Prólogo
Apertei mais um pouco o agasalho grosso ao redor do meu corpo, na tentativa de me proteger mais do frio, que mesmo sem neve era presente. Um vento forte me vez fechar os olhos e tapar meu rosto com uma das mãos. Há muito o tempo permanecia fechado, mas hoje especialmente ele estava pior, nenhum vestígio sequer de sol no céu, apenas nuvens escuras estavam presentes. Mas eu não me surpreendia. Sempre ouvi dizer que em dias tristes tudo é triste. Minha pele estava mais pálida que o normal e o preto que sempre me caía tão bem nunca fora tão mal colocado.
Soltei um longo suspiro, fechando os olhos demoradamente. Comecei a descer os poucos degraus em direção à calçada lentamente, fazendo com que o pequeno salto do sapato que eu usava batesse no chão e fizesse um barulho tão único em meio ao silêncio daquela manhã que me incomodava. A senhora Lopez me aguardava em seu carro, com um sorriso triste e ao mesmo tempo reconfortante que me fez sentir acolhida naquele momento difícil. Sentei-me sozinha do banco de trás, já que sua filha, Santana, ocupava o do passageiro, que também me cumprimentou com um sorriso ladino e tocou minhas mãos. Deixei que meu corpo descansasse contra o banco e minha cabeça se escorasse no vidro da janela. Abracei a mim mesma com meus próprios braços e deixei que meus olhos se fechassem. Minha mente vagou para nove anos atrás, quando tudo era perfeito e eu sequer imaginava que isso poderia estar acontecendo.
Soltei um longo suspiro, fechando os olhos demoradamente. Comecei a descer os poucos degraus em direção à calçada lentamente, fazendo com que o pequeno salto do sapato que eu usava batesse no chão e fizesse um barulho tão único em meio ao silêncio daquela manhã que me incomodava. A senhora Lopez me aguardava em seu carro, com um sorriso triste e ao mesmo tempo reconfortante que me fez sentir acolhida naquele momento difícil. Sentei-me sozinha do banco de trás, já que sua filha, Santana, ocupava o do passageiro, que também me cumprimentou com um sorriso ladino e tocou minhas mãos. Deixei que meu corpo descansasse contra o banco e minha cabeça se escorasse no vidro da janela. Abracei a mim mesma com meus próprios braços e deixei que meus olhos se fechassem. Minha mente vagou para nove anos atrás, quando tudo era perfeito e eu sequer imaginava que isso poderia estar acontecendo.
Capítulo 1
***Flashback On.
Aquele foi definitivamente o melhor dia da minha vida, embora naquele exato momento eu não soubesse classificá-lo assim. Foi o dia em que o conheci e isso fez não só com que ele fosse o melhor, mas também todos os outros que passei ao seu lado.
Papai e eu estávamos na cozinha, ele como sempre metido a chefe preparando uma torta de maçã, que dizia ser sua especialidade e eu apenas observando-o e rindo de suas expressões engraçadas e exageradas enquanto terminava os últimos detalhes de sua, segundo ele, obra de arte. Eu estava em um vestido rosa claro, não muito apropriado para uma garota de dez anos, mas desde garota ele me vestia assim então não me importava. Assim que ele terminou, desceu-me da cadeira de frente para a bancada na qual ele preparava a torta e então seguimos para a festa da rua, que ocorria todos os anos, segundo a nossa vizinha. Ele me deixou junto a Rachel, a única amiga que eu tinha desde que me mudei para a Carolina do Norte, e outras crianças nos brinquedos que foram montados para aquela ocasião e se dirigiu aos outros adultos, procurando interagir mais com a vizinhança.
Eu corria para o pula-pula, tentando acompanhar o jeito elétrico de Rachel, após deixar a piscina de bolinhas, até que me esbarrei em um garoto magricelo, de pele dourada certamente pelo sol, cabelos e um par de óculos que foram de encontro ao chão com o impacto.
— Me desculpe — pedi. — Não fiz por mal, foi...
— Vem logo, . — Rachel me interrompeu, puxando-me pela mão para a fila, já grande, do pula-pula; o garoto me encarou, ainda no chão ajeitando seus óculos sobre o nariz fino.
— Rachel, eu acho que ele se machucou — comentei minha preocupação, alternando olhares entre os dois.
— Que nada, foi só um tombo e você já se desculpou — ela falou e me puxou para entrar no brinquedo com as outras crianças.
Pouco tempo depois eu já estava praticamente íntima do grupo de amigos de Rachel, sempre fui muito boa em me enturmar. Ainda aproveitávamos tudo o que tínhamos direito do nosso parquinho, enquanto os adultos continuavam interagindo entre si. Estávamos praticamente todos na fila do algodão doce e o garoto que eu, não por querer, derrubei continuava a me encarar fixamente.
— Eu acho que ele se chateou. — Comentei novamente com Rachel. — Ele não para de me encarar, será que o machuquei?
— Não se preocupe, é meio estranho assim mesmo — disse encarando-o. — Vive observando todos e bem, você é bonita, sabe que garotos gostam de observar garotas bonitas, né?
Minhas bochechas queimaram de vergonha.
— Tudo bem, então — concordei pegando meu algodão doce azulado e esquecendo minhas preocupações.
Completamente cansada de tanto correr e pular, resolvi procurar pelo meu pai, já com saudade de sua presença. Era sempre assim, pouco tempo longe dele e sentia sua falta, o fato de mamãe ter morrido quando eu era pequena nos fazia próximos e totalmente dependentes um do outro, não passávamos muito tempo distantes. Mas certamente não estava fácil achá-lo no meio de várias pessoas bem maiores que eu, o que dificultava minha visão. Resolvi me sentar na calçada, na esperança de que ele passaria por ali em algum momento. Abaixei a cabeça e deixei algumas lágrimas caírem livremente pelo meu rosto, sabia que era um tanto infantil da minha parte chorar por algo tão bobo, mas papai e eu tínhamos uma ligação tão forte e incomum.
Senti dedos finos tocarem levemente meu ombro e alguém sentar ao meu lado, levantei a cabeça e reconheci o garoto que esbarrei mais cedo, . Ele me encarava com certa curiosidade e então pude reparar seus olhos belos e .
— Por que você está chorando? — ele perguntou com uma voz adorável. — Precisa de ajuda?
— Não consigo encontrar meu pai, não conheço muito bem a rua ou as pessoas — reclamei limpando com a mão os vestígios de lágrimas pelo meu rosto.
— Quer que eu o procure com você? Conheço todo mundo, moro aqui desde sempre — deu um meio sorriso.
— Sério? — ele concordou com a cabeça. — Obrigada, — agradeci levantando-me.
Ele se levantou e começamos a caminhar.
— Me chame de — ele sorriu docemente e eu devolvi seu gesto.
Aquele foi definitivamente o melhor dia da minha vida, embora naquele exato momento eu não soubesse classificá-lo assim. Foi o dia em que o conheci e isso fez não só com que ele fosse o melhor, mas também todos os outros que passei ao seu lado.
Papai e eu estávamos na cozinha, ele como sempre metido a chefe preparando uma torta de maçã, que dizia ser sua especialidade e eu apenas observando-o e rindo de suas expressões engraçadas e exageradas enquanto terminava os últimos detalhes de sua, segundo ele, obra de arte. Eu estava em um vestido rosa claro, não muito apropriado para uma garota de dez anos, mas desde garota ele me vestia assim então não me importava. Assim que ele terminou, desceu-me da cadeira de frente para a bancada na qual ele preparava a torta e então seguimos para a festa da rua, que ocorria todos os anos, segundo a nossa vizinha. Ele me deixou junto a Rachel, a única amiga que eu tinha desde que me mudei para a Carolina do Norte, e outras crianças nos brinquedos que foram montados para aquela ocasião e se dirigiu aos outros adultos, procurando interagir mais com a vizinhança.
Eu corria para o pula-pula, tentando acompanhar o jeito elétrico de Rachel, após deixar a piscina de bolinhas, até que me esbarrei em um garoto magricelo, de pele dourada certamente pelo sol, cabelos e um par de óculos que foram de encontro ao chão com o impacto.
— Me desculpe — pedi. — Não fiz por mal, foi...
— Vem logo, . — Rachel me interrompeu, puxando-me pela mão para a fila, já grande, do pula-pula; o garoto me encarou, ainda no chão ajeitando seus óculos sobre o nariz fino.
— Rachel, eu acho que ele se machucou — comentei minha preocupação, alternando olhares entre os dois.
— Que nada, foi só um tombo e você já se desculpou — ela falou e me puxou para entrar no brinquedo com as outras crianças.
Pouco tempo depois eu já estava praticamente íntima do grupo de amigos de Rachel, sempre fui muito boa em me enturmar. Ainda aproveitávamos tudo o que tínhamos direito do nosso parquinho, enquanto os adultos continuavam interagindo entre si. Estávamos praticamente todos na fila do algodão doce e o garoto que eu, não por querer, derrubei continuava a me encarar fixamente.
— Eu acho que ele se chateou. — Comentei novamente com Rachel. — Ele não para de me encarar, será que o machuquei?
— Não se preocupe, é meio estranho assim mesmo — disse encarando-o. — Vive observando todos e bem, você é bonita, sabe que garotos gostam de observar garotas bonitas, né?
Minhas bochechas queimaram de vergonha.
— Tudo bem, então — concordei pegando meu algodão doce azulado e esquecendo minhas preocupações.
Completamente cansada de tanto correr e pular, resolvi procurar pelo meu pai, já com saudade de sua presença. Era sempre assim, pouco tempo longe dele e sentia sua falta, o fato de mamãe ter morrido quando eu era pequena nos fazia próximos e totalmente dependentes um do outro, não passávamos muito tempo distantes. Mas certamente não estava fácil achá-lo no meio de várias pessoas bem maiores que eu, o que dificultava minha visão. Resolvi me sentar na calçada, na esperança de que ele passaria por ali em algum momento. Abaixei a cabeça e deixei algumas lágrimas caírem livremente pelo meu rosto, sabia que era um tanto infantil da minha parte chorar por algo tão bobo, mas papai e eu tínhamos uma ligação tão forte e incomum.
Senti dedos finos tocarem levemente meu ombro e alguém sentar ao meu lado, levantei a cabeça e reconheci o garoto que esbarrei mais cedo, . Ele me encarava com certa curiosidade e então pude reparar seus olhos belos e .
— Por que você está chorando? — ele perguntou com uma voz adorável. — Precisa de ajuda?
— Não consigo encontrar meu pai, não conheço muito bem a rua ou as pessoas — reclamei limpando com a mão os vestígios de lágrimas pelo meu rosto.
— Quer que eu o procure com você? Conheço todo mundo, moro aqui desde sempre — deu um meio sorriso.
— Sério? — ele concordou com a cabeça. — Obrigada, — agradeci levantando-me.
Ele se levantou e começamos a caminhar.
— Me chame de — ele sorriu docemente e eu devolvi seu gesto.
Capítulo 2
— — a voz de meu pai ecoou do andar de baixo. — está te esperando na casa da árvore — apesar do volume da música, consegui ouvir claramente que meu melhor amigo me aguardava no nosso esconderijo.
Éramos inseparáveis desde o dia que ele me ajudou a encontrar meu pai, não tinha uma manhã em que não estávamos na casa um do outro. Dois anos atrás construímos com a ajuda de nossos pais a nossa casa da árvore, onde passávamos a maior parte do tempo, conversando, brincando com nossos jogos de tabuleiro e tantas outras coisas que inventávamos. Passei rapidamente pela cozinha, onde papai preparava o almoço e corri em direção à casinha de madeira nos fundos, onde me aguardava.
— O que é tão importante que me fez parar a leitura de Harry Potter? — perguntei brincalhona com as mãos nos quadris.
Ele pareceu pensar, com uma expressão brincalhona no rosto.
— Eu — ele disse e rimos, mas parecia haver algo que o incomodava.
— O que aconteceu? — caminhei até o sofá velho que a mãe dele tinha nos dado e me sentei com pernas de índio, de frente para ele.
Eu o estudava com o olhar, enquanto ele me olhava com aquela expressão de sempre, que eu jamais consegui identificar o que era. tinha os braços envoltos as suas pernas encolhidas e o queixo apoiado sobre os joelhos. Ele estava sério e algo em seu olhar me intrigava. Comecei a ficar preocupada com seu silêncio, mas quando estava prestes a perguntá-lo novamente o motivo ele finalmente respondeu minha pergunta.
— Minha mãe me fez uma pergunta estranha hoje — ele sussurrou audivelmente.
— Que pergunta? — questionei curiosa.
— Ela quis saber quais eram os meus sentimentos por você — meu coração acelerou nessa hora, sem nenhum motivo claro.
— E então? — perguntei olhando para baixo, envergonhada.
— Disse que não sabia e corri para cá — ele olhava pela janela e suas bochechas estavam claramente vermelhas.
— Por quê?
— Eu não sei — começava a ficar brava pelo fato de ele estar me enrolando.
— Que droga, , será que você poderia ser mais claro? Veio aqui pra nada? — perguntei irritada.
— Eu já disse que não sei, vim aqui para... Para...
— Tentar descobrir? — minha voz era baixa; não podia negar que essa dúvida surgiu em mim também, afinal, eu era uma garota de quatorze anos, éramos amigos muito próximos há três, vivíamos juntos, normal não entender corretamente o que isso significava principalmente por não se ter uma mãe com quem conversar sobre sentimentos e garotos, mas sim um pai que sempre fugia desse assunto, sem saber lidar com fato de sua única filha ser uma adolescente que consequentemente se apaixonaria por garotos.
— Sim — respondeu simplesmente, quando eu sequer esperava uma resposta, mas sim um assustado correndo casa afora, como ele sempre fazia quando não sabia o que fazer ou ficava extremamente envergonhado.
Não sabia dizer ao certo o que aconteceu. Nós nos olhamos, nossos pés foram para o chão e então nos aproximamos lentamente, inseguros, envergonhados, sem saber o que fazer como continuar e certamente pensando em como fugir daquela situação caso não desse certo. Principalmente pelo fato de estarmos cientes do que estava prestes a acontecer, também por nunca ter acontecido antes com nenhum de nós dois e por não sabermos como fazê-lo. Mas algo em mim, e aparentemente nele, queria que aquilo acontecesse, curiosidade, vontade e uma coisa estranha que não consegui identificar, talvez um dia soubesse. Ele fechou seus olhos e eu fechei os meus. Nossos rostos foram se aproximando, até que consegui sentir sua respiração quente e descompassada contra meu rosto, ele parecia tão nervoso quanto eu e isso me fazia sentir melhor. Os nossos lábios se encostaram, em seguida se pressionaram um contra o outro, ficamos um bom tempo apenas assim, até que ele resolveu movimentar os seus e eu resolvi fazer o que ele fazia. A língua dele tocou a minha assim que sua entrada fora concedida, e por mais estranho e nojento que eu estivesse achando, também era bom, estranha e nojentamente bom. Ele não a movimentou e eu também decidi não fazê-lo, até que o senti se afastar, mas permaneci com os olhos fechados, esperando que ele me beijasse novamente, porém não foi o que aconteceu. Depois de um tempo sem nada ter acontecido, resolvi abrir os olhos e tentar entender o motivo dele ter recuado e não se aproximado novamente. Não foi o que aconteceu, ele não estava mais lá, ele havia fugido.
//////
Nos dias que se passaram, tentei procurá-lo em sua casa, na escola, mas parecia estar fugindo de mim, bastava me ver para se esconder ou procurar um lugar onde eu não estava para ficar. O problema era que eu não conseguia entender o motivo, se ele gostou e tinha medo de que não fosse recíproco, se não gostou e não queria dizer ou então se tinha ficado tão confuso quanto eu e o que mais desejava era repetir.
Quando finalmente desisti de correr atrás de explicações do idiota do meu melhor, ou ex-melhor amigo, acabei encontrando-o sem querer. Vi ali a oportunidade perfeita para questioná-lo. Obviamente ele tentou fugir novamente, mas não permiti, segurei seus braços finos e sai o arrastando até o armário do zelador, pressionando-o intimidadoramente contra a porta fechada.
— Por que raios você vem fugindo de mim como se eu fosse... Sei lá... Um assassino de algum filme de terror? — perguntei brava. — Vem com esse papo sobre sentimentos, me beija e foge. Estou a dias tentando falar sobre isso com você, entender o que aconteceu, o que você sentiu, o que achou, o porquê de ter se mandado antes que eu abrisse os olhos... Mas você se esconde se afasta. Será que você, pelo amor de Deus, pode me dizer o que aconteceu e agir feito o adolescente de quinze anos que você é pelos uma vez na sua vida?
Ele tinha o olhar assustado, apreensivo, então o soltei, percebendo que fui agressiva e dura demais com .
— Eu... Eu... Eu não deveria ter feito isso — ele disse junto a um suspiro com a cabeça baixa; fiquei sem entender, suas palavras me machucaram, mas não entendi o por que. Teria ele se arrependido de ter me beijado? Ou com medo de ter que aturar a melhor amiga chata empatando seus relacionamentos de verdade? — Me desculpe — ele pediu e deixou rapidamente o armário, sem me dar a oportunidade de dizer mais nada ou fazer algo.
Escorei-me junto à porta e chorei como uma garotinha apaixonada, mesmo sem estar. Quer dizer, estava? Com medo de perder a próxima aula, resolvi contra minha vontade deixar aquele armário e voltar para a sala de aula, decidida a tratar da mesma maneira que ele estava me tratando, não correria atrás, afinal, aquela amizade parecia estar condenada. Várias pessoas me encaravam, provavelmente pelo fato dos meus olhos estarem vermelhos e inchados. Corri de seus olhares em direção à próxima aula, limpando os vestígios de lágrimas pelo meu rosto.
//////
Quase duas semanas haviam se passado desde o beijo na casa da árvore e uma desde a briga, que não levara a lugar nenhum lugar, no armário do zelador. Todas as vezes que nos encontrávamos pelos corredores, no refeitório ou então no caminho de casa até a escola e vice-versa, eu ignorei seus olhares discretos sobre mim, voltando minha atenção às músicas que tocavam no meu fone de ouvido ou para alguma amiga que estivesse ao meu lado.
Eu estava realmente disposta a ignorá-lo completamente depois da nossa briga, da sua infantilidade, mas obviamente eu vinha desistindo, diversas vezes tive vontade de ir até sua casa e enfrentá-lo novamente. Minha tristeza e também o afastamento de já eram claros, papai sempre me perguntava o motivo, porém eu desconversava todas as vezes, afinal, eu não estava pronta para dizer que beijei meu melhor, ou ex-melhor, amigo, assim como ele também não deveria estar para ouvi-lo.
Sozinha, no meu quarto, lendo pela milésima vez Romeu e Julieta, sem prestar nenhuma atenção, já que minha mente estava contra minha vontade em , perdi todo o orgulho que me restava. Fechei meu livro completamente decidida a procurá-lo novamente, não só para tentar conversar mais uma vez sobre o acontecido, mas também porque não o via há um bom tempo e começava a ficar preocupada, com medo de ter acontecido algo. Aproveitando a distração de papai com algum jogo que passava na televisão, saí de casa na ponta dos pés e corri até a do outro lado da minha, que estava completamente escura. Bati algumas vezes na porta, na janela e tentei até mesmo chamá-lo e ao seus pais, porém não obtive resposta. Aproximei meu rosto da janela tentando enxergar algo em meio todo aquele breu, mas não tinha nada, os móveis coloridos que Mary tanto amava não estavam lá, corri ao redor olhando em outros cômodos que também estavam vazios. Então um desespero tomou conta de mim, voltei para casa, gritando pelo meu pai que se assustou.
— O que aconteceu, ? — ele se aproximou de mim, colocando suas mãos em meus ombros. — Não vi você sair, aliás, quem te deixou sair? Filha está escuro lá fora, é perigoso.
— Eu sei, me desculpe, mas precisei ir atrás de — falei com dificuldades em respirar por ter corrido feito uma louca. — Pai, ele não vai à escola há um bom tempo, ninguém me respondeu e quando olhei pelas janelas não tinha nada lá. O que aconteceu?
— ... — ele parou, me puxando para o sofá; comecei a ficar com medo do que poderia ter acontecido. — e sua família se mudaram. Eu estava tentando achar uma forma de te dizer, mas não consegui, sei quanto ele é importante para você e também que eram muito próximos.
— Ele se mudou? — algumas lágrimas começaram a descer pelo meu rosto. — Sem se despedir de mim? Por quê? O que aconteceu para eles se mudarem assim e sem se despedirem?
— Eu não sei, eles apenas precisaram deixar a Carolina do Norte às pressas. Quando perguntei, eles disseram apenas que era urgente, mas que não podiam dizer o motivo. E quanto a ... Bem, vocês não estavam conversando, não é? — concordei com a cabeça. — Talvez seja por isso ou então pela correria com qual eles se mudaram.
— Estou tão triste, pai — chorei, tapando o rosto. — Vou sentir tanto a falta dele.
— Eu sei, sinto muito, . — ele disse e me abraçou.
— Será que algum dia ele vai voltar? Sinto-me tão mal por estar brigada com ele... — deitei minha cabeça sobre as pernas de meu pai, que acariciava meus cabelos.
— Tenho certeza que sim — me sorriu confiante.
