Capítulo Único
13 de setembro de 1914
Sorri ao ver atravessar a rua e vir em direção à minha casa, num dos poucos bairros em que a vida ainda parecia normal, apesar de tudo que andava acontecendo nos últimos dias.
Para ser mais sincero, os últimos anos estavam extremamente confusos em um âmbito mundial.
A onda revolucionária que andava acontecendo na Europa e que papai tentou esconder de todos em casa. Impérios se reunificando e confusões se armando entre países e impérios.
Até aquela manhã.
As notícias chegaram rápido, considerando que tudo ocorreu logo ali, em Sarajevo. Um baderneiro – foi assim que papai se referiu a ele – assassinou o arquiduque, herdeiro do império austro-húngaro e sua esposa, que estavam em visita diplomática. O garoto, tão jovem quanto eu, não tinha ideia da confusão que criaria. As declarações de guerra começaram naquele dia mesmo. Áustria contra Sérvia. Alemanha contra Rússia. Rússia contra Áustria. Alemanha contra França. A invasão da Bélgica. A declaração de Guerra à Alemanha.
Não demorou muito até que tudo chegasse a Londres. Todas as convocações e notícias confusas.
Era tudo muito confuso e desesperador.
Em minhas mãos, estava o bilhete que encontrei na caixa de correio. Estava mais para um panfleto. Em meu bolso, estava a carta. A fatídica carta com endereço de remetente como o governo britânico. Meu nome sendo citado e a frase que eu tinha mais medo: “o senhor está convocado a se apresentar ao Exército Britânico”.
O alistamento entre meninos de 18 a 21 anos era obrigatório, a cada dois anos. Eu completara dezoito há alguns meses, e, no dia seguinte ao meu aniversário, meu pai me levou ao quartel mais próximo para que eu me alistasse. “Defender nossa nação, , é uma honra servir ao Império Britânico!”, ele esbravejava enquanto voltávamos com o documento certificando tudo para casa. Muita besteira, se quer saber minha opinião.
O que eu diria a ela?
Como sobreviveríamos àquilo?
Como eu sobreviveria àquilo?
– Ninguém me viu, certo? – ela chegou sorridente, e eu imediatamente esqueci de tudo o que se passa no mundo.
Naquele momento, éramos apenas nós dois.
– Não. Todos estão com medo. Ninguém vai sair para as ruas tão cedo. – eu disse, sentando novamente no meio-fio e vendo a garota de cabelos loiros se sentar ao meu lado.
Droga.
Ela era muito bonita.
– Eu gostaria de entender o que está acontecendo, mas ninguém lá de casa me conta nada. Mary apenas me diz que não devo me preocupar com isso e meus pais parecem completamente alheios a tudo, apesar de papai estar mais rabugento ultimamente. Acho que tem a ver com a possível saída de Margot de casa. Ela sempre sabe tudo e nunca me conta nada. Brian a pediu, mas eu já lhe contei isso, não contei? – eu assenti com a cabeça, o que pareceu dar a ela o aval para continuar falando. – Mamãe está meio desesperada com os preparativos, e eu pergunto se posso ajudar, digo que vai me distrair. Ela só me responde que devo me preocupar com chás e recepções e bailes e banquetes, que vão continuar acontecendo. Por que não aconteceriam?
Eu apenas dei de ombros, de cabeça baixa, e vi a garota se curvar em minha direção e segurar uma de minhas mãos com suas delicadas luvas de renda. A outra mão dela cobriu meu queixo e levantou meu rosto para que ela conseguisse depositar ali, em minha bochecha, um beijo doce. Senti a região formigar e minha barriga gelar.
– Oi, .
– Oi, . Quer me contar por que está tão quieto hoje?
– Eu quero saber sobre seu dia. Estou exausto. Minha mente está cheia. Como andam as coisas no grande Fallen Hall?
A casa de era uma das maiores daquela região de Londres, e seu pai era um grande dono de indústrias que empregavam a muita gente, inclusive meu pai e um dos meus cunhados.
E era justamente por isso que tudo a nosso respeito deveria ser secreto, escondido. Códigos, palavras de ordem, cartas entregues de mal jeito. Tudo era assim. Mas valia a pena. Cada segundo ao lado de trazia um sorriso ao meu rosto e deixava em minha memória uma lembrança de alegria.
