Prólogo
(Eu vou me tornar uma pequena rajada de vento)
Quietly leaning against your back for a moment
(Calmamente encostado nas suas costas por um momento)
So even if the wind blows like a coincidence
(Então, mesmo que o vento sopre como uma coincidência)
You can feel my touch
(Você poderá sentir meu toque)
- Hey, o que houve, meu amor? - a mulher tinha a voz leve e calma. Ela ajeitou a filha no colo enquanto passava a mão na testa da garota, tirando os cabelos encharcados pelo suor de sua visão. - Outro pesadelo?
- Sim… Tinha pessoas más, mamãe, correndo atrás de mim. - ela sussurrou, os olhinhos enchendo-se de novas lágrimas. A mais velha quis rir do biquinho que a menina fazia, mas suspirou aconchegando o corpo da garota para mais perto.
- Sabe, , o mundo está cheio de pessoas más… E elas vão querer fazer mal pra você também… - Observou a garota fazer uma pequena careta e sorriu. - Mas não se preocupe demais… Todos nós temos um anjo da guarda cuidando da gente lá do céu. Tenho certeza que seu pai está vigiando seu protetor e fazendo questão que ele cuide muito bem de você!
- O papai também está me olhando lá do céu?
- É claro, minha querida! - Ela balançou levemente os cabelos da filha e riu. - Ele não vai deixar nada de ruim acontecer conosco. E eu aposto que, se você pedir direitinho, seu anjo da guarda vai livrar você de todos esses sonhos ruins!
- Certo! Mas como faço isso, mamãe?
- Do jeito que o seu coração mandar.
A mãe viu a pequena garotinha fechar os olhos, pensativa. Pouco tempo depois, ela se levantou em um pulo do colo da mãe, apenas para correr até a janela de seu quarto, onde repousava um pequeno vaso de violetas. pegou o objeto cuidadosamente em suas mãos e trouxe ao peito. Com um sorriso sapeca ela sussurrou para as flores.
- Hey, anjo da guarda. Eu acho que você gosta de flores como eu, eu quero sonhar mais com elas. Será que você me ajuda a parar de ter pesadelos?
A mãe apenas riu com a atitude simples e incomum da garotinha.
Desde então, costuma ter sonhos floridos todas as noites.
Capítulo 1
Quando a sineta da loja tocou anunciando a entrada de um novo cliente, a garota parou tudo o que estava fazendo para atendê-lo. Respirou fundo algumas vezes antes de sair do meio das flores e se posicionar atrás do balcão colocando seu melhor sorriso. Seus olhos repousaram-se na figura alta e bela do homem mais lindo que já havia visto em seus longos (muito longos) 25 anos de vida. A incontrolável vermelhidão lhe tomando o rosto enquanto as mãos suavam como duas chaleiras no fogão. Docemente, ele sorriu e ela pensou que ele deveria ter pulado de um outdoor da rua. Digno de um modelo.
- Olá, senhor, no que posso ajudá-lo? - Ela finalmente soltou depois de segundos de silêncio perturbadores para alguém tão retraída. Lutava para sustentar o olhar no dele sem querer desmaiar.
- Boa tarde, queria comprar um buquê para alguém que já se foi. - A voz do homem era baixa e doce, como uma música. Ela soltou um baixo grunhido assustado por alguém tão jovem já ter perdido alguém. Não que ela não pudesse entender, na verdade, ela entendia mais do que ninguém.
Ficou em silêncio por alguns segundos, pensando nas possíveis opções. O olhar analítico observou o homem de cima a baixo. Usava uma camisa branca de mangas cumpridas e uma calça jeans simples. Sua aparência era bela, pura… Como a de um anjo. Ele lhe sorriu quando a palavra anjo lhe escapou pelos lábios e, envergonhada, ela correu para o meio das flores fazendo o possível para não parecer uma completa idiota.
- Venha comigo, por favor. - ela disse um tom mais alto que o normal, a vergonha ainda estampada em sua face.
O tal moço apenas assentiu com uma risadinha e pôs-se a seguir a garota. Era uma linda loja, repleta das mais diversas flores e a menina parecia dançar por entre os arranjos e vasos, como se ali fosse seu lugar de direito, sua casa, seu altar. De repente, a timidez já não fazia parte de seu rosto, apenas a concentração e um olhar quase cirúrgico. Sorriu quando encontrou o que procurava e fez uma leve menção para que o homem se aproximasse do grande vaso de crisântemos de diferentes cores.
- Os crisântemos são sempre as escolhas mais certeiras. Eles representam a vida completa e a sinceridade. E são lindos… Posso fazer um arranjo deles, misturando algumas cores, se preferir… - Ela disse passando os dedos de forma leve nas pétalas delicadas. - Outra opção que eu gosto são as rosas brancas que trazem paz.
Ela o olhou por um instante, o sorriso pequeno e gracioso habitava os lábios delicados do rapaz. Teve que engolir seco para não perder a concentração e continuar. Olhou para o lado apenas para encontrar seu pequeno canteiro de peônias, suas flores favoritas, que traduziam sua timidez característica. Ela sempre amou as peônias.
- Na verdade, eu acho que a melhor ideia é você levar flores que conseguiam representar um pouco da pessoa. Ou sua flor favorita.
- Você tem razão… - ouviu o homem falar, balançando a cabeça afirmativamente. - Talvez eu devesse levar aqueles belíssimos jasmins ali do canto.
A garota virou todo o corpo para o local que ele apontava e sorriu carinhosamente, sem perceber que concordava com o rapaz. Ela andou vagarosamente até o canteiro, colocou as mãos dentro do avental sujo que usava para pegar a tesoura e, delicadamente, colher as flores mais belas dali. Não viu, mas o homem não conseguia tirar os olhos dela, de sua graciosidade em lidar com as flores e a calma em seu olhar como se tivesse nascido para aquilo. Ele continuava com o sorriso mais doce do mundo nos lábios.
Viu-a se levantar com alguns jasmins em seus braços. Ela pediu para que ele esperasse um tempo enquanto ela aprontava o simples e pequeno buquê. Após os minutos necessários, ela apareceu com o arranjo mais belo e puro que alguém poderia fazer. Ele se impressionou e sorriu largo quando ela lhe deu as flores como se passasse um bebê de um colo para o outro. Ele pagou e agradeceu, virou-se em direção a porta, mas antes de começar a andar para fora, sua voz ressoou novamente.
- Obrigado, senhorita .
