Capítulo Único
Eu não tenho um supercarro como o Batman
Ser um herói muito legal é minha fantasia
Mas a única coisa que posso te dar é Anpan
Eu tenho sonhado em ser um herói como o Superman
Eu pulei o mais alto que pude
Eu não tenho medo de arranhar o meu joelho
Essas são ilusões da minha inocente infância
era facilmente a criança mais irritante do bairro. Com um sorriso sempre aberto demais, disponível demais, era o encanto de todas as senhorinhas da região. Inclusive a minha mãe, foi por isso que ela insistiu com a mãe de para que eu o ajudasse nas matérias escolares que tinha dificuldade. Sendo um ano mais velho, eu não via muito problema. Até porque havia aquele desejo incessante de ser o orgulho da mamãe que era maior do que minha falta de paciência com o garoto. Aos nove anos eu já tinha a personalidade fechada e reclamona, que seria a principal marca de todo o meu ser, e acabei sendo obrigado a conviver diariamente com uma pessoa exatamente ao contrário a mim.
Só depois de alguns anos eu fui entender (mais ou menos) o que minha mãe e as outras senhoras do bairro viam em .
O garoto brilhava. Não porque era inteligente demais ou muito bom em algo, ele apenas emanava alguma coisa diferente. Espirituosidade, inocência, força... Não dava para saber ao certo, e até hoje tenho dúvidas de como alguém pode se destacar tanto. Acontece que, quando percebi, já estava fundo nos encantos do garoto tão pequeno e magro que poderia ser levado por uma ventania qualquer.
Minha primeira memória marcante com aconteceu em uma tarde de verão dos meus onze anos, enquanto voltávamos do parquinho da vizinhança. Ele andava cantarolando na minha frente, enquanto eu observava cuidadosamente o menino a poucos passos atrás. Minha mãe havia instruído para cuidar dele e levá-lo para casa em segurança, então eu gostava de deixá-lo andar sob os meus olhos, sempre confiante de que capturaria toda e qualquer ameaça e correria para fazer algo e salvar o dia. Talvez assim, conseguiria ganhar uma torta inteira de maçã.
Era assim que crianças pensavam, afinal.
Entretanto, no meio do caminho, quando passávamos perto de um pequeno riacho que cortava o bairro, um barulho nos chamou a atenção. Um piado desesperado e o barulho fraco de algo se debatendo na água. Claramente sem pensar, correu até a margem do rio, obrigando-me a ir atrás. Um canarinho parecia se afogar na metade das águas límpidas que, para garotos tão jovens, parecia ser mais funda e perigosa do que realmente é. E antes que eu pudesse pensar em alguma forma de ajudar o pobre pássaro, ouvi o barulho de outro corpo encontrando a água.
– Yah! KIM TAEHYUNG! – Eu gritei, exasperado, com a imagem de um ser tão miúdo tentando salvar outro.
Como ele era baixinho, a água batia quase em seu pescoço, e seu corpo muito fraco teve dificuldades em se locomover pelo riacho.
– Calma, hyung! – Ele gritou quando finalmente alcançou o canário. – Eu vou conseguir salvá-lo!
A convicção de sua voz me fez confiar no garoto, que, com algum esforço, conseguiu retornar à margem sem acidentes. Ajudei-o a sair do riacho, estava encharcado e com um sorriso satisfeito no rosto, enquanto segurava o passarinho em suas mãos tão pequenas. O bicho respirava com dificuldade, e ele pareceu notar logo, pois sua expressão se fechou e seus olhos saíram da alegria para o desespero rapidamente.
– Hyung! Ele ‘tá respirando com dificuldade, temos que levá-lo no médico! – Ele me olhou com aqueles olhos grandes e expressivos e senti uma vontade imensa de socá-lo por ser tão convincente.
– É para o veterinário, idiota! – Resmunguei, enquanto me colocava a andar. – Vamos logo até a clínica da Senhora Choi.
Eu disse e apenas ouvi um miado concordando antes que ele pudesse andar ao meu lado. O passarinho em suas mãos tremia, como o próprio garoto. A rajada de vento que passou por ali também não ajudou muito. Morávamos em uma região periférica da cidade de Daegu. E, apesar da tranquilidade, a proximidade com a área verde deixava o clima do lugar um pouco mais frio, mesmo no verão.
Andamos durante dez minutos até alcançar a grande fachada repleta de desenhos de cachorros e gatos. Abri a porta e logo entrou desesperado, as roupas ainda encharcadas e o cabelo pingando. Quando percebi o estado do garoto, apavorei-me pensando no que sua mãe ia pensar.
– Senhora Choi! – Ele gritou, e uma mulher alta e bonita apareceu por trás do balcão que ainda não alcançávamos.
– Meninos! O que fazem aqui? ! Está encharcado! – Ela disse enquanto se aproximava.
Logo, abriu as mãos e estendeu o canarinho que ainda respirava devagar e esforçado.
– Ele caiu no rio! Eu peguei ele, e o hyung disse para trazer aqui. – O menino disse, lágrimas nos cantos dos olhos.
A moça sorriu tão largo que parecíamos ter salvado o mundo. Carinhosamente, ela pegou o bichinho com uma das mãos. Com a outra, acariciou nossos cabelos.
– Obrigada, meninos. Vocês fizeram um ato heroico hoje, pode deixar que cuidarei bem dele. – Ela disse, erguendo o corpo. – Agora, vão para casa, precisa trocar essas roupas.
Assentimos e eu puxei pela mão para fora da clínica. Como a criança reclamona que era, antes de levá-lo de volta, fiz questão de dá-lo um tapa na cabeça antes de tentar secá-lo com a barra da minha camisa velha.
– Yah, ! É muito irresponsável entrar na água assim, você pode pegar um resfriado! – Resmunguei, enquanto balançava os cabelos do menino como se estivesse ajudando um cão a secar-se.
– Hyung! Senhora Choi disse que fomos heróis hoje! – O conhecido brilho dos olhos dele reacendeu, iluminando toda sua face. Aquela expressão sempre significava dor de cabeça para mim, mas era impossível não gostar de como transbordava alegria. – É isso que eu quero ser quando crescer! Um super-herói! Acha que consigo, hyung?
Suspirei, pensando um pouco. Tínhamos tão pouca idade, e então eu me permitia acreditar que super-heróis eram possíveis. No fundo, eu sabia que qualquer coisa que eu dissesse poderia refletir para sempre na vida do garoto. Mas quem era eu para dizer sobre o que era ou não capaz de fazer? Talvez estivesse alimentando sonhos longes demais para a realidade de duas crianças da periferia, mas não custava. Eu mesmo, mais tarde, teria sonhos ainda mais impossíveis. Então eu sorri.
– Acho.
Naquele dia, eu dei o primeiro empurrão na carreira de super-herói do meu melhor amigo. Sem saber, também testemunhei a primeira vez que salvaria uma vida. Ainda que eu fosse pequeno e ingênuo, tive a impressão de em algum momento eu também seria vítima da mania de herói daquele rapaz.
Definitivamente não estava errado.
