09. Thought Of You
Finalizada em: 19/06/2018

Capítulo I

FLASHBACK ON
A jovem padawan permanecia ajoelhada em meio aos escombros. Fitando o chão, deixava que suas lágrimas escorressem pelo rosto sujo de fuligem sem se importar em estar com os sentimentos à flor da pele.
Sabia que um Jedi nunca podia se entregar a emoções tão profundas, mas a dor e a tristeza a dominavam sem que ela sequer pudesse lutar contra. Soluçando, olhou na direção por onde Ben havia ido, lembrando-se de suas últimas palavras e apertou o sabre do rapaz entre os dedos, sentindo uma leve pontada no peito.
Então aquilo era um coração partido? Aquela agonia sufocante? Era assim que as pessoas ficavam após perderem tudo o que mais amavam? Porque era exatamente o que ela sentia e a sensação era a de que nunca se livraria.
Com os dois sabres de luz nas mãos, se levantou, cambaleando por entre a estrutura do templo arruinado pelas mãos de seu antigo melhor amigo. Chorou ainda mais ao ver todos aqueles corpos. Eram apenas crianças.
- Por quê? – murmurou aflita, ainda que soubesse que ninguém escutaria.
queria uma resposta. Ela não entendia como alguém poderia escolher a escuridão. Especialmente ele.
Caminhando mais um pouco, parou a poucos metros das chamas que já tomavam boa parte do local. Fitando as labaredas alaranjadas, pensou no próprio futuro. Para onde iria agora? Ela não tinha mais ninguém. E só de pensar em ficar sozinha mais
uma vez, um calafrio lhe percorreu a espinha.
- Por quê... – disse novamente. – Ben...
Olhou mais uma vez para o sabre dele com pesar. Ela o amava, mas não conseguia entender. Fechando os olhos com força, a garota respirou fundo. Tudo aquilo havia sido inesperado, mas precisava se mover ou não iria sobreviver.
A contragosto, deu as costas para a pilha de tijolos e cimento, começando a caminhar sem rumo. Pensaria nisso depois. Quando já seguia por alguns metros, parou subitamente, voltando metade do corpo na direção dos escombros. De onde estava, pôde sentir muito bem uma oscilação na Força vir de lá.
Estranhando o fato, voltou cautelosamente alguns passos sem tirar os olhos das ruínas. Antes de se aproximar completamente, ouviu um movimento e parou. Então uma mão surgiu de entre os tijolos e pedaços de madeira. Mas não uma mão qualquer e sim uma robótica.
Ao perceber de quem se tratava, arregalou os olhos e correu na direção no momento em que o homem emergia da destruição.
- Mestre Luke! – o chamou quando o Jedi se ajoelhou, olhando para a destruição, abismado. – Mestre Luke...
O Skywalker a encarou ainda com os orbes esbugalhados, como se não acreditasse no que via. se abaixou em sua frente, aliviada por ver o homem que a salvara, vivo. Abriu a boca, mas então viu o dróide R2D2 se aproximar, emitindo bipes frenéticos, demonstrando sua preocupação.
- Onde ele está? – Luke perguntou.
- Ele se foi. – a menina respondeu, encolhendo os ombros. – Eu sinto muito.
- Por que está me pedindo desculpas? – o mais velho questionou.
- Eu não consegui salvá-lo. – ela respondeu, engolindo seco. – Eu tentei, mas eu...
- Ben era meu sobrinho. – ele a interrompeu, balançando a cabeça negativamente. – Se alguém deveria salvá-lo, esse alguém deveria ser eu. Mas eu falhei.
Mordendo o lábio inferior, baixou o rosto, fitando as próprias mãos apoiadas nos joelhos. Em sua mente ela digeria as palavras de Luke. Ele dizia ter falhado, mas a garota sabia que aquela culpa não pertencia apenas a ele. Ela também deveria carregar o fardo de ter permitido que Ben Solo sucumbisse à escuridão.
Sentindo os olhos umedecerem mais uma vez, pensou em dizer algo ao seu mestre, porém, o homem que até agora se mantinha calado, ergueu uma das mãos e tocou em R2D2. os encarou confusa, especialmente, quando o dróide fez um barulho estranho e suas luzes se apagaram.
- O que houve com ele? – perguntou assustada.
- Está em estado de baixa energia. – Luke respondeu sem encará-la.
- Até quando? – a aprendia franziu o cenho.
- Até eu voltar. – o homem finalmente a olhou.
Em seus poucos anos de vida, já havia visto muitos tipos de olhares. Tristes, felizes, surpresos, apaixonados. Viu em si mesma, quando se olhou em alguns reflexos, a solidão e o medo e depois a alegria e o amor. Mas agora, encarando Luke Skywalker face a face, não saberia discernir que tipo de olhar era aquele. Era como se ele não sentisse mais nada e transparecesse apenas um dolorosa angústia infinita.
Pensou em dizer algo mais uma vez, porém, ele foi mais rápido e se levantou. A aprendiz o imitou.
- Para onde o senhor vai? – ousou perguntar.
- Nós vamos para Anch-To. – ele responde, fitando mais uma vez a destruição e as chamas.
- Anch-To? – se surpreendeu. – Mas esse planeta... Lá é onde o primeiro templo Jedi ficava.
- Sim. – Luke a encarou. – Vou terminar o seu treinamento e quando estiver pronta, fará o que sei que tanto deseja.
- O quê? – franziu o cenho sem entender.
- Salvá-lo da escuridão. – ele respondeu apenas.
A padawan encarou seu mestre por longos segundos sem dizer uma única palavra. Na realidade, ela sequer se moveu. Luke havia dito que esperava que ela salvasse Ben das trevas. Mas como uma simples aprendiz conseguiria, se nem ele próprio, o homem mais poderoso que conhecia, havia conseguido?
FLASHBACK OFF

