Capítulo Único
San Diego - Califórnia, 2017.
pegou duas cervejas na geladeira e caminhou de volta até a sala da casa. Seu pai estava lá te esperando, mexendo em uma das muitas caixas que ele tinha trago de casa. Sua mãe, Susan, tinha decidido que não guardaria mais as coisas de , por mais que a casa dele fosse pequena, o casamento tinha acabado há anos, então ela não tinha mais obrigação. não via o gesto como obrigação, mas não quis discutir. Tinham mais caixas que a sala podia abrigar e ele nem sabia por onde começar. O mais novo disse que poderiam abri-las, para ver se não tinha nada que pudesse ir pro lixo, assim diminuiria muito do volume.
- Por onde a gente vai começar? – perguntou, encarando as pilhas de caixa, antes de dar um gole na cerveja.
- Eu não faço ideia. – o pai sentou numa poltrona, como se não se importasse muito. viu que se dependesse do mais velho, aquelas caixas ficariam pelo caminho para sempre, então alcançou a que estava mais perto e abriu, vendo que tinham uns troféus antigos. Pegou um deles, vendo que eram de basquete e em um deles estava escrito: “ Brock, destaque do campeonato 1976”.
- Olha aí, destaque do campeonato. – chamou sua atenção, jogando o troféu para que ele visse. – Essa caixa tá cheia deles, talvez a gente possa fazer uma prateleira ali em cima do sofá, o que você acha?
- Ah, não. Isso aqui é tão velho, , que é capaz de se quebrar sozinho. Fora que não faz nem sentido, é muito velho, é...
- É muito bacana, deixa de ser chato. – falou, olhando dentro da caixa e vendo que tinham mais uns cinco. – Me devolve, eu vou limpar todos, fazer a prateleira e colocar onde eu falei.
- Ok, tudo bem. – disse, não querendo discutir, porque sabia que faria de qualquer jeito. O rapaz continuou mexendo na caixa, até que encontrou uma foto perdida no fundo da mesma. Ela estava escura e envelhecida, mas, ainda assim, ele conseguiu reconhecer seu pai na mesma, ao lado de uma menina. Eles estavam numa praia, abraçados e sorrindo, como se estivessem muito felizes. Ele olhou na parte de trás, onde podia-se ler “Verão 1977 – Santa Bárbara, Califórnia”.
- Pai, que foto é essa? – perguntou, chamando a atenção do mais velho, que parecia mais interessado na TV, do que nas caixas. - É a minha mãe?
- Não é nada, é foto antiga da época da escola, deve estar perdida por aí. – respondeu, sem dar muita atenção. Mas continuou mexendo na caixa, até encontrar outra foto da mesma menina que estava com o pai na anterior. Havia uma marca, como se alguém tivesse escrito algo na foto, então ele virou, vendo um pequeno texto: “Querido, . Tivemos um verão inesquecível, lembrarei de todos os momentos que passamos juntos durante toda a minha vida. Mesmo longe, lembre-se sempre que deixei meu coração com você. Para sempre sua, .”
- Essa foto aqui também não é nada, querido ? – zombou, levantando a foto na direção do pai, que num primeiro momento continuou não dando atenção, mas assim que seus olhos viram de relance, ele olhou atentamente para o pedaço de papel antigo, pegando em suas mãos com cuidado. Já tinha tanto tempo que não via aquele rosto, não por uma fotografia, porque basta ele fechar os olhos que via todo tempo, desde o momento em que se separaram anos atrás.
Ele tocou a imagem com a ponta dos dedos, como se pudesse acarinhar o rosto de menina, enquanto um riso bobo brotava em seus lábios. Ah, eram tantas lembranças invadindo sua mente naquele momento, mas a mais importante era o sorriso largo, que fazia o canto dos olhos da menina se repuxarem. se impediu de pensar nela durante tanto tempo, que não saberia como parar agora.
- Quem é ela, pai? – perguntou, curioso com a reação do mais velho só de olhar para a foto.
- Ah, meu filho, ela foi o amor da minha vida.
"I lost her in 1978"
He tells me then looks away
It's simple he loved her so
A tenderness you can't let GO
Santa Barbara - Califórnia, 1978.
levantou os olhos para a arquibancada, vendo a menina sentada junto às amigas. Elas riam de qualquer coisa, mas o rapaz podia jurar que viu o olhar dela cruzar com o seu algumas vezes. Tentou dizer para si mesmo que era coisa de sua mente, mas quando olhou novamente, ela o encarava, com um sorriso no canto dos lábios. Eles trocavam olhares desde estudavam na mesma escola, mas se formaram no ano anterior e cada um seguiu com a sua vida. E ele quase não acreditou quando ficou sabendo que ela também deixaria Fresno naquele verão para passar alguns dias em Santa Barbara com as amigas. Talvez fosse sorte ou coincidência demais. Mas isso não significava muita coisa, já que seus grupos de amigos são totalmente diferentes. é filha do dono de uma concessionária de carros de Fresno, a maior da cidade, e o pai a olhava como se ela fosse sua galinha dos ovos de ouro. Porque as coisas não iam bem financeiramente e ele imaginava que um bom casamento poderia acabar com esse problema, mas a menina não parecia muito interessada nisso, não. Ela queria estudar, queria ser alguém por si só, não apenas uma esposa. Mas seu pai não parecia muito interessado. Já os pais de não tinham muitas posses, enquanto sua mãe trabalhava como professora na escola primária, seu pai tinha uma oficina mecânica, onde ele ajudava durante alguns dias no verão.
