Capítulo Único
balançava as pernas embaixo da mesa, enquanto apertava os dedos das mãos, em um claro sinal de nervosismo. Ele escolheu uma mesa ao lado da janela, a qual lhe dava uma ampla visão da rua. Estava ansioso demais para a conversa que, ele sabia, não seria fácil. A música ambiente era de alguma banda teen do momento, a qual ele não conhecia.
Olhou em volta, apenas para constatar o que ele já imaginava encontrar: vários grupos de jovens, provavelmente se encontrando após a aula. Algumas famílias também estavam ali e, como ele, preferiram escolher mesas mais afastadas das conversas altas dos adolescentes.
— Deseja pedir agora, senhor?
— Ainda não. Estou esperando uma pessoa. — ele respondeu ao atendente.
voltou sua atenção para o movimento na rua, e foi quando ele a viu.
vestia um longo sobretudo vermelho, e tinha uma touca na cabeça para se proteger do frio. Ela parou na calçada, esperando o semáforo fechar. Atravessou a rua meio correndo, as mãos nos bolsos do casaco e os cabelos voando por conta do vento do lado de fora.
Mesmo à distância, se pegou sentindo o perfume dos cabelos da mulher, em uma memória olfativa.
acompanhou os movimentos dela, até que chegasse em frente à cafeteria que ele escolhera. A mulher ficou alguns segundos parada na entrada, os olhos passando pelas mesas do local.
Ele levantou a mão para chamar a sua atenção e mostrar a sua localização. Ao ter a atenção de em si, deu um leve sorriso, o qual não foi retribuído por ela.
atravessou o local, desviando-se das mesas cheias. Parou em frente a e, sem o cumprimentar, puxou uma cadeira e se sentou.
viu a mulher desabotoar o sobretudo e tirar a touca que lhe aquecia as orelhas. E foi nesse momento que ela, finalmente, olhou para o homem à sua frente.
— Hey! — ele disse com um sorriso tímido, com um tom de voz meio surpreso, devido ao fato dela realmente ter cumprido com a palavra e ter ido encontrá-lo.
— Olá. — ela respondeu. Diferente de , ela não demonstrou emoção nenhuma ao falar com ele.
não estava exatamente surpreso pela reação da mulher. A verdade é que, devido ao último encontro que os dois tiveram, ele já considerava um grande feito tê-la convencido de tomar um café com ele.
— Como você está? — ele perguntou em uma clara tentativa de puxar assunto.
— Estou bem, você sabe… Considerando tudo. — ela disse dando de ombros.
engoliu em seco.
não perguntou como ele estava. Ela estava se fazendo de difícil, tentando se envolver o mínimo possível com o homem à sua frente, e não podia culpá-la.
Eu sou o culpado de termos chegado a este ponto, ele pensou.
Ele tentou pensar em qualquer outra coisa que pudesse perguntar, uma forma de iniciar uma conversa banal, apenas para quebrar o clima tenso entre eles. E então, ele poderia finalmente chegar ao ponto que os levou até ali naquele dia.
— E a faculdade? Imagino que deva estar puxado… — ele disse receoso, os dedos das mãos fortemente entrelaçados embaixo da mesa, longe da visão de .
— Está mesmo. — ela respondeu com um suspiro. — Sabe como é, último ano, estágio, trabalho de conclusão de curso…
deixou a frase no ar e passou a olhar para a rua movimentada através da janela.
balançou a cabeça em sinal de concordância, demonstrando que sabia do que falava. Ele tentou pensar rápido em novo tópico para conversa, mas, para sua sorte, foi interrompido pelo atendente.
— Estão prontos para pedir?
Pela primeira vez, desde que chegou, deu um pequeno sorriso. Pediu um chocolate quente com chantilly, enquanto preferiu ficar com um café expresso. Quando chegou à cafeteria mais cedo, ele sentia fome, e pensou em pedir algo para comer. Mas naquele momento, tendo à sua frente, ele já não sentia mais a mesma fome.
— Logo trago o pedido de vocês.
— Obrigada. — ela agradeceu.
Ao devolver o cardápio para o atendente, a moça voltou a prestar atenção no movimento do lado de fora, preocupada em não fazer contato visual com . E por mais que se sentisse magoado com a atitude dela, aquela atitude doía muito mais da mulher do que nele.
— Magali se recuperou bem da cirurgia de castração? — ele perguntou em um sobressalto.
suspirou novamente, antes de responder à pergunta.
— Sim, . Magali está muito bem, obrigada por perguntar. — disse com a voz entediada.
E percebendo que o homem abria a boca para fazer alguma outra pergunta banal, ela continuou, dessa vez com os olhos presos nos dele:
— , por que eu estou aqui?
A voz dela já não demonstrava o tédio de outrora. tinha um tom quase de súplica, como se implorasse para que aquele momento chegasse ao fim.
A verdade é que a mulher pensou várias e várias vezes no convite que recebera de , três dias atrás. A princípio, ela não cogitou a possibilidade de encontrá-lo. Seria doloroso demais, ela pensou. Mas então, mesmo depois de semanas sem vê-lo, sonhou com . De novo. E por causa desse sonho, e do sentimento de pesar que ela tinha no peito, decidiu encontrá-lo para colocar um ponto final na relação que outrora eles tiveram.
— , eu disse ao telefone… Eu apenas quero…
— Conversar. — ela completou a sua fala, interrompendo-o. balançou a cabeça em concordância, apenas para ouvir a mulher suspirar à sua frente.
Ela não queria conversar, pelo menos não naquele momento.