Éramos inseparáveis desde o dia que ele me ajudou a encontrar meu pai, não tinha uma manhã em que não estávamos na casa um do outro. Dois anos atrás construímos com a ajuda de nossos pais a nossa casa da árvore, onde passávamos a maior parte do tempo, conversando, brincando com nossos jogos de tabuleiro e tantas outras coisas que inventávamos. Passei rapidamente pela cozinha, onde papai preparava o almoço e corri em direção à casinha de madeira nos fundos, onde me aguardava.
— O que é tão importante que me fez parar a leitura de Harry Potter? — perguntei brincalhona com as mãos nos quadris.
Ele pareceu pensar, com uma expressão brincalhona no rosto.
— Eu — ele disse e rimos, mas parecia haver algo que o incomodava.
— O que aconteceu? — caminhei até o sofá velho que a mãe dele tinha nos dado e me sentei com pernas de índio, de frente para ele.
Eu o estudava com o olhar, enquanto ele me olhava com aquela expressão de sempre, que eu jamais consegui identificar o que era. tinha os braços envoltos as suas pernas encolhidas e o queixo apoiado sobre os joelhos. Ele estava sério e algo em seu olhar me intrigava. Comecei a ficar preocupada com seu silêncio, mas quando estava prestes a perguntá-lo novamente o motivo ele finalmente respondeu minha pergunta.
— Minha mãe me fez uma pergunta estranha hoje — ele sussurrou audivelmente.
— Que pergunta? — questionei curiosa.
— Ela quis saber quais eram os meus sentimentos por você — meu coração acelerou nessa hora, sem nenhum motivo claro.
— E então? — perguntei olhando para baixo, envergonhada.
— Disse que não sabia e corri para cá — ele olhava pela janela e suas bochechas estavam claramente vermelhas.
— Por quê?
— Eu não sei — começava a ficar brava pelo fato de ele estar me enrolando.
— Que droga, , será que você poderia ser mais claro? Veio aqui pra nada? — perguntei irritada.
— Eu já disse que não sei, vim aqui para... Para...
— Tentar descobrir? — minha voz era baixa; não podia negar que essa dúvida surgiu em mim também, afinal, eu era uma garota de quatorze anos, éramos amigos muito próximos há três, vivíamos juntos, normal não entender corretamente o que isso significava principalmente por não se ter uma mãe com quem conversar sobre sentimentos e garotos, mas sim um pai que sempre fugia desse assunto, sem saber lidar com fato de sua única filha ser uma adolescente que consequentemente se apaixonaria por garotos.
— Sim — respondeu simplesmente, quando eu sequer esperava uma resposta, mas sim um assustado correndo casa afora, como ele sempre fazia quando não sabia o que fazer ou ficava extremamente envergonhado.
Não sabia dizer ao certo o que aconteceu. Nós nos olhamos, nossos pés foram para o chão e então nos aproximamos lentamente, inseguros, envergonhados, sem saber o que fazer como continuar e certamente pensando em como fugir daquela situação caso não desse certo. Principalmente pelo fato de estarmos cientes do que estava prestes a acontecer, também por nunca ter acontecido antes com nenhum de nós dois e por não sabermos como fazê-lo. Mas algo em mim, e aparentemente nele, queria que aquilo acontecesse, curiosidade, vontade e uma coisa estranha que não consegui identificar, talvez um dia soubesse. Ele fechou seus olhos e eu fechei os meus. Nossos rostos foram se aproximando, até que consegui sentir sua respiração quente e descompassada contra meu rosto, ele parecia tão nervoso quanto eu e isso me fazia sentir melhor. Os nossos lábios se encostaram, em seguida se pressionaram um contra o outro, ficamos um bom tempo apenas assim, até que ele resolveu movimentar os seus e eu resolvi fazer o que ele fazia. A língua dele tocou a minha assim que sua entrada fora concedida, e por mais estranho e nojento que eu estivesse achando, também era bom, estranha e nojentamente bom. Ele não a movimentou e eu também decidi não fazê-lo, até que o senti se afastar, mas permaneci com os olhos fechados, esperando que ele me beijasse novamente, porém não foi o que aconteceu. Depois de um tempo sem nada ter acontecido, resolvi abrir os olhos e tentar entender o motivo dele ter recuado e não se aproximado novamente. Não foi o que aconteceu, ele não estava mais lá, ele havia fugido.
//////
Nos dias que se passaram, tentei procurá-lo em sua casa, na escola, mas parecia estar fugindo de mim, bastava me ver para se esconder ou procurar um lugar onde eu não estava para ficar. O problema era que eu não conseguia entender o motivo, se ele gostou e tinha medo de que não fosse recíproco, se não gostou e não queria dizer ou então se tinha ficado tão confuso quanto eu e o que mais desejava era repetir.
Quando finalmente desisti de correr atrás de explicações do idiota do meu melhor, ou ex-melhor amigo, acabei encontrando-o sem querer. Vi ali a oportunidade perfeita para questioná-lo. Obviamente ele tentou fugir novamente, mas não permiti, segurei seus braços finos e sai o arrastando até o armário do zelador, pressionando-o intimidadoramente contra a porta fechada.
— Por que raios você vem fugindo de mim como se eu fosse... Sei lá... Um assassino de algum filme de terror? — perguntei brava. — Vem com esse papo sobre sentimentos, me beija e foge. Estou a dias tentando falar sobre isso com você, entender o que aconteceu, o que você sentiu, o que achou, o porquê de ter se mandado antes que eu abrisse os olhos... Mas você se esconde se afasta. Será que você, pelo amor de Deus, pode me dizer o que aconteceu e agir feito o adolescente de quinze anos que você é pelos uma vez na sua vida?
Ele tinha o olhar assustado, apreensivo, então o soltei, percebendo que fui agressiva e dura demais com .
— Eu... Eu... Eu não deveria ter feito isso — ele disse junto a um suspiro com a cabeça baixa; fiquei sem entender, suas palavras me machucaram, mas não entendi o por que. Teria ele se arrependido de ter me beijado? Ou com medo de ter que aturar a melhor amiga chata empatando seus relacionamentos de verdade? — Me desculpe — ele pediu e deixou rapidamente o armário, sem me dar a oportunidade de dizer mais nada ou fazer algo.
Escorei-me junto à porta e chorei como uma garotinha apaixonada, mesmo sem estar. Quer dizer, estava? Com medo de perder a próxima aula, resolvi contra minha vontade deixar aquele armário e voltar para a sala de aula, decidida a tratar da mesma maneira que ele estava me tratando, não correria atrás, afinal, aquela amizade parecia estar condenada. Várias pessoas me encaravam, provavelmente pelo fato dos meus olhos estarem vermelhos e inchados. Corri de seus olhares em direção à próxima aula, limpando os vestígios de lágrimas pelo meu rosto.
//////
Quase duas semanas haviam se passado desde o beijo na casa da árvore e uma desde a briga, que não levara a lugar nenhum lugar, no armário do zelador. Todas as vezes que nos encontrávamos pelos corredores, no refeitório ou então no caminho de casa até a escola e vice-versa, eu ignorei seus olhares discretos sobre mim, voltando minha atenção às músicas que tocavam no meu fone de ouvido ou para alguma amiga que estivesse ao meu lado.
Eu estava realmente disposta a ignorá-lo completamente depois da nossa briga, da sua infantilidade, mas obviamente eu vinha desistindo, diversas vezes tive vontade de ir até sua casa e enfrentá-lo novamente. Minha tristeza e também o afastamento de já eram claros, papai sempre me perguntava o motivo, porém eu desconversava todas as vezes, afinal, eu não estava pronta para dizer que beijei meu melhor, ou ex-melhor, amigo, assim como ele também não deveria estar para ouvi-lo.
Sozinha, no meu quarto, lendo pela milésima vez Romeu e Julieta, sem prestar nenhuma atenção, já que minha mente estava contra minha vontade em , perdi todo o orgulho que me restava. Fechei meu livro completamente decidida a procurá-lo novamente, não só para tentar conversar mais uma vez sobre o acontecido, mas também porque não o via há um bom tempo e começava a ficar preocupada, com medo de ter acontecido algo. Aproveitando a distração de papai com algum jogo que passava na televisão, saí de casa na ponta dos pés e corri até a do outro lado da minha, que estava completamente escura. Bati algumas vezes na porta, na janela e tentei até mesmo chamá-lo e ao seus pais, porém não obtive resposta. Aproximei meu rosto da janela tentando enxergar algo em meio todo aquele breu, mas não tinha nada, os móveis coloridos que Mary tanto amava não estavam lá, corri ao redor olhando em outros cômodos que também estavam vazios. Então um desespero tomou conta de mim, voltei para casa, gritando pelo meu pai que se assustou.
— O que aconteceu, ? — ele se aproximou de mim, colocando suas mãos em meus ombros. — Não vi você sair, aliás, quem te deixou sair? Filha está escuro lá fora, é perigoso.
— Eu sei, me desculpe, mas precisei ir atrás de — falei com dificuldades em respirar por ter corrido feito uma louca. — Pai, ele não vai à escola há um bom tempo, ninguém me respondeu e quando olhei pelas janelas não tinha nada lá. O que aconteceu?
— ... — ele parou, me puxando para o sofá; comecei a ficar com medo do que poderia ter acontecido. — e sua família se mudaram. Eu estava tentando achar uma forma de te dizer, mas não consegui, sei quanto ele é importante para você e também que eram muito próximos.
— Ele se mudou? — algumas lágrimas começaram a descer pelo meu rosto. — Sem se despedir de mim? Por quê? O que aconteceu para eles se mudarem assim e sem se despedirem?
— Eu não sei, eles apenas precisaram deixar a Carolina do Norte às pressas. Quando perguntei, eles disseram apenas que era urgente, mas que não podiam dizer o motivo. E quanto a ... Bem, vocês não estavam conversando, não é? — concordei com a cabeça. — Talvez seja por isso ou então pela correria com qual eles se mudaram.
— Estou tão triste, pai — chorei, tapando o rosto. — Vou sentir tanto a falta dele.
— Eu sei, sinto muito, . — ele disse e me abraçou.
— Será que algum dia ele vai voltar? Sinto-me tão mal por estar brigada com ele... — deitei minha cabeça sobre as pernas de meu pai, que acariciava meus cabelos.
— Tenho certeza que sim — me sorriu confiante.
Capítulo 3
— Eu sinceramente não consigo decidir quem é mais bonito — falou Santana, minha amiga.
Três anos haviam se passado desde a partida de e muitas coisas estavam mudadas. Meu pai, aquele que sempre fui tão próxima e ligada, se entregara ao mundo das bebidas e o nosso afastamento fora inevitável. Tivemos que trocar a nossa tranquila casa em um bairro seguro para um apartamento alugado, já que papai não estava mais dando conta de arcar com as despesas da nossa antiga moradia. O único lado bom era as lembranças que ficaram lá, naquela casa da árvore e isso fazia o fato do meu melhor amigo ter me abandonado doer menos.
Santana se tornara minha melhor amiga desde o primeiro dia no ensino médio e éramos muito próximas. Nós também morávamos uma do lado da outra e trabalhávamos em uma loja que pertencia a sua mãe, Sue. As duas sempre me davam apoio em meio ao caos que era minha vida, me ajudavam com meu pai e às vezes, quando ele perdia o emprego, com o aluguel. Eu sempre devolvia o dinheiro depois, mesmo quando diziam não ser necessário. Eu não sabia o que seria de mim sem elas.
Estávamos debaixo de uma árvore, de frente à porta da escola apenas esperando que desse a hora para entrarmos. Ela escorada no tronco e eu de frente para ela, ouvindo-a comentar sobre todos os garotos que passavam por nós, dando-os notas e alguns até mesmo apelidos. Santana comentava sobre um garoto moreno de olhos mel que piscara para ela, quando de repente parou de falar, fixando seus olhos em algo atrás de mim e ela não parecia ser a única a olhar, mas todos que estavam ali.
— Minha nossa, esse definitivamente superou qualquer outro... — ela disse se abanando com uma cara maliciosa. — Anda, olha — ela ordenou já me virando com suas mãos.
Sinceramente, não consegui acreditar. Anos atrás, quando deixara aquele lugar junto a sua família para sei lá onde, ele não passava de um garoto magricela, cabelos sobre olhos, tão bonitos, mas quase sempre ofuscados por um par de óculos fundo de garrafa que vivia equilibrando sobre o fino nariz. Suas roupas eram antes sempre tão bobas e seu jeito tão tímido, intimidado por tudo e todos. Tudo isso o tornava irreconhecível agora. se encontrava com o perfil forte, cabelos mais curtos, bagunçados e absurdamente sexy. Vestia uma jaqueta de couro preta e aquelas botas de guerra, cano fino, que jamais imaginei que o veria usar. Ele segurava um capacete e prendia sua moto em uma placa. Assim que se levantara, ciente de todos os olhares e parecendo gostar deles, seu rosto se virou em minha direção e só tive certeza que ele me olhava quando seus óculos escuros foram retirados de seu rosto. Ajeitou a mochila sobre um dos ombros e começou a caminhar. Por um momento, pensei que em direção à entrada da escola, mas só depois percebi que era em direção aonde Santana e eu estávamos. Meu coração acelerou, mas a morena atrás de mim parecia bastante animada.
Então seria assim? Três anos depois ele simplesmente viria em minha direção e agiria como se nada tivesse acontecido?
— — ele disse quando finalmente nos alcançou.
— — eu disse no mesmo tom.
Ele abaixou a cabeça como se me cumprimentasse e continuou seu caminho até a entrada da escola. Santana me olhava chocada e eu já me preparava para responder a enchente de perguntas que ela certamente jogaria sobre mim. Mas não esperei que ela dissesse qualquer coisa, me levantei e fiz o mesmo caminho que ele fizera, não querendo qualquer conversa enquanto eu tentava absorver tudo aquilo para só depois tentar explicar.
E sabe aquelas lembranças? Então, aquele seu olhar as trouxeram de volta para mim.
//////
Passava-se das dez da noite e papai ainda não estava em casa. Havia o visto apenas pela manhã antes de ir para a escola, já que não passei em casa antes de ir para o trabalho. Não era incomum que ele desaparecesse às vezes e eu sabia muito bem onde estava, mas ainda sim me preocupava, o medo de que algo mais grave acontecesse me dominava sempre que isso acontecia, era inevitável. Perguntei para Sue se ela o tinha visto, mas ela disse que só pela manhã quando ele saíra e não o vira voltar. Pedi perdão pelo incômodo, agradeci sua boa vontade e então me contentei que teria que ir atrás dele novamente. Peguei um casaco xadrez e quente, touca, luvas e me preparei para enfrentar a noite fria que me esperava lá fora.
Já andava há um bom tempo procurando por papai em alguns bares na região, mas sem obter sucesso. Estava prestes a desistir e chamar a polícia por medo de que algo tivesse acontecido, quando o avistei quase desmaiado em uma mesa de um bar e corri em sua direção com lágrimas no rosto. Vê-lo daquele jeito me desmanchava por dentro, não só por ser deprimente uma pessoa viver de tal maneira, principalmente se tratando do meu pai, mas também por lembrar-me sempre do homem que um dia fora.
— Pai — gritei, atraindo olhares de algumas pessoas que estavam no bar. — Tudo bem? — perguntei quando o alcancei, mas ele murmurou algo que não consegui entender. — Consegue andar? — ele balançou a cabeça negativamente. — Vem, eu te ajudo, vamos embora — falei colocando um de seus braços ao redor de meu pescoço e o meu de sua cintura.
Andava com dificuldade até a saída do bar, praticamente com todo o peso de papai sobre meus ombros já que ele mal conseguia andar sozinho e estava quase apagado devido ao efeito da bebida. Porém dois homens saíram de dentro de uma porta que ficava atrás do balcão após o barista chamá-los e se encaminharam até mim.
— Onde vocês pensam que vão? — perguntou o mais alto.
— Eu... Eu vou embora — respondi assustada.
— Sem antes pagar a conta? — o de cabelos ruivos cruzou os braços, olhando intimidadoramente.
— E-ele não pagou? — ambos negaram. — Sinto muito — pedi e comecei a vasculhar o bolso de meu pai atrás de dinheiro, porém nada encontrei e eu usara todo o meu salário com as despesas do apartamento. — Não temos dinheiro — falei em um sorriso.
— Sendo assim, quem sente muito somos nós — o moreno falou ironicamente e então tomou papai de meus braços.
— O que vocês vão fazer? — perguntei, temendo o pior.
— Mostrá-lo que se deve sempre pagar uma conta — os dois o levaram para o fundo do bar, onde tinha uma porta e eu os segui.
— Por favor, não o machuquem — pedi, com as lágrimas novamente escorrendo livremente pelo meu rosto. — Por favor!
Eu implorava sobre soluços, mas percebi que era tarde demais quando alcançamos o beco que a saída dos fundos do bar levava e os homens jogaram sem nenhuma piedade meu pai no chão, contra a parede. Eu ainda gritava na tentativa de convencê-los a desistir do que estavam prestes a fazer. Corri até ele e me coloquei a sua frente, mesmo temendo que eles me batessem e que eu não conseguiria revidar, porém um deles me segurou pelo braço, prendendo-me e o outro tratava sozinho do serviço. Chorava desesperada, tentando me soltar inutilmente dos braços fortes do ruivo que me segurava, enquanto meu pai mal reagia devido o seu péssimo estado.
Já havia desistido de tentar me soltar e principalmente de olhar, apenas fechei os olhos deixando que as lágrimas molhassem todo meu rosto e roupa. Até que senti outra pessoa puxar meus braços.
— , está tudo bem? — abri os olhos e me deparei com aqueles olhos que eu tanto amava. — Eu vou dar um jeito nisso — disse e partiu para cima do homem que agredia meu pai; ótimo, agora eu teria duas pessoas com quem me preocupar.
O homem que antes me segurava partiu para cima do loiro, junto ao outro, que deixou meu pai de lado e se juntou ao outro. Aproveitei que ambos estavam distraídos com e corri até meu pai, que tinha boca e nariz cheios de sangue e o ajudei a se levantar.
— Vocês não têm vergonha de agredir um senhor de idade? — perguntou, mostrando bastante habilidade ao tentar se defender dos dois homens enormes contra ele. — E ainda por cima na frente de uma garota.
— É isso que acontece com quem não arca com suas responsabilidades. Esse senhor aí, — disse referindo-se ao meu pai —, passou o dia enchendo a cara e estava indo embora sem pagar.
— Então é por isso? Por causa de dinheiro? — perguntou indignado. — Eu pago tudo o que ele deve, então, mas os deixe em paz.
— Tudo bem, desde que ele não volte aqui novamente — os homens concordaram e pararam de tentar machucá-lo.
tirou uma boa quantidade de dinheiro da carteira, falou um “fique com o troco” e caminhou até mim, ajudando-me com meu pai ao perceber que eu custava a carregá-lo sozinho. Deixamos o beco e começamos a caminhar pela rua, dominados por um profundo silêncio em decorrência de não saber o que dizer.
— Você ainda mora no mesmo lugar? — ele perguntou me olhando de lado.
— Não — dei-lhe as coordenadas e seguimos em direção ao apartamento.
Quando chegamos, ele me ajudou a levar papai para seu quarto e deitá-lo na cama. Ofereci um copo d’água que ele aceitou de bom grado e só então percebi alguns machucados pelo seu rosto, porque mesmo embora ele fosse muito bom em se defender, eram dois que valiam cada um por quatro contra um. Peguei os medicamentos que eu havia usado para cuidar de meu pai para fazer o mesmo com ele, mesmo insistindo que não precisava. Sentamos-nos no sofá velho e surrado na sala, de frente um para o outro e comecei a tratar de seus ferimentos, enquanto ele me observava como antigamente, com curiosidade e aquele algo mais que eu definitivamente desisti de descobrir o que é.
— O que aconteceu, ? — ele perguntou depois de longos minutos de silêncio.
Respirei profundamente piscando os olhos demoradamente, parando por um momento de passar o algodão com remédio em sua sobrancelha levemente cortada. Pousei as mãos sobre o colo e meus olhos nelas, enquanto ele permanecia com os olhos sobre mim, esperando uma resposta.
— Aconteceram muitas coisas, — falei. — Eu fui para o ensino médio, comecei a me envolver com garotos e sair com amigas, me afastando dele. E nós éramos tudo o que tínhamos, entende? Meu pai foi forte por muito tempo, mesmo sofrendo com a morte da minha mãe, o amor da sua vida, porque me tinha sempre por perto, mas eu cresci e foi inevitável o nosso afastamento. Depois disso, ele começou a beber, perdeu o emprego e deixou de ser aquela pessoa doce, boa e feliz, sabe? Então ele não conseguiu mais pagar as despesas da nossa casa, fomos despejados e conseguimos esse apartamento, um aluguel mais razoável e não tão difícil de manter. E é sempre assim, ele sai cedo, enche a cara e volta tropeçando em seus próprios pés, quando não tenho que ir atrás deles nos bares. Ele também vive perdendo os empregos que arruma e vira e meche preciso me virar sozinha ou contar com a ajuda da vizinha ao lado.
— Eu sinto muito, — ele disse, usando uma das mãos para acariciar meu rosto e colocar uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Pelo que aconteceu, por não estar aqui, por ter fugido de você como um garotinho depois do nosso... — ele deixou a frase no ar, na dúvida se deveria ou não tocar nesse assunto.
