.
Um sofá de couro incrivelmente desconfortável foi achado, sentia suas pernas não tão cobertas grudando no tecido e fazendo um barulho engraçado. Já era empurrado e acotovelado pelo casal ao lado, que a qualquer momento ia começar a tirar as roupas. Um movimento foi feito errado e a testa da menina parou no queixo do rapaz e o momento seguinte foi constrangedor o suficiente para não voltarem a se beijar.
Era estranho de mais forçar alguma intimidade com ela, mas nunca quis tanto beijá-la como agora que havia adquirido essa liberdade.
Nunca tinha sido um cara muito preso a tipos, geralmente gostava de amigas próximas ou quem o fizesse rir um pouco mais que o normal, só que era uma desgraçada. Ela entrava na cabeça dele e deixava todo o resto branco, um pouco embaçado e confuso. Tinha certeza que nunca gostaria de magoá-la porque pensar na testa franzida da garota já chegava a doer fisicamente.
Se lembrava de tê-la visto chorando depois que tinha acabado de terminar com um namorado aleatório que teve, ainda no primeiro ano de faculdade. Engraçado foi que naquela época ainda desgostava bastante da menina e mesmo assim se sentiu profundamente incomodado com alguém a fazendo mal.
- …
Ele olhou em direção a garota, uma mecha de cabelo era posicionada atrás da orelha devagar, não mantinha contato visual e suas bochechas pareciam um pouco mais rosadas que o normal.
E dessa vez ele a beijou, com uma necessidade maior do que a primeira vez permitiu. Seu corpo encostou no dela e ele sentiu um calor subir, dessa vez não por causa do álcool. Ela sentiu suas costas pressionadas ao braço do sofá, foi pouco a pouco mais abaixo, permitindo-o de deitar parcialmente sobre si. Suas mãos passeavam por qualquer parte da pele da garota que encontrava. A puxava contra seu corpo como se quisesse estar dentro dela, e, bem, ele queria.
O casal ao lado parecia descontente com os movimentos dos dois, soltando comentários nada legais sobre o que ela devia ou não fazer na frente das pessoas.
se sentiu ligeiramente enjoada e voltou a se sentar normalmente, sendo afastado gentilmente, ainda que rápido de mais. Não gostava muito do que podiam comentar em uma cidade pequena e não gostava de pensar em ter seu nome dito por pessoas de mente pouco aberta. Principalmente se isso acabasse chegando até sua mãe. Céus, ela não conseguia respirar só de pensar na síncope que Dona Anna teria. Chegou a conclusão de que precisava de ar, uma fumaça nada saudável cobria a festa desde que chegara e talvez por isso se sentisse tão quente. Queria acreditar que o calor não tinha nada a ver com o garoto ao seu lado e suas mãos tão grandes e como elas se moviam rápido subindo por sua coxa segundos atrás.
Antes que pudesse falar, foi puxada pelo braço, praticamente arrastada até o canto perto dos banheiros, onde o ar parecia ainda mais contaminado e o cheiro de suor a embrulhava o estômago.
O rosto perplexo de Catarina procurava por algum sinal de vergonha no rosto da amiga, mas isso ela nunca encontraria. Se sentia talvez um pouco mal por deixar sozinho, mas nunca tinha escolha nos sequestros da amiga.
- Eu não sabia que você ficaria com alguém, você mesma me fez prometer que eu não tentaria afogar minhas dores com a saliva de garotas bonitas!
O problema de Cat era não entender que não tinha controle sobre seus hormônios fervorosos quando não transava há meses. Na verdade Catarina nunca entenderia isso, nem se fosse a própria . Nunca havia realmente passado mais de uma semana sem se jogar em outras pessoas depois de sua precoce primeira vez e era um dos pontos fracos para se ter um relacionamento, pois ela cometia o deslize de acabar na cama de outras que não sua atual, mesmo que seu coração nunca estivesse em outro lugar que com Adena. Era quase um clichê se não fosse verdade que se apaixonara pela única garota que nunca conseguiria ficar, a aluna de intercâmbio, que não voltaria para o país até o próximo ano, isso se voltasse.
