Capítulo Único
Apertei o copo de plástico vermelho em minha mão, quase não conseguindo controlar que ele se rasgasse. A música, que antes quase estourava meus tímpanos, ficou abafada quando meus olhos pousaram naquele rosto que não via há anos.
Pertíssimo da porta, ele cumprimentava seus amigos de longa data: Stan, Joseph e Jace. Ele parecia leve, despreocupado, e muito diferente do que era três anos atrás. Seu cabelo pretíssimo, que antes ia até metade do seu pescoço, agora era curto e possuía um pequeno topete na frente. Ele usava uma camisa vermelha com estampa de um lobo uivando e uma calça jeans preta, além de botas coturno e um relógio. Estava com o corpo mais definido e com a postura mais correta e seus dentes, antes tortos, eram agora alinhados e brilhantes.
O que você faria ao rever a única pessoa que amou romanticamente depois de anos do seu terrível término, o qual se arrepende e pensa sobre até hoje?
Porque eu não sei a resposta.
E, quando ele olhou para o lado e me notou, tudo que consegui fazer foi virar de costas e fechar os olhos em desespero.
Três anos atrás...
encarou-me com os olhos azul-acinzentado marejados e com a expressão confusa. Estávamos em meu quarto, sentados em minha cama com as pernas cruzadas, terminando. Uma relação que durara o Ensino Médio inteiro, mas que eu simplesmente não conseguia ver sobrevivendo enquanto estivéssemos na faculdade.
― Então eu sou apenas um peso para você, hein? ― ele questionou-me de maneira amargurada, não conseguindo olhar-me nos olhos.
― , não é isso... Eu só... eu preciso focar. Preciso me dar bem nessa graduação em Biologia para poder entrar na faculdade de Medicina de Harvard, é o meu sonho e você sabe disso! ― eu tentava me justificar, mas conseguia ver que só conseguia trazer desgosto para ele.
― Eu sei que é seu sonho, , e eu te aplaudo por ter tanta ambição para segui-lo, só nunca pensei que eu seria uma pedra no caminho para que ele se realizasse. Já te atrapalhei nos seus estudos quando estávamos no Ensino Médio?
― Não! Mas , é a faculdade, vou ter que focar muito mais e não terei tempo para você e nosso namoro. ― quanto mais eu tentava explicar isso para ele, pior ele parecia ficar.
― , você sabe que eu quero ficar com você independente de tudo isso. Se eu tiver que esperar semanas para nos vermos, tudo bem, desde que eu esteja com você, eu não me importo com essas coisas. Eu te amo. ― se acalmou um pouco e se declarou, pousando suas mãos em cima das minhas, fazendo-me suspirar.
Não queria deixá-lo ir. Minha vida se iluminava com sua companhia e cada átomo do meu corpo dizia que eu estava fazendo a coisa errada, mas eu não escutei. Fui mais forte do que meus pensamentos sobre todas as coisas que passamos, todos os beijos e todas as declarações, os bailes comparecidos, os olhares, o sentimento.
― Mas eu me importo. ― disse, baixinho, ignorando a última frase que tinha saído da sua boca sem nem o responder.
― Tudo bem, então. ― seu suspiro foi pesado. ― Se é o que quer, não vou mais insistir.
saiu da cama e pegou sua jaqueta jeans destroyed, preparando-se para sair, com a expressão nada boa.
― Por favor, não fique bravo. ― supliquei, sentindo as lágrimas dominarem meus olhos, quase me arrependendo de estar fazendo aquilo.
― Não estou bravo, . ― abriu um sorriso triste e se aproximou de mim, enchendo suas mãos com meus cabelos cacheados e beijando minha testa, logo acariciando minha bochecha. ― Espero que você consiga realizar todos os seus sonhos.
Assenti e murmurei um “obrigada", que ele aparentemente não ouviu e observei cada passo que deu até a porta, desaparecendo do meu campo de visão pelos próximos três anos.
