Finalizada em: 18/10/2019

Capítulo Único

When I look at old stuff, lookin' like it’s over
Quando eu olho pra coisas antigas, parece que acabou
Lookin' like I'm never gonna be that again
Parece que eu nunca vou ser desse jeito de novo Crying over old loves, even though they’re over
Choro por amores antigos, mesmo que tenham acabado
Never gonna stay friends, yeah, stay friends
Nunca vamos manter a amizade, é, manter a amizade



encarou o reflexo em seu espelho. Observou cada detalhe familiar daquela maquiagem e a forma que ocultava tanta coisa. Se pudesse ser comparado a algo, poderia ser a uma moeda. Uma pessoa com duas faces. Enquanto estava no picadeiro, os seus colegas de trabalho, crianças e adultos, acreditavam que ele era a pessoa mais feliz do mundo, mas a realidade era outra. Quantas vezes levantava da cama desejando desaparecer do mundo? Quantas vezes queria chorar até secar todas as lágrimas de seu corpo? E ainda digo mais, no final, conseguia rir e brincar no picadeiro exalando felicidade.
Isso o assustava profundamente.
Ele começou a remover a maquiagem que fazia parte do Palhaço Brigadeiro, retornando ao seu verdadeiro eu e, psicológico ou não, parecia que a tristeza voltava a fazer morada em seu interior. Às vezes queria assumir apenas a face do palhaço e esquecer todos os seus problemas, as suas dores, desamores.
Quando vestia sua fantasia colorida, fazia sua maquiagem e colocava o nariz vermelho, tornava-se muito fácil fingir estar feliz quando não estava.



They think I'm happy
Eles acham que estou feliz
They think I'm happy when I'm sad
Eles acham que estou feliz quando estou triste
They think I'm happy
Eles acham que estou feliz
They think I'm happy when I'm
Eles acham que estou feliz quando estou
They think I'm happy
Eles acham que estou feliz
They think I’m happy when I’m sad
Eles acham que estou feliz quando estou triste
They think I'm happy
Eles acham que estou feliz
They think I’m happy when I'm
Eles acham que estou feliz quando estou



A porta do trailer foi aberta com um rangido metálico, fazendo-o virar e olhar para um de seus colegas. Avistou enquanto o seu belo rosto feminino, que lhe machucava todas às vezes em que tinha que olhá-lo, esperava ansiosamente por ele.
― Vamos comer, garotão? - Perguntou num tom de implicância que costumava ser muito comum entre eles.
revirou os olhos, mas abriu um sorriso divertido enquanto virava-se novamente para o espelho. Limpou um último resquício da maquiagem branca e agarrou sua carteira. Quando atravessou a porta e saiu à luz do luar, respirou o ar fresco da noite e adiantou-se até alcançar que já estava andando pelo circo.
― Ei, me espera! - Pediu ao alcançá-la e seguir ao seu lado, respirou fundo algumas vezes tentando recuperar o fôlego da pequena corrida.
― Pernas longas e estômago vazio. - A jovem brincou dando de ombros e voltando a prestar a atenção no trajeto.
A noite na cidade de Santos estava bem fresca e o vento que era muito bem-vindo, bagunçava os cabelos de ambos. Caminhavam tranquilamente, como se não tivessem pressa de chegar em algum lugar.
― A estreia foi boa, né?
― Uhum. - murmurou distraído.
encarou-o com a testa franzida e soltou um suspiro. Ela caminhava com os braços cruzados na frente do corpo enquanto o rapaz estava com as dele, enfiadas nos bolsos da bermuda jeans.
― Ela deu sinal de vida? - Sussurrou envergonhado enquanto evitava encarar a amiga.
A jovem franziu a testa novamente e desviou a atenção da rua que caminhavam. Ignorou bravamente o estômago que roncava, encarou o amigo e suspirou tristemente. Ela achava que já tinha superado a perda da irmã da jovem, todos achavam. Olhando-o naquele picadeiro, todos poderiam acreditar que ele estava feliz, mas parecia que não.
― Não. - Mentiu.
Ele parou abruptamente e encarou-a nos olhos por longos segundos.
Ela esperou a inspeção, torcendo para que tivesse se tornado uma ótima mentirosa.
― Você não precisa mentir, Mari. - Falou calmamente e recebeu silêncio como resposta. E reafirmou. ― Eu estou bem.
Ela parou repentinamente e ele chegou a se afastar alguns passos, até que parou e se virou.
― Não está com fome?
Ela soltou mais um suspiro e que estava a irritando, pois tornou-se um hábito.
― Você tem que superar. - Avisou.
― E eu superei, Mari. - Mentiu e forçou um sorriso.
― Mentiroso! - Acusou-o enquanto lançava um olhar acusatório. ― Você quase me enganou, . Quando está no picadeiro, você consegue enganar a todos.
coçou a cabeça nervoso e encarou-a com uma pontada no coração.
― Pensei que todos acreditassem…
― Eles sim. Não eu. - Ela deu de ombros e voltou a caminhar.
Naquela noite, jantaram hambúrguer e conversaram sobre qualquer assunto que levasse para fora das lonas do circo.