— Se me lembro bem, há algumas semanas eu tentei conversar, mas você estava ocupado demais dizendo que o que tínhamos não era nada sério, e por isso não tínhamos o que conversar.
Aquilo foi como um balde de água fria em . De fato, ele não esperava que aquela conversa se desse facilmente, afinal, ele havia sido um grande cretino com . Mas ele tinha um belo discurso preparado para ela, e tinha a esperança de ter a oportunidade de fazê-lo e, talvez, tentar convencê-la a lhe dar uma nova chance.
— Eu sei. — ele disse baixinho. — Eu sei, e sinto muito por isso.
respirou fundo e fixou os olhos na mesa, bem longe dos olhos de .
O homem tomou ar para voltar a falar, mas foi interrompido pelo garçom que trazia seus pedidos.
— Um chocolate quente com chantilly para a moça, e um expresso para o rapaz. — ele disse sorridente.
— Obrigado. — os dois responderam juntos.
E quando o atendente já havia se afastado, resolveu ocupar as suas mãos colocando açúcar e mexendo o café, já que estavam demasiada inquietas embaixo da mesa.
— , você não imagina o quanto eu sinto… Sinto muitíssimo pela forma como as coisas terminaram entre nós.
Diferentemente do que esperava, soltou uma risadinha antes de responder a ele.
— Sabe , eu também sinto. — ela disse pensativa. E enquanto mexia em sua bebida, continuou. — Quem diria, não é mesmo? Nós dois estávamos naquela relação, mas cada um de nós víamos o nosso relacionamento de um jeito. Uma pena eu ter demorado tanto tempo para perceber isso.
pensou ter visto um brilho diferente no olhar de , mas se ela tinha lágrimas nos olhos, a mulher não permitiu que ele as visse.
Por outro lado, , que sempre se julgara um homem forte e que dificilmente demonstrava o que sentia, quase não pôde conter as próprias lágrimas, as quais eram consequência do aperto no peito que sentia.
— …
— Eu me lembro como se fosse ontem. — ela falou com a voz vaga, distante. — Eram cinco da manhã, e a nossa conversa tinha ficado chata. Você disse que iria para a cama mais cedo, e então eu tive uma ideia: desligar o telefone, percorrer as duas quadras que separavam os nossos apartamentos, e me esgueirar até o seu quarto.
se lembrava perfeitamente bem daquela noite.
Eles estavam tendo mais uma das conversas banais que costumavam ter nas noites que antecediam dias de provas na faculdade — noites estas que cada um acabava ficando no seu próprio apartamento, estudando. se lembrava de ter chego ao seu quarto e encontrado dormindo no seu travesseiro. Naquela noite, ele teve um misto de sensações: felicidade por ter a chance de dormir ao seu lado quando não o fazia há uma semana, e medo. sentiu medo do sentimento de felicidade que o dominava todas as vezes que ele pensava na mulher.
— Eu pensei em te esperar lá. — ela continuou. — Eu pensei “caramba, , o que você está fazendo? Você tem prova amanhã às sete e meia!”, mas então eu ouvi você subindo as escadas, e eu fingi que estava dormindo. Eu esperava que você entrasse lá e ficasse comigo, e foi exatamente o que você fez. — a mulher levantou a cabeça e olhando nos olhos de , ela continuou. — Você pôs seu braço em volta dos meus ombros e foi como se o quarto tivesse ficado frio. Foi nesse momento que eu percebi que as coisas entre nós estavam diferentes.
suspirou por um momento. Lembrava-se perfeitamente bem de ter ficado alguns minutos parado na porta, pensando o que fazer. Mesmo à distância, ele podia sentir o perfume que emanava de seus cabelos, chamando-o, como uma droga que vicia o usuário. Seu corpo pedia para que ele se deitasse ao lado dela e a abraçasse com força. Suas mãos desejavam sentir o calor da pele dela de novo. Sua mente, porém, cheia de perguntas sem respostas, tinha medo de ceder aos desejos do seu coração.
— Me lembro daquela noite. — ele disse. Como ele poderia não se lembrar? Afinal, havia sido a última noite deles juntos. — Você abriu os olhos e ficamos mais perto. Começamos a falar de coisas banais, como o tempo, e então você disse que o dia seguinte seria divertido, já que seria a sua última prova do semestre.
— Você disse que nós poderíamos assistir “Um Lugar ao Sol”. — ela falou com um sorriso de lado, um sorriso quase imperceptível. — Você odeia esse filme.
não pôde conter uma risada fraca. Ele realmente não gostava daquele filme, mas sabia que era um dos favoritos da mulher.
— Eu não sabia o que estava acontecendo. — ele confessou, a voz tomando tom de seriedade. — Quando você me beijou, foi como se eu fosse jogado em uma piscina de sensações e não soubesse nadar.
sustentou o olhar do homem por tempo suficiente para sentir os olhos arderem. Piscou várias vezes e levou as mãos até sua xícara novamente, tomando um gole do chocolate quente. A bebida já havia esfriado.
A mulher inflou os pulmões antes de falar, já não se preocupando mais em tentar se manter afastada de qualquer sentimento ou emoção que pudesse demonstrar naquele momento. aceitou tomar um café com , e decidiu que iria ouvir o que ele tinha a dizer, mas havia prometido a si mesma que não se deixaria levar pelos sentimentos que outrora a dominavam. Naquele momento, porém, ela já não se importava em demonstrar o que ela sentia.
— Eu estava tão apaixonada por você, tão envolvida no que nós tínhamos que uma simples ligação sua já me deixava em êxtase. Quando a sua foto aparecia na tela do meu celular, eu não me sentia sozinha, pelo contrário. Eu me sentia… Não sei, completa.
apoiou as costas no encosto da cadeira, passou a língua nos lábios e passou a divagar sobre os meses que passou ao lado de .