mantinha-se sentada na cadeira de comando de sua nave. Seguia para mais um destino em meio a tantos planetas espalhados pela galáxia sem deixar de, vez ou outra, analisar as coordenadas no visor principal.
Enquanto pilotava, ignorava as luzes dos astros ao redor, concentrando-se no seu objetivo: aprender e se tornar cada vez mais forte na Força. Tudo estava quieto, sem nenhuma outra nave a vista, assim ligou o piloto automático, resolvendo descansar um pouco. Após acionar os botões, se levantou vagarosamente e bocejou.
- Eu poderia dormir por um dia inteiro. – murmurou, enquanto seguia pelos corredores do veículo.
Não era tão grande assim, dessa forma ela logo estava em frente da porta do seu quarto. Apertou o botão do painel na parede e então o metal se abriu, lhe dando passagem. Todavia, antes que adentrasse o recinto, a Jedi parou subitamente, fitando o nada.
- O que... – murmurou com a respiração levemente descompassada.
Como se sentisse um repentino mal-estar, um distúrbio considerável na Força se fez presente. Atormentada por aquela sensação agoniante, a garota correu até sua cama e se sentou no colchão fino. Cruzando as pernas, fechou os olhos e tentou discernir o que se passava.
Lentamente, esvaziou a mente, sentindo sua consciência ser puxada para o estado mais profundo de transe. Ao abrir os olhos se viu do lado de fora da nave, entre os pontos de claridade ao redor. Olhou em volta buscando sua nave, mas esta não estava lá. Havia apenas a Jedi e as estrelas na imensidão negra.
- O que está acontecendo? – se perguntou, preocupada.
Enquanto flutuava em meio ao espaço sideral, sentindo uma estranha leveza em seus membros, a Jedi viu uma imagem se formar em sua frente. No começo era só um espectro, mas logo toda a figura estava lá. Entreabriu os lábios quando o homem virou em sua direção, aparentando estar alguns anos mais velho. Quando ele sorriu para ela, suspirou surpresa.
- Mestre Luke?! – as palavras saíram acompanhadas de um eco que repetia toda a frase um segundo após ser dita.
- Olá, minha cara aprendiz! – o homem respondeu e o efeito em sua voz foi o mesmo. – Há quanto tempo.
- Sim, muito tempo. – ela concordou. – Então, por que esse contato justo agora?
- Será que não posso visitar minha ex-aprendiz? – o mais velho ergueu as sobrancelhas.
- Claro que pode. – balançou a cabeça uma vez. – Mas tenho certeza que não está aqui só para bater um papo.
Apesar de estar feliz em ver seu mestre, afinal não se conectavam há muito tempo, sabia que deveria haver algo a mais. Luke não passaria apenas para dizer um olá. Ela o conhecia bem para saber que o Skywalker tinha um objetivo maior ali.
- Eu senti um distúrbio na Força. – ela revelou. – E é forte.
- Eu estou partindo. – o mestre Jedi foi direto.
- Partindo? – confusa, franziu a testa. – O que quer dizer?
- Em breve me unirei à Força. – dito isso, Luke flutuou pelas estrelas até estar próximo a ela.
arregalou os olhos ao ouvir a sentença. Enquanto seu coração se descompassava, algo em sua mente a impedia de aceitar aquelas palavras. Elas, simplesmente, não poderiam ser verdadeiras.
- Não... isso não faz sentido. – murmurou. – Você está aqui, conectado a mim, não há nada de errado.
- Sim. – ele balançou a cabeça em concordância. – Mas antes de estar aqui ao seu lado, me projetei de Anch-To para Crait.
- Crait? – continuou confusa. – Por quê?
- Para lutar contra Ben. – o homem respondeu após um longo suspiro.
- Ben?! – a mulher se surpreendeu ao ouvir o nome do ex-amigo. – Ele...
- Está atrás da Resistência. – Luke explicou. – Ou do que sobrou dela, pelo menos.
- E os ajudou a escapar. – ela deduziu.
- Foi tempo suficiente para que fugissem. – o mais velho disse.
- Mas e quanto a você? – perguntou preocupada. – Não pode nos deixar agora.
Suspirando mais uma vez, o homem fechou os olhos tentando se manter concentrado o suficiente para que continuasse conectado com sua antiga aprendiz. Havia criado um grande vínculo com e, apesar de ter falhado com o sobrinho, ainda acreditava que ela poderia mudar as coisas. Por isso, naquele momento esqueceu-se de si mesmo, concentrando-se na salvação da galáxia.
- Após concluir o seu treinamento, eu disse que você deveria adquirir mais conhecimento sobre a Força e como ela funciona. – o Jedi continuou, ignorando a preocupação da mais nova. – E você o fez.
- Sim. – confirmou a contragosto. – Disse que, apesar de eu ter me tornado uma Jedi, ainda não estava pronta para salvá-lo.
- Muito bem, sua jornada acaba de chegar ao fim. – a voz do Skywalker saiu mais grave do que antes.
- Quer que... eu vá até ele? – cerrou os punhos, tentando esconder o quanto tremiam.
- Ainda não. – Luke negou.
- Então o quê? – questionou.
- Antes de tentar resgatá-lo, preciso que vá até a Resistência. - O Jedi explicou.
- Por quê? – perguntou, arregalando os olhos ao notar que a figura de Luke se tornava cada vez mais transparente. – Mestre, você...
- Está tudo bem, minha jovem. – Luke sorriu para ela. – Lá vai encontrar alguém que pode ajudá-la. Mas antes precisa treiná-la.
- Não posso fazer isso sem o senhor. – engoliu seco. – Por favor...
- Eu acredito em você. Acredito que será uma grande Mestre Jedi. – o Skywalker disse num tom que tentava transmitir reconforto. – Encontre os outros e comece tudo do zero. Como eu disse, vai encontrar ajuda.
- Acredita mesmo em mim? – a moça mordeu os lábios.
- Eu sempre acreditei. – ele respondeu sem hesitar – Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Nos vemos um dia, minha cara aprendiz. E que a Força esteja com você.
Enquanto as palavras de Luke Skywalker ainda ecoavam pelo espaço sideral, observava sua imagem se esvaindo, semelhante a uma fina neblina matinal. Aos poucos, sentia a Força que tomava conta de cada célula de seu mestre se esvair e em seu lugar ficar apenas um vazio.
Entretanto, apesar de estar partindo, conseguiu sentir a paz que provinha dele. Paz que nunca o vira sentir desde o dia do massacre. E, saber que Luke estava em paz consigo mesmo, a deixava um pouco menos aflita. Pelo menos ele partia sem nenhum peso na alma.
Quando percebeu, estava novamente sozinha em meio a toda aquela imensidão escura. Não havia mais nada, apenas os pontos brilhantes das estrelas e a chama da esperança que permanecia acesa em seu interior, agora ainda mais intensa.
Subitamente, abriu os olhos, deixando que o ar escapasse de uma só vez pelos lábios entreabertos. Fitou o nada por longos segundos, tentando digerir o que acabara de ocorrer, ao mesmo tempo em que buscava sentir Luke. Mas seu mestre não estava mais lá.
De forma inconsciente passou as mãos pelo rosto molhado ao sentir as lágrimas e fungou, tentando não ceder ao desespero mais uma vez. Precisava se concentrar e assim o fez. Se levantou aos tropeços da cama que havia na cabine que chamava de quarto, caminhando pelo recinto.
Foi até sua bolsa pendurada num suporte e retirou seu sabre-bastão de lá prendendo-o no cinto. Em seguida, pegou também uma blaster e a colocou no coldre preso ao quadril. Com pressa, correu pela nave até alcançar a cabine de piloto.
Com agilidade, a jovem Jedi sentou-se na poltrona principal, desativando o piloto automático, assumindo o controle manual. Viajando pela galáxia, tinha em mente tudo o que Luke lhe dissera e, ainda que tivesse certa dúvida, confiava nele.
E como poderia discordar? Ele era seu mestre, o homem mais poderoso e inteligente que conheceu. Tinha fé de que tudo o que o Skywalker dissera daria certo. Mesmo que não pudesse mais senti-lo, faria tudo como ele esperava.
Soltando um longo suspiro, colocou o cinto de segurança, não demorando a acionar os hiperpropulsores. Luke havia dito Crait. Aquele era um pequeno planeta inabitado e a garota sabia pouco a respeito. Apenas tinha em mente que encontraria uma superfície coberta de sal sob a luz de um sol vermelho.
Em questão de segundos, saltou de um lado da galáxia para outro, avistando a esfera esbranquiçada. Era uma bela visão, diga-se de passagem, mas a jovem não tinha tempo para contemplar nada. Precisava se apressar e encontrar os outros. Era lá que alcançaria os rebeldes e se juntaria a eles.
Só aí poderia ir até Ben Solo e trazê-lo de volta para a luz. Ela sabia que ainda havia bondade nele e que, bastava um incentivo para que esse lado voltasse à tona. O conhecia melhor do que ninguém e tinha esperança de que, no fim, o bem venceria.
Pilotando por mais um período, a garota adentrou a atmosfera do planeta, buscando um lugar para pousar e então achar a base da Resistência que havia lá. Não demorou a encontrar um local perto de várias rochas soltas. Pousou com cuidado, logo desatando o cinto e após vestir uma capa sobre a roupa e colocar o capuz, deixou a nave.
Enquanto se desviava das pedras, tentando não escorregar no sal que existia sobre o solo, percebeu que estava no fundo do esconderijo. Devagar, tirou o sabre do cinto, mas não o ativou. Analisou a entrada e quando não detectou nada anormal, entrou na ponta dos pés. No começo tudo estava muito quieto, mas logo a Jedi pôde ouvir várias vozes vindas dos corredores do lugar. Tentou sentir a General Leia, porém, nada veio. Ainda assim, captou outro alguém sensível à Força.
levou um tempo para reconhecer, mas tinha certeza de que aquele poder que sentia era familiar. Todavia, havia algo estranho. Seguindo seus instintos, foi por onde achava que encontraria o usuário. Avançou mais um pouco, sentindo aquela Força se tornar cada vez mais forte e sombria. Então, ela parou em frente de uma das salas abandonadas, pois sabia que era ali que a pessoa estaria.
Olhou para os lados e ao constatar que ninguém vinha, colocou metade do rosto para dentro do lugar, observando quem permanecia lá. No momento que a avistou, arregalou os olhos, sentindo um calafrio lhe percorrer a espinha. Ele estava de costas, mas ainda que sua vestes negras escondem o seu corpo, a garota o reconheceu imediatamente.
Sem acreditar, colocou seu sabre-bastão de volta no cinto e terminou de adentrar o ambiente usando passos leves. Estava extasiada e seu coração parecia querer rasgar o seu peito. A Jedi não saberia dizer que sentimentos eram aqueles, parecia sentir tudo ao mesmo tempo. Porém, não precisava dizer nada. Suas pernas bambas denunciavam isso.