Foi assim que eu a conheci.
Com todas as indústrias da cidade, meu pai conseguiu emprego na do pai dela.
Em todos os dias que eu poderia sair da escola e ir para a indústria do meu pai, eu escolhi o mesmo dia dela.
Nossos olhares se cruzaram por dois segundos, e vai parecer a maior besteira do mundo, mas eu meio que soube que seríamos algo naquele momento. Tudo ao redor parou enquanto eu encarava aquele oceano azul que eram os olhos de . Não sabia explicar o que era, mas era forte. O céu parecia sumir sobre nós e tudo parecia mais infinito. Mais incrível, mais mágico.
Eu descobri que minha escola ficava perto da casa dela e passei a matar aulas para ficar a admirando pela janela em suas aulas de etiqueta e comportamento, todas as quintas. Em um dos muitos dias em que eu estava lá, a observando, ela acenou. Eu senti meu corpo se arrepiar. Não soube o que fazer, então me escondi, mas não queria ir embora. Quando a aula dela se encerrou, imagino, ela me encontrou entre as árvores que rodeavam Fallen Hall. Naquela tarde, conversamos até o sol se pôr, fato que se repetiu por mais muitos e muitos dias.
Quando eu menos esperava, eu estava completamente envolvido e apaixonado por aquela garota de sorriso aberto, riso fácil e sempre com um assunto na ponta da língua.
Quando completamos dezesseis anos, ela resolveu que seria uma boa ideia sair no meio da noite e me encontrar. E eu resolvi fazer o mesmo. Eu esperava por ela nos bosques de Fallen Hall e ela corria em direção à cidade, quando ficávamos sentados no quintal de uma das casas abandonadas da rua.
Foi numa daquelas noites que nos beijamos pela primeira vez. E foi numa daquelas noites em que trocamos nossas juras de amor em frente a uma igreja, prometendo que estaríamos juntos, haja o que houvesse.
Nunca achei que essa promessa fosse incluir uma guerra.
– Tudo está bem por lá. Mary aprendeu um penteado novo para o meu cabelo, um que mamãe pareceu gostar. Vou sentir a falta de Margot me defendendo quando eu fizer alguma besteira. E por aqui? – ela olhou a casa simples em que eu morava com meus pais e meus cinco irmãos.
– Está tudo bem.
Eu detestava falar sobre isso com , mas nunca estava tudo bem em minha casa. Meus avós passavam necessidades desde que meu avô precisou deixar a madeireira onde trabalhava por conta de dores nas costas. Minha avó lavava, passava e costurava roupas para ajudar a casa. Meus pais precisavam ajudar muito também, e muitas vezes eu me sentia culpado por continuar meus estudos e não deixar tudo para trabalhar e ajudar em casa. Todas as vezes que compartilhei desse pensamento com minha mãe, ela me tranquilizou, mexendo em meus cabelos e soltando um sereno: “vai ficar tudo bem, querido”. Eu sorria, mas mal dormia em algumas noites pensando em tentar ajudar.
– Você sempre diz que está tudo bem e apenas está tudo bem. Eu conto sobre tudo que acontece em Fallen Hall e mal posso perguntar sobre seus irmãos sem que você mude de assunto.
– As coisas estão bem confusas, Ead. Eu quero te proteger da confusão que é a minha vida, vez ou outra.
– Isso não faz parte do nosso acordo, .
Nosso acordo. Sorri ao relembrar algumas das cláusulas: sempre estaríamos juntos, sempre compartilharíamos tudo, o que era meu, era dela, o que era dela, era meu. Era assim que funcionava.
– Não dessa vez, meu amor. As coisas estão diferentes agora.
E então ela viu: amassada na minha mão livre, estava o panfleto. Ela suspirou fundo, pegou-o em suas mãos delicadas e abriu, alisando contra os joelhos cobertos pelo vestido bordô, num tom que aparecia forte contra seu tom de pele claro.
– É isso o que está acontecendo? Uma Guerra? Como a que ocorreu na América?
– Muito maior do que aquela, . Muito maior.
– Você...
Puxei a carta do bolso, abri, lendo para ela o que meus olhos tinham lido sozinhos mais cedo.
