Fanfic finalizada: 19/08/2018

Capítulo único

“Isso tinha que dar certo” Era tudo que pensava quando ficou de frente para a joalheria. Ele já tinha cometido diversos roubos, mas aquele era diferente. Aquele, era um pedido de .
Ele nunca pensou muito na prima torta por parte de pai, uma garota de olhos azuis e cabelos claros. Para ele, a menina era estudante de medicina, uma garota que poderia ter sido modelo de qualquer catálogo e iria ser a única a sair dos negócios da família. Aparentemente ele estava errado.
Ela tinha tocado a campainha da sua casa em um sábado de madrugada. estava um pouco bêbado e talvez alterado por algo mais além de bebida. Seu olho roxo mostrava que seu dia havia sido da mesma forma de sempre: tinha se metido em uma briga.
- Você precisa me ajudar. - Tinham sido as únicas palavras que ela disse para convencê-lo a fazer qualquer coisa que ela quisesse.
- Entre. - fechou a porta atrás de si. O frio das ruas da periferia de Berlim tinha entrado junto com e teve que vestir uma camiseta. - O que você precisa?
- Larguei a faculdade. Quero entrar no negócio de família.
- Bom. - se jogou no sofá e fez o mesmo.
Se ela tinha ido ali achando que ele ia persuadi-la do contrário, estava enganada. era um cara que não se metia na vida alheia e sabia que cada uma teria que arcar com as consequências das suas próprias escolhas. Se queria entrar para o negócio da família, que entrasse.
- E seu pai? - Foi a única coisa que perguntou. Ele não queria que ter problemas com o primo.
- É responsabilidade minha.
deu de ombros e se levantou para pegar outra garrafa de cerveja. Ofereceu uma para que aceitou de bom grado.
- Então…
- Recebi uma proposta para roubar uns diamantes, mas preciso de alguém para arrombar um cofre.
- Só isso?
- Só.
- Ok.
Naquela noite, contou o plano para . Tudo parecia certo, eles só precisariam programar o dia e passar um mês observando. mentiria se dissesse que não ficou curioso em saber porque a prima tinha tomado essa decisão, mas mais uma vez, era escolha dela.
se levantou e abriu a geladeira do rapaz em busca de qualquer coisa para se alimentar. Tinha passado o dia fora de casa e precisava de comida.
- Tem algo além de cerveja nessa casa? - Perguntou.
- Maconha.
respirou fundo e jogou o um casaco para o primo.
- Vamos comer.
Foi a vez de respirar fundo e se levantar do sofá. Ele parecia um menino obediente quando estava perto de uma mulher bonita. Muitos achavam que ele era assim por ser omisso ou estar sempre atrás de sexo, mas a verdade era que ele odiava discutir e sabia que mulheres bonitas e autoconfiança andavam juntas. Elas estariam certas não importava o que ele dissesse.
Andaram até um restaurante há poucas quadras do apartamento de . Dividiram uma porção de batata frita e algumas cervejas. também já começava a ficar alterada e tentou arrancar dela o real motivo de ter largado a faculdade.
Ele não se importava com ela, mas sabia que seu pai iria responsabilizá-lo caso descobrissem sobre o roubo.
- Então Dra. , porque desistiu do título de doutora?
- Estava sentindo falta da adrenalina.
- Você sabe que o negócio da família é bem maior do que as carteiras e joias que furtávamos de turistas quando crianças. - deu uma tragada no cigarro que nem tinha reparado que estava nas mãos do primo.
- Sei. Mas também proporciona uma vida mais confortável do que a medicina. - Ela pegou a bituca das mãos do rapaz.
- Contanto que você não conte para a polícia.
deu um sorriso safado com o cigarro na boca. A garota era sexy demais e sabia que ela estava escondendo alguma coisa, mas aquele atrevimento o havia feito ignorar qualquer suspeita.
Voltaram para o apartamento abraçados, trocando beijos e mãos bobas. não fazia ideia de como tinham começado a se pegar, só esperava que aquela noite acabasse na sua cama.
Assim que ele fechou a porta atrás de si, tirou o casaco e os sapatos. Ela estava pretendendo ficar.
- Você tem certeza? - Ele precisava questionar. Era uma pergunta dúbia, coisa que tinha a mesma resposta para as duas.
- Tenho.
Ela tomou a iniciativa. Puxou ele para um beijo inesperado e, daquele beijo, eles pararam na cama, roupas foram deixadas pelo caminho e pudor era inexistente. Palavras não eram necessárias para afirmarem o compromisso de serem cúmplices em um crime.