- Cat, eu entendo que é importante mostrar apoio ao seu jejum de amantes, mas eu sinceramente não estava com saco pra dançar sozinha enquanto você stalkeava o Instagram da você-sabe-quem e Eloísa destruía ainda mais seu fígado enquanto se perde pro alcoolismo. - E Cat parecia perturbada por não ter a razão dessa vez.
Lançou seu olhar pela festa, conhecia a maior parte das pessoas ali, diferente da amiga. Lhe parecia mesmo injusto tê-la deixado sozinha e ainda exigido que ficasse longe de qualquer garoto. Ainda mais se eles se pareciam com .
- Tudo bem, você venceu. Coloque sua língua em qualquer parte dele que quiser, apenas tente chegar cedo na sua festa surpresa amanhã a tarde. - estaria ofendida se ao menos ela ligasse para a falta de descaramento da amiga. - E eu vou tentar achar Elô antes que ela pinte alguém com vômito.
E rindo de desespero permitiu que a garota voltasse até o rapaz.
Ele parecia muito sério olhando pro chão, as mãos repousando nos bolsos da jaqueta enquanto inclinava o corpo pra tentar fugir dos amassos que ainda aconteciam no sofá. Ele parecia até meio deslocado, ela diria, se não conhecesse os amigos que ele tinha.
Ela estalou os dedos em frente seu rosto, chamando sua atenção. Seus olhos focalizaram a garota e ele pareceu genuinamente mais feliz do que antes, o que a surpreendeu. Apontou a porta de saída e começou a caminhar até ela. Sentiu que ele a seguia e até que gostou de como ele se encostava nela sutilmente quando passavam pelas pessoas.
O ar frio bateu contra sua pele e quis se xingar por nem pensar em trazer um casaco, especialmente sabendo que as chances de ter que andar até sua casa sozinha as cinco da manhã eram muito altas.
O céu parecia bonito de mais aquela noite e não entendeu o porquê. Se sentia um pouco diferente de um ano atrás, no mesmo dia. Mas pensar nisso a deixava irritada e ela não estava sozinha o suficiente para se permitir devanear.
Ela olhou pro lado, viu o garoto brincando com as chaves na mão e gostou de como sua silhueta se parecia agora apenas com a iluminação alaranjada da rua. Se sentiu confortável, como se o conhecesse um pouco melhor agora, mesmo com menos palavras do que saliva tendo sido trocadas durante a noite.
Ele pareceu perceber o silêncio, olhou para a garota, guardando as chaves e se aproximando mais. Sorriu ao encostar em seu ombro e desviou o olhar antes de começar a falar.
- Se estiver com frio, pode ficar com minha jaqueta.
A risada da garota saiu uma oitava mais fina e ele se sentiu bobo.
- , as pessoas não passam frio umas pelas outras a menos que elas estejam em filmes. - Seu comentário foi um pouco mais rude do que ela esperava, mas encontrando os olhos com os dele percebeu que tudo estava bem, mesmo que de um modo estranho.
- Talvez nós devêssemos estar em um filme. - E o sorriso de canto e seus olhos se enrugando devagar enquanto as bochechas subiam fizeram com que ela o quisesse despir. Ali mesmo, na calçada daquela avenida não movimentada o suficiente. - …- E sua expressão era mais séria agora. Ele voltou a brincar com as chaves, ficando de frente para ela. - Queria saber… - Sua mente correu por todo seu vocabulário e não conseguia achar nenhuma palavra que o fizesse não imaginar o corpo de contra seus lençóis enquanto dizia o que queria falar desde que a vira entrar pela porta da aula de Sistemas, antes de descobrir como ela era insuportável. - Você quer vir, não sei, ver um filme? Na… Minha casa… Agora.