— Tudo bem, não é culpa sua o que aconteceu, nem mesmo tinha a opção de ficar aqui quando seus pais decidiram ir embora — levantei o rosto para observá-lo pela primeira vez desde que iniciamos aquela conversa. — E sobre o nosso... Bem, beijo, você estava assustado, eu também estava, mas garotas são mais maduras que garotos — falei brincalhona, tentando descontrair e então rimos. — Mas... ... O que aconteceu? — minha vez de perguntar. — Quero dizer, com você? Você e sua família foram embora de uma hora para a outra, voltaram depois de dez anos e você está tão... Diferente. Não se parece nada com o garoto que costumava ser meu melhor amigo.
— Eu voltei — o olhei sem entender. — Meus pais morreram — ele disse com um olhar triste.
— Meu Deus, como? — perguntei com um misto de tristeza e surpresa em meu tom de voz.
— Em um acidente de carro — respondeu prontamente. — Dois anos depois que nos mudamos, estávamos voltando do cinema, meu pai perdeu o controle e capotamos. Apenas eu sobrevivi, mas com muitos ferimentos. Precisei viver sozinho em um quartinho nos fundos de um bar, sempre fugindo das autoridades para não ser mandado para um orfanato. Quando finalmente completei dezoito anos, me livrei delas e pude voltar para cá, com o dinheiro que consegui juntar trabalhando para o homem que me alugou o quarto.
— Eu sinto tanto, sei o quanto você os amava — comecei a chorar, não só por , mas também porque gostava muito de seus pais, eles eram pessoas tão boas. — Mas, por que vocês se mudaram às pressas?
— Problemas com um familiar... Minha avó estava doente, porém mesmo depois dela morrer, resolvemos ficar. Eu queria muito voltar, mas não estava em minhas mãos, eu não tinha opção — ele olhou para o chão, enxugando algumas poucas lágrimas que insistiram em cair de seus olhos. — Você não tem noção do quanto senti sua falta esses anos — ele sorriu de lado, seus olhos brilhando.
— Eu também — falei com a voz falha e envolvi meus braços ao redor de seu pescoço, abraçando-o. — Tantas, tantas, tantas... — pela primeira vez em anos, eu chorava lágrimas de alegria, alivio.
— Eu te amo — ele disse, com seus braços serpenteados ao redor de minha cintura e me puxou para ele, me sentando sobre seu colo, no abraço mais acolhedor que recebi em anos, cheio de saudades, carinho e principalmente amor.
— Eu também te amo... Muito — encarei seu rosto com uma mão sobre sua bochecha e então o beijei, com toda vontade e desejo do mundo, do jeito que tanto desejei repetir desde o dia na casa da árvore, mas fora melhor, bem melhor.
Nossas línguas guerreavam, não chegava a ser um beijo agressivo, mas repleto de vontade, descontávamos nele todos os anos distantes um do outro. Eu arranhava seu pescoço com uma mão e acariciava seus fios curtos e com a outra, enquanto ele apertava e fazia carinho em minhas costas e apertava minha cintura. Seus lábios desceram para meu pescoço, onde depositou uma mordida e um selinho. Pude senti-lo sorrir contra minha pele e serpentear seus braços ao meu redor.
— E me chame de — ele brincou, mas antes que tivéssemos tempo de rir, nossas bocas estavam grudadas de novo, sedentas uma pela outra.
Três anos haviam se passado desde a partida de e muitas coisas estavam mudadas. Meu pai, aquele que sempre fui tão próxima e ligada, se entregara ao mundo das bebidas e o nosso afastamento fora inevitável. Tivemos que trocar a nossa tranquila casa em um bairro seguro para um apartamento alugado, já que papai não estava mais dando conta de arcar com as despesas da nossa antiga moradia. O único lado bom era as lembranças que ficaram lá, naquela casa da árvore e isso fazia o fato do meu melhor amigo ter me abandonado doer menos.
Santana se tornara minha melhor amiga desde o primeiro dia no ensino médio e éramos muito próximas. Nós também morávamos uma do lado da outra e trabalhávamos em uma loja que pertencia a sua mãe, Sue. As duas sempre me davam apoio em meio ao caos que era minha vida, me ajudavam com meu pai e às vezes, quando ele perdia o emprego, com o aluguel. Eu sempre devolvia o dinheiro depois, mesmo quando diziam não ser necessário. Eu não sabia o que seria de mim sem elas.
Estávamos debaixo de uma árvore, de frente à porta da escola apenas esperando que desse a hora para entrarmos. Ela escorada no tronco e eu de frente para ela, ouvindo-a comentar sobre todos os garotos que passavam por nós, dando-os notas e alguns até mesmo apelidos. Santana comentava sobre um garoto moreno de olhos mel que piscara para ela, quando de repente parou de falar, fixando seus olhos em algo atrás de mim e ela não parecia ser a única a olhar, mas todos que estavam ali.
— Minha nossa, esse definitivamente superou qualquer outro... — ela disse se abanando com uma cara maliciosa. — Anda, olha — ela ordenou já me virando com suas mãos.
Sinceramente, não consegui acreditar. Anos atrás, quando deixara aquele lugar junto a sua família para sei lá onde, ele não passava de um garoto magricela, cabelos sobre olhos, tão bonitos, mas quase sempre ofuscados por um par de óculos fundo de garrafa que vivia equilibrando sobre o fino nariz. Suas roupas eram antes sempre tão bobas e seu jeito tão tímido, intimidado por tudo e todos. Tudo isso o tornava irreconhecível agora. se encontrava com o perfil forte, cabelos mais curtos, bagunçados e absurdamente sexy. Vestia uma jaqueta de couro preta e aquelas botas de guerra, cano fino, que jamais imaginei que o veria usar. Ele segurava um capacete e prendia sua moto em uma placa. Assim que se levantara, ciente de todos os olhares e parecendo gostar deles, seu rosto se virou em minha direção e só tive certeza que ele me olhava quando seus óculos escuros foram retirados de seu rosto. Ajeitou a mochila sobre um dos ombros e começou a caminhar. Por um momento, pensei que em direção à entrada da escola, mas só depois percebi que era em direção aonde Santana e eu estávamos. Meu coração acelerou, mas a morena atrás de mim parecia bastante animada.
Então seria assim? Três anos depois ele simplesmente viria em minha direção e agiria como se nada tivesse acontecido?
— — ele disse quando finalmente nos alcançou.
— — eu disse no mesmo tom.
Ele abaixou a cabeça como se me cumprimentasse e continuou seu caminho até a entrada da escola. Santana me olhava chocada e eu já me preparava para responder a enchente de perguntas que ela certamente jogaria sobre mim. Mas não esperei que ela dissesse qualquer coisa, me levantei e fiz o mesmo caminho que ele fizera, não querendo qualquer conversa enquanto eu tentava absorver tudo aquilo para só depois tentar explicar.
E sabe aquelas lembranças? Então, aquele seu olhar as trouxeram de volta para mim.
//////
Passava-se das dez da noite e papai ainda não estava em casa. Havia o visto apenas pela manhã antes de ir para a escola, já que não passei em casa antes de ir para o trabalho. Não era incomum que ele desaparecesse às vezes e eu sabia muito bem onde estava, mas ainda sim me preocupava, o medo de que algo mais grave acontecesse me dominava sempre que isso acontecia, era inevitável. Perguntei para Sue se ela o tinha visto, mas ela disse que só pela manhã quando ele saíra e não o vira voltar. Pedi perdão pelo incômodo, agradeci sua boa vontade e então me contentei que teria que ir atrás dele novamente. Peguei um casaco xadrez e quente, touca, luvas e me preparei para enfrentar a noite fria que me esperava lá fora.
Já andava há um bom tempo procurando por papai em alguns bares na região, mas sem obter sucesso. Estava prestes a desistir e chamar a polícia por medo de que algo tivesse acontecido, quando o avistei quase desmaiado em uma mesa de um bar e corri em sua direção com lágrimas no rosto. Vê-lo daquele jeito me desmanchava por dentro, não só por ser deprimente uma pessoa viver de tal maneira, principalmente se tratando do meu pai, mas também por lembrar-me sempre do homem que um dia fora.
— Pai — gritei, atraindo olhares de algumas pessoas que estavam no bar. — Tudo bem? — perguntei quando o alcancei, mas ele murmurou algo que não consegui entender. — Consegue andar? — ele balançou a cabeça negativamente. — Vem, eu te ajudo, vamos embora — falei colocando um de seus braços ao redor de meu pescoço e o meu de sua cintura.
Andava com dificuldade até a saída do bar, praticamente com todo o peso de papai sobre meus ombros já que ele mal conseguia andar sozinho e estava quase apagado devido ao efeito da bebida. Porém dois homens saíram de dentro de uma porta que ficava atrás do balcão após o barista chamá-los e se encaminharam até mim.
— Onde vocês pensam que vão? — perguntou o mais alto.
— Eu... Eu vou embora — respondi assustada.
— Sem antes pagar a conta? — o de cabelos ruivos cruzou os braços, olhando intimidadoramente.
— E-ele não pagou? — ambos negaram. — Sinto muito — pedi e comecei a vasculhar o bolso de meu pai atrás de dinheiro, porém nada encontrei e eu usara todo o meu salário com as despesas do apartamento. — Não temos dinheiro — falei em um sorriso.
— Sendo assim, quem sente muito somos nós — o moreno falou ironicamente e então tomou papai de meus braços.
— O que vocês vão fazer? — perguntei, temendo o pior.
— Mostrá-lo que se deve sempre pagar uma conta — os dois o levaram para o fundo do bar, onde tinha uma porta e eu os segui.
— Por favor, não o machuquem — pedi, com as lágrimas novamente escorrendo livremente pelo meu rosto. — Por favor!
Eu implorava sobre soluços, mas percebi que era tarde demais quando alcançamos o beco que a saída dos fundos do bar levava e os homens jogaram sem nenhuma piedade meu pai no chão, contra a parede. Eu ainda gritava na tentativa de convencê-los a desistir do que estavam prestes a fazer. Corri até ele e me coloquei a sua frente, mesmo temendo que eles me batessem e que eu não conseguiria revidar, porém um deles me segurou pelo braço, prendendo-me e o outro tratava sozinho do serviço. Chorava desesperada, tentando me soltar inutilmente dos braços fortes do ruivo que me segurava, enquanto meu pai mal reagia devido o seu péssimo estado.
Já havia desistido de tentar me soltar e principalmente de olhar, apenas fechei os olhos deixando que as lágrimas molhassem todo meu rosto e roupa. Até que senti outra pessoa puxar meus braços.
— , está tudo bem? — abri os olhos e me deparei com aqueles olhos que eu tanto amava. — Eu vou dar um jeito nisso — disse e partiu para cima do homem que agredia meu pai; ótimo, agora eu teria duas pessoas com quem me preocupar.
O homem que antes me segurava partiu para cima do loiro, junto ao outro, que deixou meu pai de lado e se juntou ao outro. Aproveitei que ambos estavam distraídos com e corri até meu pai, que tinha boca e nariz cheios de sangue e o ajudei a se levantar.
— Vocês não têm vergonha de agredir um senhor de idade? — perguntou, mostrando bastante habilidade ao tentar se defender dos dois homens enormes contra ele. — E ainda por cima na frente de uma garota.
— É isso que acontece com quem não arca com suas responsabilidades. Esse senhor aí, — disse referindo-se ao meu pai —, passou o dia enchendo a cara e estava indo embora sem pagar.
— Então é por isso? Por causa de dinheiro? — perguntou indignado. — Eu pago tudo o que ele deve, então, mas os deixe em paz.
— Tudo bem, desde que ele não volte aqui novamente — os homens concordaram e pararam de tentar machucá-lo.
tirou uma boa quantidade de dinheiro da carteira, falou um “fique com o troco” e caminhou até mim, ajudando-me com meu pai ao perceber que eu custava a carregá-lo sozinho. Deixamos o beco e começamos a caminhar pela rua, dominados por um profundo silêncio em decorrência de não saber o que dizer.
— Você ainda mora no mesmo lugar? — ele perguntou me olhando de lado.
— Não — dei-lhe as coordenadas e seguimos em direção ao apartamento.
Quando chegamos, ele me ajudou a levar papai para seu quarto e deitá-lo na cama. Ofereci um copo d’água que ele aceitou de bom grado e só então percebi alguns machucados pelo seu rosto, porque mesmo embora ele fosse muito bom em se defender, eram dois que valiam cada um por quatro contra um. Peguei os medicamentos que eu havia usado para cuidar de meu pai para fazer o mesmo com ele, mesmo insistindo que não precisava. Sentamos-nos no sofá velho e surrado na sala, de frente um para o outro e comecei a tratar de seus ferimentos, enquanto ele me observava como antigamente, com curiosidade e aquele algo mais que eu definitivamente desisti de descobrir o que é.
— O que aconteceu, ? — ele perguntou depois de longos minutos de silêncio.
Respirei profundamente piscando os olhos demoradamente, parando por um momento de passar o algodão com remédio em sua sobrancelha levemente cortada. Pousei as mãos sobre o colo e meus olhos nelas, enquanto ele permanecia com os olhos sobre mim, esperando uma resposta.
— Aconteceram muitas coisas, — falei. — Eu fui para o ensino médio, comecei a me envolver com garotos e sair com amigas, me afastando dele. E nós éramos tudo o que tínhamos, entende? Meu pai foi forte por muito tempo, mesmo sofrendo com a morte da minha mãe, o amor da sua vida, porque me tinha sempre por perto, mas eu cresci e foi inevitável o nosso afastamento. Depois disso, ele começou a beber, perdeu o emprego e deixou de ser aquela pessoa doce, boa e feliz, sabe? Então ele não conseguiu mais pagar as despesas da nossa casa, fomos despejados e conseguimos esse apartamento, um aluguel mais razoável e não tão difícil de manter. E é sempre assim, ele sai cedo, enche a cara e volta tropeçando em seus próprios pés, quando não tenho que ir atrás deles nos bares. Ele também vive perdendo os empregos que arruma e vira e meche preciso me virar sozinha ou contar com a ajuda da vizinha ao lado.
— Eu sinto muito, — ele disse, usando uma das mãos para acariciar meu rosto e colocar uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Pelo que aconteceu, por não estar aqui, por ter fugido de você como um garotinho depois do nosso... — ele deixou a frase no ar, na dúvida se deveria ou não tocar nesse assunto.
— Tudo bem, não é culpa sua o que aconteceu, nem mesmo tinha a opção de ficar aqui quando seus pais decidiram ir embora — levantei o rosto para observá-lo pela primeira vez desde que iniciamos aquela conversa. — E sobre o nosso... Bem, beijo, você estava assustado, eu também estava, mas garotas são mais maduras que garotos — falei brincalhona, tentando descontrair e então rimos. — Mas... ... O que aconteceu? — minha vez de perguntar. — Quero dizer, com você? Você e sua família foram embora de uma hora para a outra, voltaram depois de dez anos e você está tão... Diferente. Não se parece nada com o garoto que costumava ser meu melhor amigo.
— Eu voltei — o olhei sem entender. — Meus pais morreram — ele disse com um olhar triste.
— Meu Deus, como? — perguntei com um misto de tristeza e surpresa em meu tom de voz.
— Em um acidente de carro — respondeu prontamente. — Dois anos depois que nos mudamos, estávamos voltando do cinema, meu pai perdeu o controle e capotamos. Apenas eu sobrevivi, mas com muitos ferimentos. Precisei viver sozinho em um quartinho nos fundos de um bar, sempre fugindo das autoridades para não ser mandado para um orfanato. Quando finalmente completei dezoito anos, me livrei delas e pude voltar para cá, com o dinheiro que consegui juntar trabalhando para o homem que me alugou o quarto.
— Eu sinto tanto, sei o quanto você os amava — comecei a chorar, não só por , mas também porque gostava muito de seus pais, eles eram pessoas tão boas. — Mas, por que vocês se mudaram às pressas?
— Problemas com um familiar... Minha avó estava doente, porém mesmo depois dela morrer, resolvemos ficar. Eu queria muito voltar, mas não estava em minhas mãos, eu não tinha opção — ele olhou para o chão, enxugando algumas poucas lágrimas que insistiram em cair de seus olhos. — Você não tem noção do quanto senti sua falta esses anos — ele sorriu de lado, seus olhos brilhando.
— Eu também — falei com a voz falha e envolvi meus braços ao redor de seu pescoço, abraçando-o. — Tantas, tantas, tantas... — pela primeira vez em anos, eu chorava lágrimas de alegria, alivio.
— Eu te amo — ele disse, com seus braços serpenteados ao redor de minha cintura e me puxou para ele, me sentando sobre seu colo, no abraço mais acolhedor que recebi em anos, cheio de saudades, carinho e principalmente amor.
— Eu também te amo... Muito — encarei seu rosto com uma mão sobre sua bochecha e então o beijei, com toda vontade e desejo do mundo, do jeito que tanto desejei repetir desde o dia na casa da árvore, mas fora melhor, bem melhor.
Nossas línguas guerreavam, não chegava a ser um beijo agressivo, mas repleto de vontade, descontávamos nele todos os anos distantes um do outro. Eu arranhava seu pescoço com uma mão e acariciava seus fios curtos e com a outra, enquanto ele apertava e fazia carinho em minhas costas e apertava minha cintura. Seus lábios desceram para meu pescoço, onde depositou uma mordida e um selinho. Pude senti-lo sorrir contra minha pele e serpentear seus braços ao meu redor.
— E me chame de — ele brincou, mas antes que tivéssemos tempo de rir, nossas bocas estavam grudadas de novo, sedentas uma pela outra.
Capítulo 4
Vê-lo daquele jeito me doía, todas as vezes que aparecia na escada de incêndio ciente de que eu enlouqueceria com seu estado, me machucava. Mas não havia nada a ser feito, ele nunca me dizia o porquê, nem o que eu poderia fazer para evitar ou ajudá-lo. Ele apenas adentrou mais uma vez meu quarto pela janela, sentara na minha cama e esperara que eu pegasse o que fosse necessário para cuidar de seus ferimentos pacientemente sem dizer sequer uma palavra. Normalmente ele esperava por minha reação, depois ouvia tudo o que tinha a dizer e pedia desculpas. Bem, depois fazíamos amor e ficávamos na companhia um do outro o máximo que conseguíamos, era tudo o que nos restava, o nosso amor, nossa paixão, nosso desejo, eles superavam toda a dor.
— Ele está em casa? — perguntou enquanto eu tratava de passar remédio do corte em sua sobrancelha.
— Sim — falei e ele logo se levantou, se preparando para ir embora. — Mas ele está assistindo lutas na TV com alguns amigos, não vai nos ouvir — eu puxei seu braço e ele se sentou hesitante.
— Dói como o inferno, — ele reclamou, recuando a cabeça. — Pare com isso agora — segurou meus punhos, impedindo que eu continuasse.
— Ora, , você não é mais um garotinho, pare de reclamar de um inocente remédio — eu brinquei e ele me olhou feio.
— Mas eu prefiro outro remédio, nada inocente — me olhou sacana. — Ele me faz esquecer qualquer dor, qualquer preocupação — eu sorria provocante, ciente de quem se tratava o tal remédio. — Ela é tão sexy, tão bela, tão perfeita... — ele beijava meu pescoço.
— Ela? Não era ele? — perguntei mordendo o lábio inferior, enquanto ele se deitava sobre mim.
— É ela, porque é você, porque você é meu remédio, meu melhor remédio, meu tudo, meu amor — ele sussurrava com sua voz rouca, absurdamente sexy no meu ouvido enquanto abusava de minhas coxas grossas que ele tanto adorava.
— Você é meu tudo também, meu amor — eu falei revertendo nossos papéis; era minha vez de provocá-lo, distribuindo beijos pelo seu pescoço. — Você consegue tudo o que quer, não é mesmo?
— Estar com você me inspira — ele falou entre um gemido, quando sentiu minha mão quente entrar em contato com sua barriga gelada por debaixo de sua blusa. — Você é tudo o que eu quero.
— Eu te amo — sorri, colando nossas testas, sorrindo contra seus lábios.
Ele levantou seu tronco para que eu pudesse me livrar de sua camisa e em seguida nos levantou, me deixando sem entender, até que senti minhas costas nuas — já que suas mãos ágeis logo trataram de abrir o zíper de meu vestido — baterem contra a parede fria, me causando um choque térmico. Ele levou seus dedos até as alças e puxou para baixo, tornando aquela peça lilás, que eu tanto adorava, apenas mais uma naquele chão junto a sua camisa. segurava minhas mãos na altura de minha cabeça o que me impedia de movimentar, mas tratei logo de levá-las até sua calça e descê-las o máximo que consegui, seu corpo estava colado ao meu, dificultando essa tarefa. Em pouco tempo nos encontrávamos apenas em roupas íntimas, sobre a cama, beijando todas as partes possíveis do corpo um do outro. Então, igual a todas as outras vezes, nos livramos daquelas peças únicas que impediam que estivéssemos ainda mais juntos e nos entregamos um ao outro.
— Ele está em casa? — perguntou enquanto eu tratava de passar remédio do corte em sua sobrancelha.
— Sim — falei e ele logo se levantou, se preparando para ir embora. — Mas ele está assistindo lutas na TV com alguns amigos, não vai nos ouvir — eu puxei seu braço e ele se sentou hesitante.
— Dói como o inferno, — ele reclamou, recuando a cabeça. — Pare com isso agora — segurou meus punhos, impedindo que eu continuasse.
— Ora, , você não é mais um garotinho, pare de reclamar de um inocente remédio — eu brinquei e ele me olhou feio.
