Capítulo Único
Amanheceu na cidade. O Sol invadiu o quarto da garota, que acordou ainda cansada do dia anterior, afinal, tinha muitas atividades no dia para fazer. era a filha mais nova, tinha 17 anos e estava no último ano do ensino médio. Estudava pela manhã, até as 15h. Às 15h30, ela tinha treino, ela era a zagueira titular do time de futebol feminino da escola (e também jogava como goleira, quando necessário). O treinamento tinha duração de duas horas, mas ela sempre ficava mais uma ou duas horas a mais para treinar cobranças de falta e treinar defesas. Sua amiga, Lia, a ajudava nisso. Lia Smith era sua melhor amiga, tinha a mesma idade que ela e era a goleira titular do time. Elas estudavam na mesma sala. , como era chamada por todos, tinha um irmão mais velho que estudava no mesmo lugar que ela, mas ele era estudante do segundo ano de Jornalismo na universidade que levava o mesmo nome que sua escola. , um rapaz muito bonito, no auge dos seus 23 anos, era um dos caras mais cobiçados pelas garotas do ensino médio. O campus da High School e o da Universidade ficavam no mesmo lugar, um atrás do outro. O terreno era enorme. Tinha apenas um campo aberto (um miniestádio para competições) e um ginásio, ambos divididos por todos. era meio-campo do time masculino de futebol, titular absoluto e incontestável da equipe. Seu melhor amigo era , 22 anos, também estudava Jornalismo e também jogava no time masculino, titular e também meio-campo.
Os irmãos se davam muito bem. Quer dizer, só tinha briga quando o assunto era futebol. Sempre que o time feminino ia treinar, o masculino inventava de treinar também. Isso sempre gerava briga. , além de zagueira, era a capitã do time. Assim como seu irmão era do time masculino.
— Tem treino hoje? — , como era chamado, perguntou para a irmã, ao sentar-se à mesa para tomar café. tinha acabado de se sentar.
— Uhum, temos sim. No mesmo horário de sempre — ela disse, sorrindo. — E nem pense em marcar treino para o campo externo. Ele é nosso! — ela falou taxativa e o olhou fixamente.
— Ok! — respondeu, levantando as mãos como se ele se rendesse. — Eu tenho que ir mais cedo hoje, tenho uma apresentação na droga do primeiro horário. Se quiser carona, melhor se apressar — falou o rapaz, mordendo um pedaço de torrada e bebendo café preto.
— Tudo bem. Eu como no colégio. Vamos — disse e foi se levantando. fez o mesmo.
— Vão almoçar em casa? — perguntou a mãe deles, enquanto secava a louça da pia. — O pai de vocês quer que estejam em casa para almoçar. Parece que tem um cliente importante que virá aqui hoje. Até eu irei comer em casa — completou a mulher. Ela trabalhava como corretora de imóveis e seu marido era um empresário famoso na região. e odiavam estar em jantares e almoços de negócios do pai. Sempre tinham que estar arrumados demais e serem educados demais. Isso não os agradava em nada.
— Eu estarei livre no último horário — começou a falar —, porém, eu vou começar meu treinamento mais cedo. O campeonato interescolar já vai começar. — A mãe revirou os olhos. Ela já sabia que seus filhos não estariam nesse almoço, mas não custava nada perguntar, né?
— E você, ?
— Não dá, mamãe, tenho treino também e não tenho horários livres hoje, infelizmente — respondeu o rapaz, num tom de decepção que a mãe logo percebeu que era deboche.
— Pelo menos almocem direito no campus, ok? — disse a mãe.
Os dois concordaram, pegaram suas mochilas e foram para o carro. colocou suas coisas e as da irmã no porta-malas e voltou para dirigir o carro. foi o caminho todo mexendo em seu celular. Ela era a representante de sua turma e sempre tinha professores e alunos lhe mandando mensagens sobre trabalhos, atividades, faltas, aulas… Fora as coisas do time para resolver com o treinador e suas companheiras de equipe. Chegaram ao estacionamento do campus, pegaram as coisas e foi cada um para seu prédio.
— Te vejo no almoço, maninha — disse , dando um beijo em sua irmã.
— Até mais tarde. — A menina sorriu, ajeitando sua bolsa de treinamento num ombro e sua mochila no outro. Logo, ela encontrou sua amiga andando em sua direção. — Chegou cedo, Lia — disse, tirando os fones para falar melhor com a amiga.
— Pois é — a outra disse, num tom cansado. — Estava aqui admirando o maravilhoso do seu irmão. — Lia tinha uma queda pelo . Um precipício, na verdade. deu risada da cara de boba que a amiga fez.
— Boba! Vamos logo, temos que resolver o problema da senhora Davis. — Suspirou e elas foram andando. Guardaram as bolsas no armário e foram para a sala.
Na hora do almoço, Lia e foram até o grande refeitório, que era compartilhado por todos do High School e Universidade. pegou uma bandeja, montou seu prato e procurou pela mesa onde seu irmão e amigos estavam. Lia, com seus olhos afiados quando se tratava de , logo achou o rapaz sentado numa mesa grande e rindo. Ah, o lindo sorriso do que encantava a Lia. As amigas caminharam até a mesa.
— ! Lia! Sentem aqui conosco! — gritou , animado. Na mesa estavam, além dele e do , seus amigos Jeff, Chuck e David, além de alguns outros membros da equipe de futebol. — Tem lugar ali, maninha — completou, apontando para o lugar vazio ao lado do .
— Guardei para você, . — era um lindo rapaz. o conhecia desde criança, ele e seu irmão eram amigos de infância e ela acabou compartilhando dessa amizade. Ela não sabia bem o motivo, mas sempre se sentia bem ao lado dele. Mas, ao mesmo tempo, ela sentia-se ansiosa, tremia e se arrepiava toda vez que ouvia a voz do rapaz.
— Obrigada, . — Ela sorriu de volta para ele. O sorriso do era realmente algo encantador e que fazia perder os sentidos e a concentração, muitas vezes.
e passaram o almoço inteiro trocando olhares. Ela sentia-se desconfortável, sem saber como agir ao lado dele. Tinha sentimentos confusos a respeito do rapaz. Ela sempre o viu como amigo, por que agora, a essa altura da vida, ela sentia tais coisas perto dele? Após o almoço, e Lia voltaram para aula. Os rapazes fizeram o mesmo. Às 15h bateu o sinal e todos foram liberados. As meninas tinham que fazer uma pesquisa para entregar no dia seguinte, uma pesquisa de biologia. Matéria na qual ambas eram péssimas. sempre foi bom em biologia, então, provavelmente, pediria ajuda ao irmão e passaria informações para sua amiga. Elas foram para o vestiário se arrumar para o treino.
— Treinador, minhas costas estão doendo um pouco de ontem ainda — Lia disse, passando a mão nas costas. No treino anterior, ela havia caído numa dividida com outra jogadora. Ficou tudo bem na hora, porém, à noite, Lia sentiu um desconforto nas costas.
— Sem problemas, Lia — disse o treinador. — Aguenta treinar meia hora? — A menina concordou com a cabeça. — Ótimo. Então, nos últimos momentos do treino, você fica no lugar dela, certo, ? — questionou, olhando pra .
— Certo, treinador. Pode deixar! — Ela deu um sorrisinho. Ela adorava jogar de goleira, apesar de preferir ficar na zaga.
— Valeu, amiga! — disse Lia, colocando as luvas nas mãos. — Te devo uma.
— Você me deve várias, Lia… — debochou , rindo. Lia apenas deu língua para ela e riu em seguida.
— Prontas? — gritou o treinador. Todas afirmaram que sim num único som. — Ótimo! Vamos para o campo!
As jogadoras foram para o campo. Os rapazes do time masculino estavam nas arquibancadas para ver o treinamento delas. não se sentiu tão à vontade ao saber disso. Já Lia, ficou radiante ao saber que observava-a jogar. Queria dar o seu melhor. Até tentou ficar até o fim do treinamento, treinou por uma hora inteira, mas a dor nas costas não lhe deixou prosseguir. Ela ficou chateada, mas o treinador não permitiu que ela continuasse e provocasse uma lesão mais grave. catou as luvas reservas que ela tinha na bolsa e as vestiu.
— Oh, lá! Minha maninha vai jogar no gol — disse , orgulhoso.
— É… — suspirou e prosseguiu. — Ela é uma excelente goleira — concluiu, num tom amoroso. Ele não tirava os olhos do campo. Não tirava os olhos de .
— Está encarando minha irmã, ? — perguntou , com a sobrancelha arqueada. — Ela tem namorado, hein. — Sim, tinha um namorado, mas aquilo não importava agora.
— Eu sei. Eu sei. — Espantou os pensamentos e suspirou novamente. — Não é isso, … Ah, esquece. Vamos ver o jogo — concluiu, seco. não gostava do namorado da . também não. Na verdade, ninguém gostava, nem mesmo a .
O treinamento prosseguiu normalmente. fez defesas incríveis, como sempre, e provocou o grito da torcida que gritou seu nome. A torcida, em questão, era o time masculino. O treino acabou por volta das 17h30. não pôde ficar até mais tarde treinando defesas, pois o treinador do time masculino queria falar com todos. Ele veio com uma proposta de unir os dois times, pelo menos na parte dos treinamentos, já que ambos estavam tendo problemas com os horários de reserva do campo (o ginásio era exclusivo dos times de basquete e vôlei). Resolveram, amigavelmente, treinarem juntos. O aquecimento e treinamento de jogadas seria cada um de um lado do campo e depois um recreativo misturando as equipes. Todos os jogadores gostaram da ideia. Os rapazes respeitavam as garotas, sabiam muito bem que elas jogavam muito e que conquistavam muitos títulos para a instituição. Eram uma das favoritas para ganhar o título interescolar daquele ano. sempre era eleita a melhor defensora. Ninguém passava por ela, e se passasse, parava nas mãos firmes da Lia. Rachel compunha a dupla de zaga ao lado da . Elas se davam muito bem, mas não eram tão íntimas quanto e Lia. Ela sentia até um pouco de ciúmes por isso. Enfim…
Já em casa, comentou com o irmão sobre a pesquisa de biologia. Ele disse que iria terminar uma resenha, que também era para o dia seguinte, e que em seguida a ajudaria, e a Lia também, via Skype. Eles fizeram o trabalho, se despediram e foram descansar. e Lia continuaram online no Skype conversando.
— Será que tenho chances com seu irmão? Sei lá, algum dia desses… — questionou Lia.
— Creio que sim, amiga. Meu irmão é um idiota. Ele é gentil e tal, mas para notar que uma mulher gosta dele é um sacrifício. Basicamente, você terá que desenhar para ele — disse e ambas riram.
— Pois é… — disse Lia, ainda rindo. — E você, amiga? Como está com o Brian? — Brian era o namorado da . Ela suspirou ao ouvir o nome dele.
— Não sei… eu quero terminar com ele. Não aguento mais os ataques de ciúmes que ele tem — ela disse, enquanto amarrava o cabelo num coque alto. — Acredita que ele estava lá no treino hoje e não gostou de ver o lá torcendo por mim?
— Nossa… Que babaca. — Lia sempre aconselhou a amiga a terminar o namoro. Até porque ela sabia dos sentimentos que tinha pelo . Sentimentos esses que não conseguiu ainda identificar, mas que, para os outros (menos para o ), eram óbvios demais. — Sabe o que eu penso sobre o Brian, né? — apenas concordou com a cabeça e suspirou. — E sabe também o que eu penso do , né? — a encarou e revirou os olhos. — Não me olhe assim, está na cara que você gosta dele.
— Claro que gosto! Ele é meu amigo, sua idiota! — disse, impaciente.
— Blábláblá… está ok, . Fingirei que acredito. — Dessa vez foi Lia quem revirou os olhos. — Vamos dormir, temos que acordar cedo amanhã, mocinha. Te amo, ok? — a moça disse, se ajeitando na cadeira.
— Também te amo, sua insuportável. — soltou um beijinho para a câmera e desligou.
No dia seguinte, acordou e foi tomar seu banho. Se arrumou e desceu para tomar café. Após comerem, os irmãos foram para o carro a caminho da instituição. Se despediram e foram para suas salas. Chegando à sala, foi recepcionada pelo namorado, que parecia estar irritado. E estava. colocou seus livros na mesa e sentou-se. Brian caminhou até ela.
— Já falei para ficar longe daquele cara, não falei? — ele chegou, dizendo sem nem mesmo dar “oi” para ela. Brian era da mesma série que ela, porém de outra turma.
— Bom dia, Brian, tudo bom? — disse debochada. Ela abriu um dos livros e o folheou. Brian o pegou e jogou longe, o que atraiu a atenção dos demais alunos. — Para com isso, agora! — disse , entredentes, se levantando e o encarando.
— O que ele estava fazendo lá ontem? Paquerando você? Aposto que sim! — falou irritado.
— Não te interessa saber, Brian. Agora, sai daqui… agora! — falou , com o olhar fixo nele. — Ou quer que eu mesma te tire daqui? — Ela já fez isso uma vez. Em uma das crises de ciúmes do Brian, ele foi à sala dela berrar. Ela apenas o levantou pela gola da camisa, o empurrou e começou a chutá-lo. Todos ficaram rindo dele, ele se irritou e saiu correndo.
— Não precisa fazer isso de novo, … — Ela odiava ser chamada pelo nome. Respirou fundo e arqueou a sobrancelha. — Depois a gente conversa.
— Não temos nada para conversar. Tchau — ela disse e sentou-se novamente em sua cadeira. Voltou a folhear o livro, um dos alunos o pegou e colocou de volta ali.
Lia sentou-se na cadeira em frente à dela, como sempre. Ela estava de longe vendo toda a cena, pronta para se meter, caso precisasse. Brian era ciumento, agressivo verbalmente, ele nunca chegou a encostar um dedo na . e sabiam que ele era daquele jeito. Avisaram a várias vezes, pediram para ela terminar esse namoro de uma vez. Mas ela nunca quis. Sempre empurrou o namoro com a barriga, sempre focada nos estudos e na carreira como jogadora. Ela estava estudando para fazer Educação Física na universidade no ano seguinte e, claro, continuar como jogadora do time feminino de futebol. O objetivo dela era defender seu país, algum dia, como profissional.
Após as aulas, iniciou-se o treino de futebol das garotas, e agora, dos garotos também. Era o primeiro dia da união dos treinamentos. Ao chegarem lá, as garotas já encontraram o campo dividido e arrumado para treinarem. cumprimentou os rapazes, que retribuíram, e foi se aquecer. A todo momento, ela disfarçava e olhava para o outro lado do campo, à procura do . Curiosamente, ele fazia o mesmo, à procura dela. Algumas vezes, seus olhares se cruzaram, causando constrangimento em ambos. Na hora do jogo recreativo, nos últimos quarenta minutos de treino, e ficaram em times rivais. Lia caiu como goleira no time do , ela adorou isso. Em um dos lances de ataque do time do , acabou acontecendo um pequeno acidente de trabalho. corria com a bola dominada, livre de marcação, , irritada com a falta de atenção dos companheiros, foi lá e dividiu o lance com ele. levantou o pé demais e acabou cravando a chuteira na coxa de . Ela gritou de dor, mas conseguiu cortar a bola para longe. Após isso, ela caiu no chão e pôs a mão na coxa. ficou preocupado e pediu desculpas para ela.
— Não tem problema, , lance de jogo. Relaxe — ela falou, sorrindo, mas, por dentro, estava chorando de dor. Sua coxa estava num tom entre o vermelho e o roxo.
— Nossa, está ficando roxo. Desculpa… deixa eu ajudar — ele disse. — Posso? — pediu permissão para pegar na coxa dela. Ela concordou e ele começou a massagear, de leve, a coxa da moça, que se jogou para trás e começou a gemer de dor. — Se estiver doendo muito, me fala. — Ela fez sinal de positivo. Os massagistas da equipe entraram em campo com uma compressa de gelo, porém não chegaram a tempo de ajudar.
— Cuidado, ! — Lia gritou, do outro lado do campo. Ela viu que Brian corria na direção do rapaz. Bastante furioso, Brian já chegou chutando o . O chute pegou em seu braço.
— Ai! — gritou de dor e caiu no chão. levantou o tronco e viu seu então namorado chutar seu amigo.
— Hey, seu imbecil! Para com isso! — berrou .
— FALEI PARA FICAR LONGE DESSE CARA! — Brian berrou de volta.
— Você não manda em mim, Brian! E se você machucar ou ameaçar o mais uma vez, eu não respondo por mim — ela disse furiosa, pondo-se entre , que já havia se levantado, e Brian.
— O que quer dizer? — ele questionou, confuso.
— Quer saber? Chega… acabou tudo, ok? Vai embora! — ela falou, num tom como se estivesse se livrando de um peso enorme das costas. E realmente estava.
— Você está terminando comigo?
— O que você acha, gênio? — Brian não era dos mais inteligentes. Ele era armador do time de basquete da escola e tirava notas péssimas, estava prestes a perder a titularidade do time caso não melhorasse nas notas. Aliás, era um dos motivos dele namorar a , ela o ajudava estudar. O fato era que ele não gostava realmente dela, apenas queria manter a aparência de casal feliz. Ele a chifrando com as líderes de torcida e nenhum outro homem podia se aproximar dela. Isso, para ele, era o ideal. Obviamente, não era isso que queria. — Vai embora, vai — ela disse impaciente.