— Você se lembra de quando perguntei se você era meu?
respondeu à pergunta com um simples balançar de cabeça.
— E qual foi a sua resposta?
Ele suspirou antes de responder.
— Disse que eu não pertencia a mulher alguma, mas apenas a mim mesmo. — ele disse com pesar, arrependendo-se das palavras que escolhera usar naquela época.
A verdade é que nunca acreditara no amor, tampouco era fã de relacionamentos sérios. Por esse motivo, ele preferia criar uma barreira defensiva em torno do seu coração à deixar-se envolver e se entregar a um romance. sabia como lidar com números e finanças, sabia como administrar um negócio ou uma empresa, mas não fazia ideia de como lidar com o turbilhão de emoções que causava nele. O mais fácil, e também o mais lógico, portanto, era fugir.
novamente sorriu para ele, sorriso este que não alcançou os seus olhos.
— Sabe, eu nunca tive a intenção de pertencer a homem nenhum também, mas não me importava em dividir o meu tempo e compartilhar da minha vida com você. Pensava que o sentimento fosse recíproco, mas vi que estava enganada.
— …
— O que eu não entendi até agora, , é o porquê. Digo… Nós ficamos juntos por meses, e a cada dia eu ficava mais impressionada pela forma como você agia carinhosamente em público. Até mesmo quando a sua amiga disse que isso a deixava enjoada, ainda no início do nosso relacionamento, mesmo constrangido, você me chamou de “amor”. — ela disse com a voz distante, recordando-se perfeitamente bem da cena que descrevia. — Não sei se me chamou de “amor” por acidente, ou se foi de coração. De qualquer forma, eu te pergunto… Por quê?
sentia o coração bater rápido demais. Tão rápido, que temia que ele pudesse sair do seu peito a qualquer momento.
Desde o início ele sabia que a conversa com não sairia como o planejado em sua mente, e também tinha ciência de que precisaria lhe dar algumas explicações caso quisesse ser ouvido por ela. Mas aquela pergunta lhe atingiu em cheio.
Por quê? Porque ele havia pedido o término do relacionamento deles quando ele estava tão apaixonado por ela? Por que ele havia pedido para se encontrar com ela naquele dia, logo após a última prova do semestre de , e havia dito que não poderiam continuar se vendo?
Por quê?
— Porque… — Por quê?, ele se perguntava isso todos os dias. — Porque eu não sabia o que estava sentido.
encontrou dificuldade para colocar em palavras o que ele sentia, afinal, ele nunca havia precisado fazer isso antes. Até porque eu nunca havia me sentido assim antes.
— Eu não quero que você pense que estou justificando os meus atos, porque eu não estou. Sei que foi errado a forma como tratei o nosso relacionamento, a forma com que coloquei um fim a tudo. Reconheço os meus erros.
havia ensaiado essa parte em casa. Ele precisava mostrar a ela que ele sabia que tinha errado, que não queria justificar suas ações, mas, ainda assim, queria uma nova chance. Uma nova chance para fazer as coisas direito.
— Eu nunca havia me apaixonado antes. Quer dizer, não é como se a minha paixonite pela Sra. Bella, na segunda série, pudesse ser chamada de amor. — ele disse em tom de brincadeira, dando uma risadinha ao final. — Foi realmente uma surpresa todos aqueles sentimentos misturados, todas aquelas sensações… Quem diria, não é mesmo? O cara que sempre se orgulhou por ser uma pessoa completamente independente se tornava o mais bobo de todos ao receber, de repente, uma ligação sua. E então eu já não estava mais sozinho, pois eu sabia que tinha você do meu lado.
precisou engolir em seco. Sua expressão foi lentamente deixando a seriedade de lado para ceder às palavras de .
O problema em acreditar nele? Ela não queria se machucar novamente.
— O mais irônico de tudo é o fato de que os meus amigos perceberam os meus sentimentos antes de mim mesmo. — ele deu uma risada irônica. — Quer dizer, é claro que eles sabiam. Eu contava para eles sobre você, sobre nós, e eles sabiam, sabiam que eu estava completamente apaixonado.
— Eu pensei que também soubesse. — ela disse baixinho. — Mas então você…
— Eu espanei. — ele completou a frase, fechando os olhos com força, se arrependendo de cada palavra dita naquele dia. — Eu espanei, porque preferi fugir do que estava sentindo, das novas sensações que você me causava. Fugir e não olhar para trás… É sempre o caminho mais fácil.
— E você preferiu fugir e ser um completo idiota a conversar comigo. — não tinha sido uma pergunta.
— Desculpe, .
tinha a cabeça baixa, mas os olhos fixos nos dela.
— As últimas semanas foram horríveis, as piores da minha vida. E hoje, por mais distante que você esteja, já se tornou o melhor dia da minha semana.
precisou respirar fundo algumas vezes.
nunca precisou se esforçar para mexer com a sua mente e o seu coração. E se levasse em conta que desta vez ele estava realmente tentando reconquistá-la, podia afirmar que ele estava tendo um grande sucesso.
E por mais que ela acreditasse em cada uma de suas palavras — especialmente porque o seu olhar desesperado dizia mais do que suas frases bonitas — ela sabia que não conseguiria confiar nele novamente. Pelo menos não agora.
— O que você quer exatamente, ? — ela perguntou firme.
, por sua vez, respirou fundo, levantou a cabeça e tomou coragem para estender a mão sobre a mesa, à procura dos dedos dela. Ele parou a mão ao lado da dela, mas não teve coragem de entrelaçar seus dedos.
