Finalizada

1 - Don't you know I feel the same?

Los Angeles, 2008

He.


entrou em casa e fechou a porta, fazendo um barulho que sabia que eu conseguiria ouvir em qualquer cômodo da casa - que no caso, era a cozinha. Desviei o olhar do azulejo verde da parede e a encarei por dois segundos até que ela desviasse os olhos e subisse as escadas sem dizer uma palavra. Mais uma vez. Eu a via por apenas quatro momentos no dia: quando eu acordava, quando ela saía de casa, quando chegava e quando eu decidia ir dormir. Poderiam dizer que é patético, mas já estávamos nessa há mais de uma semana. Não quero ser o que vai dar o braço a torcer, porque eu é que estou com a razão.
Ela me deixou a esperando para o jantar de aniversário de dois anos de casamento até duas da manhã, porque um paciente maluco dela estava convencido de que alguém queria matá-lo e não queria ir pra casa. E quando foi, a fez ficar lá com ele até realmente fazê-lo aceitar que ninguém iria aparecer com uma faca e uma mascara de esqui.
Tudo bem, ele tem problemas.
Mas era o nosso aniversário! Eu faltei ao trabalho no restaurante pra assar um pernil pra ela. Passei a manhã toda no supermercado, fui atrás do Merlot preferido dela numa lojinha de vinhos há mais de uma hora da nossa casa. E tudo isso, pra ela passar a noite de aniversário com um doido com esquizofrenia.
E ela ainda me despejou tudo de uma vez e se jogou na cama, dormindo que nem uma pedra sem nem falar comigo direito. Também não pensou em me recompensar.
“Você tem que entender” não é o suficiente.

Soltei um suspiro e despejei o resto do café na pia, deixando a xícara dentro dela. Caminhei sem muita vontade pela casa, apagando as luzes e subindo as escadas. Ouvi o barulho do chuveiro quando entrei no nosso quarto.
Tirei o chinelo e deitei do meu lado da cama, de costas para a porta que nos separava. Só consegui dormir depois que ela deitou ao meu lado. Que dependência terrível.

***


- Bom dia.
O café pareceu entrar no tubo errado dentro do meu corpo quando eu ouvi a voz dela ecoando pela cozinha e eu comecei a tossir estupidamente. Ouvi o chiado dos pés da cadeira sendo arrastados contra o piso e levantei os olhos para vê-la sentar a minha frente.
Controlei a tosse, me recuperando do susto repentino. Fiquei tempo demais sem ouvir a voz dela pra ter outra reação que não fosse aquela.
Ela tocou o bule, o levando consigo e despejando café na xícara vazia em cima da mesa. Pegou uma torrada e sujou a faca com manteiga, que derreteu na superfície quente do pão. A observei em silêncio até que ela comesse a torrada inteira. Espiei o relógio da parede, surpreso pela hora que marcava. Eram mais de nove. E ela já deveria estar saindo de casa para o trabalho.
- Não vai para o consultório? - perguntei, olhando para o meu prato.
- Não.
- Por quê?
- Pedi a minha secretária para desmarcar meus compromissos de hoje. Nós dois precisamos conversar.
- Nenhum paciente vai correr risco de vida se você não for? - alfinetei, sem pensar. Me arrependi depois de dizer a ultima palavra e ver a cara que ela fez. Mas ela respirou fundo e olhou pra mim.
- Por favor, . Pare com isso. Eu resolvi tudo que tinha que resolver ontem, porque sexta é a sua folga e eu não queria mais estender essa situação até domingo. - Tudo bem. E então?
- E então o quê?
- Você disse que nós precisamos conversar. Então, conversa comigo, ora. Vai me pedir desculpas ou o que?
- Ah, meu Deus. É a única coisa que importa pra você, não é? - levantou, deixando a cozinha. Eu, óbvio, fui atrás. - Você precisa que eu te diga que você tem razão e eu fui uma péssima esposa por trabalhar mais do que você achou que eu trabalharia. - Não, ! Eu preciso que você admita que eu tenho razão por você não ter sacrificado alguma coisa por mim! Por nós!
- ! Foi só um jantar. Um jantar, pelo amor de Deus, nós dois jantamos todos os dias. Eu sei, e entendo. Era para ser uma comemoração. Mas eu sinto muito. Eu não sabia que aquilo iria acontecer, é por isso que nós chamamos essas coisas de imprevistos! - Você poderia ter dado um jeito, inferno! Eu faltei ao trabalho, por que você não poderia fazer o mesmo?
- Você não pode comparar os nossos empregos! Você é chef, você tem alguém que te substitua na cozinha, você tem empregados. Eu sou psicóloga, . E ele era o meu paciente. Eu não poderia colocá-lo com a minha secretária e vim te ver, poderia colocar em risco não só ele, como ela também! - ela bufou. - Ele confia em mim. - Mas que sou o seu marido!
- Olha só. Quando nós dois nos casamos, eu pensei que você iria aceitar o fato de que, na minha profissão, o objetivo é garantir a saúde mental das pessoas custe o que custar. Eu não podia deixar um paciente sozinho no meio de uma alucinação. Deixa de ser egoísta e entende isso de uma vez! - ela gritou a última frase e jogou o corpo no sofá, passando as mãos pelos cabelos compridos.
Eu sentei ao lado dela, no máximo uns cinco centímetros de distância. E nós dois ficamos em silêncio pelos minutos seguintes. Não os contei, mas pareceram uma eternidade.

- ... – ela suspirou. – Nós precisamos parar com isso. – não respondi, então ela continuou. – Por favor, . Eu não me casei pra brigar. Eu detesto brigas e confusões, você me conhece.
Deitei a cabeça no encosto do sofá, respirei fundo e soltei o ar pela boca. – Desculpe, . Eu exagerei.
Ela olhou pra mim e eu senti meu coração apertar ao encarar seus olhos brilhando com as lágrimas que ela não queria derramar.
- Desculpe. – murmurou. – Não queria ter perdido o nosso aniversário.
- Tudo bem. – eu disse, dando um sorriso e pegando a mão dela, querendo passar a maior segurança possível. – Eu estava sendo incompreensível.
Eu consegui notar o alívio dela quando inspirou, expirou e sorriu. Deitou sua cabeça em meu ombro e apertou a minha mão.
- Não faz mais isso. – disse, com a voz baixinha. Quase infantil. Eu quis rir dela e do beicinho involuntário formado em seus lábios.
Beijei sua testa antes de dizer: - Prometo.


2 - 'Cause nothin' lasts forever.

She.

Minha cabeça parecia que ia explodir. Só não tenho certeza do motivo. Raiva, nervosismo ou preocupação. Sem contar os ciúmes que eu, infelizmente, estou sentindo. Me detesto por isso. É lamentável e eu sinto vontade de cortar minha carótida por me sentir insegura dessa forma.
Rachel está vindo visitar. Rachel e sua incontável quantidade de elogios ao meu maravilhoso marido e primo super charmoso que ela tem. Rachel e seus palpites irritantes. Rachel e sua risadinha que me dá nos nervos.
Ah, Rachel.