As coisas começaram a mudar drasticamente quando eu completei dezesseis anos. Ainda era o garoto mal-humorado e quieto de sempre, mas me orgulhava de ter uma mente aberta e sonhadora, quase como a de . Naquela época, estava obcecado em aprender mais sobre música. As paredes do meu quarto eram decoradas com os meus cantores favoritos. No canto do quarto, um teclado e um violão descansavam. Nas últimas férias, juntei dinheiro para comprar uma aparelhagem de mixagem de som, que eu só não tinha adquirido porque meu pai era violentamente contra a minha afeição pela música. Tinha medo do que ele poderia fazer com as coisas que custaram tanto do meu suor.
Enquanto eu sonhava em me tornar um produtor musical de sucesso, ainda queria descobrir um jeito de ser super-herói, mesmo sem superpoder nenhum. Discutíamos exatamente isso naquela noite, trancados no meu quarto. Ele sempre dormia na minha casa nas noites de sexta, e passávamos a madrugada jogando videogame. Diversão no qual era um lixo e inevitavelmente perdia para o mais novo.
– Eu não sei por que você tem tantos games, é horrível em todos! – Tae comentou, enquanto me vencia em mais uma partida de Mario Kart.
Suspirei, irritado, antes de jogar a manete em qualquer canto.
– Pelo que eu me lembro, você não veio aqui para esfregar na minha cara que sou ruim. – Minha voz soava entediada, enquanto me deitava no chão. – Estava falando sobre ser policial...
– Sim, hyung! Pensei ser uma carreira legal para um super-herói, o que acha?
– Você tem um coração mole demais para isso. Além do mais, precisaria ficar forte. – Comentei, puxando um de seus braços finos.
Ele fez uma careta.
– Pelo menos sou maior do que você! – Retrucou antes de bagunçar os meus cabelos como eu fazia com ele quando éramos crianças.
Aos quinze anos, já era mais alto do que eu e amava me irritar por isso. Estava crescendo tão bem e belo que já ganhou um fã-clube na escola. Além disso, sua personalidade sempre brilhante e extrovertida era atrativa a todas as pessoas.
Eu era exatamente o contrário daquilo. Mas parei de me intimidar quando percebi que me colocava em um pedestal.
– Aish! Idiota! – Respondi sua travessura com um tapa na mão, enquanto erguia meu corpo novamente. Dessa vez, coloquei minhas expressões mais sérias para funcionar. Aparentemente, aquele era um assunto que o incomodava muito. Queria ajudá-lo. – Existem muitas coisas que você pode fazer sem ser algo que exige mais do que você pode.
– Eu sei hyung... Apenas... Queria saber no que sou bom. Você é um gênio da música e já sabe o que vai fazer pelo resto da vida...
– Queria que estivesse certo. – Sussurrei em um suspiro e ele sorriu para mim. Confiante, como se soubesse de todo o meu futuro. – Você é bom em salvar pessoas, Tae. Seja como for. Existem muitas coisas para fazer nesse mundo, e sei que encontrará algo que vai fazer de você um herói.
– Porque está sendo tão gentil comigo, hyung? Seu refrigerante está estragado? – Era impossível não revirar os olhos para a mania irritante de de desviar assuntos importantes.
– Cala a boca! Vamos jogar mais uma partida, já que é a única coisa boa que você parece saber fazer! – Resmunguei pela décima vez naquela noite sob as risadas ensurdecedoras de .
Entretanto, nós nunca iniciamos uma nova partida.
Ouvi barulhos estridentes de coisas sendo jogadas no chão, gritos, palavrões. As brigas dos meus pais eram comuns, e eu pensei que estava acostumado àquilo. Mas eu jamais conseguiria descansar se não fosse me averiguar de que tudo não passava de uma discussão.
Não. Meu pai não era o tipo de homem que agredia fisicamente alguém. Já psicologicamente... Era o inferno.
Sem pensar muito, eu corri para a sala. levantando-se logo atrás de mim apenas para se deparar com uma das piores cenas da minha vida. Minha mãe ajoelhada no chão aos prantos, todos os vasos da casa espatifados no chão, enquanto meu pai se dirigia à porta com uma mala enorme nas mãos. Ele estava indo embora, e eu não sabia como poderia me sentir em relação àquilo.
Antes de atravessar a porta, ele me deu uma última olhada e se virou, andando para a escuridão.
– Mãe! – Gritei, indo até ela e ajoelhando-me no chão. – Mantenha a calma, por favor!
– O que eu vou fazer, ? Como vou criar você sozinha?! – Era a única coisa que ela repetia.
Eu a abracei, forte, com toda a força que um garoto magrelo de dezesseis anos podia ter. Respirando fundo para não chorar junto da mulher que me deu à luz.
Eu não prestei muita atenção no resto a minha volta. Mas sei que aquele dia algo doloroso se despertou em . Ele ficou parado durante minutos, em silêncio absoluto, enquanto assistia de camarote a minha família desmoronar. E não sabia o que fazer. Talvez, era a primeira vez que ele se sentiu verdadeiramente impotente frente às pessoas com quem tanto se importava. Consigo enxergar melhor hoje o impacto daquilo na vida do meu melhor amigo.
Os dias que se seguiram foram silenciosos e torturantes. Eu não ousava falar, e nem ele queria perguntar. Até que, passados dois meses, as coisas foram chegando a algum lugar.
Não disse que era um bom lugar.
– Ela vai trabalhar até mais tarde hoje também. – Eu disse para em um suspiro.
Desde que meu pai abandonou nossa casa, minha mãe trabalhava dobrado para nos sustentar. Era gerente de uma loja de departamentos durante o dia e atendente em um restaurante de luxo durante a noite. Chegava em casa de madrugada, dormia poucas horas, fazia o nosso café e saia para o trabalho de novo. Ganhava o suficiente para as despesas essenciais, mas apenas isso.
– Teremos a casa somente para nós, o que quer fazer? – Tentei descontrair com um sorriso forçado, mas nos conhecíamos há tempo demais para comprar aquela fachada.
– Vamos maratonar alguma temporada de Friends. – Respondeu, dando de ombros, e eu assenti, indo até o meu quarto para pegar a coleção de DVDs que tinha ganhado dele de aniversário.
Preparei pipoca e refrigerante como em um ritual. Desesperadamente, queria que algumas coisas jamais mudassem. E a minha amizade com era uma delas. Porém, ele estava estranho, como se sentisse mais do que a ida do meu pai. Voltando para a sala, organizei tudo para que pudéssemos ter mais uma de nossas noites de sexta. Mas o silêncio de já beirava o insuportável.
– O que está acontecendo com você, ? – Eu soltei friamente assim que voltei ao sofá.
– Nada, hyung. Por que está perguntando?
– Não fale como se eu não te conhecesse. – Suspirei, contrariado e irritado. – Você está quieto e triste desde... Desde quando meu pai foi embora.
Silêncio novamente, e eu quase tive certeza que o socaria ali mesmo.
– Eu não posso me sentir triste pelo meu melhor amigo? – Ele questionou, virando o rosto.
Estalei a língua e suspirei logo depois, completamente irritado.
– Está tudo bem, ! – Disse dois tons mais alto do que o necessário, o garoto se assustou, olhando-me com aqueles olhos esbugalhados e marejados.
As únicas vezes que vi chorar aconteceram quando éramos pequenos e ele se machucava em qualquer brincadeira estúpida em que se envolvesse.
– Não está hyung... – Ele sussurrou, tentando ainda controlar o choro. – Eu queria ter feito algo por você. Eu queria salvar você, te ajudar a voltar a como era antes, compondo músicas bonitas, chamando-me de idiota, assustando os garotos mais velhos com essa cara de tédio, sendo inteligente e legal... Queria o meu hyung de volta... Queria ser um super-herói... Mas não sei como!