— Mas eu prefiro outro remédio, nada inocente — me olhou sacana. — Ele me faz esquecer qualquer dor, qualquer preocupação — eu sorria provocante, ciente de quem se tratava o tal remédio. — Ela é tão sexy, tão bela, tão perfeita... — ele beijava meu pescoço.
— Ela? Não era ele? — perguntei mordendo o lábio inferior, enquanto ele se deitava sobre mim.
— É ela, porque é você, porque você é meu remédio, meu melhor remédio, meu tudo, meu amor — ele sussurrava com sua voz rouca, absurdamente sexy no meu ouvido enquanto abusava de minhas coxas grossas que ele tanto adorava.
— Você é meu tudo também, meu amor — eu falei revertendo nossos papéis; era minha vez de provocá-lo, distribuindo beijos pelo seu pescoço. — Você consegue tudo o que quer, não é mesmo?
— Estar com você me inspira — ele falou entre um gemido, quando sentiu minha mão quente entrar em contato com sua barriga gelada por debaixo de sua blusa. — Você é tudo o que eu quero.
— Eu te amo — sorri, colando nossas testas, sorrindo contra seus lábios.
Ele levantou seu tronco para que eu pudesse me livrar de sua camisa e em seguida nos levantou, me deixando sem entender, até que senti minhas costas nuas — já que suas mãos ágeis logo trataram de abrir o zíper de meu vestido — baterem contra a parede fria, me causando um choque térmico. Ele levou seus dedos até as alças e puxou para baixo, tornando aquela peça lilás, que eu tanto adorava, apenas mais uma naquele chão junto a sua camisa. segurava minhas mãos na altura de minha cabeça o que me impedia de movimentar, mas tratei logo de levá-las até sua calça e descê-las o máximo que consegui, seu corpo estava colado ao meu, dificultando essa tarefa. Em pouco tempo nos encontrávamos apenas em roupas íntimas, sobre a cama, beijando todas as partes possíveis do corpo um do outro. Então, igual a todas as outras vezes, nos livramos daquelas peças únicas que impediam que estivéssemos ainda mais juntos e nos entregamos um ao outro.
Capítulo 5
Ele sorriu para mim assim que adentrou a lanchonete e eu sorri de volta, enquanto terminava de servir uma mesa próxima ao balcão. sentou-se em uma mesa na janela, um pouco escondida, como todas as vezes que ele me visitava no trabalho com a desculpa de que apenas queria comer alguma coisa. Peguei o cardápio que os clientes que eu atendia antes usavam e me dirigi até ele, com um sorriso provocativo que ele tanto dizia que amava e o depositei sobre sua mesa. Curvei-me em sua direção um pouco exageradamente, com a intenção de que o decote do meu vestido ficasse ainda mais evidente.
— O que o senhor deseja? — perguntei com uma voz sedutora, mesmo que ele dissesse que eu não precisava me esforçar porque ela era naturalmente assim.
— Tudo aqui parece muito atraente — ele falou com um sorriso sacana, entrando no jogo. — Mas eu vou querer você, mesmo. Esse cheiro de morango é uma delícia, sabia? Na minha cama, então... — estava disfarçadamente com uma das mãos na minha coxa.
— Sinto muito, mas isso não será possível — falei fingindo sentir muito, voltando a minha postura normal e tirei sua mão de minha perna antes que ela continuasse a subir e fosse parar num lugar não muito apropriado para o momento. — Não agora — mordi o lábio inferior, o olhando inocentemente, ou de um jeito que eu julgava inocente.
— É uma pena, eu estava morrendo de vontade — lamentou. — Bom, então eu vou querer uma fatia de bolo de morango, é o mais perto que vou consegui, agora, do que eu realmente quero — fora sua vez de morder o lábio, me olhando dos pés à cabeça se demorando principalmente em meus seios.
— É pra já — anotei seu pedido no pequeno bloquinho que eu segurava e sai balançando os quadris mais do que o normal de propósito, sentindo seu olhar na minha bunda.
Cheguei ao balcão, onde Santana me olhava com uma expressão engraçada, prestes a rir do acontecido que ela com certeza fora plateia. Ao contrário de muitas chefas, ela não ligava, afinal, ela fazia coisas bem piores com clientes que ela nem conhecia, principalmente no banheiro ou nos fundos do restaurante.
— Uma fatia de bolo de morango — falei, ignorando o jeito que ela me olhava e então pendurei o papel onde o chefe veria.
Ouvi novamente o sinal de que outra pessoa adentrava o restaurante, apanhei meu bloquinho que eu havia jogado sobre o balcão e caminhei até a mesa mais no centro que o homem se sentara, não gostando do jeito que ele me olhava, ainda mais porque ele parecia ser igual àqueles velhos que vivem dando em cima de garotas consideravelmente mais novas que eles como se tivessem alguma chance.
— O que o senhor vai querer? — perguntei com os olhos focados no bloquinho, mas ainda sim consegui sentir o jeito nada inocente que ele me encarava, de cima a baixo.
— Você — ele respondeu e então percebi que esse tipo de cantada só funcionava quando era dita por .
Revirei os olhos e respirei fundo, então resolvi perguntar novamente:
— O que o senhor vai querer? — disse ainda sem dirigir meu olhar a ele.
— Eu já disse que você — ele repetiu.
— Desculpe, mas não estou no cardápio — respondi, tentando ser educada.
— Quem disse que vim pelo cardápio? — ele perguntou e tentou tocar minha cintura, mas me afastei.
— Se não veio pelo cardápio, acho melhor ir embora, não servimos nada além dele — me virei em direção ao balcão, desistindo de dialogar com o senhor que insistia em ser desagradável, mas ele segurou um de meus braços e me puxou.
— Eu acho que você não está entendendo, docinho — ele disse irônico, apertando meu punho. — Não estou lhe dando uma opção, além do mais e aquela história de que o cliente tem sempre razão?
— Eu também não estou te dando uma opção, é o que está no cardápio ou nada. Sobre essa história de que o cliente tem sempre razão nunca deixou de ser apenas história, você deveria saber. E acho melhor você me soltar, está machucando — disse e puxei com força meu braço, conseguindo me livrar dele, mas assim que me virei novamente na intenção de me afastar, ele bateu com força em minha bunda.
apareceu praticamente do nada ao meu lado, vermelho de raiva e o segurou pelo colarinho da camisa e depositou o primeiro soco em seu rosto.
— QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA TRATÁ-LA ASSIM? — perguntou e depositou outro soco, jogando-o no chão. Em seguida, começou a chutá-lo com força, definitivamente nervoso de um jeito que eu nunca vira, atraindo olhares de todo restaurante. Gritava pedindo para que ele parasse, não queria que ele cometesse alguma loucura, além do mais aquela briga poderia custar meu emprego que eu tanto precisava e sua liberdade.
— , PARA COM ISSO — consegui segurar seu braço e puxá-lo um pouco para trás, mas o teimoso se aproximou novamente.
— ELE TE DESRESPEITOU, , EU NÃO VOU PARAR — ele gritou, continuando a bater no homem, que gemia de dor.
— EU SEI QUE SIM E TE AGRADEÇO POR TER ME DEFENDIDO, MAS VOCÊ PRECISA PARAR. VOCÊ VAI MATÁ-LO SE CONTINUAR, NÃO VALE A PENA — eu chorava desesperada, ainda tentando segurá-lo. — POR FAVOR, POR MIM, NÃO QUERO TE VER PRESO, PRECISO DE VOCÊ — assim que proferi as palavras “preciso de você”, parou e se levantou um pouco desnorteado.
— Me desculpe — ele pediu, tentando se aproximar de mim, mas me afastei. — Eu fiquei louco de raiva, não queria te deixar assim — o homem se aproveitou de sua distração e foi embora, andando com dificuldades.
— Você precisar ir embora, conversamos depois — ele continuava tentando se aproximar, mas eu o empurrava pelo peito em direção à porta. — Vá embora, , por favor — implorei desesperada, envergonhada, preocupada, e ele obedeceu, parou de resistir e deixou o restaurante.
Após soltar um longo suspiro, eu me virei na intenção de pedir desculpas a Santana pela confusão no restaurante de sua mãe e implorá-la para não ser demitida, precisava muito do dinheiro, não podia me dar o luxo de ficar sem emprego e me deparei com todos os clientes me observando, com lágrimas nos olhos e rosto, ambos vermelhos. Ignorei todos os olhares e caminhei até a latina, que segurou minhas mãos, mostrando que não estava nervosa.
— Vai atrás do , — ela pediu. — Antes que ele faça outra loucura e o que você tanto teme aconteça — suspirei entre um soluço e outro. — E não se preocupe, não vou demitir você. O que aquele homem fez foi um desrespeito a você, mereceu os socos que levou.
— Obrigada — agradeci tentando sorrir e deixei o restaurante para ir atrás de , temendo que ele tivesse ido atrás do homem para terminar o serviço.
Olhei ao redor e não o vi, mas quando estava prestes a cruzar a rua, alguém puxou meu braço me deixando desesperada, porém me deparei com e um olhar arrependido. Ele me levou para os fundos do restaurante e ficou me encarando esperando que eu dissesse alguma coisa, gritasse, batesse. Apenas fiquei encarando-o, com os braços cruzados, esperando que ele dissesse as primeiras palavras.
— Me desculpe de novo — ele pediu com a cabeça baixa. — Eu não deveria ter batido nele daquela forma, mas...
— Mas você é um idiota.
— Eu tentei de proteger — se defendeu.
— Você poderia tê-lo matado — disse indignada.
— Eu não me importo — deu de ombros.
— Eu sim. Você seria preso se isso acontecesse, tem noção disso?
— Eu não me importo — repetiu. — Por você tudo vale a pena.
— Não tente ser romântico agora, isso é sério.
— Isso também, eu faria qualquer coisa para você, até mesmo matar — ele segurou meu rosto, colando ao dele.
— Qualquer coisa? — perguntei em um sussurro, fechando os olhos quase involuntariamente, como sempre fazia quando ele chegava tão perto de mim.
— Qualquer coisa — afirmou, esfregando o nariz no meu.
— Nunca se afaste de mim, nunca faça nada que me faça te perder — ele concordou com um balançar de cabeça. — Prometa.
— Eu prometo — dito isso, ele me beijou com vontade.
Tudo que nos envolvia continha desejo, carinho, paixão, amor e uma considerável dose de loucura e insanidade. empurrou seu corpo contra o meu na parede, prendendo minhas mãos na altura na cabeça com as suas, como sempre e começou a beijar meu pescoço com seus lábios quentes e úmidos. Desceu suas mãos até a minha cintura, passando pelo meu bumbum — onde não perdeu a oportunidade de apertar e acariciar —, chegando as minhas pernas e entrelaçando-as ao redor de sua cintura. Voltou a beijar minha boca, sua língua explorando cada canto existente enquanto eu apenas arranhava suas costas por debaixo da camisa. Mas quando um de suas mãos estava prestes a alcançar minha intimidade coberta apenas por uma fina calcinha de renda, a realidade bateu em mim, estávamos atrás de um restaurante, não em minha cama ou na sua e a qualquer momento alguém poderia aparecer e nos pegar daquela forma, quase nos fundindo um ao outro tamanho desespero.
— — chamei, tentando me afastar e impedi-lo de retirar de vez aquela peça —, precisamos parar... Agora — minha voz saía baixa, quase inaudível.
— Por quê? — ele perguntou sem parar de me beijar.
— Estamos na rua, alguém pode nos ver assim.
— Não estamos na rua, estamos em um beco e ninguém vai aparecer — ele desceu para meus seios e expondo-os para ele.
— , não — falei alto e séria, fazendo-o me colocar no chão. — Podemos continuar em outra hora.
— Desculpe, me precipitei, mas é que você me deixa louco, garota — ele beijou meus lábios, em seguida meu queixo, meu maxilar, meu pescoço e encerrou com um em cada seio.
— Tudo bem, eu também me precipitei — nós rimos. — Tenho que voltar ao trabalho — falei enquanto ajeitava minhas roupas e ele as dele. — Te amo — falei e me virei para voltar ao restaurante.
— Te amo também — ele me puxou para si e me deu um selinho.
— O que o senhor deseja? — perguntei com uma voz sedutora, mesmo que ele dissesse que eu não precisava me esforçar porque ela era naturalmente assim.
— Tudo aqui parece muito atraente — ele falou com um sorriso sacana, entrando no jogo. — Mas eu vou querer você, mesmo. Esse cheiro de morango é uma delícia, sabia? Na minha cama, então... — estava disfarçadamente com uma das mãos na minha coxa.
— Sinto muito, mas isso não será possível — falei fingindo sentir muito, voltando a minha postura normal e tirei sua mão de minha perna antes que ela continuasse a subir e fosse parar num lugar não muito apropriado para o momento. — Não agora — mordi o lábio inferior, o olhando inocentemente, ou de um jeito que eu julgava inocente.
— É uma pena, eu estava morrendo de vontade — lamentou. — Bom, então eu vou querer uma fatia de bolo de morango, é o mais perto que vou consegui, agora, do que eu realmente quero — fora sua vez de morder o lábio, me olhando dos pés à cabeça se demorando principalmente em meus seios.
— É pra já — anotei seu pedido no pequeno bloquinho que eu segurava e sai balançando os quadris mais do que o normal de propósito, sentindo seu olhar na minha bunda.
Cheguei ao balcão, onde Santana me olhava com uma expressão engraçada, prestes a rir do acontecido que ela com certeza fora plateia. Ao contrário de muitas chefas, ela não ligava, afinal, ela fazia coisas bem piores com clientes que ela nem conhecia, principalmente no banheiro ou nos fundos do restaurante.
— Uma fatia de bolo de morango — falei, ignorando o jeito que ela me olhava e então pendurei o papel onde o chefe veria.
Ouvi novamente o sinal de que outra pessoa adentrava o restaurante, apanhei meu bloquinho que eu havia jogado sobre o balcão e caminhei até a mesa mais no centro que o homem se sentara, não gostando do jeito que ele me olhava, ainda mais porque ele parecia ser igual àqueles velhos que vivem dando em cima de garotas consideravelmente mais novas que eles como se tivessem alguma chance.
— O que o senhor vai querer? — perguntei com os olhos focados no bloquinho, mas ainda sim consegui sentir o jeito nada inocente que ele me encarava, de cima a baixo.
— Você — ele respondeu e então percebi que esse tipo de cantada só funcionava quando era dita por .
Revirei os olhos e respirei fundo, então resolvi perguntar novamente:
— O que o senhor vai querer? — disse ainda sem dirigir meu olhar a ele.
— Eu já disse que você — ele repetiu.
— Desculpe, mas não estou no cardápio — respondi, tentando ser educada.
— Quem disse que vim pelo cardápio? — ele perguntou e tentou tocar minha cintura, mas me afastei.
— Se não veio pelo cardápio, acho melhor ir embora, não servimos nada além dele — me virei em direção ao balcão, desistindo de dialogar com o senhor que insistia em ser desagradável, mas ele segurou um de meus braços e me puxou.
— Eu acho que você não está entendendo, docinho — ele disse irônico, apertando meu punho. — Não estou lhe dando uma opção, além do mais e aquela história de que o cliente tem sempre razão?
— Eu também não estou te dando uma opção, é o que está no cardápio ou nada. Sobre essa história de que o cliente tem sempre razão nunca deixou de ser apenas história, você deveria saber. E acho melhor você me soltar, está machucando — disse e puxei com força meu braço, conseguindo me livrar dele, mas assim que me virei novamente na intenção de me afastar, ele bateu com força em minha bunda.
apareceu praticamente do nada ao meu lado, vermelho de raiva e o segurou pelo colarinho da camisa e depositou o primeiro soco em seu rosto.
— QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA TRATÁ-LA ASSIM? — perguntou e depositou outro soco, jogando-o no chão. Em seguida, começou a chutá-lo com força, definitivamente nervoso de um jeito que eu nunca vira, atraindo olhares de todo restaurante. Gritava pedindo para que ele parasse, não queria que ele cometesse alguma loucura, além do mais aquela briga poderia custar meu emprego que eu tanto precisava e sua liberdade.
— , PARA COM ISSO — consegui segurar seu braço e puxá-lo um pouco para trás, mas o teimoso se aproximou novamente.
— ELE TE DESRESPEITOU, , EU NÃO VOU PARAR — ele gritou, continuando a bater no homem, que gemia de dor.
— EU SEI QUE SIM E TE AGRADEÇO POR TER ME DEFENDIDO, MAS VOCÊ PRECISA PARAR. VOCÊ VAI MATÁ-LO SE CONTINUAR, NÃO VALE A PENA — eu chorava desesperada, ainda tentando segurá-lo. — POR FAVOR, POR MIM, NÃO QUERO TE VER PRESO, PRECISO DE VOCÊ — assim que proferi as palavras “preciso de você”, parou e se levantou um pouco desnorteado.
— Me desculpe — ele pediu, tentando se aproximar de mim, mas me afastei. — Eu fiquei louco de raiva, não queria te deixar assim — o homem se aproveitou de sua distração e foi embora, andando com dificuldades.
— Você precisar ir embora, conversamos depois — ele continuava tentando se aproximar, mas eu o empurrava pelo peito em direção à porta. — Vá embora, , por favor — implorei desesperada, envergonhada, preocupada, e ele obedeceu, parou de resistir e deixou o restaurante.
Após soltar um longo suspiro, eu me virei na intenção de pedir desculpas a Santana pela confusão no restaurante de sua mãe e implorá-la para não ser demitida, precisava muito do dinheiro, não podia me dar o luxo de ficar sem emprego e me deparei com todos os clientes me observando, com lágrimas nos olhos e rosto, ambos vermelhos. Ignorei todos os olhares e caminhei até a latina, que segurou minhas mãos, mostrando que não estava nervosa.
— Vai atrás do , — ela pediu. — Antes que ele faça outra loucura e o que você tanto teme aconteça — suspirei entre um soluço e outro. — E não se preocupe, não vou demitir você. O que aquele homem fez foi um desrespeito a você, mereceu os socos que levou.
— Obrigada — agradeci tentando sorrir e deixei o restaurante para ir atrás de , temendo que ele tivesse ido atrás do homem para terminar o serviço.
Olhei ao redor e não o vi, mas quando estava prestes a cruzar a rua, alguém puxou meu braço me deixando desesperada, porém me deparei com e um olhar arrependido. Ele me levou para os fundos do restaurante e ficou me encarando esperando que eu dissesse alguma coisa, gritasse, batesse. Apenas fiquei encarando-o, com os braços cruzados, esperando que ele dissesse as primeiras palavras.
— Me desculpe de novo — ele pediu com a cabeça baixa. — Eu não deveria ter batido nele daquela forma, mas...
— Mas você é um idiota.
— Eu tentei de proteger — se defendeu.
— Você poderia tê-lo matado — disse indignada.
— Eu não me importo — deu de ombros.
— Eu sim. Você seria preso se isso acontecesse, tem noção disso?
— Eu não me importo — repetiu. — Por você tudo vale a pena.
— Não tente ser romântico agora, isso é sério.
— Isso também, eu faria qualquer coisa para você, até mesmo matar — ele segurou meu rosto, colando ao dele.
— Qualquer coisa? — perguntei em um sussurro, fechando os olhos quase involuntariamente, como sempre fazia quando ele chegava tão perto de mim.
— Qualquer coisa — afirmou, esfregando o nariz no meu.
— Nunca se afaste de mim, nunca faça nada que me faça te perder — ele concordou com um balançar de cabeça. — Prometa.
— Eu prometo — dito isso, ele me beijou com vontade.
Tudo que nos envolvia continha desejo, carinho, paixão, amor e uma considerável dose de loucura e insanidade. empurrou seu corpo contra o meu na parede, prendendo minhas mãos na altura na cabeça com as suas, como sempre e começou a beijar meu pescoço com seus lábios quentes e úmidos. Desceu suas mãos até a minha cintura, passando pelo meu bumbum — onde não perdeu a oportunidade de apertar e acariciar —, chegando as minhas pernas e entrelaçando-as ao redor de sua cintura. Voltou a beijar minha boca, sua língua explorando cada canto existente enquanto eu apenas arranhava suas costas por debaixo da camisa. Mas quando um de suas mãos estava prestes a alcançar minha intimidade coberta apenas por uma fina calcinha de renda, a realidade bateu em mim, estávamos atrás de um restaurante, não em minha cama ou na sua e a qualquer momento alguém poderia aparecer e nos pegar daquela forma, quase nos fundindo um ao outro tamanho desespero.
— — chamei, tentando me afastar e impedi-lo de retirar de vez aquela peça —, precisamos parar... Agora — minha voz saía baixa, quase inaudível.
— Por quê? — ele perguntou sem parar de me beijar.
— Estamos na rua, alguém pode nos ver assim.
— Não estamos na rua, estamos em um beco e ninguém vai aparecer — ele desceu para meus seios e expondo-os para ele.
— , não — falei alto e séria, fazendo-o me colocar no chão. — Podemos continuar em outra hora.
— Desculpe, me precipitei, mas é que você me deixa louco, garota — ele beijou meus lábios, em seguida meu queixo, meu maxilar, meu pescoço e encerrou com um em cada seio.
— Tudo bem, eu também me precipitei — nós rimos. — Tenho que voltar ao trabalho — falei enquanto ajeitava minhas roupas e ele as dele. — Te amo — falei e me virei para voltar ao restaurante.
— Te amo também — ele me puxou para si e me deu um selinho.