Hoje
Tentei me distrair da presença de meu ex. Fui pegar mais bebida para encher meu copo e, após, o meu fígado; conversei com conhecidos e até com desconhecidos, mas assim que senti um toque delicado em meu ombro, já sabia muito bem a quem pertencia aquela mão.
― , é bom te ver! ― ele me cumprimentou com um sorriso descontraído, assim que me virei para vê-lo e abraçá-lo como se fosse apenas um velho amigo.
― Ei , é bom te ver, também. ― respondi, com a voz claramente trêmula, mas fazendo o meu máximo para que meu sorriso parecesse normal.
― Caramba, quanto tempo que não te vejo. ― disse, ou gritou, devido à música altíssima. ― Como você está?
― Estou bem. ― respondi, sentindo a necessidade estranha de falar mais. ― Bem ocupada, não deveria nem estar aqui, tenho uma prova amanhã.
― Uau, não parece com a que eu conhecia. ― observou, mas sem ser irônico ou rude, ele apenas riu e continuou a parecer interessado.
― Ah, mas não é uma prova importante, é uma disciplina que já estou passada. ― me defendi, cada vez mais me sentindo mais solta e natural, como se os anos não tivessem passado e eu não tivesse quebrado o seu, e o meu próprio, coração. ― Mas e você, como tem passado?
― Muito bem, acabei mudando o curso que eu queria no fim do segundo ano, graças a Deus em tempo, e estou fazendo Engenharia Hídrica. ― contou animadamente.
― Caramba, nunca pensei que você desistiria da Engenharia Civil. ― falei, realmente surpresa com o fato. ― Continua aqui na UMass?
― Sim, continuo. ― respondeu, assentindo e sorrindo. ― É uma surpresa que nunca te vejo por aí.
― Pois é, mas o prédio da Engenharia e o das Ciências são um em cada canto do campus. ― ri fraquinho, sem saber mais o que falar. Notando isso, e provavelmente se sentindo da mesma maneira, respirou fundo e botou uma mão no bolso da calça e outra em meu ombro.
― Bem, espero te ver por aí mais vezes antes de nos formarmos. ― disse, abrindo aquele sorriso torto que sempre me matava.
― É, eu também. ― retribuí o sorriso e, por um segundo, podia jurar um brilho extra em seus olhos azuis antes de sair de perto.
Isso tudo aconteceu no começo da noite. Tentei me recuperar, realmente tentei, mas não consegui. Fiz de tudo: dancei com outros caras, conversei com as minhas amigas, bebi tudo o possível antes de ficar bêbada, mas absolutamente nada tirou e a nossa conversa de minha mente.
Por que eu estava me sentindo desse jeito? Já tinha se passado três anos. Três! Durante todo esse tempo, afundei minha cabeça em livros e trabalhos e prazos para que ele saísse da minha mente, para que aquele sentimento de arrependimento saísse de mim. Na maioria das vezes funcionava, mas sempre me pegava em um momento pensando nele. E agora, encontrando ele nessa festa, fazia tudo piorar.
Precisei me afastar daquele ambiente por uns minutos. A sorte é que as donas daquela casa faziam parte de uma fraternidade e muitas delas eram minhas amigas, então já estive naquele lugar milhares de vezes e sabia o caminho até o jardim. Tudo que eu necessitava naquele momento era um ar puro, ficar perto de flores e longe da música, respirar fundo e me concentrar.
O que eu e tivemos no Ensino Médio não foi apenas um namoro entre dois adolescentes. Foi o sentimento mais intenso que já tive a oportunidade de experimentar. Durante aqueles quatro anos, ele nunca deixou de aparecer em um sábado, na minha casa, carregando um buquê de flores (que variavam de acordo com a semana), balas ou bombons, e um pequeno presente. Eu nunca perdi um jogo de futebol americano sequer, e ele nunca perdeu minhas maratonas de conhecimento. Fomos um daqueles casais improváveis de filmes adolescentes. Eu, o cérebro, sempre atenta e com as melhores notas; ele, o atleta galã que atraía a atenção de todos na escola, que se fazia de burro para manter a reputação, mas que no fundo era inteligentíssimo e muito gentil.