Então, enquanto a encarava naquela quadra, ele sabia como ela era intocável, inalcançável. Ele sabia, mas seu coração não, porque o mesmo parecia que iria saltar, pular do peito, cada vez que a menina o olhava. Se ele não podia tê-la, ele podia apenas imaginar como seria, conviver com a ideia de como seria tocar seus lábios, sentir a maciez de sua pele e ter seu corpo junto ao dela. Só a ideia, a possibilidade, por mais impossível que fosse, já fazia com que o rapaz perdesse a linha de pensamento, a capacidade de raciocinar de forma racional. Talvez ela tivesse noção do poder que tinha sobre . Talvez ela quisesse brincar com seus sentimentos, mostrar a ele que desejá-la e imaginá-la seria a coisa mais próxima de algo real que teria com ela. Mas talvez, apenas talvez, na imaginação fértil do rapaz, ela pudesse compartilhar dos mesmos sentimentos. Só que a vida não poderia ser tão maravilhosa assim para ele.
sentiu a bola de basquete acertar em cheio a sua cabeça e voltou à atenção para os seus amigos, que o encaravam, rindo. Ele sabia muito bem por que e nem era capaz de ignorar.
- Quando você vai entender que ela é demais pra você, ? – perguntou, chamando a atenção do amigo, que rolou os olhos e girou o corpo, indo até aonde a bola tinha rolado. Curiosamente, a mesma foi até perto de onde estavam as meninas. tentou não olhar para , mas foi a própria que ficou o encarando, enquanto ele fazia todo o caminho até onde estava sentada. Depois que ele abaixou rapidamente, a garota tomou coragem e disse um breve: “Oi.”
Suave e tímido, assim como ela. sorriu de lado e retribuiu o cumprimento, mas não falando nada além daquela única palavra. Coisa que se culpou amargamente assim que girou o corpo novamente e voltou para perto dos amigos. A sua falta de coragem era algo fora desse mundo e ele, provavelmente, perderia grandes chances em sua vida, talvez como essas. Assim que se juntou ao rapazes, percebeu que eles tinham visto a pequena interação que ele teve com e estavam curiosos.
- Não foi nada de mais, ela só disse “oi” e eu respondi. - falou, dando de ombros, jogando a bola na direção de , que o olhava com um misto de curiosidade e espanto em sua expressão.
- Você demora quase quatro anos para conseguir com que ela te note a ponto de falar com você, e diz apenas oi? - a voz desapontada do amigo combina os olhos revirados que ele mostrou em seguida. - Sério, nem um “tudo bem? meu nome é , prazer”.
- Ou só perguntar o nome dela. - se intrometeu, também se sentindo no direito de ajudar a criticar o amigo.
- Eu não me senti confortável de falar qualquer coisa, não perto de todo mundo. Olhem lá, vejam quantas meninas estão ao redor dela, prontas para criticar tudo em mim, desde o meu corte de cabelo, as minhas roupas e, principalmente, eu inteiro.
- Bem, se ela é tão influenciável assim, talvez não mereça o que você sente por ela. Porém, você nunca vai saber se não tentar. Ela pode ser boa demais pra você, mas o não você já tem mesmo. - falou, dando de ombros e tentando mais um arremesso.
Provavelmente estava certo, mas ele não estava preparado para falar com agora, mesmo que fosse para ouvir o não já aguardado. Já tinha esperado tanto tempo, que mais alguns dias não faria diferença.
- Nós estudamos juntos, eu era louco por ela desde a primeira vez que a vi. era a menina mais linda, doce e apaixonante que eu já conheci. Só que éramos muito diferentes, tínhamos vidas completamente diferentes. Enquanto ela tinha tudo, eu não tinha nada, eu não podia oferecer nada. Bem, nada além do que eu sentia. Isso parecia ser o bastante pra ela, pena que não era para o seu pai. - disse, suspirando fundo em seguida. Ele pegou a foto novamente, olhando para a menina sorrindo que parecia lhe encarar de volta. E ali, preso naquele momento, ele sentia como se tivesse 19 anos novamente. observou a cena, tentando entender o que estava acontecendo com seu pai, porque ele nunca tinha visto-o daquela forma. E então, como se tivesse lágrimas em seus olhos, o mais velho continuou:
- Ela foi o meu primeiro amor, . Talvez primeiro e único.
He said
"Son, you don't forget your first true Love
She won't forget you too"
O sol estava se pondo, o céu já estava quase escuro, ventava, mas ainda estava quente. estava caminhando na beira na praia com os amigos, indo na direção do acampamento que eles estavam “hospedados”. De longe, ele reconheceu o grupo de jovens e entre eles, e suas amigas. Eles estavam numa roda, rindo, brincando e cantando qualquer coisa, enquanto um dos rapazes tocava o violão. também percebeu a movimentação, cutucando enquanto caminhavam. estava pronto para continuar o seu destino, mas ouviu seu nome ser gritado incessantemente, então ele parou, tentando descobrir quem estava o chamando. Ao longe, ele viu dois rapazes acenando, como se o chamassem, eles também eram da escola onde todos estudaram, mas, ao contrário das meninas, eles eram amigos de . Os rapazes caminharam pela areia fofa, na direção dos jovens reunidos, e viu quando o amigo cumprimentou animadamente os outros dois rapazes, ouvindo quando disseram que eles deveriam se juntar a eles. Sem nem pensar duas, aceitou, sem nem ouvir o que os amigos tinham a dizer sobre a proposta, até porque, eles voltariam para o acampamento e ficariam fazendo nada pelo restante da noite toda. Ali, pelo menos, teriam companhia e poderia conversar com alguém. E pensando nisso, olhou para pelo canto dos olhos e, em seguida, para , esperando que o amigo entendesse o que estava pensando, sem precisar falar nada. É claro que entendeu, tanto que coçou a cabeça, claramente desconfortável com a situação.