— Vai se atrever a terminar comigo, sua vadia? — Ele agarrou o braço dela com força. se meteu.
— Não fala assim com ela! — ele disse firmemente e apertou o braço do outro. — Solta o braço dela… agora! — Sem alterar a voz, ordenou. Brian obedeceu, contrariado, e foi saindo.
— Isso não ficará assim, . — Apontou o dedo para ela e saiu andando irritado. — Não vai!
— Você está bem? — perguntou. Ela apenas disse que sim com a cabeça.
— Seu braço? Machucou… me desculpa por isso — ela disse, ao ver que o braço do rapaz estava com um machucado.
— Não é culpa sua, minha querida — ele falou, carinhoso. Ao perceber que a chamou de minha querida, ele sacudiu a cabeça e pigarreou. — Quer dizer… Bom, não é sua culpa, . Relaxe. Você se livrou de uma furada — ele concluiu, sorrindo.
— É… — Ela sorriu encabulada. Aquela frase “minha querida” estava ecoando em sua mente.
Após o ocorrido, o treino terminou mais cedo. fez um tratamento rápido com gelo na coxa. Nada grave com ela. também foi medicado. Ficou tudo bem no final. Já em casa, e seu irmão tiveram uma conversa no quarto dela.
— , eu estou cansada, por favor, vamos conversar depois, ok? — disse, após jogar sua mochila e a bolsa de treino no chão do quarto. Ela se jogou na cama com o rosto para cima.
— Mas nós vamos conversar, sim. Já passou da hora — ele falou nervoso, fechou a porta e cruzou os braços. — Acha que vou aturar esse namoro com aquele marginal do Brian? Não mesmo… — falou o rapaz, fazendo com que erguesse o corpo e o encarasse.
— Ah, , por favor. O Brian é um idiota, eu sei disso. Esse namoro é só uma fachada — ela disse, como se fosse algo normal ficar com uma pessoa que a desprezava. Para ela não era normal, mas ela estava acomodada demais para pensar nisso.
— Justamente por isso que você deve terminar com ele. Você viu o que aconteceu hoje. Mana… — ele falou e sentou-se ao lado dela, pegando em suas mãos. — Não deixe que algo ruim aconteça para que você se afaste dele, por favor — suplicou . Ele estava preocupado de o Brian agredir sua irmã. E, pelo andar da carruagem, isso não tardaria a acontecer.
— Eu não vou deixar, ok? Não se preocupe, eu vou dar um fim nisso — ela disse, sorrindo para ele. Ela já estava decidida a terminar, só estava acomodada a fazer. — Vou falar com ele amanhã e acabar de verdade com esse namoro. De uma vez por todas.
— Tudo bem, maninha. — abraçou a irmã com carinho.
Ambos foram dormir. Nesse mesmo instante, na casa do , ele estava deitado em sua cama, pensando na . Pensando nos sentimentos que tinha por ela e se algum dia ele teria coragem de falar sobre. Pensou também naquela cena de ciúmes desprezível que o Brian fez mais cedo. Seu braço ainda doía do chute que recebeu. Ele queria saber como ela estava. Queria saber também o porquê de ela não terminar logo esse namoro. Queria saber também quando teria coragem para contar para ela que a amava, que queria fazê-la feliz e ser feliz ao seu lado. Suspirou irritado e adormeceu.
No dia seguinte, acordou, tomou banho, se arrumou e foi direto para a universidade. Resolveu comer algo no campus mesmo. Chegando lá, encontrou seu amigo , que estava bastante nervoso. contou para ele da conversa que teve com a irmã na noite anterior e contou também da vontade dela em terminar o namoro com Brian. Isso animou , que demonstrou estar satisfeito com a notícia. Após a aula, como sempre, eles tiveram treino. Para surpresa deles, não apareceu.
— ! — disse Lia, correndo na direção do rapaz. Ele enxugou o rosto com uma toalha e a jogou no ombro. — Você viu a por aí? — ela disse ofegante, aproximando-se mais dele.
— Não. Achei que ela estivesse com você, Lia — respondeu, sem entender. nunca faltou a um treino na vida.
— Ela não apareceu desde a volta do intervalo. Estou preocupada — disse a moça, apreensiva. — Ela disse que ia conversar com o Brian, terminar tudo com ele, dessa vez para valer. Tenho medo de que ele tenha feito algo contra ela — completou.
— O quê? — disse nervoso. — E onde ele está?
— Ele também sumiu. Ah… — ela suspirou nervosa. — Minha esperança era dela estar com você, ! Meu Deus, temos que achá-la.
— ! Espera! — gritou . Nesse momento, saiu correndo em uma direção qualquer. e Lia se entreolharam e foram atrás do rapaz. Explicaram por alto para seus treinadores, que os liberaram.
e Lia procuraram e por todo o campus. Sem sucesso. Tentaram ligar para ambos, mas também não atendiam. O celular da só dava fora de área e o não atendia as ligações. Enquanto isso, na casa do Brian, mais precisamente no porão da casa, acordava após ter sido atacada pelo então namorado. Ele estava furioso ao saber que terminou o namoro.
— Você sabe que isso não vai durar muito, né? — disse furiosa e ainda um pouco tonta por causa da pancada que levou. — Pois, quando eu me soltar daqui, e eu vou me soltar, eu acabarei com você — falou entredentes.
— Por isso mesmo que está amarrada. Nervosinha do jeito que é, capaz de fugir daqui — ele disse, andando de um lado para o outro. Temia que seus pais descobrissem o que ele fez.
— Por que não me solta, hein? — falou irritada, mas ainda tentando manter a calma para ele não surtar e tentar machucar ela. — Me solta e eu não te denuncio para polícia. — Tentou negociar sua liberdade. Em vão.
— Você não vai sair daqui até que reconsidere voltar para mim — berrou o rapaz.
— Ah, mas isso não vai acontecer. Nunca. Nem que você fosse o último homem da galáxia — falou debochada. Enquanto distraía ele, ela estava cortando a corda que a amarrava na madeira de sustentação do porão. Ela sempre guardava consigo um canivete, dentro da calcinha, para situações de perigo como essa. O canivete foi presente de seu irmão.
— Então você vai ficar aí. Presa. Até voltar para mim — berrou novamente, irritado. Segundos depois, ele virou-se de costas para ela. Pior erro. Levou um chute nas partes íntimas. Isso fez o rapaz curvar-se de dor. — AH!! QUE DROGA, !
— Isso é para você aprender que não se mexe com . Nunca! — ela falou e guardou seu canivete no bolso. Subiu as escadas e saiu dali. Passou pela sala, onde os pais do Brian estavam. — Olá… é, desculpem por isso — desculpou-se, pois a sala estava cheia de convidados dos pais dele, que davam um jantar com amigos. Ela explicou rapidamente o que houve e disse que chamaria a polícia.
— Não se preocupe, , deixa que eu chamo a polícia — disse o pai de Brian, irritado com a atitude do filho. — Esse moleque vai aprender, nem que para isso tenha que ficar preso — falou. Ela sabia que o pai dele jamais admitiria tal violência. O pai do Brian adorava a e sabia do jeito que o filho a tratava.
— Obrigada, senhor.
— Quer uma carona para casa? — ofereceu o homem.
— Não precisa. Vou ligar para meu irmão — ela disse e saiu da casa.
ligou para , que atendeu apreensivo. e Lia estavam na casa dele para esperar por notícias dela. Rapidamente eles chegaram até a casa do Brian. Puderam ver ele sendo levado por policiais, que pediram para que os acompanhassem até a delegacia, para formalizar a denúncia. Ela disse que precisava se recuperar do susto, eles, então, pediram para que ela fosse no dia seguinte, mas asseguraram que Brian ficaria preso até lá. foi o primeiro a descer do carro e correr para abraçar . Ela não soube direito como reagir, apenas deixou que ele a abraçasse. E o abraço dele foi forte. Ele sentiu medo de ter perdido ela. De que algo ruim acontecesse. Teve muito medo.
…
Alguns dias passaram. Brian continuava preso. o denunciou por agressão e cárcere privado. Além de ameaça, pois ele a ameaçou de morte várias vezes. voltou à sua rotina e se aproximou bastante do desde então. Lia e também estavam próximos um do outro. Saíram várias vezes, mas não se beijaram ainda. e conversavam todas as noites pelo Skype e durante o dia eles se viam o dia todo. Um grude.
O pai de insistiu para que o rapaz o acompanhasse numa viagem que faria para fora do país. bateu o pé e disse que não iria. Mas não teve a mesma sorte da irmã e teve que viajar com o pai e a mãe para fora do país. ficaria sozinha em casa por quase uma semana. Antes de viajar, pediu para e Lia ficarem de olho na irmã. Não deixem ela tocar fogo na casa!, disse , antes de embarcar no avião com os pais.
Na sexta-feira, um dia após a viagem dos pais e do irmão, se viu sozinha durante uma das poucas coisas que a deixa apavorada na vida: tempestade. Bem, não era bem uma tempestade. Caiu uma chuva forte naquela noite: relâmpagos, trovões e um vento muito forte. tinha pavor disso. Sempre que chovia assim, a acolhia num abraço e permanecia assim até que o tempo ruim passasse. Nesse dia, ela combinou com e Lia para irem lá e comer uma pizza, ver uns filmes e beber algo. Lia não pôde ir, pois teve que fazer um trabalho extra, por causa de uma punição que recebeu do professor de Física. Então, somente apareceu na casa da .
— Oi, — disse, ao atender a porta. Ela estava enrolada num lençol, assim se sentia protegida de alguma forma.
— Oi — ele disse, com um sorriso no rosto, tentando entender por que ela estava enrolada daquele jeito. Nem estava tão frio assim. — Cadê a Lia? — perguntou, ao perceber que estavam sozinhos.
— Ela teve que fazer um trabalho de última hora para entregar segunda-feira — falou a moça, olhando para os lados e se assustando com cada trovoada que dava.
— Ah, normal. Tinha que ser a Lia — disse, rindo. Ele já conhecia a fama da Lia de sempre fazer besteira durante as aulas e ter que fazer trabalhos extras por causa disso. notou que dava pulinhos com os ombros cada vez que dava uma trovoada. Ela estava respirando ofegante. — Você está bem? — questionou preocupado.
— Estou. Estou sim, . Vamos… Vamos comer? — ela disse, tentando disfarçar.
já sabia que ela estava com medo. Ele a conhecia bem, sabia que ela jamais admitiria estar com medo. Não para ele. Sabia também que ela era tirada a durona e que não iria se passar por “fraca” na frente dele. Claro que não acharia isso dela. Ele até achava fofo ela ter esse medo, assim como ele tinha medo de formigas. Pois é… Cada um com seus medos. Um outro medo que tinha era de nunca ter coragem de dizer o que sentia por ela. E nunca lhe faltaram oportunidades de falar. Dois anos desse sentimento guardado no peito, apenas soltando pequenos vestígios dele por aí. Demonstrando o mínimo de sentimento possível. Essa era a vida do .
Algumas horas depois, a tempestade continuava, cada vez mais forte e cada vez com mais trovoadas. E estava cada vez com mais medo. Sempre que tinha tempestades como esta, se abrigava nos braços do . Infelizmente, seu irmão estava viajando e ela não tinha tanta coragem para pedir algo assim para o . e foram dormir, foi para o quarto do e para seu quarto. Uma hora depois, ainda não havia dormido. Os quartos eram lado a lado e ele conseguiu ouvir os choramingos da moça, que chorava de medo. Ele se levantou e foi até o quarto dela. As luzes estavam acesas e a porta entreaberta. O rapaz entrou e viu um monte de lençóis que cobriam a . Ele soltou uma risadinha nasal e aproximou-se.
— ? — Chegou perto da cama e ouviu ela chorando. — , você está com medo? — perguntou e ela jogou os lençóis para trás e o olhou furiosa.
— Eu não estou com medo! — gritou, levantando-se com o dedo apontado para ele. Nesse mesmo instante, uma trovoada forte assustou-a, que deu um grito de pavor. [n/a: Uma nota rápida: eu não tenho medo de trovoada, mas achei legal que a PP tivesse. Só para ter um motivo para agarrar o pescoço do PP, claro]. — AAAAAAAA! — Ela pulou da cama e abraçou com toda a força.
— Calma, eu estou aqui com você — falou, numa voz mansa, tentando acalmá-la. Pôs a mão em seus cabelos e acariciou. — Está tudo bem agora, . — Continuou as carícias, enquanto a jovem apenas chorava com as mãos apoiadas no tórax do rapaz.
a conduziu até a cama, onde a deitou e voltou a abraçá-la carinhosamente. Aos poucos, foi se acalmando. Ele começou a cantar a música favorita dela, a música que ele sabia que iria acalmá-la, caso cantasse. Ela fechou os olhos com força, não tinha coragem de olhar para ele. Estava com vergonha pelo ataque de medo, temia que ele pensasse que ela era fraca. Ele fazia carinho em seus cabelos, enquanto cantava. Minutos depois, adormeceu. Eles estavam de frente um para o outro. Logo, também dormia. Pelo menos naquela noite, não se importou que alguém, além de seu irmão, a visse naquele estado de medo. E, pelo menos naquela noite, eles não se importaram com mais nada além de sentir a companhia um do outro.
De madrugada, acordou agitada. Ela estava com falta de ar. Ninguém sabia, na verdade só seu irmão, que ela tinha falta de ar. Tinha medo de que, caso descobrissem, a tirassem do time de futebol. Ultimamente, ela vinha tendo mais crises de falta de ar do que antes. ficou angustiado ao ver que ela estava com dificuldades de respirar. Perguntou, a todo momento, o que ele poderia fazer para ajudá-la. Ela não conseguia falar direito. Pediu, com dificuldade, para que ele a abraçasse. Ele o fez e aos poucos ela foi se acalmando e conseguiu puxar o ar para dentro dos pulmões com mais facilidade. Parecia que estar ao lado dele lhe fazia bem, afinal.
— Por que não conta para alguém sobre isso, ? — perguntou, ela já estava mais calma.
— Não posso, — explicou. — Podem me obrigar a sair do time e eu não quero isso. Aliás, o futebol tem me ajudado a melhorar esse problema — concluiu, ainda respirando com certa dificuldade.
— Entendo. Você tem que se cuidar… — falou preocupado. — Você tem essas crises sempre?
— Ultimamente tenho tido mais do que gostaria. — Respirou fundo e se ajeitou na cama. Ainda chovia forte lá fora. — Desculpa qualquer coisa, . Certeza de que tinha coisa melhor para fazer hoje do que ficar aqui comigo — falou, sem graça, supondo ela que teria festas para ir àquela noite, sendo que ele deixou de sair com outras pessoas para ficar com ela. E ele não se importava de ficar. Preferia, até.
— Não precisa se desculpar por algo que não existe, . — Sorriu o rapaz. — Eu adoro ficar com você, aliás, mesmo se eu tivesse compromisso, desmarcaria só para ficar com você. É sempre um prazer imenso ficar com você. — Ao terminar de falar, se viu ofegante, pois estava muito próximo da . O cheiro dela anestesiava o rapaz. Ela também se viu ofegante, ele estava muito perto. A boca dele estava muito perto.
— … — sussurrou , ele não disse nada. O rapaz se aproximou mais da garota, que olhava a feição dele na luz dos relâmpagos. Ele uniu seus lábios devagar, um beijo leve, suave e com muito amor envolvido. Ao fim do beijo, o rapaz engoliu em seco e respirou fundo. Ela o olhava um pouco confusa e sem graça.
— Desculpa… — disse ele, também sem graça.
— Não, não precisa, — ela falou, o que surpreendeu o rapaz. — Eu gostei — disse sem graça e abaixou o olhar. Ela tinha um sorriso inocente nos lábios. sorriu também. Toda vez que sorria assim, ele tinha vontade de abraçá-la e não soltar mais.
Ambos decidiram dormir e não falar muito sobre o beijo, pelo menos não naquele momento. No dia seguinte, o tempo havia melhorado, o Sol estava a pino no céu. deu a ideia de eles irem fazer um piquenique no parque, no centro da cidade. Lia, para surpresa de todos, já tinha terminado seu trabalho extra e também foi convidada a ir com eles. Durante todo o caminho para o parque, e não mencionaram nenhuma palavra sobre o beijo, como se não tivesse acontecido. Tiveram um dia muito agradável. Comeram os sanduíches que preparou, sanduíches esses que adorava. Lembrou de quando comia ao fim do treino, quando era mais nova. Sempre que tinha treino do time infantil, e iam ver a jogar e levava sanduíches para ela comer quando terminava tudo. Ela adorava vê-lo. E ainda adorava sua companhia.
Alguns dias se passaram. e os pais já estavam de volta à cidade. Eles chegaram em casa e foram recepcionados pela , que os aguardava na porta. correu para abraçar os pais e o irmão, sentiu muita falta deles nesse período que ficou sozinha, apesar de ter amado a companhia do . Eles entraram e contaram da viagem para . brincou e fingiu surpresa ao ver que a irmã não tinha colocado fogo na casa. Tiveram um jantar agradável de reencontro familiar. Enquanto isso, estava em sua cama, deitado, pensando no beijo que deu na . Pensando nos momentos que tiveram juntos, apesar de terem sido poucos, na visão dele. Se dependesse dele, ele jamais sairia do lado dela. Jamais.