Nós superamos tudo; as fofocas, as diferenças, os desencorajamentos. Todos diziam que não funcionaria, mas nós provamos que eles estavam errados. Fomos o tipo de “casal modelo” da escola, aquele que todos queriam ser... pelo menos até eu terminar com ele.
Por anos eu me perguntei se tinha feito a escolha certa. Claro, a Medicina era o meu sonho e eu precisava focar no curso de Biologia, mas ele realmente atrapalharia esse sonho? Afinal, na realidade, tudo que ele sempre fez foi me apoiar e me incentivar. Talvez eu precisasse daquilo, alguém que acreditasse no melhor de mim quando eu mesma não acreditava. E muitos momentos assim aconteceram durante a faculdade, aqueles em que eu pensei em desistir. Eles com certeza teriam sido muito mais fáceis com do meu lado.
Contudo, nunca tive a coragem de pegar meu telefone e ligar para ele para dizer que estava com saudades, que precisava dele. Meu orgulho era maior do que tudo no mundo e eu nunca seria capaz de dizer aquelas palavras em alto e bom som.
Mas adivinhe quem atrapalhou esse meu momento de reflexão?
Isso mesmo.
.
Eu estava sentada em um balanço, cabisbaixa e pensativa, até ver aquele corpo atlético e olhos grandes e brilhantes me encarando. Como que depois de tanto tempo ele ainda conseguia me derreter daquele jeito?
― Oi de novo. ― ele cumprimentou, rindo fraco e logo apontando para o balanço ao meu lado. ― Se importa se eu me juntar a você?
― Claro que não, pode sentar. ― respondi, mas sem olhar para ele, e sim para o assento vago ao meu lado que não demorou em ser ocupado.
― Então, você também quis dar um tempo daquela festa? ― ele convenientemente perguntou, olhando diretamente para mim.
― Yep. Ironicamente, o som alto nunca me ensurdeceu, só me deu falta de ar. ― eu ri e ele também, mas logo voltei a ficar séria e a suspirar. Por algum motivo, quis falar a verdade. ― Na verdade, , vim aqui por sua causa.
― Ah, sério? ― ele parecia surpreso e bastante confuso, o que me destruiu por completo; sua expressão confusa era igual a de um cãozinho que deita a cabeça para o lado e franze o cenho. Assenti, confirmando minha fala, e ele pareceu me analisar. ― Bem curioso... porque vim aqui por sua causa, também.
― O que? Por quê? ― eu fiquei em completo choque, mas permaneceu sereno.
― Não sei... ― ele encolheu os ombros. ― Só te ver ali, depois de todos esses anos... meio que me afetou.
― É, isso aconteceu comigo também. ― disse. ― Mas você parecia tão calmo quando foi falar comigo.
― Ah, você sabe como sou. Externamente eu pareço calmo, mas internamente estou gritando. ― brincou, mesmo que eu soubesse que ele estava falando sério.
― Ah, é? ― ergui uma sobrancelha e ri de sua brincadeira, provocadoramente.
― Ei, só de te ver, estou tremendo um pouco. ― ele me mostrou sua mão trêmula, mas revirei os olhos.
― Aham, como se isso não tivesse nada a ver com o frio. ― eu o instiguei.
― Se não quiser acreditar em mim, tudo bem. ― ele deu de ombros e riu, mas não demorou em desmanchar a expressão, olhar para as estrelas e baixar o olhar para mim de novo. ― E aí, o sonho da medicina ainda está de pé?
― Mais do que um Homo erectus. ― respondi, tentando lançar uma de minhas tiradas inteligentes, mesmo achando que aquela não tinha funcionado muito bem.
― Teve algum... enquanto estivemos separados? ― tive a leve impressão que ele quis dizer “namorado”, mas não teve a coragem.