Até aquele momento, eu não tinha derramado uma lágrima por toda a situação horrível em que me encontrava. Apenas me afundava no quarto, escrevia letras horríveis e melancólicas e me distraia com quando ele aparecia. Minhas notas também estavam caindo, e se eu já não era a pessoa mais sociável do mundo, agora estava mil vezes pior.
Reparando no silêncio e na mudança de , eu não reparei nos meus próprios erros. No quanto eu me entregava para um mar de merda e desesperança. De repente, o esforço da minha mãe para trabalhar tanto, mas sem nunca deixar de ter certeza que eu estava bem, fazia sentido. Post-its no café da manhã, ligações em todos os intervalos dela. A irritante presença silenciosa do meu melhor amigo, que parecia se certificar que eu estava bem a todo momento, apenas estando ali.
– Idiota... – Murmurei, enquanto deixava as primeiras lágrimas caírem.
Tae se assustou e eu funguei, tentando sorrir, e falhando miseravelmente.
Nenhuma palavra saiu da minha boca, e eu só consegui chorar como uma criança. Talvez, até quando era mais novo não chorava assim. Entreguei-me ao sentimento de perda e raiva que me consumiam há tanto tempo, devagar e rasteiro, porém devastador. pareceu entender meu silêncio e se aproximou para me abraçar. Com alguns tapinhas nas costas, eu fui consolado pelo meu melhor amigo, que chorava quase tanto quanto eu. Um par de bebês chorões, patéticos. Mas que precisavam extravasar o mínimo daquela imensidão de sentimentos perturbadores para pessoas tão jovens. A vida só estava começando, e eu odiava tudo e todos.
– Você ainda não sabe, Tae. – Consegui dizer quando paramos de chorar. – Mas você tem me salvado de mim mesmo desde sempre. Obrigado.
Disse com toda sinceridade inerente a mim. Disse porque aquilo resumia a nossa amizade. Todas as vezes que eu me afundava, estava ali para estender sua mão e me tirar do meio da areia movediça que sempre insistia em me puxar para dentro. E ele não desistiria até que eu estivesse completamente fora dela.
Foi difícil, mas no final ele conseguiu.
– Eu quero ir para Seul estudar música. – Confessei na última noite de sexta, antes da primavera dos meus dezoito anos e do meu último ano de colégio. olhou para mim, assustado, jogando a manete do meu velho videogame longe. – Yah! Cuidado!
– ISSO É FANTÁSTICO, HYUNG! – Ele se levantou, exasperado, correndo pelo quarto como a enorme criança que era.
Eu ri, parecia mais entusiasmado do que eu, e provavelmente estava.
– Senta aí e para com isso! – Disse, puxando a barra de sua camisa para baixo, ele caiu exageradamente ao meu lado. – Eu disse que quero, não que vou.
– Mas, se você quer, o que vai te impedir? – Ele questionou em toda sua inocência.
ainda parecia uma criança em um corpo de adulto.
– Dinheiro. Vou arrumar um emprego este ano, mas provavelmente não vai dar muito... Ainda estou pensando, talvez fique um ano ou dois por aqui antes de ir...
– Não! – Ele me interrompeu. Dessa vez, a expressão de puro terror dominava seu rosto. – Você tem que ir assim que se formar, não pode perder tempo, hyung!
– É fácil falar... Mas não se preocupe tanto com isso, se eu me atrasar um ano, entraremos juntos na faculdade.
– Não interessa. Você tem que ir antes. Até porque eu não sei o que tem para mim em Seul, vai ter que me dizer quando chegar lá. Ainda não decidi o que quero ser...
– Você pode ser qualquer coisa, relaxa. – sorriu brilhante naquela noite.
Não passou muito tempo e eu consegui um emprego de meio período na loja de instrumentos musicais do bairro. Para melhorar, o dono deixava que eu tocasse algumas coisas. Dizia que eu tinha talento nato para a música e uma paixão que ele não via há muitos anos. O lugar se tornou meu santuário, e eu passava mais tempo entre baixos, guitarras, teclados e baterias do que na minha própria casa. Costumava levar meu próprio violão para tocar na porta quando a clientela estava baixa, rendia-me alguns elogios e um boost de autoestima.
As coisas estavam indo bem, se não fosse o sumiço de da minha rotina. Claro que eu sabia que não nos veríamos tanto, apenas nos intervalos da escola e nos finais de semana. Mas esperava que ele me visitasse no trabalho, como sempre fazia, perseguindo-me por todos os lugares.
Jamais admiti, mas sentia falta do meu melhor amigo, e somente fui descobrir o motivo de sua ausência durante o Natal daquele ano.
Como sempre, os pais de viajaram para a fazenda de sua avó. Excepcionalmente, meu amigo preferiu passar o feriado na minha casa. Inocente, achei que era uma forma de compensar sua ausência durante o ano. Ledo engano. Minha mãe também havia conseguido uma folga dos dois empregos e passou a tarde cozinhando a ceia. Era o Natal perfeito, como não tinha em muito tempo.
Eu estava feliz, apesar de preocupado. Não era segredo que ainda não tinha dinheiro suficiente para pagar a faculdade. Uma bolsa estava fora de questão, trabalhar e estudar ao mesmo tempo tornava impossível alcançar notas altas. Estava conformado com a minha situação e decidido a passar um Natal agradável depois de dois anos infernais.
Quando caiu a noite, jantamos sob a falação incessante de e as músicas natalinas que a minha mãe insistia em colocar para tocar naquela época. Um pouco depois, quando tudo estava no lugar, reunimo-nos na sala, porque minha mãe insistiu que queria dar algo a nós. Havia uma única caixa de presente na mesa, e eu arqueei a sobrancelha, notando algo errado só de olhar a expressão travessa de .
– Essa ideia foi do Tae, e eu achei fantástica. – Minha mãe disse, pegando o embrulho e estendendo a mim. – Abra, filho.
Cuidadosamente, peguei a caixa e, sentando no sofá, coloquei-a no meu colo para abrir. Lá estava um bolo enorme de dinheiro, junto com folhas de inscrição para diversas faculdades de música em Seul. Somente as melhores. Eu mal podia acreditar naquilo. Não sabia se deveria sentir raiva ou agradecimento.
– O que é isso? – Perguntei baixinho, engolindo o choro. Quando finalmente me senti preparado, ergui o olhar para minha mãe e depois para meu melhor amigo. – O que isso significa?!
– Significa que não precisa esperar para buscar o seu sonho, hyung. Nós trouxemos ele um pouquinho mais perto de você.
– trabalhou o ano todo para te ajudar. No final, fui a que menos contribuiu. – Ouvi minha mãe dizer e olhei, incrédulo, para o idiota do meu melhor amigo.
Em silêncio e com a cabeça baixa, eu me levantei. A ausência durante todo o ano e o cansaço nas poucas vezes que nos encontravam era porque o idiota estava trabalhando por mim. Que maneira imbecil de demonstrar apoio e amor, eu pensei. Mas não escondia o sorriso dos meus lábios e, por um segundo, senti-me brilhante como . Abracei meu melhor amigo fortemente. Apertando o corpo que, agora, não era nem tão pequeno e nem tão magro como antes. Era de um homem formado que eu não vi crescer. O tempo passou e eu me perdi nesses anos.