Enfiei a faca no peito do frango e respirei fundo. Olhei para o relógio, me frustrando ao ver que ainda – já - eram nove da manhã e eu nem tinha começado a preparar um frango assado com molho barbecue cheio de frescura e detalhes que não me cabem entender, nem com uma receita explicativa até demais que deixou. Cheguei a me sentir ofendida.
Mas era uns dos pratos favoritos de Rachel. E tem que ser perfeito. Cheiroso. Com todos os temperos em sintonia. E o molho, com um sabor de finalização impecável. Blá, blá, blá.
E como teve uma emergência no restaurante, sobrou pra mim essa tarefa “fácil”.
Detesto cozinhar. E também detesto molho barbecue. Então, obviamente, estava sem a menor vontade de me esforçar para fazer aquilo. Por mim, enchia de pimenta e a deixava morrer na sala de jantar.
Não me faria a menor falta.
Mas eu quero fugir de desentendimentos com o . E por esse único motivo, seguiria a receita para leigos à risca. E se algo saísse errado, a culpa seria toda dele.

***


Olhei para o forno mordendo o lábio inferior. Tinha acabado de pincelar o molho no frango e agora ele tinha que terminar de assar. E eu precisava, de verdade, tomar um banho.
Meu celular começou a tocar assim que entrei no banheiro, e eu dei meia volta para atender a ligação de .
- Oi, . Está tudo bem aí? Conseguiu fazer?
- Está assando. Se não confia, prova quando você chegar antes de servir a Rachie. – rolei os olhos. Minha voz tinha saído enojada ao pronunciar o apelido que ele deu à priminha querida, e eu realmente não ligava que ele percebesse.
- Oh, baby. – ele riu. – Eu confio em você, está bem? Estou indo pra casa, já resolvi tudo por aqui. Chego em vinte. Rachie já deve estar chegando também.
- Hm, maravilha. Vou tomar banho agora, se vossa senhoria permitir e não ligar mais.
- Não quer me esperar não?
- Não. Estou fedendo a frango. Eu vou tomar meu banho desejado. Não demore, você tem que receber a Rachie. Tchau.
Desliguei a ligação e joguei o celular em cima da cama. Meu pesadelo está se aproximando.

Saí do banho com muito esforço, passando na cozinha pra olhar o frango e indo verificar a minha agenda e consultas marcadas para a semana. Depois, só fiquei encarando a tela do notebook, preparando o meu psicológico para as próximas horas do dia.

- Oi. – A voz de me deu um leve susto. Mal tinha o notado ali. Eu, definitivamente, não estava confortável.
A presença de qualquer membro da família dele, com exceção de seu irmão, me deixa muito mal comigo mesma. Eu até hoje não tenho muita certeza de qual é o problema que eles veem em mim. E essa coisa toda só começou depois do casamento. Meus sogros não aceitam o fato de que não sou A dona de casa. E a má fama de mim provavelmente se espalhou pela família inteira, que não fazem nenhuma questão de me tratar com simpatia.
E olha que eu me esforço.
Sinto vontade de fazer uma terapia coletiva com todos eles. Porque essa mente fechada não vai leva-los a lugar algum.
- Ah. Oi.
- E então? A cozinha sobreviveu?
- Sim, engraçadinho. Vai lá verificar. E aproveita pra desligar o forno, acho que já está bom.
- Eu entrei pela cozinha, linda. – beijou os meus lábios rapidamente. – Já desliguei. Está com um cheiro ótimo. Trouxe os acompanhamentos, você só precisa esquentá-los e ninguém vai descobrir. – piscou. – Vou tomar um banho rápido antes que Rachie chegue e eu a faça esperar.
- Claro. – sorri falso. Ele deu risada. Não vejo graça nenhuma na minha irritação. As pessoas têm uma mania insuportável de inflar o ego por conta de ciúmes. Eu não estaria dessa maneira se não tivesse motivos.
Fala sério.
É uma sessão ininterrupta de sorrisos e elogios entre os dois e eu tenho que achar isso uma coisa normal? Sem contar o incrível dia em que, num jantar em família, no momento “vamos todos odiar a ”, ela disse que ela foi o “primeiro amor consumado do ”. Assim. Normal. Uma coisa completamente comum de se dizer numa porcaria de jantar.
Esquentei o purê de batatas e o arroz que ele trouxe do restaurante e sentei no banco da cozinha esperando a morte chegar.

já estava lá em cima há quase vinte minutos quando a campainha tocou e eu quis me cavar um buraco no meio do piso, entrar nele, e ficar lá até amanhã.
Me arrastei até a porta e montei um sorriso no rosto assim que a digníssima apareceu em minha frente. Com o cabelo, pele, rosto, corpo, sorriso e humor perfeitos.
Enquanto eu sou a “ranzinza que lida melhor com gente maluca do que com o próprio casamento”.
- , querida!
- Rachel. – levantei o canto dos lábios. Lhe dei espaço para entrar. O perfume de preencheu minhas narinas enquanto eu fechava a porta.
- Primo lindo!
Ah, Deus. Começou.

***


- Huuuuum. Como eu adoro esse molho. – Rachel disse, sorrindo. Eu mordisquei o frango com um sorrisinho. Ela não fazia ideia que eu tinha feito aquilo. Admito que ficou bom. Ficou ótimo, na verdade. Mas o gosto daquele molho estava me matando por dentro.
É horrível. Estava me esquivando daquele sabor o máximo possível.
- Está uma delícia, não? – olhou pra mim com uma sobrancelha levantada. Rachel concordou com a cabeça. – Feito pela .
- Ah. Bem que eu notei alguma coisa diferente. - deu um sorriso forçado e eu retribui da mesma maneira. Claro que ela tinha algo pra dizer. – Finalmente está aprendendo alguma coisa, querida.
- Não vivo à custa dos meus pais ou meu marido, então não sobra muito tempo pra testar receitas. – soltei uma risadinha afetada. – Mas obrigada, querida.
- Tudo bem. – me lançou um olhar repreensivo e tentou quebrar o gelo. – Então, prima, como anda tudo?
- Tudo está maravilhoso. Meu marido é o melhor de todos. Só duvido que seja melhor do que você. – riu e eu tentei não focar em sua mão sobre a de o tempo inteiro. – Mas a minha vida está maravilhosa. – ela adora essa palavra, pelo visto. - Estou até pensando em ter um filho! Eu e ele estamos considerando a possibilidade. Já faz tempo que não há uma criança na família, não é, ?
- Um filho parece ótimo pra você. Só aconselho dedicar o seu tempo a ele e não a fazer compras ou dia de spa. – sorri. – A criança necessita de total atenção em todo o crescimento. Esse será o seu desafio para a vida.
- Ah, o blá-blá-blá de psicologia. – riu. – Fica tranquila, querida. Minha vida não é shopping, eu posso manter uma família.
Certo, eu acredito.

O resto do almoço foi inteiramente desagradável. Eu não sentia nem vontade abrir a boca, seja pra comer ou pra responder qualquer pergunta maldosa.
está irritado comigo. E eu não estou tão preocupada com isso porque está claro que as provocações vieram da parte dela em primeiro lugar. E ele sabe que ficar calada não é do meu feitio.
Eram quase seis da tarde quando dava beijinhos de despedida nas bochechas da priminha favorita.
Meu potinho de paciência não tinha mais nada aproveitável, então sorri, acenei e subi as escadas o mais rápido que eu consegui. Minha ideia era tomar um banho quente e me jogar na cama pra descansar a minha cabeça cheia, porém meus planos foram destruídos assim que entrou no quarto.