…
Finalmente começou o campeonato interescolar de futebol feminino. O time da era um dos favoritos a ganhar. Como capitã, ela estava muito concentrada e confiante na capacidade de sua equipe. e acabaram saindo algumas vezes e meio que estão namorando, mas nada oficialmente. Eles saíram, se beijaram em todas as vezes que se viram, passam mais tempos juntos do que com os amigos e família… Porém, eles não falaram em namoro nem nada do tipo, apesar de todos os tratarem como casal.
estava no vestiário terminando de se arrumar para o jogo. Antes de subirem para o campo, pediu para o treinador para falar algumas palavras de incentivo. Após o discurso, todas a aplaudiram e elas foram para o campo. O primeiro jogo do campeonato seria contra o maior rival delas, onde jogava a jogadora que odiava a : Samira. Ela e já foram amigas na época de escolinha de futebol, porém a rivalidade delas iniciou-se logo. Disputa de posição de destaque na equipe. Samira era atacante, goleadora, sempre foi o xodó de todos os treinadores. Mas sempre teve liderança nata e isso incomodava Samira, pois ela queria total destaque, inclusive a braçadeira de capitã, que, por motivos óbvios, era da . Ao entrarem em campo, logo pôde ver sua rival a fitando com raiva. rolou os olhos e a ignorou. Por birra, Samira era a capitã de sua equipe. Seu pai era rico e patrocinava sua equipe, por isso exigiu que sua filhinha querida fosse a capitã. A partida iniciou-se e ambas as equipes começaram atacando bastante, com muitas faltas. Isso era comum nesse confronto: muitas faltas e brigas. Em um lance de escanteio, Lia saiu para defender a bola aérea, porém dividiu o lance com Samira. O juiz do jogo apitou falta de ataque da Samira, que ficou bem irritada, levou cartão amarelo por isso.
— Você ficou louca? Olha o que fez com a Lia! — esbravejou, irritada. Samira tinha o dom de irritar somente com sua presença. Lia estava no chão, rolando de dor nas costas, e foi atendida rapidamente pelos médicos da equipe.
— Ela que se meteu em meu caminho. Eu ia fazer o gol! — esnobou Samira, virando as costas pra .
— Imbecil! — gritou , se segurando para não bater na garota arrogante à sua frente. A outra ignorou e saiu andando. — Você está bem, Lia? Consegue continuar? — perguntou para a amiga.
— Acho que sim. Ahhh, ainda dói aquela lesão — gemia Lia.
— Não acha melhor sair? Para não piorar a lesão… — disse um dos médicos.
— Ele tem razão, Lia. Eu jogo no gol. — Infelizmente a equipe não tinha uma goleira reserva, então, quando Lia não podia jogar, entrava em seu lugar.
— Está tudo bem, amiga, eu consigo jogar. O jogo já está acabando. — Realmente, faltavam apenas quinze minutos para o fim do jogo. O time delas estava ganhando por 1 a 0.
— Ok, então. Tenha cuidado! — falou o médico e saiu do campo.
— Vou fazer sua cobertura, ok? — disse . A amiga piscou para ela e sorriu.
O jogo reiniciou. A equipe rival estava doida para empatar o jogo, então, nesses últimos minutos, só deu ataque delas. não deixou a bola chegar a Lia, para que a amiga não forçasse as costas. O próximo jogo delas seria em duas semanas, por conta das provas nas escolas, então daria tempo para recuperar a lesão. O restante da defesa também ajudou Lia a não ter trabalho. Em um lance, o último da partida, Samira havia dominado a bola na linha do meio-campo e veio carregando até a defesa adversária. Ninguém a parou. , irritada com a negligência das companheiras, tomou uma atitude que não gostava muito. Ela deu um carrinho na bola, que saiu em lateral. Samira saltou antes de ser atingida, mas, ao pisar no chão, pisou também no tornozelo da . Ela berrou de dor. Vendo que havia atingindo a , Samira foi e pisou novamente, por pura maldade. O juiz não viu, nem o bandeirinha, mas todas as companheiras de equipe dela, até as do banco de reservas, viram e gritaram para o juiz. Ele ignorou e apenas advertiu verbalmente a Samira para que tivesse mais cautela. gritava de dor. e , que estavam na arquibancada vendo o jogo, levantaram e gritaram para o campo. desceu até a beira do campo para ver a “namorada/crush”. o acompanhou.
— Sua vaca! — gritou Lia, ao aproximar-se da amiga e da Samira. — Você fez de propósito, sua filha da puta, você pisou no tornozelo dela!
— Jamais faria isso. Cala sua boca, garota — disse Samira, desdenhando. O juiz apitou o fim do jogo e houve muita reclamação da equipe da . Enquanto isso, ela ainda estava caída sentindo muita dor.
— Você está bem, amiga? — disse Lia.
— Não, está doendo muito. — chorava, enquanto segurava o tornozelo para não mexê-lo involuntariamente.
— … — disse , aproximando-se. — Nossa, está ficando inchado. — O tornozelo dela começou a inchar por debaixo do meião.
O médico da equipe a ajudou a se levantar. A maca deles estava quebrada e a nova ainda não havia chegado. O médico e a levaram para o vestiário. Com cuidado, o médico tirou a chuteira dela, depois o meião foi cortado para não agravar a lesão. Ao retirar o meião foi que se pôde ver o inchaço do tornozelo dela. Estava feio. chorava muito. ficou o tempo todo ao seu lado. Lia estava sendo ajudada por a colocar uma espécie de cinta com gelo nas costas, para aliviar as dores que sentia. O treinador ficou bastante preocupado com as duas, machucadas logo na primeira partida. A sorte era que elas tinham tempo para se recuperar das lesões e jogar a próxima partida. foi levada para o hospital para fazer exames. Foi constatada uma lesão leve nos tendões, teria que ficar de molho uma semana, mais uma semana para recuperar o condicionamento físico.
ficou o tempo todo com ela, cuidando para que seguisse as orientações médicas. ajudou Lia a fazer o mesmo, a lesão de Lia era mais preocupante, pois, mesmo com as sessões de fisioterapia, as dores voltavam. Lia não queria ficar de fora da competição, ela sabia que o treinador ia querer tirá-la por isso, para não a perder para sempre dentro do campeonato. O médico foi bem claro quando disse que ela precisaria ficar fora dos campos por um tempo para cuidar da lesão. Já , estava recuperada. Sentia poucas dores e somente após fazer muito esforço.
Os dias se passaram e voltou a treinar com as colegas de equipe, enquanto Lia fazia um trabalho de recuperação da lesão. O time das meninas foi avançando na competição e chegou às semifinais, mesmo dia em que a Lia já estava totalmente recuperada. O time dos rapazes também avançou até as semifinais em sua categoria. Antes dos jogos, todos se reuniram para comemorar o feito. Todos ficaram bem amigos.
— Vem, , senta aqui do lado! — gritou Chuck para a garota, que vinha acompanhada do irmão e da Lia ao seu lado. Oficialmente, Lia e estavam namorando, para imensa felicidade da Lia.
— Cadê o ? — Foi a primeira coisa que perguntou, ao perceber, depois de uma rápida olhada, que o rapaz não estava na mesa. Eles foram jantar em um dos restaurantes mais populares da cidade para comemorar a chegada dos times às semifinais do interescolar. — Não estou vendo ele.
— Já, já ele chega — disse Chuck e, em seguida, falou: — Ih, olha ele vindo aí. — Apontou o rapaz para direção em que vinha caminhando. acompanhou com o olhar e viu vindo. Sorriu ao ver que ele se sentou ao seu lado.
— Boa noite, pessoal! — falou ele educadamente para todos presentes. A mesa estava lotada com ambos os times. — Oi, — ele disse, sussurrando para a garota.
— Oi, — respondeu ela, meio sem graça. O jantar começou e todos comiam empolgados. Durante a sobremesa, todos conversavam entre si. Foi então, aproveitando o barulho na mesa, que aproveitou para cochichar algo com a , mas ela não o ouviu. — Oi? — perguntou ela. Ele então aproximou-se mais do ouvido dela e repetiu a pergunta que havia feito.
— Eu estava pensando, , se você não gostaria de ir comigo ao parque de diversões esse final de semana? Já que não teremos jogo... — ele disse timidamente e um pouco ofegante. Ele nunca ficou tão nervoso para chamar uma garota para sair. Ela surpreendeu-se com o pedido dele, mas logo respondeu.
— Seria ótimo, ! — Por um instante, o coração de se encheu de alegria com a reposta dela, mas... — Lia estava doida para ir ao parque de diversões. Podemos ir todos juntos! — ... ao completar a frase, estragou a então alegria que sentia.
— É, seria legal, sim. Vamos todos, então! — ele falou, mais para não magoar a , porque se dependesse dele, somente e ele iriam ao parque naquele sábado.
— Lia! — chamou a atenção da amiga, que estava bem à sua frente na mesa. ao seu lado. — Querem ir ao parque de diversões sábado? — questionou. — deu a ideia! — completou a frase. Lia e olharam para , que manteve sua indignação disfarçada por trás do sorriso que exibiu no rosto.
— Seria ótimo, mana! — falou animado.
Eles combinaram de se encontrar na casa dos e irem todos juntos. No sábado, se arrumou para ir ao parque de diversões e logo estava pronta na sala, aguardando por seu irmão.
— Anda, ! Daqui a pouco eles chegam e você ainda está no banho! — gritou a garota do rol da sala em direção à escada que levava aos quartos no andar de cima.
— Eu já estou quase pronto, espera aí! — gritou de volta. revirou os olhos com a demora do irmão. A campainha tocou. Era Lia, que chegou acompanhada do .
— Olá! — disse animada. — Me desculpem, mas meu querido irmão vaidoso ainda está se arrumando — ela disse, fazendo os outros rirem. pediu para ir ao banheiro e deixar as garotas sozinhas na sala. Assim que o rapaz saiu, Lia agarrou o braço da amiga.
— Você ficou louca? — Lia disse entredentes.
— O que eu fiz? — questionou a outra, um pouco assustada com a atitude da amiga.
— O queria sair só com você e a bonita vai lá e me chama junto com o para ir também. Sua tonta! — ela disse indignada. fez uma cara de interrogação muito cômica, mas Lia não riu. A olhou seriamente. — ! O me contou que o finalmente havia tomado coragem de chamar você para sair, para conversarem, e você estraga tudo. Aff, ! — completou sua indignação.
— Sério? Mas... — ela ia começar a falar, mas havia voltado. Lia soltou o braço da amiga e, nos poucos minutos que ficaram na sala, lançou para vários olhares significativos. Catou o celular e digitou uma mensagem para a amiga. “Vai ter uma hora que e eu sairemos e deixaremos vocês à sós. Aproveite! Sua tonta!”, lançou um olhar de “NÃO, NÃO FAÇA ISSO!”, para a outra, mas logo recebeu outra mensagem: “Foda-se. Não me olhe assim. Já combinei com o . Kisses!”.
— Cheguei! — A voz de interrompeu o olhar de repulsa que lançaria para amiga. — Vamos, então? — perguntou o rapaz. Todos acenaram que estavam prontos e logo todos foram para o carro.
Lia e foram na frente, com dirigindo, enquanto e foram no banco traseiro, ambos em silêncio, a não ser na hora em que disse que estava linda de cabelos soltos (normalmente ela os usava presos num rabo de cavalo ou num coque folgado no topo da cabeça). Na mesma hora a garota corou e o silêncio se instaurou no banco de trás daquele carro. Lia e foram conversando durante todo trajeto. Ao chegarem ao parque, estacionaram e foram logo entrando e passearam um pouco pela parte principal do lugar.
— Olha lá, mini-dogs! — disse Lia empolgada. Mini-dogs era um mini cachorro-quente que Lia achou muito fofinho (pois ele vinha numa embalagem que lembrava um cachorro) e quis um. comprou para todos. comeu o dela numa só bocada, fazendo rir e engolir o seu da mesma maneira.
— Você quer ir a algum brinquedo, ? — disse , após alguns minutos andando pelo parque, de repente, muito próximo do ouvido dela, fazendo com que a moça se arrepiasse e saltasse de susto. — Desculpe, te assustei? — ele disse com a voz suave.
— Não, assustou não, — respondeu ela, seu coração acelerado dizia outra coisa. — Vamos àquela barraca! — Apontou para uma barraca onde a brincadeira era atirar num painel e derrubar patinhos de vários tamanhos, quem conseguisse derrubar o pato menor levava um urso enorme. E foi justamente nele que mirou.
— Vai lá, , sei que vai conseguir — ele falou, tentando incentivá-la [n/a: t-leader kkkk]. Na segunda tentativa, ela acertou o pato menor e o derrubou. — Parabéns, ! Você é incrível! — comemorou o feito da moça e ela deu um pulo de alegria e um gritinho por ter conseguido acertar.
— Olha que lindão, ! — ela disse, ao carregar o ursão. Ela mal conseguia ser vista por detrás daquele urso enorme de pelúcia. — Vai ficar incrível no meu quarto! — completou ela rindo, feliz por ter conseguido o ursão. sorria com a alegria dela. Às vezes, desmanchava seu lado zagueira brava e dava espaço ao lado meiga e brincalhona que ela tinha. E era nesses momentos que conseguia ver com mais clareza quão maravilhosa ela era, de fato. E o quanto ele a amava.
— Roda gigante, vamos? — sugeriu , após eles irem em inúmeros brinquedos do parque. não reparou, mas Lia e já haviam deixado eles à sós desde que foram à barraca dos patinhos. A diversão ao lado de pareceu distrair a garota.
— Agora! — disse ela empolgada. Já dentro da cestinha do brinquedo, lembrou-se da amiga e do irmão. — Ué, cadê o e a Lia? — deu risada e respondeu, num tom suave:
— Faz horas que eles nos deixaram sozinhos, . Aliás, me mandou uma mensagem dizendo que eles foram ao cinema aqui perto. — abriu a boca, indignada com o abandono dos dois.
— Ingratos! Nós os chamamos para virem ao parque e eles vão ao cinema, nos deixando sozinhos — ela disse, com a cara emburrada. O brinquedo começou a girar.
— É bom assim... eu gosto de ficar à sós com você. — Ele sorriu e ela olhou para ele envergonhada.
— Eu também gosto, ... — pigarreou e se ajeitou na pequena cesta que os levava até o topo da roda gigante. estava muito perto, ela podia sentir o calor que emanava do corpo dele, o que a aqueceu um pouco, pois o tempo lá fora era bastante gelado. Lá do alto, depois da primeira volta completa do brinquedo, ventava bastante e ela se encolheu num abraço em si mesma. — ... — Assustou-se ao perceber que ele repousou seu braço direito em seus ombros.
— Posso te falar uma coisa? — O rapaz estava nervoso. Suas mãos frias, agora sem as luvas que as protegiam antes, estavam assim não só por causa do tempo, mas também por conta do nervosismo que tomava conta dele. Era mais difícil do que ele imaginava...
— Pode — ela respondeu, depois de alguns segundos de delay cerebral.
— Eu estou para te falar isso faz um tempo já, . — Ela, em todo momento em que ele falava, manteve o olhar fixo no vidro da cestinha. Já o olhar de estava fixado num local próximo, entre o vidro e o rosto dela. — Eu adoro sua companhia e adoro o seu jeito. Como eu disse antes: você é incrível! E eu... — Ele hesitou alguns segundos e repreendeu-se por dentro. Fala, ! Pensou ele, obrigando-se a falar o que havia ensaiado horas antes em seu quarto. — Eu... , eu gosto muito de você. — Só agora a moça o encarou. Os olhos grandes que ela tinha o encararam. — Eu quero... quero... eu posso te dar um beijo? — perguntou meio ofegante, ansioso pela resposta. Ela também tinha a respiração descompassada.
— ... eu sou... tem tantas garotas da sua idade, bonitas, mais bonitas que eu... — ela começou a falar, mas ele logo a interrompeu. Num movimento brusco, ele segurou o rosto dela com as mãos frias e o puxou para mais perto do dele.
— Mas nenhuma delas é você, ! Nenhuma delas é nem de longe parecida com você. Eu gosto de você. — Os olhos dela cintilavam de uma forma parecida com a felicidade que ela sentiu ao ganhar seu primeiro título de um campeonato de futebol feminino, ainda pelo juniores de seu colégio. Ela sentia agora a mesma sensação daquele dia. — Sou apaixonado por você, !
— Ah, ... — ela suspirou, não sabendo direito o porquê de ter suspirado. Ele então uniu seus lábios num beijo, melhor do que aquele que deram no dia da tempestade. Ao se separarem, ela tinha uma expressão tão fofa no rosto: um misto de vergonha e felicidade.
— Quer namorar comigo, ? — A pergunta que ele quis fazer desde o início do ano anterior ele finalmente conseguiu fazer. Ela sorriu e ofegava um pouco (ainda efeito do beijo).
— Eu... será que vai dar certo nós dois, ? — perguntou apreensiva. A diferença de idade deles nem era tão grande e para ambos era insignificante. O fato da apreensão da em aceitar o pedido era a opinião alheia, e principalmente a opinião de seu irmão. Namorar o melhor amigo dele... será que ele iria se opor? Ela externou para suas preocupações.