E deixou o lugar sem mais nenhuma explicação. A garota corou ao ouvir seu nome dito de forma tão suave e doce. No entanto, um questionamento brotou em sua cabeça.
Ela nunca havia dito seu nome a ele.
- Olá, senhor, no que posso ajudá-lo? - Ela finalmente soltou depois de segundos de silêncio perturbadores para alguém tão retraída. Lutava para sustentar o olhar no dele sem querer desmaiar.
- Boa tarde, queria comprar um buquê para alguém que já se foi. - A voz do homem era baixa e doce, como uma música. Ela soltou um baixo grunhido assustado por alguém tão jovem já ter perdido alguém. Não que ela não pudesse entender, na verdade, ela entendia mais do que ninguém.
Ficou em silêncio por alguns segundos, pensando nas possíveis opções. O olhar analítico observou o homem de cima a baixo. Usava uma camisa branca de mangas cumpridas e uma calça jeans simples. Sua aparência era bela, pura… Como a de um anjo. Ele lhe sorriu quando a palavra anjo lhe escapou pelos lábios e, envergonhada, ela correu para o meio das flores fazendo o possível para não parecer uma completa idiota.
- Venha comigo, por favor. - ela disse um tom mais alto que o normal, a vergonha ainda estampada em sua face.
O tal moço apenas assentiu com uma risadinha e pôs-se a seguir a garota. Era uma linda loja, repleta das mais diversas flores e a menina parecia dançar por entre os arranjos e vasos, como se ali fosse seu lugar de direito, sua casa, seu altar. De repente, a timidez já não fazia parte de seu rosto, apenas a concentração e um olhar quase cirúrgico. Sorriu quando encontrou o que procurava e fez uma leve menção para que o homem se aproximasse do grande vaso de crisântemos de diferentes cores.
- Os crisântemos são sempre as escolhas mais certeiras. Eles representam a vida completa e a sinceridade. E são lindos… Posso fazer um arranjo deles, misturando algumas cores, se preferir… - Ela disse passando os dedos de forma leve nas pétalas delicadas. - Outra opção que eu gosto são as rosas brancas que trazem paz.
Ela o olhou por um instante, o sorriso pequeno e gracioso habitava os lábios delicados do rapaz. Teve que engolir seco para não perder a concentração e continuar. Olhou para o lado apenas para encontrar seu pequeno canteiro de peônias, suas flores favoritas, que traduziam sua timidez característica. Ela sempre amou as peônias.
- Na verdade, eu acho que a melhor ideia é você levar flores que conseguiam representar um pouco da pessoa. Ou sua flor favorita.
- Você tem razão… - ouviu o homem falar, balançando a cabeça afirmativamente. - Talvez eu devesse levar aqueles belíssimos jasmins ali do canto.
A garota virou todo o corpo para o local que ele apontava e sorriu carinhosamente, sem perceber que concordava com o rapaz. Ela andou vagarosamente até o canteiro, colocou as mãos dentro do avental sujo que usava para pegar a tesoura e, delicadamente, colher as flores mais belas dali. Não viu, mas o homem não conseguia tirar os olhos dela, de sua graciosidade em lidar com as flores e a calma em seu olhar como se tivesse nascido para aquilo. Ele continuava com o sorriso mais doce do mundo nos lábios.
Viu-a se levantar com alguns jasmins em seus braços. Ela pediu para que ele esperasse um tempo enquanto ela aprontava o simples e pequeno buquê. Após os minutos necessários, ela apareceu com o arranjo mais belo e puro que alguém poderia fazer. Ele se impressionou e sorriu largo quando ela lhe deu as flores como se passasse um bebê de um colo para o outro. Ele pagou e agradeceu, virou-se em direção a porta, mas antes de começar a andar para fora, sua voz ressoou novamente.
- Obrigado, senhorita .
E deixou o lugar sem mais nenhuma explicação. A garota corou ao ouvir seu nome dito de forma tão suave e doce. No entanto, um questionamento brotou em sua cabeça.
Ela nunca havia dito seu nome a ele.
Capítulo 2
odiava ir ao supermercado.
Era sempre cheio demais, barulhento demais. E para ser sincera, suas habilidades culinárias não exigiam que ela fosse uma expert na arte das compras. Por ela, viveria de macarrão instantâneo e comida congelada. Mas prometera a sua mãe - antes dela partir - que cuidaria bem de sua saúde e não se deixaria adoecer custe o que custar. Bom, era uma garota de palavra, o que a levava àquele lugar, tentando escolher uma boa alface e pensando em legumes fáceis de fazer e que ainda combinasse minimamente com o restante de frango que tinha na geladeira.
- Senhorita ! - ouviu uma voz docemente conhecida cantarolar seu nome e ela virou para trás, assustada, apenas para dar de cara com o rosto que vinha a atormentando há alguns dias. O rapaz dos jasmins se aproximou com um sorriso sereno no rosto.
- Olá, senhor… - ela disse, sem graça, matutando infinitas rotas de fugas ao mesmo tempo que tentava controlar a respiração e a vermelhidão que já subia em seu pescoço.
- . - ele riu baixinho. - Desculpe, eu não me apresentei da última vez.
- Tudo bem… . - até o nome dele parecia angelical.
- Bom, então a senhorita também mora na vizinhança… - ele puxou assunto e se concentrava em não entrar em pânico.
- Oh sim… Na verdade, moro a um quarteirão da floricultura. - ela respondeu, estranhando a si mesma pela vontade de manter e render o pequeno diálogo.
- Isso é maravilhoso. - o sorriso do rapaz brilhou mais uma vez em seus olhos. tentou sorrir também, mas sentiu-se estranha. Fora de seu “habitat natural” era muito mais difícil parecer espontânea. - Oh… Vejo que é uma boa apreciadora de chás!
demorou alguns segundos para entender, somente quando voltou seu olhar para o próprio carrinho de compras, notou que mais uma vez havia exagerado na quantidade de caixinhas de chá que, talvez, ocupava metade do espaço dali.... Ela sorriu sem graça e passou a mão pelos cabelos sentindo a necessidade de correr para bem longe ficar ainda mais urgente em seu peito, mas ela resistiu. Aquele rapaz era estranho e parecia hipnotizá-la. Irradiava uma luz branca e brilhante. A garota já estava cansada de compará-lo a um anjo, mas não havia outra explicação para o tal a não ser essa. Sua voz, sua face, tudo parecia esculpido diretamente pelas mãos de Deus. Era incrível que conseguisse manter o mínimo de conversa com um rapaz assim sem surtar completamente.
teve um pouco de orgulho de si.