― Não, ocupada demais. ― disse, balançando a cabeça. ― E você? Alguém na sua vida?
― Talvez uma ou duas. ― entortou o lábio. ― Mas nenhuma no momento.
― Uhum. ― murmurei, assentindo lentamente. Por alguns segundos, ficamos apenas nos olhando enquanto balançávamos suavemente nos balanços, e eu fiquei surpresa que não fiquei enjoada.
Por mais que doesse admitir, nunca conseguiria me enjoar de observar daquele rosto.
Quando deu sinal de que iria sair do balanço por falta de assunto, hesitei um pouco mas não o deixei ir.
― Ei, ... ― chamei sua atenção assim que ele tinha se levantado. ― Quero que você saiba que nunca parei de pensar em nós, ou você e nem no nosso último momento.
― Você se arrepende? ― questionou, como se fosse algo simples de se responder.
― Talvez... ― respondi um tanto quanto estática, respirando bem fundo, fechando os olhos e colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. ― Sim.
― Que bom. ― ele sorriu. ― Porque eu sinto sua falta.
Aquilo me surpreendeu positivamente. Não fiquei nervosa ou ansiosa, dessa vez, meu sorriso foi genuíno.
― Você acha que talvez... algum dia... nós possamos nos encontrar e resolver tudo isso? ― foi a minha vez de fazer a pergunta, e não me arrependi nadinha.
― Claro, . Quando você quiser. ― acenou com a cabeça antes de entrar na casa.
― Obrigada. ― agradeci, com um sorriso de orelha à orelha.
E, assim, assisti-o sair do meu campo de visão assim como assisti há anos atrás. Entretanto, dessa vez, não saí com o coração quebrado; mas sim, consertado.
Pertíssimo da porta, ele cumprimentava seus amigos de longa data: Stan, Joseph e Jace. Ele parecia leve, despreocupado, e muito diferente do que era três anos atrás. Seu cabelo pretíssimo, que antes ia até metade do seu pescoço, agora era curto e possuía um pequeno topete na frente. Ele usava uma camisa vermelha com estampa de um lobo uivando e uma calça jeans preta, além de botas coturno e um relógio. Estava com o corpo mais definido e com a postura mais correta e seus dentes, antes tortos, eram agora alinhados e brilhantes.
O que você faria ao rever a única pessoa que amou romanticamente depois de anos do seu terrível término, o qual se arrepende e pensa sobre até hoje?
Porque eu não sei a resposta.
E, quando ele olhou para o lado e me notou, tudo que consegui fazer foi virar de costas e fechar os olhos em desespero.
encarou-me com os olhos azul-acinzentado marejados e com a expressão confusa. Estávamos em meu quarto, sentados em minha cama com as pernas cruzadas, terminando. Uma relação que durara o Ensino Médio inteiro, mas que eu simplesmente não conseguia ver sobrevivendo enquanto estivéssemos na faculdade.
― Então eu sou apenas um peso para você, hein? ― ele questionou-me de maneira amargurada, não conseguindo olhar-me nos olhos.
― , não é isso... Eu só... eu preciso focar. Preciso me dar bem nessa graduação em Biologia para poder entrar na faculdade de Medicina de Harvard, é o meu sonho e você sabe disso! ― eu tentava me justificar, mas conseguia ver que só conseguia trazer desgosto para ele.
― Eu sei que é seu sonho, , e eu te aplaudo por ter tanta ambição para segui-lo, só nunca pensei que eu seria uma pedra no caminho para que ele se realizasse. Já te atrapalhei nos seus estudos quando estávamos no Ensino Médio?
― Não! Mas , é a faculdade, vou ter que focar muito mais e não terei tempo para você e nosso namoro. ― quanto mais eu tentava explicar isso para ele, pior ele parecia ficar.