Minutos depois, estavam quase todos já entrosados, e conversavam com os rapazes que os convidaram, conversava com uma garota mais ao canto do grupo e estava mais destacado do restante do pessoal, sentado próximo ao mar, tendo apenas as luzes vindas da fogueira que ascenderam para iluminar de forma fraca o local onde estava. Ele sabia que estava perdendo uma chance incrível de se aproximar de , mas a sua timidez extrema o impedia de falar qualquer coisa. Na verdade, era algo com aquela garota especificamente, porque ele não tinha problemas em falar com outras. Era que mexia com a sua cabeça e o deixava completamente sem rumo. Ele viu uma sombra se mover atrás dele e antes que pudesse olhar quem era, viu sentando-se ao seu lado, com um sorriso no canto dos lados.
- Posso me sentar aqui com você? – ela perguntou, quando já estava ao seu lado. Mesmo que não fosse negar, viu que era apenas uma pergunta retórica.
- Claro, fica à vontade. – respondeu, mesmo sendo o inverso do que estava. Ele observou a menina pelo canto dos olhos, o sorriso fraco nos lábios e a expressão despreocupada, se perguntando por que ele perdia tanto o controle perto dela. Deveria ter alguma explicação.
- Por que você tá aqui sozinho, não gosta da gente? – sua voz suave soou divertida.
- Não, não é nada disso. – ele se apressou em responder, fazendo a menina sorrir ainda mais. – É só que eu queria ver o mar um pouco, ou apenas ouvi-lo. Me traz paz.
- Então eu estou te atrapalhando, é melhor eu voltar. – disse, fazendo menção de levantar, mas segurou uma de suas mãos, mantendo-a sentada.
- Não, fica aqui. - Eles ficaram se olhando por alguns segundos, com suas mãos unidas, até que o rapaz retirou a sua rapidamente, como se de repente percebesse o que estava acontecendo. – Você não me atrapalha.
Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, apenas ouvindo as ondas quebrando alguns metros à frente. Uma brisa fresca sobrava do oceano e fazia o cabelo de balançar levemente. a encarava, como se aquela cena fosse algo completamente hipnotizante e, se fosse possível, como se ele se apaixonasse mais a cada segundo. A menina olhou em sua direção, vendo o exato momento em que ele a encarava. Ela abaixou os olhos por um instante e voltou a olhá-lo também. tentou desviar o olhar, mas não conseguiu, era como se tivesse preso a ela. esticou uma das mãos, tocando a do rapaz e eles entrelaçaram seus dedos. As amigas da menina chamaram seu nome e ela girou o corpo, dizendo que já iria.
- Podemos nos ver amanhã? – perguntou, com a voz baixa, como se contasse um segredo.
- Claro. – respondeu, quase sem entender o que acontecia.
- Então me encontra aqui na praia amanhã, no por do sol. – disse rapidamente, antes de se levantar e seguir para onde estavam suas amigas. O rapaz continuou parado, encarando a imensidão escura à sua frente, pensando se tudo tinha realmente acontecido ou se não passava de um sonho. Um dos melhores que já teve.
No dia seguinte, estava lá esperando pela menina. O sol ainda estava alto no céu, mas ele não conseguiu conter a ansiedade. Ele estava sentado numa pedra, que ficava numa parte rasa da praia, com os pés descalços dentro da água. Ao longe, ele conseguia ver de onde a menina, possivelmente, viria, então ele não tirava os olhos do pequeno horizonte à sua frente. Ele não disse aos amigos o faria, apenas comentou que iria dar uma volta e saiu, então estava com medo que alguém viesse procurá-lo e assim acabar atrapalhando qualquer coisa, mas todo medo que tinha se esvaiu quando ele viu a silhueta de surgir ao longe. Ela caminhava despreocupadamente pela praia, deixando suas pegadas na areia para que, segundos depois, a onde viesse a apagasse tudo. Olhando para frente, ela o viu sorrindo abertamente, imitou seu gesto, descendo da pedra e caminhando rapidamente ao seu encontro.
Eles não sabiam o que fazer quando estavam juntos, a única coisa que sabiam era que queriam ficar juntos. Caminharam por alguns minutos, falaram sobre tudo e nada ao mesmo tempo. contou sobre seus planos para depois do verão, sobre a bolsa na universidade que ela tanto queria. falou do emprego que o pai lhe arranjou e como esperava que aquela oportunidade fosse boa pra ele, que ele queria crescer, talvez fazer faculdade um dia também. Eles se sentaram na pedra em que estava antes, mas dessa vez ficaram de frente para o oceano. O vento soprava de forma leve e quente, o sol estava se pondo, tingindo o céu todo de laranja. fechou os olhos, respirando fundo, com uma expressão que parecia o real significado da palavra paz. Uma de suas mãos estava espalmada sobre a pedra, próxima ao rapaz. pensou por longos segundos antes de tomar uma pequena atitude, num gesto de coragem. Ele repetiu o que fizeram na noite anterior, colocando sua mão por cima da dela. o olhou pelo canto dos olhos, enquanto sorria de lado, como se o encorajasse. O rapaz então subiu a mão, trilhando um pequeno caminho pelo braço da menina, passando pelo seu ombro, tocando levemente seu pescoço, até que ele estava com seu braço ao redor do ombro dela. chegou seu corpo para mais perto dele, apoiando a cabeça em seu peito. Logo depois, a menina levantou um pouco a cabeça, fazendo com que seus rostos ficassem perigosamente próximos. Ela umedeceu os lábios, encarando o rapaz nos olhos, tentando fazer com que ele entendesse o que queria naquele momento. É claro que sabia, até porque é algo que ele desejava e esperava há tanto tempo, que nem se lembrava mais. Só que ele precisava provar para si mesmo que aquilo, tudo aquilo, era real. Percebendo sua hesitação, tocou seu rosto com uma de suas mãos.
- O que foi? – perguntou, com a voz baixa.