— Não me interessa o que os outros irão pensar, , o importante é o sentimento que temos um pelo outro — ele falou e completou em seguida, ao ver que ela ia falar algo. — E, em relação ao seu irmão... bom, foi ideia dele eu te chamar para sair. — o olhou confusa.
— Ideia dele? — perguntou ela, antes mesmo dele falar qualquer coisa.
— Ele sabe do sentimento que tenho por você há muito tempo. — Ela arregalou os olhos ao saber disso. Realmente ela não fazia ideia de que o era apaixonado por ela. — Então, ele me perguntou se eu realmente gostava de você e o que eu queria fazer com esse sentimento. Foi aí que eu disse que eu pretendo, se você quiser obviamente, namorar você e, quem sabe, perdurar esse relacionamento por alguns anos. Quem sabe até casar. Enfim... — Ele ainda segurava as mãos dela, que agora estavam mais quentinhas por causa do contato. — Aí ele praticamente me intimou a te convidar para sair hoje. Só que era para só nós dois virmos. — Ele sorriu sem graça e ela se lembrou do que Lia havia lhe dito antes deles saírem.
— Desculpa, ... Lia me disse lá em casa que você falou para o que era só para nós dois virmos. E eu com meu bocão chamei todo mundo! Aff, desculpa, . De verdade — desculpou-se e ele apenas sorriu calmamente.
— Relaxe, , no final deu tudo certo. — Ele notou que ela não respondeu à pergunta que havia feito. — Você não me respondeu, ... — Ela sobressaltou-se e pigarreou.
— Aceito. Aceito, sim, ! — respondeu finalmente e deu um abraço nele. Aspirou seu cheiro e se sentiu confortável naquele abraço quentinho. A roda gigante parou de girar e o carrinho balançou. Já estava na hora deles descerem. — Vamos? — ela disse e ele concordou com a cabeça, levantou-se e saiu primeiro. Estendeu a mão para ajudar ela a sair.
— Quer ir aonde agora? Minha linda namorada! — Ela riu e corou com o “minha linda namorada”.
— Quer comer algo? Estou com fome! — falou, sorrindo. Fazia algumas horas que não comiam nada.
e foram comer um sanduíche que serviam no parque. Um baita sanduíche enorme, com muito queijo e carne. Passaram o caminho todo, o restinho da tarde, de mãos dadas e davam alguns selinhos às vezes. Antes de irem embora, encontraram e Lia no estacionamento. Os dois comemoraram com gritos de viva e pulos de alegria ao verem e de mãos dadas. Praticamente obrigaram os dois a se beijar para confirmar que estavam mesmo namorando.
— Ahhh, Lia, para, sua idiota! — reclamou , após o nonagésimo pedido de beijo. — Vou parar de te cobrir nos jogos! — ameaçou ela, o que fez Lia parar de pedir selinhos dos dois. riu da situação e eles foram para casa. deixou Lia em casa e depois seguiram para casa dos . queria passar mais um tempinho com a namorada.
Ficaram namorando na varanda, enquanto era intimado, dentro da casa, para ir à um jantar de negócios com o pai, que, por algum milagre, estava em casa naquele horário. Até nos fins de semana ele costumava trabalhar. A mãe do rapaz ficou feliz em saber que a filha estava namorando o melhor amigo do filho mais velho. já era de casa, desde pequeno, então ela o conhecia bem. Ficou mais aliviada em saber que ela não estava mais com o Brian, “Rapazinho estranho, ele. Não gosto dele, filha...”, a senhora sempre comentava com a filha, que nunca negou a estranheza e brutalidade do ex namorado.
Os dias se passaram e os jogos das semifinais interescolar finalmente chegaram. Pela manhã, os rapazes jogariam e, pela tarde, seria a vez das meninas. mal dormiu à noite de tanta ansiedade. Seria o primeiro jogo da volta da amiga Lia para o gol da equipe. Durante esse tempo, estava jogando no gol. Na manhã do jogo, acordou, após ter dormido pouquíssimo tempo, e foi logo se arrumar para assistir à partida dos rapazes. Já no campus, no vestiário masculino, e se arrumavam para a partida. A torcida para que eles vencessem a partida era grande, era o time favorito de muita gente da região, até mesmo àqueles que não faziam parte da Universidade deles.
Durante a partida, e trocaram várias jogadas e tentaram por diversas vezes marcar gols, sem sucesso. O goleiro adversário era muito ágil. Quase no fim da partida, quando estavam quase indo aos pênaltis, os rapazes começaram uma jogada ainda no campo de defesa, tocaram a bola para o , que a carregou dominada até a linha de fundo, cruzando em seguida para dentro da área; cabeceou, mas o goleiro rebateu para a linha lateral, porém, antes da bola sair, a pegou, dominou e cruzou novamente para a área, na intenção de algum companheiro a cabecear; mas a bola foi certeira direto para dentro do gol, marcando assim um golaço que levou a arquibancada ao delírio. berrou de alegria ao ver que seu namorado havia feito um gol. correu em direção à arquibancada e dedicou o gol à , soltou um beijo para ela que retribuiu o gesto sorridente. Eu te amo!, ele disse para ela, que também disse que o amava. foi abraçado por todos. Dois minutos depois, o juiz encerrou a partida e todos comemoraram.
— Você é incrível, ! — disse Chuck, após a partida, estavam todos almoçando no refeitório. Às 15h seria realizada a partida das moças, que também estavam almoçando com eles na mesa.
— Obrigado, cara! — respondeu envergonhado. estava ao seu lado. Quase no fim do almoço, Samira apareceu na entrada do refeitório e passou pela mesa onde todos comiam.
— Se cuida hoje, viu, ! — disse ela, desdenhando e completou: — Você mal perde pela partida de hoje. Vou acabar com você.
— Vai me causar outra lesão? — disse irritada. passou a mão pelos ombros dela e sussurrou para ela ficar calma.
— Não sei do que está falando. Até mais tarde... — ela disse e saiu. bateu com força na mesa e quase derrubou o suco que tomava.
— Odeio ela — ela disse entredentes e cerrou os punhos.
— Calma, meu amor. Fica calma, não cai na provocação dela. Ela quer que você perca a cabeça e se prejudique — disse e deu um beijinho no rosto dela, o que fez com que ela amolecesse e desfizesse o cerrar dos punhos. Ela sorriu de leve para ele e deu-lhe um selinho.
— Amo você! — ela disse calmamente e todos na mesa fizeram Awnt!, fazendo todos rirem em seguida.
Terminado o almoço, os meninos foram para a arquibancada e as meninas para o vestiário. Tomaram banho e se arrumaram para a partida. costumava ouvir música antes das partidas e hoje não seria diferente. Usava fones de ouvido que tocavam uma de suas músicas favoritas: Talk Tonight, Oasis. Era uma das músicas que acalmavam ela, a deixavam tranquila e concentrada para a partida. A música fala sobre o quanto uma pessoa entrou na vida de outra e a ajudou a melhorar como ser humano. Sempre que ouvia esta música ela pensava no quanto o era importante na vida dela e o quanto ele a fazia transbordar sentimentos bons. O quanto ele a fazia feliz. E o quanto ele era especial. Ela só não sabia que ele sentia o mesmo por ela quando ouvia esta mesma música.
A partida da semifinal seria contra o time da Samira, rival da . Obviamente só uma das equipes passaria para a final, que seria disputada lá mesmo no campus da Universidade onde o irmão da estudava e onde eles treinavam todos os dias. O local da final foi decidido antes da competição começar. Chegou a hora marcada para a partida e os times entraram em campo. estava aparentemente tranquila, mas por dentro estava apreensiva com o jogo em si e com aquilo que a Samira falou mais cedo.
— VAI TIME!! — Todos na arquibancada gritavam animados com a possível classificação para a final. O time da era o franco favorito para vencer a partida. Veio de uma vitória difícil contra outro rival, nas quartas de final, e agora disputa a vaga na final do mais importante campeonato feminino de futebol interescolar.
— A parece nervosa, né? — falou apreensivo. e os outros jogadores do time masculino estavam ao seu lado na arquibancada, torcendo por elas.
— Verdade... ela deve estar pensando no que a Samira falou — disse Chuck e todos concordaram. assistia à partida, que já havia começado, atento à sua namorada.
— Hey! Isso é falta! — gritou o rapaz, ao ver que sua namorada tinha tomado um carrinho por trás, numa dividida com Samira.
— Ahhh, meu tornozelo. Deus, meu tornozelo! — choramingou , com as mãos no tornozelo que havia sofrido a lesão meses atrás. As companheiras de time de foram para cima do árbitro, que deu somente cartão amarelo para Samira.
— Amiga, está tudo bem? — perguntou Lia, se aproximando dela, que ainda estava caída no chão.
— Meu tornozelo, Lia, está doendo. Aii... — choramingou , que estava cheia de dor e rolava levemente no gramado. — Aquela filha da puta fez de propósito, Lia... foi de propósito! Vou matar ela! — falou ela e encarou a Samira, que estava um pouco longe, observando a outra caída e gemendo de dor. deu um soco no gramado.
— Calma... põe gelo, vai melhorar. — O médico da equipe já estava em campo com uma bolsa de gelo e a colocou no tornozelo machucado.
A partida reiniciou e, apesar de ter relatado estar tudo bem, ainda sentia dor meia hora depois do ocorrido. O jogo já estava acabando, mas ainda estava zerado o placar. Lia havia saído com dores nas costas, pois ainda não conseguia fazer uma partida inteira, e estava no gol. Àquela altura da partida, o time da estava tomando sufoco e vários ataques adversários contra o seu gol. Quando faltavam poucos minutos para o fim da partida, houve um contra-ataque do time da . A jogadora carregou a bola até a área adversária e sofreu a falta. Pênalti. A torcida na arquibancada comemorou e chamou pela , queria que a capitã batesse o pênalti. As companheiras de equipe dela também chamaram pela moça, que aceitou e pegou a bola para cobrar o pênalti. E ela acertou. Bola para um lado, goleira para o outro. Após a confirmação do gol, o juiz encerrou a partida e todos comemoraram. A gritaria foi grande. saiu correndo feito raio, mesmo com dor, até a arquibancada. Abraçou Lia e depois foi abraçada por suas companheiras. Os jogadores do time masculino se juntaram ao abraço deles e começaram a pular de alegria.
Após a partida, todos foram a uma lanchonete perto do campus para comemorar. ainda sentia dores, mas não contou para ninguém. Mas ela disfarçou mal e logo todos notaram que ela sentia a lesão no mesmo tornozelo. “Vai fazer fisioterapia de novo, viu? Nem adianta reclamar...”, falou Lia, dando uma bronca na amiga, que fez um bico enorme em reprovação.
— Estou exausta de fazer fisioterapia, já — disse , dois meses depois, em sua casa. A partida da final já passou e o time dela foi o campeão, como o esperado.
— Para de reclamar, ! — brincou Lia, enquanto mexia no celular. Ela falava com seu namorado, que não estava em casa. — Oh, os meninos estão chegando já. Anime-se amiga! — falou Lia empolgada.
— Pronto, , já está liberada por hoje. Se cuida, viu! Até a próxima sessão — falou o fisioterapeuta dela, despedindo-se. Após a saída do rapaz, foi tomar banho para receber o namorado. Nesse meio tempo, os rapazes chegaram e Lia desceu para recebê-los. Os pais dos estavam numa viagem para a Europa.
— já vai descer. Ela estava fedendo e agora está se banhando — Lia disse e todos deram uma risadinha.
— Então quer dizer que eu estava fedendo? — A voz de ecoou pela sala. levantou, com seu copo de vinho em mãos, e abraçou a namorada e deu um cheiro em seu cangote.
— Cheirosa como sempre... adoro! — ele disse e deu um beijo no pescoço dela.
— Viu, Lia — disse —, o falou que eu sou cheirosa. Chata! — Ela deu língua para a amiga, que deu risada.
Eles pediram uma pizza e ficaram vendo filmes. Quando anoiteceu, foi para casa, mas Lia dormiu lá com o namorado. precisava pegar algumas roupas, pois iria sair no dia seguinte, a pedido de seu pai, para resolver um problema importante. Ele tinha se esquecido disso e por isso não levou roupa. “Vou em casa e volto já, tá amor?”, ele disse para , que assentiu e despediu-se dele. Já em seu quarto, estava arrumando sua cama quando seu celular tocou. Era um número desconhecido. Ela não atendeu e continuou fazendo suas coisas. O celular tocou de novo e ela resolveu atender, temendo ser algo importante.
— Alô? Quem fala? — ela disse e a voz do outro lado da linha a fez estremecer de medo.
— Olá, ... lembra de mim?
— Brian? — A voz dela saiu quase em um sussurro. Apavorada, ela tremeu de medo só de ouvir a voz do ex namorado. — Você saiu da cadeia?
— O que você acha, ? — ele disse debochado e completou: — E adivinha para onde eu vou agora? Estou aqui perto da casa do seu namoradinho. Ele está em casa, né? É, eu sei. Estou vendo o carro dele estacionado na porta do prédio — ele falou e ela perdeu a cabeça.
— Fica longe do ! Seu imbecil! — ela gritou irritada e completou: — Se chegar perto dele, eu mato você, Brian! — ameaçou ela. O tom de voz do Brian mudou de debochado para ameaçador e frio.
— Se você ficar nesse tom comigo, aí sim é que eu vou pegar o seu namoradinho e acabar com ele. Você está entendendo, ? — ameaçou.
— Não me chama assim! Fica longe de mim, longe dos meus amigos, fica longe do , entendeu! FICA LONGE DO ! — berrou ela e invadiu seu quarto, assustado. Lia vinha atrás dele.
— Mana? O que está acontecendo? — perguntou ele assustado.
desligou a ligação e levantou-se rapidamente da cama.
— O Brian saiu da cadeia e está na porta da casa do . Ele disse que vai machucar o . , eu preciso ir até lá — ela disse angustiada e colocou um casaco por cima da roupa. barrou a saída da irmã, a segurando pelos ombros.
— Maninha, calma! Calma, você já ligou para o ?
— Não, mas o Brian... — Antes dela continuar, a interrompeu.
— Então, vamos ligar para ele antes de ir lá, ok? Calma. — pegou o celular dele e ligou para o amigo, que não atendia. — Vamos lá, , atende... — resmungou para si mesmo e então finalmente atendeu a segunda ligação do amigo. — ?
— Fala, cara... foi mal, acabei dormindo após o banho. — A voz sonolenta de ecoou pelo viva-voz do aparelho de . suspirou angustiada.
— Amor, você está bem? — ela perguntou para o namorado.
— Estou sim, amor... que voz é essa? Aconteceu alguma coisa? — explicou rapidamente o que havia ocorrido e pediu para ter cuidado ao voltar para casa dela. — Não se preocupe, meu amor. Eu estou indo para aí agora, ok?
— Não desliga! Fica falando comigo até você chegar…
concordou, pegou as coisas, que já estavam arrumadas, e saiu. Entrou no carro e dirigiu até a casa da namorada. Rapidamente ele chegou lá e foi recepcionado por ela, que já estava do lado de fora, aguardando sua chegada.
— Graças a Deus! — Ela suspirou aliviada ao abraçar , que retribuiu o abraço.
— Está tudo bem, amor. Está tudo bem. — Eles entraram na casa. Todos ficaram conversando um pouco sobre a ligação do Brian. entrou em contato com o pai e o mesmo disse para trancar a casa e falou que iria entrar em contato com o advogado da família para tomar as devidas providências legais. — Pronto, minha zagueira linda, já estamos seguros agora. — e já estavam abraçados e deitados na cama dela, que repousava o corpo sobre o dele.
— Desculpa o desespero que fiquei hoje, ok? — ela disse, ainda com a voz embargada.
— Não precisa, amor. Eu sei que você ficou com medo de que algo ruim acontecesse. Eu senti o mesmo há algum tempo quando você foi raptada... — ele disse e lembrou-se da angústia que sentiu. — Não se sinta culpada por nada, você não tem culpa de nada, minha princesa — ele disse, enquanto afagava os cabelos dela. se aninhou no abraço do rapaz e adormeceu.
No dia seguinte, recebeu uma ligação do advogado da família e eles acionaram à polícia para relatar da aproximação do Brian e das ameaças dele contra e seus amigos. Foi emitida outra ordem de restrição contra Brian: ele não poderia se aproximar nem da nem de sua casa e muito menos do lugar onde ela estudava. Dessa forma, ele teve que trocar de colégio. Caso ele se aproximasse dela ou de sua família, poderia ser preso sem direito a sair novamente.
Dias depois…
Casa dos , quarto da
Com Brian preso, o alívio tomou conta da família . Os pais de e ficaram preocupados com os últimos acontecimentos que ocorreram com a filha e, com isso, resolveram reforçar a segurança de todos, contratando profissionais para cuidar da casa e dos filhos. Porém, para , o melhor segurança que poderia ter era . Ela sentia-se segura ao lado do namorado, apesar de quase ter tido um treco quando achou que ele estava em perigo, teoricamente por sua culpa.
— Amor, para você. — entregou uma flor para , que sorriu de imediato ao recebê-la.
— É linda, amor, obrigada — ela deu um abraço forte nele que, após, se afastou um pouco para poder beijá-la.