Capítulo II

Enquanto se aproximava do homem, tendo a visão de seus cabelos escuros, levou as mãos trêmulas ao capuz, o retirando da cabeça. Sabia que Luke havia dito que deveria encontrar a Resistência, mas por muitos anos imaginou como aquele momento seria. Não poderia fugir agora quando seu melhor amigo estava ali tão perto.
- Ben... – sua voz ecoou suave.
No mesmo minuto o homem que permanecia abaixado fitando um ponto qualquer, ergueu os olhos. Com o cenho levemente franzido tentou sentir a pessoa que estava atrás de si, mas não obteve sucesso. Era como se ela se escondesse da Força.
Todavia, não precisava senti-la para reconhecê-la. Em qualquer lugar da galáxia que ouvisse a sua voz não teria dúvidas de que era ela. Cerrando os punhos, se levantou e ainda que não entendesse o que a garota fazia ali, se virou em sua direção.
No momento que seus olhares se cruzaram, nenhum deles soube dizer o que foi aquela sensação que os atingiu de uma só vez. Era tão intenso que para a garota foi como ter todo o ar arrancado dos pulmões. Permaneceu estática, o encarando, sem saber o que dizer. Mas como encontraria palavras se aqueles dois orbes castanhos a fitavam de forma tão profunda?
Pensou em dizer algo, porém, ele foi mais rápido e deu dois passos em sua direção sem deixar de encará-la.
- Você... – o homem murmurou.
- Sim. – balançou a cabeça uma vez. – Sou eu.
Então, como se fosse um ímã que é atraído por metal, de forma inconsciente, a Jedi se aproximou dele. Quanto a Ben, mantinha-se parado, apenas observando seus movimentos cautelosos.
Ele não pôde deixar de notar o quanto havia mudado. Suas vestes, que eram largas e com cores neutras, agora se ajustavam melhor ao corpo, carregando cores mais vivas. Botas pretas que iam até o joelho, assim como um macacão amarelado de mangas longas que era coberto pela capa vermelha. Quanto aos cabelos que costumavam sempre estarem presos numa trança, agora permaneciam soltos.
Enquanto ela vinha, tentou senti-la novamente, mais uma vez sem sucesso. Quando parou em sua frente, a poucos passos, notou também que estava alguns centímetros mais alta, ainda que estivesse longe de alcançá-lo. A ouviu respirar fundo e analisou seu rosto, sabendo que a garota estava sem ação. E, de certa forma, ele também estava.
Durante todos os anos que se mantiveram distantes, imaginou como a reencontraria. Ouviu vez após vez Snoke lhe dizer que tivesse paciência, pois um dia ela estaria ao seu lado, todavia, nunca achou que aconteceria daquele jeito. Não depois de tudo que tinha acabado de passar.
Ele era o novo Supremo Líder. Havia perseguido a Resistência até aquele planeta infame apenas para ser humilhado por Luke Skywalker e descobrir que ele sequer se dera o trabalho de vir enfrentá-lo pessoalmente. Para completar, aquela sucateira havia ajudado sua mãe a fugir com o restante dos rebeldes.
No entanto, ter ali melhorava um pouco as coisas. Talvez aquela fosse a chance que tanto quis. Era a oportunidade que precisava para tê-la ao seu lado definitivamente. Afinal, Luke não estaria ali para impedi-los, muito menos Snoke com suas promessas vazias.
- Nunca imaginei que era assim que nos encontraríamos. – ele disse, passando a língua entre os lábios.
- Nem eu. – a garota concordou. – Ben...
- Não! – o homem a interrompeu. – Esse não é meu nome.
- Acha mesmo que vou chamá-lo de Kylo Ren? – franziu o cenho.
- Kylo Ren é quem eu sou de verdade. – respondeu.
- Não. – balançou a cabeça negativamente. – Você é Ben Solo!
- Acha mesmo? – Kylo ergueu as sobrancelhas. – Então me deixe te mostrar uma coisa.
Como da última vez, ele lhe estendeu a mão enluvada. a encarou por longos segundos para depois voltar a fitá-lo com certa hesitação. Não queria ceder ao lado negro. Porém, estava curiosa para saber o que Ben queria lhe mostrar. Mais do que antes, ela sabia se proteger e não perderia o foco. Estava ali para salvá-lo da escuridão e aquele poderia ser o primeiro passo para alcançar seu objetivo.
Respirando fundo, ergueu sua mão esquerda, a pousando suavemente sobre a mão de Kylo, que não tardou a envolvê-la com seus dedos longos. Sem deixar de encarar a mulher a sua frente, a trouxe mais para perto de si e pôde ver a longa cicatriz em seu rosto. Definitivamente, ele estava mais alto e robusto e assim tão de perto a Jedi conseguiu medir a diferença entre eles.
- Onde está sua nave? – ele quis saber.
- No fundo do esconderijo. – disse.
Após ouvir a informação, Kylo balançou a cabeça positivamente e fechou os olhos. sabia que ele se comunicava mentalmente com alguém, provavelmente para passar ordens, por isso esperou. Por fim, o Líder Supremo abriu as pálpebras e a encarou.
- Vamos. – disse, a conduzindo para fora do esconderijo.
A mulher se deixou ser levada pelos corredores do que um dia fora uma base da aliança rebelde. Olhava para os lados vendo apenas o vazio, mas logo avistou alguns stormtroopers revirando o que havia sido deixado para trás. Ao verem Kylo e passarem juntos, alguns olhavam confusos, mas logo voltavam ao seu trabalho ao receberem um olhar severo de seu Líder.
A aprendiz de Luke Skywalker apenas foi e quando percebeu, já estava numa nave grande. O rapaz a guiou até a cabine de controle, onde pelo menos meia dúzia de pessoas sentadas, manuseavam controles e alavancas. De pé, atrás de uma das cadeiras, havia um homem vestido de preto. Seus fios claros estavam perfeitamente alinhados, assim como sua postura.
- Vejo que já está de volta. – disse assim que os viu se aproximando.
- General Hux. – ignorou a fala do outro. – Diga aos que estão lá fora para recuar, vamos voltar para a base.
- Quem é a garota? – o ruivo analisou a Jedi com desconfiança.
- Ninguém que lhe interesse. – Kylo respondeu, fitando o lado de fora pelo vidro. – Apenas faça o que eu disse.
- Como quiser... Supremo Líder. – após um breve acenar de cabeça, o general fez o que Kylo ordenou.
Quanto a , permanecia abismada. Se bem ouvira, aquele homem acabara de chamar Ben de Supremo Líder. Caso não estivesse enganada, esse título pertencia a Snoke. Ainda pensativa, sentiu a aproximação de Kylo e o fitou um pouco surpresa. O rapaz percebeu isso e apoiou uma das mãos em seu ombro, a encarando.
- Sei que está confusa. – disse de uma forma mais branda do que antes. – Mas quando chegarmos, vou explicar tudo.
apenas sacudiu a cabeça uma vez em afirmação. Em seguida, todos foram aconselhados a se sentar e colocar os cintos, pois entrariam no modo de hiperpropulsão. Assim, levariam bem menos tempo para chegar ao local onde havia uma das bases da Primeira Ordem.
A garota se limitou a observar tudo. Os presentes seguiam as ordens de Ben, que permanecia na poltrona central. Seus comandos eram rápidos e precisos e ninguém sequer pensava em questioná-los. Ela podia ver em suas mentes que eram completamente leais àquela causa.
Em determinado momento, a nave onde estavam seguiu um percurso diferente das outras, confundindo a moça, mas esta permaneceu quieta. Quando finalmente chegaram, a nave pousou num local apropriado e logo Kylo Ren estava de pé. Após passar as últimas ordens para o General Hux, foi até . Ao trocarem um olhar indecifrável, ela desatou o cinto e se levantou.
- Disse que queria me mostrar algo. – falou de forma sugestiva. – E então?
- Venha. – Kylo apontou a saída.
Lado a lado deixaram o veículo, seguindo por um longo caminho que os levava até portões negros. Estes foram abertos e então os jovens seguiram a passarela de ladrilhos que cortava um jardim colossal, verde e repleto de árvores. Ao seu fim, ficava uma escadaria de mármore que os levava para a entrada do que, para a usuária da Força, era semelhante a um palácio.
Era enorme, com paredes escuras e vários andares, cheio de janelas e portas de vidro e em algumas delas haviam sacadas. Haviam novos portões negros com o símbolo da Primeira Ordem, que foram abertos antes mesmos que estivessem próximos. Por dentro, o lugar era ainda mais fascinante, mesclando modernidade e bom gosto em todos os móveis e objetos de cores escuras, em sua maioria.
A Jedi olhava tudo com admiração, pensando no quanto deveria ter sido gasto para que todo aquele luxo existisse.
- Achei que iríamos até a base da Primeira Ordem. – ela disse, passando os dedos sobre um móvel de madeira.
- Designei ao General Hux que cuide do assunto enquanto estamos aqui. – Ren explicou. – Antes preciso resolver algo.
Ao entender o sentido daquelas últimas palavras, baixou os olhos, sentindo o rosto queimar. Fazia muito tempo que não se sentia assim, chegava até a ser estranho. Sem mais, seguiram por onde o rapaz mostrou, subindo uma longa escada.
- Esse é o andar onde os quartos ficam. – disse, abrindo uma das portas para ela. – Tome um banho e troque de roupa.
- Ben... – tentou dizer algo.
- Depois conversamos. – ele a interrompeu.
pensou em insistir por mais informações, porém, foi pega de surpresa quando Kylo chegou até ela, erguendo uma das mãos agora sem luvas, e deslizou as costas de seus dedos em seu rosto delicadamente. Arregalando os olhos, a mulher sentiu o coração palpitar com mais velocidade, pois se lembrava muito bem daquele gesto e, até o momento, não tinha ideia do quanto havia sentindo falta dele.
- Até daqui a pouco. – Ben disse e lhe deu as costas, seguindo pelo longo corredor.