— Quero mais uma chance. Só mais uma.
levou a atenção para as mãos próximas em cima da mesa, sem tomar a iniciativa de acabar com o espaço que as separava.
— E o que você pretende fazer com essa nova chance? — ela perguntou. — Não que eu esteja considerando dá-la a você.
tentou, mas não pôde controlar o fio de esperança que sentiu ao ouvir a fala de .
— Pretendo fazer as coisas certas dessa vez. Pretendo não fugir do que sentir cada vez que eu pensar em você. Pretendo dar o título correto ao nosso relacionamento.
bufou, jogou o corpo para trás e cruzou os braços.
— Isso é o que você tem a me oferecer? Um título? — ela perguntou. — Eu nunca cobrei um título de você, . Nunca exigi que fosse chamada de “namorada” na frente dos seus amigos. O que eu sempre quis foi respeito. Respeito por mim, por você e por nós dois.
tentou responder àquilo, mas foi mais rápida.
— Não, agora é a minha vez de falar. — ela disse firme. — Ao terminar o que tínhamos daquela forma você não só desrespeitou a mim e o que eu sentia por você, mas também faltou com respeito com você mesmo, . Isso porque, segundo o que você acabou de falar, você preferiu ignorar tudo o que sentia e seguir uma lógica sem lógica nenhuma. Preferiu fugir e fingir que não havia nada demais entre nós, em vez de encarar o nosso relacionamento com maturidade.
concordou com o que ouvia acenando com a cabeça. estava certa. Ela sempre estava certa.
— Agora você quer me fazer acreditar que, de uma hora para outra, você se tornou um cara maduro o bastante para assumir um relacionamento sério, e que não vai pular para fora do barco na primeira dificuldade que encontrar, ou na primeira dúvida que surgir?
pensou por alguns segundos no que acabara de falar. Ela estava certa novamente.
Ela sempre está certa.
A verdade é que ele não havia mudado de uma hora para outra. ainda era o mesmo cara de outrora, mas dessa vez ele tinha consciência de que, se ele quisesse fazer aquilo dar certo, ele teria que se esforçar, e que, como falara, ele não poderia fugir a qualquer momento.
Isso ele estava disposto a fazer. E ele esperava que ela também estivesse.
— E se nós apenas permanecermos assim? — ele perguntou pensativo.
— Assim como?
— Assim… Juntos, mas… Devagar.
franziu a testa, confusa com o que tinha ouvido. também se confundira com as próprias palavras.
— Digo… E se nós irmos devagar? Conhecendo os limites de cada um, e os respeitando? Sem fugas e sem rompimentos.
abriu a boca para responder algo de imediato, mas não disse nada. Ao contrário, ela pareceu pensar sobre o que acabara de ouvir. Pensou tanto, que sentia que já não tinha mais dedos nas mãos para estralar, tamanha sua ansiedade por uma resposta.
— , eu não quero passar de novo pelo que passei semanas atrás. Não quero me ver chorando pelos cantos por causa de você de novo. Então não me faça promessas que você não poderá cumprir.
— , eu jamais prometeria algo que estivesse fora do meu alcance.
Ele disse sério. E dessa vez, tomando coragem, novamente levou sua mão por cima da mesa até alcançar os dedos dela. não se afastou.
— Tudo o que eu quero é você de volta. É poder ficar deitado na cama o dia todo, mesmo tendo duas provas, três trabalhos e um seminário no dia seguinte. Quero poder andar na rua com você e rir das suas piadas culturais que não fazem o menor sentido. Quero ir devagar com a nossa relação, a ponto de termos a chance de nos conhecermos mais profundamente. Não quero ter medo do que sinto por você.
E decidindo que ela merecia uma nova chance de ser feliz, e que eles mereciam uma nova chance de se amarem, dessa vez sem receios e sem pisar em ovos, escolheu dar a uma nova chance.
Ela escolheu dar a eles uma nova chance de não repetirem os mesmos erros de outrora.
— Vamos ver no que isso vai dar. — ela disse entrelaçando seus dedos nos dele. — Não faça eu me arrepender, .
Com um sorriso verdadeiro — o primeiro que ele dava em semanas — ele disse:
— Eu jamais faria isso com a minha garota.
E partilhando do mesmo sorriso, terminou o seu chocolate quente — que já não estava mais quente — apenas para seguirem até o caixa e acertarem a conta da mesa.
Ainda de mãos dadas, o casal caminhou junto pela calçada, mantendo os corpos próximos para se protegerem do vento frio, rindo por todo o caminho de alguma piada nerd que contou. Por todo o percurso, eles apenas se preocuparam em curtir o momento em que estavam vivendo, sem pensar no que poderia acontecer no dia seguinte, ou na próxima semana, ou nos meses que viriam. Afinal, eles haviam decidido apenas viver o agora e ver no que aquele relacionamento iria dar.
Olhou em volta, apenas para constatar o que ele já imaginava encontrar: vários grupos de jovens, provavelmente se encontrando após a aula. Algumas famílias também estavam ali e, como ele, preferiram escolher mesas mais afastadas das conversas altas dos adolescentes.
— Deseja pedir agora, senhor?
— Ainda não. Estou esperando uma pessoa. — ele respondeu ao atendente.
voltou sua atenção para o movimento na rua, e foi quando ele a viu.
vestia um longo sobretudo vermelho, e tinha uma touca na cabeça para se proteger do frio. Ela parou na calçada, esperando o semáforo fechar. Atravessou a rua meio correndo, as mãos nos bolsos do casaco e os cabelos voando por conta do vento do lado de fora.