— Eu te amo, nunca se esqueça disso, minha zagueira!
a beijou novamente, de maneira apaixonada e, durante esse beijo, ele sentiu o chão rodar. Parecia que todo o planeta estava girando e apenas eles dois estavam parados, em câmera lenta, enquanto desfrutavam da companhia um do outro. Ele pensava no tempo que desperdiçou estando longe dela por puro medo de ser rejeitado, dela não o querer. Mas, assim que disse ‘sim’ para ele, o mundo de voltou a girar, lento para que aproveitasse cada instante, porém contínuo.
Os irmãos se davam muito bem. Quer dizer, só tinha briga quando o assunto era futebol. Sempre que o time feminino ia treinar, o masculino inventava de treinar também. Isso sempre gerava briga. , além de zagueira, era a capitã do time. Assim como seu irmão era do time masculino.
— Tem treino hoje? — , como era chamado, perguntou para a irmã, ao sentar-se à mesa para tomar café. tinha acabado de se sentar.
— Uhum, temos sim. No mesmo horário de sempre — ela disse, sorrindo. — E nem pense em marcar treino para o campo externo. Ele é nosso! — ela falou taxativa e o olhou fixamente.
— Ok! — respondeu, levantando as mãos como se ele se rendesse. — Eu tenho que ir mais cedo hoje, tenho uma apresentação na droga do primeiro horário. Se quiser carona, melhor se apressar — falou o rapaz, mordendo um pedaço de torrada e bebendo café preto.
— Tudo bem. Eu como no colégio. Vamos — disse e foi se levantando. fez o mesmo.
— Vão almoçar em casa? — perguntou a mãe deles, enquanto secava a louça da pia. — O pai de vocês quer que estejam em casa para almoçar. Parece que tem um cliente importante que virá aqui hoje. Até eu irei comer em casa — completou a mulher. Ela trabalhava como corretora de imóveis e seu marido era um empresário famoso na região. e odiavam estar em jantares e almoços de negócios do pai. Sempre tinham que estar arrumados demais e serem educados demais. Isso não os agradava em nada.
— Eu estarei livre no último horário — começou a falar —, porém, eu vou começar meu treinamento mais cedo. O campeonato interescolar já vai começar. — A mãe revirou os olhos. Ela já sabia que seus filhos não estariam nesse almoço, mas não custava nada perguntar, né?
— E você, ?
— Não dá, mamãe, tenho treino também e não tenho horários livres hoje, infelizmente — respondeu o rapaz, num tom de decepção que a mãe logo percebeu que era deboche.
— Pelo menos almocem direito no campus, ok? — disse a mãe.
Os dois concordaram, pegaram suas mochilas e foram para o carro. colocou suas coisas e as da irmã no porta-malas e voltou para dirigir o carro. foi o caminho todo mexendo em seu celular. Ela era a representante de sua turma e sempre tinha professores e alunos lhe mandando mensagens sobre trabalhos, atividades, faltas, aulas… Fora as coisas do time para resolver com o treinador e suas companheiras de equipe. Chegaram ao estacionamento do campus, pegaram as coisas e foi cada um para seu prédio.
— Te vejo no almoço, maninha — disse , dando um beijo em sua irmã.
— Até mais tarde. — A menina sorriu, ajeitando sua bolsa de treinamento num ombro e sua mochila no outro. Logo, ela encontrou sua amiga andando em sua direção. — Chegou cedo, Lia — disse, tirando os fones para falar melhor com a amiga.
— Pois é — a outra disse, num tom cansado. — Estava aqui admirando o maravilhoso do seu irmão. — Lia tinha uma queda pelo . Um precipício, na verdade. deu risada da cara de boba que a amiga fez.
— Boba! Vamos logo, temos que resolver o problema da senhora Davis. — Suspirou e elas foram andando. Guardaram as bolsas no armário e foram para a sala.
Na hora do almoço, Lia e foram até o grande refeitório, que era compartilhado por todos do High School e Universidade. pegou uma bandeja, montou seu prato e procurou pela mesa onde seu irmão e amigos estavam. Lia, com seus olhos afiados quando se tratava de , logo achou o rapaz sentado numa mesa grande e rindo. Ah, o lindo sorriso do que encantava a Lia. As amigas caminharam até a mesa.
— ! Lia! Sentem aqui conosco! — gritou , animado. Na mesa estavam, além dele e do , seus amigos Jeff, Chuck e David, além de alguns outros membros da equipe de futebol. — Tem lugar ali, maninha — completou, apontando para o lugar vazio ao lado do .
— Guardei para você, . — era um lindo rapaz. o conhecia desde criança, ele e seu irmão eram amigos de infância e ela acabou compartilhando dessa amizade. Ela não sabia bem o motivo, mas sempre se sentia bem ao lado dele. Mas, ao mesmo tempo, ela sentia-se ansiosa, tremia e se arrepiava toda vez que ouvia a voz do rapaz.
— Obrigada, . — Ela sorriu de volta para ele. O sorriso do era realmente algo encantador e que fazia perder os sentidos e a concentração, muitas vezes.
e passaram o almoço inteiro trocando olhares. Ela sentia-se desconfortável, sem saber como agir ao lado dele. Tinha sentimentos confusos a respeito do rapaz. Ela sempre o viu como amigo, por que agora, a essa altura da vida, ela sentia tais coisas perto dele? Após o almoço, e Lia voltaram para aula. Os rapazes fizeram o mesmo. Às 15h bateu o sinal e todos foram liberados. As meninas tinham que fazer uma pesquisa para entregar no dia seguinte, uma pesquisa de biologia. Matéria na qual ambas eram péssimas. sempre foi bom em biologia, então, provavelmente, pediria ajuda ao irmão e passaria informações para sua amiga. Elas foram para o vestiário se arrumar para o treino.
— Treinador, minhas costas estão doendo um pouco de ontem ainda — Lia disse, passando a mão nas costas. No treino anterior, ela havia caído numa dividida com outra jogadora. Ficou tudo bem na hora, porém, à noite, Lia sentiu um desconforto nas costas.
— Sem problemas, Lia — disse o treinador. — Aguenta treinar meia hora? — A menina concordou com a cabeça. — Ótimo. Então, nos últimos momentos do treino, você fica no lugar dela, certo, ? — questionou, olhando pra .
— Certo, treinador. Pode deixar! — Ela deu um sorrisinho. Ela adorava jogar de goleira, apesar de preferir ficar na zaga.
— Valeu, amiga! — disse Lia, colocando as luvas nas mãos. — Te devo uma.
— Você me deve várias, Lia… — debochou , rindo. Lia apenas deu língua para ela e riu em seguida.
— Prontas? — gritou o treinador. Todas afirmaram que sim num único som. — Ótimo! Vamos para o campo!
As jogadoras foram para o campo. Os rapazes do time masculino estavam nas arquibancadas para ver o treinamento delas. não se sentiu tão à vontade ao saber disso. Já Lia, ficou radiante ao saber que observava-a jogar. Queria dar o seu melhor. Até tentou ficar até o fim do treinamento, treinou por uma hora inteira, mas a dor nas costas não lhe deixou prosseguir. Ela ficou chateada, mas o treinador não permitiu que ela continuasse e provocasse uma lesão mais grave. catou as luvas reservas que ela tinha na bolsa e as vestiu.
— Oh, lá! Minha maninha vai jogar no gol — disse , orgulhoso.
— É… — suspirou e prosseguiu. — Ela é uma excelente goleira — concluiu, num tom amoroso. Ele não tirava os olhos do campo. Não tirava os olhos de .
— Está encarando minha irmã, ? — perguntou , com a sobrancelha arqueada. — Ela tem namorado, hein. — Sim, tinha um namorado, mas aquilo não importava agora.
— Eu sei. Eu sei. — Espantou os pensamentos e suspirou novamente. — Não é isso, … Ah, esquece. Vamos ver o jogo — concluiu, seco. não gostava do namorado da . também não. Na verdade, ninguém gostava, nem mesmo a .
O treinamento prosseguiu normalmente. fez defesas incríveis, como sempre, e provocou o grito da torcida que gritou seu nome. A torcida, em questão, era o time masculino. O treino acabou por volta das 17h30. não pôde ficar até mais tarde treinando defesas, pois o treinador do time masculino queria falar com todos. Ele veio com uma proposta de unir os dois times, pelo menos na parte dos treinamentos, já que ambos estavam tendo problemas com os horários de reserva do campo (o ginásio era exclusivo dos times de basquete e vôlei). Resolveram, amigavelmente, treinarem juntos. O aquecimento e treinamento de jogadas seria cada um de um lado do campo e depois um recreativo misturando as equipes. Todos os jogadores gostaram da ideia. Os rapazes respeitavam as garotas, sabiam muito bem que elas jogavam muito e que conquistavam muitos títulos para a instituição. Eram uma das favoritas para ganhar o título interescolar daquele ano. sempre era eleita a melhor defensora. Ninguém passava por ela, e se passasse, parava nas mãos firmes da Lia. Rachel compunha a dupla de zaga ao lado da . Elas se davam muito bem, mas não eram tão íntimas quanto e Lia. Ela sentia até um pouco de ciúmes por isso. Enfim…
Já em casa, comentou com o irmão sobre a pesquisa de biologia. Ele disse que iria terminar uma resenha, que também era para o dia seguinte, e que em seguida a ajudaria, e a Lia também, via Skype. Eles fizeram o trabalho, se despediram e foram descansar. e Lia continuaram online no Skype conversando.
— Será que tenho chances com seu irmão? Sei lá, algum dia desses… — questionou Lia.
— Creio que sim, amiga. Meu irmão é um idiota. Ele é gentil e tal, mas para notar que uma mulher gosta dele é um sacrifício. Basicamente, você terá que desenhar para ele — disse e ambas riram.
— Pois é… — disse Lia, ainda rindo. — E você, amiga? Como está com o Brian? — Brian era o namorado da . Ela suspirou ao ouvir o nome dele.
— Não sei… eu quero terminar com ele. Não aguento mais os ataques de ciúmes que ele tem — ela disse, enquanto amarrava o cabelo num coque alto. — Acredita que ele estava lá no treino hoje e não gostou de ver o lá torcendo por mim?
— Nossa… Que babaca. — Lia sempre aconselhou a amiga a terminar o namoro. Até porque ela sabia dos sentimentos que tinha pelo . Sentimentos esses que não conseguiu ainda identificar, mas que, para os outros (menos para o ), eram óbvios demais. — Sabe o que eu penso sobre o Brian, né? — apenas concordou com a cabeça e suspirou. — E sabe também o que eu penso do , né? — a encarou e revirou os olhos. — Não me olhe assim, está na cara que você gosta dele.
— Claro que gosto! Ele é meu amigo, sua idiota! — disse, impaciente.
— Blábláblá… está ok, . Fingirei que acredito. — Dessa vez foi Lia quem revirou os olhos. — Vamos dormir, temos que acordar cedo amanhã, mocinha. Te amo, ok? — a moça disse, se ajeitando na cadeira.
— Também te amo, sua insuportável. — soltou um beijinho para a câmera e desligou.
No dia seguinte, acordou e foi tomar seu banho. Se arrumou e desceu para tomar café. Após comerem, os irmãos foram para o carro a caminho da instituição. Se despediram e foram para suas salas. Chegando à sala, foi recepcionada pelo namorado, que parecia estar irritado. E estava. colocou seus livros na mesa e sentou-se. Brian caminhou até ela.
— Já falei para ficar longe daquele cara, não falei? — ele chegou, dizendo sem nem mesmo dar “oi” para ela. Brian era da mesma série que ela, porém de outra turma.
— Bom dia, Brian, tudo bom? — disse debochada. Ela abriu um dos livros e o folheou. Brian o pegou e jogou longe, o que atraiu a atenção dos demais alunos. — Para com isso, agora! — disse , entredentes, se levantando e o encarando.
— O que ele estava fazendo lá ontem? Paquerando você? Aposto que sim! — falou irritado.
— Não te interessa saber, Brian. Agora, sai daqui… agora! — falou , com o olhar fixo nele. — Ou quer que eu mesma te tire daqui? — Ela já fez isso uma vez. Em uma das crises de ciúmes do Brian, ele foi à sala dela berrar. Ela apenas o levantou pela gola da camisa, o empurrou e começou a chutá-lo. Todos ficaram rindo dele, ele se irritou e saiu correndo.
— Não precisa fazer isso de novo, … — Ela odiava ser chamada pelo nome. Respirou fundo e arqueou a sobrancelha. — Depois a gente conversa.
— Não temos nada para conversar. Tchau — ela disse e sentou-se novamente em sua cadeira. Voltou a folhear o livro, um dos alunos o pegou e colocou de volta ali.
Lia sentou-se na cadeira em frente à dela, como sempre. Ela estava de longe vendo toda a cena, pronta para se meter, caso precisasse. Brian era ciumento, agressivo verbalmente, ele nunca chegou a encostar um dedo na . e sabiam que ele era daquele jeito. Avisaram a várias vezes, pediram para ela terminar esse namoro de uma vez. Mas ela nunca quis. Sempre empurrou o namoro com a barriga, sempre focada nos estudos e na carreira como jogadora. Ela estava estudando para fazer Educação Física na universidade no ano seguinte e, claro, continuar como jogadora do time feminino de futebol. O objetivo dela era defender seu país, algum dia, como profissional.
Após as aulas, iniciou-se o treino de futebol das garotas, e agora, dos garotos também. Era o primeiro dia da união dos treinamentos. Ao chegarem lá, as garotas já encontraram o campo dividido e arrumado para treinarem. cumprimentou os rapazes, que retribuíram, e foi se aquecer. A todo momento, ela disfarçava e olhava para o outro lado do campo, à procura do . Curiosamente, ele fazia o mesmo, à procura dela. Algumas vezes, seus olhares se cruzaram, causando constrangimento em ambos. Na hora do jogo recreativo, nos últimos quarenta minutos de treino, e ficaram em times rivais. Lia caiu como goleira no time do , ela adorou isso. Em um dos lances de ataque do time do , acabou acontecendo um pequeno acidente de trabalho. corria com a bola dominada, livre de marcação, , irritada com a falta de atenção dos companheiros, foi lá e dividiu o lance com ele. levantou o pé demais e acabou cravando a chuteira na coxa de . Ela gritou de dor, mas conseguiu cortar a bola para longe. Após isso, ela caiu no chão e pôs a mão na coxa. ficou preocupado e pediu desculpas para ela.
— Não tem problema, , lance de jogo. Relaxe — ela falou, sorrindo, mas, por dentro, estava chorando de dor. Sua coxa estava num tom entre o vermelho e o roxo.
— Nossa, está ficando roxo. Desculpa… deixa eu ajudar — ele disse. — Posso? — pediu permissão para pegar na coxa dela. Ela concordou e ele começou a massagear, de leve, a coxa da moça, que se jogou para trás e começou a gemer de dor. — Se estiver doendo muito, me fala. — Ela fez sinal de positivo. Os massagistas da equipe entraram em campo com uma compressa de gelo, porém não chegaram a tempo de ajudar.
— Cuidado, ! — Lia gritou, do outro lado do campo. Ela viu que Brian corria na direção do rapaz. Bastante furioso, Brian já chegou chutando o . O chute pegou em seu braço.
— Ai! — gritou de dor e caiu no chão. levantou o tronco e viu seu então namorado chutar seu amigo.
— Hey, seu imbecil! Para com isso! — berrou .
— FALEI PARA FICAR LONGE DESSE CARA! — Brian berrou de volta.
— Você não manda em mim, Brian! E se você machucar ou ameaçar o mais uma vez, eu não respondo por mim — ela disse furiosa, pondo-se entre , que já havia se levantado, e Brian.
— O que quer dizer? — ele questionou, confuso.
— Quer saber? Chega… acabou tudo, ok? Vai embora! — ela falou, num tom como se estivesse se livrando de um peso enorme das costas. E realmente estava.
— Você está terminando comigo?
— O que você acha, gênio? — Brian não era dos mais inteligentes. Ele era armador do time de basquete da escola e tirava notas péssimas, estava prestes a perder a titularidade do time caso não melhorasse nas notas. Aliás, era um dos motivos dele namorar a , ela o ajudava estudar. O fato era que ele não gostava realmente dela, apenas queria manter a aparência de casal feliz. Ele a chifrando com as líderes de torcida e nenhum outro homem podia se aproximar dela. Isso, para ele, era o ideal. Obviamente, não era isso que queria. — Vai embora, vai — ela disse impaciente.
— Vai se atrever a terminar comigo, sua vadia? — Ele agarrou o braço dela com força. se meteu.
— Não fala assim com ela! — ele disse firmemente e apertou o braço do outro. — Solta o braço dela… agora! — Sem alterar a voz, ordenou. Brian obedeceu, contrariado, e foi saindo.
— Isso não ficará assim, . — Apontou o dedo para ela e saiu andando irritado. — Não vai!
— Você está bem? — perguntou. Ela apenas disse que sim com a cabeça.
— Seu braço? Machucou… me desculpa por isso — ela disse, ao ver que o braço do rapaz estava com um machucado.
— Não é culpa sua, minha querida — ele falou, carinhoso. Ao perceber que a chamou de minha querida, ele sacudiu a cabeça e pigarreou. — Quer dizer… Bom, não é sua culpa, . Relaxe. Você se livrou de uma furada — ele concluiu, sorrindo.
— É… — Ela sorriu encabulada. Aquela frase “minha querida” estava ecoando em sua mente.