- Ahh… Sim, sou uma grande apreciadora. - disse olhando para baixo.
- Isso é uma ótima informação, senhorita, estava procurando alguém para me acompanhar a uma casa de chá que abriu há pouco na região. Posso estar parecendo um tanto invasivo, mas seria encantador se pudesse me acompanhar até lá um dia desses.
E toda a confiança de desceu ralo abaixo.
O anjo estava chamando-a para sair? Aquilo parecia um convite para um encontro. Ela sequer conhecia aquele cara. Céus! O que estava acontecendo!?
- E-Eu… Adoraria. - não acreditou no que saiu da própria boca.
- Ótimo! Se não for incômodo, poderia passar na sua loja amanhã de tarde! Garanto que serei uma companhia decente!- parecia tão entusiasmado que ficou impossível para dizer algo que não fosse concordar com qualquer coisa que ele dissesse. Por isso ela apenas acenou positivamente com a cabeça. - Certo! Estamos combinados! Perdão pela abordagem… Nos vemos outro dia, senhorita!
- Tudo bem! - Foi o que deu tempo de dizer antes do rapaz empurrar o próprio carrinho e praticamente desaparecer pelo corredor.
permaneceu com sua apaixonada cara de tacho, ainda desacreditada que aceitou sair para seu primeiro encontro em anos. parecia parecer tudo tão fácil que a deixava mais leve e corajosa. Sorriu para si mesma, até um pouco mais tranquila em estar naquele lugar que odiava ir. De repente, ir ao supermercado não parecia tão ruim.
(...)
Em exatos três dias, ela ouviu a porta da loja se abrir. Era fim de tarde e as encomendas de sempre já haviam sido todas despachadas. trabalhava em um arranjo simples de camélias, mas elegante como as próprias flores. Ela levantou os olhos para atender o visitante, mas não evitou um sorriso tímido ao notar que o tal cliente já era um tanto conhecido. entrou com as mãos nos bolsos e pose despojada, o sorriso de sempre estampado nos lábios.
- Boa tarde, senhorita . - ele disse se aproximando do balcão, parou os olhos no arranjo que ela ajeitava. - Que belas camélias.
- Oh! Boa tarde, . Obrigada. - Ela corou levemente e sorriu olhando para baixo. - O senhor reconheceu rápido essas flores.
- É uma das obras naturais mais encantadoras que existem, . Deus deu atenção especial a essas criações. - ele comentou olhando novamente para as camélias. - Bom, como está esse seu final de tarde? Ocupada?
- Não… - Ela sussurrou, tímida. A lembrança de três dias atrás invadindo sua memória. Ele realmente não se esqueceu da própria proposta. - Na verdade, comecei esse arranjo por diversão…
- Seus hobbies sem dúvida combinam com você. - ele comentou com uma risada um tom mais alto que sua voz comum, sempre tão baixa. - Seria incômodo se fossemos a casa de chá que lhe disse outro dia?
- Não… De forma alguma… - Ela gaguejou sentindo o rosto corar baixo.
- Ótimo! Não me importo em esperar enquanto termina esse arranjo…
- Oh sim! Fique a vontade, não vou demorar...
Ele assentiu antes de começar a explorar o local. Era como se fosse uma estufa, grande e bonita. sempre se esforçou para cultivar as mais diversas flores. Todas que conhecia mais intimamente. Esgotou seu tempo na graduação de biologia trabalhando com essas plantas e tinha orgulho do que construiu com esforço e a ajuda da herança de sua mãe. Ainda que existissem outras coisas que gostaria de fazer, cuidar daquela floricultura lhe parecia suficiente. Mesmo que solitário.
sorriu quando terminou o arranjo. Colocou-o perto do balcão, certa de que não demoraria a vendê-lo. Limpou as mãos no avental antes de retirá-lo e espiou entreter-se observando algumas flores. Permitiu-se correr até o banheiro para passar uma água no rosto e ajeitar o cabelo. Não era vaidosa, mas pela primeira vez sentia a ânsia de parecer apresentável especificamente para alguém. Arrumou um pouco do cabelo e até passou um gloss suave antes de correr para fora novamente. estava parado em frente a um canteiro de lisiantos, as flores favoritas de sua mãe.
- Estou pronta. - Ela disse baixinho e viu o rapaz se virar a ela. - Você gosta de lisiantos?
- Sim… São lindos. E especiais em seu significado. Romance e entrega amorosa. - ele disse se aproximando, sentia seu rosto corar a cada passo. - Talvez eu devesse dá-las a alguém...
O olhar dele estava tão penetrado no dela que a garota sequer percebeu o quanto aquilo soava romântico demais para pessoas que se conheciam há uma semana. Talvez não fosse para ela. Talvez estivesse criando expectativas demais. Talvez ele só era um rapaz gentil que viu a oportunidade de fazer uma amiga nela ou de se divertir um pouco. Talvez ele não fosse tão angelical quanto ela achava que era. Talvez…
sentiu seu estômago revirar.
Era sempre cheio demais, barulhento demais. E para ser sincera, suas habilidades culinárias não exigiam que ela fosse uma expert na arte das compras. Por ela, viveria de macarrão instantâneo e comida congelada. Mas prometera a sua mãe - antes dela partir - que cuidaria bem de sua saúde e não se deixaria adoecer custe o que custar. Bom, era uma garota de palavra, o que a levava àquele lugar, tentando escolher uma boa alface e pensando em legumes fáceis de fazer e que ainda combinasse minimamente com o restante de frango que tinha na geladeira.
- Senhorita ! - ouviu uma voz docemente conhecida cantarolar seu nome e ela virou para trás, assustada, apenas para dar de cara com o rosto que vinha a atormentando há alguns dias. O rapaz dos jasmins se aproximou com um sorriso sereno no rosto.
- Olá, senhor… - ela disse, sem graça, matutando infinitas rotas de fugas ao mesmo tempo que tentava controlar a respiração e a vermelhidão que já subia em seu pescoço.
- . - ele riu baixinho. - Desculpe, eu não me apresentei da última vez.
- Tudo bem… . - até o nome dele parecia angelical.
- Bom, então a senhorita também mora na vizinhança… - ele puxou assunto e se concentrava em não entrar em pânico.