Mesmo à distância, se pegou sentindo o perfume dos cabelos da mulher, em uma memória olfativa.
acompanhou os movimentos dela, até que chegasse em frente à cafeteria que ele escolhera. A mulher ficou alguns segundos parada na entrada, os olhos passando pelas mesas do local.
Ele levantou a mão para chamar a sua atenção e mostrar a sua localização. Ao ter a atenção de em si, deu um leve sorriso, o qual não foi retribuído por ela.
atravessou o local, desviando-se das mesas cheias. Parou em frente a e, sem o cumprimentar, puxou uma cadeira e se sentou.
viu a mulher desabotoar o sobretudo e tirar a touca que lhe aquecia as orelhas. E foi nesse momento que ela, finalmente, olhou para o homem à sua frente.
— Hey! — ele disse com um sorriso tímido, com um tom de voz meio surpreso, devido ao fato dela realmente ter cumprido com a palavra e ter ido encontrá-lo.
— Olá. — ela respondeu. Diferente de , ela não demonstrou emoção nenhuma ao falar com ele.
não estava exatamente surpreso pela reação da mulher. A verdade é que, devido ao último encontro que os dois tiveram, ele já considerava um grande feito tê-la convencido de tomar um café com ele.
— Como você está? — ele perguntou em uma clara tentativa de puxar assunto.
— Estou bem, você sabe… Considerando tudo. — ela disse dando de ombros.
engoliu em seco.
não perguntou como ele estava. Ela estava se fazendo de difícil, tentando se envolver o mínimo possível com o homem à sua frente, e não podia culpá-la.
Eu sou o culpado de termos chegado a este ponto, ele pensou.
Ele tentou pensar em qualquer outra coisa que pudesse perguntar, uma forma de iniciar uma conversa banal, apenas para quebrar o clima tenso entre eles. E então, ele poderia finalmente chegar ao ponto que os levou até ali naquele dia.
— E a faculdade? Imagino que deva estar puxado… — ele disse receoso, os dedos das mãos fortemente entrelaçados embaixo da mesa, longe da visão de .
— Está mesmo. — ela respondeu com um suspiro. — Sabe como é, último ano, estágio, trabalho de conclusão de curso…
deixou a frase no ar e passou a olhar para a rua movimentada através da janela.
balançou a cabeça em sinal de concordância, demonstrando que sabia do que falava. Ele tentou pensar rápido em novo tópico para conversa, mas, para sua sorte, foi interrompido pelo atendente.
— Estão prontos para pedir?
Pela primeira vez, desde que chegou, deu um pequeno sorriso. Pediu um chocolate quente com chantilly, enquanto preferiu ficar com um café expresso. Quando chegou à cafeteria mais cedo, ele sentia fome, e pensou em pedir algo para comer. Mas naquele momento, tendo à sua frente, ele já não sentia mais a mesma fome.
— Logo trago o pedido de vocês.
— Obrigada. — ela agradeceu.
Ao devolver o cardápio para o atendente, a moça voltou a prestar atenção no movimento do lado de fora, preocupada em não fazer contato visual com . E por mais que se sentisse magoado com a atitude dela, aquela atitude doía muito mais da mulher do que nele.
— Magali se recuperou bem da cirurgia de castração? — ele perguntou em um sobressalto.
suspirou novamente, antes de responder à pergunta.
— Sim, . Magali está muito bem, obrigada por perguntar. — disse com a voz entediada.
E percebendo que o homem abria a boca para fazer alguma outra pergunta banal, ela continuou, dessa vez com os olhos presos nos dele:
— , por que eu estou aqui?
A voz dela já não demonstrava o tédio de outrora. tinha um tom quase de súplica, como se implorasse para que aquele momento chegasse ao fim.
A verdade é que a mulher pensou várias e várias vezes no convite que recebera de , três dias atrás. A princípio, ela não cogitou a possibilidade de encontrá-lo. Seria doloroso demais, ela pensou. Mas então, mesmo depois de semanas sem vê-lo, sonhou com . De novo. E por causa desse sonho, e do sentimento de pesar que ela tinha no peito, decidiu encontrá-lo para colocar um ponto final na relação que outrora eles tiveram.
— , eu disse ao telefone… Eu apenas quero…
— Conversar. — ela completou a sua fala, interrompendo-o. balançou a cabeça em concordância, apenas para ouvir a mulher suspirar à sua frente.
Ela não queria conversar, pelo menos não naquele momento.
— Se me lembro bem, há algumas semanas eu tentei conversar, mas você estava ocupado demais dizendo que o que tínhamos não era nada sério, e por isso não tínhamos o que conversar.
Aquilo foi como um balde de água fria em . De fato, ele não esperava que aquela conversa se desse facilmente, afinal, ele havia sido um grande cretino com . Mas ele tinha um belo discurso preparado para ela, e tinha a esperança de ter a oportunidade de fazê-lo e, talvez, tentar convencê-la a lhe dar uma nova chance.
— Eu sei. — ele disse baixinho. — Eu sei, e sinto muito por isso.
respirou fundo e fixou os olhos na mesa, bem longe dos olhos de .
O homem tomou ar para voltar a falar, mas foi interrompido pelo garçom que trazia seus pedidos.
— Um chocolate quente com chantilly para a moça, e um expresso para o rapaz. — ele disse sorridente.
— Obrigado. — os dois responderam juntos.
E quando o atendente já havia se afastado, resolveu ocupar as suas mãos colocando açúcar e mexendo o café, já que estavam demasiada inquietas embaixo da mesa.
— , você não imagina o quanto eu sinto… Sinto muitíssimo pela forma como as coisas terminaram entre nós.