Após o ocorrido, o treino terminou mais cedo. fez um tratamento rápido com gelo na coxa. Nada grave com ela. também foi medicado. Ficou tudo bem no final. Já em casa, e seu irmão tiveram uma conversa no quarto dela.
— , eu estou cansada, por favor, vamos conversar depois, ok? — disse, após jogar sua mochila e a bolsa de treino no chão do quarto. Ela se jogou na cama com o rosto para cima.
— Mas nós vamos conversar, sim. Já passou da hora — ele falou nervoso, fechou a porta e cruzou os braços. — Acha que vou aturar esse namoro com aquele marginal do Brian? Não mesmo… — falou o rapaz, fazendo com que erguesse o corpo e o encarasse.
— Ah, , por favor. O Brian é um idiota, eu sei disso. Esse namoro é só uma fachada — ela disse, como se fosse algo normal ficar com uma pessoa que a desprezava. Para ela não era normal, mas ela estava acomodada demais para pensar nisso.
— Justamente por isso que você deve terminar com ele. Você viu o que aconteceu hoje. Mana… — ele falou e sentou-se ao lado dela, pegando em suas mãos. — Não deixe que algo ruim aconteça para que você se afaste dele, por favor — suplicou . Ele estava preocupado de o Brian agredir sua irmã. E, pelo andar da carruagem, isso não tardaria a acontecer.
— Eu não vou deixar, ok? Não se preocupe, eu vou dar um fim nisso — ela disse, sorrindo para ele. Ela já estava decidida a terminar, só estava acomodada a fazer. — Vou falar com ele amanhã e acabar de verdade com esse namoro. De uma vez por todas.
— Tudo bem, maninha. — abraçou a irmã com carinho.
Ambos foram dormir. Nesse mesmo instante, na casa do , ele estava deitado em sua cama, pensando na . Pensando nos sentimentos que tinha por ela e se algum dia ele teria coragem de falar sobre. Pensou também naquela cena de ciúmes desprezível que o Brian fez mais cedo. Seu braço ainda doía do chute que recebeu. Ele queria saber como ela estava. Queria saber também o porquê de ela não terminar logo esse namoro. Queria saber também quando teria coragem para contar para ela que a amava, que queria fazê-la feliz e ser feliz ao seu lado. Suspirou irritado e adormeceu.
No dia seguinte, acordou, tomou banho, se arrumou e foi direto para a universidade. Resolveu comer algo no campus mesmo. Chegando lá, encontrou seu amigo , que estava bastante nervoso. contou para ele da conversa que teve com a irmã na noite anterior e contou também da vontade dela em terminar o namoro com Brian. Isso animou , que demonstrou estar satisfeito com a notícia. Após a aula, como sempre, eles tiveram treino. Para surpresa deles, não apareceu.
— ! — disse Lia, correndo na direção do rapaz. Ele enxugou o rosto com uma toalha e a jogou no ombro. — Você viu a por aí? — ela disse ofegante, aproximando-se mais dele.
— Não. Achei que ela estivesse com você, Lia — respondeu, sem entender. nunca faltou a um treino na vida.
— Ela não apareceu desde a volta do intervalo. Estou preocupada — disse a moça, apreensiva. — Ela disse que ia conversar com o Brian, terminar tudo com ele, dessa vez para valer. Tenho medo de que ele tenha feito algo contra ela — completou.
— O quê? — disse nervoso. — E onde ele está?
— Ele também sumiu. Ah… — ela suspirou nervosa. — Minha esperança era dela estar com você, ! Meu Deus, temos que achá-la.
— ! Espera! — gritou . Nesse momento, saiu correndo em uma direção qualquer. e Lia se entreolharam e foram atrás do rapaz. Explicaram por alto para seus treinadores, que os liberaram.
e Lia procuraram e por todo o campus. Sem sucesso. Tentaram ligar para ambos, mas também não atendiam. O celular da só dava fora de área e o não atendia as ligações. Enquanto isso, na casa do Brian, mais precisamente no porão da casa, acordava após ter sido atacada pelo então namorado. Ele estava furioso ao saber que terminou o namoro.
— Você sabe que isso não vai durar muito, né? — disse furiosa e ainda um pouco tonta por causa da pancada que levou. — Pois, quando eu me soltar daqui, e eu vou me soltar, eu acabarei com você — falou entredentes.
— Por isso mesmo que está amarrada. Nervosinha do jeito que é, capaz de fugir daqui — ele disse, andando de um lado para o outro. Temia que seus pais descobrissem o que ele fez.
— Por que não me solta, hein? — falou irritada, mas ainda tentando manter a calma para ele não surtar e tentar machucar ela. — Me solta e eu não te denuncio para polícia. — Tentou negociar sua liberdade. Em vão.
— Você não vai sair daqui até que reconsidere voltar para mim — berrou o rapaz.
— Ah, mas isso não vai acontecer. Nunca. Nem que você fosse o último homem da galáxia — falou debochada. Enquanto distraía ele, ela estava cortando a corda que a amarrava na madeira de sustentação do porão. Ela sempre guardava consigo um canivete, dentro da calcinha, para situações de perigo como essa. O canivete foi presente de seu irmão.
— Então você vai ficar aí. Presa. Até voltar para mim — berrou novamente, irritado. Segundos depois, ele virou-se de costas para ela. Pior erro. Levou um chute nas partes íntimas. Isso fez o rapaz curvar-se de dor. — AH!! QUE DROGA, !
— Isso é para você aprender que não se mexe com . Nunca! — ela falou e guardou seu canivete no bolso. Subiu as escadas e saiu dali. Passou pela sala, onde os pais do Brian estavam. — Olá… é, desculpem por isso — desculpou-se, pois a sala estava cheia de convidados dos pais dele, que davam um jantar com amigos. Ela explicou rapidamente o que houve e disse que chamaria a polícia.
— Não se preocupe, , deixa que eu chamo a polícia — disse o pai de Brian, irritado com a atitude do filho. — Esse moleque vai aprender, nem que para isso tenha que ficar preso — falou. Ela sabia que o pai dele jamais admitiria tal violência. O pai do Brian adorava a e sabia do jeito que o filho a tratava.
— Obrigada, senhor.
— Quer uma carona para casa? — ofereceu o homem.
— Não precisa. Vou ligar para meu irmão — ela disse e saiu da casa.
ligou para , que atendeu apreensivo. e Lia estavam na casa dele para esperar por notícias dela. Rapidamente eles chegaram até a casa do Brian. Puderam ver ele sendo levado por policiais, que pediram para que os acompanhassem até a delegacia, para formalizar a denúncia. Ela disse que precisava se recuperar do susto, eles, então, pediram para que ela fosse no dia seguinte, mas asseguraram que Brian ficaria preso até lá. foi o primeiro a descer do carro e correr para abraçar . Ela não soube direito como reagir, apenas deixou que ele a abraçasse. E o abraço dele foi forte. Ele sentiu medo de ter perdido ela. De que algo ruim acontecesse. Teve muito medo.
Alguns dias passaram. Brian continuava preso. o denunciou por agressão e cárcere privado. Além de ameaça, pois ele a ameaçou de morte várias vezes. voltou à sua rotina e se aproximou bastante do desde então. Lia e também estavam próximos um do outro. Saíram várias vezes, mas não se beijaram ainda. e conversavam todas as noites pelo Skype e durante o dia eles se viam o dia todo. Um grude.
O pai de insistiu para que o rapaz o acompanhasse numa viagem que faria para fora do país. bateu o pé e disse que não iria. Mas não teve a mesma sorte da irmã e teve que viajar com o pai e a mãe para fora do país. ficaria sozinha em casa por quase uma semana. Antes de viajar, pediu para e Lia ficarem de olho na irmã. Não deixem ela tocar fogo na casa!, disse , antes de embarcar no avião com os pais.
Na sexta-feira, um dia após a viagem dos pais e do irmão, se viu sozinha durante uma das poucas coisas que a deixa apavorada na vida: tempestade. Bem, não era bem uma tempestade. Caiu uma chuva forte naquela noite: relâmpagos, trovões e um vento muito forte. tinha pavor disso. Sempre que chovia assim, a acolhia num abraço e permanecia assim até que o tempo ruim passasse. Nesse dia, ela combinou com e Lia para irem lá e comer uma pizza, ver uns filmes e beber algo. Lia não pôde ir, pois teve que fazer um trabalho extra, por causa de uma punição que recebeu do professor de Física. Então, somente apareceu na casa da .
— Oi, — disse, ao atender a porta. Ela estava enrolada num lençol, assim se sentia protegida de alguma forma.
— Oi — ele disse, com um sorriso no rosto, tentando entender por que ela estava enrolada daquele jeito. Nem estava tão frio assim. — Cadê a Lia? — perguntou, ao perceber que estavam sozinhos.
— Ela teve que fazer um trabalho de última hora para entregar segunda-feira — falou a moça, olhando para os lados e se assustando com cada trovoada que dava.
— Ah, normal. Tinha que ser a Lia — disse, rindo. Ele já conhecia a fama da Lia de sempre fazer besteira durante as aulas e ter que fazer trabalhos extras por causa disso. notou que dava pulinhos com os ombros cada vez que dava uma trovoada. Ela estava respirando ofegante. — Você está bem? — questionou preocupado.
— Estou. Estou sim, . Vamos… Vamos comer? — ela disse, tentando disfarçar.
já sabia que ela estava com medo. Ele a conhecia bem, sabia que ela jamais admitiria estar com medo. Não para ele. Sabia também que ela era tirada a durona e que não iria se passar por “fraca” na frente dele. Claro que não acharia isso dela. Ele até achava fofo ela ter esse medo, assim como ele tinha medo de formigas. Pois é… Cada um com seus medos. Um outro medo que tinha era de nunca ter coragem de dizer o que sentia por ela. E nunca lhe faltaram oportunidades de falar. Dois anos desse sentimento guardado no peito, apenas soltando pequenos vestígios dele por aí. Demonstrando o mínimo de sentimento possível. Essa era a vida do .
Algumas horas depois, a tempestade continuava, cada vez mais forte e cada vez com mais trovoadas. E estava cada vez com mais medo. Sempre que tinha tempestades como esta, se abrigava nos braços do . Infelizmente, seu irmão estava viajando e ela não tinha tanta coragem para pedir algo assim para o . e foram dormir, foi para o quarto do e para seu quarto. Uma hora depois, ainda não havia dormido. Os quartos eram lado a lado e ele conseguiu ouvir os choramingos da moça, que chorava de medo. Ele se levantou e foi até o quarto dela. As luzes estavam acesas e a porta entreaberta. O rapaz entrou e viu um monte de lençóis que cobriam a . Ele soltou uma risadinha nasal e aproximou-se.
— ? — Chegou perto da cama e ouviu ela chorando. — , você está com medo? — perguntou e ela jogou os lençóis para trás e o olhou furiosa.
— Eu não estou com medo! — gritou, levantando-se com o dedo apontado para ele. Nesse mesmo instante, uma trovoada forte assustou-a, que deu um grito de pavor. [n/a: Uma nota rápida: eu não tenho medo de trovoada, mas achei legal que a PP tivesse. Só para ter um motivo para agarrar o pescoço do PP, claro]. — AAAAAAAA! — Ela pulou da cama e abraçou com toda a força.
— Calma, eu estou aqui com você — falou, numa voz mansa, tentando acalmá-la. Pôs a mão em seus cabelos e acariciou. — Está tudo bem agora, . — Continuou as carícias, enquanto a jovem apenas chorava com as mãos apoiadas no tórax do rapaz.
a conduziu até a cama, onde a deitou e voltou a abraçá-la carinhosamente. Aos poucos, foi se acalmando. Ele começou a cantar a música favorita dela, a música que ele sabia que iria acalmá-la, caso cantasse. Ela fechou os olhos com força, não tinha coragem de olhar para ele. Estava com vergonha pelo ataque de medo, temia que ele pensasse que ela era fraca. Ele fazia carinho em seus cabelos, enquanto cantava. Minutos depois, adormeceu. Eles estavam de frente um para o outro. Logo, também dormia. Pelo menos naquela noite, não se importou que alguém, além de seu irmão, a visse naquele estado de medo. E, pelo menos naquela noite, eles não se importaram com mais nada além de sentir a companhia um do outro.
De madrugada, acordou agitada. Ela estava com falta de ar. Ninguém sabia, na verdade só seu irmão, que ela tinha falta de ar. Tinha medo de que, caso descobrissem, a tirassem do time de futebol. Ultimamente, ela vinha tendo mais crises de falta de ar do que antes. ficou angustiado ao ver que ela estava com dificuldades de respirar. Perguntou, a todo momento, o que ele poderia fazer para ajudá-la. Ela não conseguia falar direito. Pediu, com dificuldade, para que ele a abraçasse. Ele o fez e aos poucos ela foi se acalmando e conseguiu puxar o ar para dentro dos pulmões com mais facilidade. Parecia que estar ao lado dele lhe fazia bem, afinal.
— Por que não conta para alguém sobre isso, ? — perguntou, ela já estava mais calma.
— Não posso, — explicou. — Podem me obrigar a sair do time e eu não quero isso. Aliás, o futebol tem me ajudado a melhorar esse problema — concluiu, ainda respirando com certa dificuldade.
— Entendo. Você tem que se cuidar… — falou preocupado. — Você tem essas crises sempre?
— Ultimamente tenho tido mais do que gostaria. — Respirou fundo e se ajeitou na cama. Ainda chovia forte lá fora. — Desculpa qualquer coisa, . Certeza de que tinha coisa melhor para fazer hoje do que ficar aqui comigo — falou, sem graça, supondo ela que teria festas para ir àquela noite, sendo que ele deixou de sair com outras pessoas para ficar com ela. E ele não se importava de ficar. Preferia, até.
— Não precisa se desculpar por algo que não existe, . — Sorriu o rapaz. — Eu adoro ficar com você, aliás, mesmo se eu tivesse compromisso, desmarcaria só para ficar com você. É sempre um prazer imenso ficar com você. — Ao terminar de falar, se viu ofegante, pois estava muito próximo da . O cheiro dela anestesiava o rapaz. Ela também se viu ofegante, ele estava muito perto. A boca dele estava muito perto.
— … — sussurrou , ele não disse nada. O rapaz se aproximou mais da garota, que olhava a feição dele na luz dos relâmpagos. Ele uniu seus lábios devagar, um beijo leve, suave e com muito amor envolvido. Ao fim do beijo, o rapaz engoliu em seco e respirou fundo. Ela o olhava um pouco confusa e sem graça.
— Desculpa… — disse ele, também sem graça.
— Não, não precisa, — ela falou, o que surpreendeu o rapaz. — Eu gostei — disse sem graça e abaixou o olhar. Ela tinha um sorriso inocente nos lábios. sorriu também. Toda vez que sorria assim, ele tinha vontade de abraçá-la e não soltar mais.
Ambos decidiram dormir e não falar muito sobre o beijo, pelo menos não naquele momento. No dia seguinte, o tempo havia melhorado, o Sol estava a pino no céu. deu a ideia de eles irem fazer um piquenique no parque, no centro da cidade. Lia, para surpresa de todos, já tinha terminado seu trabalho extra e também foi convidada a ir com eles. Durante todo o caminho para o parque, e não mencionaram nenhuma palavra sobre o beijo, como se não tivesse acontecido. Tiveram um dia muito agradável. Comeram os sanduíches que preparou, sanduíches esses que adorava. Lembrou de quando comia ao fim do treino, quando era mais nova. Sempre que tinha treino do time infantil, e iam ver a jogar e levava sanduíches para ela comer quando terminava tudo. Ela adorava vê-lo. E ainda adorava sua companhia.
Alguns dias se passaram. e os pais já estavam de volta à cidade. Eles chegaram em casa e foram recepcionados pela , que os aguardava na porta. correu para abraçar os pais e o irmão, sentiu muita falta deles nesse período que ficou sozinha, apesar de ter amado a companhia do . Eles entraram e contaram da viagem para . brincou e fingiu surpresa ao ver que a irmã não tinha colocado fogo na casa. Tiveram um jantar agradável de reencontro familiar. Enquanto isso, estava em sua cama, deitado, pensando no beijo que deu na . Pensando nos momentos que tiveram juntos, apesar de terem sido poucos, na visão dele. Se dependesse dele, ele jamais sairia do lado dela. Jamais.
Finalmente começou o campeonato interescolar de futebol feminino. O time da era um dos favoritos a ganhar. Como capitã, ela estava muito concentrada e confiante na capacidade de sua equipe. e acabaram saindo algumas vezes e meio que estão namorando, mas nada oficialmente. Eles saíram, se beijaram em todas as vezes que se viram, passam mais tempos juntos do que com os amigos e família… Porém, eles não falaram em namoro nem nada do tipo, apesar de todos os tratarem como casal.
estava no vestiário terminando de se arrumar para o jogo. Antes de subirem para o campo, pediu para o treinador para falar algumas palavras de incentivo. Após o discurso, todas a aplaudiram e elas foram para o campo. O primeiro jogo do campeonato seria contra o maior rival delas, onde jogava a jogadora que odiava a : Samira. Ela e já foram amigas na época de escolinha de futebol, porém a rivalidade delas iniciou-se logo. Disputa de posição de destaque na equipe. Samira era atacante, goleadora, sempre foi o xodó de todos os treinadores. Mas sempre teve liderança nata e isso incomodava Samira, pois ela queria total destaque, inclusive a braçadeira de capitã, que, por motivos óbvios, era da . Ao entrarem em campo, logo pôde ver sua rival a fitando com raiva. rolou os olhos e a ignorou. Por birra, Samira era a capitã de sua equipe. Seu pai era rico e patrocinava sua equipe, por isso exigiu que sua filhinha querida fosse a capitã. A partida iniciou-se e ambas as equipes começaram atacando bastante, com muitas faltas. Isso era comum nesse confronto: muitas faltas e brigas. Em um lance de escanteio, Lia saiu para defender a bola aérea, porém dividiu o lance com Samira. O juiz do jogo apitou falta de ataque da Samira, que ficou bem irritada, levou cartão amarelo por isso.