- Oh sim… Na verdade, moro a um quarteirão da floricultura. - ela respondeu, estranhando a si mesma pela vontade de manter e render o pequeno diálogo.
- Isso é maravilhoso. - o sorriso do rapaz brilhou mais uma vez em seus olhos. tentou sorrir também, mas sentiu-se estranha. Fora de seu “habitat natural” era muito mais difícil parecer espontânea. - Oh… Vejo que é uma boa apreciadora de chás!
demorou alguns segundos para entender, somente quando voltou seu olhar para o próprio carrinho de compras, notou que mais uma vez havia exagerado na quantidade de caixinhas de chá que, talvez, ocupava metade do espaço dali.... Ela sorriu sem graça e passou a mão pelos cabelos sentindo a necessidade de correr para bem longe ficar ainda mais urgente em seu peito, mas ela resistiu. Aquele rapaz era estranho e parecia hipnotizá-la. Irradiava uma luz branca e brilhante. A garota já estava cansada de compará-lo a um anjo, mas não havia outra explicação para o tal a não ser essa. Sua voz, sua face, tudo parecia esculpido diretamente pelas mãos de Deus. Era incrível que conseguisse manter o mínimo de conversa com um rapaz assim sem surtar completamente.
teve um pouco de orgulho de si.
- Ahh… Sim, sou uma grande apreciadora. - disse olhando para baixo.
- Isso é uma ótima informação, senhorita, estava procurando alguém para me acompanhar a uma casa de chá que abriu há pouco na região. Posso estar parecendo um tanto invasivo, mas seria encantador se pudesse me acompanhar até lá um dia desses.
E toda a confiança de desceu ralo abaixo.
O anjo estava chamando-a para sair? Aquilo parecia um convite para um encontro. Ela sequer conhecia aquele cara. Céus! O que estava acontecendo!?
- E-Eu… Adoraria. - não acreditou no que saiu da própria boca.
- Ótimo! Se não for incômodo, poderia passar na sua loja amanhã de tarde! Garanto que serei uma companhia decente!- parecia tão entusiasmado que ficou impossível para dizer algo que não fosse concordar com qualquer coisa que ele dissesse. Por isso ela apenas acenou positivamente com a cabeça. - Certo! Estamos combinados! Perdão pela abordagem… Nos vemos outro dia, senhorita!
- Tudo bem! - Foi o que deu tempo de dizer antes do rapaz empurrar o próprio carrinho e praticamente desaparecer pelo corredor.
permaneceu com sua apaixonada cara de tacho, ainda desacreditada que aceitou sair para seu primeiro encontro em anos. parecia parecer tudo tão fácil que a deixava mais leve e corajosa. Sorriu para si mesma, até um pouco mais tranquila em estar naquele lugar que odiava ir. De repente, ir ao supermercado não parecia tão ruim.
(...)
Em exatos três dias, ela ouviu a porta da loja se abrir. Era fim de tarde e as encomendas de sempre já haviam sido todas despachadas. trabalhava em um arranjo simples de camélias, mas elegante como as próprias flores. Ela levantou os olhos para atender o visitante, mas não evitou um sorriso tímido ao notar que o tal cliente já era um tanto conhecido. entrou com as mãos nos bolsos e pose despojada, o sorriso de sempre estampado nos lábios.
- Boa tarde, senhorita . - ele disse se aproximando do balcão, parou os olhos no arranjo que ela ajeitava. - Que belas camélias.
- Oh! Boa tarde, . Obrigada. - Ela corou levemente e sorriu olhando para baixo. - O senhor reconheceu rápido essas flores.
- É uma das obras naturais mais encantadoras que existem, . Deus deu atenção especial a essas criações. - ele comentou olhando novamente para as camélias. - Bom, como está esse seu final de tarde? Ocupada?
- Não… - Ela sussurrou, tímida. A lembrança de três dias atrás invadindo sua memória. Ele realmente não se esqueceu da própria proposta. - Na verdade, comecei esse arranjo por diversão…
- Seus hobbies sem dúvida combinam com você. - ele comentou com uma risada um tom mais alto que sua voz comum, sempre tão baixa. - Seria incômodo se fossemos a casa de chá que lhe disse outro dia?
- Não… De forma alguma… - Ela gaguejou sentindo o rosto corar baixo.
- Ótimo! Não me importo em esperar enquanto termina esse arranjo…
- Oh sim! Fique a vontade, não vou demorar...
Ele assentiu antes de começar a explorar o local. Era como se fosse uma estufa, grande e bonita. sempre se esforçou para cultivar as mais diversas flores. Todas que conhecia mais intimamente. Esgotou seu tempo na graduação de biologia trabalhando com essas plantas e tinha orgulho do que construiu com esforço e a ajuda da herança de sua mãe. Ainda que existissem outras coisas que gostaria de fazer, cuidar daquela floricultura lhe parecia suficiente. Mesmo que solitário.
sorriu quando terminou o arranjo. Colocou-o perto do balcão, certa de que não demoraria a vendê-lo. Limpou as mãos no avental antes de retirá-lo e espiou entreter-se observando algumas flores. Permitiu-se correr até o banheiro para passar uma água no rosto e ajeitar o cabelo. Não era vaidosa, mas pela primeira vez sentia a ânsia de parecer apresentável especificamente para alguém. Arrumou um pouco do cabelo e até passou um gloss suave antes de correr para fora novamente. estava parado em frente a um canteiro de lisiantos, as flores favoritas de sua mãe.
- Estou pronta. - Ela disse baixinho e viu o rapaz se virar a ela. - Você gosta de lisiantos?
- Sim… São lindos. E especiais em seu significado. Romance e entrega amorosa. - ele disse se aproximando, sentia seu rosto corar a cada passo. - Talvez eu devesse dá-las a alguém...
O olhar dele estava tão penetrado no dela que a garota sequer percebeu o quanto aquilo soava romântico demais para pessoas que se conheciam há uma semana. Talvez não fosse para ela. Talvez estivesse criando expectativas demais. Talvez ele só era um rapaz gentil que viu a oportunidade de fazer uma amiga nela ou de se divertir um pouco. Talvez ele não fosse tão angelical quanto ela achava que era. Talvez…
sentiu seu estômago revirar.
Capítulo 3
Algo estava estranho desde que entrou em sua vida.