Enquanto o via se afastar, a garota permanecia parada na porta de seu quarto, sem saber se entrava ou saía. Após sacudir a cabeça para os lados, adentrou o local, fechando a portar atrás de si. Só então viu a grandiosidade do recinto. Algo que ela jamais pensou que um dia usufruiria.
Andando a passos curtos, analisou os detalhes das paredes brancas com quadros enormes. No outro extremo, viu a cama de casal com lençóis escuros e um abajur de cada lado. Havia também uma escrivaninha com alguns livros e, perto da porta de vidro que levava à sacada, uma penteadeira com espelho. Mais ao fundo havia outra porta que deveria ser o banheiro.
Suspirando, se sentou no colchão e passou a fitar o grande lustre negro preso ao teto. Enquanto permanecia ali, pensava em como seu dia havia sido diferente dos demais. Por anos, pensou em se juntar aos rebeldes, se aproveitando da faísca de esperança que havia em seu peito, mas sempre notou certa hesitação da parte de Luke. Ele a treinava dizendo que ela poderia ajudar Ben e os outros, mas a garota sabia que o homem ainda não acreditava.
Quando seu treinamento foi finalizado, pensou que estava pronta. Mas não para o Skywalker. Ele disse que deveria viajar pela galáxia e aprender mais, como ele fizera um dia. Obediente, seguiu suas instruções e se tornou uma nômade, vagando pelos planetas e aumentando sua saberia e domínio da Força.
Isso a mantinha desatualizada sobre muitos assuntos, mas sabia que ele a chamaria na hora certa. Por isso, no momento que seu mestre entrou em contato, teve certeza de era algo mais do que uma simples conversa entre mestre e aprendiz.
Todavia, não esperava que seria a última vez que o sentiria. Muito menos pensou que o veria daquele jeito, tão determinado e em paz. Era como se sua jornada tivesse sido concluída e agora ele confiava a ela o restante da missão. Ainda assim, Luke dissera haver mais alguém, um novo sensitivo que seria de grande ajuda e que a mulher deveria treiná-lo. Seria a primeira vez que agiria como uma mestra, mas confiaria em sua capacidade obtida por todo esse tempo.
Soltando o ar pela boca, se levantou e resolveu tomar um banho. Foi até a porta ao fundo do quarto e entrou encontrado um banheiro espaçoso e moderno. Apesar de ter uma banheira ali, preferiu usar o chuveiro, tomando um ducha quente, que relaxou seus músculos. Aproveitou e lavou os cabelos, não demorando muito, pois Ben disse que viria para que conversassem.
Se enrolando na toalha, concluiu que esse era o melhor jeito de resolver as coisas. Apesar de ter cedido à escuridão, sabia que ainda existia luz em Ben Solo. Ela o conhecia melhor do que ninguém e já tinha visto o seu interior inúmeras vezes. Ela o tinha ajudado a manter a mente sã por um bom tempo. E poderia fazê-lo novamente.
Decidida, saiu do banheiro, voltando para o quarto. Iria vestir a mesma roupa de antes, mas encontrou algumas peças sobre a cama. Uma calça preta de couro e uma blusa de mangas longas da mesma mesma cor, além de peças íntimas. As vestiu e dobrou as suas em seguida. No quadril, colocou o cinto onde ficava o sabre, deixando a blaster sob a muda de roupas sujas.
Paciente, sentou-se com as pernas cruzadas e fechou os olhos, se concentrando. Desde que fora com Luke para Anch-To, havia aprendido a se esconder na Força para que nenhum outro sensitivo pudesse encontrá-la, especialmente Snoke. Mas agora achava não precisar mais disso, afinal fora recebida sem represálias. Assim restabeleceu sua conexão podendo usar plenamente seus poderes.
Ainda lá, ouviu uma leve batida na porta de seu quarto. Se levantou e foi até ela, atendendo a pessoa. Não se surpreendeu ao encontrar Ben do outro lado a encarando com certa ansiedade. O rapaz continuava a vestir roupas pretas, porém, essas eram mais casuais, o deixando com um aspecto mais jovem.
- Olá! – disse após respirar fundo.
- Está pronta? – ele quis saber.
- Sim. – acenou com a cabeça.
- Vamos então. – o homem deu espaço para que a garota passasse.
Um pouco sem jeito, pigarreou, saindo do quarto e fechando a porta atrás de si. Quando Kylo começou a caminhar, ela o seguiu e permaneceram em silêncio por um longo tempo. A Jedi já estava agoniada com aquela atmosfera que pairava sobre eles. Pensou em quebrar o gelo, entretanto, ele parou, obrigando-a a fazer o mesmo.
Curiosa, franziu o cenho, olhando para as grandes portas de madeira escura a poucos metros.
- Onde estamos? – perguntou.
- No meu escritório. – o garoto disse, indo até a maçaneta de metal, a girando.
Ao abrir a porta até a metade, Kylo olhou para a garota parada ainda no mesmo lugar e fez um gesto com a cabeça, mostrando que ela deveria se aproximar. Entendendo, logo o fez e, após deixá-la entrar, o homem também adentrou o recinto, fechando a porta em seguida.
Era uma sala grande, com uma mesa de mogno com vários livros e papéis sobre ela. Haviam poltronas e cadeiras, além de uma mesa de vidro, onde bebidas e copos ficavam. Nas paredes, mais quadros. Todavia, a garota não pôde conter o suspiro extasiado ao ver as estantes tomando a maior parte das paredes. Nelas, incontáveis livros se enfileiravam perfeitamente, deixando-a fascinada.
Sem poder se conter, caminhou apressada até uma das prateleiras, passando o polegar pelas capas de uma extremidade a outra.
- São tantos! – murmurou ainda surpresa. – Me pergunto se já conseguiu ler um quarto deles.
- Já li mais do que imaginaria. – o sensitivo parou ao seu lado.
- São todos seus? – ela o encarou com as sobrancelhas erguidas.
- Sim. – Kylo permaneceu fitando alguns volumes. – E posso ter quantos mais desejar.
Então, ele finalmente a encarou e imediatamente soube decifrar o seus olhos. Havia confiança e determinação. Porém, algo a desagradou. A arrogância também estava presente nos orbes escuros, uma que ela nunca vira antes.
Suspirando de forma discreta, resolveu continuar a conversa para obter mais informações. Poderia tê-lo feito mentalmente, mas não gostava de invadir a privacidade dos outros. Era muito melhor quando estes escolhiam se abrir e usar de sinceridade. Não iria ler a mente de Ben sem sua permissão.
- Quando nos encontramos e me trouxe pra cá, aquele homem... – fiz uma careta tentando recordar o nome.
- General Hux. – ele completou.
- Sim. – balancei a cabeça algumas vezes, continuando. – Se não estou enganada, o vi chamá-lo de Supremo Líder. Isso quer dizer que Snoke...
- Snoke está morto. – Kylo disse apenas.
- Como? – a moça franziu o cenho. – Sempre ouvi dizer que ele era extremamente poderoso.
- Eu o matei. – dessa vez o homem a encarou.
pensou em dizer algo a mais, todavia, conseguiu apenas engolir em seco ao detectar toda a frieza das palavras dele. Voltando a fitar os livros, mordeu os lábios e passou a ponta do indicador em um deles. Dessa vez, Kylo Ren parou às suas costas, estendendo a mão até o mesmo volume que ela fitava.
- Pegue-o. – ele disse, retirando o livro azul-marinho da prateleira e o estendendo para a garota.
- Obrigada. – ela disse, aceitando-o.
- Não precisa me agradecer. – ele falou e ela o encarou por cima dos ombros. – Tudo isso que viu pertence a mim agora e pode pertencer a você também.
- Era isso que queria me mostrar? – se virou até ele, os deixando frente a frente.
- Venha para o meu lado. – Kylo deu mais um passo em sua direção sem deixar de encará-la. – Fique comigo e vamos governar a galáxia juntos.
- Você é o Supremo Líder. – a Jedi sussurrou.
- Eu sou. – concordando, Ren ergueu uma mão, apoiando-a no rosto da garota. – E posso fazê-la ter o que quiser.
Ao sentir seu toque mais uma vez, fechou os olhos. Sua pele quente reagiu a mão fria de Ben, causando-lhe um calafrio. Mas então houve algo a mais. Como se deslizasse das pontas dos dedos dele diretamente para seu rosto, a energia negra lhe causou algo semelhante a cócegas. E ela não gostava da sensação.
Se afastando subitamente, abriu as pálpebras, encontrado um Ben Solo confuso. Respirando fundo, tentou disfarçar sua reação à escuridão que havia nele e que começava a incomodá-la.
- Está tudo bem? – ele questionou.
- Sim... – respondeu sem muita firmeza.
Kylo a observou por mais alguns instantes, calado. Após suspirar cansado, deu dois passos para trás, baixando a mão.
- Quando nos encontramos, tentei senti-la, mas era como se estivesse se escondendo na Força. – o homem ressaltou. – Mas agora posso ver bem que esse impedimento acabou.
Passando a língua entre os lábios, semicerrou os olhos castanhos, assumindo uma postura desconfiada.
- Mesmo assim, como da última vez, sua mente está fechada para mim. – disse, lhe dando as costas.
Ao vê-lo caminhar na direção da mesa de madeira, arregalou os olhos. Conhecia Ben muito bem para saber que ele estava chateado. Sem pensar duas vezes, foi a passos largos e, o pegando de surpresa, o abraçou por trás.
- Ben, por favor... – apoiou a testa em suas costas largas.
Cerrando as pálpebras por alguns segundos, ele finalmente se virou até a garota, segurando seu rosto mais uma vez entre as mãos.
- Você disse que não me abandonaria. – o rapaz murmurou.
- Eu não vou. – ela disse no mesmo tom.
Se encararam por um tempo incontável até que Kylo Ren a puxou mais para si e a beijou. Um beijo intenso, repleto de todos os sentimentos possíveis. Nenhum deles fazia ideia do quanto haviam sentindo falta um do outro até aquele toque se iniciar. Agarrando a blusa do homem de forma quase desesperada, soube que ali era onde ela deveria estar.