Diferentemente do que esperava, soltou uma risadinha antes de responder a ele.
— Sabe , eu também sinto. — ela disse pensativa. E enquanto mexia em sua bebida, continuou. — Quem diria, não é mesmo? Nós dois estávamos naquela relação, mas cada um de nós víamos o nosso relacionamento de um jeito. Uma pena eu ter demorado tanto tempo para perceber isso.
pensou ter visto um brilho diferente no olhar de , mas se ela tinha lágrimas nos olhos, a mulher não permitiu que ele as visse.
Por outro lado, , que sempre se julgara um homem forte e que dificilmente demonstrava o que sentia, quase não pôde conter as próprias lágrimas, as quais eram consequência do aperto no peito que sentia.
— …
— Eu me lembro como se fosse ontem. — ela falou com a voz vaga, distante. — Eram cinco da manhã, e a nossa conversa tinha ficado chata. Você disse que iria para a cama mais cedo, e então eu tive uma ideia: desligar o telefone, percorrer as duas quadras que separavam os nossos apartamentos, e me esgueirar até o seu quarto.
se lembrava perfeitamente bem daquela noite.
Eles estavam tendo mais uma das conversas banais que costumavam ter nas noites que antecediam dias de provas na faculdade — noites estas que cada um acabava ficando no seu próprio apartamento, estudando. se lembrava de ter chego ao seu quarto e encontrado dormindo no seu travesseiro. Naquela noite, ele teve um misto de sensações: felicidade por ter a chance de dormir ao seu lado quando não o fazia há uma semana, e medo. sentiu medo do sentimento de felicidade que o dominava todas as vezes que ele pensava na mulher.
— Eu pensei em te esperar lá. — ela continuou. — Eu pensei “caramba, , o que você está fazendo? Você tem prova amanhã às sete e meia!”, mas então eu ouvi você subindo as escadas, e eu fingi que estava dormindo. Eu esperava que você entrasse lá e ficasse comigo, e foi exatamente o que você fez. — a mulher levantou a cabeça e olhando nos olhos de , ela continuou. — Você pôs seu braço em volta dos meus ombros e foi como se o quarto tivesse ficado frio. Foi nesse momento que eu percebi que as coisas entre nós estavam diferentes.
suspirou por um momento. Lembrava-se perfeitamente bem de ter ficado alguns minutos parado na porta, pensando o que fazer. Mesmo à distância, ele podia sentir o perfume que emanava de seus cabelos, chamando-o, como uma droga que vicia o usuário. Seu corpo pedia para que ele se deitasse ao lado dela e a abraçasse com força. Suas mãos desejavam sentir o calor da pele dela de novo. Sua mente, porém, cheia de perguntas sem respostas, tinha medo de ceder aos desejos do seu coração.
— Me lembro daquela noite. — ele disse. Como ele poderia não se lembrar? Afinal, havia sido a última noite deles juntos. — Você abriu os olhos e ficamos mais perto. Começamos a falar de coisas banais, como o tempo, e então você disse que o dia seguinte seria divertido, já que seria a sua última prova do semestre.
— Você disse que nós poderíamos assistir “Um Lugar ao Sol”. — ela falou com um sorriso de lado, um sorriso quase imperceptível. — Você odeia esse filme.
não pôde conter uma risada fraca. Ele realmente não gostava daquele filme, mas sabia que era um dos favoritos da mulher.
— Eu não sabia o que estava acontecendo. — ele confessou, a voz tomando tom de seriedade. — Quando você me beijou, foi como se eu fosse jogado em uma piscina de sensações e não soubesse nadar.
sustentou o olhar do homem por tempo suficiente para sentir os olhos arderem. Piscou várias vezes e levou as mãos até sua xícara novamente, tomando um gole do chocolate quente. A bebida já havia esfriado.
A mulher inflou os pulmões antes de falar, já não se preocupando mais em tentar se manter afastada de qualquer sentimento ou emoção que pudesse demonstrar naquele momento. aceitou tomar um café com , e decidiu que iria ouvir o que ele tinha a dizer, mas havia prometido a si mesma que não se deixaria levar pelos sentimentos que outrora a dominavam. Naquele momento, porém, ela já não se importava em demonstrar o que ela sentia.
— Eu estava tão apaixonada por você, tão envolvida no que nós tínhamos que uma simples ligação sua já me deixava em êxtase. Quando a sua foto aparecia na tela do meu celular, eu não me sentia sozinha, pelo contrário. Eu me sentia… Não sei, completa.
apoiou as costas no encosto da cadeira, passou a língua nos lábios e passou a divagar sobre os meses que passou ao lado de .
— Você se lembra de quando perguntei se você era meu?
respondeu à pergunta com um simples balançar de cabeça.
— E qual foi a sua resposta?
Ele suspirou antes de responder.
— Disse que eu não pertencia a mulher alguma, mas apenas a mim mesmo. — ele disse com pesar, arrependendo-se das palavras que escolhera usar naquela época.
A verdade é que nunca acreditara no amor, tampouco era fã de relacionamentos sérios. Por esse motivo, ele preferia criar uma barreira defensiva em torno do seu coração à deixar-se envolver e se entregar a um romance. sabia como lidar com números e finanças, sabia como administrar um negócio ou uma empresa, mas não fazia ideia de como lidar com o turbilhão de emoções que causava nele. O mais fácil, e também o mais lógico, portanto, era fugir.
novamente sorriu para ele, sorriso este que não alcançou os seus olhos.
— Sabe, eu nunca tive a intenção de pertencer a homem nenhum também, mas não me importava em dividir o meu tempo e compartilhar da minha vida com você. Pensava que o sentimento fosse recíproco, mas vi que estava enganada.