Can't look how we made it, say congratulations
Não sei como nós chegamos aqui, nos dão os parabéns
Lookin' like I’ll never be lonely again
Parece que eu nunca vou ficar sozinho de novo
See me in the mirror, nothin' ever changes
Me vejo no espelho, nada muda
Never see the sunset, only in my head
Nunca vejo o pôr do Sol, só na minha cabeça



Mais uma noite de espetáculo em Santos. estava na frente do espelho, todo o material que usava para se transformar no Palhaço Brigadeiro estava à sua frente, mas ele não conseguia se mexer. Os olhos ainda estavam avermelhados pelas horas de choro e uma aura de tristeza estava ao seu redor. Todos os seus poros exalavam uma dor tão grande, tão profunda e que parecia difícil superá-la algum dia.
Ele precisava de paz.
Queria não ver tantas pessoas numa mesma noite. Queria apenas o silêncio da sua respiração. Queria ao menos uma vez, olhar-se no espelho e perceber que algo havia mudado, mas nada mudou.
Quis tanta coisa e só sofreu.
Como uma busca desesperada por alimento, pegou as maquiagens e começou a pintar a sua pele. Ele ansiava pela paz que o Palhaço Brigadeiro proporciona, ao menos por algumas horas poderia fingir ser feliz.



I put on a smile, don't need a face-lift
Eu coloco um sorriso, não preciso de botox
Why can't I when everybody fakes it?
Por que eu não posso fingir, se todo mundo faz isso?



― Vocês estão prontos? - Perguntou enquanto abria um enorme sorriso no rosto pintado e ouvia o grito de milhares de vozes em resposta.
A plateia estava lotada por pessoas de todas as idades, a energia que emanava era contagiante. Ali, a alegria vinha na mais pura essência e ela é o seu combustível.
Quando sorriu, tentou acreditar que estaria tudo bem fingir. Todos faziam isso, por que não ele?



Well, they think I'm happy
Bem, eles acham que estou feliz Like they know exactly how I feel
Como se eles soubessem exatamente como me sinto
It ain't real, but they still think
Isso não é real, mas eles ainda acham



Na coxia, assistia atentamente à apresentação do Palhaço Brigadeiro. Um sorriso divertido estava em seu rosto, mas os olhos derramavam lágrimas de tristeza. Observava atentamente o rosto do rapaz e ali, mesmo que ele estivesse com um enorme sorriso e fazendo diversas brincadeiras com a plateia, o olhar não a enganava.
O olhar do rapaz tinha uma sombra de sofrimento e isso, partiu o coração da garota. o amava tão profundamente e não sentia-se capaz de ajudá-lo. Há meses, desde a fuga da irmã mais velha e noiva de , vem acompanhando a forma que ele finge estar feliz e, o pior, todos acreditavam. Tentou alertar a todos, mas os colegas não conseguiam acreditar que aquele palhaço tão dedicado e divertido escondia um sofrimento por trás de toda aquela maquiagem.
Ali, aguardando a sua vez de entrar em cena, ela desejou que em algum momento voltasse a ser realmente feliz.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.

Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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