- Eu só estou tentando descobrir se estou sonhando ou se você está realmente aqui comigo. – ele respondeu, vendo o sorriso da menina se alargar. – Porque eu sinto seu perfume, sinto sua pele tocando a minha, mas eu sonhei tantas vezes com esse momento, que me pergunto o que a minha mente poderia inventar.
- Você não está sonhando, . Eu estou aqui com você. – disse, antes de esticar a cabeça e juntar seus lábios de forma suave. Sua mão se agarrou aos cabelos da nuca do rapaz, a medida que o abraço dele se tornou mais firme. trouxe a menina para mais perto, descendo o braço para a sua cintura e colocando sua mão livre em seu rosto. E continuaram assim, até o sol sumir no oceano e o dia virar noite.
- Aquele dia foi um dos mais felizes da minha vida. – comentou com , que ouvia o pai em silêncio. – Acho que só perde para o dia do seu nascimento e o dia em que ela disse que me amava.
- Pai, onde tá essa mulher, essa ? Você teve mais notícias dela? – o mais novo perguntou, vendo o pai balançar a cabeça lentamente.
- O pai dela fez ela se casar com um cara rico qualquer alguns meses depois dessa viagem. Ela se mudou para São Francisco e eu nunca mais ouvi falar dela. E então trinta e nove anos se passaram, eu casei, tive filho, me separei. A vida segue, meu filho, a vida segue. Então você não pode ficar sentado, esperando que as coisas aconteçam, precisa assumir o controle dela. Pra depois não ficar como eu, um velho, que continua aprisionado ao passado, porque ficou preso nesse amor que nunca nenhuma chance de dar certo.
- Pai...
- Sua mãe sempre disse que foi por isso que nosso casamento não deu certo, porque eu nunca consegui desapegar dela. De alguém que amei durante a juventude, uma pessoa que não veja há quase quarenta anos. E que continua tendo o controle da minha vida, mandando no meu coração...
- Pai. – o interrompeu, fazendo o mais velho o encarar. – A sua vida não acabou. Se você realmente acha que desperdiçou tudo por causa dela, sempre tem a oportunidade de recomeçar.
- Ah, , não dá mais tempo pra mim, mas eu sou feliz que tenho você, isso que importa. – bufou levemente, como se quisesse clarear a mente. – Vamos continuar a arrumação, essa história tomou muito do nosso tempo.
ficou com tudo o que ouviu rodando em sua cabeça pelos dias que seguiram e resolveu pedir ajuda a um amigo. Eles fizeram uma pesquisa na antiga escola de , buscaram as concessionárias que existiam em 1978. Tentaram de todas as formas descobrir o nome completo da menina e assim buscar uma forma de localizá-la. E conseguiram, ela ainda estava morando em São Francisco, tinha dois filhos, trabalhava como orientadora educacional numa escola pública perto de onde morava e, mais importante, estava divorciada há quase quinze anos. O rapaz então pensou que como seu pai ainda mantinha aquele amor tão vivo dentro dele, mesmo depois de quase quarenta anos, por que ela não poderia ter mantido também? E se o pai lhe disse que ele deveria assumir o controle de sua vida, por que ele também não deveria fazer, mesmo que com alguns anos de atraso? A vida é tão longa e tão curta, que ele não devia e nem poderia gastar nem mesmo mais um segundo apenas pensando em como poderia ser. Então comprou uma passagem de avião em nome do pai, anotou o endereço de e passou na casa do pai um dia após o trabalho, lhe entregando tudo junto.
- O que é isso? – perguntou, olhando o envelope em sua mão.
- Todo mundo merece uma segunda chance. – deu de ombros.
So I said "love it has no age
Just wait, you'll find someone who will call you 'baby'"
se sentia com dezenove anos novamente, enquanto esperava na porta da escola onde trabalhava. Ele não sabia como abordá-la, como falar com ela. Ir até a sua casa parecia muito invasivo, ligar era uma opção, mas ele precisá-la vê-la. Sentia suas mãos tremerem e até mesmo as gotas de suor se formarem em sua testa. Mesmo no meio da primavera, se sentia desconfortável como se fosse verão. Os alunos já tinham saído há alguns minutos, então os professores e demais funcionários deveriam sair em breve. Ele se questionou se a reconheceria, mas suas preocupações se provaram infundadas no momento em que ele colocou os olhos nela. continuava linda como sempre e ele poderia reconhecê-la em qualquer lugar, a qualquer momento. E enquanto ela caminhava em sua direção sem perceber, pensava no que falar ou no que fazer, sem chegar numa conclusão. Ele pensou em desistir, em voltar para casa, mas assim que passou por ele, também o reconheceu. Ela parou e o encarou, sem acreditar. Havia algo na expressão da mulher, no sorriso que ela não conseguiu conter, que dizia que todo amor que um dia ela sentiu deveria ser conjugado no presente. Que ela ainda sentia, sempre sentiu. Que ela lembrou em em cada dia de sua vida, que sentia um dor forte e um aperto em seu peito cada vez que pensou em tudo o que poderiam ter vivido juntos.
E enquanto caminhavam pela praia, três meses depois daquele reencontro tão surpreendente e emocionante para ambos, onde juraram que nunca mais iriam se separar novamente, e deixaram suas pegadas na areia. Lado a lado, caminhando na mesma direção, como deveria ter sido muitos e muitos anos atrás. Eles podem, sim, ter perdido tempo, perdido parte de uma vida que dividiriam juntos, mas, naquele momento, a única coisa que importava era que eles estavam juntos e nada mais os separariam. Dividiriam a vida, a família que construíram separados, a que construiriam juntos e, claro, dividiriam o amor que se manteve vivo dentro do coração deles.
pegou duas cervejas na geladeira e caminhou de volta até a sala da casa. Seu pai estava lá te esperando, mexendo em uma das muitas caixas que ele tinha trago de casa. Sua mãe, Susan, tinha decidido que não guardaria mais as coisas de , por mais que a casa dele fosse pequena, o casamento tinha acabado há anos, então ela não tinha mais obrigação. não via o gesto como obrigação, mas não quis discutir. Tinham mais caixas que a sala podia abrigar e ele nem sabia por onde começar. O mais novo disse que poderiam abri-las, para ver se não tinha nada que pudesse ir pro lixo, assim diminuiria muito do volume.