Ela não tinha motivos para desconfiar de nada e o primeiro “encontro” dos dois se saiu melhor do que o esperado. parecia saber de cada detalhe para conquistá-la. Até mesmo acertou o saber de seu chá favorito. tentou não criar nenhuma expectativa durante os dois meses desde que conheceu o rapaz. Mas era impossível quando ele a visitava praticamente três vezes na semana. Quando ele levava seus doces favoritos. Quando comentava sobre flores ou até cantarolava - um tanto alto - músicas de sua banda favorita.
Estava tudo tão perfeito que não conseguiu impedir que sentimentos crescessem.
Era muito fácil conversar com , ser quem ela era ao lado dele. E em tão pouco tempo, sentia que o conhece desde sempre. Não sabia explicar, ela via no rapaz um melhor amigo, alguém especial, de quem jamais se cansaria ou cansaria dela. Uma pessoa que podia empurrá-la para fora do casulo que construiu durante os últimos anos. Afinal, ele foi a primeira pessoa que ela deixou entrar desde a morte de sua mãe, há três anos.
sabia que sua situação não era boa e talvez estivesse um pouco fora de controle. Ela não saia muito de casa, nunca foi de socializar. Mas nos últimos anos era muito pior. Só conversava com seus clientes e até mesmo tinha perdido o contato com suas poucas amigas, durante o processo de luto. Sua timidez, já aflorada, estava caminhando para algo sem volta.
Até que surgiu em sua vida para encher tudo de cor. E ainda mais flores.
Só podia estar ficando louca ou realmente aquele cara sentado, em um dos bancos com um livro na mão, tinha o dom pessoal de fazê-la sentir coisas.
- Hey. - sussurrou, já estava confiante o suficiente para chamá-lo e puxar conversa, o que parecia praticamente impossível meses atrás. levantou os olhos do livro. - Você acredita em anjo da guarda?
Pela primeira vez, a menina viu uma expressão surpresa naquele rosto. Parecia que o sangue havia desaparecido da pele de e ele demorou bons segundos até voltar a agir novamente. Fechou o livro e tomou o ar algumas vezes antes de responder.
- Sim. Acredito… Mas por que a pergunta?
Ela mordeu a língua.
Na verdade, a garota queria dizer que tinha certeza que seu anjo havia mandado ali para fazê-la viver um pouco mais. Como se fosse um presente diretamente dos céus para tirá-la da solidão e quem sabe, finalmente, lhe apresentar o amor. Parecia fantasioso, mas era exatamente como se sentia. Andando em terreno desconhecido. Jogando-se de um precipício, com a plena certeza de que estaria lá.
Só poderia ser coisa de seu anjo da guarda se sentindo triste por sua mãe ter partido tão cedo deixando a pobre sozinha no mundo.
- Por nada… - O coração da garota estava um pouco disparado. - É só que quando eu era pequena costumava pedir coisas a ele e bom… Sei lá, algo de criança.
- E ele atende aos seus pedidos?
- Bom, a única vez que ele não conseguiu foi quando pedi para que salvasse minha mãe do câncer… - Ela suspirou e olhou para o balcão. - Acho que era algo grande demais para ele, admito que foi meio injusto...
não percebeu quando se levantou da cadeira, deixando o livro de lado e andando a passos rápidos até a garota. Apenas quando sentiu braços longos e fortes envolvendo seu corpo, que a garota notou o estado triste do homem. Talvez até mais do que ela. Deixou-se ser abraçada por , sendo a primeira vez em muitos anos que não sentia o toque de alguém. Timidamente, levantou os próprios braços para agarrar a cintura do rapaz e encostou a cabeça em seu peito. Ele repousou o queixo nos cabelos dela e respirou fundo.
- Eu sinto muito, . - Ele sussurrou e era como se ele tivesse feito algo de errado. - Eu sinto muito.
Ela pensou que sua vida estava cada vez mais estranha desde a chegada de , mas, presa em seus braços daquela maneira, pensou que não importava se algo realmente estivesse fora do lugar. Com o tanto que pudesse se aproximar cada dia mais de , ela ficaria bem.
Ela não tinha motivos para desconfiar de nada e o primeiro “encontro” dos dois se saiu melhor do que o esperado. parecia saber de cada detalhe para conquistá-la. Até mesmo acertou o saber de seu chá favorito. tentou não criar nenhuma expectativa durante os dois meses desde que conheceu o rapaz. Mas era impossível quando ele a visitava praticamente três vezes na semana. Quando ele levava seus doces favoritos. Quando comentava sobre flores ou até cantarolava - um tanto alto - músicas de sua banda favorita.
Estava tudo tão perfeito que não conseguiu impedir que sentimentos crescessem.
Era muito fácil conversar com , ser quem ela era ao lado dele. E em tão pouco tempo, sentia que o conhece desde sempre. Não sabia explicar, ela via no rapaz um melhor amigo, alguém especial, de quem jamais se cansaria ou cansaria dela. Uma pessoa que podia empurrá-la para fora do casulo que construiu durante os últimos anos. Afinal, ele foi a primeira pessoa que ela deixou entrar desde a morte de sua mãe, há três anos.
sabia que sua situação não era boa e talvez estivesse um pouco fora de controle. Ela não saia muito de casa, nunca foi de socializar. Mas nos últimos anos era muito pior. Só conversava com seus clientes e até mesmo tinha perdido o contato com suas poucas amigas, durante o processo de luto. Sua timidez, já aflorada, estava caminhando para algo sem volta.
Até que surgiu em sua vida para encher tudo de cor. E ainda mais flores.
Só podia estar ficando louca ou realmente aquele cara sentado, em um dos bancos com um livro na mão, tinha o dom pessoal de fazê-la sentir coisas.
- Hey. - sussurrou, já estava confiante o suficiente para chamá-lo e puxar conversa, o que parecia praticamente impossível meses atrás. levantou os olhos do livro. - Você acredita em anjo da guarda?
Pela primeira vez, a menina viu uma expressão surpresa naquele rosto. Parecia que o sangue havia desaparecido da pele de e ele demorou bons segundos até voltar a agir novamente. Fechou o livro e tomou o ar algumas vezes antes de responder.
- Sim. Acredito… Mas por que a pergunta?
Ela mordeu a língua.
Na verdade, a garota queria dizer que tinha certeza que seu anjo havia mandado ali para fazê-la viver um pouco mais. Como se fosse um presente diretamente dos céus para tirá-la da solidão e quem sabe, finalmente, lhe apresentar o amor. Parecia fantasioso, mas era exatamente como se sentia. Andando em terreno desconhecido. Jogando-se de um precipício, com a plena certeza de que estaria lá.