Capítulo III

FLASHBACK ON
O dia estava frio. Apesar dos raios solares cobrirem tudo, iluminando boa parte da clareira, a brisa insistente causava um leve calafrio em quem permanecesse muito tempo ao relento.
A pequena aprendiz, porém, ignorava a sensação assim como seus colegas. Juntos, permaneciam sentados no solo coberto pela grama verde, ouvindo as instruções do seu mestre. Impressionada com toda a sabedoria que aquele homem demonstrava, a garota sequer piscava os olhos, prestando atenção em tudo o que ele dizia.
Quando Luke parou de falar, no entanto, estranhou. O Jedi permaneceu alguns instantes calado, fitando o nada, até que um singelo sorriso de canto surgiu em seus lábios. Talvez os outros não tivessem notado, mas a aprendiz sim. Ela soube que algo especial acontecia e não precisou tentar descobrir o quê. Logo o som de uma nave pôde ser ouvida a poucos metros de onde estavam.
- Mestre Luke, o que está acontecendo? – um garoto perguntou.
- Não se preocupem, meus jovens. – ele respondeu, alargando o sorriso. – Temos visitas.
Assim, Luke se levantou e caminhou para fora da clareira, na direção onde o templo ficava. Após olharem de um para o outro, as crianças o imitaram, correndo atrás de seu mestre. Logo alcançaram a área da construção e o burburinho começou quando as portas do veículo se abriram.
- É a Millenium Falcon! – uma garota disse extasiada.
- Olhem, é a General Organa! – um menino apontou para a pessoa que saía.
olhou para lá, curiosa. Já tinha ouvido falar sobre a irmã de Luke Skywalker, mas nunca a vira pessoalmente. Também ouvira sobre a nave pertencente a Han Solo e vendo-a assim tão de perto, tinha a certeza de que era mais incrível do que diziam.
Quando Leia parou, Luke caminhou até ela, parando em sua frente. Os dois trocaram algumas palavras e o homem apontou para alguma coisa às costas dela. Franzindo o cenho, só então percebeu que havia mais alguém ali e quando a general deu um passo para o lado, a pessoa foi revelada.
Tentando se esconder atrás da mulher, um garotinho que aparentava ser um pouco mais velho que ela, fitava os próprios pés. Seus cabelos eram extremamente negros e contrastavam com a camiseta branca. A garota viu quando Leia disse algo e fez um gesto para o menino, o incentivando a se aproximar dos demais. A contragosto ele o fez, parando a poucos passos de Luke.
- Quem é ele? – a padawan questionou para ninguém em especial.
- Aquele é Ben Solo. – a garota ao seu lado respondeu. – Ele é filho da General Organa e sobrinho do mestre Luke.
a encarou surpresa graças às novas informações. Pensou em perguntar mais sobre o garoto, todavia, Luke se virou para eles e disse algo.
- Meus jovens, quero apresentar a vocês nosso novo companheiro. – ele falou e então olhou de soslaio para o menino. – Ben, venha.
Após lançar um último olhar para a mãe, que o incentivou a fazer o que o Jedi dizia, o pequeno suspirou de forma discreta e foi até o tio, parando ao seu lado.
- Ben vai ficar conosco agora. – o homem apoiou uma mão no ombro do menor. – Então por que não mostram a ele o lugar?
Ao ouvirem aquelas palavras nenhum dos jovens aprendizes soube como agir. De certa forma, a postura do garoto conseguiu intimidá-los e o fato de Ben Solo sequer ter olhado para eles, piorava a primeira impressão de que ele não queria amigos.
Tão temerosa quanto os outros, olhou de um lado para o outro ao perceber que ninguém havia se manifestado. Quando fitou o garoto, o percebeu encolher os ombros num sinal de insegurança por estar sendo julgado logo de cara. Respirando fundo, a menina ergueu o rosto e, assumindo uma postura decidida, foi até o seu novo colega.
Enquanto seguia até ele, recebeu um olhar de aprovação de seu mestre assim como um olhar comovido de Leia. Quanto a Ben só a encarou quando ela parou em sua frente. Surpreso, o garoto arregalou os orbes castanhos ao vê-la ali.
- Olá, meu nome é . – ela disse abrindo um belo sorriso e então lhe estendeu a mão. – Vem, eu vou te mostrar a nossa casa.
- Casa? – ele falou pela primeira vez.
- É aqui que vivemos, então podemos chamar assim. – balançou os ombros. – Vamos.
Ainda sem ter certeza se aceitava aquele convite, Ben olhou para a mãe que agora permanecia ao lado de Luke, como se pedisse ajuda. Após soltar um leve riso, a general apenas balançou a cabeça positivamente, o incentivando a ir. Finalmente, o garoto segurou a mão da mais nova e sem esperar que mais alguém dissesse algo, ela o arrastou na direção do templo.
Enquanto corriam juntos, a menina tagarelava sobre a vida de todos e dizia como era legal viver ali. Quanto ao jovem Solo, limitava-se a ouvir. Apesar disso, no fundo de sua mente um pensamento existia. Ele nunca esqueceria que fora a primeira a lhe estender a mão naquele lugar. Um lugar onde ele não queria estar.
FLASHBACK OFF