- Por onde a gente vai começar? – perguntou, encarando as pilhas de caixa, antes de dar um gole na cerveja.
- Eu não faço ideia. – o pai sentou numa poltrona, como se não se importasse muito. viu que se dependesse do mais velho, aquelas caixas ficariam pelo caminho para sempre, então alcançou a que estava mais perto e abriu, vendo que tinham uns troféus antigos. Pegou um deles, vendo que eram de basquete e em um deles estava escrito: “ Brock, destaque do campeonato 1976”.
- Olha aí, destaque do campeonato. – chamou sua atenção, jogando o troféu para que ele visse. – Essa caixa tá cheia deles, talvez a gente possa fazer uma prateleira ali em cima do sofá, o que você acha?
- Ah, não. Isso aqui é tão velho, , que é capaz de se quebrar sozinho. Fora que não faz nem sentido, é muito velho, é...
- É muito bacana, deixa de ser chato. – falou, olhando dentro da caixa e vendo que tinham mais uns cinco. – Me devolve, eu vou limpar todos, fazer a prateleira e colocar onde eu falei.
- Ok, tudo bem. – disse, não querendo discutir, porque sabia que faria de qualquer jeito. O rapaz continuou mexendo na caixa, até que encontrou uma foto perdida no fundo da mesma. Ela estava escura e envelhecida, mas, ainda assim, ele conseguiu reconhecer seu pai na mesma, ao lado de uma menina. Eles estavam numa praia, abraçados e sorrindo, como se estivessem muito felizes. Ele olhou na parte de trás, onde podia-se ler “Verão 1977 – Santa Bárbara, Califórnia”.
- Pai, que foto é essa? – perguntou, chamando a atenção do mais velho, que parecia mais interessado na TV, do que nas caixas. - É a minha mãe?
- Não é nada, é foto antiga da época da escola, deve estar perdida por aí. – respondeu, sem dar muita atenção. Mas continuou mexendo na caixa, até encontrar outra foto da mesma menina que estava com o pai na anterior. Havia uma marca, como se alguém tivesse escrito algo na foto, então ele virou, vendo um pequeno texto: “Querido, . Tivemos um verão inesquecível, lembrarei de todos os momentos que passamos juntos durante toda a minha vida. Mesmo longe, lembre-se sempre que deixei meu coração com você. Para sempre sua, .”
- Essa foto aqui também não é nada, querido ? – zombou, levantando a foto na direção do pai, que num primeiro momento continuou não dando atenção, mas assim que seus olhos viram de relance, ele olhou atentamente para o pedaço de papel antigo, pegando em suas mãos com cuidado. Já tinha tanto tempo que não via aquele rosto, não por uma fotografia, porque basta ele fechar os olhos que via todo tempo, desde o momento em que se separaram anos atrás.
Ele tocou a imagem com a ponta dos dedos, como se pudesse acarinhar o rosto de menina, enquanto um riso bobo brotava em seus lábios. Ah, eram tantas lembranças invadindo sua mente naquele momento, mas a mais importante era o sorriso largo, que fazia o canto dos olhos da menina se repuxarem. se impediu de pensar nela durante tanto tempo, que não saberia como parar agora.
- Quem é ela, pai? – perguntou, curioso com a reação do mais velho só de olhar para a foto.
- Ah, meu filho, ela foi o amor da minha vida.
He tells me then looks away
It's simple he loved her so
A tenderness you can't let GO
Santa Barbara - Califórnia, 1978.
levantou os olhos para a arquibancada, vendo a menina sentada junto às amigas. Elas riam de qualquer coisa, mas o rapaz podia jurar que viu o olhar dela cruzar com o seu algumas vezes. Tentou dizer para si mesmo que era coisa de sua mente, mas quando olhou novamente, ela o encarava, com um sorriso no canto dos lábios. Eles trocavam olhares desde estudavam na mesma escola, mas se formaram no ano anterior e cada um seguiu com a sua vida. E ele quase não acreditou quando ficou sabendo que ela também deixaria Fresno naquele verão para passar alguns dias em Santa Barbara com as amigas. Talvez fosse sorte ou coincidência demais. Mas isso não significava muita coisa, já que seus grupos de amigos são totalmente diferentes. é filha do dono de uma concessionária de carros de Fresno, a maior da cidade, e o pai a olhava como se ela fosse sua galinha dos ovos de ouro. Porque as coisas não iam bem financeiramente e ele imaginava que um bom casamento poderia acabar com esse problema, mas a menina não parecia muito interessada nisso, não. Ela queria estudar, queria ser alguém por si só, não apenas uma esposa. Mas seu pai não parecia muito interessado. Já os pais de não tinham muitas posses, enquanto sua mãe trabalhava como professora na escola primária, seu pai tinha uma oficina mecânica, onde ele ajudava durante alguns dias no verão.