– Eu não vou. – concluí a leitura.
– Você precisa ir.
– Posso fugir. Podemos fugir. Podemos ir para a América. As coisas parecem funcionar bem por lá. Eu tenho algum dinheiro guardado, moedas que achei na rua e pequenos trabalhos que fiz. Minha mãe me deixou guardar uma parte. Podemos pegar isso e podemos falar com os meus pais. Você acha que Margot nos acobertaria?
Foi a vez de ela permanecer em silêncio, coisa que nunca acontecia, já que tinha o vocabulário mais extenso e o repertório mais vasto e variado de assuntos que eu jamais podia imaginar.
– Não quero te obrigar a fazer isso. Você acha que eu gosto de cogitar essa possibilidade?
– Não podemos. Eu não posso. Não quero. Não é justo. Podemos mudar de assunto?
– Como você pode simplesmente querer mudar de assunto, ? É uma guerra. Nossa casa precisa de você, meu amor.
– Mas você também precisa.
– É claro que sim. Mas não posso viver com o fato de que você descumpriu com a lei e vai precisar largar tudo para trás porque eu preciso de você.
– Eu faria isso.
– Deixaria sua família? Seus pais? Seus irmãos? , eu te conheço melhor do que ninguém para saber que você não quer fazer isso. Você está com medo, meu amor.
Eu suspirei fundo, enterrando as mãos nos cabelos. realmente me conhecia como ninguém. E, mais uma vez, ela tinha razão.
– Eu estou. Apavorado. Eu não sei como é uma guerra. Escutamos absurdos sobre elas e lemos sobre isso nos livros de história, e agora estamos no meio de uma. Não parece real, Ead.
– Droga. Eu não tinha ideia que isso estava acontecendo. Nem ideia. É por isso que...
– Provavelmente sim. Muitos lugares estão assim. Não sabemos o que vai acontecer a seguir.
Ela suspirou fundo, segurando minha mão de novo. Enlaçou nossos braços e apoiou sua cabeça contra meu ombro.
– Vou sentir sua falta. . Prometo te escrever. Duas, três cartas por dia. Estamos juntos, lembra? Haja o que houver.
– , eu te amo.
– Eu também te amo, .
*
22 de abril de 1915
Se minhas contas estivessem certas, e provavelmente estavam, porque sempre tive uma certa aptidão para cálculos, ainda deveríamos estar na França, ou provavelmente na Bélgica, os únicos lugares que pareciam quentes mesmo com a brisa fresca que tomava conta, ou pelo menos deveria, do Império Britânico e outros.
Na infantaria a que fomos designados, éramos em poucos da mesma faixa etária: eu, Francis e Thomas. Franklin Francis e eu logo trocamos algumas poucas palavras, e, entre todos os membros do grupo, era ele que eu costumava procurar quando precisava de uma conversa ou quando os tiros e bombas davam uma trégua e podíamos ter raros momentos tranquilos. Gavin Thomas era mais reservado e passava muito tempo chorando a falta de casa, principalmente da irmã mais nova, a quem protegia com todas as armas disponíveis na Guerra inteira, apesar de ser um soldado muito efetivo.
Casa. Família. Mãe. Pai. Irmãos. .
Eu sentia falta de todos.
Em casa, éramos em oito. Meus pais, Edward e Davena, eram casados há alguns anos, depois de terem se conhecido em uma cerimônia da congregação da igreja que ainda frequentávamos. Minha irmã Leah era dois anos mais velha do que eu, se casou cedo e tinha uma filha, Helen. Seu marido, Richard, trabalhava na fábrica da família de com meu pai.
Por um instante, me perguntei se ele foi convocado também, e como Leah reagiu.
Eu era o segundo mais velho da família, e, apenas mais alguns meses mais novo do que eu, nasceu Leonard, o pequeno artista da família, que hoje tinha doze anos e tocava no coral da Igreja. Meus pais o preparavam para ser bispo, e ele aceitava de bom grado. Minhas duas irmãs mais novas, gêmeas, Quinn e Eleanor, completaram sete anos há apenas alguns dias, e eu sentia tanta falta delas quando eu sabia que Gavin sentia de Charlie, sua irmãzinha.