A Jedi estava sem sono. Mantinha-se deitada na cama do quarto que ocupava, fitando o lustre preso ao teto branco. Estava lá a um tempo incerto, mas sequer cogitou dormir. Sua mente estava muito agitada, especialmente, depois do ocorrido.
Suspirando fundo, passou os dedos sobre os lábios, recordando-se do beijo que compartilhara com Ben. Ainda podia sentir o calor dos lábios dele e como suas mãos fortes deslizaram até sua cintura, a apertando com firmeza. Todavia, o que mais a abalou foi sentir toda a energia que vinha dele. Era difícil distinguir quanta luz ou escuridão havia. Sabia apenas que batalhavam dentro dele para saber qual delas prevaleceria.
Assustada, se afastou, mas manteve suas testas coladas, enquanto buscava o ar para preencher os pulmões. Quando ele a envolveu num abraço, fechou os olhos, se aconchegando em seu peito, sentindo seu perfume. Continuaram assim, sem dizer nada, até que Kylo se afastou.
- Você deve estar com fome. – ele observou. – Vamos comer alguma coisa.
não protestou. Segurou a mão que ele lhe ofereceu e o acompanhou para fora do escritório. Juntos, seguiram até o andar inferior e Kylo a levou até um salão onde uma mesa enorme com vários lugares ficava. Sentaram-se e não demoraram a serem servidos por algumas mulheres.
Comeram em silêncio e logo disse que estava satisfeita e que gostaria de voltar ao quarto. Ren percebeu o quanto todo aquele ambiente a incomodava e resolveu fazer o que ela pedia. Se levantaram e deixaram o local, indo de volta para os quartos. Logo estavam em frente do que a moça ocupava.
- Obrigada. – ela disse sem encará-lo.
- Você está bem? – Ben questionou.
- Estou. – respondeu, o olhando por fim. – Não se preocupe.
- Tudo bem, então. Amanhã eu volto para que possamos conversar melhor. – Ren a segurou pelos ombros. – Enquanto isso, pense no que eu disse.
Mais uma vez, a Jedi apenas balançou a cabeça em concordância. Imitando seu gesto, o homem se aproximou e depositou um beijo em sua testa, se afastando por fim, e voltando pelo mesmo caminho. Após o perder de vista, entrou no quarto e se jogou na cama, permanecendo ali o restante da tarde.
Agora era noite e ela não conseguia sequer pregar os olhos. Precisava encontrar a Resistência e ajudá-los, no entanto, Snoke estava morto e Ben era o novo Supremo Líder. Tê-lo numa posição tão alta abria a possibilidade para a destruição da Primeira Ordem e o fim daquela guerra.
Virando-se e puxando o cobertor para si, pensou na proposta dele. Poderiam governar a galáxia juntos e trazer a paz de volta. Poderiam restaurar a Ordem Jedi e, por fim, permanecerem juntos como sempre quiseram.
Inquieta, se levantou e foi ao banheiro. Deixou a porta aberta, afinal estava sozinha e abriu a torneira, lavando o rosto. O secou com uma toalha branca, voltando para o quarto. Sentando na cadeira da penteadeira, retirou as botas e as deixou num canto, perto de onde suas roupas antigas e sua blaster estavam. Em seguida, se encarou no espelho e levou a mão até o pescoço, tirando a corrente que usava de dentro da roupa, a deixando sobre a gola da blusa.
Encarou o objeto por longos segundos, pensando no quanto ele era especial e depois cerrou as pálpebras. Havia ficado tempo demais afastada, agora era a hora de reestabelecer a conexão que havia entre suas mentes. Lentamente, a mulher buscou Ben Solo. Tentou senti-lo e não tardou a encontrar sua Força. Ele estava num quarto, separados por alguns cômodos.
Se aproximou mais e viu o seu rosto concentrado em vários papéis. Porém, logo o sensitivo a notou, erguendo os olhos sem acreditar. Num instante suas mentes pararam próximas, no outro foi como se voltassem a ser uma, conectadas profundamente.
- Ben... – a usuária da Força o chamou.
- Você está aqui. – ele disse. – Depois de tanto tempo posso senti-la.
- Eu sei... – um riso ecoou em suas cabeças. – Eu tinha até me esquecido como é estar assim com você.
- É bom lembrar. – ele disse. – E saber que confia em mim para isso.
- Achou que eu não confiaria? – mais um riso.
- Eu não sei. – o rapaz admitiu. – Apenas quero que esteja a meu lado.
- Eu também. – a mulher suspirou. – Não quero ter que me despedir de novo.
Após àquelas últimas palavras, estranhou quando a conexão entre eles foi interrompida. Abriu os olhos sem entender o motivo de terem se separado tão bruscamente, porém, não teve tempo para procurar uma resposta. Ainda sentada, o sentiu se aproximar pelo corredor. Confusa, se levantou e foi até a porta, a abrindo no momento em que Kylo Ren parou à sua frente.
- Ben?! – franziu o cenho, sem largar a maçaneta. – O que está fazendo?
A surpreendendo, o homem entrou e fechou a porta. A pegando pela cintura, a puxou para si, colando seus corpos.
- Você não precisa se despedir. – ele disse, tocou a testa dela com a sua.
- Ben, eu... – murmurou.
- Fique comigo e dizer adeus não será mais uma opção. – o Supremo Líder insistiu.
Sem uma resposta para aquele pedido, a mulher o segurou pelo rosto, selando seus lábios com urgência enquanto levava as mãos até os cabelos negros, sentia os braços em sua volta se estreitarem, diminuindo quase que por completo o espaço entre seus corpos. Parecia que Ben queria fundir-se a ela, que não reclamou. Pelo contrário, arfou durante o beijo, aproveitando a ação.
Assim como o beijo, todos os outros movimentos eram frenéticos, demonstrando o quanto precisavam um do outro. , em toda sua vida, nunca se sentira assim. E quando Kylo a pegou no colo, fazendo com que enlaçasse suas pernas em seu quadril, o seu coração passou a pulsar violentamente.
O Supremo Líder caminhou com a Jedi em seus braços, a depositando com cuidado sobre os lençóis de seda. A fitou de forma demorada e então retirou de uma só vez a camisa que vestia, sem se importar com os botões arrancados no processo. Em seguida, se inclinou em sua direção, apoiando os braços no colchão macio e ficando sobre ela, que apenas respirava pelos lábios entreabertos.
- Desde o primeiro momento que te vi, eu quis fazer isso. – Ben disse, deixando um selinho em seus lábios. – Queria que soubesse o quanto senti sua falta.
- Eu também senti. – a garota murmurou.
Ao ver o colar no pescoço dela, arfou surpreso e levou os seus dedos até ele, o pegando com cuidado.
- Ainda o tem. – fitava a bela pedra transparente.
- Você o deu pra mim. – ela disse, apoiando a mão sobre a dele. – Como poderia não ter?
- ... seja minha. – ele continuou, deslizando os lábios até seu pescoço. – Por que deveríamos lutar contra o sentimento?
A mulher mordeu o lábio inferior quando Kylo começou a deixar um rastro de beijos em sua pele sensível até se aproximar novamente de sua boca. O olhando nos olhos, ela tocou o seu rosto. Entretanto, não foi preciso disso para que sentisse o que havia dentro dele. A luz voltava a brilhar, tentando competir com as trevas. Era algo mínimo, mas isso foi suficiente para que confirmasse sua teoria.
Ben Solo não estava morto. Kylo Ren não havia conseguido total domínio, o que significa que ela podia salvá-lo. Ele era a mesma pessoa de sempre, estava apenas confuso e, após tantos anos, sabia que finalmente poderia trazê-lo de volta para o lado luminoso da Força. Abrindo um sorriso singelo, porém sincero, disse o que transbordava em seu coração naquele instante.
- Eu sou sua. – murmurou as palavras antes de unir seus lábios.
Quando o ar faltou, se separaram ofegantes. Sem perder tempo, Kylo levou as mãos até a blusa que ela usava, a removendo com destreza. Sob o olhar da Jedi apalpou sua pele quente, como se quisesse gravar cada detalhe do corpo dela. Ao chegar aos quadris, a encarou brevemente antes de tirar sua calça e jogá-la em qualquer lugar. Depois, depositou beijos na região do seu baixo ventre, fazendo-a soltar um gemido.
Continuando com o toque, foi subindo até chegar ao vão dos seus seios, indo mais uma vez ao pescoço desnudo. Estavam à for da pele. Respirando com dificuldade, tocando-se como se sua vida dependesse disso. Em minutos livraram-se de tudo, tendo apenas os corpos unidos.
Enquanto o sentia dentro de si, a garota não tinha dúvidas de que eram um só, mas não apenas fisicamente. Não podia explicar o que ele fazia a ela. Seu interior estava conectado, com suas mentes trabalhando em sintonia. Ao mesmo tempo em que o prazer tomava conta de cada uma de suas células os jovens experimentavam algo inédito. Uma sensação que se tornava mais forte a cada segundo. E quando chegaram ao ápice, ela se multiplicou por mil.
Era intenso, diferente e bom. Um momento que nunca seria esquecido. Por nenhum dos dois. não sabia o quanto havia durado. Apenas tinha a certeza de que, enquanto arranhava as costas de Ben e chamava por seu nome, os espasmos a dominavam, assim como o desejo em seu coração de nunca mais partir.
Tentando controlar a respiração, Kylo apoiou a testa suada em seu ombro, deixando mais um gemido escapar. Aos poucos seus nervos foram se acalmando e logo se viu deitado sobre ela, com a cabeça apoiada no mesmo lugar. Fechou os olhos quando os dedos gentis foram até seus fios, os afagando com carinho.
Suspirando fundo, saiu de cima dela e se deitou ao seu lado. A mulher se virou em sua direção e ficaram cara a cara, fitando-se intensamente. Nenhum dos dois disse nada. Ficaram quietos, apenas aproveitando o momento. Em suas mentes, porém, compartilhavam a harmonia e a paixão reacendida.
- Eu amo você. – a Jedi disse e se aconchegou até estar com a cabeça apoiada no braço do homem.
- Eu sei. – Ben murmurou, depositando um beijo em sua testa.
não ouviu o que ele disse depois. Apenas sentiu que ele a abraçou, a fazendo se deitar em seu peitoral. Em seguida, suas pálpebras pesaram e, depois de um dia tão cheio, não conseguiu resistir ao sono, apagando profundamente.


Capítulo IV

A madrugada estava avançada e um frio que obrigaria qualquer pessoa a buscar refúgio sob os cobertores fazia-se presente. Tudo permanecia quieto dentro da mansão da Primeira Ordem e a Jedi fazia o máximo para que continuasse assim.
Nas pontas dos pés, foi até o banheiro e tomou um banho quente rápido apenas para relaxar. Talvez assim conseguisse dormir novamente. Após sair da água e enxugar o corpo, colocou as peças íntimas e vestiu um roupão preto de seda por cima, voltando para o quarto. Estava bem mais leve do que antes, porém, o sono havia ido embora e não parecia querer voltar tão cedo.
Sentando de frente para o espelho da penteadeira, a mulher passou o dedo entre os fios que havia prendido para que não fossem molhados, os soltando. Entendiada, começou a brincar com o cabelo, fazendo alguns penteados, mas logo se cansou daquilo também, passando a mão nele e o deixando definitivamente solto.
Suspirando, voltou o seu olhar para a cama de casal e viu Ben deitado de lado, dormindo profundamente. Ele não parecia preocupado e sua serenidade era invejável. Mordendo os lábios, levou a mão até o colar de diamante, o segurando com carinho. Se lembrava nitidamente do dia que o recebeu do jovem Solo e desde então o carregava para onde quer que fosse.