Então, enquanto a encarava naquela quadra, ele sabia como ela era intocável, inalcançável. Ele sabia, mas seu coração não, porque o mesmo parecia que iria saltar, pular do peito, cada vez que a menina o olhava. Se ele não podia tê-la, ele podia apenas imaginar como seria, conviver com a ideia de como seria tocar seus lábios, sentir a maciez de sua pele e ter seu corpo junto ao dela. Só a ideia, a possibilidade, por mais impossível que fosse, já fazia com que o rapaz perdesse a linha de pensamento, a capacidade de raciocinar de forma racional. Talvez ela tivesse noção do poder que tinha sobre . Talvez ela quisesse brincar com seus sentimentos, mostrar a ele que desejá-la e imaginá-la seria a coisa mais próxima de algo real que teria com ela. Mas talvez, apenas talvez, na imaginação fértil do rapaz, ela pudesse compartilhar dos mesmos sentimentos. Só que a vida não poderia ser tão maravilhosa assim para ele.
sentiu a bola de basquete acertar em cheio a sua cabeça e voltou à atenção para os seus amigos, que o encaravam, rindo. Ele sabia muito bem por que e nem era capaz de ignorar.
- Quando você vai entender que ela é demais pra você, ? – perguntou, chamando a atenção do amigo, que rolou os olhos e girou o corpo, indo até aonde a bola tinha rolado. Curiosamente, a mesma foi até perto de onde estavam as meninas. tentou não olhar para , mas foi a própria que ficou o encarando, enquanto ele fazia todo o caminho até onde estava sentada. Depois que ele abaixou rapidamente, a garota tomou coragem e disse um breve: “Oi.”
Suave e tímido, assim como ela. sorriu de lado e retribuiu o cumprimento, mas não falando nada além daquela única palavra. Coisa que se culpou amargamente assim que girou o corpo novamente e voltou para perto dos amigos. A sua falta de coragem era algo fora desse mundo e ele, provavelmente, perderia grandes chances em sua vida, talvez como essas. Assim que se juntou ao rapazes, percebeu que eles tinham visto a pequena interação que ele teve com e estavam curiosos.
- Não foi nada de mais, ela só disse “oi” e eu respondi. - falou, dando de ombros, jogando a bola na direção de , que o olhava com um misto de curiosidade e espanto em sua expressão.
- Você demora quase quatro anos para conseguir com que ela te note a ponto de falar com você, e diz apenas oi? - a voz desapontada do amigo combina os olhos revirados que ele mostrou em seguida. - Sério, nem um “tudo bem? meu nome é , prazer”.
- Ou só perguntar o nome dela. - se intrometeu, também se sentindo no direito de ajudar a criticar o amigo.
- Eu não me senti confortável de falar qualquer coisa, não perto de todo mundo. Olhem lá, vejam quantas meninas estão ao redor dela, prontas para criticar tudo em mim, desde o meu corte de cabelo, as minhas roupas e, principalmente, eu inteiro.
- Bem, se ela é tão influenciável assim, talvez não mereça o que você sente por ela. Porém, você nunca vai saber se não tentar. Ela pode ser boa demais pra você, mas o não você já tem mesmo. - falou, dando de ombros e tentando mais um arremesso.
Provavelmente estava certo, mas ele não estava preparado para falar com agora, mesmo que fosse para ouvir o não já aguardado. Já tinha esperado tanto tempo, que mais alguns dias não faria diferença.
- Nós estudamos juntos, eu era louco por ela desde a primeira vez que a vi. era a menina mais linda, doce e apaixonante que eu já conheci. Só que éramos muito diferentes, tínhamos vidas completamente diferentes. Enquanto ela tinha tudo, eu não tinha nada, eu não podia oferecer nada. Bem, nada além do que eu sentia. Isso parecia ser o bastante pra ela, pena que não era para o seu pai. - disse, suspirando fundo em seguida. Ele pegou a foto novamente, olhando para a menina sorrindo que parecia lhe encarar de volta. E ali, preso naquele momento, ele sentia como se tivesse 19 anos novamente. observou a cena, tentando entender o que estava acontecendo com seu pai, porque ele nunca tinha visto-o daquela forma. E então, como se tivesse lágrimas em seus olhos, o mais velho continuou:
- Ela foi o meu primeiro amor, . Talvez primeiro e único.
"Son, you don't forget your first true Love
She won't forget you too"
O sol estava se pondo, o céu já estava quase escuro, ventava, mas ainda estava quente. estava caminhando na beira na praia com os amigos, indo na direção do acampamento que eles estavam “hospedados”. De longe, ele reconheceu o grupo de jovens e entre eles, e suas amigas. Eles estavam numa roda, rindo, brincando e cantando qualquer coisa, enquanto um dos rapazes tocava o violão. também percebeu a movimentação, cutucando enquanto caminhavam. estava pronto para continuar o seu destino, mas ouviu seu nome ser gritado incessantemente, então ele parou, tentando descobrir quem estava o chamando. Ao longe, ele viu dois rapazes acenando, como se o chamassem, eles também eram da escola onde todos estudaram, mas, ao contrário das meninas, eles eram amigos de . Os rapazes caminharam pela areia fofa, na direção dos jovens reunidos, e viu quando o amigo cumprimentou animadamente os outros dois rapazes, ouvindo quando disseram que eles deveriam se juntar a eles. Sem nem pensar duas, aceitou, sem nem ouvir o que os amigos tinham a dizer sobre a proposta, até porque, eles voltariam para o acampamento e ficariam fazendo nada pelo restante da noite toda. Ali, pelo menos, teriam companhia e poderia conversar com alguém. E pensando nisso, olhou para pelo canto dos olhos e, em seguida, para , esperando que o amigo entendesse o que estava pensando, sem precisar falar nada. É claro que entendeu, tanto que coçou a cabeça, claramente desconfortável com a situação.