— Você ficou louca? Olha o que fez com a Lia! — esbravejou, irritada. Samira tinha o dom de irritar somente com sua presença. Lia estava no chão, rolando de dor nas costas, e foi atendida rapidamente pelos médicos da equipe.
— Ela que se meteu em meu caminho. Eu ia fazer o gol! — esnobou Samira, virando as costas pra .
— Imbecil! — gritou , se segurando para não bater na garota arrogante à sua frente. A outra ignorou e saiu andando. — Você está bem, Lia? Consegue continuar? — perguntou para a amiga.
— Acho que sim. Ahhh, ainda dói aquela lesão — gemia Lia.
— Não acha melhor sair? Para não piorar a lesão… — disse um dos médicos.
— Ele tem razão, Lia. Eu jogo no gol. — Infelizmente a equipe não tinha uma goleira reserva, então, quando Lia não podia jogar, entrava em seu lugar.
— Está tudo bem, amiga, eu consigo jogar. O jogo já está acabando. — Realmente, faltavam apenas quinze minutos para o fim do jogo. O time delas estava ganhando por 1 a 0.
— Ok, então. Tenha cuidado! — falou o médico e saiu do campo.
— Vou fazer sua cobertura, ok? — disse . A amiga piscou para ela e sorriu.
O jogo reiniciou. A equipe rival estava doida para empatar o jogo, então, nesses últimos minutos, só deu ataque delas. não deixou a bola chegar a Lia, para que a amiga não forçasse as costas. O próximo jogo delas seria em duas semanas, por conta das provas nas escolas, então daria tempo para recuperar a lesão. O restante da defesa também ajudou Lia a não ter trabalho. Em um lance, o último da partida, Samira havia dominado a bola na linha do meio-campo e veio carregando até a defesa adversária. Ninguém a parou. , irritada com a negligência das companheiras, tomou uma atitude que não gostava muito. Ela deu um carrinho na bola, que saiu em lateral. Samira saltou antes de ser atingida, mas, ao pisar no chão, pisou também no tornozelo da . Ela berrou de dor. Vendo que havia atingindo a , Samira foi e pisou novamente, por pura maldade. O juiz não viu, nem o bandeirinha, mas todas as companheiras de equipe dela, até as do banco de reservas, viram e gritaram para o juiz. Ele ignorou e apenas advertiu verbalmente a Samira para que tivesse mais cautela. gritava de dor. e , que estavam na arquibancada vendo o jogo, levantaram e gritaram para o campo. desceu até a beira do campo para ver a “namorada/crush”. o acompanhou.
— Sua vaca! — gritou Lia, ao aproximar-se da amiga e da Samira. — Você fez de propósito, sua filha da puta, você pisou no tornozelo dela!
— Jamais faria isso. Cala sua boca, garota — disse Samira, desdenhando. O juiz apitou o fim do jogo e houve muita reclamação da equipe da . Enquanto isso, ela ainda estava caída sentindo muita dor.
— Você está bem, amiga? — disse Lia.
— Não, está doendo muito. — chorava, enquanto segurava o tornozelo para não mexê-lo involuntariamente.
— … — disse , aproximando-se. — Nossa, está ficando inchado. — O tornozelo dela começou a inchar por debaixo do meião.
O médico da equipe a ajudou a se levantar. A maca deles estava quebrada e a nova ainda não havia chegado. O médico e a levaram para o vestiário. Com cuidado, o médico tirou a chuteira dela, depois o meião foi cortado para não agravar a lesão. Ao retirar o meião foi que se pôde ver o inchaço do tornozelo dela. Estava feio. chorava muito. ficou o tempo todo ao seu lado. Lia estava sendo ajudada por a colocar uma espécie de cinta com gelo nas costas, para aliviar as dores que sentia. O treinador ficou bastante preocupado com as duas, machucadas logo na primeira partida. A sorte era que elas tinham tempo para se recuperar das lesões e jogar a próxima partida. foi levada para o hospital para fazer exames. Foi constatada uma lesão leve nos tendões, teria que ficar de molho uma semana, mais uma semana para recuperar o condicionamento físico.
ficou o tempo todo com ela, cuidando para que seguisse as orientações médicas. ajudou Lia a fazer o mesmo, a lesão de Lia era mais preocupante, pois, mesmo com as sessões de fisioterapia, as dores voltavam. Lia não queria ficar de fora da competição, ela sabia que o treinador ia querer tirá-la por isso, para não a perder para sempre dentro do campeonato. O médico foi bem claro quando disse que ela precisaria ficar fora dos campos por um tempo para cuidar da lesão. Já , estava recuperada. Sentia poucas dores e somente após fazer muito esforço.
Os dias se passaram e voltou a treinar com as colegas de equipe, enquanto Lia fazia um trabalho de recuperação da lesão. O time das meninas foi avançando na competição e chegou às semifinais, mesmo dia em que a Lia já estava totalmente recuperada. O time dos rapazes também avançou até as semifinais em sua categoria. Antes dos jogos, todos se reuniram para comemorar o feito. Todos ficaram bem amigos.
— Vem, , senta aqui do lado! — gritou Chuck para a garota, que vinha acompanhada do irmão e da Lia ao seu lado. Oficialmente, Lia e estavam namorando, para imensa felicidade da Lia.
— Cadê o ? — Foi a primeira coisa que perguntou, ao perceber, depois de uma rápida olhada, que o rapaz não estava na mesa. Eles foram jantar em um dos restaurantes mais populares da cidade para comemorar a chegada dos times às semifinais do interescolar. — Não estou vendo ele.
— Já, já ele chega — disse Chuck e, em seguida, falou: — Ih, olha ele vindo aí. — Apontou o rapaz para direção em que vinha caminhando. acompanhou com o olhar e viu vindo. Sorriu ao ver que ele se sentou ao seu lado.
— Boa noite, pessoal! — falou ele educadamente para todos presentes. A mesa estava lotada com ambos os times. — Oi, — ele disse, sussurrando para a garota.
— Oi, — respondeu ela, meio sem graça. O jantar começou e todos comiam empolgados. Durante a sobremesa, todos conversavam entre si. Foi então, aproveitando o barulho na mesa, que aproveitou para cochichar algo com a , mas ela não o ouviu. — Oi? — perguntou ela. Ele então aproximou-se mais do ouvido dela e repetiu a pergunta que havia feito.
— Eu estava pensando, , se você não gostaria de ir comigo ao parque de diversões esse final de semana? Já que não teremos jogo... — ele disse timidamente e um pouco ofegante. Ele nunca ficou tão nervoso para chamar uma garota para sair. Ela surpreendeu-se com o pedido dele, mas logo respondeu.
— Seria ótimo, ! — Por um instante, o coração de se encheu de alegria com a reposta dela, mas... — Lia estava doida para ir ao parque de diversões. Podemos ir todos juntos! — ... ao completar a frase, estragou a então alegria que sentia.
— É, seria legal, sim. Vamos todos, então! — ele falou, mais para não magoar a , porque se dependesse dele, somente e ele iriam ao parque naquele sábado.
— Lia! — chamou a atenção da amiga, que estava bem à sua frente na mesa. ao seu lado. — Querem ir ao parque de diversões sábado? — questionou. — deu a ideia! — completou a frase. Lia e olharam para , que manteve sua indignação disfarçada por trás do sorriso que exibiu no rosto.
— Seria ótimo, mana! — falou animado.
Eles combinaram de se encontrar na casa dos e irem todos juntos. No sábado, se arrumou para ir ao parque de diversões e logo estava pronta na sala, aguardando por seu irmão.
— Anda, ! Daqui a pouco eles chegam e você ainda está no banho! — gritou a garota do rol da sala em direção à escada que levava aos quartos no andar de cima.
— Eu já estou quase pronto, espera aí! — gritou de volta. revirou os olhos com a demora do irmão. A campainha tocou. Era Lia, que chegou acompanhada do .
— Olá! — disse animada. — Me desculpem, mas meu querido irmão vaidoso ainda está se arrumando — ela disse, fazendo os outros rirem. pediu para ir ao banheiro e deixar as garotas sozinhas na sala. Assim que o rapaz saiu, Lia agarrou o braço da amiga.
— Você ficou louca? — Lia disse entredentes.
— O que eu fiz? — questionou a outra, um pouco assustada com a atitude da amiga.
— O queria sair só com você e a bonita vai lá e me chama junto com o para ir também. Sua tonta! — ela disse indignada. fez uma cara de interrogação muito cômica, mas Lia não riu. A olhou seriamente. — ! O me contou que o finalmente havia tomado coragem de chamar você para sair, para conversarem, e você estraga tudo. Aff, ! — completou sua indignação.
— Sério? Mas... — ela ia começar a falar, mas havia voltado. Lia soltou o braço da amiga e, nos poucos minutos que ficaram na sala, lançou para vários olhares significativos. Catou o celular e digitou uma mensagem para a amiga. “Vai ter uma hora que e eu sairemos e deixaremos vocês à sós. Aproveite! Sua tonta!”, lançou um olhar de “NÃO, NÃO FAÇA ISSO!”, para a outra, mas logo recebeu outra mensagem: “Foda-se. Não me olhe assim. Já combinei com o . Kisses!”.
— Cheguei! — A voz de interrompeu o olhar de repulsa que lançaria para amiga. — Vamos, então? — perguntou o rapaz. Todos acenaram que estavam prontos e logo todos foram para o carro.
Lia e foram na frente, com dirigindo, enquanto e foram no banco traseiro, ambos em silêncio, a não ser na hora em que disse que estava linda de cabelos soltos (normalmente ela os usava presos num rabo de cavalo ou num coque folgado no topo da cabeça). Na mesma hora a garota corou e o silêncio se instaurou no banco de trás daquele carro. Lia e foram conversando durante todo trajeto. Ao chegarem ao parque, estacionaram e foram logo entrando e passearam um pouco pela parte principal do lugar.
— Olha lá, mini-dogs! — disse Lia empolgada. Mini-dogs era um mini cachorro-quente que Lia achou muito fofinho (pois ele vinha numa embalagem que lembrava um cachorro) e quis um. comprou para todos. comeu o dela numa só bocada, fazendo rir e engolir o seu da mesma maneira.
— Você quer ir a algum brinquedo, ? — disse , após alguns minutos andando pelo parque, de repente, muito próximo do ouvido dela, fazendo com que a moça se arrepiasse e saltasse de susto. — Desculpe, te assustei? — ele disse com a voz suave.
— Não, assustou não, — respondeu ela, seu coração acelerado dizia outra coisa. — Vamos àquela barraca! — Apontou para uma barraca onde a brincadeira era atirar num painel e derrubar patinhos de vários tamanhos, quem conseguisse derrubar o pato menor levava um urso enorme. E foi justamente nele que mirou.
— Vai lá, , sei que vai conseguir — ele falou, tentando incentivá-la [n/a: t-leader kkkk]. Na segunda tentativa, ela acertou o pato menor e o derrubou. — Parabéns, ! Você é incrível! — comemorou o feito da moça e ela deu um pulo de alegria e um gritinho por ter conseguido acertar.
— Olha que lindão, ! — ela disse, ao carregar o ursão. Ela mal conseguia ser vista por detrás daquele urso enorme de pelúcia. — Vai ficar incrível no meu quarto! — completou ela rindo, feliz por ter conseguido o ursão. sorria com a alegria dela. Às vezes, desmanchava seu lado zagueira brava e dava espaço ao lado meiga e brincalhona que ela tinha. E era nesses momentos que conseguia ver com mais clareza quão maravilhosa ela era, de fato. E o quanto ele a amava.
— Roda gigante, vamos? — sugeriu , após eles irem em inúmeros brinquedos do parque. não reparou, mas Lia e já haviam deixado eles à sós desde que foram à barraca dos patinhos. A diversão ao lado de pareceu distrair a garota.
— Agora! — disse ela empolgada. Já dentro da cestinha do brinquedo, lembrou-se da amiga e do irmão. — Ué, cadê o e a Lia? — deu risada e respondeu, num tom suave:
— Faz horas que eles nos deixaram sozinhos, . Aliás, me mandou uma mensagem dizendo que eles foram ao cinema aqui perto. — abriu a boca, indignada com o abandono dos dois.
— Ingratos! Nós os chamamos para virem ao parque e eles vão ao cinema, nos deixando sozinhos — ela disse, com a cara emburrada. O brinquedo começou a girar.
— É bom assim... eu gosto de ficar à sós com você. — Ele sorriu e ela olhou para ele envergonhada.
— Eu também gosto, ... — pigarreou e se ajeitou na pequena cesta que os levava até o topo da roda gigante. estava muito perto, ela podia sentir o calor que emanava do corpo dele, o que a aqueceu um pouco, pois o tempo lá fora era bastante gelado. Lá do alto, depois da primeira volta completa do brinquedo, ventava bastante e ela se encolheu num abraço em si mesma. — ... — Assustou-se ao perceber que ele repousou seu braço direito em seus ombros.
— Posso te falar uma coisa? — O rapaz estava nervoso. Suas mãos frias, agora sem as luvas que as protegiam antes, estavam assim não só por causa do tempo, mas também por conta do nervosismo que tomava conta dele. Era mais difícil do que ele imaginava...
— Pode — ela respondeu, depois de alguns segundos de delay cerebral.
— Eu estou para te falar isso faz um tempo já, . — Ela, em todo momento em que ele falava, manteve o olhar fixo no vidro da cestinha. Já o olhar de estava fixado num local próximo, entre o vidro e o rosto dela. — Eu adoro sua companhia e adoro o seu jeito. Como eu disse antes: você é incrível! E eu... — Ele hesitou alguns segundos e repreendeu-se por dentro. Fala, ! Pensou ele, obrigando-se a falar o que havia ensaiado horas antes em seu quarto. — Eu... , eu gosto muito de você. — Só agora a moça o encarou. Os olhos grandes que ela tinha o encararam. — Eu quero... quero... eu posso te dar um beijo? — perguntou meio ofegante, ansioso pela resposta. Ela também tinha a respiração descompassada.
— ... eu sou... tem tantas garotas da sua idade, bonitas, mais bonitas que eu... — ela começou a falar, mas ele logo a interrompeu. Num movimento brusco, ele segurou o rosto dela com as mãos frias e o puxou para mais perto do dele.
— Mas nenhuma delas é você, ! Nenhuma delas é nem de longe parecida com você. Eu gosto de você. — Os olhos dela cintilavam de uma forma parecida com a felicidade que ela sentiu ao ganhar seu primeiro título de um campeonato de futebol feminino, ainda pelo juniores de seu colégio. Ela sentia agora a mesma sensação daquele dia. — Sou apaixonado por você, !
— Ah, ... — ela suspirou, não sabendo direito o porquê de ter suspirado. Ele então uniu seus lábios num beijo, melhor do que aquele que deram no dia da tempestade. Ao se separarem, ela tinha uma expressão tão fofa no rosto: um misto de vergonha e felicidade.
— Quer namorar comigo, ? — A pergunta que ele quis fazer desde o início do ano anterior ele finalmente conseguiu fazer. Ela sorriu e ofegava um pouco (ainda efeito do beijo).
— Eu... será que vai dar certo nós dois, ? — perguntou apreensiva. A diferença de idade deles nem era tão grande e para ambos era insignificante. O fato da apreensão da em aceitar o pedido era a opinião alheia, e principalmente a opinião de seu irmão. Namorar o melhor amigo dele... será que ele iria se opor? Ela externou para suas preocupações.
— Não me interessa o que os outros irão pensar, , o importante é o sentimento que temos um pelo outro — ele falou e completou em seguida, ao ver que ela ia falar algo. — E, em relação ao seu irmão... bom, foi ideia dele eu te chamar para sair. — o olhou confusa.
— Ideia dele? — perguntou ela, antes mesmo dele falar qualquer coisa.
— Ele sabe do sentimento que tenho por você há muito tempo. — Ela arregalou os olhos ao saber disso. Realmente ela não fazia ideia de que o era apaixonado por ela. — Então, ele me perguntou se eu realmente gostava de você e o que eu queria fazer com esse sentimento. Foi aí que eu disse que eu pretendo, se você quiser obviamente, namorar você e, quem sabe, perdurar esse relacionamento por alguns anos. Quem sabe até casar. Enfim... — Ele ainda segurava as mãos dela, que agora estavam mais quentinhas por causa do contato. — Aí ele praticamente me intimou a te convidar para sair hoje. Só que era para só nós dois virmos. — Ele sorriu sem graça e ela se lembrou do que Lia havia lhe dito antes deles saírem.