O mês parecia ter passado correndo. ficava mais tempo na casa do primo do que na própria, mesmo que ela sempre sumisse sem deixar recado por algumas horas. queria questionar aonde a menina ia, mas sempre que ele tentava perguntar-lhe, ela o distraia com sexo.
E se tinha algo pelo que era fraco, essa coisa era sexo.
Nenhum dos dois estavam apaixonados. Eles não conversavam sobre futuro, medos, vida. Era apenas o roubo emitente e sexo. Para , a junção de suas coisas favoritas. Para , um recomeço.
O dia finalmente tinha chegado. A joalheria estava a sua frente e repassava mentalmente todo o plano. Ao fundo, escutou os sinos de uma igreja. Ele nunca se sentira culpado de roubar antes, mas daquela vez, parecia que estava cometendo um pecado.
estava ao seu lado, usando um capuz preto, o cabelo preso na touca escura e os olhos azuis atentos a todo movimento em volta.
Ela tinha escondido de todos o real motivo de precisar cometer aquele crime. Ela precisava guardar segredo. Ele tinha pedido para ela que não contasse a ninguém e ela tinha medo de que ele a matasse se o fizesse.
Ela nunca aceitou os negócios da família, mas ele a tinha persuadido. Queria ter contado alguma coisa para , mas se contasse, estragaria todo o plano que era muito mais do que simplesmente arrombar um cofre.
- Você vai ficar no carro. Assim que a joalheria fechar, vou entrar pela porta dos fundos e ir até o cofre. Se qualquer coisa der errado, você acelera e vai embora. Nos encontramos no meu apartamento.
assentiu. Por fora, ela aparentava estar tranquila, por dentro, milhares de coisas passavam pela sua cabeça. Tudo o que poderia dar errado e o que ela tinha a perder. Antes de sair de casa ela tinha recebido uma mensagem dele. “Não fode”. Duas palavras e milhões de significados.
percebeu quando ficou estranha ao olhar o celular. Ele sempre soube que ela estava escondendo algo, mas apenas deu de ombros. Era sua prima, era da família, não faria nada para colocar o plano deles abaixo.
Aquele roubo era uma coisa simples comparado tudo que já havia feito. Venda e compras de armas, carregamento de drogas e até estelionato. Era um mistério como que ele ainda não tinha sido pego nos seus anos de juventude, mas agora ele apenas lidava com roubos. Coisas limpas, sem vítima, sem erro.
Seu pai, um dos chefes da máfia, já havia tentando convencê-lo a voltar à ativa. Os roubos que fazia, mal serviam para caixa 2 da organização. Ele já tinha pensado em sair várias vezes, tomar outro rumo, mas era confortável não ter que pensar. “Faz isso, faz aquilo”. Com o tempo, havia se habituado e tornado o melhor arrombador de cofres da Família.
Era simples para ele. Era preciso apenas ter paz e saber o lugar certo de pressionar. Ele já havia passado por cofres muito piores do que aquele.
Verificou se sua arma estava carregada ao escorar no carro esperando a hora certa. Não pretendia usá-la, mas era sempre bom ter esse recurso. Esperou que Marcos, seu melhor amigo e parceiro, dissesse que estava tudo limpo. Ele não quis contar todo o plano de para o amigo, sabia que era perigoso demais envolvê-lo. Mas pediu para que ele fizesse o trabalho interno.
Marcos tinha ido à joalheria na desculpa de comprar um anel de noivado. Tinha sido ele o responsável por verificar quantos funcionários estariam ali no final do expediente. Resposta: dois. O dono do lugar mais sua filha, que o ajudava a trancar o caixa.
precisava acertar a hora certinha que a garota sairia dali. Teria poucos segundos para executar o plano e alguns minutos para arrombar o cofre e sair correndo.
Marcos saiu da loja conversando com a menina, as chaves ainda estavam em suas mãos.
- Então, eu espero que ela goste. Minha noiva tem gostos extravagantes demais, às vezes me pergunto porque estou me casando com ela… Preferia tão mais uma menina como você, cheia de bons gostos, um sorriso delicado… - revirou os olhos. Só Marcos mesmo para dar em cima de uma vítima do meio de um roubo.
Mas apesar de ver que o amigo estava se aproveitando da situação, recebeu o sinal que era hora de agir. Um simples estalar de dedos significava que a loja estava fechada, o dono tinha ido embora mais cedo e Marcos tinha conseguido distrair a filha o suficiente para que o alarme não fosse ligado.
até conseguia sentir pena da menina que não aparentava ter mais de 18 anos. Ela levaria a bronca da vida no dia seguinte por uma coisa que nem tinha sido culpa dela. Ele afastou esse pensamento rapidamente.