- São duas da manhã, , que tipo de filme você quer ver? - Mostrou um sorriso implacável, apertou os lábios, soltou um som de risada abafado não parecendo uma risada e o fez imaginar seu gosto. Não o da boca.
- Só queria dar o fora daqui, na verdade. - Ela o esperou continuar, cruzando os braços e o desafiando com o olhar. - Você vai me fazer falar, não é?
Ela continuava irredutível.
- , me daria a honra de voltar pro meu apartamento, para não assistir nenhum filme?
Revirou os olhos, descruzou os braços e pegou a mão que era estendida até ela.
Desceram a avenida, viraram por ruas de mais, as mãos brincando em silêncio enquanto ela ria internamente por sentir a mão do garoto suada. Entrelaçou o mindinho no dele, e relaxou após reconhecer uma parte do campus. Ao menos as chances de sobrevivência, caso fosse um maníaco, aumentaram consideravelmente. Ela pelo menos saberia para onde correr.
O caminho era silencioso, mas não se incomodava tanto com isso como antes, era confortável estar ao lado dele, principalmente após ele realmente ter dado sua jaqueta a ela.
Era a avenida para qual a Universidade estava virada, as luzes dos postes não faziam seu trabalho direito e a maior parte estava quebrada. Um arrepio subiu pela coluna ao ver um grupo de garotos de moletom sentados na calçada. Eles passavam um cigarro entre eles.
segurou sua mão e olhou pra antes de atravessar a rua.
- Tudo bem, talvez nós sejamos roubados, mas eu posso tentar alguma tática de defesa militar em algum deles enquanto você corre. - Seu rosto era sério de mais para ser uma piada e ela estava incrédula.
- Tática militar? Eles são três e você não é o Rambo, então a menos que tenha alguma metralhadora eles vão, no máximo, levar nossos celulares… Fora isso, que tipo de experiência de exército você tem?
E o garoto pareceu ofendido com a pergunta.
- Primeiramente eu assisti O Resgate do Soldado Ryan muito mais vezes do que você.- E ele foi puxado em direção a rua, a garota suspirava demais quando ele abria a boca e isso o fazia rir para si. Ele até chegava a pensar que podiam ser fofos juntos.
Por sorte o grupo de estranhos não os atacou ou roubou, mas de fato falaram com eles e gelou quando disse que eles correriam no três e ele a puxou para suas costas em poucos segundos. Foi carregada por ele durante dois quarteirões e a risada alta que soltou quando percebeu que chovia o fez cair. Ela ficou alguns minutos olhando pro céu enquanto o asfalto sujo e molhado encharcava seu cabelo. se recuperava da queda e choramingava por rasgar sua calça na altura do joelho. O concreto áspero contra seu corpo começava a incomodar e ela se deixou pensar na última vez que tinha sentido a chuva na pele. Havia mais de dois anos e lembrava de ter sido na última vez que o rio subiu. Os acidentes de carro naquele ano foram muitos e ela lembrava da dor que era ficar presa nos metais.
a puxou pra cima e não conseguiu ver as lágrimas que se formavam no rosto dela. Ela o abraçou e respirou seu cheiro por alguns minutos, antes de começar a correr pela rua até a esquina que sabia ser a república do garoto. A chuva batia contra seu rosto e ela gostava de se sentir tão viva, encostou na porta de vidro do prédio de apartamentos e esperou pela figura manca do garoto aparecer logo depois. Ele a apertou pela cintura enquanto destrancava a porta e a puxou pela escada apressado, tentando não molhar de mais o hall do prédio.
A porta bateu com força na parede e voltou a se fechar sozinha, ele tropeçou pela segunda vez no próprio tapete enquanto buscava pela boca macia da menina na sua. Ela gostava do quão quente sentia sua pele quando as mãos frias e molhadas do garoto a tocavam. Ela imaginou que a chuva a havia molhado o suficiente até sentir a boca de em seu pescoço e descobrir que era sim possível se molhar mais. Ele cambaleou engraçado até a segunda porta do corredor, o chão estava lotado de materiais e chutou seu violão, indo em direção a cama e caindo desajeitada sobre o colchão.
