Última atualização: 31/07/2020

Capítulo Único

In my head, I play a supercut of us Na minha cabeça, passa uma compilação de nós
All the magic we gave off Toda a mágica que exalamos
All the love we had and lost Todo o amor que tivemos e perdemos



— Você clica com o botão direito do mouse em cima do inimigo e aí vai dar dano. — explicou bem perto da minha orelha direita, arrepiando cada pedaço de pele do meu corpo. Mordi o lábio inferior e tentei focar a atenção no jogo que rodava no computador.
Soltei uma gargalhada divertida ao ver meu personagem ser morto. Ele estava a uma hora tentando me ensinar a jogar e não estava dando muito certo.
— Sou muito ruim! — Resmunguei com uma falsa expressão de decepção, afinal tê-lo tão perto acabava com qualquer respingo de concentração da minha parte.
Meu corpo mais uma vez eletrizou-se com a proximidade.
— Relaxa. — Ouvi-o divertido e logo a tela cinza saiu, o personagem ganhou vida novamente. Posicionei minhas mãos no teclado e mouse, mas prendi a respiração, quando as mãos masculinas cobriram as minhas e começaram a jogar por mim.
— Ah! Assim não vale! — Fingi indignação e virei o rosto na direção dele, a boca roçando a bochecha masculina. O perfume favorito atingindo em cheio. — Você não está me deixando brilhar! — Cruzei os braços e fiz um biquinho.
Nunca fui dada a gestos que considerava bobos, mas quando me apaixonei e estava tão perto, tendo que lidar com meus sentimentos e as sensações que ele me causava, perdia as estribeiras. Estarmos juntos, significava ir do zero ao cem em segundos. Não existia morno, era quente ou frio. As emoções sempre tão intensas e admito que era o que mais amava no nosso relacionamento.
Ouvi-o gargalhar novamente e afastou o corpo, tomando distância atrás da minha cadeira. Desfiz a pose de birra e girei na cadeira, apoiei um dos braços no encosto e descansei o queixo, mordi o lábio inferior.
Amava a conexão que tínhamos, bastava um olhar e parecíamos estar sintonizados na mesma estação. Tive certeza de que havia entendido meus pensamentos naquele momento, quando o vi se aproximar, pousar uma das mãos na minha nuca e grudar nossos lábios num beijo de arrancar qualquer resquício de oxigênio e sanidade.
Eu o amava de todo coração e esperava que dessa vez, durasse para sempre.


XXX



— Droga! — Resmunguei em reação ao susto, os olhos fechados e a mão descansando no peito que batia acelerado.
Abri-os novamente e ajeitei os óculos no rosto, a expressão irritada em direção ao dono do grito que quase me matou do coração.
— Desculpa. — Moveu os lábios sem fazer som e mostrou a língua, um sorriso divertido em seu rosto.
O cabelo loiro estava uma bagunça, imensos fones de ouvido cobriam suas orelhas. Estava sentado todo esparramado em sua enorme cadeira, as duas telas do computador ligadas e o jogo que eu tentava aprender, rodava.
Era madrugada e ele estava fazendo o trabalho que tanto amava, além de ser o motivo da sua própria fama. Amava ser um streamer, a paixão pelo o que fazia era palpável e se assemelhava a mesma que eu tinha pelas minhas músicas.
Me acomodei melhor na poltrona que ficava afastada da câmera e voltei a atenção para o livro em minhas mãos. Nem sempre tínhamos a noite e madrugada livre por conta dos meus shows ou por conta do trabalho dele, mas sempre dávamos um jeito de estarmos um com o outro, mesmo que apenas como observador. A nossa rotina, algo que sentia muita falta durante as minhas turnês, me fazia feliz. Infelizmente e felizmente, uma turnê estava muito próxima.