– Você é mais idiota do que pensei. – Disse baixinho antes de me separar dele. – Obrigado.
apenas sorriu. O sorriso iluminado que poderia devastar países ou curar pestes.
Eu ainda não sabia, mas, se não tivesse tido aquela simples ideia, eu jamais conseguiria chegar onde estou agora. Mesmo sendo mais novo e tão inocente, ele conseguiu salvar a mim e a minha mãe com os menores, mas grandiosos gestos possíveis. Apenas com aquilo que estava ao seu alcance.
– Fiz isso porque queria ver você como um grande produtor quando eu for um herói.
Ele respondeu baixo. E eu sorri ainda mais largo.
– Você já é um herói.
Porque eu tenho tantas coisas que eu amo
Alguém me diz que eu me tornei babaca
Eu não tenho o direito, eu deveria continuar fazendo o que eu sou bom
Mas eu ainda quero ser um herói
Tudo que eu posso te dar é um pão de feijão vermelho
E te dizer que você fez um bom trabalho
Se você me ligar, eu vou voar até aí
Me liga!
Em algum ponto da minha vida, eu me tornei a garota problema que aterrorizava o sonho de todas as mães dos “respeitáveis garotos” da faculdade. Eu não sei dizer quando aconteceu, mas, de repente, eu era o próprio estereótipo das meninas malucas que jamais se apaixonam e vivem para quebrar o coração dos pobres e indefesos rapazes. Como se os homens não fossem milhares de vezes piores.
Confesso que, logo que ingressei no curso de psicologia da Universidade de Namyansang, em Seul, a única coisa que ocupava minha cabeça eram as milhares de possibilidades de ficar bêbada e cometer pequenos delitos no meio de um campus como aquele. Vários jovens recém-saídos de um Ensino Médico massacrante também estavam com o espírito de rebeldia à flor da pele. Então, não me vi sozinha nas confusões que arranjava durante os primeiros anos da faculdade. Na verdade, foi em uma delas que encontrei .
Calças rasgadas, o cabelo castanho pintado com somente uma mecha esverdeada. Sentado no ponto de ônibus perto do campus, no meio da madrugada, sem medo, apenas um olhar vazio em seu rosto. Estava sozinha, tinha apenas a minha mochila e uma garrafa de cerveja na mão enquanto passava por ele. O garoto era lindo demais, do tipo impossível de não encarar e babar por alguns segundos. Mas, sendo um homem, eu sabia que a tendência à babaquice era maior. Então apenas passei direto, sentindo seu olhar queimar em minhas costas, enquanto eu tentava não cambalear, o álcool já atingindo o meu equilíbrio.
Para o meu azar, logo que cruzei o ponto de ônibus, um grupo de garotos que eu conhecia de vista caminhava em minha direção. Eles eram problema. Bem maiores do que eu estava acostumada a envolver-me. Acontece que eu também era idiota o bastante para achar que ficaria tudo bem se eu passasse de cabeça erguida, sem encará-los.
– Ora, vejam só... Se não é a vadia louca da . – Ouvi um deles falar quase em meu ouvido.
Suspirei, trêmula, e dei dois passos para trás, apenas para me chocar com outro corpo. Engoli seco.
– Hey, , eu disse para me esperar. – Não conhecia aquela voz.
Quando olhei para trás, encontrei o sorriso grande e brilhante do rapaz que havia olhado no ponto. Seu olhar era sereno, embora suas mãos estivessem geladas quando encontraram minha cintura, puxando-me para mais perto.
– Desculpe... – Eu sussurrei, incerta com o que aquilo poderia levar.
Ele passou um dos braços pelo meu ombro, e me vi obrigada a entrar na brincadeira sob os olhares curiosos e desconfiados do bando de homens que me cercavam.
– Vish, galera... Ela já está acompanhada. – Um dos homens disse, zombeteiro.
– Deixa isso para lá, cara, daqui a uma semana ela vai estar livre de novo e talvez podemos brincar um pouco... – Outro respondeu, olhando fixamente para . Sabia que ele estava tentando arrancar alguma reação, mas o tal rapaz bonito permaneceu firme em seu sorriso. – Cuidado com essa daí, cara, dizem que não vale nada.
– Pode deixar! – Ele disse, começando a andar para frente.
Seus passos eram rápidos e um pouco tensos. Podia sentir o nervosismo dele, e só quando nos distanciamos o bastante ele me soltou.
– Yah! Isso foi perigoso. – Ele disse como se me conhecesse há anos. – Andar sozinha a essa hora da noite é loucura.
– O que quer dizer com isso? Quer dizer que não tenho direito de andar na rua de noite só porque sou mulher?
Silêncio. E eu reparei em seu rosto. Sem dúvidas, ele era o homem mais bonito que já havia encontrado na vida. Claro, ele jamais saberia disso. Mordeu o lábio levemente, antes de soltar uma gargalhada alta e gostosa.
– De onde tirou isso?! – Ele disse, balançando a cabeça negativamente. Arqueei a sobrancelha, sentindo-me uma idiota. – É perigoso para qualquer um. Claro, reconheço que os homens deste país são ignorantes o bastante para colocarem em perigo ainda maior as mulheres. Quis apenas alertar para não se colocar em uma situação ruim. Não é sempre que um cara bonito como eu vai te salvar. Mas fique à vontade para fazer o que bem entender.
– Você fala muito. – Eu constatei depois de ouvir aquela enorme e desnecessária explicação.
O álcool mexendo ainda mais com meus pensamentos.
– E você é estranha. – Ele colocou a mão na cintura e sorriu de lado antes de estender a mão em minha direção. – .
Olhei para a mão por alguns segundos, ainda em dúvida se devia apertá-la ou não e, assim, criar uma ponte para um relacionamento falso e irrelevante. Mas, no final, senti-me convencida pelo olhar que ele me lançava. Intenso demais.
– . – Respondi sem desviar o olhar do dele. – E o estranho é você, parado em um ponto de ônibus sabendo que nesse horário nenhum passa.
– É uma boa observação. – Ele respondeu, rindo baixo. – Mas acho melhor voltarmos. Também estuda aqui, certo?
Assenti com a cabeça e logo estava me deixando ser guiada pelo lindo desconhecido que insistia em falar um monte de abobrinhas durante o caminho. No final, toda aquela bobagem que ele dizia até que parecia interessante, então relevei, desejando que a caminhada fosse mais longa do que eu sabia que era. Quando me deixou na porta do meu dormitório, disse que o dele não era muito distante, então possivelmente nos veríamos mais vezes, e, com um sorriso, ele se virou e foi embora. Era a primeira vez que um cara não pedia meu telefone ou tentava algo comigo, e aquilo me deixou atônita, uma pontada de orgulho ferido com o encanto em descobrir alguém diferente de toda a podridão que eu conhecia.
Inesperadamente, depois daquele dia eu passei a encontrar em cada canto daquela universidade. Cruzamos nossos caminhos nos intervalos, no almoço e até na biblioteca. Todas as vezes, ele apenas me cumprimentava, mostrava-me seu imenso sorriso e seguia em frente. Meu coração apertando-se imensamente a cada momento que nos encontrávamos, louca de vontade de puxar um assunto, mas o orgulho era maior.