- Infelizmente vou ter que tirar as roupas, , não posso molhar sua cama…
E ela o olhou como se fosse sua presa, enquanto descia devagar o zíper do vestido que usava. No momento em que o tecido tocou o chão, seu corpo foi empurrado sobre o colchão, a ferocidade do rapaz se mostrando em cada toque, cada beijo. Ela gostava de ouvir como gemia quando suas unhas passeavam pelas costas dele, seu rosto se contorcia sobre seus seios e ela achou que ficaria louca se não fosse tocada naquele momento. Arrancou a blusa do rapaz e começou a abrir sua calça. Ele a encostou sobre o travesseiro e a viu abrir o próprio sutiã.
Sua boca correu voraz pelos seios macios, as mãos tomavam conta de partes mais íntimas. O gemido baixo que a mesma soltou ao ser penetrada pelos dedos do rapaz ficariam gravados em sua mente, achava que nunca havia ouvido som tão doce. Desceu a boca por sua barriga, enquanto uma mão contornava seu corpo. Mordeu a coxa da garota e a sentiu se contorcer, os dedos entrando em um ritmo maior. Posicionou seu rosto, sentiu seu gosto e a fez dançar sob sua língua. Gostou de como a garota puxava seu cabelo enquanto mordia o travesseiro, essa imagem o fez descer a mão desocupada pelo volume no meio de suas próprias pernas, queria estar dentro daquele lugar quente e saboroso. Foi puxado pra cima após alguns gemidos mais profundos, a umidade escorrem por seu queixo e as pernas ainda abertas dela.
- Quero você dentro de mim. - Soltou baixo após um beijo calmo e não conseguiu mais aguentar. Caçou em sua gaveta mais próxima uma camisinha, a deslizou sobre seu pau com a ajuda da garota e se pôs em sua entrada. Ela o virou na cama, ficando por cima, beijou seu pescoço, seu maxilar e arrastou os lábios até sua boca. O colocou dentro enquanto ainda se beijavam e as bocas abriram em sincronia, aproveitando o sentimento prazeroso dos corpos unidos. Ela se movimentava pra cima e para baixo, os seios seguindo seus movimentos, o suor escorrendo pela nuca. Ele agarrou sua cintura e tentou se mexer mais rápido, apenas para ouvir o gemido de aprovação que recebeu.
Ele se perdeu em um momento de prazer e vagou por sua mente tentando achar alguma lembrança em que havia a visto tão linda como agora: a boca semi aberta, os olhos perdidos, delirantes. Ele estava próximo do fim, precisava de algum controle. A puxou firme para sob ele, entrou dentro dela de novo e de novo e cada vez mais firme. Sentia a ponta de seus dedos começarem a formigar enquanto ela rebolava cada vez mais, seguindo seu ritmo.
Cravou os dentes em seu pescoço, sentiu seu cheiro, acariciou sua pele, ouviu seu gemido sôfrego e se deixou ir ao céu e voltar. Queria poder viver naquele momento por mais alguns minutos, mas ela o tirou de dentro de si e riu tímida. Os corpos se ajustaram nos lençóis, ele levou a mão ao seu cabelo bagunçado e a apertou em seu ombro enquanto sentia sua respiração acalmar. Sabia que seus cheiros ficariam no cobertor e fez um lembrete mental de não o colocar na máquina no dia seguinte.
Ele mudou de ideia e resolveu que preferia muito mais viver ali, do que em seu orgasmo. Era mais bonito e confortável.