— …
— O que eu não entendi até agora, , é o porquê. Digo… Nós ficamos juntos por meses, e a cada dia eu ficava mais impressionada pela forma como você agia carinhosamente em público. Até mesmo quando a sua amiga disse que isso a deixava enjoada, ainda no início do nosso relacionamento, mesmo constrangido, você me chamou de “amor”. — ela disse com a voz distante, recordando-se perfeitamente bem da cena que descrevia. — Não sei se me chamou de “amor” por acidente, ou se foi de coração. De qualquer forma, eu te pergunto… Por quê?
sentia o coração bater rápido demais. Tão rápido, que temia que ele pudesse sair do seu peito a qualquer momento.
Desde o início ele sabia que a conversa com não sairia como o planejado em sua mente, e também tinha ciência de que precisaria lhe dar algumas explicações caso quisesse ser ouvido por ela. Mas aquela pergunta lhe atingiu em cheio.
Por quê? Porque ele havia pedido o término do relacionamento deles quando ele estava tão apaixonado por ela? Por que ele havia pedido para se encontrar com ela naquele dia, logo após a última prova do semestre de , e havia dito que não poderiam continuar se vendo?
Por quê?
— Porque… — Por quê?, ele se perguntava isso todos os dias. — Porque eu não sabia o que estava sentido.
encontrou dificuldade para colocar em palavras o que ele sentia, afinal, ele nunca havia precisado fazer isso antes. Até porque eu nunca havia me sentido assim antes.
— Eu não quero que você pense que estou justificando os meus atos, porque eu não estou. Sei que foi errado a forma como tratei o nosso relacionamento, a forma com que coloquei um fim a tudo. Reconheço os meus erros.
havia ensaiado essa parte em casa. Ele precisava mostrar a ela que ele sabia que tinha errado, que não queria justificar suas ações, mas, ainda assim, queria uma nova chance. Uma nova chance para fazer as coisas direito.
— Eu nunca havia me apaixonado antes. Quer dizer, não é como se a minha paixonite pela Sra. Bella, na segunda série, pudesse ser chamada de amor. — ele disse em tom de brincadeira, dando uma risadinha ao final. — Foi realmente uma surpresa todos aqueles sentimentos misturados, todas aquelas sensações… Quem diria, não é mesmo? O cara que sempre se orgulhou por ser uma pessoa completamente independente se tornava o mais bobo de todos ao receber, de repente, uma ligação sua. E então eu já não estava mais sozinho, pois eu sabia que tinha você do meu lado.
precisou engolir em seco. Sua expressão foi lentamente deixando a seriedade de lado para ceder às palavras de .
O problema em acreditar nele? Ela não queria se machucar novamente.
— O mais irônico de tudo é o fato de que os meus amigos perceberam os meus sentimentos antes de mim mesmo. — ele deu uma risada irônica. — Quer dizer, é claro que eles sabiam. Eu contava para eles sobre você, sobre nós, e eles sabiam, sabiam que eu estava completamente apaixonado.
— Eu pensei que também soubesse. — ela disse baixinho. — Mas então você…
— Eu espanei. — ele completou a frase, fechando os olhos com força, se arrependendo de cada palavra dita naquele dia. — Eu espanei, porque preferi fugir do que estava sentindo, das novas sensações que você me causava. Fugir e não olhar para trás… É sempre o caminho mais fácil.
— E você preferiu fugir e ser um completo idiota a conversar comigo. — não tinha sido uma pergunta.
— Desculpe, .
tinha a cabeça baixa, mas os olhos fixos nos dela.
— As últimas semanas foram horríveis, as piores da minha vida. E hoje, por mais distante que você esteja, já se tornou o melhor dia da minha semana.
precisou respirar fundo algumas vezes.
nunca precisou se esforçar para mexer com a sua mente e o seu coração. E se levasse em conta que desta vez ele estava realmente tentando reconquistá-la, podia afirmar que ele estava tendo um grande sucesso.
E por mais que ela acreditasse em cada uma de suas palavras — especialmente porque o seu olhar desesperado dizia mais do que suas frases bonitas — ela sabia que não conseguiria confiar nele novamente. Pelo menos não agora.
— O que você quer exatamente, ? — ela perguntou firme.
, por sua vez, respirou fundo, levantou a cabeça e tomou coragem para estender a mão sobre a mesa, à procura dos dedos dela. Ele parou a mão ao lado da dela, mas não teve coragem de entrelaçar seus dedos.
— Quero mais uma chance. Só mais uma.
levou a atenção para as mãos próximas em cima da mesa, sem tomar a iniciativa de acabar com o espaço que as separava.
— E o que você pretende fazer com essa nova chance? — ela perguntou. — Não que eu esteja considerando dá-la a você.
tentou, mas não pôde controlar o fio de esperança que sentiu ao ouvir a fala de .
— Pretendo fazer as coisas certas dessa vez. Pretendo não fugir do que sentir cada vez que eu pensar em você. Pretendo dar o título correto ao nosso relacionamento.
bufou, jogou o corpo para trás e cruzou os braços.
— Isso é o que você tem a me oferecer? Um título? — ela perguntou. — Eu nunca cobrei um título de você, . Nunca exigi que fosse chamada de “namorada” na frente dos seus amigos. O que eu sempre quis foi respeito. Respeito por mim, por você e por nós dois.
tentou responder àquilo, mas foi mais rápida.