Criei por hábito carregar no bolso da farda uma antiga foto de família, anterior ao nascimento de Justin, meu irmão mais novo, que agora deveria ter três anos. Todos sorridentes.
A vida era boa antes da Guerra, apesar de tudo.
Carregava também uma de . Não olhava muito para essa. Não tinha forças. Sentia que estava prestes a cair no choro todas as vezes que puxava a foto do bolso e encarava aquele sorriso e aqueles olhos azuis.
Me perguntava como ela estava. Quase todos os dias. Não conseguíamos receber cartas, mas esperava que ela as tivesse escrito, como ela me prometeu. Queria ler tudo quando saísse daquele lugar. Agora, era tudo muito confuso e arriscado.
Não nos locomovemos muito. As trincheiras eram rasas e, muitas vezes, nossas cabeças eram visíveis do outro lado para o exército alemão. Me amedrontava pensar que podia, a qualquer minuto, tomar uma bala na cabeça. Os tiros vinham de todos os lados, principalmente quando estávamos em batalha, como foi o caso nos últimos dias.
Naquele momento, as armas alemãs estavam apontadas para nós. Cruzei com alguns rapazes que foram atingidos. Ombros, mãos, braços e muitas cabeças foram atingidas.
Para nossa infelicidade, os alemães pareciam imparáveis e invencíveis.
– GAVIN, CUIDADO! – gritei ao ver de relance um soldado alemão mirar a cabeça do meu colega. Ele se abaixou e o tiro acertou o saco de areia atrás dele. Quase caímos na gargalhada ao perceber que a bala não tinha o acertado.
E, então, a fumaça atingiu nossa trincheira. O cheiro era muito forte e imediatamente comecei a tossir. Minha pele se irritou e comecei a avermelhar, até que não conseguia mais enxergar o que estava ao meu redor.
Não vi mais nada antes de cair desacordado.
6 de fevereiro de 1915
– Não.
– Por que não? – eu cruzei meus braços e esperei uma mínima explicação plausível para a resposta tão sucinta e grossa de meu pai.
– Você é uma dama, . Esse trabalho não é para você, querida. – bufei e me sentei no sofá após ouvir pela milésima vez aquela explicação ridícula. – Você não vai se ajustar, querida. Não posso permitir isso.
– Eu só quero ajudar! Eu preciso ajudar. Essa guerra... Preciso fazer alguma coisa. Não posso apenas sentar no sofá, continuar à espera dos pretendentes e fingir que está tudo bem. Não está. Eles não vão mais aparecer, papai.
Talvez meu pai não entendesse o que era a guerra. Não podia culpá-lo: acho que ninguém tinha experiência o bastante para saber o que fazer e como reagir corretamente. Mas eu tinha uma coisa que ele não tinha.
Eu perdera para a guerra.
Ele não se fora – não que eu soubesse –, mas era quase como se isso tivesse acontecido. E, obviamente, meus pais não sabiam de nada. Não conseguia imaginar a reação deles se eu contasse que estava envolvida com o filho de um operário da fábrica. Isso não importava para mim, eu amava , independente do que ele fosse. Eu o amava pelo que ele era. Eu o amava pelo que ele ainda era.
Eu não podia simplesmente ficar parada, pensando que meu grande amor estava lá fora, com fome, frio e exposto. Eu precisava fazer algo para ajudá-lo. Para ajudar a todos eles.
Uma amiga comentou em uma carta sobre a possibilidade de trabalhar como enfermeira nos hospitais próximos aos campos. Era um trabalho difícil, muitas cenas horríveis e histórias pesadas para se ouvir. Eu não tinha nem ideia do que faria uma enfermeira em um hospital, mas assim que li aquela possibilidade, não pensei duas vezes: eu precisava fazer aquilo. Era a minha forma de ajudar.
– Papai. – tentei argumentar uma última vez. – Eu posso ajudar as pessoas, posso ajudar esses soldados. Eu quero ajudá-los. Quero que pais voltem para casa para cuidar de seus filhos. Quero que as esposas recebam de volta seus maridos. Quero que os pais reencontrem seus filhos. Esse trabalho é parte disso. Eu posso ajudar essas pessoas. Você entende, papai?