Ela se encarou no espelho e tentou sorrir. Sua imagem estava um total caos: o cabelo pós sexo, as olheiras e as marcas que se estendiam pelo corpo. Havia acordado após algum tempo, não sabia onde estava e quase teve um infarto quando alguém se mexeu do outro lado da cama. Pisou com cuidado até o banheiro e se trancou lá por alguns minutos. Morria de dor de cabeça toda vez que bebia e não sabia como voltar a dormir sem qualquer remédio.
Usou a escova de dentes que julgava ser de , tomou um banho gelado e vestiu uma camisa que achou no chão, gostava do cheiro.
Assim que abriu a porta, a luz do banheiro o acordou. Ele sorriu, virou completamente o corpo e quase fez um altar de adoração ao vê-la em sua blusa, com a maior cara de sono e os cabelo úmidos. A chamou silenciosamente para deitar e ela foi. Ainda nem havia amanhecido, o celular marcava 5:40 e ele esperava aproveitar a última hora de noite para dormir, mas ficara por cima dele, a blusa sendo a única coisa no corpo. E ela se mexeu tão deliciosamente enquanto ele redescobria as formas de seu corpo, que ele preferiu deixar o sono pra depois.
Ainda bem para o casal que Victor ficou quase uma hora procurando pelas chaves do apartamento na mochila. Estava tão bêbado que nem se lembrava de quem era a mochila. Quando finalmente conseguiu entrar em casa, eles dormiam há já uns bons minutos. Ele arrancou suas roupas, soltou um grande suspiro e decidiu assistir ao fim do nascer do sol na varanda. Nu.
A varanda compartilhada foi responsável por permitir que Victor descobrisse a convidada que estava com o companheiro de apartamento. Ele precisou olhar uma, duas e três vezes para ter certeza que era quem pensava. Quase invadiu o quarto do amigo e o parabenizou naquele mesmo momento, mas sabia que apenas levaria alguns bons socos.
Ele sorriu, contemplou o céu, acendeu um cigarro e se sentiu feliz pelo amigo.
Era calor demais e não conseguia se manter de baixo das cobertas sem se sentir transpirar, mas não queria ter que soltar o corpo de , que ainda dormia. Ele esperou nunca chegar a esquecer como era sentir o peso parcial que ela provocava deitada de lado sobre ele ou como sua respiração lenta parecia música ou o calor da sua pele. Qualquer coisa que lembrasse seria o suficiente para que continuasse bem.
Ele não havia ouvido Victor chegar e esperava que ele só tivesse passado a noite com qualquer outra pessoa, pra que não enchesse o saco sobre a presença de ou soltasse qualquer comentário idiota que a afastasse.
Sentiu a garota se aninhar um pouco mais em seu braço, entrelaçar as pernas e curvar a coluna pra longe dele, soltando um gemido satisfeito.
- Oi…- Ele não tinha certeza se ela era do tipo que tomava café ou saia correndo assim que percebia não estar em sua própria cama. Mas torcia pra que ela ficasse. Pra sempre, se sentisse que queria.
- Bom dia. - Resmungou sem humor, depois de um bocejo longo e mais uma espreguiçada demorada. E seu estômago roncou. Alto o suficiente para que ficasse constrangida. O quarteirão devia saber de sua fome, depois disso.
Ele sorriu, se sentia ótimo por poder oferecer comida. A guiou até a cozinha, não sabia muito bem olhar para ela nos olhos sem se constranger pela noite passada. Tudo bem que a vontade era de repetir tudo ali mesmo, no balcão da cozinha, mas se sentia tímido ao mesmo tempo que queria gritar de emoção.
Ele já chegou a pensar, enquanto a gostava de longe, em como seria tê-la ali, apoiada na pia enquanto via a máquina de café funcionar. Imaginou que conversariam sobre as aulas e como odiavam a professora de Cálculo, sobre matéria negra e os desenhos preferidos de quando criança. Pena que sua boca parecia seca de mais, suas mãos suadas e o humor da garota não parecia nada pra se gabar. Ele era tão ruim assim de cama?