— Não, agora é a minha vez de falar. — ela disse firme. — Ao terminar o que tínhamos daquela forma você não só desrespeitou a mim e o que eu sentia por você, mas também faltou com respeito com você mesmo, . Isso porque, segundo o que você acabou de falar, você preferiu ignorar tudo o que sentia e seguir uma lógica sem lógica nenhuma. Preferiu fugir e fingir que não havia nada demais entre nós, em vez de encarar o nosso relacionamento com maturidade.
concordou com o que ouvia acenando com a cabeça. estava certa. Ela sempre estava certa.
— Agora você quer me fazer acreditar que, de uma hora para outra, você se tornou um cara maduro o bastante para assumir um relacionamento sério, e que não vai pular para fora do barco na primeira dificuldade que encontrar, ou na primeira dúvida que surgir?
pensou por alguns segundos no que acabara de falar. Ela estava certa novamente.
Ela sempre está certa.
A verdade é que ele não havia mudado de uma hora para outra. ainda era o mesmo cara de outrora, mas dessa vez ele tinha consciência de que, se ele quisesse fazer aquilo dar certo, ele teria que se esforçar, e que, como falara, ele não poderia fugir a qualquer momento.
Isso ele estava disposto a fazer. E ele esperava que ela também estivesse.
— E se nós apenas permanecermos assim? — ele perguntou pensativo.
— Assim como?
— Assim… Juntos, mas… Devagar.
franziu a testa, confusa com o que tinha ouvido. também se confundira com as próprias palavras.
— Digo… E se nós irmos devagar? Conhecendo os limites de cada um, e os respeitando? Sem fugas e sem rompimentos.
abriu a boca para responder algo de imediato, mas não disse nada. Ao contrário, ela pareceu pensar sobre o que acabara de ouvir. Pensou tanto, que sentia que já não tinha mais dedos nas mãos para estralar, tamanha sua ansiedade por uma resposta.
— , eu não quero passar de novo pelo que passei semanas atrás. Não quero me ver chorando pelos cantos por causa de você de novo. Então não me faça promessas que você não poderá cumprir.
— , eu jamais prometeria algo que estivesse fora do meu alcance.
Ele disse sério. E dessa vez, tomando coragem, novamente levou sua mão por cima da mesa até alcançar os dedos dela. não se afastou.
— Tudo o que eu quero é você de volta. É poder ficar deitado na cama o dia todo, mesmo tendo duas provas, três trabalhos e um seminário no dia seguinte. Quero poder andar na rua com você e rir das suas piadas culturais que não fazem o menor sentido. Quero ir devagar com a nossa relação, a ponto de termos a chance de nos conhecermos mais profundamente. Não quero ter medo do que sinto por você.
E decidindo que ela merecia uma nova chance de ser feliz, e que eles mereciam uma nova chance de se amarem, dessa vez sem receios e sem pisar em ovos, escolheu dar a uma nova chance.
Ela escolheu dar a eles uma nova chance de não repetirem os mesmos erros de outrora.
— Vamos ver no que isso vai dar. — ela disse entrelaçando seus dedos nos dele. — Não faça eu me arrepender, .
Com um sorriso verdadeiro — o primeiro que ele dava em semanas — ele disse:
— Eu jamais faria isso com a minha garota.
E partilhando do mesmo sorriso, terminou o seu chocolate quente — que já não estava mais quente — apenas para seguirem até o caixa e acertarem a conta da mesa.
Ainda de mãos dadas, o casal caminhou junto pela calçada, mantendo os corpos próximos para se protegerem do vento frio, rindo por todo o caminho de alguma piada nerd que contou. Por todo o percurso, eles apenas se preocuparam em curtir o momento em que estavam vivendo, sem pensar no que poderia acontecer no dia seguinte, ou na próxima semana, ou nos meses que viriam. Afinal, eles haviam decidido apenas viver o agora e ver no que aquele relacionamento iria dar.
Fim
Nota da autora: Oi, oi, gatonas! Mais um ficstape no ar, e esse com uma fanfic curtinha (acho que é a menor fanfic que eu já escrevi, socorroooo) Confesso que estou bem ansiosa para saber a reação de vocês ao lerem a história... Espero que tenham gostado de ler como eu gostei de ter escrito ❤️ Deixem um comentário cheio de amor, e recomendem a fanfic para as amigas, haha
Beijos de luz
Angel
Outras Fanfics:
Longfic:
Ainda Lembro de Você ● It’s Always Been You
Shortfics:
21 Months ● Ainda Lembro de Nós ● Babá Temporária ● Beautifuly Delicious ● Because of the War ● Café com Chocolate ● Elemental ● O Conto da Sereia ● O Garoto do Metrô ● Rumor ● She Was Pretty ● Sorry Sorry ● Welcome to a new word ● When We Met
Ficstapes:
05. Paradise ● 06. Every Road ● 07. Face ● 10. What If I ● 12. Epilogue: Young Forever ● 15. Does Your Mother Know
MVs:
MV: Change ● MV: Run & Run ● MV: Hola Hola
Angel, acho que nunca tinha lido e/ou betado nada seu, e que delícia. Tão leve, tão bem escrita, tão perfeita que eu nem vi o tempo passar! Adorei a história desse casal, e confesso que acho que não tinha dado a mesma chance que a Kara, hein? Heh! Parabéns pela escrita!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Beijos de luz
Angel
Outras Fanfics:
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Ainda Lembro de Você ● It’s Always Been You
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21 Months ● Ainda Lembro de Nós ● Babá Temporária ● Beautifuly Delicious ● Because of the War ● Café com Chocolate ● Elemental ● O Conto da Sereia ● O Garoto do Metrô ● Rumor ● She Was Pretty ● Sorry Sorry ● Welcome to a new word ● When We Met
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MVs:
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