― , você sabe que eu quero ficar com você independente de tudo isso. Se eu tiver que esperar semanas para nos vermos, tudo bem, desde que eu esteja com você, eu não me importo com essas coisas. Eu te amo. ― se acalmou um pouco e se declarou, pousando suas mãos em cima das minhas, fazendo-me suspirar.
Não queria deixá-lo ir. Minha vida se iluminava com sua companhia e cada átomo do meu corpo dizia que eu estava fazendo a coisa errada, mas eu não escutei. Fui mais forte do que meus pensamentos sobre todas as coisas que passamos, todos os beijos e todas as declarações, os bailes comparecidos, os olhares, o sentimento.
― Mas eu me importo. ― disse, baixinho, ignorando a última frase que tinha saído da sua boca sem nem o responder.
― Tudo bem, então. ― seu suspiro foi pesado. ― Se é o que quer, não vou mais insistir.
saiu da cama e pegou sua jaqueta jeans destroyed, preparando-se para sair, com a expressão nada boa.
― Por favor, não fique bravo. ― supliquei, sentindo as lágrimas dominarem meus olhos, quase me arrependendo de estar fazendo aquilo.
― Não estou bravo, . ― abriu um sorriso triste e se aproximou de mim, enchendo suas mãos com meus cabelos cacheados e beijando minha testa, logo acariciando minha bochecha. ― Espero que você consiga realizar todos os seus sonhos.
Assenti e murmurei um “obrigada", que ele aparentemente não ouviu e observei cada passo que deu até a porta, desaparecendo do meu campo de visão pelos próximos três anos.
Tentei me distrair da presença de meu ex. Fui pegar mais bebida para encher meu copo e, após, o meu fígado; conversei com conhecidos e até com desconhecidos, mas assim que senti um toque delicado em meu ombro, já sabia muito bem a quem pertencia aquela mão.
― , é bom te ver! ― ele me cumprimentou com um sorriso descontraído, assim que me virei para vê-lo e abraçá-lo como se fosse apenas um velho amigo.
― Ei , é bom te ver, também. ― respondi, com a voz claramente trêmula, mas fazendo o meu máximo para que meu sorriso parecesse normal.
― Caramba, quanto tempo que não te vejo. ― disse, ou gritou, devido à música altíssima. ― Como você está?
― Estou bem. ― respondi, sentindo a necessidade estranha de falar mais. ― Bem ocupada, não deveria nem estar aqui, tenho uma prova amanhã.
― Uau, não parece com a que eu conhecia. ― observou, mas sem ser irônico ou rude, ele apenas riu e continuou a parecer interessado.
― Ah, mas não é uma prova importante, é uma disciplina que já estou passada. ― me defendi, cada vez mais me sentindo mais solta e natural, como se os anos não tivessem passado e eu não tivesse quebrado o seu, e o meu próprio, coração. ― Mas e você, como tem passado?
― Muito bem, acabei mudando o curso que eu queria no fim do segundo ano, graças a Deus em tempo, e estou fazendo Engenharia Hídrica. ― contou animadamente.
― Caramba, nunca pensei que você desistiria da Engenharia Civil. ― falei, realmente surpresa com o fato. ― Continua aqui na UMass?
― Sim, continuo. ― respondeu, assentindo e sorrindo. ― É uma surpresa que nunca te vejo por aí.
― Pois é, mas o prédio da Engenharia e o das Ciências são um em cada canto do campus. ― ri fraquinho, sem saber mais o que falar. Notando isso, e provavelmente se sentindo da mesma maneira, respirou fundo e botou uma mão no bolso da calça e outra em meu ombro.
― Bem, espero te ver por aí mais vezes antes de nos formarmos. ― disse, abrindo aquele sorriso torto que sempre me matava.
― É, eu também. ― retribuí o sorriso e, por um segundo, podia jurar um brilho extra em seus olhos azuis antes de sair de perto.
Isso tudo aconteceu no começo da noite. Tentei me recuperar, realmente tentei, mas não consegui. Fiz de tudo: dancei com outros caras, conversei com as minhas amigas, bebi tudo o possível antes de ficar bêbada, mas absolutamente nada tirou e a nossa conversa de minha mente.