FLASHBACK ON
- E então, o que queria falar comigo? – a menina quis saber.
- Eu... – criando coragem, se aproximou mais e ergueu a mão, a abrindo para ela. – Queria te dar isso.
No segundo que viu o pequeno objeto na palma da mão dele, um sorriso largo estampou o rosto da garota. Era uma simples corrente prateada com um pingente de diamante tão singelo quanto, preso à ela.
- Ben... é lindo! – com cuidado, pousou sua mão sobre a dele.
Foi então que o garoto pôde entender o que seu tio havia dito. Naquele instante em que não precisava se apoiar na luz dela, podia ver o efeito que ele causava na jovem. Com um simples contato, a escuridão dentro dela se agitou, como se procurasse uma forma de escapar. Imagine então como as coisas deveriam ser quando conectavam as mentes para meditar.
Até aquele momento não havia se atentado a isso, percebendo o quão egoísta havia sido. Pensou apenas no próprio bem-estar e sequer pensou no que tudo aquilo poderia estar causando a ela. Respirando fundo, segurou a mão dela e deixou o colar entre seus dedos, os fechando sobre ele.
- Eu também quero dizer uma coisa. – falou mais baixo do que gostaria.
- Aconteceu algo? – a garota percebeu a hesitação em sua voz.
Ela o conhecia o suficiente para saber que ele não estava bem. Seu rosto estava mais sério do que o de costume e suas mãos suavam, apesar do frio de inverno.
- Ben, está tudo bem? – insistiu, o olhando nos olhos.
- Não, não está. – ele disse por fim.
- Por quê? – a jovem fez uma careta.
- Por minha causa. – resolveu não delongar o assunto.
- Como assim? – continuava sem entender.
- Eu estou fazendo mal a você. – respondeu de uma vez. – Achei que não, mas agora eu percebo que é verdade. Só de estarmos em contato, só de tocar em você, a sua escuridão cresce.
FLASHBACK OFF

Ao recordar dos detalhes daquele dia que acontecera há tantos anos, o sorriso no rosto da jovem murchou. Foi ali que se separam pela primeira vez, foi quando descobriu a má influência que Ben lhe causava, a arrastando para a escuridão. Naquele tempo ele decidiu se afastar para que a luz da padawan fosse preservada. O garoto sacrificou o que havia entre eles para a manter a salvo.
Agora era diferente. Ele a queria ao seu lado a todo custo. Não importava o que acontecesse. Até lhe fez a proposta de governarem a galáxia juntos. Engolindo em seco, se recusou a pensar mais e se levantou, seguindo para a cama. Porém, parou assim que notou que ela, de certa forma, estava pedindo viver em negação. Havia idealizado algo em sua mente e não queria se desapegar de tal ideia.
Mas ela precisava da verdade. Precisava saber quem ele era. Não poderia esperar que ele se abrisse, afinal o rapaz nunca fora bom em expressar o que sentia, mas ela não poderia esperar. Havia uma decisão a ser tomada. Ficar ao seu lado ou ir até a Resistência. Retirando o roupão que usava, vestiu uma roupa limpa. Uma calça preta justa e uma blusa escura sem mangas e com detalhes alaranjados, que deixava parte de sua barriga de fora.
Passando a língua entre os lábios, se aproximou de Kylo e se sentou na beirada da cama ao seu lado. Ele ressonava suavemente, mantendo uma cabeça apoiada no braço apesar do travesseiro. O encarando por alguns segundos, levou a mão até seu rosto e o acariciou com cuidado para não acordá-lo.
- Me desculpe. – sussurrou, levando os dedos até sua testa. – Mas eu preciso fazer isso. Preciso saber se estamos do mesmo lado.
Sem esperar uma permissão, fechou os olhos e se concentrou. Agora que ele dormia seria um pouco mais fácil ter acesso a sua mente, principalmente, depois de terem reestabelecido a sua conexão. A mulher não precisou se esforçar para penetrar em seus pensamentos e logo estava lá, em meio a toda aquela escuridão tão familiar.
Vagou pela imensidão que era a mente de Kylo, sentindo uma estranha friagem arrepiar a sua pele. Ainda que sentisse a escuridão e que esta fosse forte, ela pôde notar algo. Diferentemente das vezes que se conectou com ele, encontrando a voz de Snoke em todas elas, agora não havia mais nada. Ele era dono de seus próprios pensamentos e isso tornaria tudo ainda mais fácil.
Concentrando-se mais, a Jedi cruzou as pernas, continuando a flutuar e juntou as mãos à frente do corpo. Assim, avançou para uma parte mais profunda da mente dele. Foi até onde as lembranças mantinha-se guardadas e, no caso de Kylo Ren, a sete chaves. Usou todo seu conhecimento para avançar contra as barreiras que a mente treinada dele criou, ultrapassando uma a uma. Então, finalmente chegou às suas lembranças.
Como se fosse recebida por uma tempestade de granizo, a mulher foi assolada por muitas delas ao mesmo tempo. Isso confirmou o quanto Ben continuava confuso e até mesmo inseguro. Todavia, não se preocupou. Com um movimento de mãos, avançou para as lembranças do tempo em que estiveram afastados. O viu se curvar diante de Snoke pela primeira vez, viu quando o jovem Ben forjou seu próprio sabre através de um cristal kyber rachado.
Indo mais longe, observou seu treinamento exaustivo e quantas vezes o garoto desfaleceu por ter sido pressionado até o limite. Nesses momentos, sua mente vagava até a mãe, pensando no quanto seria bom estar ao lado dela. Mas logo ele ficava bem e se obrigava a mais horas de combate ao lado dos cavaleiros de Ren, tentando mandar embora aquela fraqueza.
Com os olhos ligeiros, a Jedi acompanhou sua primeira missão e o primeiro desentendimento com o general Hux. Viu também quando o ex-aprendiz de Luke matou alguém. No início, ele ficou assustado, mas com o decorrer do tempo, aquilo se tornou algo normal, o que a deixou entristecida.
Então a Jedi chegou até o momento que ela apareceu. Uma garota, uma sucateira que vivia em Jakku. Tinha ciência de que o homem buscaria outras mulheres e viu inúmeras delas naquele curto período de transe. No entanto, aquela mulher tinha algo de diferente. Parecia ser alguém... especial.
Avançando com ainda mais pressa do que antes o viu interrogá-la, tentando arrancar informações de sua mente por meio da Força e se surpreendeu tanto quanto Kylo quando a garota conseguiu reverter o domínio, lendo a mente dele.
Quem era ela?
Rey
O nome ecoou por todos os lados sem parar. E enquanto aquela voz estranha o sussurrava, teve mais visões a respeito da moça. Ela havia despertado sua conexão com a Força há pouco tempo, mas era extremamente poderosa, conseguindo derrotar Kylo sozinha. Mas havia mais. A jovem sentiu a conexão que existia entre eles e era forte. Nunca tinha visto algo parecido.
Levada por aquele raciocínio, foi transportada para o último momento de Ben diante de Luke, minutos antes de o mestre entrar em contato com ela. Estavam frente a frente e o Skywalker segurava o sabre azul que um dia pertenceu a Anakin Skywalker.
- Acontece que eu não sou o último Jedi. – Luke disse.
- Eu vou destruí-la... – o rapaz sibilou ao entender o que o outro dizia.
Então a agem de Rey empunhando o sabre azul em meio a uma floresta cheia de neve, apareceu. Arfando pela surpresa, entendeu quem era Rey. Era sobre ela que Luke falara antes de partir. A nova sensitiva, a quem deveria treinar.
queria saber mais sobre a garota, porém, uma lembrança em particular lhe chamou a atenção. Estava separada de todas as outras e parecia ser de ainda mais difícil acesso que as demais. Mesmo assim, ela conseguiu alcançá-la e, quando o fez, teve certeza de que seria melhor não o ter feito.
Num segundo foi sugada para a base Starkiller e viu Ben e Han Solo conversando no meio de uma passarela alta. Franzido o cenho, aproximou-se para ouvi-los melhor. Han pediu para o filho voltar, para que se arrependesse de seus pecados e retornasse para sua família. Ela podia sentir o coração do garoto pulsar contra o peito, sendo tentado pela luz. No entanto, a escuridão o venceu quando ativou de sabre vermelho conta o peito do próprio pai, deixando que este despencasse de uma altura incalculável.
Quando a sombra tomou conta de seu olhar, a Jedi gemeu aflita, pois não esperava por aquilo. Ela não sabia de muitas coisas por estar vagando pela galáxia, e a morte de Han Solo era uma delas. A grande emoção que a pegou de vez, fez com que perdesse parte do controle e então os pensamentos dele passaram a vir com mais intensidade.
Fechou os olhos, tentando recobrar a concentração, mas era quase impossível. Seu peito parecia estar em chamas e as vozes se tornavam mais intensas. Sem poder impedir, viu Ben matar Snoke e se autoproclamar Supremo Líder. Rey estava lá e ele a convidou para que governasse tudo juntos, mas a garota recusou e fugiu. Foi então que a escuridão o dominou mais do que antes.
Em seu interior havia tudo de mais negativo. Rancor, raiva, desgosto. Mas o ódio o controlava a um nível alarmante, sendo alimentado por sua arrogância e sede de poder. Aquele não era mais Ben Solo e sim Kylo Ren. O pequeno pingo de luz em seu interior não seria suficiente para salvá-lo.
Desesperada para se livrar daquela conexão dolorosa, o fez de uma só vez, derrotando sua mente da dele. Quando abriu os olhos, viu que estava de volta ao quarto e ofegava violentamente. Porém, sua surpresa foi grande quando viu os olhos de Kylo sobre si. Ele a encarava, deitado na mesma posição de antes, respirando da mesma forma descompassada.
Se levantando de supetão, a mulher cambaleou para trás quando ele também o fez, se afastando o quanto pôde. Em certo momento, tropeçou e caiu sentada, passando a se arrastar pelo tapete felpudo. Quando percebeu, estava encurralada entre a parede e o homem.
- O que você fez... – o ouviu murmurar descontente.
- Não! – ela balançou a cabeça. - O que você fez?
- O que precisava ser feito. – respondeu.
- Ele era seu pai! – a Jedi berrou.
- Ele era uma fraqueza! – Kylo disse inda mais alto. – E eu a eliminei, pois nada pode ficar no meu caminho. O caminho do Supremo Líder.
- Por Deus... – permitindo que as lágrimas escapassem, ela franziu a testa. Por acaso está se ouvindo?
- Eu passei todos esses anos sem saber qual era o meu lugar. – o rapaz se aproximou mais. – Mas agora eu sei. Eu fui criado para liderar. O meu sangue é o mesmo que o de Darth Vader, está na hora de honrá-lo.
- Você não pode falar sério. – a moça choramingou.
- Mesmo sem a minha permissão você viu o que eu penso. – ele se abaixou, ficando quase de sua altura. – Acha mesmo que não falo sério?
não respondeu, apenas o encarou, deixando que seu rosto fosse molhado pelas lágrimas que escorriam de seus olhos decepcionados. Olhando para Ben percebia que havia idealizado algo a respeito dele. Achou que ele seria o mesmo de antes. Que, como nos dias de sua adolescência, o homem escolheria lutar contra o lado negro.
Todavia, agora estava claro para ela. Ele a convenceu e iludiu, a fazendo acreditar que poderia salvá-lo daquela forma. Mas não era bem assim. Ele estava mais fundo do que pensou que seria possível. Conseguia enxergar. Que restava de luz nele, porém, não era o suficiente. Não agora.
- Você me enganou. – ela murmurou e ele fez uma careta. – Eu fui enganada pelo seu sorriso.
- Do que está falando? – Kylo tentou tocá-la, mas virou o rosto.
- Nós seguimos reto por um tempo. – ela voltou a dizer. – E pensei que continuaríamos de onde paramos.
- Podemos continuar. – ele disse.
- Não, eu fui enganada pela forma como você me amou. – ela o interrompeu. – Mestre Luke estava certo.
- Luke? – ao ouvir o nome do tio, ele travou o maxilar.
- Ainda não é a hora de trazê-lo de volta. – a Jedi lamentou. – Me desculpe.
Antes que ele dissesse algo, estendeu a mão na direção de suas coisas e fez com que seu sabre-bastão viesse até ela, o pegando com firmeza. Sem poder reagir, Kylo apenas sentiu o fundo da arma acertar o lado direito do seu rosto, caindo desacordado.
A garota se levantou, colocando a espada laser no cinto e então calçou as botas com pressa, pegando sua arma e vestindo a capa vermelha sobre a roupa. Antes de sair, caminhou até o ex-amigo e se abaixou ao seu lado. O ajeitou com cuidado e então beijou sua testa.
- Eu sinto muito. – acariciou os fios negros. – Mas você é tudo o que eu pensei que não seria. Eu criei uma imagem a seu respeito e esperava encontrá-la, mas foi só uma ilusão de uma garota apaixonada.
Segurando a mão dele entre a sua, a beijou com carinho.
- Não me entenda mal, não vou desistir de você. – passou a língua entre os lábios. – Mas você não é o mesmo. Eu vou encontrá-la e vou treiná-la, então a hora chegará.
Como última ação, deixou um beijo singelo em seus lábios. Em seguida se levantou e colocou o capuz, saindo do quarto e fechando a porta. O corredor estava vazio, por isso logo chegou ao andar inferior.
Enquanto procurava pela saída, parou de supetão em um dos corredores, avistando um stormtrooper vigiando o lugar com sua arma em mãos. Respirou fundo e seguiu, passando pelo soldado sem dizer nada.
- Com licença, senhorita. – o homem a chamou. – O que faz aqui a essa hora? Deve voltar a seu quarto, por favor.
Quando não recebeu uma resposta, o stormtrooper deixou seu posto e a seguiu.
- Senhorita. – a chamou novamente, a segurando pelo braço.
parou ao sentir o toque, mas manteve-se virada de costas para ele, com a cabeça baixa fazendo com que seu rosto ficasse parcialmente escondido pelo capuz. Estranhando aquela atitude, o soldado fez a volta, parando em sua frente.
- Você está bem? – questionou.
Ainda calada, a Jedi ergueu o rosto e o encarou. Sem esperar mais um movimento da parte dele, assumiu uma postura dominadora e começou a falar.
- Você vai me ajudar a fugir e vai me levar até minha nave. – falou sem tirar isso olhos dele.
- Eu vou ajudá-la a fugir e vou levá-la até sua nave.
- E quando perguntarem sobre mim, vai dizer que não me viu. – continuou.
- E quando perguntarem sobre você, vou dizer que não a vi. – o stormtrooper continuava total comando da Jedi.
Nunca gostou de combates e em um momento como aquele seria melhor evitar algo do tipo. Precisava sair dali o mais rápido possível e ir ao encontro da Resistência antes que Ben despertasse. Foi atrás do soldado, chegando a uma área externa da mansão reservada para naves e outros veículos. O homem parou e ela correu na direção da nave, a adentrando. Rapidamente, a ligou e digitou coordenadas de difícil localização para ter um tempo a mais para escapar.
Deixando Ben para trás, a mulher sentiu o nó na garganta aumentar. Ela queria ajudá-lo, mas não poderia fazer isso sozinha. Encontraria a garota que mexeu tanto com seu lado luminoso.
Rey. Talvez ela fosse a chave para sua rendição. Enquanto isso, ele era o Supremo Líder e ela não poderia mudar isso. Permitindo mais uma vez ser dominada pelo pesar, deixou a atmosfera daquele planeta, acionando os hiperpropulsores. Na velocidade da luz, alcançou uma outra extremidade da galáxia.
De onde estava, tentou entrar em contato com os rebeldes. Fechou os olhos por um breve momento e, quando sentiu aquela Força imensa invadir sua mente, teve a certeza de que a tinha encontrado.