XXX


In your car, the radio up No seu carro, o rádio alto
In your car, the radio up No seu carro, o rádio alto
We keep trying to talk about us Continuamos tentando falar sobre nós
I'm someone you maybe might love Eu sou alguém que talvez você possa amar




Eu só precisava de um tempo com ele. Sem trabalhos, preocupações, a correria de nossas rotinas. Uma semana sem contato com o mundo exterior. E por isso, decidimos passar uma semana na casa de praia da família dele. E lá estávamos em pleno sábado de manhã cedo, as janelas do carro abertas, uma música tocava alto no rádio e ambos permanecemos quietos. Submersos em nossos pensamentos, olhando a estrada e toda a sua paisagem. Fazia um longo tempo que não tinha a sensação de paz, afastada das críticas e pressões do meu trabalho, além do preço que se pagava por ser uma pessoa pública. Me sentia apenas uma jovem que estava fazendo uma viagem com o cara que tanto gostava, quer dizer, amava — ele só não sabia disso ainda.
Olhei discretamente para ele e sorri, não tive como evitar, era uma sensação de felicidade muito mais profundo. Um sentimento de compreensão de que amava aquela pessoa. Meu coração acelerou, senti a vontade de esticar o braço e correr meus dedos por seus cabelos loiros tingidos.
Quão louco isso soava?
Encostei o cotovelo na janela e descansei a cabeça na mão, tinha certeza que estava com um sorriso idiota no rosto, mas conforme tomava consciência disso, só crescia mais.
Fiquei por longos minutos observando-o, a música no rádio embalando aquele momento.
E como que percebendo, ele virou-se e sorriu timidamente. Cantarolou a música, chacoalhou a cabeça num gesto negativo e riu, voltando a atenção para a direção do carro.
Eu mordi o lábio inferior e observei a paisagem lá fora, o dia tomando forma com a chegada do Sol. Um belo e tranquilo sábado, o céu limpo sem qualquer sinal de nuvens.
Senti uma mão tocar meu joelho e descansar ali.
Virei o rosto e o vi, um sorriso familiar, mas o olhar muito diferente. Nunca o vi daquele jeito e engoli em seco, a preocupação estabelecendo-se dentro de mim.
— Eu te amo. — Confessou seriamente e em seguida, riu. Voltou a atenção para a estrada.
Minha boca estava aberta em surpresa, o coração acelerado em surpresa e felicidade. Não acreditava no que havia ouvido, as palavras pareciam rodear minha cabeça num vôo frenético.
E caiu a ficha.
— Eu também te amo. — Coloquei minha mão sobre a sua, o que chamou sua atenção e sorrimos um para o outro.
Felizes e aliviados.


XXX



Senti minha barriga doer de tanto rir. Estávamos a horas na piscina, dividindo-se entre beijos e implicâncias. Bati com a palma da mão na água, espirrando em cima dele.
— É guerra que você quer? — Perguntou maliciosamente, os olhos cheios de promessas e o que fez meu coração acelerar em expectativa.
Moveu-se em minha direção e me envolveu pela cintura. Aproximamos nossos rostos, os narizes quase colados e os lábios a poucos centímetros de distância. Olho no olho, respiração por respiração.
O celular tocou e pareceu quebrar toda a magia.
— Já volto. — Me deu um selinho e me soltou.
Voltei a agarrá-lo pela cintura.
— Ah não. — Choraminguei.
Ele riu, mas conseguiu se libertar.
Atendeu o celular e sussurrou que era sua mãe.
Fiz uma expressão dramática, mas sorri divertida.
Aproveitei os minutos de espera para dar alguns mergulhos e quando subi a superfície novamente, ouvi uma risada animada. Passei a mão pelo rosto para afastar o excesso de água e o encarei. estava radiante.
Desligou a ligação, colocou o celular na borda da piscina e deu um soco no ar, o rosto estampado em felicidade.
Franzi a testa, a expressão curiosa.
— O que houve?
Ele riu e nadou de volta, parou a minha frente.
— Eu vou para a Coréia.
Minha boca escancarou em surpresa.
— Como assim? Quando?
Tentei puxar em minha memória alguma conversa sobre essa viagem e nada veio. Cruzei os braços na frente do corpo, a irritação surgindo sorrateiramente.
Ele coçou a nuca e mordeu o lábio inferior.
— Daqui dois meses. — Soltou um suspiro e a euforia havia sumindo do seu olhar. — e vou ficar por três meses com uma das equipes mais reconhecidas no competitivo mundial.
— Ah.
Três meses longe? Meu namorado estaria do outro lado do mundo por três meses inteiros e não havia me dito nada.
— Olha, essa é uma grande oportunidade…
Fiz um gesto para calá-lo e pressionei a testa, os olhos fechados.
— Você sabia disso há quanto tempo?
Silêncio.
Abri os olhos, a compreensão me atingindo feito uma bomba.
— E só quis me contar depois que fosse aceito?
— Não é isso,
— Não. — Fiz o gesto novamente e forcei o meu corpo a seguir para fora da piscina. Finalmente, me livrei da água e peguei a toalha, comecei a me secar bem rápido.
— Olha, você precisa…
— Eu vou embora.
O rosto dele ficou magoado.
— Estou feliz por você e desejo que aproveite a oportunidade, mas não me sinto bem em saber que todo esse tempo você escondeu essa possibilidade. — Soltei um suspiro, decepção presente no meu tom de voz.
— Não vai. — Pediu num fio de voz.
— Vou arrumar minhas coisas e pedir um táxi.
— Não. — Falou firme. — Eu te levo.
— Não.
— Sim.
Nos encaramos em silêncio, as expressões decididas e longe de cederem.
Soltei um suspiro cansado e apenas confirmei com um gesto de cabeça, fugindo para dentro da casa.