Por que eu estava me sentindo desse jeito? Já tinha se passado três anos. Três! Durante todo esse tempo, afundei minha cabeça em livros e trabalhos e prazos para que ele saísse da minha mente, para que aquele sentimento de arrependimento saísse de mim. Na maioria das vezes funcionava, mas sempre me pegava em um momento pensando nele. E agora, encontrando ele nessa festa, fazia tudo piorar.
Precisei me afastar daquele ambiente por uns minutos. A sorte é que as donas daquela casa faziam parte de uma fraternidade e muitas delas eram minhas amigas, então já estive naquele lugar milhares de vezes e sabia o caminho até o jardim. Tudo que eu necessitava naquele momento era um ar puro, ficar perto de flores e longe da música, respirar fundo e me concentrar.
O que eu e tivemos no Ensino Médio não foi apenas um namoro entre dois adolescentes. Foi o sentimento mais intenso que já tive a oportunidade de experimentar. Durante aqueles quatro anos, ele nunca deixou de aparecer em um sábado, na minha casa, carregando um buquê de flores (que variavam de acordo com a semana), balas ou bombons, e um pequeno presente. Eu nunca perdi um jogo de futebol americano sequer, e ele nunca perdeu minhas maratonas de conhecimento. Fomos um daqueles casais improváveis de filmes adolescentes. Eu, o cérebro, sempre atenta e com as melhores notas; ele, o atleta galã que atraía a atenção de todos na escola, que se fazia de burro para manter a reputação, mas que no fundo era inteligentíssimo e muito gentil.
Nós superamos tudo; as fofocas, as diferenças, os desencorajamentos. Todos diziam que não funcionaria, mas nós provamos que eles estavam errados. Fomos o tipo de “casal modelo” da escola, aquele que todos queriam ser... pelo menos até eu terminar com ele.
Por anos eu me perguntei se tinha feito a escolha certa. Claro, a Medicina era o meu sonho e eu precisava focar no curso de Biologia, mas ele realmente atrapalharia esse sonho? Afinal, na realidade, tudo que ele sempre fez foi me apoiar e me incentivar. Talvez eu precisasse daquilo, alguém que acreditasse no melhor de mim quando eu mesma não acreditava. E muitos momentos assim aconteceram durante a faculdade, aqueles em que eu pensei em desistir. Eles com certeza teriam sido muito mais fáceis com do meu lado.
Contudo, nunca tive a coragem de pegar meu telefone e ligar para ele para dizer que estava com saudades, que precisava dele. Meu orgulho era maior do que tudo no mundo e eu nunca seria capaz de dizer aquelas palavras em alto e bom som.
Mas adivinhe quem atrapalhou esse meu momento de reflexão?
Isso mesmo.
.
Eu estava sentada em um balanço, cabisbaixa e pensativa, até ver aquele corpo atlético e olhos grandes e brilhantes me encarando. Como que depois de tanto tempo ele ainda conseguia me derreter daquele jeito?
― Oi de novo. ― ele cumprimentou, rindo fraco e logo apontando para o balanço ao meu lado. ― Se importa se eu me juntar a você?
― Claro que não, pode sentar. ― respondi, mas sem olhar para ele, e sim para o assento vago ao meu lado que não demorou em ser ocupado.
― Então, você também quis dar um tempo daquela festa? ― ele convenientemente perguntou, olhando diretamente para mim.
― Yep. Ironicamente, o som alto nunca me ensurdeceu, só me deu falta de ar. ― eu ri e ele também, mas logo voltei a ficar séria e a suspirar. Por algum motivo, quis falar a verdade. ― Na verdade, , vim aqui por sua causa.
― Ah, sério? ― ele parecia surpreso e bastante confuso, o que me destruiu por completo; sua expressão confusa era igual a de um cãozinho que deita a cabeça para o lado e franze o cenho. Assenti, confirmando minha fala, e ele pareceu me analisar. ― Bem curioso... porque vim aqui por sua causa, também.