- , você tem algum remédio para dor? !
E ele voltou a realidade.
Entregou o comprimido, retirou o café da máquina e o serviu.
- Não é justo que você fique com a caneca da Arya, , eu sou a visita aqui.
- Você pode ser a visita, mas eu obviamente sou o mais parecido com a atriz.
E ela sorriu pela primeira vez no dia, e ele a quis beijar pela milionésima. Gostava de como seu rosto ficava assim. Bem, a quem queria enganar, gostava do rosto dela de todas as formas.
-Tudo bem, Lady of Winterfell. - E apoiou sua caneca no colo. - Mas quando pretende me dar um verdadeiro bom dia?
Ele pareceu confuso e ela levou o dedo indicador até a própria boca, batendo duas vezes. entendeu que ele nunca conseguiria escapar de como o afetava, ela já se prendera na sua mente, mesmo antes da noite passada.
Caminhou até ela, se posicionou entre suas pernas e aprendeu sua cintura. O beijo começou com um selinho no canto da boca e depois conseguia sentir o gosto amargo com café e da canela em sua boca. Ela o puxou, cruzando as pernas em suas costas e ele se sentiu tentado a puxar qualquer pedaço de pano que cobria ambos os corpos. Ele tentou se controlar, mas ela brincava de o provocar com as unhas passeando pela barra de sua calça, os dedos descendo por sob o tecido, se movimentando em partes que o faziam apertar cada pedaço de pele em que colocava as mãos.
Ela retirou a blusa que roubara dele e foi a única coisa que teve controle de fazer pois foi levada até o quarto como um furacão. As costas bateram no colchão e ela perdeu o ar por um momento. Ele ficou por cima dela, depois ao lado, atrás e na frente. achou que a cama quebraria em algum momento, mas estava ocupada demais para se preocupar. Os dois exaustos e mais faminta ainda vestiram de novo. Ela ouviu o interfone tocar e deixou ele sozinho ir buscar algo pra comerem. Adorou como ele disse que já havia comido o suficiente por hoje, mas se fingiu de ofendida, o acertando no ombro.
Quando ele voltou, após entregar o café e um prato com um bolo diabético de chocolate a ela, se sentou ao seu lado. Os dedos passeando pelo joelho dela enquanto a observava comer animada.
- Você tem uma vela? - E ele percebeu que na maioria das vezes não tinha ideia do que ela falava, trágico. - Eu preciso de uma vela, ou fogo, qualquer coisa.
caçou um isqueiro por sua mesa de trabalho, pulou na cama ao seu lado, espirrando café em todo seu travesseiro. Ela se sentiu culpada, mas ele sorriu consolador.
Acendeu o isqueiro em frente a seu rosto, enquanto terminava de mastigar um pouco de bolo. Limpou a garganta, fechou os olhos e assoprou o fogo, fazendo-o apagar.
- Tudo bem… O que foi isso?
- É um pedido.
- Por que faria um pedido?
- É meu aniversário.
E se sentiu o pior admirador secreto de toda a história da humanidade. Não sabia nem mesmo o aniversário de sua Julieta. Se sentiu mal por boa parte da noite e da manhã, queria refazer as coisas, tentar ser mais atencioso, talvez até mesmo mais especial. Ele a olhou frustrado, talvez até um pouco envergonhado.
- Eu não tinha ideia, . - Ela tirou o cabelo do rosto, desviando o olhar. - Parabéns, de verdade.
Ela engoliu o resto do bolo de uma vez só, tomou o restante do café, passou a mão pelo estrago que havia feito na fronha do travesseiro e depois passou a mão por cima do peito, analisando qualquer estrago mais profundo.
Ele pareceu perceber uma melancolia diferente no olhar e queria poder entender o que era tão difícil de ver em . Seria engraçado se não fosse doído, que não podia simplesmente perguntar.