- , é sério. – ele ralhou. – O que diabos você estava fazendo? Meu Deus do céu, que coisa desnecessária.
- Desculpe? – eu rolei os olhos. – Eu não sei do que você está falando, de verdade. Achou que eu tinha que escutar as indiretas da sua prima calada? Me poupe, .
- Você poderia ter sido menos nojenta. Ela é visita, temos que ser simpáticos. Ela é da minha família, não quero que saiam dizendo por aí que não sabemos receber pessoas.
- Nojenta? Ok, certo. Eu tentei ser menos nojenta. – frisei. - Mas fica complicado quando a língua afiada dela me ataca a cada mísera frase que ela diz. Ninguém se preocupa em ser simpático comigo quando eu sou a visita na casa dos seus pais e eu duvido bastante que você vá cobrar menos nojo dos dois em relação a mim.
- Isso é completamente diferente, , não se compara a uma troca insuportável de farpas.
- Me diga como não se pode comparar? Meu Deus, . Você sempre defende a outra pessoa, seja ela quem for. Qualquer pessoa, menos eu. Não estou tentando ser dramática, não me acuse disse, por favor. – espalmei as mãos no ar. - Eu passei a manhã fazendo um almoço que nem é do meu gosto pra agradar a sua amada prima e a primeira coisa que ela faz ao saber quem enfiou a porcaria do frango no forno é criticar. Vai me dizer que isso não é uma implicância? Era uma crítica construtiva? – busquei ar ao fim do desabafo e ele não perdeu a pose.
- Isso é exagero. Ela elogiou o prato, não elogiou?
- Ah, sim elogiou. Quando achou que você tinha preparado.
- Isso é que é implicância, . Qual o seu problema com a minha família?
- Você não tem ideia do quanto isso me irrita e me magoa, . Mas que inferno! Sua família me detesta porque eu não sigo a porcaria do padrão mulher-perfeita-que-vive-pelo-marido que vocês têm. Me detestam porque eu não procuro roupas em lojas caras, porque eu não fui criada com mimos exagerados e todo o tipo de capricho possível. Eu sinto muito, mas não posso mudar isso.
- Parece mais que você detesta todos eles do que o contrário. – ele deu de ombros.
- Ah, por que você não acha que, em momento algum, eu tentei agradá-los? Que eu nunca na vida me vesti elegantemente pra ouvir um “essas coisas finas não combinam com o seu tipo” da sua mãe”? Não banque o desentendido. Você sabe de tudo que eu já passei com esses problemas.
- E você ainda me diz que não quer fazer drama. – rolou os olhos. – Precisava insinuar que a Rachie é incapaz de cuidar de uma criança?
- Pelo amor de Deus, não ouse tocar nesse assunto. Aquele “já faz tempo que não há criança na família” foi a gota d’água. Você não precisa piorar mais nada.
- E isso é alguma mentira? Eu sou louco por um filho e você nunca disse nada sobre. Eles estão casados há menos de um ano. Estamos perto de três.
- Você é louco por um filho? Você? , nós nunca nem pensamos em um filho. Você nunca insinuou querer um filho. E se estava tentando abrir o jogo comigo, fez isso muito mal, porque eu não saquei nenhum suposto sinal. E eu, definitivamente, sou boa nisso.
- Então você é uma péssima profissional.

Ele tinha me dado um tiro.

- Não, eu não sou. Você que é incapaz de demonstrar qualquer coisa pra mim. Não sei que inferno de medo que você tem que eu descubra algum segredo podre só de ouvir alguma frases. Mas eu sou psicóloga, não vidente. E nada parece pior do que você ter fodido com a sua prima e ter toda essa relação pseudo-amorosa com ela até hoje. Não tem mais nada que eu possa descobrir que me faça ter mais náuseas do que isso.
- Porra, . Isso tudo é ciuminho de uma coisa que aconteceu há anos?
- Não! Meu Deus, ela age como se você fosse dela e eu fosse um pedaço de bosta na sua vida que só faz atrapalhar os sonhos eróticos que ela tem com você. Que ela fez questão de me contar, inclusive.
- , para né. Você não é um pedaço de bosta. Chega de fazer a louca, eu não tenho paciência pra uma performance digna de divã.
- Argh! – parti pra cima dele, lhe dando diversos tapas. – Por que você faz isso, cacete?
- Para com isso, mas que saco. – segurou os meus braços e eu precisava deles soltos, não só pra encher a cara dele de socos, como para tentar controlar a série de lágrimas que eu não estava mais conseguindo segurar.
Odeio ter essa estabilidade emocional de merda.
- Me solta, porra. Me larga, sai daqui, me deixa em paz. Você não move um dedo por mim. Deixa qualquer um me destruir e ri da brincadeirinha. – sacudi meus braços. – É brincadeirinha, . – o imitei. – Não leva a sério.
- Mas não é pra levar a sério.
- É SIM! – tirei suas mãos de mim. – Não é uma brincadeira. Não é engraçado. Não é pra ser divertido, é pra ser humilhante, .
- Baby, qual é. Você não leva nada na esportiva.
- Baby o caralho, entendeu? Foda-se o baby. Não me chame assim pra tentar me amolecer. Você não nota o tom da voz das pessoas ao falar comigo. Você não está nem aí pra mim, . Só quer saber de rir das piadas internas com a sua prima.
- Já voltamos para o assunto da Rachel de novo, ah, Deus. – bufou. – Você não cansa, não é?
- , vai se foder. Aliás, vai atrás da sua prima, ela ainda deve estar descendo as escadas para o mundo inferior. Pergunta se ela não quer uma comida rápida. Duvido que não tope.
- , para! Já chega de escândalo.
- Tudo bem. Fica aí sozinho, eu vou pra Olivia.
Peguei a chave do carro em cima da peça e a minha bolsa no cabideiro, jogando roupas intimas dentro – ela me emprestava qualquer coisa pra vestir, obrigação de melhor amiga.
- Ei, não precisa. Vamos resolver isso, tudo bem?
- Não. Não vamos resolver isso agora, porque eu preciso ficar calma e isso não vai acontecer olhando pra essa sua cara de quem está certo.
- Não, não. – pegou o meu braço. – Não vai. Não consigo dormir sem você.
- Cala a boca. Você consegue, sim. Me visualiza do seu lado. Ou talvez a Rachel.
- Hey. – me trouxe para perto e eu evitei o olhar. – Fica, por favor. Esse lado da cama é só seu. Sem seu corpo, não completa.
Eu rolei os olhos. – Você nunca vai admitir, não é? - Ele não respondeu, me dando beijinhos no ombro. – Me solta, eu vou tomar banho.
- Você não vai dormir na Olivia, né? – fez um biquinho e eu bufei, jogando a minha bolsa no chão e fugindo dos braços dele.
O vi sorrir enquanto eu entrava no banheiro.


3 - And we both know hearts can change.

He.

Durante toda a semana posterior ao almoço com a Rachie, ficou amarga. Era exagerado.
Eu sei que Rachel fala umas coisas chatas, às vezes. Mas sempre foi uma mulher segura, não devia se deixar abalar por essas besteiras. Essa implicância das duas me irritava. São duas pessoas que eu amo e que não deviam se desentender, deviam ser amigas.
Balancei a cabeça negativamente e continuei a desenformar a base da tartelete de frutas vermelhas que eu estava fazendo para ela. Sobremesa preferida. Sempre dá certo.