Capítulo 6
Eu terminava de fechar o restaurante, a porta possuía tantas trancas que deu tempo até de escurecer enquanto eu as bloqueava, inclusive, fiquei meia hora apenas ativando o alarme, já que Santana normalmente o fazia, eu nunca tinha conseguido aprender. Ajeitei as alças da mochila sobre os ombros assim que guardei o chaveiro do estabelecimento nela e apertei um pouco mais o casaco de lã ao meu redor. Estava prestes a atravessar a rua, quando um carro, que eu bem conhecia, parou na minha frente, me impedindo. desceu com um pouco de me dificuldade do veículo e me encarou com receio, ciente de que eu, como sempre, enlouqueceria com seu estado.
— De novo? — perguntei me aproximando dele, tocando seus lábios feridos e ele concordou de leve com a cabeça abaixada. — Estou cansada de te ver assim toda semana.
— Eu sinto muito — pediu.
— Vem — chamei-o.
Ajudei a entrar no banco do passageiro, decidida a dirigir diante do seu estado e depois me acomodei no do motorista, dando partida no carro. Após poucos minutos na estrada, estacionei em frente ao galpão, um pouco afastado da cidade, em que ele morava. Nunca entendi muito bem porque ele gostava de se isolar ali, mas às vezes era bom, não tinha ninguém por perto para atrapalhar nossos momentos e nem mesmo os barulhos loucos de veículos e mais veículos para lá e para cá o tempo todo. Era um lugar de extrema paz e tranquilidade. Deixamos o carro e caminhamos de mãos dadas até sua “casa”. Ele se sentou na cama de casal e eu o acompanhei, já com os remédios para cuidar de seus ferimentos.
— Você insiste em fazer isso — ele reclamou quando comecei a passar o algodão em um arranhão em seu braço. — Já disse que não precisa.
— Preciso limpar e colocar um curativo para não infeccionar — expliquei segurando seu braço que ele teimava em esconder de mim. — Você precisa ficar quieto, não vou demorar, eu prometo — falei pidona e ele se rendeu.
Soltei um longo suspiro quando terminei e o abracei sem nenhum motivo. Na verdade, nunca precisei de motivos para me jogar nos braços dele daquela forma. Depois de muito tempo nos braços um do outro, nos beijamos devagar, mas quando sua língua pediu passagem e eu cedi, aquele beijo calmo ganhou voracidade, como em todas as vezes. Ele se deitou na cama comigo por cima, tocando todas as partes alcançáveis do meu corpo, apertando, acariciando, arrancando gemidos e suspiros meus, que eram abafados pela sua boca colada na minha. Não muito tempo depois, ele estava por cima de mim, me dando mais acesso as suas costas largas e barriga definida. Desci meus lábios para seu pescoço, ouvindo-o gemer no meu ouvindo. Continuamos nos provocando e atiçando por muito tempo até que decidimos nos livrar de nossas roupas e sentir os corpos colados um no outro.
Cravei minhas unhas, não muito grandes, em suas costas quando o senti me invadir e me provocar uma onda de prazer que só ele conseguia me proporcionar ao me fazer chegar ao orgasmo. Mais algumas investidas de sua parte, ele alcançou o seu próprio, deixando-se cair sobre mim. Sua respiração quente e irregular batia contra meu peito enquanto ele fazia carinho em meus quadris com os polegares. Eu afagava seu cabelo curto, sentindo seus fios fazerem cosquinhas em minha pele.
— , por quê? — falei quebrando o silêncio que se instalava no ambiente; ele se levantou, pegou um maço de cigarros e um isqueiro e caminhou até a janela, nu, sem preocupar em se vestir.
— Por que o quê? — se fez de desentendido, sabia muito bem do que eu me referia.
Eu me levantei e caminhei até ele, abraçando-o por trás e pousando meu queixo sobre seu ombro.
— Por que você sempre aparece assim, machucado? Por que você não me diz o que é? O que acontece? É tão agonizante não saber...
— Eu não posso te dizer, . Não queria ter de esconder nada de você, mas é preciso, para seu próprio bem, você não pode saber.
— Que raios, — gritei me afastando. — Para meu próprio bem? Você é uma espécie de assassino? Ou traficante? Procurado pela polícia ou o quê? Sinceramente, você me assusta dizendo essas coisas.
— Sei que sim, mas eu não posso. Eu te amo demais para te colocar em risco — ele disse me segurando pelos ombros tentando me tranquilizar, mas com aquelas palavras ele apenas me assustava mais, imaginando um milhão de coisas que poderia ameaçar minha vida. — Confia em mim? Por favor? — ele me olhou bem no fundo dos olhos e pude ver que ele dizia a verdade, que me amava, que queria o meu bem. — Você confia?
— Tudo bem, eu confio — eu falei e o abracei pela cintura, depositando minha cabeça em seu peito enquanto ele acariciava minhas costas com uma mão e afagava meus fios com a outra.
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me levou para casa depois de receber uma ligação que dizia ser urgente, mas se recusou ao dizer do que se tratava. Eu confiava nele, mas ficava muito difícil ficar tranquila com todo aquele mistério. Minha curiosidade estava prestes a me matar de tão aguçada. Eu não queria ter que segui-lo, como uma esposa que desconfia da traição do marido, mas eu precisava descobrir o que o feria tanto e consequentemente a mim também. Assim que seu carro arrancou, chamei o táxi que eu havia pedido e estava escondido na outra esquina e pedi para que o motorista o seguisse. Ficamos um bom tempo na estrada, e eu temia não ter dinheiro o suficiente para pagar a corrida, mas eu daria um jeito. Assim como para valia a pena fazer qualquer coisa por mim, por ele também.
Quando seu carro estacionou em uma esquina, que mais parecia um beco, escondida e consequentemente o táxi também, me surpreendi com os dizeres do outdoor. Rezei para não entrar ali e sim se dirigir para outro lugar, mas tudo indicava que era ali mesmo que ele entraria e minhas suspeitas se confirmaram quando ele o fez. Levei uma das mãos à boca e algumas lágrimas involuntárias caíram pelo meu rosto.
— Está tudo bem, moça? — perguntou o motorista me olhando através do espelho.
— Não — respondi com a voz fraca. — Será que você se importa em me esperar aqui?
— Desculpe, mas não posso perder corridas e não sei quanto tempo você vai demorar — ele respondeu e tirou do bolso um cartão. — Aqui — estendeu-o pra mim. — O telefone da empresa de táxi.
— Obrigada — agradeci, tirando uma quantia que, ainda bem, pagava a corrida e desci do veículo.
Caminhei até a porta do local, ouvindo uma música alta sair de lá de dentro e algumas mulheres com pouca roupa passarem de um lado para o outro. Respirei fundo e resolvi entrar. Pedia silenciosamente para que fosse um garçom, não um dos lutadores daquele clube ilegal, mas mais uma vez tudo indicava que se tratava da segunda opção. Ainda sim, eu estava em estado de negação, tudo em mim queria que eu estivesse errada. Era possível ver, principalmente, homens mais velhos, praticamente babando por aquelas mulheres, que eu não sabia se eram garçonetes vulgarizadas, strippers ou garotas de programa. Talvez os três.
Era anunciada uma luta, mas não consegui identificar os nomes dos lutadores, mesmo assim acredito que eles não usavam seus verdadeiros. Pedi informação para uma mulher e ela me indicou onde ficava o ringue de luta, avisando que eu não gostaria de ver o que se passava dentro dele, o que me causou um arrepio. Tudo aquilo me deixava ainda mais assustada. Quando finalmente consegui encontrar, eu desejei que não tivesse. apanhava de um homem significativamente maior que ele. Era o que se esperava desses clubes, lutas injustas, homens grandes e fortes contra outros nem tão assim. Comecei a chorar desesperada, com medo de que ele não aguentasse e morresse, até que fora anunciado o fim da luta e jogado para fora. Outro lutador, pouco mais forte que adentrou o ringue, ciente de que teria o mesmo caminho, enquanto ele se contorcia de dor no chão. Resolvi me aproximar dele, chocada, com medo, assustada, deixando-o paralisado, procurando palavras para me explicar o que eu acabara de ver.
— Eu... — ele começou a dizer, mas eu me abaixei e calei sua boca com um leve selinho.
— Não me importa agora — falei acariciando seu rosto. — Você está todo machucado, pior do que nas outras vezes, preciso te levar para o hospital — ele tentou negar, mas o impedi. — Não estou te dando uma opção, você vai e pronto, depois vai me explicar porque faz isso — coloquei um de seus braços sobre meus ombros e um dos meus ao redor de sua cintura, ajudando-o a se levantar.
Começamos a caminhar em direção à saída, arrancando olhares de todos por quem passávamos, mas não nos importamos. Assim que deixamos aquele clube, sentamos-nos no canto da escada, ele com a cabeça repousada sobre meu ombro, enquanto eu ligava para a empresa de táxi e pedia um. Não demorou muito para chegar e o motorista vendo minha dificuldade me ajudou a colocar no banco de trás do carro. Coloquei meu cinto de segurança e em seguida o dele. Dentei novamente sua cabeça em meu ombro e comecei a acariciá-la, depositando um selinho amoroso sobre ela.
Acabei com o resto do dinheiro que eu tinha na minha carteira com aquela corrida, teríamos que ir para casa de ônibus e na pior das hipóteses a pé. Retirei nossos cintos e não precisamos ajudá-lo a sair do carro, já que ele estava mais disposto. Caminhamos hospital adentro e uma das enfermeiras naquele andar, assim que percebeu o estado de , voltou logo com uma cadeira de rodas e outros enfermeiros que o colocaram sentado na mesma. Ele foi levado para um quarto e um médico voltou com os equipamentos necessários para cuidar de seus ferimentos e fazer alguns pontos. Um tempo depois, terminado os curativos, o médico disse que logo voltaria com o resultado do exame, que fora feito para ver de algum osso havia se quebrado e dependendo da situação o daria alta.
Ficamos um bom tempo em silêncio, ele deitado na cama, hora olhando para o céu, hora para mim, e eu fazia o mesmo, só que sentada em um sofá. Resolvi que era o momento de termos a conversa que o prometi que teríamos e me levantei caminhando até ele, com os braços cruzados. Apenas fiquei encarando-o, esperando que ele começasse a se explicar, o que não demorou muito.
— Eu não faço isso porque quero que fique claro — ele falou, olhando paras as próprias mãos sobre o colo. — Faço porque preciso e isso é tudo o que posso te dizer — revirei os olhos.
— Que droga, — gritei. — Quando você vai parar com esse joguinho idiota e me contar a verdade? Não aguento mais, caramba — encostei-me na parede, com a mão na cabeça.
— Quando tudo isso terminar — ele falou em um sussurro.
— Isso o que, pelo amor de Deus? — perguntei com certo desespero em minha voz.
— Não posso dizer — ele insistia em não me contar. — Só confie em mim? Você disse que confiava, então confie.
— Eu confio, só fico preocupada com isso, queria saber o que está acontecendo para tentar te ajudar — falei me aproximando dele e segurando suas mãos.
— Você não pode me ajudar, ninguém pode me ajudar, apenas eu mesmo posso me ajudar — explicou, virando suas mãos para entrelaçá-las com as minhas. — Mas você vai saber um dia, eu prometo, acredite em mim.
— Sabia que você torna muito difícil de te amar, não sabe? — brinquei, passando meus braços pelo seu pescoço e ele me puxou para me sentar sobre suas pernas, colando nossas testas.
— Mas você ama mesmo assim — ele sussurrou em meu ouvido.
— Não tem como não amar. Aprender a te amar foi como aprender a falar, é impossível se esquecer de como fazê-lo — quando terminei de falar, ele juntou nossos lábios em um selinho longo.
— Você é a minha vida, tudo que eu tenho e tudo que eu amo — declarou-se.
— E você a minha — dito isso, juntei nossos lábios novamente, mas dessa vez para um beijo de verdade, aquele que adorávamos dar.
— De novo? — perguntei me aproximando dele, tocando seus lábios feridos e ele concordou de leve com a cabeça abaixada. — Estou cansada de te ver assim toda semana.
— Eu sinto muito — pediu.
— Vem — chamei-o.
Ajudei a entrar no banco do passageiro, decidida a dirigir diante do seu estado e depois me acomodei no do motorista, dando partida no carro. Após poucos minutos na estrada, estacionei em frente ao galpão, um pouco afastado da cidade, em que ele morava. Nunca entendi muito bem porque ele gostava de se isolar ali, mas às vezes era bom, não tinha ninguém por perto para atrapalhar nossos momentos e nem mesmo os barulhos loucos de veículos e mais veículos para lá e para cá o tempo todo. Era um lugar de extrema paz e tranquilidade. Deixamos o carro e caminhamos de mãos dadas até sua “casa”. Ele se sentou na cama de casal e eu o acompanhei, já com os remédios para cuidar de seus ferimentos.
— Você insiste em fazer isso — ele reclamou quando comecei a passar o algodão em um arranhão em seu braço. — Já disse que não precisa.
— Preciso limpar e colocar um curativo para não infeccionar — expliquei segurando seu braço que ele teimava em esconder de mim. — Você precisa ficar quieto, não vou demorar, eu prometo — falei pidona e ele se rendeu.
Soltei um longo suspiro quando terminei e o abracei sem nenhum motivo. Na verdade, nunca precisei de motivos para me jogar nos braços dele daquela forma. Depois de muito tempo nos braços um do outro, nos beijamos devagar, mas quando sua língua pediu passagem e eu cedi, aquele beijo calmo ganhou voracidade, como em todas as vezes. Ele se deitou na cama comigo por cima, tocando todas as partes alcançáveis do meu corpo, apertando, acariciando, arrancando gemidos e suspiros meus, que eram abafados pela sua boca colada na minha. Não muito tempo depois, ele estava por cima de mim, me dando mais acesso as suas costas largas e barriga definida. Desci meus lábios para seu pescoço, ouvindo-o gemer no meu ouvindo. Continuamos nos provocando e atiçando por muito tempo até que decidimos nos livrar de nossas roupas e sentir os corpos colados um no outro.
Cravei minhas unhas, não muito grandes, em suas costas quando o senti me invadir e me provocar uma onda de prazer que só ele conseguia me proporcionar ao me fazer chegar ao orgasmo. Mais algumas investidas de sua parte, ele alcançou o seu próprio, deixando-se cair sobre mim. Sua respiração quente e irregular batia contra meu peito enquanto ele fazia carinho em meus quadris com os polegares. Eu afagava seu cabelo curto, sentindo seus fios fazerem cosquinhas em minha pele.
— , por quê? — falei quebrando o silêncio que se instalava no ambiente; ele se levantou, pegou um maço de cigarros e um isqueiro e caminhou até a janela, nu, sem preocupar em se vestir.
— Por que o quê? — se fez de desentendido, sabia muito bem do que eu me referia.
Eu me levantei e caminhei até ele, abraçando-o por trás e pousando meu queixo sobre seu ombro.
— Por que você sempre aparece assim, machucado? Por que você não me diz o que é? O que acontece? É tão agonizante não saber...
— Eu não posso te dizer, . Não queria ter de esconder nada de você, mas é preciso, para seu próprio bem, você não pode saber.
— Que raios, — gritei me afastando. — Para meu próprio bem? Você é uma espécie de assassino? Ou traficante? Procurado pela polícia ou o quê? Sinceramente, você me assusta dizendo essas coisas.
— Sei que sim, mas eu não posso. Eu te amo demais para te colocar em risco — ele disse me segurando pelos ombros tentando me tranquilizar, mas com aquelas palavras ele apenas me assustava mais, imaginando um milhão de coisas que poderia ameaçar minha vida. — Confia em mim? Por favor? — ele me olhou bem no fundo dos olhos e pude ver que ele dizia a verdade, que me amava, que queria o meu bem. — Você confia?
— Tudo bem, eu confio — eu falei e o abracei pela cintura, depositando minha cabeça em seu peito enquanto ele acariciava minhas costas com uma mão e afagava meus fios com a outra.
//////
me levou para casa depois de receber uma ligação que dizia ser urgente, mas se recusou ao dizer do que se tratava. Eu confiava nele, mas ficava muito difícil ficar tranquila com todo aquele mistério. Minha curiosidade estava prestes a me matar de tão aguçada. Eu não queria ter que segui-lo, como uma esposa que desconfia da traição do marido, mas eu precisava descobrir o que o feria tanto e consequentemente a mim também. Assim que seu carro arrancou, chamei o táxi que eu havia pedido e estava escondido na outra esquina e pedi para que o motorista o seguisse. Ficamos um bom tempo na estrada, e eu temia não ter dinheiro o suficiente para pagar a corrida, mas eu daria um jeito. Assim como para valia a pena fazer qualquer coisa por mim, por ele também.
Quando seu carro estacionou em uma esquina, que mais parecia um beco, escondida e consequentemente o táxi também, me surpreendi com os dizeres do outdoor. Rezei para não entrar ali e sim se dirigir para outro lugar, mas tudo indicava que era ali mesmo que ele entraria e minhas suspeitas se confirmaram quando ele o fez. Levei uma das mãos à boca e algumas lágrimas involuntárias caíram pelo meu rosto.
— Está tudo bem, moça? — perguntou o motorista me olhando através do espelho.
— Não — respondi com a voz fraca. — Será que você se importa em me esperar aqui?
— Desculpe, mas não posso perder corridas e não sei quanto tempo você vai demorar — ele respondeu e tirou do bolso um cartão. — Aqui — estendeu-o pra mim. — O telefone da empresa de táxi.
— Obrigada — agradeci, tirando uma quantia que, ainda bem, pagava a corrida e desci do veículo.
Caminhei até a porta do local, ouvindo uma música alta sair de lá de dentro e algumas mulheres com pouca roupa passarem de um lado para o outro. Respirei fundo e resolvi entrar. Pedia silenciosamente para que fosse um garçom, não um dos lutadores daquele clube ilegal, mas mais uma vez tudo indicava que se tratava da segunda opção. Ainda sim, eu estava em estado de negação, tudo em mim queria que eu estivesse errada. Era possível ver, principalmente, homens mais velhos, praticamente babando por aquelas mulheres, que eu não sabia se eram garçonetes vulgarizadas, strippers ou garotas de programa. Talvez os três.
Era anunciada uma luta, mas não consegui identificar os nomes dos lutadores, mesmo assim acredito que eles não usavam seus verdadeiros. Pedi informação para uma mulher e ela me indicou onde ficava o ringue de luta, avisando que eu não gostaria de ver o que se passava dentro dele, o que me causou um arrepio. Tudo aquilo me deixava ainda mais assustada. Quando finalmente consegui encontrar, eu desejei que não tivesse. apanhava de um homem significativamente maior que ele. Era o que se esperava desses clubes, lutas injustas, homens grandes e fortes contra outros nem tão assim. Comecei a chorar desesperada, com medo de que ele não aguentasse e morresse, até que fora anunciado o fim da luta e jogado para fora. Outro lutador, pouco mais forte que adentrou o ringue, ciente de que teria o mesmo caminho, enquanto ele se contorcia de dor no chão. Resolvi me aproximar dele, chocada, com medo, assustada, deixando-o paralisado, procurando palavras para me explicar o que eu acabara de ver.
— Eu... — ele começou a dizer, mas eu me abaixei e calei sua boca com um leve selinho.
— Não me importa agora — falei acariciando seu rosto. — Você está todo machucado, pior do que nas outras vezes, preciso te levar para o hospital — ele tentou negar, mas o impedi. — Não estou te dando uma opção, você vai e pronto, depois vai me explicar porque faz isso — coloquei um de seus braços sobre meus ombros e um dos meus ao redor de sua cintura, ajudando-o a se levantar.
Começamos a caminhar em direção à saída, arrancando olhares de todos por quem passávamos, mas não nos importamos. Assim que deixamos aquele clube, sentamos-nos no canto da escada, ele com a cabeça repousada sobre meu ombro, enquanto eu ligava para a empresa de táxi e pedia um. Não demorou muito para chegar e o motorista vendo minha dificuldade me ajudou a colocar no banco de trás do carro. Coloquei meu cinto de segurança e em seguida o dele. Dentei novamente sua cabeça em meu ombro e comecei a acariciá-la, depositando um selinho amoroso sobre ela.
Acabei com o resto do dinheiro que eu tinha na minha carteira com aquela corrida, teríamos que ir para casa de ônibus e na pior das hipóteses a pé. Retirei nossos cintos e não precisamos ajudá-lo a sair do carro, já que ele estava mais disposto. Caminhamos hospital adentro e uma das enfermeiras naquele andar, assim que percebeu o estado de , voltou logo com uma cadeira de rodas e outros enfermeiros que o colocaram sentado na mesma. Ele foi levado para um quarto e um médico voltou com os equipamentos necessários para cuidar de seus ferimentos e fazer alguns pontos. Um tempo depois, terminado os curativos, o médico disse que logo voltaria com o resultado do exame, que fora feito para ver de algum osso havia se quebrado e dependendo da situação o daria alta.
Ficamos um bom tempo em silêncio, ele deitado na cama, hora olhando para o céu, hora para mim, e eu fazia o mesmo, só que sentada em um sofá. Resolvi que era o momento de termos a conversa que o prometi que teríamos e me levantei caminhando até ele, com os braços cruzados. Apenas fiquei encarando-o, esperando que ele começasse a se explicar, o que não demorou muito.
— Eu não faço isso porque quero que fique claro — ele falou, olhando paras as próprias mãos sobre o colo. — Faço porque preciso e isso é tudo o que posso te dizer — revirei os olhos.