Um dos mal de se amar a distância, pensava ele, é nunca ter certeza de o que ele realmente via, ou imaginava ser parte dela. Ele tinha a imensa vontade de vê-la pelo que era, invés de tecer uma personalidade em cima de uma garota bonita. Mas sabia que as pessoas não entravam assim na vida das outras, exigindo espaço. E doía pensar que talvez ela não tivesse tantas lacunas em sua vida pra que ele pudesse preencher.
A maior parte da noite ele passou tentando esconder o segredo de que ele realmente gostava dela, se policiando em palavras e muitas vezes até em toques. Tinha noção de que era completamente o contrário o que acontecia dentro dela: ela estava o conhecendo agora, haviam passado poucas horas juntos e o máximo de lugar que ele ocupou foi em sua carne. Mas queria tanto, tanto, mais do que conseguia dizer, que ela quisesse ficar.
Ele não tinha ideia de o que acontecia na vida dela além do que ouvia de amigos, não sabia muito sobre a família ou como havia sido sua vida antes da faculdade, mas se contentava em perceber os detalhes que ela expunha para o mundo. E ele gostava de cada um deles, só não sabia se era o suficiente.
Ela voltou a realidade e o impediu de ir mais fundo em seus pensamentos, se ajeitou na cama, puxou o celular do bolso do casaco que havia lhe emprestado noite passada e deu de cara com as ligações perdidas de Dona Anna. Sentiu-se sufocada e pensou em bater o celular na testa pra ver qual dos dois quebrava primeiro, mas se contentou em buscar um pouco da atenção de , enfiando o celular de volta nos bolsos da jaqueta.
Ele tentou desligar tudo que rodava na sua mente. Esqueceu de tentar tanto parecer legal, ou de se policiar ao falar e engoliu tudo o que pensava. Viu em sua cabeça um filme engraçado em que ele finalmente a tirava de um pedestal. Ela era só uma garota, ele era só um garoto. E estava tudo bem se as coisas acontecessem devagar. Ele não precisava de tanto espaço, mesmo que quisesse. Ia tentar chegar até a metade, invés do fim. O que sempre quis não era um amor unilateral, os dois deveriam estar nisso, então esperaria por na metade do caminho. Ele sempre foi de exatas e conseguia se contentar com porcentagens: 50% + 50% completa 100 e não se importava de ter que esperar pela parte dela, mesmo que com juros.
Passaram horas falando sobre como era ridículo terem que diferenciar cobertores de edredons e de como a guerra ao terrorismo não podia continuar. Eles se entenderam na matemática, no português e na biologia. Ele parecia entender um lado diferente da filosofia e tudo bem pra ela, desde que ele continuasse falando qualquer coisa com aquela expressão sincera. Debateram sobre a crise de 29, sobre as teses de Carl Sagan. Aprenderam como estudar pra Cálculo juntos, mesmo que fosse a matéria que mais odiavam, assistiram séries que ela odiava e filmes em que ele acabava dormindo. Gastaram passagens de ônibus de mais, ele vendeu o violão para que pudessem ir pra praia e ela o repreendeu por uma semana inteira. Ela não se assustou quando ele disse que a amava em menos de um mês, ele não se decepcionou quando ela não respondeu o mesmo. Ele descobriu porquê ela não gostava do próprio aniversário e também porquê sua mãe agia como agia, ela aprendeu que ele não gostava de falar sobre família e tinha medo de pássaros. Ela ria toda vez que o interfone tocava, pois sabia que seus vizinhos odiavam os barulhos altos que continuavam a fazer noite após noite e ele amava cada parte daquele sorriso.
Eles continuaram conhecidos, amigos e enfim namorados por muito tempo.
E continuou voltando pro apartamento dele.
Fim.
Nota da autora: OLÁ, me sinto muito orgulhosa do meu casal e dessa história, ainda mais inspirados em uma música tão maravilhosa. É isso, obrigada por ler a fic, deixe um comentário dizendo o que achou.
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