XXX



A volta para casa foi totalmente diferente da ida. No início, ele insistiu em conversar, mas eu não conseguia me abrir e revelar o tanto que havia me machucado. Então, apenas mantive a expressão fria e deixei bem claro que sairia do carro se não me deixasse em paz. As horas de viagem foram preenchidas pelo som do rádio. Evitei olhá-lo o máximo que pude e nas poucas vezes que o fiz, vi o desapontamento em seu rosto.
Ele parou o carro e me apressei em tirar o cinto, puxando a mochila para o meu colo. Sentia uma necessidade de fugir o mais rápido possível dali.
Abri a porta e quando estava prestes a alcançar a liberdade, senti o seu aperto em meu braço. O contato repentino deixou o meu coração acelerado e a pele se arrepiou ao perceber quem estava me tocando. Encarei-o, lutando bravamente para manter a fachada de indiferença, mesmo que minha vontade fosse abraçá-lo e nunca mais soltar.
— Vamos conversar, . — Era notável a tristeza em seu tom de voz. — Você vai viajar e vamos ficar longe.
Soltei um suspiro.
Naquele momento, eu estava dividida entre realmente abrir o coração e contar como me senti excluída de sua vida ou não revelar nada. Entretanto, o meu lado egoísta e magoado, ganhou essa batalha.
— Quando eu voltar.
Ele deixou sua mão cair no banco, a expressão chateada.
Aproveite o momento para escapar dali. Iria doer me afastar, mas precisava desse tempo.

XXX


So I fall Então eu caio
Into continents and cars Em continentes e carros
All the stages and the stars Todos os palcos e as estrelas
I turn all of it Eu transformo tudo isso
To just a supercut Em apenas uma compilação




— Obrigada, Rio de Janeiro! — Gritei no microfone e abri o meu melhor sorriso, acenando para a multidão de fãs que estavam lotando a casa de show.
Assim que desci do palco, senti um cansaço tomar conta e a melancolia me atingir em cheio. Quando estava no palco, era muito fácil esquecer que estava sofrendo pelo meu relacionamento e que tudo estava acontecendo pela minha incapacidade de deixar o orgulho de lado para conversar. Minhas amigas disseram mil vezes que deveríamos colocar em pratos limpos o problema, mas eu não conseguia. Me sentia bloqueada, chegava a doer pensar em abrir o meu coração. Desde a infância, sempre tive problemas em conversar e expor como me sentia, quando algo me machucava. E infelizmente, daquela vez não estava sendo diferente.
Faziam três semanas sem contato, sem qualquer ligação ou mensagem. O que me consolava era ligar a stream todas as noites, poder ouvir sua voz e ver seu rosto. De alguma forma, eu sabia que ele tinha noção de que eu estava no meio do seu público. Essa parecia a única forma de estar perto, sem ter que procurá-lo. Tinha momentos que a raiva e orgulho me consumia, tentava dizer a mim mesma que não o perdoaria e que estava tudo acabado. Ou parte de mim, ressentia-se pela distância, pela falta de procura, mas aí vinha outra parte que dizia que não iria ceder e atendê-lo, quando me procurasse.
Tínhamos o nosso problema, mas ao mesmo tempo, eu era o meu próprio inimigo.
Como poderia me vencer?