Parei tudo que estava fazendo quando ouvi o barulho do carro sendo estacionado, correndo para a sala e a esperando entrar. E quando ela o fez, a trouxe para os meus braços rapidamente.
- O que você fez de errado? – perguntou depois que nossos lábios se separaram e levantou uma sobrancelha.
- Você é terrível. – sorri. – Não fiz nada, boba. – selei nossos lábios. – Só estou tentando te deixar docinha.
- Ah, sim. Desista. Eu só vou ficar docinha quando você-
- Shhhh. – Coloquei o dedo indicador sobre seus lábios. – Eu estou fazendo uma coisa que você adora. Só falta o tempo de geladeira.
- Você está tentando me comprar com tarteletes? – riu – Pare.
- Baby, eu só quero acertar as coisas com você. Odeio tanto ficar num clima ruim.
- Eu também. Mas enquanto você aceitar situações absurdas, vai ser desse jeito.
- Por favor, não vamos começar com isso. Deixa pra lá, esquece.
- Olha, . Eu estou cansada. Tive muitas sessões hoje, estou com dor nas costas, minha bunda está quadrada. Só quero tomar um banho quente e dormir.
- Te faço uma massagem. Vai recusar?
Ela me olhou por alguns segundos e me deu um sorriso.
- Não esquece das tarteletes. Eu vou tomar um banho.

Tentou se afastar, mas a segurei comigo por mais alguns segundos. Precisava beijá-la. Muito. Eu precisava beijá-la o suficiente para suprir toda a carência semanal.
subiu e eu voltei para a cozinha, finalizando a sobremesa e levando à geladeira para ir atrás dela o mais rápido possível.

***


O corpo nu da minha mulher. Ah, Deus. Obrigado.
Ela estava deitada de bruços com a toalha lhe cobrindo a bunda enquanto soltava muxoxos durante o meu passeio de dedos sobre suas costas. Eu sentia os seus músculos relaxando ao meu toque e ela estava quase dormindo. Ou pelo menos parecia estar.
Minhas mãos deslizavam com a ajuda do óleo de massagem que espalhei em sua pele.
Tirei os cabelos do pescoço dela e toquei os seus ombros, sentindo toda a tensão acumulada na região.
- Tinha esquecido de como você é bom nisso. – murmurou e eu ri.
- Faço todos os dias se você quiser.
- Você só está tentando me agradar. Vai fazer isso por três dias e depois vai esquecer.
- Você provavelmente está certa. – ela resmungou uma resposta que tenho certeza que foi “como sempre”. – Muito bem, vamos tirar essa toalha daqui.
Descobri as nádegas e as apalpei.
- Eu não disse que podia.
Não dei atenção ao que ela falou, brincando de apertar e separar as bandas, observando-a umedecer.
- Péssima pessoa você é. – reclamou. Virou o corpo até ficar de barriga pra cima, me dando uma linda visão. Eu ri.
Minhas mãos encaixaram nos seus seios e ele mordeu o lábio inferior, mexendo as pernas.
Os seios dela são sensíveis, e eu tenho consciência de que tenho que ter cuidado com eles, mas é divertido vê-la derreter apenas com um toque.
- Vem cá. – chamou. E eu me aproximei para beijá-la.
As mãos dela encontraram a barra da minha camiseta e levantaram o tecido.
- Já estava com saudades da sua safadeza.
- Cala a boca.
Eu ri e a beijei novamente.
A noite seguiu com beijos de entrada, suor e gemidos de prato principal e gozo de sobremesa – sem esquecer das tarteletes.

***


- Bom dia, bom dia. – beijou minha bochecha e roubou uma torrada com geléia do meu prato. Ela carregava uma bolsa maior do que a de costume e parecia atrasada zanzando pela sala e cozinha procurando coisas.
- Baby, você colocou o carregador na gaveta. – avisei. Ela voltou com um sorriso e agradeceu. – O que houve?
- Nada. Hoje só fico meio período e vou pra casa dos meus pais. Minha mãe quer ajuda com o jantar de aniversário do papai e eu não passo negar nada a ela.
- Claro que não. – eu ri. – Você tem a quem puxar.
- Cala a boca e não me irrita. – ela rolou os olhos e eu sorri. – Te ligo quando chegar, certo?
- Tudo bem, apesar de estar bem magoado com o fato de que eu sou chefe de cozinha e ela não me pede ajuda.
- Acho que minha mãe não lida bem com o fato de que você cozinha melhor do que ela. – fez uma careta. – Eu nunca disse isso, certo? – eu ri. Tentei beijá-la, mas ela pegou meu copo de suco e deu um gole generoso. – Tenho que ir, te vejo mais tarde. Pode aparecer lá pelas seis horas.
- Te passo uma mensagem quando sair do restaurante. Boa sorte.
- Obrigada! – soltou um beijinho no ar e eu lhe dei um tapa na bunda quando ela virou.
- Gata! – berrei e ouvi a risada dela enquanto saía de casa.

***


Cinco e quinze meu celular vibrou no meu bolso. Demorei para olhar a mensagem porque estava finalizando um pedido.

“Baby, você faz ganache com chocolate amargo, não é?”
“Sim.”
“Tá ocupado?”
“Sim.”
“Hmmm, ok. Saudades xox”
“Idem xxxxxxxxxxx”
Eu conseguia vê-la sorrindo.

Finalizei os meus pedidos e passei a mão para o meu substituto da noite. Tirei o dólmã e o dobrei. Passei em casa para tomar um banho e enviei um “a caminho” para quando entrei no carro novamente. A tortura lenta e dolorosa está pra começar.
Não é que eu não goste dos pais dela. Eles nunca me deram motivos pra isso, pelo contrário. Só sinto que eles estão sempre cobrando algo de mim.
Acho que por ser filha única, toda a atenção e proteção foi dada a ela e o meu passado, que é de conhecimento geral, pode causar algum desconforto e aparecer como ameaça pra ela. E ao meu ver, isso é drama demais.
Tudo bem, eu era um mulherengo.
Tudo bem, eu me envolvi com as pessoas erradas.
Mas já passou. Eu não sou mais um adolescente.
Só não sei se meus sogros concordam.
Mas eu preciso mesmo é parar de tentar encontrar respostas pra tudo, criar teorias e paranoias. Essa é, com certeza, a mania de que eu não quero aderir.

Estacionei o carro na frente da casa e não deu nem dez segundos que eu toquei a campainha para ela abrir a porta.
- Oi! – ela segurou o meu rosto para me dar um beijo.
- Oi, linda! E aí, cadê o sogrão?
- Está na cozinha com minha mãe.
- Ah, meu cômodo favorito. – sorri e passei o braço pelos seus ombros. Vi primos e tios de no quintal e acenei para eles.
Cumprimentei os , principalmente o aniversariante com toda a simpatia que tirei de mim no momento.
- Como vai, querido?
- Estou ótimo, e a senhora?
- Estamos todos ótimos! – sorriu. Acho a semelhança dela com a impressionante. – E a correria do restaurante? Está dando conta?
- Como você disse, é sempre uma correria – eu ri. – Mas a gente vai levando, está tudo dando certo e o nome está crescendo no mercado.
- Ah, que ótimo. Fico realmente feliz.
Eu sorri.
me deu a mão e deitou a cabeça em meu ombro.


4 - Just tryin' to kill the pain.