― O que? Por quê? ― eu fiquei em completo choque, mas permaneceu sereno.
― Não sei... ― ele encolheu os ombros. ― Só te ver ali, depois de todos esses anos... meio que me afetou.
― É, isso aconteceu comigo também. ― disse. ― Mas você parecia tão calmo quando foi falar comigo.
― Ah, você sabe como sou. Externamente eu pareço calmo, mas internamente estou gritando. ― brincou, mesmo que eu soubesse que ele estava falando sério.
― Ah, é? ― ergui uma sobrancelha e ri de sua brincadeira, provocadoramente.
― Ei, só de te ver, estou tremendo um pouco. ― ele me mostrou sua mão trêmula, mas revirei os olhos.
― Aham, como se isso não tivesse nada a ver com o frio. ― eu o instiguei.
― Se não quiser acreditar em mim, tudo bem. ― ele deu de ombros e riu, mas não demorou em desmanchar a expressão, olhar para as estrelas e baixar o olhar para mim de novo. ― E aí, o sonho da medicina ainda está de pé?
― Mais do que um Homo erectus. ― respondi, tentando lançar uma de minhas tiradas inteligentes, mesmo achando que aquela não tinha funcionado muito bem.
― Teve algum... enquanto estivemos separados? ― tive a leve impressão que ele quis dizer “namorado”, mas não teve a coragem.
― Não, ocupada demais. ― disse, balançando a cabeça. ― E você? Alguém na sua vida?
― Talvez uma ou duas. ― entortou o lábio. ― Mas nenhuma no momento.
― Uhum. ― murmurei, assentindo lentamente. Por alguns segundos, ficamos apenas nos olhando enquanto balançávamos suavemente nos balanços, e eu fiquei surpresa que não fiquei enjoada.
Por mais que doesse admitir, nunca conseguiria me enjoar de observar daquele rosto.
Quando deu sinal de que iria sair do balanço por falta de assunto, hesitei um pouco mas não o deixei ir.
― Ei, ... ― chamei sua atenção assim que ele tinha se levantado. ― Quero que você saiba que nunca parei de pensar em nós, ou você e nem no nosso último momento.
― Você se arrepende? ― questionou, como se fosse algo simples de se responder.
― Talvez... ― respondi um tanto quanto estática, respirando bem fundo, fechando os olhos e colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. ― Sim.
― Que bom. ― ele sorriu. ― Porque eu sinto sua falta.
Aquilo me surpreendeu positivamente. Não fiquei nervosa ou ansiosa, dessa vez, meu sorriso foi genuíno.
― Você acha que talvez... algum dia... nós possamos nos encontrar e resolver tudo isso? ― foi a minha vez de fazer a pergunta, e não me arrependi nadinha.
― Claro, . Quando você quiser. ― acenou com a cabeça antes de entrar na casa.
― Obrigada. ― agradeci, com um sorriso de orelha à orelha.
E, assim, assisti-o sair do meu campo de visão assim como assisti há anos atrás. Entretanto, dessa vez, não saí com o coração quebrado; mas sim, consertado.
Fim
Nota da autora: Oi, pessoal! Sou eu aqui, com MAIS UM ficstape HAHAHAHA. Esse foi bem curtinho, eu sei, mas eu amo TANTO essa música que precisei escrever algo inspirado nela! Sou meio insegura com a minha própria criatividade, então ainda não acho que ficou a altura, mas espero que tenha sido bom o suficiente para entreter vocês. "Mas e agora Ella, eles ficaram juntos ou não?" Bem, isso vai ao critério de vocês. Eles resolveram as coisas e voltaram, resolveram e não voltaram, não resolveram e nem voltaram... O que vocês acharem melhor! É a interpretação de vocês <3 Enfim, espero que tenham gostado, e não esqueçam de comentar! Amo muito vocês e até a próxima ^~^
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