— Que droga, — gritei. — Quando você vai parar com esse joguinho idiota e me contar a verdade? Não aguento mais, caramba — encostei-me na parede, com a mão na cabeça.
— Quando tudo isso terminar — ele falou em um sussurro.
— Isso o que, pelo amor de Deus? — perguntei com certo desespero em minha voz.
— Não posso dizer — ele insistia em não me contar. — Só confie em mim? Você disse que confiava, então confie.
— Eu confio, só fico preocupada com isso, queria saber o que está acontecendo para tentar te ajudar — falei me aproximando dele e segurando suas mãos.
— Você não pode me ajudar, ninguém pode me ajudar, apenas eu mesmo posso me ajudar — explicou, virando suas mãos para entrelaçá-las com as minhas. — Mas você vai saber um dia, eu prometo, acredite em mim.
— Sabia que você torna muito difícil de te amar, não sabe? — brinquei, passando meus braços pelo seu pescoço e ele me puxou para me sentar sobre suas pernas, colando nossas testas.
— Mas você ama mesmo assim — ele sussurrou em meu ouvido.
— Não tem como não amar. Aprender a te amar foi como aprender a falar, é impossível se esquecer de como fazê-lo — quando terminei de falar, ele juntou nossos lábios em um selinho longo.
— Você é a minha vida, tudo que eu tenho e tudo que eu amo — declarou-se.
— E você a minha — dito isso, juntei nossos lábios novamente, mas dessa vez para um beijo de verdade, aquele que adorávamos dar.
Capítulo 7
e eu havíamos combinado que eu passaria na sua casa antes de ir para a minha, papai não se importaria de qualquer maneira. Santana até me liberou mais cedo do trabalho, já que a clientela estava fraca, quando soube. Desci do ônibus no lugar mais próximo possível de sua casa e caminhei por alguns minutos até chegar. Estranhei ver um carro a mais em frente ao galpão, ao lado do seu e temi ter acontecido algo, principalmente depois de saber que estava metido em um clube de lutas ilegal.
Estava prestes a bater na porta, quando percebi que a mesma não se encontrava fechada, apenas encostada, então entrei. Minha boca se abriu quando me deparei com um homem baleado caído próximo ao sofá de , enquanto o mesmo uma arma.
— Meu Deus, o que você fez? — perguntei trêmula, com lágrimas caindo livremente pelo meu rosto. — Você não quis me dizer a razão para estar envolvido com essas lutas ilegais, agora isso? Um homem morto na sua sala, você com uma arma na mão...
— Eu não o matei — ele falou. — Quero dizer, eu atirei, mas ele não está morto. Antes que você faça suposições, não era minha intenção. Ele chegou aqui apontando a arma para mim, dizendo que me mataria então na tentativa de me proteger avancei nele, tomei a arma e atirei em um lugar estratégico para não matá-lo — explicou-se.
— Mas por que mais isso? — perguntei desesperada. — Ou me contar colocará minha vida em risco também? — ironizei.
— Preciso que chame a polícia — desviou o assunto. — Eu vou te explicar, mas chame a polícia — ele implorou e foi o que fiz.
Não muito tempo depois a polícia chegou e explicava aos policiais o acontecido e um escrivão anotava, enquanto outros levavam o homem baleado para uma ambulância, que fora chamava pela própria polícia ao chegar. Eu me encontrava em total estado de choque, sentada no sofá, observando tudo e todos ao meu redor. Uma mulher me perguntara se estava tudo bem e se eu precisava de água, afirmei que estava tudo bem, mas aceitei o copo d’água.
Quando os policiais foram embora, se sentou ao meu lado e segurou minhas mãos, levando-as até a boca e depositando um beijo carinhoso em cada uma. Depois se levantou e me puxou, dizendo que precisava me levar para longe dali, ciente de que eu não estava nada bem e eu apenas o deixei me levar até o carro. Ele dirigiu até a praia, mais precisamente ao cais e se sentou na beirada do mesmo, deixando suas pernas penduradas e eu o acompanhei.
— Esse homem é um dos motivos pelo quais eu faço isso, — ele explicou. — Quando eu digo que preciso, é porque sou obrigado, devo algo a ele e lutar nesses clubes é a forma que encontrei de tentar quitar minha dívida, ou então eu morreria e eu não queria e nem quero morrer. Ele foi me procurar porque você foi ao clube semana passada e isso não poderia ter acontecido, ele tem medo de que você denuncie o esquema e acabe com tudo. Então ele pediu seu endereço, dizendo que te mataria, mas eu jamais o daria, preferia morrer ao te entregar. Não se preocupe, ele não viu seu rosto, apenas sabe que você foi lá — eu continuava em choque, principalmente depois de tudo que me foi dito. — Preciso contar com sua discrição. , eu sei que é horrível, mas não denuncie, essa gente é perigo e além do mais têm um pessoal na polícia, se você o fizer, eles vão saber e então sua vida estará em risco. Prometa que não vai contar.
— Eu prometo — minha voz saiu trêmula. — Eu estou com medo, — falei assustada, me encolhendo em seus braços fortes.
— Olha para mim — ele pediu, segurando meus ombros, me fazendo encará-lo nos olhos. — Eu não vou deixar nada te acontecer, você está entendendo? — afirmei com a cabeça. — Nem que sua vida precise custar a minha, eu não vou permitir que ninguém te faça mal.
— Não fala isso, você não vai morrer, eu não vou morrer — pedi desesperada. — Vamos sair juntos dessa.
— Eu vou sair dessa, — declarou. — Não quero que você se envolva nisso, não quero que você corra o risco que eu corro, não quero que passe pelo que eu passo.
— Só se você prometer que não vai morrer, que independente do que aconteça você vai voltar para mim todos os dias — segurei seu rosto entre minhas mãos.
— Não posso prometer que não vou morrer, mas posso prometer que enquanto eu viver serei seu, apenas seu — assegurou. — Eu te amo, meu amor.
— Também te amo, mais que tudo — assim que nossas bocas se encontraram, depositamos naquele beijo todo o medo, assim como todo o amor que sentíamos um pelo outro, como se fosse a última vez, até porque não sabíamos quando ela seria.
Estava prestes a bater na porta, quando percebi que a mesma não se encontrava fechada, apenas encostada, então entrei. Minha boca se abriu quando me deparei com um homem baleado caído próximo ao sofá de , enquanto o mesmo uma arma.
— Meu Deus, o que você fez? — perguntei trêmula, com lágrimas caindo livremente pelo meu rosto. — Você não quis me dizer a razão para estar envolvido com essas lutas ilegais, agora isso? Um homem morto na sua sala, você com uma arma na mão...
— Eu não o matei — ele falou. — Quero dizer, eu atirei, mas ele não está morto. Antes que você faça suposições, não era minha intenção. Ele chegou aqui apontando a arma para mim, dizendo que me mataria então na tentativa de me proteger avancei nele, tomei a arma e atirei em um lugar estratégico para não matá-lo — explicou-se.
— Mas por que mais isso? — perguntei desesperada. — Ou me contar colocará minha vida em risco também? — ironizei.
— Preciso que chame a polícia — desviou o assunto. — Eu vou te explicar, mas chame a polícia — ele implorou e foi o que fiz.
Não muito tempo depois a polícia chegou e explicava aos policiais o acontecido e um escrivão anotava, enquanto outros levavam o homem baleado para uma ambulância, que fora chamava pela própria polícia ao chegar. Eu me encontrava em total estado de choque, sentada no sofá, observando tudo e todos ao meu redor. Uma mulher me perguntara se estava tudo bem e se eu precisava de água, afirmei que estava tudo bem, mas aceitei o copo d’água.
Quando os policiais foram embora, se sentou ao meu lado e segurou minhas mãos, levando-as até a boca e depositando um beijo carinhoso em cada uma. Depois se levantou e me puxou, dizendo que precisava me levar para longe dali, ciente de que eu não estava nada bem e eu apenas o deixei me levar até o carro. Ele dirigiu até a praia, mais precisamente ao cais e se sentou na beirada do mesmo, deixando suas pernas penduradas e eu o acompanhei.
— Esse homem é um dos motivos pelo quais eu faço isso, — ele explicou. — Quando eu digo que preciso, é porque sou obrigado, devo algo a ele e lutar nesses clubes é a forma que encontrei de tentar quitar minha dívida, ou então eu morreria e eu não queria e nem quero morrer. Ele foi me procurar porque você foi ao clube semana passada e isso não poderia ter acontecido, ele tem medo de que você denuncie o esquema e acabe com tudo. Então ele pediu seu endereço, dizendo que te mataria, mas eu jamais o daria, preferia morrer ao te entregar. Não se preocupe, ele não viu seu rosto, apenas sabe que você foi lá — eu continuava em choque, principalmente depois de tudo que me foi dito. — Preciso contar com sua discrição. , eu sei que é horrível, mas não denuncie, essa gente é perigo e além do mais têm um pessoal na polícia, se você o fizer, eles vão saber e então sua vida estará em risco. Prometa que não vai contar.
— Eu prometo — minha voz saiu trêmula. — Eu estou com medo, — falei assustada, me encolhendo em seus braços fortes.
— Olha para mim — ele pediu, segurando meus ombros, me fazendo encará-lo nos olhos. — Eu não vou deixar nada te acontecer, você está entendendo? — afirmei com a cabeça. — Nem que sua vida precise custar a minha, eu não vou permitir que ninguém te faça mal.
— Não fala isso, você não vai morrer, eu não vou morrer — pedi desesperada. — Vamos sair juntos dessa.
— Eu vou sair dessa, — declarou. — Não quero que você se envolva nisso, não quero que você corra o risco que eu corro, não quero que passe pelo que eu passo.
— Só se você prometer que não vai morrer, que independente do que aconteça você vai voltar para mim todos os dias — segurei seu rosto entre minhas mãos.
— Não posso prometer que não vou morrer, mas posso prometer que enquanto eu viver serei seu, apenas seu — assegurou. — Eu te amo, meu amor.
— Também te amo, mais que tudo — assim que nossas bocas se encontraram, depositamos naquele beijo todo o medo, assim como todo o amor que sentíamos um pelo outro, como se fosse a última vez, até porque não sabíamos quando ela seria.
Capítulo 8
Por .
Eu subia os últimos degraus na escada de incêndio que levava ao quarto de . Assim que alcancei seu andar, bati algumas vezes na janela, mas ela não apareceu, olhei pela mesma e percebi que ela não estava lá. Procurei pela chave que ficava escondida de baixo de um vaso de plantas que abria por fora. Assim que adentrei seu quarto, consegui ouvir alguns gritos vindos da sala de e seu pai. Abri a porta devagar e caminhei devagar pelo corredor para que não fosse ouvido, mas assim que consegui vê-los, Russel deu um tapa estalado no rosto da minha garota, derrubando-a no chão em um susto de raiva. Depois disso não respondi pelos meus próprios atos, caminhei até ele e quando estava prestes a agredi-la novamente, o segurei pelo colarinho da camisa e o soquei com força no rosto, fazendo-o desmaiar em seguida. Deixei que ele caísse no chão, não me importando com seu estado, apenas com , encolhida em um canto da sala com as mãos sobre a bochecha vermelha, aos prantos. Puxei-a para meus braços, tentando acalmar seu choro desesperado. Ajoelhei-me de frente para ela e a sentei no meu colo, do mesmo jeito que as mães ou pais faziam com os filhos, mas só tinha a mim, então o fiz.
— Não acredito que esse canalha machucou você — rosnei. — Eu queria matá-lo, só não o faço por sua causa.
— Eu não aguento mais isso, — ela disse entre soluços. — Faço tudo o que posso por ele, a comida e muitas vezes me viro parar arcar sozinha com as despesas quando ele perde o emprego por chegar atrasado ao serviço, mas nunca é suficiente, ele sempre quer algo mais, fica nervoso por qualquer motivo, grita comigo, me machuca.
— Ele fez isso outras vezes? — perguntei com o sangue fervendo.
— Sim, mas nunca como hoje — ela admitiu. — Desculpa não ter te contado, não queria te preocupar ou te colocar em alguma confusão.
— Eu quero que você entenda que eu faço qualquer coisa por você, tudo por você vale a pena — segurei seu rosto entre minhas mãos, enxugando algumas lágrimas que caíam de seus olhos com os polegares. — Não esconda de mim quando acontecer, não vou deixar que ninguém te machuque — ela concordou com um aceno de cabeça.
Beijei seus cabelos, em seguida seus lábios e me levantei, puxando-a comigo. Colocamos seu pai sobre nossos ombros, um braço dele de cada lado e o levamos para o quarto e o deitamos na cama. Combinamos que diria a ele que ele chegou bêbado, caiu no chão, bateu a cabeça na mesa e desmaiou, assim o soco que lhe dei não passaria de um sonho. Disse a minha garota que precisávamos conversar e ela nos levou para seu quarto e trancou a porta, para não corrermos o risco de seu pai me pegar ali, depois fomos para a escada de incêndio e nos sentamos na escada. Acendi um cigarro, dei uma tragada e a ofereci, ela aceitou esperando que falasse o que tinha para falar.
— Eu vou te contar — comecei, deixando-a sem entender. — Vou te contar tudo, , tudo que você sempre quis saber — ela arregalou os olhos.
— Tem certeza? É seguro agora? Você está livre? — ela ensaiou um sorriso, mas desistiu ao perceber a expressão nada agradável no meu rosto.
— Não é seguro, é necessário — falei. — Te pedi tantas vezes para confiar em mim e você confiou, agora é a minha vez de confiar em você — suspirei e joguei o cigarro fora. — Eu menti quando disse que fui embora porque minha avó estava doente — admiti. — Meu pai tinha um vício em jogos, ele visitava regularmente cassinos ilegais, gastando todo o seu salário sem receber nada. Ele sempre acabava com todo o dinheiro e ia embora, até o dia que um homem resolveu lhe emprestar. Começou com uma quantidade que ele conseguia pagar, mas ela foi aumentando e pelo fato de meu pai não ter como pagar a dívida só crescia. Então esse homem começou a persegui-lo, ele era um agiota, se aproveitava de momentos difíceis ou de fraqueza das pessoas para emprestá-las dinheiro já com a intenção de não receber o dinheiro de volta, ou então com muitos juros, para tê-las na mão. Por um tempo, meu pai fazia tudo o que eles queriam, mas cansado de tanta pressão, resolveu procurar a polícia e foi aí que ele errou. Eles tinham gente na polícia, então começaram a ameaçá-lo de morte, não só a ele, mas a mim e minha mãe também. Precisamos deixar a cidade às pressas e fomos para New York, achando que estávamos seguros lá, mas essas pessoas estão em todos os lugares, parece que todos são aliados e tornam as vidas das pessoas um inferno. Após três meses lá, eles mataram meu pais, mas decidiram que não fariam o mesmo comigo, eles precisavam de mim para outra coisa, para lutar. Eles começaram a me obrigar a participar dessas lutas clandestinas, que eu não tinha a menor chance, com cinco segundos eu já não me aguentava. Comecei a treinar e melhorar meu físico, para tentar melhorar minhas performances no ringue e não sair tão machucado, acabado. Aquele homem em quem atirei na minha casa é o homem que meu pai devia dinheiro e que agora eu devo. Ele disse que só me deixaria em paz quando eu quitasse a dívida, mas o problema é que não tem como, é muito grande e o dinheiro que ganho nas lutas é muito pouco e ainda preciso dar uma boa parte para eles e o que separo para pagar a dívida é muito pouco porque preciso de uma quantidade para viver, entende? O problema é que agora que atirei nesse homem, aqueles que estavam com ele vieram atrás de mim, eles querem me matar, .
— Oh meu Deus — ela disse com a voz trêmula, com as mãos na boca e lágrimas que molhavam todo o seu rosto. — A culpa é minha, , se eu não tivesse te seguido até aquele clube isso não teria acontecido. Desculpe-me, desculpe-me... — ela disse repetidas vezes.
— Não é sua culpa, meu amor — falei a acolhendo em meus braços. — Isso aconteceria de qualquer jeito, é o que eles fazem depois de um tempo. Quando não precisam mais de nós, nos descartam nos matando para não abrirmos o bico. Vi isso acontecer com várias pessoas que também estavam em suas mãos.
— O que nós vamos fazer, ? — ela perguntou me olhando desesperada.
— Vamos embora daqui, . Esse lugar não é para nós, nunca foi. Precisamos fugir daqui, recomeçar nossas vidas em outro lugar, juntos, longe de tudo isso, de todo esse sofrimento, só nós e nosso amor — avisei.
— Eu não posso — ela sussurrou se levantando, séria. — Eu queria, mas não posso. Sei que ele não merece, mas tenho que ficar ao lado dele enquanto ele viver. Não por pena, nem obrigação, mas pelo pai que ele foi, . Ele foi forte por mim por tanto tempo, ele lutou por mim por tanto tempo desde que minha mãe morreu, não posso abandoná-lo agora, na dificuldade — explicou entre lágrimas.
— Eu preciso ir embora daqui — minha voz era quase inaudível, minha cabeça estava baixa na tentativa de esconder as lágrimas que caíam de meus olhos e escorriam livremente pelo meu rosto, a ideia de deixá-la me machucava. Sem ela eu não tinha nada, eu não era nada, voltaria a ser um completo vazio. — Permanecer aqui não ameaça apenas a mim, mas você também. Continuar aqui e me relacionar com você é arriscado. Prometi que jamais deixaria alguém te machucar, nem que isso custasse minha vida ou você do meu lado.
— Você quer dizer que vai embora? Vai me deixar aqui? — ela perguntou, chorando ainda mais violentamente. — Vai me abandonar de novo, ? É isso?
— Eu não quero, , eu nunca quis, entenda isso — pedi me aproximando dela, mas ela recuou.
— Não me importo em correr risco, só preciso estar com você. Prefiro morrer de uma vez por ter você do que morrer um pouco a cada dia por não ter. Por favor, não vá embora, não me deixe — ela implorava, agarrando minha jaqueta de couro preto pela cintura. Eu a abracei com toda a força. — Fica comigo.
— Eu vou — falei, segurando seu rosto entre minhas mãos. — Algum dia.
— Eu não quero algum dia, eu quero agora, para sempre — ela insistia, tornando ainda mais difícil ter que deixar para trás o amor da minha vida, não para sempre, claro, enquanto eu vivesse lutaria para tê-la em meus braços novamente. — Vou embora amanhã — avisei e pude ouvir e sentir seu choro piorar. — Mas eu volto para me despedir de você e quando tudo isso terminar eu volto para te levar embora comigo, então seremos apenas nós dois, você e eu.
— Prometa — ela falou em um tom mandão, que me fez rir em meio todo aquele drama; eu amava quando era ela mandona, ficava ainda mais fofa e sedutora do que normalmente era.
— Eu prometo — colei nossas testas, em seguida nossos lábios, mas não os movimentei, apenas sentia-os contra mim; como eu sentiria falta daquele sabor doce, do seu cheiro de morango. — Eu prometo quantas vezes e quantas coisas você me pedir e quiser.
— Eu te amo — ela falou baixo, mas ainda sim fui capaz de ouvi-la.
— Eu te amo mais, garota — sorri, com nossos lábios ainda colados. — Minha garota — então a beijei de verdade, de um jeito que jamais havia beijado antes, com um pouquinho a mais de tudo que sempre tinha, como se aquela fosse a nossa despedida, mesmo ciente de que ainda não era. — Tanto, tanto... — esfreguei nossos narizes, sentindo-a tão perto de mim.
Então a beijei novamente, eu nunca me cansaria disso, nunca me cansaria dela.
Eu subia os últimos degraus na escada de incêndio que levava ao quarto de . Assim que alcancei seu andar, bati algumas vezes na janela, mas ela não apareceu, olhei pela mesma e percebi que ela não estava lá. Procurei pela chave que ficava escondida de baixo de um vaso de plantas que abria por fora. Assim que adentrei seu quarto, consegui ouvir alguns gritos vindos da sala de e seu pai. Abri a porta devagar e caminhei devagar pelo corredor para que não fosse ouvido, mas assim que consegui vê-los, Russel deu um tapa estalado no rosto da minha garota, derrubando-a no chão em um susto de raiva. Depois disso não respondi pelos meus próprios atos, caminhei até ele e quando estava prestes a agredi-la novamente, o segurei pelo colarinho da camisa e o soquei com força no rosto, fazendo-o desmaiar em seguida. Deixei que ele caísse no chão, não me importando com seu estado, apenas com , encolhida em um canto da sala com as mãos sobre a bochecha vermelha, aos prantos. Puxei-a para meus braços, tentando acalmar seu choro desesperado. Ajoelhei-me de frente para ela e a sentei no meu colo, do mesmo jeito que as mães ou pais faziam com os filhos, mas só tinha a mim, então o fiz.
— Não acredito que esse canalha machucou você — rosnei. — Eu queria matá-lo, só não o faço por sua causa.
— Eu não aguento mais isso, — ela disse entre soluços. — Faço tudo o que posso por ele, a comida e muitas vezes me viro parar arcar sozinha com as despesas quando ele perde o emprego por chegar atrasado ao serviço, mas nunca é suficiente, ele sempre quer algo mais, fica nervoso por qualquer motivo, grita comigo, me machuca.
— Ele fez isso outras vezes? — perguntei com o sangue fervendo.
— Sim, mas nunca como hoje — ela admitiu. — Desculpa não ter te contado, não queria te preocupar ou te colocar em alguma confusão.