Alguns meses depois, misteriosamente, cruzamo-nos de novo. Estava sentada em uma espécie de parque, lendo um livro qualquer. Daquela forma, sozinha, em paz, eu conseguia me desvencilhar um pouco do espírito rebelde demais que habitava em mim. Apesar de que, desde que conheci , os momentos de irresponsabilidade haviam ficado cada vez menores. O susto anterior ainda me atormentava, se não estivesse ali, provavelmente algo de muito ruim teria acontecido. Por isso, estava dando uma breve pausa nas saídas perigosas do meu dia a dia. Apesar de ficar sozinha a maior parte do tempo agora, sentia-me muito melhor do que antes.
– Hey. – Ouvi a voz que ansiava em escutar há tanto tempo e subi o olhar para procurá-lo.
estava em pé, ao lado do banco em que eu me encontrava, as mãos nos bolsos e o enorme sorriso sempre ali.
– Oi. – Respondi, apenas, e ele se sentou ao meu lado, causando um imenso frenesi no meu estômago. Fechei o livro para encará-lo.
– Hermann Hesse? Uau... – Vi pegar o livro de minhas mãos e analisar a capa cuidadosamente. Um sorriso melancólico brotou timidamente em seus lábios. – Demian... Os incessantes questionamentos de um jovem tão perdido quanto nós. Parece-se com você.
– Pareço alguém com tantos conflitos internos assim? – Respondi, praticamente admitindo que sim.
Sentia uma conexão com Emil Sinclair e sua rebeldia, o poder entre escolher fazer o bem ou o mal. O sentimento latejante por liberdade.
– E quem não tem!? – Ele riu, devolvendo-me o livro, e eu concordei com a cabeça, sorrindo pequeno. Possivelmente, era a primeira vez que eu deixava que aquele cara visse um lado mais tranquilo meu. – Qual é o seu curso?
– Psicologia. – Disse, surpresa com a pergunta, também era a primeira vez que ele puxava algum tipo de assunto desde quando nos conhecemos. – E o seu?
– Direito. – Ele disse, sorrindo. – Mas eu queria mesmo era ser um super-herói.
Eu ri do sorriso doce e até um pouco inocente que ele deu. carregava uma áurea um tanto infantil ao seu redor, mesmo que mantivesse uma postura adulta demais para a idade que aparentava ter. Julgava que não seria tão mais velho do que eu. Mais tarde descobriria que ele tinha apenas um ano a mais.
– Soa como você. Salvando moças não tão indefesas nas madrugadas de Seul. – Eu disse, concordando com a cabeça e sorrindo de volta. – E por que optou por direito, então?
– Pensei que fosse o caminho mais fácil para ajudar as pessoas. Mas hoje eu não tenho tanta certeza disso...
Ouvi um suspiro e mordi o lábio, pensando se deveria ou não dizer todas as coisas que eu queria. Porém, o olhar perdido e desesperado que ele me lançava encorajou-me a seguir em frente.
– Não é a profissão que te faz um herói, é o que você faz com ela. Qualquer um nesse mundo pode se tornar um herói ou um vilão, sabe.
– Uau... E eu pensando que não tinha vocação para psicologia... – Eu protestei com uma leve livrada em seu braço, arrancando risadas mais altas dele. – Será que posso ser sua cobaia?
– Se for corajoso o bastante...
Naquele dia, falou muito. Sobre quase tudo o que se passava em sua cabeça. E, à medida que eu escutava aquele falatório incessante, eu me via cada vez mais interessada no rapaz estranho e belo. Descobri que tinha um melhor amigo chamado , que estudava música em Seul. Contou-me coisas de sua infância com o tal , dizendo que seu amado hyung sempre o salvava e ele nunca conseguiu salvá-lo de fato. Disse o quanto se esforçava para ser um bom filho para seus pais, mas agora não tinha certeza se era o garoto de ouro como antes. Despejou em mim seus medos e inseguranças, confidenciando que estava longe de ser o rapaz que todos pensavam que ele era. “Um garoto que brilhava aos olhos de todos”, ele sempre usava essa frase para descrevê-lo em sua fase infantil.
Eu não tive escolha a não ser prestar atenção em cada palavra e fazer comentários pontuais como uma boa terapeuta. Ao mesmo tempo, eu começava a entender o motivo das pessoas descreverem daquela maneira, alguém radiante, que chamava a atenção mais do que as outras pessoas. Ele realmente era assim, apenas não parecia perceber.
– Obrigado por ouvir minha falação, . – Ele disse depois que percebemos quanto tempo gastamos sentados naquele banco.
Eu sorri e assenti com a cabeça.
– Não tem por que agradecer. Afinal, estou me formando para isso. – Ele riu gostosamente e se levantou, talvez um pouco mais leve do que antes. Eu mordi o lábio, pensando se deveria completar os meus conselhos ou apenas deixar para a próxima sessão. – Hey, eu só queria finalizar com algo... Mesmo os super-heróis, no fim das contas, eles são humanos. Talvez os superpoderes ajudem e mudem algumas coisas, mas eles continuam tendo emoções, personalidades complexas e tudo aquilo que nos tornas, antes de tudo, seres humanos.
– Uau... Você parece mais inteligente agora.
– Eu sou inteligente,
De repente, não era apenas um estranho bonito para mim, mas um amigo próximo. Os meses voaram e o rapaz continuou a procurar meus conselhos, enquanto eu continuei sendo tirada de confusões por ele. Sempre me buscava nas festas da região, bancando o protetor, enquanto andava nas ruas com os braços nos meus ombros. Por outro lado, criei o hábito de deixar a porta do meu dormitório destrancada às quartas, esperando a visita silenciosa do rapaz que ia apenas para falar sobre sua semana ou ficar ao meu lado, assistindo a um filme qualquer.
Não foi difícil me apaixonar por .
E eu estava ciente que me deixava afundar cada dia mais nessa paixão todas as vezes que ligava clamando ajuda para ir para casa depois de uma bebedeira ou pedindo apenas companhia. Acabava que ele fazia mais por mim do que eu por ele. Com o tempo, eu aprendi que , sem querer, tomava as rédeas da situação e guiava as pessoas pelos caminhos mais tranquilos. Ao mesmo tempo que eu me forçava a não deixar o estilo de vida libertino que havia criado, eu já não fazia coisas idiotas nas madrugadas perdidas. Sem muros pichados, sem garrafas estilhaçadas no meio da rua, sem dormir com desconhecidos, sem drogas, sem causar pequenas comoções nas lojas de conveniência. Os meus colegas já me chamavam de “Santa ”, e eu não dava a mínima. Não enquanto, no final da noite, me esperava na esquina com uma bebida quente, pão de feijão vermelho e braços acolhedores demais.
– Você me liga cada vez mais cedo. – Ele comentou, enquanto estendia um copo de café fumegante e o pequeno pacote com o pão antes de passar o braço pelos meus ombros.
Sorri, tomando a primeira golada. Já se havia passado mais de um ano desde o nosso primeiro encontro, e o frio tinha chegado novamente.
– Essas festas estão cada vez mais chatas. – Respondi com desinteresse e um sorriso de lado.
Ele apenas concordou, olhando de lado para mim.
– Pode confessar que eu sou mais interessante do que todas essas pessoas. – Ele brincou e eu senti um pulo no meu coração.
Era a mais pura verdade. Eu ri, balançando a cabeça, preferindo me concentrar no café e no pão de feijão vermelho, que se tornou o meu alimento favorito há algum tempo.