Só poderia ser coisa de seu anjo da guarda se sentindo triste por sua mãe ter partido tão cedo deixando a pobre sozinha no mundo.
- Por nada… - O coração da garota estava um pouco disparado. - É só que quando eu era pequena costumava pedir coisas a ele e bom… Sei lá, algo de criança.
- E ele atende aos seus pedidos?
- Bom, a única vez que ele não conseguiu foi quando pedi para que salvasse minha mãe do câncer… - Ela suspirou e olhou para o balcão. - Acho que era algo grande demais para ele, admito que foi meio injusto...
não percebeu quando se levantou da cadeira, deixando o livro de lado e andando a passos rápidos até a garota. Apenas quando sentiu braços longos e fortes envolvendo seu corpo, que a garota notou o estado triste do homem. Talvez até mais do que ela. Deixou-se ser abraçada por , sendo a primeira vez em muitos anos que não sentia o toque de alguém. Timidamente, levantou os próprios braços para agarrar a cintura do rapaz e encostou a cabeça em seu peito. Ele repousou o queixo nos cabelos dela e respirou fundo.
- Eu sinto muito, . - Ele sussurrou e era como se ele tivesse feito algo de errado. - Eu sinto muito.
Ela pensou que sua vida estava cada vez mais estranha desde a chegada de , mas, presa em seus braços daquela maneira, pensou que não importava se algo realmente estivesse fora do lugar. Com o tanto que pudesse se aproximar cada dia mais de , ela ficaria bem.
Capítulo 4
Em toda sua vida, teve apenas dois relacionamentos que resultaram em toda sua experiência amorosa. Um no Ensino Médio, com o garoto esquisito da sala de música, e outro durante a faculdade, com . Um dos garotos mais bonitos do campus. Seu primeiro namoro foi bem simples e durou até o fim do terceiro ano, quando o rapaz, Jimmy, se mudou do país para cursar música. Teve seu primeiro beijo com ele, mas não passou muito disso. Eram tímidos demais para qualquer outra coisa. Ainda era um mistério como eles conseguiram manter algum relacionamento por quase um ano.
Já o segundo namoro… Ah, ela teve todas as experiências possíveis. Exceto a do flerte. era expansivo, corajoso e falante. Não a deixou em paz enquanto não tivesse o primeiro encontro, que se transformou em vários ao longo do primeiro ano de faculdade. Ela logo aceitou o convite de namoro e foi ótimo! Até ele se cansar dela e terminar o relacionamento um pouco antes de sua mãe adoecer.
Não guardava mágoas pelo garoto, ele veio lhe procurar quando descobriu sobre sua mãe. Mas toda aquela história levava a apenas um fato: era péssima no jogo do amor.
Consequentemente, após quatro meses de convívio e saídas constantes com , ela não havia feito nada sobre o enorme sentimento que passou a ocupar todo o seu coração. Ele também não. O que deixava a garota ainda mais confusa. Não que ela esperasse uma atitude dele porque era homem ou algo do tipo. Jamais. Inclusive, naquele momento, queria muito que fosse uma daquelas mulheres que simplesmente expressava todos seus sentimentos e fazia o que desejava. Mas era assim. E era tão bom em adivinhar os desejos dela que, de certa forma, ela gostava de esperar algo dele.
Ainda mais porque estavam mais próximos do que nunca!
era a primeira pessoa a entrar em seu apartamento e, agora, ele já se sentia em casa. Passava a noite no sofá ocasionalmente. Limpava o lugar quando estava desocupado e até já fez compras para ela uma vez. E bom… Aquilo não era algo que amigos fariam… Mas namorados talvez! Ela mesma costumava ajudar a limpar o apartamento na época da faculdade, o que não fizera para ninguém mais além dela mesma.
A questão era: todas as vezes que ela acordava de seu sono incrivelmente tranquilo era apenas para encontrar dormindo em seu sofá e aquela cena acelerava seu coração de formas inusitadas, se é que era possível. Então, caminhava vagarosamente até ele e acariciava seus cabelos por dois segundos, cuidadosa o suficiente para não o acordar. Depois, levantava-se e ia para a cozinha, preparar o café. Mesmo sendo uma péssima cozinheira, não abria mão de fazer algo para , este já tendo provado ser muito melhor naquele departamento do que ela. Sim, sua comida era divina!
- O cheiro está bom… - ela ouviu a voz atrás de si e pulou assustada. Rindo baixo, correu para ajudá-la segurando o cabo da frigideira enquanto seu corpo praticamente se colava às costas delas. congelou no lugar quando sentiu a mão dele envolver a sua, a outra repousando delicadamente em sua cintura.
Ela só podia estar recebendo um castigo celestial.
- Hey, vai com calma ou vai se queimar. - ele disse ainda entre risadas curtas, a garota fez uma careta.
- Sei que tenho a tendência de estragar a comida, mas esse vai ficar bom! - afirmou com toda a certeza de sua vida.
- Eu não duvido, . - respondeu com um sorriso doce e ela se perdeu no rosto dele por alguns segundos. - Pode voltar ao trabalho agora, ou realmente vai queimar!
A bióloga esbravejou baixo voltando sua visão para os ovos mexidos que tentava fazer, deu mais algumas mexidas antes de colocar em dois pratos junto com salsichas já prontas. Eles levaram a comida até o balcão e comeram em silêncio, apreciando muito mais a companhia no que o gosto duvidoso daquele café da manhã.
- Não está tão ruim. - brincou, rindo. - Mas devia experimentar me acordar antes de tentar fazer algo assim.
- Você é realmente pretensioso, não é?! - ela reclamou revirando os olhos o que o fez rir.
- Isso se chama autoconhecimento.
- Que péssimo argumento… Por que não confessa logo que é um renomado chef de cozinha que cansou da fama em Paris e procurou refúgio em um lugar que ninguém te conhece?
- Porque não sou um chef famoso. - ele deu de ombros se levantando da cadeira e pegando os talheres para lavá-los. o acompanhou com os olhos ele virar de costas para ela e de frente para pia. Seus ombros pareciam ainda mais largos daquele ângulo.
- Você admite então que é um chef? - ela perguntou. Há algum tempo tentava descobrir o que ele fazia da vida. Mas era difícil demais arrancar qualquer informação um pouco mais profunda da vida dele.
- Você não consegue lidar com segredos não é, ? - ele suspirou em meio a uma risada um tanto sem graça. Ela não se deixou abalar, desceu do banco e se aproximou cuidadosamente do homem.