Minutos depois, estavam quase todos já entrosados, e conversavam com os rapazes que os convidaram, conversava com uma garota mais ao canto do grupo e estava mais destacado do restante do pessoal, sentado próximo ao mar, tendo apenas as luzes vindas da fogueira que ascenderam para iluminar de forma fraca o local onde estava. Ele sabia que estava perdendo uma chance incrível de se aproximar de , mas a sua timidez extrema o impedia de falar qualquer coisa. Na verdade, era algo com aquela garota especificamente, porque ele não tinha problemas em falar com outras. Era que mexia com a sua cabeça e o deixava completamente sem rumo. Ele viu uma sombra se mover atrás dele e antes que pudesse olhar quem era, viu sentando-se ao seu lado, com um sorriso no canto dos lados.
- Posso me sentar aqui com você? – ela perguntou, quando já estava ao seu lado. Mesmo que não fosse negar, viu que era apenas uma pergunta retórica.
- Claro, fica à vontade. – respondeu, mesmo sendo o inverso do que estava. Ele observou a menina pelo canto dos olhos, o sorriso fraco nos lábios e a expressão despreocupada, se perguntando por que ele perdia tanto o controle perto dela. Deveria ter alguma explicação.
- Por que você tá aqui sozinho, não gosta da gente? – sua voz suave soou divertida.
- Não, não é nada disso. – ele se apressou em responder, fazendo a menina sorrir ainda mais. – É só que eu queria ver o mar um pouco, ou apenas ouvi-lo. Me traz paz.
- Então eu estou te atrapalhando, é melhor eu voltar. – disse, fazendo menção de levantar, mas segurou uma de suas mãos, mantendo-a sentada.
- Não, fica aqui. - Eles ficaram se olhando por alguns segundos, com suas mãos unidas, até que o rapaz retirou a sua rapidamente, como se de repente percebesse o que estava acontecendo. – Você não me atrapalha.
Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, apenas ouvindo as ondas quebrando alguns metros à frente. Uma brisa fresca sobrava do oceano e fazia o cabelo de balançar levemente. a encarava, como se aquela cena fosse algo completamente hipnotizante e, se fosse possível, como se ele se apaixonasse mais a cada segundo. A menina olhou em sua direção, vendo o exato momento em que ele a encarava. Ela abaixou os olhos por um instante e voltou a olhá-lo também. tentou desviar o olhar, mas não conseguiu, era como se tivesse preso a ela. esticou uma das mãos, tocando a do rapaz e eles entrelaçaram seus dedos. As amigas da menina chamaram seu nome e ela girou o corpo, dizendo que já iria.
- Podemos nos ver amanhã? – perguntou, com a voz baixa, como se contasse um segredo.
- Claro. – respondeu, quase sem entender o que acontecia.
- Então me encontra aqui na praia amanhã, no por do sol. – disse rapidamente, antes de se levantar e seguir para onde estavam suas amigas. O rapaz continuou parado, encarando a imensidão escura à sua frente, pensando se tudo tinha realmente acontecido ou se não passava de um sonho. Um dos melhores que já teve.
No dia seguinte, estava lá esperando pela menina. O sol ainda estava alto no céu, mas ele não conseguiu conter a ansiedade. Ele estava sentado numa pedra, que ficava numa parte rasa da praia, com os pés descalços dentro da água. Ao longe, ele conseguia ver de onde a menina, possivelmente, viria, então ele não tirava os olhos do pequeno horizonte à sua frente. Ele não disse aos amigos o faria, apenas comentou que iria dar uma volta e saiu, então estava com medo que alguém viesse procurá-lo e assim acabar atrapalhando qualquer coisa, mas todo medo que tinha se esvaiu quando ele viu a silhueta de surgir ao longe. Ela caminhava despreocupadamente pela praia, deixando suas pegadas na areia para que, segundos depois, a onde viesse a apagasse tudo. Olhando para frente, ela o viu sorrindo abertamente, imitou seu gesto, descendo da pedra e caminhando rapidamente ao seu encontro.
Eles não sabiam o que fazer quando estavam juntos, a única coisa que sabiam era que queriam ficar juntos. Caminharam por alguns minutos, falaram sobre tudo e nada ao mesmo tempo. contou sobre seus planos para depois do verão, sobre a bolsa na universidade que ela tanto queria. falou do emprego que o pai lhe arranjou e como esperava que aquela oportunidade fosse boa pra ele, que ele queria crescer, talvez fazer faculdade um dia também. Eles se sentaram na pedra em que estava antes, mas dessa vez ficaram de frente para o oceano. O vento soprava de forma leve e quente, o sol estava se pondo, tingindo o céu todo de laranja. fechou os olhos, respirando fundo, com uma expressão que parecia o real significado da palavra paz. Uma de suas mãos estava espalmada sobre a pedra, próxima ao rapaz. pensou por longos segundos antes de tomar uma pequena atitude, num gesto de coragem. Ele repetiu o que fizeram na noite anterior, colocando sua mão por cima da dela. o olhou pelo canto dos olhos, enquanto sorria de lado, como se o encorajasse. O rapaz então subiu a mão, trilhando um pequeno caminho pelo braço da menina, passando pelo seu ombro, tocando levemente seu pescoço, até que ele estava com seu braço ao redor do ombro dela. chegou seu corpo para mais perto dele, apoiando a cabeça em seu peito. Logo depois, a menina levantou um pouco a cabeça, fazendo com que seus rostos ficassem perigosamente próximos. Ela umedeceu os lábios, encarando o rapaz nos olhos, tentando fazer com que ele entendesse o que queria naquele momento. É claro que sabia, até porque é algo que ele desejava e esperava há tanto tempo, que nem se lembrava mais. Só que ele precisava provar para si mesmo que aquilo, tudo aquilo, era real. Percebendo sua hesitação, tocou seu rosto com uma de suas mãos.
- O que foi? – perguntou, com a voz baixa.
- Eu só estou tentando descobrir se estou sonhando ou se você está realmente aqui comigo. – ele respondeu, vendo o sorriso da menina se alargar. – Porque eu sinto seu perfume, sinto sua pele tocando a minha, mas eu sonhei tantas vezes com esse momento, que me pergunto o que a minha mente poderia inventar.