Começamos a andar devagar pelas ruas pouco movimentadas do bairro, enquanto eu terminava o pequeno lanche que ele insistia em trazer. Eu nunca o perguntei por que ele me levava aquelas coisas, mas também não achava nem um pouco ruim.
– Hey, ... – Ele começou, olhando para cima, o céu de inverno estrelado. – Você nunca me contou da sua família.
Engoli seco e parei de andar. Era um assunto um tanto delicado para mim, e mesmo com toda a confiança que eu tinha em , jamais iria me sentir completamente segura contando toda a minha trágica história, ainda mais para alguém que amava. Senti ele me soltar de seu abraço para colocar-se a minha frente, abaixei o rosto, envergonhada, sob o olhar inquisidor e preocupado de . Suas mãos quentes subiram até os meus ombros e os sacudiram levemente.
– O que houve? – perguntou baixinho, como se estivesse dito algo errado ou feito um crime, então eu respirei fundo antes de encará-lo novamente.
– Nada... É só que... É complicado. – Mordi o lábio, enquanto encarava aqueles olhos profundos e assustadoramente amáveis.
Senti meu corpo todo tremer.
– Não precisa falar nada se não quiser, ok? – A sua bondade piorava meu estado e dificultava a repressão absurda de sentimentos à qual estava habituada a lidar. Soltei todo o ar que prendia.
– Eu sou órfã. – A expressão de puro pavor tomou conta do rosto do rapaz. Vi o sangue deixando sua pele, tornando-o tão pálido quanto um doente. Suspirei. – Meu pai saiu de casa antes mesmo que eu completasse um ano, e minha mãe morreu quando eu tinha oito. Acabei sendo criada pela minha tia, que regia um orfanato. Nunca soube se eu era a sua sobrinha ou apenas mais uma órfã... Eu era o pesadelo dela, a garota mais problemática, mas minha tia não desistiu de mim. Quando me formei, ela me contou que minha mãe havia deixado uma herança, mas que nunca me contou porque queria que eu a usasse para pagar a faculdade... Bom, aqui estou eu. Infelizmente, nunca consegui deixar de ser a menina desordeira de sempre, mas decidi que poderia ajudar outras pessoas como eu. Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço, sabe?
– Uau... – Ele estava perplexo, e eu sorri tristemente com a surpresa dele. – ... Eu... Merda... Isso... Isso explica muitas coisas, sabe, porque você quer se especializar em psicologia infantil... Porque tem o sonho de adotar... Porra...
Ele subiu as mãos até o meu rosto, e eu me perdi nos seus olhos, dedicada em entender o que eles demonstravam. Falhei miseravelmente e não percebi o que estava por vir. Quando voltei a realidade, já estava perto demais, sua respiração colada em meu nariz. Fechei os olhos e finalmente senti ele me beijar. Céus. Nem em meus sonhos mais loucos eu poderia sonhar com algo tão incrível. Encaixe perfeito, paixão, amor. estava me beijando como se fosse a última coisa que faria em toda a vida. E eu me agarrei àquilo. Ao sentimento e ao corpo forte que agora me segurava pela cintura, aprofundando mais, deixando que nos perdêssemos completamente um no outro cada vez mais.
– . – Ele disse após se afastar lentamente, suas mãos voltando a segurar meu rosto. – Você é a mulher mais incrível que eu já conheci em toda minha vida.
Eu sorri e passei meus braços em volta do corpo dele, abraçando-o de modo que eu pudesse encostar a cabeça em seu peito. Ele riu baixinho e suspirou em seguida, correspondendo ao abraço e trazendo-me para perto.
– Sabe, eu também não fui completamente honesto com você... – Ele começou, fazendo-me levantar a cabeça para fitá-lo.
Entretanto, aquela frase nunca foi concluída.
– ORA! Se não é a Santa e o seu namoradinho! – Eu reconheci aquela voz de imediato.
Era um dos garotos mais problemáticos com quem costumava andar. Jun. Estava visivelmente bêbado e pronto para estragar a melhor noite da minha vida.
E conseguiu.
– Yah! Jun, o que está fazendo aqui? – Eu perguntei, virando-me, as mãos de ainda coladas em mim, não precisava olhá-lo para saber que estava tenso.
– Por quê? Não posso andar na rua mais? Não sabia que tinham locado a rua para fazer cenas melosas de dramas.
Apenas revirei os olhos e suspirei, pegando a mão de . Queria ir para casa e escutar o que ele tinha a me dizer, para assim nos acertarmos de vez e eu começar a viver o conto de fadas que passei a sonhar desde que o encontrei. No entanto, sabia que era impossível que tudo acabasse bem se apenas largássemos aquele idiota falando sozinho no meio da rua. Foi virar as costas que toda e qualquer esperança que eu tinha de algo bom ir por água abaixo.
– Yah! Você está com tanta pressa assim para comer essa vagabunda? – Jun gritou para , que congelou no lugar com aquelas palavras. As poucas pessoas que passavam ali pararam para olhar a confusão que estava prestes a acontecer. – Pois deixa eu lhe falar, dizem que ela é muito boa. Se puder, me liga assim que acabar com essa vadia. Ainda não tive a minha vez.
Foi rápido demais. Não consegui segurar , e logo ele havia pulado em cima de Jun para acertar-lhe um soco. Eu já havia presenciado muitas brigas na minha vida, mas ver lutar daquele jeito, por minha causa, foi devastador ao ponto que eu não pensei duas vezes em me jogar nele para puxá-lo para fora. Mas era tarde demais e Jun queria revidar. Mais alguns socos foram trocados antes que a polícia chegasse para apartar a confusão e nos levar até a delegacia. Entrei na viatura em silêncio, segurando as mãos feridas de e tentando entender como aquilo tinha acontecido.
Apenas quando chegamos a delegacia que me dei conta do estrago que tinha feito.
Sentamos os três na frente do delegado. Fiquei no meio para prevenir qualquer outro problema e respirei fundo ao notar o rosto de Jun repleto de cortes. parecia intacto perto do garoto, e eu rezei para que nada ficasse pior. Por sorte, sabia que Jun não faria muito, ele já se meteu em encrenca demais e talvez conhecesse aquele lugar mais do que qualquer um.
– Ok, vamos fazer o seguinte. Ninguém acusa ninguém e eu deixo a ficha de vocês limpa. O que acham? – O homem disse em um suspiro, parecia cansado. Esgotado, na verdade. Ninguém falou nada, eu acenei com a cabeça, representando os outros dois rapazes. – Certo. Liguem para alguém vir buscá-los. Não quero vocês andando sozinhos e arrumando confusão. Principalmente você, Jun. É a última vez que te tiro dessa.
– Obrigado, senhor! – Ele sussurrou, contrariado.
A surra talvez tivesse o deixado sóbrio novamente.
Dito aquilo, Jun se levantou com o celular em mãos e um olhar ameaçador em nossa direção. Vi o rapaz ir até um dos bancos de espera e ligar para alguém. Enquanto isso, não percebi, mas mandou uma mensagem para um número que eu desconhecia. E eu respirei fundo sem saber o que fazer. Talvez devesse dizer que nenhum “responsável” iria me buscar...