She.

Se a família dele me cobrava com questões sociais, a minha, com certeza, se empenhava em exigir dele um profissionalismo adequado. Além de querer sempre que ele se mostre responsável e com caráter.
Tudo bem, a gente se ama, mas temos problemas familiares.

Meus pais vivem traumatizados com o que era quando o conheci. O ano era 1998, eu tinha acabado de fazer dezessete anos e ele era uma péssima influência. Um ano mais velho, tinha sempre um maço de cigarros no bolso. Saía com os amigos pra beber e fazer besteira pela cidade, além de dormir com não sei quantas meninas. Típico playboy mimadinho.
Eu nunca fui muito com a cara de pessoas assim e isso segue até hoje com o grande choque de realidades e personalidades entre nossas famílias, mas o sentimento que cresceu em mim foi tão forte e insano que eu não consegui controlar. E isso começou justamente numa dessas saídas loucas. Porque eu estava chateada por ter discutido feio com a Olivia e o Ethan, irmão do e meu amigo, – que, na verdade, sempre foi tão errado como o irmão, mas tirava notas boas e isso fazia os meus pais acreditarem que ele não era uma companhia ruim - me chamou pra ir junto com eles esfriar a cabeça.
E eu esfriei. Fumei um baseado do . E era dos bons, pra quem tinha grana, não qualquer porcaria que se compra por ai.
Comecei a achar tudo tão incrível e libertador enquanto eu estava com eles, cantando “I Don’t Want To Miss a Thing” num tom absurdamente alto no carro, correndo pelas ruas desertas no meio da madrugada, bebendo cervejas e gritando para o amanhecer.
Cheguei em casa destruída e apaixonada. Com uma ressaca que tomou conta do meu corpo e arrancou risadas de Olivia – fizemos as pazes com 10 minutos de conversa. Meus pais enlouqueceram e me colocaram de castigo pela primeira vez na vida, o que não me pediu de fugir pela janela a noite e sair pela madrugada de novo, só com o dessa vez.
Nos apaixonamos, ele me tirou a virgindade e namoramos escondido por meses. Mas eu sou uma péssima mentirosa e a minha aparência de viciada em maconha não enganava ninguém. Então minha mãe me proibiu de ver a cara dele.
Conseguimos nos encontrar poucas vezes no início dessa proibição, mas a vigia 24 horas sobre mim não me deu mais escolha.
E eu fiquei louca. Louca mesmo, de quebrar o meu quarto inteiro e tentar me suicidar. Meus pais acreditaram que era carência da droga, até tentaram me colocar numa clínica de reabilitação, mas era carência do , na verdade.
Depois da minha delirante tentativa de suicídio, eu acordei dessa loucura e aceitei a minha condição de “prisioneira”. Minha vida se definiu em estudar pra terminar o high school e ir ao shopping e praia com a Olivia. Nunca pela noite, por bastante tempo. Depois eles acabaram entendendo que estava tudo bem comigo e que eu não iria correndo atrás do para uma agitação até o alvorecer, ou procurar um traficante qualquer pra encher meu corpo de THC.
Essa minha fase perturbada foi que me fez querer cursar psicologia e me tornou parte do que sou hoje.
Reencontrei na minha formatura. Ethan já me dizia muito sobre ele. Estava cursando Gastronomia, tinha parado de fumar e de ficar bêbado por diversão. Me procurou por livre e espontânea vontade e desde aquela época até hoje, busca a total aprovação dos meus pais.

E não só ele, como eu fico irritada com essa pagação toda. Creio que entendo como ele se sente depois de um encontro desse tipo com meus pais, porque deve ser parecido com o que eu sinto quando estou com a família dele. E é realmente bem chato.
Sem contar que eu não tenho mais dezessete, já estou bem velhinha pra dar conta de qualquer coisa que venha a acontecer.

Eu e deixamos a casa dos meus pais no carro dele, eu deixei o meu lá, combinando de ir buscar amanhã. batucou no volante e respirou fundo.
- Ei. – toquei seu ombro. Ele me olhou rapidamente. – Não põe peso em suas costas, tá bem?
Ele sorriu. – Você sempre sabe a hora de dizer as coisas.
- Ossos do ofício. – fiz uma careta e ri. – Anda, vamos para casa.
- Ah, não. Vou te levar para a praia.
- Baby, são quase meia-noite.
- Shhh. Você adora. – me fez leves cócegas. Eu deitei a cabeça no banco do carona com um sorriso.
Adoro, sim.

***


- Às vezes eu sinto falta de ser louco. – disse.
Ele estava deitado na areia e eu tinha a cabeça em sua barriga, só pra não sujar drasticamente o meu cabelo.
Eu ri. - É? Quais vezes?
- Quando estou muito cheio de trabalho, quando alguma coisa dá errado, quando a gente briga... – pausou para respirar fundo. – Sinto vontade de sair por aí em alta velocidade, pichar o letreiro de Hollywood, pular muros, fumar uns cigarros.
- E gritar pro mundo que estamos vivos. – completei, ele riu, me fazendo um cafuné. – Não posso mentir, também sinto vontade de jogar tudo pro ar.
- É. Mas aí eu lembro que se eu fizer isso vão te tirar de mim de novo. E todo meu esforço vai por água abaixo.
Eu o olhei no mesmo instante.
- Você está mesmo se abrindo comigo?
- Não estraga o meu momento. – reclamou e eu soltei um riso.
- Desculpe.
- Eu fiz tudo certo. – bufou. – Tirei tudo de ruim da minha vida pra ter você de volta. E ainda assim parece não ser o suficiente. É frustrante.
- Você nunca me disse isso.
- Aposto que sempre desconfiou. – sorriu e eu mordi meu lábio inferior, sorrindo e concordando. – Eu gosto de viver assim. – continuou o breve desabafo. – Mas eu sinto falta de ser louco. – repetiu. Eu ri. – E sinto falta da pestinha chapada que você era também.
- Isso foi culpa sua, ein. – acusei. Ele semi cerrou os olhos. – Tudo bem, eu assumo. Não foi completamente sua responsabilidade. – ficou em silêncio, olhando fixamente para o céu. – Ei. – chamei sua atenção. – Você sabe que eu não me arrependo de nada, não é?
- Eu me arrependo. – voltou a olhar para as estrelas. – Quase te perdi pra sempre.
- Bom, talvez disso eu me arrependa. – ponderei, rindo em seguida. – Não se preocupa com isso, não vai acontecer de novo.
- Diz isso pra sua mãe. – murmurou.
- Baby... – disse, como uma súplica. Não queria entrar nesse assunto de jeito maneira.
- Desculpe.

Nós dois ficamos em silêncio, ouvindo o barulho do e sentindo o cheirinho de maresia. Os dedos dele bagunçavam meus cabelos num carinho gostoso.
O observei olhar o horizonte e levantei os cantos dos lábios.
Lhe dei um susto quando levantei e estendi a mão para ele.
- A gente ainda pode fazer algumas loucuras.

levantou, rindo. Riu mais alto quando percebeu que eu estava indo em direção a água.
- Isso deve estar bastante gelado.
- Vem logo!
Meus pés tocaram a água que estava bem do jeito que ele disse, mas eu continuei a andar para mais fundo.
me alcançou rapidamente.
- Você é doida. Já está quase tremendo.