— Desculpa, ... Lia me disse lá em casa que você falou para o que era só para nós dois virmos. E eu com meu bocão chamei todo mundo! Aff, desculpa, . De verdade — desculpou-se e ele apenas sorriu calmamente.
— Relaxe, , no final deu tudo certo. — Ele notou que ela não respondeu à pergunta que havia feito. — Você não me respondeu, ... — Ela sobressaltou-se e pigarreou.
— Aceito. Aceito, sim, ! — respondeu finalmente e deu um abraço nele. Aspirou seu cheiro e se sentiu confortável naquele abraço quentinho. A roda gigante parou de girar e o carrinho balançou. Já estava na hora deles descerem. — Vamos? — ela disse e ele concordou com a cabeça, levantou-se e saiu primeiro. Estendeu a mão para ajudar ela a sair.
— Quer ir aonde agora? Minha linda namorada! — Ela riu e corou com o “minha linda namorada”.
— Quer comer algo? Estou com fome! — falou, sorrindo. Fazia algumas horas que não comiam nada.
e foram comer um sanduíche que serviam no parque. Um baita sanduíche enorme, com muito queijo e carne. Passaram o caminho todo, o restinho da tarde, de mãos dadas e davam alguns selinhos às vezes. Antes de irem embora, encontraram e Lia no estacionamento. Os dois comemoraram com gritos de viva e pulos de alegria ao verem e de mãos dadas. Praticamente obrigaram os dois a se beijar para confirmar que estavam mesmo namorando.
— Ahhh, Lia, para, sua idiota! — reclamou , após o nonagésimo pedido de beijo. — Vou parar de te cobrir nos jogos! — ameaçou ela, o que fez Lia parar de pedir selinhos dos dois. riu da situação e eles foram para casa. deixou Lia em casa e depois seguiram para casa dos . queria passar mais um tempinho com a namorada.
Ficaram namorando na varanda, enquanto era intimado, dentro da casa, para ir à um jantar de negócios com o pai, que, por algum milagre, estava em casa naquele horário. Até nos fins de semana ele costumava trabalhar. A mãe do rapaz ficou feliz em saber que a filha estava namorando o melhor amigo do filho mais velho. já era de casa, desde pequeno, então ela o conhecia bem. Ficou mais aliviada em saber que ela não estava mais com o Brian, “Rapazinho estranho, ele. Não gosto dele, filha...”, a senhora sempre comentava com a filha, que nunca negou a estranheza e brutalidade do ex namorado.
Os dias se passaram e os jogos das semifinais interescolar finalmente chegaram. Pela manhã, os rapazes jogariam e, pela tarde, seria a vez das meninas. mal dormiu à noite de tanta ansiedade. Seria o primeiro jogo da volta da amiga Lia para o gol da equipe. Durante esse tempo, estava jogando no gol. Na manhã do jogo, acordou, após ter dormido pouquíssimo tempo, e foi logo se arrumar para assistir à partida dos rapazes. Já no campus, no vestiário masculino, e se arrumavam para a partida. A torcida para que eles vencessem a partida era grande, era o time favorito de muita gente da região, até mesmo àqueles que não faziam parte da Universidade deles.
Durante a partida, e trocaram várias jogadas e tentaram por diversas vezes marcar gols, sem sucesso. O goleiro adversário era muito ágil. Quase no fim da partida, quando estavam quase indo aos pênaltis, os rapazes começaram uma jogada ainda no campo de defesa, tocaram a bola para o , que a carregou dominada até a linha de fundo, cruzando em seguida para dentro da área; cabeceou, mas o goleiro rebateu para a linha lateral, porém, antes da bola sair, a pegou, dominou e cruzou novamente para a área, na intenção de algum companheiro a cabecear; mas a bola foi certeira direto para dentro do gol, marcando assim um golaço que levou a arquibancada ao delírio. berrou de alegria ao ver que seu namorado havia feito um gol. correu em direção à arquibancada e dedicou o gol à , soltou um beijo para ela que retribuiu o gesto sorridente. Eu te amo!, ele disse para ela, que também disse que o amava. foi abraçado por todos. Dois minutos depois, o juiz encerrou a partida e todos comemoraram.
— Você é incrível, ! — disse Chuck, após a partida, estavam todos almoçando no refeitório. Às 15h seria realizada a partida das moças, que também estavam almoçando com eles na mesa.
— Obrigado, cara! — respondeu envergonhado. estava ao seu lado. Quase no fim do almoço, Samira apareceu na entrada do refeitório e passou pela mesa onde todos comiam.
— Se cuida hoje, viu, ! — disse ela, desdenhando e completou: — Você mal perde pela partida de hoje. Vou acabar com você.
— Vai me causar outra lesão? — disse irritada. passou a mão pelos ombros dela e sussurrou para ela ficar calma.
— Não sei do que está falando. Até mais tarde... — ela disse e saiu. bateu com força na mesa e quase derrubou o suco que tomava.
— Odeio ela — ela disse entredentes e cerrou os punhos.
— Calma, meu amor. Fica calma, não cai na provocação dela. Ela quer que você perca a cabeça e se prejudique — disse e deu um beijinho no rosto dela, o que fez com que ela amolecesse e desfizesse o cerrar dos punhos. Ela sorriu de leve para ele e deu-lhe um selinho.
— Amo você! — ela disse calmamente e todos na mesa fizeram Awnt!, fazendo todos rirem em seguida.
Terminado o almoço, os meninos foram para a arquibancada e as meninas para o vestiário. Tomaram banho e se arrumaram para a partida. costumava ouvir música antes das partidas e hoje não seria diferente. Usava fones de ouvido que tocavam uma de suas músicas favoritas: Talk Tonight, Oasis. Era uma das músicas que acalmavam ela, a deixavam tranquila e concentrada para a partida. A música fala sobre o quanto uma pessoa entrou na vida de outra e a ajudou a melhorar como ser humano. Sempre que ouvia esta música ela pensava no quanto o era importante na vida dela e o quanto ele a fazia transbordar sentimentos bons. O quanto ele a fazia feliz. E o quanto ele era especial. Ela só não sabia que ele sentia o mesmo por ela quando ouvia esta mesma música.
A partida da semifinal seria contra o time da Samira, rival da . Obviamente só uma das equipes passaria para a final, que seria disputada lá mesmo no campus da Universidade onde o irmão da estudava e onde eles treinavam todos os dias. O local da final foi decidido antes da competição começar. Chegou a hora marcada para a partida e os times entraram em campo. estava aparentemente tranquila, mas por dentro estava apreensiva com o jogo em si e com aquilo que a Samira falou mais cedo.
— VAI TIME!! — Todos na arquibancada gritavam animados com a possível classificação para a final. O time da era o franco favorito para vencer a partida. Veio de uma vitória difícil contra outro rival, nas quartas de final, e agora disputa a vaga na final do mais importante campeonato feminino de futebol interescolar.
— A parece nervosa, né? — falou apreensivo. e os outros jogadores do time masculino estavam ao seu lado na arquibancada, torcendo por elas.
— Verdade... ela deve estar pensando no que a Samira falou — disse Chuck e todos concordaram. assistia à partida, que já havia começado, atento à sua namorada.
— Hey! Isso é falta! — gritou o rapaz, ao ver que sua namorada tinha tomado um carrinho por trás, numa dividida com Samira.
— Ahhh, meu tornozelo. Deus, meu tornozelo! — choramingou , com as mãos no tornozelo que havia sofrido a lesão meses atrás. As companheiras de time de foram para cima do árbitro, que deu somente cartão amarelo para Samira.
— Amiga, está tudo bem? — perguntou Lia, se aproximando dela, que ainda estava caída no chão.
— Meu tornozelo, Lia, está doendo. Aii... — choramingou , que estava cheia de dor e rolava levemente no gramado. — Aquela filha da puta fez de propósito, Lia... foi de propósito! Vou matar ela! — falou ela e encarou a Samira, que estava um pouco longe, observando a outra caída e gemendo de dor. deu um soco no gramado.
— Calma... põe gelo, vai melhorar. — O médico da equipe já estava em campo com uma bolsa de gelo e a colocou no tornozelo machucado.
A partida reiniciou e, apesar de ter relatado estar tudo bem, ainda sentia dor meia hora depois do ocorrido. O jogo já estava acabando, mas ainda estava zerado o placar. Lia havia saído com dores nas costas, pois ainda não conseguia fazer uma partida inteira, e estava no gol. Àquela altura da partida, o time da estava tomando sufoco e vários ataques adversários contra o seu gol. Quando faltavam poucos minutos para o fim da partida, houve um contra-ataque do time da . A jogadora carregou a bola até a área adversária e sofreu a falta. Pênalti. A torcida na arquibancada comemorou e chamou pela , queria que a capitã batesse o pênalti. As companheiras de equipe dela também chamaram pela moça, que aceitou e pegou a bola para cobrar o pênalti. E ela acertou. Bola para um lado, goleira para o outro. Após a confirmação do gol, o juiz encerrou a partida e todos comemoraram. A gritaria foi grande. saiu correndo feito raio, mesmo com dor, até a arquibancada. Abraçou Lia e depois foi abraçada por suas companheiras. Os jogadores do time masculino se juntaram ao abraço deles e começaram a pular de alegria.
Após a partida, todos foram a uma lanchonete perto do campus para comemorar. ainda sentia dores, mas não contou para ninguém. Mas ela disfarçou mal e logo todos notaram que ela sentia a lesão no mesmo tornozelo. “Vai fazer fisioterapia de novo, viu? Nem adianta reclamar...”, falou Lia, dando uma bronca na amiga, que fez um bico enorme em reprovação.
— Estou exausta de fazer fisioterapia, já — disse , dois meses depois, em sua casa. A partida da final já passou e o time dela foi o campeão, como o esperado.
— Para de reclamar, ! — brincou Lia, enquanto mexia no celular. Ela falava com seu namorado, que não estava em casa. — Oh, os meninos estão chegando já. Anime-se amiga! — falou Lia empolgada.
— Pronto, , já está liberada por hoje. Se cuida, viu! Até a próxima sessão — falou o fisioterapeuta dela, despedindo-se. Após a saída do rapaz, foi tomar banho para receber o namorado. Nesse meio tempo, os rapazes chegaram e Lia desceu para recebê-los. Os pais dos estavam numa viagem para a Europa.
— já vai descer. Ela estava fedendo e agora está se banhando — Lia disse e todos deram uma risadinha.
— Então quer dizer que eu estava fedendo? — A voz de ecoou pela sala. levantou, com seu copo de vinho em mãos, e abraçou a namorada e deu um cheiro em seu cangote.
— Cheirosa como sempre... adoro! — ele disse e deu um beijo no pescoço dela.
— Viu, Lia — disse —, o falou que eu sou cheirosa. Chata! — Ela deu língua para a amiga, que deu risada.
Eles pediram uma pizza e ficaram vendo filmes. Quando anoiteceu, foi para casa, mas Lia dormiu lá com o namorado. precisava pegar algumas roupas, pois iria sair no dia seguinte, a pedido de seu pai, para resolver um problema importante. Ele tinha se esquecido disso e por isso não levou roupa. “Vou em casa e volto já, tá amor?”, ele disse para , que assentiu e despediu-se dele. Já em seu quarto, estava arrumando sua cama quando seu celular tocou. Era um número desconhecido. Ela não atendeu e continuou fazendo suas coisas. O celular tocou de novo e ela resolveu atender, temendo ser algo importante.
— Alô? Quem fala? — ela disse e a voz do outro lado da linha a fez estremecer de medo.
— Olá, ... lembra de mim?
— Brian? — A voz dela saiu quase em um sussurro. Apavorada, ela tremeu de medo só de ouvir a voz do ex namorado. — Você saiu da cadeia?
— O que você acha, ? — ele disse debochado e completou: — E adivinha para onde eu vou agora? Estou aqui perto da casa do seu namoradinho. Ele está em casa, né? É, eu sei. Estou vendo o carro dele estacionado na porta do prédio — ele falou e ela perdeu a cabeça.
— Fica longe do ! Seu imbecil! — ela gritou irritada e completou: — Se chegar perto dele, eu mato você, Brian! — ameaçou ela. O tom de voz do Brian mudou de debochado para ameaçador e frio.
— Se você ficar nesse tom comigo, aí sim é que eu vou pegar o seu namoradinho e acabar com ele. Você está entendendo, ? — ameaçou.
— Não me chama assim! Fica longe de mim, longe dos meus amigos, fica longe do , entendeu! FICA LONGE DO ! — berrou ela e invadiu seu quarto, assustado. Lia vinha atrás dele.
— Mana? O que está acontecendo? — perguntou ele assustado.
desligou a ligação e levantou-se rapidamente da cama.
— O Brian saiu da cadeia e está na porta da casa do . Ele disse que vai machucar o . , eu preciso ir até lá — ela disse angustiada e colocou um casaco por cima da roupa. barrou a saída da irmã, a segurando pelos ombros.
— Maninha, calma! Calma, você já ligou para o ?
— Não, mas o Brian... — Antes dela continuar, a interrompeu.
— Então, vamos ligar para ele antes de ir lá, ok? Calma. — pegou o celular dele e ligou para o amigo, que não atendia. — Vamos lá, , atende... — resmungou para si mesmo e então finalmente atendeu a segunda ligação do amigo. — ?
— Fala, cara... foi mal, acabei dormindo após o banho. — A voz sonolenta de ecoou pelo viva-voz do aparelho de . suspirou angustiada.
— Amor, você está bem? — ela perguntou para o namorado.
— Estou sim, amor... que voz é essa? Aconteceu alguma coisa? — explicou rapidamente o que havia ocorrido e pediu para ter cuidado ao voltar para casa dela. — Não se preocupe, meu amor. Eu estou indo para aí agora, ok?
— Não desliga! Fica falando comigo até você chegar…
concordou, pegou as coisas, que já estavam arrumadas, e saiu. Entrou no carro e dirigiu até a casa da namorada. Rapidamente ele chegou lá e foi recepcionado por ela, que já estava do lado de fora, aguardando sua chegada.
— Graças a Deus! — Ela suspirou aliviada ao abraçar , que retribuiu o abraço.
— Está tudo bem, amor. Está tudo bem. — Eles entraram na casa. Todos ficaram conversando um pouco sobre a ligação do Brian. entrou em contato com o pai e o mesmo disse para trancar a casa e falou que iria entrar em contato com o advogado da família para tomar as devidas providências legais. — Pronto, minha zagueira linda, já estamos seguros agora. — e já estavam abraçados e deitados na cama dela, que repousava o corpo sobre o dele.
— Desculpa o desespero que fiquei hoje, ok? — ela disse, ainda com a voz embargada.
— Não precisa, amor. Eu sei que você ficou com medo de que algo ruim acontecesse. Eu senti o mesmo há algum tempo quando você foi raptada... — ele disse e lembrou-se da angústia que sentiu. — Não se sinta culpada por nada, você não tem culpa de nada, minha princesa — ele disse, enquanto afagava os cabelos dela. se aninhou no abraço do rapaz e adormeceu.
No dia seguinte, recebeu uma ligação do advogado da família e eles acionaram à polícia para relatar da aproximação do Brian e das ameaças dele contra e seus amigos. Foi emitida outra ordem de restrição contra Brian: ele não poderia se aproximar nem da nem de sua casa e muito menos do lugar onde ela estudava. Dessa forma, ele teve que trocar de colégio. Caso ele se aproximasse dela ou de sua família, poderia ser preso sem direito a sair novamente.
Dias depois…
Casa dos , quarto da
Com Brian preso, o alívio tomou conta da família . Os pais de e ficaram preocupados com os últimos acontecimentos que ocorreram com a filha e, com isso, resolveram reforçar a segurança de todos, contratando profissionais para cuidar da casa e dos filhos. Porém, para , o melhor segurança que poderia ter era . Ela sentia-se segura ao lado do namorado, apesar de quase ter tido um treco quando achou que ele estava em perigo, teoricamente por sua culpa.
— Amor, para você. — entregou uma flor para , que sorriu de imediato ao recebê-la.
— É linda, amor, obrigada — ela deu um abraço forte nele que, após, se afastou um pouco para poder beijá-la.
— Eu te amo, nunca se esqueça disso, minha zagueira!
a beijou novamente, de maneira apaixonada e, durante esse beijo, ele sentiu o chão rodar. Parecia que todo o planeta estava girando e apenas eles dois estavam parados, em câmera lenta, enquanto desfrutavam da companhia um do outro. Ele pensava no tempo que desperdiçou estando longe dela por puro medo de ser rejeitado, dela não o querer. Mas, assim que disse ‘sim’ para ele, o mundo de voltou a girar, lento para que aproveitasse cada instante, porém contínuo.
"Meu mundo está parado
O tempo está congelado, eu fico arrepiado
Este sentimento é tão surreal
Eu não quero deixar ir
Há magia no ar
Eu não consigo respirar, mas não me importo
Quando você entra, eu juro
É como se tudo se movesse em câmera lenta, lenta
Tudo se move em câmera lenta, lenta."
— Slow Motion, Simple Plan.
O tempo está congelado, eu fico arrepiado
Este sentimento é tão surreal
Eu não quero deixar ir
Há magia no ar
Eu não consigo respirar, mas não me importo
Quando você entra, eu juro
É como se tudo se movesse em câmera lenta, lenta
Tudo se move em câmera lenta, lenta."
— Slow Motion, Simple Plan.