Ela tinha ficado mais corajosa nos últimos meses, fazendo coisas que jamais pensou que conseguiria antes. Como conversar com pessoas estranhas em filas, mandar mensagem para suas amigas que não via a tanto tempo e até se inscrever em um curso online de propriedades medicinais de flores. Era um enorme avanço para quem pensava estar condenada a uma vida de solidão tendo apenas sua amada floricultura como companhia e confidente. Claro, até aparecer e mudar tudo.
De alguma forma, ele conseguiu empurrá-la, levantar sua cabeça e apresentar o mundo novamente para ela. Ensinou-a que estar com pessoas não era tão ruim assim, mesmo que ele ainda fosse a única pessoa a ir tão fundo em sua vida. sentiu que cresceu mais nos últimos quatro meses do que nos três anos anteriores.
Apenas não conseguia flertar com o rapaz ou se conseguia, ele não estava interessado. Porém, ela não sabia de verdade as coisas por trás das reações dele. parecia conhecê-la como a palma da mão, mas tudo o que sabia sobre ele estava relacionado a hobbies e gostos em comum. Já não era o bastante. queria mais, queria tudo e, agora, parada atrás dele, ela queria reivindicar.
- Não acha que eu tenho direito de saber mais sobre o homem que dorme, pelo menos três vezes por semana, no meu sofá? - ela sussurrou pegando a barra da camisa dele. congelou. Largou os talheres na pia e suspirou virando-se para a garota.
Os olhos dela eram brilhantes demais, profundos demais. Ainda não sabia como estava resistindo, mas sentia que seu corpo - tão humano - não ia aguentar muito tempo. mordeu o lábio inferior forte.
- Eu sou alguém que protege pessoas. - disse apenas. Era toda a informação que poderia dar sem mentir e estragar tudo. Viu a menina tombar a cabeça para o lado, como se estivesse pensando.
- Um guarda-costas? Mas você passa o dia todo… Oh! - um brilho de entendimento passou pelo rosto de e temeu o que estava por vir. - Você está desempregado! Deve estar tendo dificuldades em achar outra pessoa que precisa do seu trabalho… Bom, se for isso você pode ficar por aqui! Pode me ajudar na floricultura também, já que passa a maior parte do tempo por lá… Entende de flores o bastante para isso… Devia ter me falado antes! Não me importo em ajudar, você tem feito tanto por mim...
começou a falar, para não parar mais. Em um de seus raros momentos de liberdade e conforto ela apenas deixava sua voz fluir, enchendo o ambiente de cores. sorriu tão docemente, mas ela não percebeu por estar entretida demais com a série de epifanias que chovia em sua mente. Era como se tudo se encaixasse e ele não estivesse tão distante assim. Talvez estivesse mais perto do que nunca.
Ops. Perto demais.
só voltou a realidade quando sentiu os lábios dele encontrarem os seus, suavemente. Durou poucos segundos até ele se afastar, assustado, desesperado. A garota olhou para cima em êxtase e ele abriu a boca para se desculpar.
- Por favor, não diga que sente muito. - ela foi mais rápida, balbuciando com os olhos pregados no rosto dele. suavizou a expressão de choque, desistindo completamente de seu bom senso ou autocontrole.
Queria experimentar. Queria ser humano.
queria . Por isso, a beijou novamente.
Já o segundo namoro… Ah, ela teve todas as experiências possíveis. Exceto a do flerte. era expansivo, corajoso e falante. Não a deixou em paz enquanto não tivesse o primeiro encontro, que se transformou em vários ao longo do primeiro ano de faculdade. Ela logo aceitou o convite de namoro e foi ótimo! Até ele se cansar dela e terminar o relacionamento um pouco antes de sua mãe adoecer.
Não guardava mágoas pelo garoto, ele veio lhe procurar quando descobriu sobre sua mãe. Mas toda aquela história levava a apenas um fato: era péssima no jogo do amor.
Consequentemente, após quatro meses de convívio e saídas constantes com , ela não havia feito nada sobre o enorme sentimento que passou a ocupar todo o seu coração. Ele também não. O que deixava a garota ainda mais confusa. Não que ela esperasse uma atitude dele porque era homem ou algo do tipo. Jamais. Inclusive, naquele momento, queria muito que fosse uma daquelas mulheres que simplesmente expressava todos seus sentimentos e fazia o que desejava. Mas era assim. E era tão bom em adivinhar os desejos dela que, de certa forma, ela gostava de esperar algo dele.
Ainda mais porque estavam mais próximos do que nunca!
era a primeira pessoa a entrar em seu apartamento e, agora, ele já se sentia em casa. Passava a noite no sofá ocasionalmente. Limpava o lugar quando estava desocupado e até já fez compras para ela uma vez. E bom… Aquilo não era algo que amigos fariam… Mas namorados talvez! Ela mesma costumava ajudar a limpar o apartamento na época da faculdade, o que não fizera para ninguém mais além dela mesma.
A questão era: todas as vezes que ela acordava de seu sono incrivelmente tranquilo era apenas para encontrar dormindo em seu sofá e aquela cena acelerava seu coração de formas inusitadas, se é que era possível. Então, caminhava vagarosamente até ele e acariciava seus cabelos por dois segundos, cuidadosa o suficiente para não o acordar. Depois, levantava-se e ia para a cozinha, preparar o café. Mesmo sendo uma péssima cozinheira, não abria mão de fazer algo para , este já tendo provado ser muito melhor naquele departamento do que ela. Sim, sua comida era divina!
- O cheiro está bom… - ela ouviu a voz atrás de si e pulou assustada. Rindo baixo, correu para ajudá-la segurando o cabo da frigideira enquanto seu corpo praticamente se colava às costas delas. congelou no lugar quando sentiu a mão dele envolver a sua, a outra repousando delicadamente em sua cintura.
Ela só podia estar recebendo um castigo celestial.
- Hey, vai com calma ou vai se queimar. - ele disse ainda entre risadas curtas, a garota fez uma careta.
- Sei que tenho a tendência de estragar a comida, mas esse vai ficar bom! - afirmou com toda a certeza de sua vida.
- Eu não duvido, . - respondeu com um sorriso doce e ela se perdeu no rosto dele por alguns segundos. - Pode voltar ao trabalho agora, ou realmente vai queimar!