Meu pai me olhou nos olhos e sorriu.
– Não vou te impedir de fazer isso, vou? – eu neguei com a cabeça. – É difícil aceitar que você cresceu, . Minha filha mais nova agora é uma mulher. Arrume suas coisas. Vou te levar ao hospital. Podemos conversar juntos com a enfermeira Perkins. Você tem certeza, querida?
– Toda a certeza do mundo, papai. Obrigada. – eu beijei sua bochecha e corri em direção ao meu quarto.
23 de abril de 1915
Eu achava que já tinha visto de tudo àquela altura da guerra. Desde dedos decepados até feridas inflamadas por urina de rato. Mas nada tinha me preparado para aquilo.
Milhões de soldados chegavam de uma vez só ao hospital em Ypres, Bélgica, para onde fui mandada apenas alguns meses depois de começar no hospital local em Londres. Aparentemente, eu não fora a única que tomara a decisão de me voluntariar como enfermeira, então os postos, a cada dia, recebiam mais e mais moças de todas as idades dispostas a ajudar. Toda vez que eu olhava ao meu redor e via mais e mais pessoas diferentes, eu sorria. A bondade ainda existia nas pessoas. Ou em uma parte delas, pelo menos.
Por ser uma das mais antigas por lá, acabei optando por aceitar a transferência para a Bélgica. Meus pais quase enlouqueceram, mas assim como quando comecei meu trabalho, eles simplesmente aceitaram o fato de que não ganhariam aquela disputa contra mim. Eu estava ali apenas há alguns meses, mas já tinha me tornado a mulher de confiança da enfermeira-chefe, que era francesa e tinha um sobrenome simplesmente impossível de se pronunciar, mas que era um doce de pessoa.
– Leve esses para lá. – eu orientei com pressa algumas das meninas mais novas, que tentavam dividir o peso de um jovem rapaz queimado, ainda em uma tentativa de recuperação.
Queimaduras, cegueira, tosse, pulmões e garganta queimados. Esses eram os principais sintomas do novo gás utilizado pelos alemães, mais perigoso e mortal do que qualquer outra arma jamais vista. Todos pareciam apresentar essas características, variando em níveis. Alguns não resistiram à exposição nem para que chegassem ao hospital, outros não resistiram ali mesmo. Foi horrível sentir tantas vidas se esvaindo pelas minhas mãos, sem poder ajudar. Fazíamos o que podíamos para tentar amenizar tudo, mas, às vezes, era tarde demais.
– Mais alguns chegando agora! – Gabrielle, uma das meninas francesas, gritou da porta. Atrás dela, alguns homens carregavam outros em macas, posicionando-os onde ainda havia espaços no chão ou em camas, quando disponíveis.
Eu corri para atender os recém-chegados. Alguns estavam desacordados, enquanto outros se queixavam pelas queimaduras e terceiros apenas dormiam. Chequei a pulsação de alguns e, infelizmente, encontrei dois sem pulso. Cobri os corpos com os lençóis e parti para outros soldados. Um deles me chamou a atenção por segurar algo nas mãos e estar acordado, murmurando coisas para si mesmo.
– Senhor? Está tudo bem?
E, então, eu o reconheci. Meu coração disparou ao vê-lo. Eu reconheceria aquele olhar e aquela serenidade em qualquer lugar.
– . – eu disse baixinho, e ele me olhou. – , é você?
– . . Meu amor. É você? Onde você está?
tinha sido uma vítima do gás.
Meu coração apertou naquele momento.
O homem que eu amava. O dono do meu coração. Ele estava ali.
Minha voz. Ele reconhecia minha voz. Não consegui controlar o sorriso. Era ele. estava vivo, ali na minha frente.
– Sou eu, meu amor. – eu me abaixei ao seu lado e segurei sua mão livre. Reparei que ele segurava a foto de sua família na outra. – Não acredito que você está aqui.
– Não acredito que eu estou ao seu lado e não posso ver você. Seus olhos azuis. – ele passou a mão por minhas pálpebras fechadas. – Seus cabelos loiros. – ele passou a mão pela minha nuca, e eu me arrepiei.