Epílogo

À medida que o sol nascia, seus raios reluziam nos vidros da Millenium Falcon. A nave estava estacionada numa grande área verde, perto de uma montanha rodeada por água. Caminhando pelas rochas, a avistou e apressou os passos, indo até ela.
De onde estava, viu os rebeldes saírem um a um, olhando para o planeta onde antes ficava o primeiro templo Jedi. A mulher havia dito que fossem até lá, para que se escondesse mais da Primeira Ordem. Conseguiu conectar-se com Rey, descobrindo que agora ela era a nova piloto da nave que pertencia a Han Solo.
passou para a novata as coordenadas que deveria seguir e então se dirigiu para Anch-To, pousando sua nave perto de algumas montanhas onde costumava treinar com Luke. Esperou por um tempo, mas logo conseguiu estabelecer comunicação entre as naves, dizendo para onde a Resistência deveria ir.
Quando a Millenium pousou, não demorou a ir até lá. Viu alguns rostos conhecidos, mas a maioria ela não fazia ideia de quem seria. Porém, assim que a general Organa entrou em seu campo de visão, um sentimento semelhante a alívio a abraçou. Suspirando, correu em sua direção e quando a mulher abriu os braços, a mais nova se lançou neles, se deixando ser abraçada.
- General Leia! – murmurou contente.
- , como é bom ver você! – a outra riu abafado, se afastando. – Fico muito feliz que tenha vindo se juntar a nós.
- O mestre Luke falou comigo antes de partir. – a Jedi informou. – Ele disse que finalmente estou pronta.
- Sei que está. – Leia sorriu, acariciando o rosto da .
Engolindo em seco, ela pensou em dizer algo sobre o filho dela, porém, ouviu mais pessoas se aproximarem e olhou para elas. Eram dois rapazes e uma moça. Imediatamente, soube que aquela era Rey, a sensitiva da qual Luke falara e que estava nas lembranças de Ben. Indo até eles, os cumprimentou e por fim chegou a ela.
- Olá, eu sou . – sorriu de maneira amigável.
- Sou Rey. – a garota imitou seu gesto.
- Eu sei. – sacudiu a cabeça. – Mestre Luke me falou sobre você.
- Falou? – a sensitiva franziu o cenho. – Por quê?
- Porque ele acredita que podemos formar um bom time. – se aproximou mais dela. – Mas antes, preciso treiná-la.
Ao ouvir aquelas palavras, Rey alargou ainda mais o sorriso. Era exatamente o que precisava, alguém disposto a lhe ensinar os caminhos da Força. Tentando não deixar sua alegria transbordar, pigarreou e cruzou os braços atrás das costas.
- E então. – balançou os ombros. – Quando começamos?
ergueu as sobrancelhas diante do entusiasmo da sua nova aprendiz. Já tinha visto muitas pessoas sensíveis à Força, inclinadas para a luz. Todavia, aquela garota era completamente diferente. Seu interior transbordava luminosidade, dentro dela havia o espírito de um verdadeiro Jedi.
Contente com o que encontrou, mesmo que o número de rebeldes fosse menos do que achou, eles tinham tudo o que precisavam. Acima de tudo, a chama da esperança continuava viva, alimentando a Resistência. Não deixando que a fé da galáxia se acabasse. Quanto a ela, seguiria os ensinamentos de seu mestre e, caso tivesse uma nova chance, tentaria descobrir quem era Kylo Ren verdadeiramente. Talvez assim pudesse salvá-lo.




END.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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