- Você não está sonhando, . Eu estou aqui com você. – disse, antes de esticar a cabeça e juntar seus lábios de forma suave. Sua mão se agarrou aos cabelos da nuca do rapaz, a medida que o abraço dele se tornou mais firme. trouxe a menina para mais perto, descendo o braço para a sua cintura e colocando sua mão livre em seu rosto. E continuaram assim, até o sol sumir no oceano e o dia virar noite.
- Aquele dia foi um dos mais felizes da minha vida. – comentou com , que ouvia o pai em silêncio. – Acho que só perde para o dia do seu nascimento e o dia em que ela disse que me amava.
- Pai, onde tá essa mulher, essa ? Você teve mais notícias dela? – o mais novo perguntou, vendo o pai balançar a cabeça lentamente.
- O pai dela fez ela se casar com um cara rico qualquer alguns meses depois dessa viagem. Ela se mudou para São Francisco e eu nunca mais ouvi falar dela. E então trinta e nove anos se passaram, eu casei, tive filho, me separei. A vida segue, meu filho, a vida segue. Então você não pode ficar sentado, esperando que as coisas aconteçam, precisa assumir o controle dela. Pra depois não ficar como eu, um velho, que continua aprisionado ao passado, porque ficou preso nesse amor que nunca nenhuma chance de dar certo.
- Pai...
- Sua mãe sempre disse que foi por isso que nosso casamento não deu certo, porque eu nunca consegui desapegar dela. De alguém que amei durante a juventude, uma pessoa que não veja há quase quarenta anos. E que continua tendo o controle da minha vida, mandando no meu coração...
- Pai. – o interrompeu, fazendo o mais velho o encarar. – A sua vida não acabou. Se você realmente acha que desperdiçou tudo por causa dela, sempre tem a oportunidade de recomeçar.
- Ah, , não dá mais tempo pra mim, mas eu sou feliz que tenho você, isso que importa. – bufou levemente, como se quisesse clarear a mente. – Vamos continuar a arrumação, essa história tomou muito do nosso tempo.
ficou com tudo o que ouviu rodando em sua cabeça pelos dias que seguiram e resolveu pedir ajuda a um amigo. Eles fizeram uma pesquisa na antiga escola de , buscaram as concessionárias que existiam em 1978. Tentaram de todas as formas descobrir o nome completo da menina e assim buscar uma forma de localizá-la. E conseguiram, ela ainda estava morando em São Francisco, tinha dois filhos, trabalhava como orientadora educacional numa escola pública perto de onde morava e, mais importante, estava divorciada há quase quinze anos. O rapaz então pensou que como seu pai ainda mantinha aquele amor tão vivo dentro dele, mesmo depois de quase quarenta anos, por que ela não poderia ter mantido também? E se o pai lhe disse que ele deveria assumir o controle de sua vida, por que ele também não deveria fazer, mesmo que com alguns anos de atraso? A vida é tão longa e tão curta, que ele não devia e nem poderia gastar nem mesmo mais um segundo apenas pensando em como poderia ser. Então comprou uma passagem de avião em nome do pai, anotou o endereço de e passou na casa do pai um dia após o trabalho, lhe entregando tudo junto.
- O que é isso? – perguntou, olhando o envelope em sua mão.
- Todo mundo merece uma segunda chance. – deu de ombros.
Just wait, you'll find someone who will call you 'baby'"
se sentia com dezenove anos novamente, enquanto esperava na porta da escola onde trabalhava. Ele não sabia como abordá-la, como falar com ela. Ir até a sua casa parecia muito invasivo, ligar era uma opção, mas ele precisá-la vê-la. Sentia suas mãos tremerem e até mesmo as gotas de suor se formarem em sua testa. Mesmo no meio da primavera, se sentia desconfortável como se fosse verão. Os alunos já tinham saído há alguns minutos, então os professores e demais funcionários deveriam sair em breve. Ele se questionou se a reconheceria, mas suas preocupações se provaram infundadas no momento em que ele colocou os olhos nela. continuava linda como sempre e ele poderia reconhecê-la em qualquer lugar, a qualquer momento. E enquanto ela caminhava em sua direção sem perceber, pensava no que falar ou no que fazer, sem chegar numa conclusão. Ele pensou em desistir, em voltar para casa, mas assim que passou por ele, também o reconheceu. Ela parou e o encarou, sem acreditar. Havia algo na expressão da mulher, no sorriso que ela não conseguiu conter, que dizia que todo amor que um dia ela sentiu deveria ser conjugado no presente. Que ela ainda sentia, sempre sentiu. Que ela lembrou em em cada dia de sua vida, que sentia um dor forte e um aperto em seu peito cada vez que pensou em tudo o que poderiam ter vivido juntos.
E enquanto caminhavam pela praia, três meses depois daquele reencontro tão surpreendente e emocionante para ambos, onde juraram que nunca mais iriam se separar novamente, e deixaram suas pegadas na areia. Lado a lado, caminhando na mesma direção, como deveria ter sido muitos e muitos anos atrás. Eles podem, sim, ter perdido tempo, perdido parte de uma vida que dividiriam juntos, mas, naquele momento, a única coisa que importava era que eles estavam juntos e nada mais os separariam. Dividiriam a vida, a família que construíram separados, a que construiriam juntos e, claro, dividiriam o amor que se manteve vivo dentro do coração deles.
Fim
Nota da autora: Eu amo MUITO essa música, sempre pensei numa pegada meio Cartas para Julieta pra ela, mas não rolou escrever, não consegui desenvolver a road trip que eu tinha planejado, então simplifiquei a história. Espero não ter estragado tanto.
Até a próxima.
Beijo da That.
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