– Vai ficar tudo bem, meu amor. Eu te prometo. Eu te amo, . Haja o que houver. – eu me sentei ao lado dele e passei a mão pelos cabelos sujos dele.
O Sol pareceu se abrir naquele momento. Era como se a Guerra não existisse mais. Tudo fez sentido de novo. estava ali, vivo, ao meu lado. Estávamos reunidos de novo. E, haja o que houvesse, nada nos separaria de novo.
17 de outubro de 1919
– Você precisa ir agora. – eu disse, caindo na gargalhada e empurrando porta afora, enquanto o mesmo tentava me roubar mais um beijo, o quinto desde que ele se dirigira à porta com a intenção de ir para seu novo emprego. – , você vai se atrasar.
– Tudo bem. Por que mesmo você é tão certinha? – atirei o pano de prato na direção dele e ele fugiu para a rua, rindo. – Eu te amo, !
. Meu “novo” sobrenome ainda soava estranho aos meus ouvidos, mesmo que eu e já estivéssemos casados há quase um ano. Na minha mente, eu jamais seria , por inúmeras razões.
Mas aquela era a prova de que tudo poderia acontecer.
Os ataques de gás continuaram a acontecer durante a guerra. Perdemos muitos homens por conta das queimaduras cruéis causadas pelas armas alemãs.
A paz foi declarada em 11 de novembro de 1918, mesmo dia em que e eu oficializamos nosso casamento, na mesma igreja em que fizemos nossos primeiros votos, em frente a todos os nossos familiares e amigos, inclusive a alguns colegas de batalha de que sobreviveram ao horror daquela guerra e agora voltavam à rotina normal de vida. Meus pais passaram a aceitar meu relacionamento com quando eu o apresentei como um soldado que conheci no hospital enquanto ele estava em tratamento.
Eles não precisavam saber que a nossa história era muito mais longa do que aquela. Aquele era o nosso segredo. Nosso pequeno detalhe.
recuperou a visão alguns dias após nosso reencontro e foi liberado do hospital exatas três semanas após chegar lá. Foi dispensado pelo exército britânico e passou a trabalhar comigo nos hospitais, como voluntário. Passávamos a maior parte do tempo juntos, o que solidificou tudo o que sentíamos um pelo outro.
Ficamos noivos no primeiro mês de 1918. Após tantos anos de encontros escondidos, cartas secretas e juras de amor, finalmente poderíamos seguir em frente com nossas vidas.
Eu amava . Eu o amaria até o dia da minha morte. Até o fim dos tempos em todas as minhas vidas. Eu o amava de todas as formas que fosse possível amar alguém.
Eu o amaria, haja o que houvesse.
Fim
Nota da autora: Meu Deus.
Eu peço desculpas desde já se causei lágrimas em alguém com essa história.
“Come What May” é uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos, de todos os musicais existentes na face da Broadway e do cinema. É uma música extremamente sentimental e que tem um significado muito grande.
Eu simplesmente não consegui pensar em outra coisa pra escrever quando recebi essa história de braços abertos.
Não sei nem expressar o quanto sou grata por ter a oportunidade de escrever uma história assim, com essa música e com tanta história e sentimento por trás. Espero que eu tenha conseguido transmitir a vocês tudo o que senti enquanto escrevia, e que vocês gostem e tenham tanto carinho por ela quanto eu sei que já tenho.
Agradeço desde já pelos comentários, por interagirem comigo ou simplesmente por lerem a história, vocês são muito especiais pra mim!
Beijinhos!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Eu peço desculpas desde já se causei lágrimas em alguém com essa história.
“Come What May” é uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos, de todos os musicais existentes na face da Broadway e do cinema. É uma música extremamente sentimental e que tem um significado muito grande.
Eu simplesmente não consegui pensar em outra coisa pra escrever quando recebi essa história de braços abertos.
Não sei nem expressar o quanto sou grata por ter a oportunidade de escrever uma história assim, com essa música e com tanta história e sentimento por trás. Espero que eu tenha conseguido transmitir a vocês tudo o que senti enquanto escrevia, e que vocês gostem e tenham tanto carinho por ela quanto eu sei que já tenho.
Agradeço desde já pelos comentários, por interagirem comigo ou simplesmente por lerem a história, vocês são muito especiais pra mim!
Beijinhos!