– hyung vai nos buscar. – disse, segurando minha mão. Eu suspirei, concordando com a cabeça, aterrorizada por conhecer o melhor amigo dele em condições tão ruins. – Não se preocupe, você não teve culpa de nada, .
– Por que deveria acreditar nisso? – Eu sussurrei, olhando para o meu colo.
Ouvi tomar o ar para falar algo, mas foi interrompido pela voz cansada do delegado.
– Hey, mocinha, não precisa se preocupar demais. Pelo que conheço de Jun, com certeza fez ou falou algo ruim o suficiente para irritar seu namorado. – Ele disse com um sorriso ameno. Era a primeira vez que eu não sentia hostilidade por um profissional da polícia. Corporações repletas de homens sempre davam margem para caras machistas exercerem o poder do patriarcado com um reforço maior. – Mas isso não justifica violência, ok, rapaz? Vocês são jovens demais para desperdiçar a energia sentados em uma delegacia.
– Obrigado, senhor. Tem toda a razão, e isso jamais irá se repetir. – disse, sorrindo pequeno pela primeira vez depois do incidente.
– Eu acredito em você, garoto. – O homem respondeu antes de tomar ar e se levantar da cadeira de rodinhas. – Fiquem à vontade e esperem a carona.
Assentimos novamente para o delegado, e ele saiu com um sorriso leve no rosto, antes de soltar reclamações altas sobre o clima, a juventude e como estava exausto. Algo que qualquer velho faria, e eu me permiti soltar uma risada enquanto observava aquele cara.
– Ele é legal. – Eu disse antes de voltar meu olhar para . – Diferente da maioria dos policiais insensatos e violentos que tem por aí.
– Você tem razão... Ele é legal. – Um brilho passou pelos olhos do rapaz ao meu lado, e eu sorri, mordendo o lábio.
Não demorou muito e o famoso entrou ofegante e preocupado na delegacia. O rapaz era quase tão bonito quanto . Vestia calças de moletom, possivelmente seus pijamas, e uma camiseta de uma banda qualquer. A típica aparência de quem não teve tempo de se vestir, porque era uma emergência.
– YAH, SEU MOLEQUE! – Ouvi a voz rouca e ríspida dele aproximando-se. Logo, deu um tapa na cabeça de , que reclamou manhosamente. – Eu já disse para controlar essa impulsividade idiota! Vamos para casa. A senhorita deve estar cansada dessa sua cara de paspalho.
– N-Não! – Eu me levantei, sentindo o rosto esquentar ao máximo, todo o constrangimento suando pelas minhas mãos. – Está tudo bem, quero dizer... Ele me salvou...
– Não se preocupe, senhorita. Eu conheço o idiota aí há muitos anos, só estava esperando esse dia chegar. – O rapaz disse em um suspiro e depois sorriu amistoso. – A propósito, sou .
– Eu conheço você. – Eu ri baixinho, enquanto fazia uma breve referência. – . Aliás, só . Sem senhorita.
– Tudo bem, . Eu também conheço você. não cala a boca sobre você nem um segundo, ele é insuportável quando está apaixonado.
– HYUNG! – protestou, tão constrangido quanto eu.
Tinha perdido as palavras, mas não conseguia esconder o enorme sorriso que ocupava quase minha cara toda.
– Cala a boca e vamos para casa logo. Você pode dormir no meu apartamento também, . Quero entender o que aconteceu.
Dito isso, seguimos até seu carro, parado em frente à delegacia. Não podia deixar de pensar que ele era um homem incrível. Antes mesmo de se formar na faculdade de música, já tinha um emprego como produtor em uma empresa mediada, tinha um carro e um apartamento. sempre amava dizer o quanto seu hyung era bom no que fazia e o quão bem-sucedido era. Agora, eu conseguia ter um pequeno vislumbre do que era o gênio da música , como o próprio se referia. O estômago ainda dava voltas de nervosismo.
Na parte de trás do carro, eu fiquei em silêncio, enquanto os dois amigos discutiam o ocorrido e se ofendiam carinhosamente. Minha cabeça ainda estava parada nas palavras de . estava apaixonado por mim. Era a melhor coisa que aconteceu em toda minha vida. Eu sorria feito boba, observando a paisagem e apenas respondendo às perguntas que os dois me faziam.
O apartamento de não era muito longe do campus, então não demorou muito a eu estar dentro da casa do produtor. Ele era receptivo, apesar de sério, e apenas indicou que eu poderia tomar banho primeiro e vestir algumas roupas dele, enquanto ele cuidava do amigo e pedia uma pizza para o jantar da madrugada. Sob os protestos enciumados de , eu aceitei, pegando uma toalha emprestada e roupas de um desconhecido. A noite já estava louca demais para eu me preocupar com coisas assim.
Tomei um banho não muito longo, mas relaxante o suficiente para que eu colocasse as ideias no lugar. Finalmente eu estava me acertando com , e eu estava tão feliz como nunca tinha me sentido antes. Voltando às minhas memórias de infância, eu não achei que poderia encontrar felicidade assim, apenas com uma pessoa especial. Eu saí do banho com um sorriso no rosto e, cautelosamente, voltei até a sala. Aparentemente, eu era boa em me fazer despercebida, porque com certeza a conversa entre e não era para ter sido ouvido por mim.
– Céus! Eu não acredito que ainda não contou a ela sobre a parte mais importante da sua vida, Tae! – disse, indignado.
Podia sentir a tensão palpável no ar, eletrizante e assustadora. Fiquei parada no final do corredor, escondida atrás da parede. Sabia que era errado, mas não consegui evitar. Afinal, talvez eles estivessem falando sobre a tal coisa que estava me escondendo.
– Como você quer que eu diga para a mulher que amo que eu tenho um filho!? – Ele respondeu, exasperado, e meu corpo congelou no lugar.
Revelações demais para uma noite. Na verdade, parecia que tudo estava acontecendo ao mesmo tempo. Quando eu pensava que tudo ficaria bem, uma outra bomba é largada no meu colo prestes a explodir e acabar com todo e qualquer pensamento positivo que ousasse passar pela minha cabeça. Respirei fundo antes de ouvir o resto.
– Ora! Com palavras? Sentando e conversando como duas pessoas normais? Vocês não são crianças, . Ela parece alguém legal, vai entender.
– Você que não entende, hyung? O que eu tenho a oferecer a ? Tudo o que eu posso fazer é comprar pão de feijão vermelho. Tenho que formar, sustentar meu filho que sequer mora comigo...
– E quando foi que eu lhe pedi alguma coisa, ? – Eu não me aguentei e sai do esconderijo. O rosto vermelho de raiva e confusão. Eu segurava para não chorar. – Diga-me. Quando foi que achou que não seria uma boa ideia me contar isso?
– ... Eu... – Era a primeira vez que eu o via tão assustado. suspirou e apenas deu de ombros murmurando um “vou deixar vocês à vontade” antes de sumir pelo corredor. – Desculpe-me, eu só não sabia como dizer.
– Eu só queria entender o motivo... Não é como se não pudesse confiar em mim...
– Não! – Ele correu até mim e pegou minhas mãos entre as suas, seu olhar tinha o arrependimento de um cachorrinho que fez algo ruim ao dono. Era impossível não o achar fofo mesmo em momentos assim. – Aish... Eu só não consegui... Quero dizer, no dia que nos conhecemos foi quando minha ex-namorada anunciou a gravidez. Eu não sabia bem o que fazer... O tempo passou e, bom... No dia que começamos a conversar, foi quando ela disse que não ficaria com a criança e eu teria que cuidar dela sozinha. Jogar conversa fora com você... Ajudou-me a pensar que eu poderia lidar com isso.