XXX


Cause in my head (in my head, I do everything right) Porque na minha cabeça (na minha cabeça, eu faço tudo certo)
When you call (when you call, I'll forgive and not fight) Quando você ligar (quando você ligar, eu vou perdoar e não discutir)




— Está tão confortável. — Resmunguei entorpecida pelo cansaço, vestia um roupão do hotel, os olhos fechados e o corpo estirado no colchão macio.
Foi o penúltimo show e um dos mais agitado. Tive várias entrevistas, meet&greet com os fãs e o show. Uma correria boa que tanto amava e que no final das contas, me distraiu o suficiente para esquecer das minhas próprias perturbações. No final da noite, o sono e a dor nos pés me venceram. Havia me negado a sair com a equipe e resolvi que o melhor seria descansar e me preservar para o encerramento da turnê. Me senti naquele estado em que estava próxima de pegar no sono, mas um rosto tomou a minha mente e afastou qualquer chance de descanso.
Abri os olhos com a visão embaçada pelas lágrimas. Não chorei em nenhum momento, mas de alguma forma, a saudade estava machucando. Doía e perfurou o meu coração bem fundo. Algumas escorreram por meu rosto e sequei com a manga do roupão. Estiquei o braço e alcancei o meu celular.
Eu sabia que tinha que ceder, mas não conseguia. O peso dentro do meu peito era muito mais forte, parecia não me deixar sair do lugar. Não conseguia quebrar o gelo e me livrar, era muito difícil ligar e abrir o meu coração. Tudo estava dentro de mim, acumulado feito uma panela de pressão, mas não tinha válvula, não escapava e só parecia que poderia explodir a qualquer momento.
Eu não iria ligar.
Abri sua stream e lá estava o seu rosto ao vivo e a cores. Ao contrário das últimas noites, ele estava com uma expressão mais séria e não estava gargalhando com muita presença. E a mudança era tão perceptível que o público enchia o chat com perguntas. Se alguém entrasse no quarto naquele momento e visse aquela cena, me zoariam eternamente.
Encostei a tela na bochecha e fechei os olhos, tentava fingir que ele estava bem ali comigo. Lutei para puxar em minha memória os momentos felizes ao seu lado, uma forma de consolo para o meu sofrimento.
Num momento via entrando no quarto e em outro, meus olhos se abriram na escuridão do ambiente. Não ouvia mais o som que saía do meu celular e caí na real de que era apenas um sonho. O meu coração apertou-se e doeu. Afastei o celular do rosto e vi que sua stream já havia acabado.
Soltei um suspiro desolado e me aconcheguei melhor no colchão. Fechei os olhos novamente para evitar as lágrimas.
Um pensamento tomava forma em minha mente, a clareza sobre o fato de que uma decisão deveria ser tomada: tínhamos que fazer as pazes.
Não tinha sentido duas pessoas que se amavam estarem sofrendo por uma situação que seria temporária e muito importante para a trajetória profissional. Eu amava o meu trabalho e jamais abriria mão dele por outra pessoa, doeria se tentasse me afastar dos palcos e eu não permitiria.
E essa compreensão, me enxergar em seu lugar fazia com que eu entendesse o papel que ocupei ao ter a reação de me afastar. Entretanto, existia o lado em que ele havia errado em não me contar sobre os seus planos e as propostas que estavam para chegar. Relacionamentos precisavam de confiança, apoio, toda sinceridade possível. Assim como compartilhava os meus planos, ele deveria fazer o mesmo. O meu ressentimento era esse. Até sua mãe sabia, menos eu.
Eu iria resolver essa situação. Tinha que resolver.
Peguei o celular e desbloqueei a tela, quando ia clicar no seu contato, o nome piscou na tela e imediatamente, o meu coração bateu acelerado.
Sem pensar duas vezes, aceitei a chamada.
. — Sussurrou com a voz triste.
— Eu não quero mais brigar, vamos conversar.




Fim!



Nota da autora: sem nota



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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