Mergulhei pra me acostumar com a temperatura e voltei para a superfície, o puxando para um segundo mergulho.
E ficamos ali.
Radicais.
Tremendo de frio com os corpos grudados num abraço gelado. E ele beijou meus lábios quase roxos.
Poderia ficar ali pra sempre se o risco de hipotermia não fosse tão alto.
Por esse motivos nós dois saímos correndo de volta pro carro, mantendo as janelas fechadas e esquentando um ao outro o máximo que conseguindo, até criar coragem de voltar pra casa e para a rotina.


5 - And no one's really sure who's lettin' go today, walking away.

He.

Nós estávamos presos a uma jornada de trabalho insuportável.
tinha um paciente fixo mais uma vez. O mesmo que atrapalhou nosso jantar de aniversário, por assim dizer.
E, pelo que ela me disse, ele teve um colapso nervoso porque parou de tomar os remédios necessários e precisa ser acompanhado por ela até estar estável novamente.
Isso significa que ela chega em casa bem mais tarde que o normal.

E eu perdi as minhas folgas as sextas, além de ter que ir trabalhar nos domingos também, porque perdi o chef que em substituía e ainda não encontrei ninguém que faça isso tão bem.
Hoje, inclusive, foi um domingo bem agitado. E exaustivo. E a única coisa que eu queria era ficar agarrado na minha esposa até dormir.
Mas assim que pus os pés na sala, a encontrei andando de lado para o outro, com o celular no ouvido e soando muito preocupada – além da sua expressão de puro nervosismo.
- E aí? – perguntou. - Conseguiu? - Ela não pareceu feliz com a resposta. – Meu Deus, eu... Eu acabei de chegar em casa. – me olhou rapidamente e forçou um sorriso. – Tudo bem. Fique ao lado dele e não o deixe fazer nada. Não precisa ter medo. Vou até aí o mais rápido possível.
desligou. Os sapatos que estavam jogados no chão foram calçados novamente. Ela pegou a bolsa e começou a digitar no celular.
- Baby, desculpe. – selou nossos lábios rapidamente. – Preciso ir. Te explico na volta, certo?
A observei sair, colocando o celular no ouvido de novo.

Suspirei, derrotado.
Subi as escadas e fui direto para o banheiro, tentar esfriar a cabeça, literalmente, com gelada a água caindo sobre ela.
Estava curioso e preocupado com ela. Eram mais de dez da noite e eu não sei nem onde ela está e nem quando vai voltar pra casa. Muito menos o que diabo aconteceu pra deixá-la nervosa e apressada daquele jeito.

Com os músculos relaxando sobre o colchão confortável, eu mirei o teto e não preguei o olho até ouvir a porta abrindo e fechando.
Olhei o relógio, só pra checar. Três e catorze da manhã.
Ela entrou no quarto com os sapatos na mão e encostou na porta, suspirando.
- O que houve?
Ela deu um pulo ao ouvir minha voz.
- Pensei que estava dormindo. – ligou a luz e andou até a cama, sentando na ponta. – Hall teve uma recaída. Jogou todos os remédios dele fora, quando a irmã chegou em casa já estava bem complicado. – jogou o corpo pra trás, parecendo exausta. – Tive que passar na casa do Arthur, nós corremos atrás dos remédios. – a olhei com uma sobrancelha levantada. – Arthur, o psiquiatra que está acompanhando o senhor Hall comigo. – explicou.
- Vocês conseguiram controlar a situação?
- Sim. – respirou fundo. – Meu Deus. Meus pés estão me matando. Porcaria de sapato. – jogou os saltos pra longe. – Que inferno.
- Parece que esse senhor Hall está sempre nos atrapalhando. – “brinquei”, com um fundo de irritação. me olhou no mesmo instante.
- Você está de brincadeira. – levantou. – Eu não vou responder isso.
- Certo, desculpe. Eu só estou frustrado. Meu dia foi terrível e eu não tive você quando cheguei em casa.
- Bom, eu também tive um dia, uma noite e provavelmente vou ter uma madrugada de merda. – tirou a blusa e abriu a calça jeans enquanto caminhava até o banheiro.

Sentei na cama e passei as mãos pelo rosto.
Não deveria ter dito aquilo, sabendo o quão cansada ela estava. E provavelmente irritada por estar tão cansada, o que a deixava bastante chata. Mas era compreensível.
A esperei tomar banho para pedir desculpas.
Ela passou direto por mim para colocar um pijama qualquer, voltou para desligar a luz e deitou na cama.

- Ei. – chamei. – Desculpe, . Não queria ter dito aquilo.
- Mas disse. Você sempre diz. Depois fala “desculpe, ” – engrossou a voz – e acha que está tudo bem. Só que não está. Isso só me faz deixar pra lá e acumular todo o tipo de mágoa que você imaginar numa caixinha trancada dentro de mim. E quando você fala coisas assim de novo, a caixa abre e espalha tudo. – pausou. – E eu tenho que me esforçar pra enfiar tudo dentro dela de novo e fechar, trancar bem trancado, dar umas três voltas. – disse tudo sem nem me olhar.
- Baby...
- , por favor. Me deixe dormir. Eu tenho que trabalhar às nove.
- Ah. – bufei. – Eu também.

***


Eu estava de pé na cozinha, tomando um café e respondendo a mensagem de Ethan no meu celular quando apareceu, linda. Totalmente renovada. Nem parecia que tinha dormido menos que o normal. Enquanto eu estava morrendo de sono.
- Bom dia. – ela disse.
- Bom dia. Você sabe se hoje chega em horário normal?
- Provavelmente, se não houver imprevistos. – deu de ombros. – Por quê?
- Rachel engravidou. Minha mãe quer comemorar.
- Ah. Não sei se vou, não. Mas não tem problema se você quiser ir.
Rolei os olhos. – Sério? Pensei que você já tivesse superado a implicância com a Rachie e fosse capaz de ficar feliz por ela.
- Estou feliz por ela. Estou estourando fogos de artifícios, . Mas eu não vou, não estou com humor o suficiente pra ouvir a sua mãe me dizer que eu devo ser estéril pra não dar um neto a ela sem responder com muita grosseria.
- Minha mãe nunca disse isso. Eu já disse a Ethan que nós iríamos.
- Bom, diga que você vai sem mim. E sim, ela já disse. Mas isso não importa agora. Eu preciso sair. – abriu o armário e pegou um pacote de biscoitinhos. – Te vejo mais tarde.