Olhou para uma última vez. A garota estava com os olhos fixos à porta do negócio e as mãos firmes no volante. começou a andar em direção ao amigo.
- Que novidade você aqui, Julian! Quais as novidades? - , de propósito, esbarrou na menina que deixou suas coisas, incluindo as chaves, caírem no chão. - Me desculpa! Deixa eu te ajudar.
Os três abaixaram para juntar as coisas da filha do joalheiro e, sem que ela percebesse, pegou as chaves da loja e colocou no bolso, entregando a ela outras chaves similares que na confusão ela não perceberia a diferença.
- Obrigada! - Ela disse sorrindo. - Bem, Sr. Julian, espero que sua noiva goste a aliança que escolheu. Até mais.
trocou um olhar com Marcos e seguiu na direção oposta do amigo, indo até a porta dos fundos.
Não foi difícil achar a chave correta e entrar. Ele não demorou observando demais o local. Sabia onde estavam as câmeras e como evitá-las, teria que desativar apenas a da sala do cofre, o que não seria tão difícil.
Foi até o painel de energia e desligou a chave, o gerador demoraria 10 minutos para ser ligado e era o suficiente para entrar na sala, e, com as duas chaves segredo do cofre V160, seria apenas uma questão de tempo até achar o clique certo.
tinha paciência e sabia como virar o botão. 1, 2, 3, 4 cliques certos. Abrira a porta para todas aquelas joias. Ele poderia colocar o que quisesse dentro da mochila, mas se contentou com os diamantes. Ele não estava ali para ele, era quem tinha encomendado o serviço e bolado o plano perfeito.
Assim que ele colocou as pedras na mochila, escutou um carro acelerando do lado de fora.
- Merda.
Bateu a porta do cofre e esperava que estivesse travado, ele não teria tempo para organizar de forma a parecer que nada tinha sumido. Ele não gostava desse tipo de serviço sujo, mas se tinha acelerado, significava que alguém estava chegando, só esperava que não fosse a polícia.
rapidamente saiu correndo, deixando as chaves em cima do balcão, como se a filha do joalheiro tivesse esquecido e deixado a porta aberta antes de sair. Culpariam o cliente que a distraíra.
Ao chegar do lado de fora, se deparou com uma cena que ele nunca teria previsto. estava atrás de uma dupla de policiais, prontos para prendê-lo.
- O que? - Ele sussurrou olhando para ela. - Como pode?
estava com uma expressão ilegível. Ela olhou para o primo sendo colocado no carro e sabia que ele era apenas o primeiro. Logo seu tio e seu pai iriam junto para a prisão.
Ela deu as costas, era demais olhar. Como ela tinha sido capaz de trair a própria família?
- Parabéns. Você está livre. - Ele se aproximou dela com uma expressão dura no rosto.
odiava aquele homem. Um homem que um dia ela tinha aprendido a amar e que agora só tinha raiva. Seus dedos tocaram a sua pele quando ela devolveu o telefone que estivera com ela nos últimos seis meses. Aquela tinha sido a forma de contato que Jonas tivera com a garota, sua forma de controle. Sua barganha para não passar o resto dos seus dias na prisão: ter todas as suas conversas grampeadas e seus passos rastreados.
Ela queria dar um soco na cara daquele homem. Jonas tinha sido um bom amante por meses, mas assim que descobrira a ligação dela com a Máfia, deu um jeito de procurar uma sujeira no passado de .
Ela não se orgulhava do que tinha feito quatro anos antes, mas tinha sido sua única forma de ir embora do negócio da família. Era irônico como que, para sair do mundo do crime, ela precisou fazer algo ilegal. Roubar as provas do vestibular tinha sido um crime pequeno perto do que seu pai já tinha cometido e, exatamente por isso, Jonas fez o trato com ela: sua família pela sua liberdade.
foi direto para o aeroporto. Ela sabia que precisaria fugir do país ou a máfia iria atrás dela. tinha sido preso e não era segredo que eles estavam trabalhando juntos. O primo não seria tão idiota quanto ela de delatar a família e Jonas não iria prender todos a ponto de ela estar a salvo.
Enquanto entrava no avião, percebeu que ela nunca estaria solta de verdade. Ela não seria capaz de perdoar a si mesma. Conviver com aquele ato não era liberdade, era outro tipo de prisão, um mais cruel do que a prisão perpétua.
Agora, estava presa a si mesma, até que não estivesse mais.





Fim



Nota da autora: Sem nota.




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