— Eu quero que você entenda que eu faço qualquer coisa por você, tudo por você vale a pena — segurei seu rosto entre minhas mãos, enxugando algumas lágrimas que caíam de seus olhos com os polegares. — Não esconda de mim quando acontecer, não vou deixar que ninguém te machuque — ela concordou com um aceno de cabeça.
Beijei seus cabelos, em seguida seus lábios e me levantei, puxando-a comigo. Colocamos seu pai sobre nossos ombros, um braço dele de cada lado e o levamos para o quarto e o deitamos na cama. Combinamos que diria a ele que ele chegou bêbado, caiu no chão, bateu a cabeça na mesa e desmaiou, assim o soco que lhe dei não passaria de um sonho. Disse a minha garota que precisávamos conversar e ela nos levou para seu quarto e trancou a porta, para não corrermos o risco de seu pai me pegar ali, depois fomos para a escada de incêndio e nos sentamos na escada. Acendi um cigarro, dei uma tragada e a ofereci, ela aceitou esperando que falasse o que tinha para falar.
— Eu vou te contar — comecei, deixando-a sem entender. — Vou te contar tudo, , tudo que você sempre quis saber — ela arregalou os olhos.
— Tem certeza? É seguro agora? Você está livre? — ela ensaiou um sorriso, mas desistiu ao perceber a expressão nada agradável no meu rosto.
— Não é seguro, é necessário — falei. — Te pedi tantas vezes para confiar em mim e você confiou, agora é a minha vez de confiar em você — suspirei e joguei o cigarro fora. — Eu menti quando disse que fui embora porque minha avó estava doente — admiti. — Meu pai tinha um vício em jogos, ele visitava regularmente cassinos ilegais, gastando todo o seu salário sem receber nada. Ele sempre acabava com todo o dinheiro e ia embora, até o dia que um homem resolveu lhe emprestar. Começou com uma quantidade que ele conseguia pagar, mas ela foi aumentando e pelo fato de meu pai não ter como pagar a dívida só crescia. Então esse homem começou a persegui-lo, ele era um agiota, se aproveitava de momentos difíceis ou de fraqueza das pessoas para emprestá-las dinheiro já com a intenção de não receber o dinheiro de volta, ou então com muitos juros, para tê-las na mão. Por um tempo, meu pai fazia tudo o que eles queriam, mas cansado de tanta pressão, resolveu procurar a polícia e foi aí que ele errou. Eles tinham gente na polícia, então começaram a ameaçá-lo de morte, não só a ele, mas a mim e minha mãe também. Precisamos deixar a cidade às pressas e fomos para New York, achando que estávamos seguros lá, mas essas pessoas estão em todos os lugares, parece que todos são aliados e tornam as vidas das pessoas um inferno. Após três meses lá, eles mataram meu pais, mas decidiram que não fariam o mesmo comigo, eles precisavam de mim para outra coisa, para lutar. Eles começaram a me obrigar a participar dessas lutas clandestinas, que eu não tinha a menor chance, com cinco segundos eu já não me aguentava. Comecei a treinar e melhorar meu físico, para tentar melhorar minhas performances no ringue e não sair tão machucado, acabado. Aquele homem em quem atirei na minha casa é o homem que meu pai devia dinheiro e que agora eu devo. Ele disse que só me deixaria em paz quando eu quitasse a dívida, mas o problema é que não tem como, é muito grande e o dinheiro que ganho nas lutas é muito pouco e ainda preciso dar uma boa parte para eles e o que separo para pagar a dívida é muito pouco porque preciso de uma quantidade para viver, entende? O problema é que agora que atirei nesse homem, aqueles que estavam com ele vieram atrás de mim, eles querem me matar, .
— Oh meu Deus — ela disse com a voz trêmula, com as mãos na boca e lágrimas que molhavam todo o seu rosto. — A culpa é minha, , se eu não tivesse te seguido até aquele clube isso não teria acontecido. Desculpe-me, desculpe-me... — ela disse repetidas vezes.
— Não é sua culpa, meu amor — falei a acolhendo em meus braços. — Isso aconteceria de qualquer jeito, é o que eles fazem depois de um tempo. Quando não precisam mais de nós, nos descartam nos matando para não abrirmos o bico. Vi isso acontecer com várias pessoas que também estavam em suas mãos.
— O que nós vamos fazer, ? — ela perguntou me olhando desesperada.
— Vamos embora daqui, . Esse lugar não é para nós, nunca foi. Precisamos fugir daqui, recomeçar nossas vidas em outro lugar, juntos, longe de tudo isso, de todo esse sofrimento, só nós e nosso amor — avisei.
— Eu não posso — ela sussurrou se levantando, séria. — Eu queria, mas não posso. Sei que ele não merece, mas tenho que ficar ao lado dele enquanto ele viver. Não por pena, nem obrigação, mas pelo pai que ele foi, . Ele foi forte por mim por tanto tempo, ele lutou por mim por tanto tempo desde que minha mãe morreu, não posso abandoná-lo agora, na dificuldade — explicou entre lágrimas.
— Eu preciso ir embora daqui — minha voz era quase inaudível, minha cabeça estava baixa na tentativa de esconder as lágrimas que caíam de meus olhos e escorriam livremente pelo meu rosto, a ideia de deixá-la me machucava. Sem ela eu não tinha nada, eu não era nada, voltaria a ser um completo vazio. — Permanecer aqui não ameaça apenas a mim, mas você também. Continuar aqui e me relacionar com você é arriscado. Prometi que jamais deixaria alguém te machucar, nem que isso custasse minha vida ou você do meu lado.
— Você quer dizer que vai embora? Vai me deixar aqui? — ela perguntou, chorando ainda mais violentamente. — Vai me abandonar de novo, ? É isso?
— Eu não quero, , eu nunca quis, entenda isso — pedi me aproximando dela, mas ela recuou.
— Não me importo em correr risco, só preciso estar com você. Prefiro morrer de uma vez por ter você do que morrer um pouco a cada dia por não ter. Por favor, não vá embora, não me deixe — ela implorava, agarrando minha jaqueta de couro preto pela cintura. Eu a abracei com toda a força. — Fica comigo.
— Eu vou — falei, segurando seu rosto entre minhas mãos. — Algum dia.
— Eu não quero algum dia, eu quero agora, para sempre — ela insistia, tornando ainda mais difícil ter que deixar para trás o amor da minha vida, não para sempre, claro, enquanto eu vivesse lutaria para tê-la em meus braços novamente. — Vou embora amanhã — avisei e pude ouvir e sentir seu choro piorar. — Mas eu volto para me despedir de você e quando tudo isso terminar eu volto para te levar embora comigo, então seremos apenas nós dois, você e eu.
— Prometa — ela falou em um tom mandão, que me fez rir em meio todo aquele drama; eu amava quando era ela mandona, ficava ainda mais fofa e sedutora do que normalmente era.
— Eu prometo — colei nossas testas, em seguida nossos lábios, mas não os movimentei, apenas sentia-os contra mim; como eu sentiria falta daquele sabor doce, do seu cheiro de morango. — Eu prometo quantas vezes e quantas coisas você me pedir e quiser.
— Eu te amo — ela falou baixo, mas ainda sim fui capaz de ouvi-la.
— Eu te amo mais, garota — sorri, com nossos lábios ainda colados. — Minha garota — então a beijei de verdade, de um jeito que jamais havia beijado antes, com um pouquinho a mais de tudo que sempre tinha, como se aquela fosse a nossa despedida, mesmo ciente de que ainda não era. — Tanto, tanto... — esfreguei nossos narizes, sentindo-a tão perto de mim.
Então a beijei novamente, eu nunca me cansaria disso, nunca me cansaria dela.
Capítulo 9
Eu ouvia aquele bipe irritante do aparelho que estava ligado ao meu pai. Ele entrara em coma alcoólico após beber exageradamente, como sempre, mas seu organismo não era mais resistente, estava fraco. Quando chegamos ao hospital e alguns exames foram feitos, foi detectado um câncer em estado terminal no fígado devido a anos de abuso de bebidas alcoólicas. O médico disse que não havia nada que pudesse ser feito a não ser um transplante, que seria muito difícil de acontecer, pois tinha muitas pessoas na fila na espera de um e papai estava em estado de urgência. Não fora com essas palavras, mas fora com essa intenção, eu só poderia esperar que ele morresse, sem saber ao certo quando aconteceria.
Lágrimas silenciosas caíam livremente pelo meu rosto, borrando minha maquiagem e molhando minhas roupas. Encontrava-me sentada em uma poltrona ao lado de sua cama, segurando sua mão, tentando aceitar a ideia de que ele morreria, de que eu nunca mais o veria quando isso acontecesse. O que mais doía era lembrar-me do homem que um dia ele fora, se no passado alguém chegasse para mim e dissesse que isso aconteceria, eu não acreditaria ou então me mataria, para evitar todo o sofrimento, não só de ver meu pai ser morto por uma doença tão cruel e agressiva, mas também por ver partir.
Resolvi que precisava de um ar, digerir isso longe daquele ambiente angustiante, triste. Caminhei até a porta do quarto onde papai estava internado, peguei um elevador e me dirigi à saída. Saquei o celular do bolso do meu vestido e digitei aqueles números que eu conhecia muito bem. Hoje seria o dia de sua partida. iria embora pela noite, mas eu precisava dele agora, para me acolher em seus braços de um jeito que só ele fazia. Ele disse que em poucos minutos estaria ali e cumpriu suas palavras, em pouco tempo eu já estava entre seus braços fortes e reconfortantes.
— Me tira daqui — pedi. — Não quero ficar nesse hospital, pelo menos por um tempo — ele acenou positivamente e me levou pela mão até seu carro.
dirigiu até a mesma praia que sempre íamos e nos sentamos na beirada do cais, como costumávamos fazer. Contei-lhe o ocorrido e ele não disse uma palavra, apenas me abraçou forte, como se tentasse juntar todos os meus pedaços, beijando repetidas vezes o topo da minha cabeça enquanto acariciava desde minhas costas aos meus quadris. Ficamos por muito tempo naquela posição, eu desabafava toda a minha dor nos seus braços. Tanto eu quanto ele sabíamos que aquela era nossa despedida, mas preferimos fingir que não, não até que ele tivesse que ir. Todas as vezes que a dor no meu peito parecia ficar mais forte, eu apertava meus braços ao redor de sua cintura e afundava ainda mais meu rosto em seu peito.
O sol começava a se pôr e ambos tínhamos noção de que ele teria que ir. Meu choro se tornou mais desesperado quando ele se levantou, me puxando junto. Ele me abraçou novamente, mais forte. Era óbvio que ele sofria tanto ou até mais que eu, nunca o vi chorar daquela forma. Meus braços se apertavam cada vez mais ao redor de seu pescoço e os dele da minha cintura. Afastamo-nos apenas o suficiente para que nossos rostos se colassem e nossos narizes que tocassem. Não demoramos em nos entregarmos a um beijo de despedida, que nos fez esquecer de que se tratava de uma despedia, de tão intenso, de tão envolvidos que estávamos com os gostos da boca, dos lábios um do outro.
— Só diga que vai se lembrar de mim, em seus sonhos mais loucos — pedi, quando nos separamos, mas ainda tendo nossos dedos cruzados. — Só diga que vai se lembrar de mim todas as vezes que você acordar. Só diga que vai voltar.
— Eu prometo — ele disse. — Sabe por quê? — perguntou e eu apenas esperei que ele continuasse. — Porque você é o meu sonho. O meu mais louco e selvagem sonho. Um sonho não sonhado, um sonho vivido. Uma realidade que mais parece sonho. Um sonho que ainda bem que é real.
Sorri com suas palavras e o abracei uma última vez, beijei cada canto de seu rosto e por último seus lábios, me demorando neles, sentindo seu gosto, gravando aquele sabor na memória, até que pudesse senti-lo de novo.
— Eu te amo, meu amor, minha vida, meu tudo — falei esfregando nossos narizes, aproveitando para descer até seu pescoço e gravar também o seu cheiro.
— Também te amo, razão do meu viver. E vou lutar por você, eu vou viver por você, eu vou voltar por mim, porque eu preciso de você, preciso te fazer e ser feliz ao seu lado para o resto da minha vida. Você é a melhor coisa que me aconteceu, é por você que vale a pena continuar vivo, respirando — ele disse entre lágrimas, com meu rosto entre suas mãos, nossas testas coladas. — Eu prometo , um dia não haverá mais dor, só nós, nosso amor e os frutos do nosso amor — sorrir ao entender ao que ele se referia. — Nosso desejo, nossa paixão e toda a felicidade que existir nesse mundo. Eu te amo, eu te amo, eu te amo... — ele repetia em voz baixa, para que apenas nós ouvíssemos.
— Tanto, tanto, tanto... — continuei. — Agora você precisa ir — surpreendi-me com minhas palavras. — Você precisar ir lá e lutar, eu estarei aqui esperando por você, pelo tempo que for necessário, eu estarei aqui torcendo por você e contado os segundos para estar nos seus braços novamente — encerrei aquele momento com um beijo, contra minha vontade, eu não queria que ele acabasse, não queria que fosse embora.
— E eu vou voltar, mesmo que essa luta dure anos, porque por você vale a pena. Eu nunca vou desistir de nós, do nosso amor, da nossa felicidade, de você — ele beijou minha testa e se afastou antes que desistisse de ir e eu de deixá-lo ir, pois era o que aconteceria se não nos distanciássemos.
começou a caminhar em direção ao se carro, ainda virado e sorrindo para mim enquanto tentava limpar sem sucesso as lágrimas que escorriam pelo rosto lindo. Então ele ficou de costas, antes que avançasse em mim e desistisse de vez de ir embora, porque se ele o fizesse eu não deixaria. Ele caminhava daquele jeito que eu amava, seus cabelos agora bem maiores do que o normal se bagunçavam ainda mais com o tempo.
— — chamei-o e corri até ele, dando-lhe um último beijo e finalmente o deixando ir. — Eu te amo — sussurrei, mas ele conseguiu ler meus lábios por que disse que também me amava.
Virei-me para o horizonte, não querendo vê-lo partir, doeria mais do que já estava doendo observar seu carro partir para longe, principalmente por não saber quando ele voltaria. Mas consegui senti que ele me olhava, em um vestido bonito encarando o pôr do sol. Fechei os olhos e abri os braços, deixando que a brisa fresca me abraçasse e me beijasse e, naquele momento eu tive certeza, ele voltaria.
Ele voltaria para mim.
***Flashback Off.
Lágrimas silenciosas caíam livremente pelo meu rosto, borrando minha maquiagem e molhando minhas roupas. Encontrava-me sentada em uma poltrona ao lado de sua cama, segurando sua mão, tentando aceitar a ideia de que ele morreria, de que eu nunca mais o veria quando isso acontecesse. O que mais doía era lembrar-me do homem que um dia ele fora, se no passado alguém chegasse para mim e dissesse que isso aconteceria, eu não acreditaria ou então me mataria, para evitar todo o sofrimento, não só de ver meu pai ser morto por uma doença tão cruel e agressiva, mas também por ver partir.
Resolvi que precisava de um ar, digerir isso longe daquele ambiente angustiante, triste. Caminhei até a porta do quarto onde papai estava internado, peguei um elevador e me dirigi à saída. Saquei o celular do bolso do meu vestido e digitei aqueles números que eu conhecia muito bem. Hoje seria o dia de sua partida. iria embora pela noite, mas eu precisava dele agora, para me acolher em seus braços de um jeito que só ele fazia. Ele disse que em poucos minutos estaria ali e cumpriu suas palavras, em pouco tempo eu já estava entre seus braços fortes e reconfortantes.
— Me tira daqui — pedi. — Não quero ficar nesse hospital, pelo menos por um tempo — ele acenou positivamente e me levou pela mão até seu carro.
dirigiu até a mesma praia que sempre íamos e nos sentamos na beirada do cais, como costumávamos fazer. Contei-lhe o ocorrido e ele não disse uma palavra, apenas me abraçou forte, como se tentasse juntar todos os meus pedaços, beijando repetidas vezes o topo da minha cabeça enquanto acariciava desde minhas costas aos meus quadris. Ficamos por muito tempo naquela posição, eu desabafava toda a minha dor nos seus braços. Tanto eu quanto ele sabíamos que aquela era nossa despedida, mas preferimos fingir que não, não até que ele tivesse que ir. Todas as vezes que a dor no meu peito parecia ficar mais forte, eu apertava meus braços ao redor de sua cintura e afundava ainda mais meu rosto em seu peito.
O sol começava a se pôr e ambos tínhamos noção de que ele teria que ir. Meu choro se tornou mais desesperado quando ele se levantou, me puxando junto. Ele me abraçou novamente, mais forte. Era óbvio que ele sofria tanto ou até mais que eu, nunca o vi chorar daquela forma. Meus braços se apertavam cada vez mais ao redor de seu pescoço e os dele da minha cintura. Afastamo-nos apenas o suficiente para que nossos rostos se colassem e nossos narizes que tocassem. Não demoramos em nos entregarmos a um beijo de despedida, que nos fez esquecer de que se tratava de uma despedia, de tão intenso, de tão envolvidos que estávamos com os gostos da boca, dos lábios um do outro.
— Só diga que vai se lembrar de mim, em seus sonhos mais loucos — pedi, quando nos separamos, mas ainda tendo nossos dedos cruzados. — Só diga que vai se lembrar de mim todas as vezes que você acordar. Só diga que vai voltar.
— Eu prometo — ele disse. — Sabe por quê? — perguntou e eu apenas esperei que ele continuasse. — Porque você é o meu sonho. O meu mais louco e selvagem sonho. Um sonho não sonhado, um sonho vivido. Uma realidade que mais parece sonho. Um sonho que ainda bem que é real.
Sorri com suas palavras e o abracei uma última vez, beijei cada canto de seu rosto e por último seus lábios, me demorando neles, sentindo seu gosto, gravando aquele sabor na memória, até que pudesse senti-lo de novo.
— Eu te amo, meu amor, minha vida, meu tudo — falei esfregando nossos narizes, aproveitando para descer até seu pescoço e gravar também o seu cheiro.
— Também te amo, razão do meu viver. E vou lutar por você, eu vou viver por você, eu vou voltar por mim, porque eu preciso de você, preciso te fazer e ser feliz ao seu lado para o resto da minha vida. Você é a melhor coisa que me aconteceu, é por você que vale a pena continuar vivo, respirando — ele disse entre lágrimas, com meu rosto entre suas mãos, nossas testas coladas. — Eu prometo , um dia não haverá mais dor, só nós, nosso amor e os frutos do nosso amor — sorrir ao entender ao que ele se referia. — Nosso desejo, nossa paixão e toda a felicidade que existir nesse mundo. Eu te amo, eu te amo, eu te amo... — ele repetia em voz baixa, para que apenas nós ouvíssemos.
— Tanto, tanto, tanto... — continuei. — Agora você precisa ir — surpreendi-me com minhas palavras. — Você precisar ir lá e lutar, eu estarei aqui esperando por você, pelo tempo que for necessário, eu estarei aqui torcendo por você e contado os segundos para estar nos seus braços novamente — encerrei aquele momento com um beijo, contra minha vontade, eu não queria que ele acabasse, não queria que fosse embora.
— E eu vou voltar, mesmo que essa luta dure anos, porque por você vale a pena. Eu nunca vou desistir de nós, do nosso amor, da nossa felicidade, de você — ele beijou minha testa e se afastou antes que desistisse de ir e eu de deixá-lo ir, pois era o que aconteceria se não nos distanciássemos.
começou a caminhar em direção ao se carro, ainda virado e sorrindo para mim enquanto tentava limpar sem sucesso as lágrimas que escorriam pelo rosto lindo. Então ele ficou de costas, antes que avançasse em mim e desistisse de vez de ir embora, porque se ele o fizesse eu não deixaria. Ele caminhava daquele jeito que eu amava, seus cabelos agora bem maiores do que o normal se bagunçavam ainda mais com o tempo.
— — chamei-o e corri até ele, dando-lhe um último beijo e finalmente o deixando ir. — Eu te amo — sussurrei, mas ele conseguiu ler meus lábios por que disse que também me amava.
Virei-me para o horizonte, não querendo vê-lo partir, doeria mais do que já estava doendo observar seu carro partir para longe, principalmente por não saber quando ele voltaria. Mas consegui senti que ele me olhava, em um vestido bonito encarando o pôr do sol. Fechei os olhos e abri os braços, deixando que a brisa fresca me abraçasse e me beijasse e, naquele momento eu tive certeza, ele voltaria.
Ele voltaria para mim.
***Flashback Off.
Epílogo
Senti o carro parar e em seguida a porta ser aberta, estava tão perdida em minhas memórias que não me dei conta que havíamos chegado. Agradeci com um leve sorriso e desci do carro, ouvindo novamente o barulho irritante de meus saltos baterem contra o chão. Eu odiava saltos. Senti o vento frio arrepiar novamente minha pele, mesmo coberta por um sobretudo grosso e quente. Caminhamos cemitério adentro onde uma grande quantidade de pessoas já se encontrava. Algumas apenas me abraçaram, outras também disseram palavras acolhedoras e outras apenas sorriram.