***


Largado no sofá, a esperei chegar em casa. Perdi a comemoração da minha prima porque ela não voltou pra casa, aposto que pra não me dar a chance de convencê-la a ir.
Passava da meia-noite quando a vi passar pela porta. Ela me olhou e franziu a testa, provavelmente porque notou a garrafa de uísque quase vazia em cima da mesa.
- Deve ser uma visão. Vou fechar o olho e abrir de novo pra ver se você continua desse jeito. – ela fez o que disse, eu não movi um músculo. – Não acredito que você bebeu isso tudo sozinho.
- Você me deixou sozinho. – reclamei. Ela revirou os olhos, sem a mínima vontade de lidar comigo no momento.
- Pensei que iria para a festa. Não quis ficar sozinha e passei o resto da noite com a Liv. Qual o problema?
- Você deveria ter ligado. Mas não ligou. Não fez nada. Duvido que passou a noite toda reclamando e mim e da minha família.
- Fala sério, . – pegou a garrafa da mesa e sumiu do meu campo de visão, voltando pouco tempo depois. – Você está me dando motivos pra stress.
- Eu? – apontei para o meu peito. – Eu não. Você que, de novo, não pode fazer nada por mim. – acusei. – Enquanto eu tenho que fazer o bonzinho com os seus pais, que me olham como se eu fosse te matar e cortar em pedacinhos.
- São situações completamente diferentes! – aumentou o tom de voz, o que incomodou minha cabeça latejante. Mas logo voltou ao tom normal. – Eu não vou discutir com você desse jeito. Não vou mesmo.
- Por quê? Por que eu estou fora de mim? – levantei, cambaleando. Ela espalmou as mãos no meu peito para me manter em pé e balançou a cabeça negativamente. Seu rosto não estava com a melhor das expressões. – Eu sou assim! – disse, alto. – Sempre fui assim, só paguei de são até agora pra não ficar ouvindo ladainha.
- Ótimo, maravilha. Vai tomar um banho, escovar esses dentes antes que eu vomite em cima de você com esse bafo ridículo.
- Não. Não vou tomar banho nenhum. Não vou fazer nada que você quiser. Não vou fazer nada por você.

me empurrou de mau jeito de volta para o sofá.
- Eu não devia ter voltado pra casa hoje. Tinha alguma coisa na minha cabeça me dizendo que não era uma boa ideia. – falou, provavelmente sozinha. Depois diz que não é maluca que nem os pacientes dela.
- Me diz. Qual o seu probleminha com a minha mãe, ein? – perguntei, realmente curioso pra saber.

Ela me olhou e respirou fundo.
- , vai dormir, pelo amor de Deus.
- Não, eu quero saber. Porque a sua eu tenho que aguentar.
- Meu Deus! – passou a mão pelos cabelos. – Não é possível, . Não é possível! – o grito da última palavra voltou a me incomodar. – Eu entendo, eu juro que entendo todo o seu incômodo em relação aos meus pais. Eu compreendo completamente. Eu sei que você faz tudo que pode e sinto muito não ser o suficiente. Mas eles são pais e nunca vão deixar de se preocupar comigo nem que eu tenho setenta anos. – a voz falhou no final da frase e ela buscou ar. – Mas eles não te tratam mal, . Diferente do que praticamente todo mundo faz comigo. E eu realmente não ligaria, ficaria puta, mas não ligaria, se fosse, uma única vez na sua vida, admitisse que isso acontece e que é errado. E que pelo menos me defendesse. Porque eu... – pausou, olhando pra baixo. – Eu não consigo ser tão baixa a ponto de brigar com aquelas pessoas, e o máximo que eu posso fazer é sorrir como se fosse a coisa mais normal do mundo e me esquivar com sarcasmo.
- Ah, me poupe. Isso tudo aí é draminha. Você acha que tudo que as pessoas falam tem que ser analisado e estudado, e tira a pior parte pra gravar na memória. Blá, blá, blá. – gesticulei. – Se falam alguma coisa, deve ser mesmo verdade.

E então ela parou de bater o pé no chão com descontrole. Me encarou tão profundamente que eu quase perdi o ar. E percebi que eu tinha falado demais.
Nunca ouvi ninguém falando nada demais pra ela quando estou por perto. E o que ela já deixou escapar em alguma discussão boba parece tão absurdo que eu não consigo acreditar.
Mas não sabe mentir, e eu sei disso. Mesmo ignorando tudo que ela fala sobre esse assunto tão delicado que é a relação dela com a minha família, eu sempre soube que ela não sabe mentir. O que me faz lembrar que eu tinha que dar muito mais atenção a tudo que ela reclamava.
E num jato de memórias e vozes invadindo a minha mente, o álcool pareceu não fazer tanto efeito assim. Me arrependi da minha última frase. Me arrependi cruelmente.
Iria abrir a boca pra pedir desculpas, mas ela espalmou a mão no ar, pegou a bolsa que estava no sofá e saiu.

Eu não consegui me mover para impedi-la.


6 - Do you need some time on your own?

She.

A campainha tocou e eu parei de cortar cenouras, limpando a mão rapidamente com um pano de prato e indo abrir a porta.
Ethan sorriu pra mim quando o fiz.
- Oi, .
- Ethan. – sorri. Era bom vê-lo. Era excepcionalmente bom ver um rosto tão parecido com o de para acalmar – ou talvez piorar – a minha saudade.
Lhe dei espaço para entrar e ele me seguiu de volta para a cozinha.
- Tudo bem com você? – perguntou. Eu ponderei.
- Levando. – sorri. – Você não parece muito legal. O que aconteceu? – franzi a testa. Ethan nunca na vida conseguiu esconder quando estava com algum problema ou tinha se metido numa roubada.
- Desculpe, . Eu não queria vir aqui te deixar preocupada ou qualquer coisa parecida.
- Então, se não me disser logo o que está havendo, vai piorar a sua situação. O que aconteceu, Ethan?
- Nada, ainda. Quer dizer... – coçou a nuca. – está fumando de novo.
- Mentira.
- Verdade. Eu nem sei quanto tempo tem isso, só o peguei no flagra hoje. Ele estava sozinho em casa e eu senti o cheiro. Ele já estava chapado.
- Não deve ter muito tempo. Só estamos afastados há dois meses. – eu andei pela cozinha, com a mão na cabeça. O olhei rapidamente. Ethan desviava os olhos dos meus de segundo em segundo. – Você está me escondendo alguma coisa. Fale a verdade. Está muito ruim?
- Está.
- Ruim quanto?
- Está quase sendo demitido. Quer dizer, o pai está querendo tirar ele do comando.
- Meu Deus. Você desconfiou por isso?
- Sim. Quer dizer. Ele estava voltando mais cedo pra casa muitos dias e eu acabei perguntando o motivo pro velho. Disse que ele estava sendo rude com os funcionários, com os clientes. Sempre irritado, mal estava cozinhando. O turno quase total está com o chefe substituto. – explicou. – Não sei o que fazer, . Ele parece péssimo.
- Eu vou falar com ele.
- Isso não vai ajudar. Você sabe que não vai. – ele disse. E tinha razão. – Eu olhei pra ele e vi o bad boy de dez anos atrás, com garrafinhas de cerveja ao redor e cigarro na mão. Foi uma nostalgia assustadora. Não quero que ele se vicie de novo. Você sabe.
- Eu sei.

Da última vez tinha sido muito ruim. Eu não cheguei a experimentar essa parte, mas começou a aparecer com cocaína algumas vezes, pouco antes de nós dois sermos separados.

- O é maluco, . Meu Deus, você devia fazer uma terapia diária com ele pra manter ele na linha, não é possível. Ele está totalmente fora de órbita. Eu sei que ele pode achar coca em qualquer lugar, isso se já não tiver começado com esse problema também.
- Ethan, eu sinto muito.
- Por favor. Eu sei que não tem sido muito legal pra vocês dois, toda essa confusão familiar impedindo a felicidade de vocês desde, sei lá, sempre. – fez uma careta. – Mas por mim, . Por ele. Dá o braço a torcer. Ao menos aparece lá em casa, joga fora tudo que você encontrar e dá um tapa na cara dele só pra ver se ele volta ao normal.
- Eu sei que ele não falou nada por mal. Quer dizer, ele não falaria se soubesse que iria me magoar. E eu sinto muito a falta dele, Ethan. Sinto tanto que chega a doer. Eu estou definhando. Mas eu não sei se vale a pena continuar um casamento que vive o tempo todo com cobranças e loucuras. Sempre por um fio.
- Você o ama, . Você está querendo morrer agora, maluca de preocupação. Dá pra ver nos seus olhos a vontade de sair correndo daqui e o salvar dessa fossa terrível.
- É impossível esconder alguma coisa de você. – resmunguei.
- Ele não vai suportar te perder pra sempre. E eu acho que é o que ele pensa que aconteceu, então ele não está dando a mínima pra porcaria nenhuma.