– Céus, ...
– Depois daquilo, você se tornou minha válvula de escape, e em algum momento me apaixonei... E, bom, eu tive medo. Medo que fugisse como a mãe do meu filho... Medo de que eu não conseguisse te proteger, ser o seu herói...
– tem razão... Você é um idiota. – Eu soltei em um suspiro. – , você me protegeu, salvou-me de mim mesma, virou minha vida do avesso mesmo enquanto enfrentava problemas muito maiores... Eu só queria que uma vez você entendesse que ninguém pode ser um super-herói sozinho. Eles também precisam de alguém, e eu quero ser essa pessoa para você, .
– Porra, ... – gaguejou, os olhos marejados. Mostrou-se realmente vulnerável para mim. – Eu quero que você seja essa pessoa.
Ele disse, reunindo todas as forças de seu corpo, e eu sorri antes de beijá-lo. Rezando para que as reviravoltas e revelações terminassem por ali. Pelo menos por aquela noite.
– Eu sei que você já sabe, mas... Eu sempre quis ser mãe adotiva de uma criança. – Sussurrei para os seus lábios e eles sorriram gigante para mim.
podia não ser o herói que os quadrinhos costumam descrever. Fortes, invencíveis, insuperáveis. Mas ele era protetor, carinhoso, inteligente e corajoso. Mesmo com seus medos e inseguranças, não hesitava em ajudar quem quer que fosse. E é apenas por isso que ele hoje é meu herói.
Eu sou um novo super-herói Anpanman
Tudo que eu tenho é essa única música
Eu digo: Todos os homens maus, mãos pra cima!
Eu sou o Anpanman da nova geração
Eu sou um novo super-herói Anpanman
Tudo que eu tenho é essa única música
Eu digo: Todos os homens maus, mãos pra cima!
Papai,
Minha mamãe disse que seria legal escrever alguma coisa para você no dia dos pais. Então resolvi te contar porque você é o maior super-herói do mundo!
Primeiro, é porque você prende os caras maus. A mamãe sempre fala de como você fica legal quando aparece no jornal porque prendeu alguém malvado. Na minha escola, os outros meninos dizem que ser delegado é algo legal. Então eu também quero ser um, igual ao papai!
Mas a mamãe disse que um super-herói precisa de mais coisa do que prender caras malvados. Então eu pensei que ser bonito também conta! Ela fala essas coisas quando você está longe, que ela tem que tomar cuidado, porque as vizinhas ficam de olho, e ela tem medo de que você goste de uma delas. Mas eu sei que isso não vai acontecer, papai. Você ama a mamãe, igual eu. Por isso é o super-herói particular dela.
Papai também é herói porque é idiota igual ao Naruto! O tio que disse! E eu concordo, porque acho o Naruto um herói muito legal! Igual ao papai.
Mas o mais importante é que o papai me deu todas as coisas boas que eu tenho. Eu sei que trabalha muito por mim, mesmo quando eu ainda morava com a vovó e o vovô. Você brinca comigo, ensina a lição de casa, conta histórias para eu dormir e o mais importante... Me deu a melhor mamãe de todas! Você também deixa eu brincar com o tio enquanto ele está dormindo e sempre leva a culpa das brincadeiras que eu faço. Papai também me ensinou que eu posso ser qualquer coisa, até um super-herói que nem você.
Obrigado, papai, por ser assim. Agora eu vou terminar a carta, porque minha mão está doendo.
Te amo,
Park
Epílogo
O homem de 28 anos segurava-se para não se derramar em choro com aquele pequeno papel nas mãos. Olhou para o filho, que agora estendia um pequeno pacote muito bem embrulhado. Ele parecia sua cópia fiel enquanto criança, e não podia se sentir mais orgulhoso por ter uma criança que se parecia tanto com ele. Talvez até uma versão melhorada.
Agachou-se para ficar na altura do garoto e abriu os braços para que pudesse receber o pequeno corpinho do ser humano que mais amava no mundo. Apertou com força o garoto, levantando-o no ar sob suas risadas divertidas.
– Papai! Seu distintivo está me machucando! – Ele disse, tentando se desvencilhar do aperto.
– Yah... Como você pode ser tão esperto para sete anos! – comentou, desfazendo um pouco do abraço para ajustar o garoto em seu colo, enquanto tirava o distintivo do uniforme.
– Tio disse que sou à frente do meu tempo.
– E ele tem razão! – A voz calma de soou da porta.
Como sempre, ela estava estonteante, encostada na soleira da porta do quarto do casal, um vestido longo e azul caindo perfeitamente em seu corpo.
Aqueles dois haviam feito um trabalho incrível. Um quarto cheio de balões, a melhor carta que ele poderia ter recebido em toda sua vida, o cheiro de seu prato favorito perfumando o local.
– Não vai abrir o presente, papai? – perguntou, estendendo-o novamente.
riu, enquanto colocava o menino no chão apenas para descobrir o que havia ganhado.
– Uau! Vocês... Sério!? – Ele disse, abrindo a caixa com um novo celular.
– Tio que deu a ideia, disse que o seu estava apodrecendo. – comentou com um sorriso travesso. De fato, não se importava tanto com esses objetos tecnológicos, mas tudo o que vinha de seu filho parecia ser ainda mais especial. – E eu e a mamãe já colocamos nossas fotos no fundo da tela!
– Esse garoto ama tecnologia quase quanto ama nós dois. – comentou, rindo.
– Isso não é verdade, mamãe! – virou-se para a mulher, andando rapidamente até ela apenas para abraçar suas pernas. – Eu amo muito mais vocês!
– E eu amo vocês, mais do que tudo nessa vida. – disse, aproximando-se das pessoas mais importantes de sua vida.
Olhando-os assim, sua vida sempre costuma passar diante de seus olhos. sentiu orgulho por cada decisão que o trouxe àquele momento. Ele se sentia um verdadeiro super-herói sempre que voltava para casa em um longo dia de trabalho, arriscando sua vida, enfrentando pessoas perigosas. Mas, no final, seu heroísmo estava em jamais deixar sua família na mão. Era difícil, porém era tudo aquilo que o mantinha de pé, pronto para salvar quantas pessoas fossem.
Ele era um super-herói, afinal.
Talvez o mais fraco dentre eles. Entretanto, o mais amado.
– Hey. – sussurrou em seu ouvido, tirando um pequeno envelope de trás das costas. capturou rapidamente a expressão travessa de , que já não continha pequenas risadas suspeitas sobre aquele misterioso papel. – Eu tenho mais um presente para você.
Desconfiado, ele pegou o envelope e se afastou um pouco para poder analisá-lo melhor. puxou para o seu colo, ansiosa pela reação do marido. O filho do casal mordia as unhas em expectativa. Vagarosamente, abriu o papel e puxou seu conteúdo para fora. Lá estava a pequena foto de um ultrassom, os dizeres indicando dois meses de gravidez de .
– Parabéns, papai! – Ouviu as vozes em uníssono e, finalmente, deixou uma lágrima descer pelo rosto.
“Ninguém pode ser super-herói sozinho” ele se lembrou das palavras dela. realmente havia levado aquilo a sério.