Assisti quase afogada em lágrimas o caixão onde continha o corpo de meu pai ser abaixado com cuidado até se encontrar completamente dentro da cova cavada na terra, em seguida as coras de flores que ele recebera. O homem que segurava um par para enterrá-lo perguntou se eu queria jogar o primeiro punhado de terra e eu assenti, pegando com minhas próprias mãos uma boa quantidade de terra e soltando sobre seu caixão, em seguida várias remeças de terra foram jogadas até que o tampassem completamente. Em seguida colocaram por cima um memorial de mármore com seu nome completo, uma mensagem que eu mesma havia escolhido, sua data de nascimento e falecimento.
Logo depois, todos seguiram em direção a uma capelinha onde seria realizada uma pequena missa e um discurso meu em homenagem a meu pai. Todos se acomodaram nos banquinhos de madeira, ouvindo atentamente o padre proferir suas palavras. Após alguns minutos, fui chamada para subir ao altar e me posicionei no meio, com um pequeno papel com palavras que eu pretendia dizer em mãos. Fiquei um longo tempo dividindo olhares entre o pedaço de papel e os presentes, que aguardavam pacientemente que eu decidisse ler. Amassei o que continha em mãos, suspirei fundo fechando os olhos demoradamente e comecei a falar:
— Bom, o que dizer sobre meu pai? — perguntei, sorrindo ao ver sua imagem em minha mente. — Vou começar dizendo que ele foi um homem que amou uma mulher tão intensamente que superou a dificuldade de perdê-la para fazer o fruto desse amor feliz. E gostaria de dizer também que tenho muito orgulho de ser fruto do amor de duas pessoas que eram tão apaixonadas uma pela outra, tenho muito orgulho de ser filha de Russel , um amigo, irmão, mãe e pai. Não vou me lembrar, nem agora e nem nunca, do homem que ele se tornou, pois ele jamais vai definir o que ele realmente era, mas sim do homem ele foi, porque esse sim era o homem que o representaria. Gostaria que todos também fizessem como eu, porque ele foi uma pessoa maravilhosa, fez de tudo, lutou com unhas e dentes para me criar sozinha. E por último eu gostaria de dizer que o amo muito — terminei meu discurso afogada em lágrimas, mas ainda sim com um leve sorriso no rosto, satisfeita com minhas palavras, ciente de que apesar de tudo meu pai foi um homem feliz.
Depois, todos começaram a deixar a capela, seguindo suas vidas, já que, após me despedir de todos, me dirigi até o túmulo de meu pai, agachando-me diante dele e tocando os dizeres de sua lápide. Novamente meus olhos se inundaram de lágrimas e meu choro saía trêmulo, não é nada fácil lidar com o fato de que você nunca mais verá essa pessoa na sua frente, de verdade, apenas em fotografias e memórias. Talvez, fosse o que realmente mais machucava, porque fechar os olhos é normal, não abri-los e não acordar nunca mais é outra.
— Você se tornou um pai horrível — comecei, sabendo que ele me escutava. — Mas não te culpo. Sei como foi difícil para você perder a mamãe. Embora fosse pequena, conseguia perceber que se amavam, era tão bonito, lembro-me de todas as noites quando eu me ajoelhava para fazer a minha oração eu pedia que eu pudesse ter um amor tão puro e verdadeiro quanto o de vocês dois com aquele brilho nos olhos. Depois que a mamãe morreu consegui perceber o quanto doeu em você, doeu em mim também, mas você foi forte por mim durante tanto tempo, o tempo que precisei e eu entendo que você estava cansado, era tão perceptível a falta que ela te fazia e o quão difícil era olhar pra mim e ver a semelhança entre nós, no entanto você o fazia com muita bravura — falar ficava cada vez mais difícil. — Só mais uma coisa, quando você me pediu perdão no hospital por ter se entregado à dor e ter me feito sofrer e eu não respondi, quero que saiba que eu sempre te perdoei — levantei-me devagar, limpando as lágrimas enquanto meu choro cessava aos poucos.
//////
Eu caminhava lentamente pelas ruas da Carolina do Norte a caminho de casa, Sue e Santana haviam me oferecido carona, mas recusei, precisava andar um pouco ao ar livre, sozinha, apenas eu e meus pensamentos. Afinal, eu tinha muito que pensar. O que eu faria agora? Continuaria trabalhando na mesma lanchonete e morando naquele mesmo apartamento o resto da vida? Eu ainda continuava esperando por , com a esperança de que deixaríamos aquele lugar e recomeçaríamos nossa vida, juntos, em outro lugar, mas já fazia um ano desde que ele partira, não tinha como não temer que algo tivesse acontecido.
Depois de muito perambular pelas ruas afora, resolvi que era hora de voltar para casa, mesmo que ficar só me fizesse lembrar de coisas ruins que eu queria esquecer e coisas boas que eu não sabia se poderia ter novamente. O sol tinha dado as caras e meu casaco se encontrava agora em um de meus braços, enquanto eu sentia a brisa fresca do ar bater contra minha pele. Chegando ao prédio onde eu morava, consegui, mesmo de longe, avistar um carro que eu conhecia muito bem. Meu coração acelerou quando me aproximei mais e fiquei frente a frente com aquela boca, com aqueles olhos, com aqueles cabelos que pertenciam ao homem que eu tanto amava. Lágrimas voltaram a dominar meu rosto, mas dessa vez de felicidade, enquanto ele me sorria de lado, escorado em seu velho Opala vermelho, que foi plateia diversas vezes de nossas demonstrações de amor. Levei a mão até a boca, aproveitando para limpar o rosto e corri até ele, largando meu casaco preto no chão. Pulei em seu colo, entrelaçando minhas pernas ao redor de sua cintura, sentindo seus braços apertarem fortemente a minha, tanto para me segurar como de saudade. Nenhuma palavra foi dita, apenas olhamos profundamente nos olhos um do outro e nos entregamos àquele beijo onde era descontada a saudade e o desejo, reprimidos por muito tempo e principalmente a nossa paixão, o nosso amor.
— Meu Deus, senti tanto sua falta — falei ao seu ouvido. — E agora aqui, frente a frente com você, percebo que ela era ainda maior do que eu pensava.
— Eu também senti a sua, não houve um dia, uma hora, um minuto ou até mesmo um segundo que não pensei em você. Ver sua imagem na minha frente, sua foto na minha carteira ou na minha cabeceira foi o que me deu forças para lutar e o que me impediu de desistir — ele me colocou no chão e segurou com as duas mãos meu rosto, grudando nossas testas e roçando nossos narizes. — Eu te amo.
— Eu te amo mais, muito mais, mais do que posso dizer, entender — declarei.
— Não mais que eu, minha garota — ele sorriu contra meus lábios. — Vamos embora daqui, — sussurrou com seus lábios perigosamente perto de minhas orelhas. — Eu vim buscar você e te levar para bem longe daqui, onde poderemos recomeçar, então finalmente seremos apenas você e eu, como tanto sonhávamos.
— Eu vou sim, para onde você quiser — me empolguei, entrelaçando meus braços em seu pescoço, sentindo-o fazer círculos irregulares em meus quadris. — Não tenho mais nada que me impeça, só que me dê ainda mais coragem.
Demos um beijo de esquimó e nos desfizemos daquele abraço, apenas para entrelaçarmos nossas mãos. Estávamos tão desesperados que corremos prédio adentro, parando somente para alguns beijos roubados, até chegarmos ao meu apartamento. Destranquei com dificuldades, não foi nada fácil realizar essa tarefa com os lábios carnudos de deixando trilhas pela minha nuca e pescoço. Quando alcançamos meu quarto, ele me ajudou a guardar todas as coisas que eu queria em algumas malas, entre beijos, amassos, abraços e provocações, que eram na verdade o pacote completo. Mesmo sem terminarmos, fui empurrada sobre a cama e senti seu corpo sobre o meu, me beijando e suas mãos tentando me despir. Não vi problemas, fiz o mesmo e em pouco tempo não nos restava uma peça de roupa sequer. Estávamos corpo a corpo, nos entregando mais uma vez, fazíamos amor de um jeito que jamais fizemos antes, era corpo, alma, coração e nada nem ninguém para impedir a nossa felicidade.
//////
Eu nunca sorri assim antes. Nunca me senti tão livre como me sentia agora. Nunca me senti tão feliz, realizada e principalmente amada, dessa vez sem culpa, sem medo. Meus braços estavam abertos e eu sentia o vento bagunçar meus cabelos. New York seria apenas o começo. me disse, por ter vivido lá por quase três anos, que era a cidade onde os sonhos se realizavam e era exatamente para isso que caminhávamos, a realização de nossos sonhos. Aquela sensação de alívio tomava conta de mim, ciente de que finalmente eu poderia ser feliz sem preocupações. e eu havíamos conseguido superar todas as barreiras, os anos à distância, nosso amor sobreviveu a todos os empecilhos e ao invés de se enfraquecer, ele se fortaleceu, tornou-se invencível.
Senti seus braços enlaçarem minha cintura por trás e um pequeno beijo ser depositado em meu pescoço. Estávamos em uma balsa, a caminho de New York, onde recomeçaríamos juntos. me virou para ele e abri meus olhos para poder observar seu rosto, com uma expressão tão feliz quanto a minha, um sorriso tão largo quanto o meu. Ele me levantou e me sentou nas grades, de frente para ele, se encaixando entre minhas pernas, agarrando com força a minha cintura e me beijando profunda e inteiramente. Quando o ar faltou, ficamos apenas nos observando de perto com aqueles típicos sorrisinhos apaixonados, que há muito tempo eu achava completamente idiota.
— Finalmente acabou, — ele quebrou o silêncio, emocionado. — O ciclo ruim acabou.
— Pronto para viver o novo ciclo? — perguntei já tendo a certeza de sua resposta.
— Principalmente para torná-lo maravilhoso ao seu lado, com você.
— Eu te amo.
— Preciso inventar uma nova palavra para classificar o que sinto por você, amor não é suficiente — ele pensava. — Mas enquanto isso eu vou demonstrar em cada gesto, cada beijo, em todas as vezes que fizermos amor, quando eu olhar nos seus olhos e principalmente te fazendo a mulher mais feliz do mundo.
— Acho que nenhuma palavra será suficiente para descrever o que sentimos , é mais que amor, é forte demais. Mas existe isso entre nós, entende? Isso que eu não sei o que é, mas que basta para que possamos entender muito bem.
— Para sempre, ? — ele perguntou, se referindo a nós, aos nossos sentimentos.
— Para sempre, — então selamos aquele momento com um beijo com toda paixão e fervor que ele pedia.
Assisti quase afogada em lágrimas o caixão onde continha o corpo de meu pai ser abaixado com cuidado até se encontrar completamente dentro da cova cavada na terra, em seguida as coras de flores que ele recebera. O homem que segurava um par para enterrá-lo perguntou se eu queria jogar o primeiro punhado de terra e eu assenti, pegando com minhas próprias mãos uma boa quantidade de terra e soltando sobre seu caixão, em seguida várias remeças de terra foram jogadas até que o tampassem completamente. Em seguida colocaram por cima um memorial de mármore com seu nome completo, uma mensagem que eu mesma havia escolhido, sua data de nascimento e falecimento.
Logo depois, todos seguiram em direção a uma capelinha onde seria realizada uma pequena missa e um discurso meu em homenagem a meu pai. Todos se acomodaram nos banquinhos de madeira, ouvindo atentamente o padre proferir suas palavras. Após alguns minutos, fui chamada para subir ao altar e me posicionei no meio, com um pequeno papel com palavras que eu pretendia dizer em mãos. Fiquei um longo tempo dividindo olhares entre o pedaço de papel e os presentes, que aguardavam pacientemente que eu decidisse ler. Amassei o que continha em mãos, suspirei fundo fechando os olhos demoradamente e comecei a falar:
— Bom, o que dizer sobre meu pai? — perguntei, sorrindo ao ver sua imagem em minha mente. — Vou começar dizendo que ele foi um homem que amou uma mulher tão intensamente que superou a dificuldade de perdê-la para fazer o fruto desse amor feliz. E gostaria de dizer também que tenho muito orgulho de ser fruto do amor de duas pessoas que eram tão apaixonadas uma pela outra, tenho muito orgulho de ser filha de Russel , um amigo, irmão, mãe e pai. Não vou me lembrar, nem agora e nem nunca, do homem que ele se tornou, pois ele jamais vai definir o que ele realmente era, mas sim do homem ele foi, porque esse sim era o homem que o representaria. Gostaria que todos também fizessem como eu, porque ele foi uma pessoa maravilhosa, fez de tudo, lutou com unhas e dentes para me criar sozinha. E por último eu gostaria de dizer que o amo muito — terminei meu discurso afogada em lágrimas, mas ainda sim com um leve sorriso no rosto, satisfeita com minhas palavras, ciente de que apesar de tudo meu pai foi um homem feliz.
Depois, todos começaram a deixar a capela, seguindo suas vidas, já que, após me despedir de todos, me dirigi até o túmulo de meu pai, agachando-me diante dele e tocando os dizeres de sua lápide. Novamente meus olhos se inundaram de lágrimas e meu choro saía trêmulo, não é nada fácil lidar com o fato de que você nunca mais verá essa pessoa na sua frente, de verdade, apenas em fotografias e memórias. Talvez, fosse o que realmente mais machucava, porque fechar os olhos é normal, não abri-los e não acordar nunca mais é outra.
— Você se tornou um pai horrível — comecei, sabendo que ele me escutava. — Mas não te culpo. Sei como foi difícil para você perder a mamãe. Embora fosse pequena, conseguia perceber que se amavam, era tão bonito, lembro-me de todas as noites quando eu me ajoelhava para fazer a minha oração eu pedia que eu pudesse ter um amor tão puro e verdadeiro quanto o de vocês dois com aquele brilho nos olhos. Depois que a mamãe morreu consegui perceber o quanto doeu em você, doeu em mim também, mas você foi forte por mim durante tanto tempo, o tempo que precisei e eu entendo que você estava cansado, era tão perceptível a falta que ela te fazia e o quão difícil era olhar pra mim e ver a semelhança entre nós, no entanto você o fazia com muita bravura — falar ficava cada vez mais difícil. — Só mais uma coisa, quando você me pediu perdão no hospital por ter se entregado à dor e ter me feito sofrer e eu não respondi, quero que saiba que eu sempre te perdoei — levantei-me devagar, limpando as lágrimas enquanto meu choro cessava aos poucos.
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Eu caminhava lentamente pelas ruas da Carolina do Norte a caminho de casa, Sue e Santana haviam me oferecido carona, mas recusei, precisava andar um pouco ao ar livre, sozinha, apenas eu e meus pensamentos. Afinal, eu tinha muito que pensar. O que eu faria agora? Continuaria trabalhando na mesma lanchonete e morando naquele mesmo apartamento o resto da vida? Eu ainda continuava esperando por , com a esperança de que deixaríamos aquele lugar e recomeçaríamos nossa vida, juntos, em outro lugar, mas já fazia um ano desde que ele partira, não tinha como não temer que algo tivesse acontecido.
Depois de muito perambular pelas ruas afora, resolvi que era hora de voltar para casa, mesmo que ficar só me fizesse lembrar de coisas ruins que eu queria esquecer e coisas boas que eu não sabia se poderia ter novamente. O sol tinha dado as caras e meu casaco se encontrava agora em um de meus braços, enquanto eu sentia a brisa fresca do ar bater contra minha pele. Chegando ao prédio onde eu morava, consegui, mesmo de longe, avistar um carro que eu conhecia muito bem. Meu coração acelerou quando me aproximei mais e fiquei frente a frente com aquela boca, com aqueles olhos, com aqueles cabelos que pertenciam ao homem que eu tanto amava. Lágrimas voltaram a dominar meu rosto, mas dessa vez de felicidade, enquanto ele me sorria de lado, escorado em seu velho Opala vermelho, que foi plateia diversas vezes de nossas demonstrações de amor. Levei a mão até a boca, aproveitando para limpar o rosto e corri até ele, largando meu casaco preto no chão. Pulei em seu colo, entrelaçando minhas pernas ao redor de sua cintura, sentindo seus braços apertarem fortemente a minha, tanto para me segurar como de saudade. Nenhuma palavra foi dita, apenas olhamos profundamente nos olhos um do outro e nos entregamos àquele beijo onde era descontada a saudade e o desejo, reprimidos por muito tempo e principalmente a nossa paixão, o nosso amor.
— Meu Deus, senti tanto sua falta — falei ao seu ouvido. — E agora aqui, frente a frente com você, percebo que ela era ainda maior do que eu pensava.
— Eu também senti a sua, não houve um dia, uma hora, um minuto ou até mesmo um segundo que não pensei em você. Ver sua imagem na minha frente, sua foto na minha carteira ou na minha cabeceira foi o que me deu forças para lutar e o que me impediu de desistir — ele me colocou no chão e segurou com as duas mãos meu rosto, grudando nossas testas e roçando nossos narizes. — Eu te amo.
— Eu te amo mais, muito mais, mais do que posso dizer, entender — declarei.
— Não mais que eu, minha garota — ele sorriu contra meus lábios. — Vamos embora daqui, — sussurrou com seus lábios perigosamente perto de minhas orelhas. — Eu vim buscar você e te levar para bem longe daqui, onde poderemos recomeçar, então finalmente seremos apenas você e eu, como tanto sonhávamos.
— Eu vou sim, para onde você quiser — me empolguei, entrelaçando meus braços em seu pescoço, sentindo-o fazer círculos irregulares em meus quadris. — Não tenho mais nada que me impeça, só que me dê ainda mais coragem.
Demos um beijo de esquimó e nos desfizemos daquele abraço, apenas para entrelaçarmos nossas mãos. Estávamos tão desesperados que corremos prédio adentro, parando somente para alguns beijos roubados, até chegarmos ao meu apartamento. Destranquei com dificuldades, não foi nada fácil realizar essa tarefa com os lábios carnudos de deixando trilhas pela minha nuca e pescoço. Quando alcançamos meu quarto, ele me ajudou a guardar todas as coisas que eu queria em algumas malas, entre beijos, amassos, abraços e provocações, que eram na verdade o pacote completo. Mesmo sem terminarmos, fui empurrada sobre a cama e senti seu corpo sobre o meu, me beijando e suas mãos tentando me despir. Não vi problemas, fiz o mesmo e em pouco tempo não nos restava uma peça de roupa sequer. Estávamos corpo a corpo, nos entregando mais uma vez, fazíamos amor de um jeito que jamais fizemos antes, era corpo, alma, coração e nada nem ninguém para impedir a nossa felicidade.
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Eu nunca sorri assim antes. Nunca me senti tão livre como me sentia agora. Nunca me senti tão feliz, realizada e principalmente amada, dessa vez sem culpa, sem medo. Meus braços estavam abertos e eu sentia o vento bagunçar meus cabelos. New York seria apenas o começo. me disse, por ter vivido lá por quase três anos, que era a cidade onde os sonhos se realizavam e era exatamente para isso que caminhávamos, a realização de nossos sonhos. Aquela sensação de alívio tomava conta de mim, ciente de que finalmente eu poderia ser feliz sem preocupações. e eu havíamos conseguido superar todas as barreiras, os anos à distância, nosso amor sobreviveu a todos os empecilhos e ao invés de se enfraquecer, ele se fortaleceu, tornou-se invencível.
Senti seus braços enlaçarem minha cintura por trás e um pequeno beijo ser depositado em meu pescoço. Estávamos em uma balsa, a caminho de New York, onde recomeçaríamos juntos. me virou para ele e abri meus olhos para poder observar seu rosto, com uma expressão tão feliz quanto a minha, um sorriso tão largo quanto o meu. Ele me levantou e me sentou nas grades, de frente para ele, se encaixando entre minhas pernas, agarrando com força a minha cintura e me beijando profunda e inteiramente. Quando o ar faltou, ficamos apenas nos observando de perto com aqueles típicos sorrisinhos apaixonados, que há muito tempo eu achava completamente idiota.
— Finalmente acabou, — ele quebrou o silêncio, emocionado. — O ciclo ruim acabou.
— Pronto para viver o novo ciclo? — perguntei já tendo a certeza de sua resposta.
— Principalmente para torná-lo maravilhoso ao seu lado, com você.
— Eu te amo.
— Preciso inventar uma nova palavra para classificar o que sinto por você, amor não é suficiente — ele pensava. — Mas enquanto isso eu vou demonstrar em cada gesto, cada beijo, em todas as vezes que fizermos amor, quando eu olhar nos seus olhos e principalmente te fazendo a mulher mais feliz do mundo.
— Acho que nenhuma palavra será suficiente para descrever o que sentimos , é mais que amor, é forte demais. Mas existe isso entre nós, entende? Isso que eu não sei o que é, mas que basta para que possamos entender muito bem.
— Para sempre, ? — ele perguntou, se referindo a nós, aos nossos sentimentos.
— Para sempre, — então selamos aquele momento com um beijo com toda paixão e fervor que ele pedia.
FIM
Nota da autora: Então é isso! Não ficou exatamente do jeito que eu queria, mas eu gostei, tanto de escrever, quanto da fic e principalmente da experiência de participar de um desafio assim. A letra da música não me deu muitos fatos, portanto eu precisei inventar uma trama para ela, quer dizer, quando eu li a letra e ouvi a música, essa ideia veio para mim e apenas a desenvolvi. O objetivo foi mostrar a trajetória dos dois mesmo, o impacto que um tinha na vida do outro e acho que consegui alcançá-lo. Também exagerei no açúcar e no drama, mas gostei, adoro muito abusar disso, HAHAH! Muito obrigada se leu minha fic e, se puder, deixe um comentário para me fazer feliz (carinha sorrindo). Enfim, beijos e até a próxima!
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