Os olhos de Ethan gritavam por ajuda.
E eu não conseguia dizer não pra aquilo.
Eu não duvido que seja capaz de qualquer loucura. E não consigo mais viver com a ideia de estar só. E de deixá-lo só.
Meu coração tinha ficado acelerado no momento em que Ethan disse o que estava acontecendo, e não consegui mais controlar os batimentos. E sei que não vou, pelo menos não até ver sorrir pra mim, completamente são, sem nenhum vestígio de alucinógeno, dizendo que me ama.
Então eu larguei facas, cenouras, qualquer má lembrança e deixei a caixinha de mágoas bem longe de mim, pedindo a Ethan que me levasse até sua casa – onde estava morando também.

Não senti nenhum cheiro de maconha no ar quando ele estacionou. Desci do carro e saí na frente, esquecendo que a porta ainda teria que ser aberta por Ethan.
Ele entrou primeiro e eu tentei escutar o que ele estava falando, mas ouvi a voz do e ele parecia normal. Ou quase. Algumas palavras se perdiam, mas, ao menos, não estava embolando as frases.
Ethan voltou ao lado de fora.
- Ele está bem melhor. Dá pra conversar.
- Certo. – dei um passo e ele me impediu.
- Você está dando esperanças a ele por vir aqui. – eu concordei. – O que você vai fazer?

Meus olhos desviaram dos de Ethan para encarar a figura um pouco bagunçada de na porta da casa. O olhei por um tempo, e ele parecia um menininho assustado que quebrou o vaso da mãe jogando bola dentro de casa. Meu coração apertou e eu quase chorei.
- Vou voltar pra ele. – disse, completamente convicta. Ethan olhou pra trás. – De novo.
Passei por Ethan, indo em direção a , que nem me deixou andar direito, me puxando para os seus braços e me abraçando com tanta força que eu achei que me partiria no meio.
- Baby... – disse. – Quase morri sem você.
- Dessa vez foi você. – eu respondi, soltando uma risada. Não era tão engraçado. Não era nem um pouco engraçado, na verdade. Mas a minha alma parecia completa e isso me alegrava de dentro pra fora.
Foi impossível não rir.
- Não me deixe.
- Não vou.
- Eu sinto muito. – ele voltou a me abraçar, ponto o rosto em meu pescoço e me fazendo sentir as lágrimas molhando a minha pele. – Eu sinto tanto! Me desculpa. Me desculpa de novo. Me desculpa pra sempre.
- . – chamei, o fazendo levantar o rosto e me olhar direito. – Você não é muito bom com palavras. – ri. Ele fez uma careta e depois deu risada.
- Eu só te amo muito. A minha vida inteira. Me desculpe. Minha mãe é uma retardada. – bufou. – Você não é ranzinza, nem cafona, nem estéril. Você é linda, mais inteligente que eu, com esse humor que eu sempre adorei e nós vamos ter uns filhos bonitos pra caralho. – voltou a me envolver num abraço. – Te amo tanto.
- Péssimo com as palavras. – reafirmei. – Mas eu até vou considerar o seu esforço. – ele sorriu. – E eu amo você também, baby. Então, por favor. Por todo o amor que a gente sente. Nunca mais tente se destruir de novo.
- Não me deixe. – repetiu.
- Não duvido que a gente brigue mais uma vez, ou algumas vezes. Você só precisa manter o controle, na próxima. Se recuse a sair de casa. Me beije até cansar. Me convença a ficar com você. Não vai precisar fazer muita coisa. O tempo em que eu te amo é infinitamente maior que o tempo em que eu fico com raiva de você.
- Faço o que você quiser.
- Combinado. – sorri, limpando o rosto lindo e vermelhinho dele. – Estou esperando você me beijar até cansar.

Ele riu, juntando seus lábios nos meus e matando toda a saudade que consumia.


7 - We still can find a way.

He.

deu risada da própria desgraça quando escorregou e caiu com a bunda no chão.
- Sua desastrada. – eu ri, lhe dando a mão. – Nós vamos ficar com pneumonia.
- Não vamos nada, estamos perto de casa. – ela voltou a andar rápido pelas ruas quase vazias.

Resumindo o problema inteiro, o carro enguiçou há quase dez quarteirões, numa chuva infernal. Eu estava morrendo de frio e ela também. E nós dois estávamos correndo até chegar em casa, porque nenhum bendito táxi passou em hora nenhuma.
- . Anda logo.
- Calma. – a alcancei. – Seu bumbum não está doendo não?
- Siiiim. – arrastou a voz.
Estávamos a apenas dois quarteirões de casa, então eu lhe dei a mão para ajudá-la a correr mais rápido – sem cair, de preferência.

- Estou tremendo, que inferno. – reclamou. Eu a abracei de lado.
- Estamos pertinho.
- Eu sei. – seu lábio tremeu e eu mordi o meu, morrendo de pena dela e muito mais preocupado com ela do que comigo, sendo que a minha situação era a mesma.
- Vem cá, que eu vou esquentar você um pouquinho.

Segurei o seu rosto e colei sua boca em minha. Os tão macios e conhecidos lábios estavam gelados, mas ela me deixou beijá-la, enlaçando o meu pescoço com seus braços e me permitindo abraçá-la para transmitir o máximo de calor que eu poderia.

- Agora eu e você precisamos correr bastante. – eu disse, pertinho do rosto dela, cuspindo água pra tudo quanto é lado, mas ela não pareceu se importar.
Me deu a mão novamente e como dois loucos, corremos até a nossa casa, a molhando quase inteira até entrar, de roupa e tudo, debaixo da água quente do chuveiro elétrico.

- Detesto essa chuva. Detesto novembro. – ela reclamou, desgrudando a roupa molhada do seu corpo para conseguir tirar.
Eu ri. A ajudei com as roupas, também tirando as minhas. Tomamos um longo banho quente pra entrar debaixo do edredom quentinho logo depois.
Nossos corpos estavam grudadinhos, como se nunca mais pudéssemos nos abraçar novamente.
E eu a observei dormir enquanto ouvia a chuva que caía do lado de fora ficar cada vez mais fraca, como se só tivesse caído pra nos prejudicar, por alguns minutos, e depois nos deixar paz.

Parece até a vida.

'Cause nothin' lasts forever. Even cold November rain.


Fim



Nota da autora: Ufa! Ficar responsável por essa música foi um desafio hahahahaha. Acho que todo mundo conhece ou já ouviu falar em November Rain, e o medo de decepcionar foi - e é - bem grande. Mas espero que tenha feito um bom trabalho. Agradeço a Lis por me aguentar a cada cinco minutos, agradeço à beta por aceitar um pequeno furo no prazo de envio hahahahaha e, claro, a quem leu a história.



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