A bióloga esbravejou baixo voltando sua visão para os ovos mexidos que tentava fazer, deu mais algumas mexidas antes de colocar em dois pratos junto com salsichas já prontas. Eles levaram a comida até o balcão e comeram em silêncio, apreciando muito mais a companhia no que o gosto duvidoso daquele café da manhã.
- Não está tão ruim. - brincou, rindo. - Mas devia experimentar me acordar antes de tentar fazer algo assim.
- Você é realmente pretensioso, não é?! - ela reclamou revirando os olhos o que o fez rir.
- Isso se chama autoconhecimento.
- Que péssimo argumento… Por que não confessa logo que é um renomado chef de cozinha que cansou da fama em Paris e procurou refúgio em um lugar que ninguém te conhece?
- Porque não sou um chef famoso. - ele deu de ombros se levantando da cadeira e pegando os talheres para lavá-los. o acompanhou com os olhos ele virar de costas para ela e de frente para pia. Seus ombros pareciam ainda mais largos daquele ângulo.
- Você admite então que é um chef? - ela perguntou. Há algum tempo tentava descobrir o que ele fazia da vida. Mas era difícil demais arrancar qualquer informação um pouco mais profunda da vida dele.
- Você não consegue lidar com segredos não é, ? - ele suspirou em meio a uma risada um tanto sem graça. Ela não se deixou abalar, desceu do banco e se aproximou cuidadosamente do homem.
Ela tinha ficado mais corajosa nos últimos meses, fazendo coisas que jamais pensou que conseguiria antes. Como conversar com pessoas estranhas em filas, mandar mensagem para suas amigas que não via a tanto tempo e até se inscrever em um curso online de propriedades medicinais de flores. Era um enorme avanço para quem pensava estar condenada a uma vida de solidão tendo apenas sua amada floricultura como companhia e confidente. Claro, até aparecer e mudar tudo.
De alguma forma, ele conseguiu empurrá-la, levantar sua cabeça e apresentar o mundo novamente para ela. Ensinou-a que estar com pessoas não era tão ruim assim, mesmo que ele ainda fosse a única pessoa a ir tão fundo em sua vida. sentiu que cresceu mais nos últimos quatro meses do que nos três anos anteriores.
Apenas não conseguia flertar com o rapaz ou se conseguia, ele não estava interessado. Porém, ela não sabia de verdade as coisas por trás das reações dele. parecia conhecê-la como a palma da mão, mas tudo o que sabia sobre ele estava relacionado a hobbies e gostos em comum. Já não era o bastante. queria mais, queria tudo e, agora, parada atrás dele, ela queria reivindicar.
- Não acha que eu tenho direito de saber mais sobre o homem que dorme, pelo menos três vezes por semana, no meu sofá? - ela sussurrou pegando a barra da camisa dele. congelou. Largou os talheres na pia e suspirou virando-se para a garota.
Os olhos dela eram brilhantes demais, profundos demais. Ainda não sabia como estava resistindo, mas sentia que seu corpo - tão humano - não ia aguentar muito tempo. mordeu o lábio inferior forte.
- Eu sou alguém que protege pessoas. - disse apenas. Era toda a informação que poderia dar sem mentir e estragar tudo. Viu a menina tombar a cabeça para o lado, como se estivesse pensando.
- Um guarda-costas? Mas você passa o dia todo… Oh! - um brilho de entendimento passou pelo rosto de e temeu o que estava por vir. - Você está desempregado! Deve estar tendo dificuldades em achar outra pessoa que precisa do seu trabalho… Bom, se for isso você pode ficar por aqui! Pode me ajudar na floricultura também, já que passa a maior parte do tempo por lá… Entende de flores o bastante para isso… Devia ter me falado antes! Não me importo em ajudar, você tem feito tanto por mim...
começou a falar, para não parar mais. Em um de seus raros momentos de liberdade e conforto ela apenas deixava sua voz fluir, enchendo o ambiente de cores. sorriu tão docemente, mas ela não percebeu por estar entretida demais com a série de epifanias que chovia em sua mente. Era como se tudo se encaixasse e ele não estivesse tão distante assim. Talvez estivesse mais perto do que nunca.
Ops. Perto demais.
só voltou a realidade quando sentiu os lábios dele encontrarem os seus, suavemente. Durou poucos segundos até ele se afastar, assustado, desesperado. A garota olhou para cima em êxtase e ele abriu a boca para se desculpar.
- Por favor, não diga que sente muito. - ela foi mais rápida, balbuciando com os olhos pregados no rosto dele. suavizou a expressão de choque, desistindo completamente de seu bom senso ou autocontrole.
Queria experimentar. Queria ser humano.
queria . Por isso, a beijou novamente.
Capítulo 5
Suas costas queimavam como o inferno, se é que poderia mesmo usar essa descrição. Segurou a vontade de gemer de dor enquanto se ajeitava na cama, levantando o tronco nu com dificuldade. Ainda bem que não estava ali, ou teria problemas. Já se passaram sete meses desde que viera ao encontro da garota e sua estadia já tinha dias contados. Ele sentia o tempo se esvaindo a cada dia que acordava com aquela dor crescente. Iria piorar então ele deveria ser rápido. Não por ele, claro, mas por .
O problema era que estava sendo muito mais difícil do que ele esperava. Afinal, ele não contava que o fator humano fosse tão forte. As emoções, o desejo, a carne… Tudo aquilo era tão sublime que não evitou desejar aos céus que permanecesse naquele mundo um pouco mais. E de todos os sentimentos o amor era o mais preocupante. Ele fazia coisas inimagináveis, revirava seu interior e tirava qualquer pingo de razão que insistia em colocar em sua mente. Ele cedeu ao amor no fim das contas, porque tinha licença para isso. Porque podia ser humano por um pouco de tempo e sentiu que deveria aproveitar aquela oportunidade.
Só que havia um preço alto a pagar e ele ainda estava queimando em suas costas.
- Hey, ! - o chamou e logo apareceu na soleira da porta, camisa longa, shorts curtos e cabelos desalinhados.
conhecia o paraíso, mas pensou que aquilo era uma visão que facilmente poderia se encaixar por lá.
- Bom dia, . - ele sorriu e ela caminhou até ele devagar sentando-se ao seu lado na cama. A proximidade da garota fazia a dor diminuir aos poucos e logo tudo o que podia sentir era as carícias dela em seu braço.
- Você estava demorando, está tudo bem? - perguntou preocupada e ele sorriu ainda mais.
- Sim… É só que… - seu tom era divertido e então ele a puxou para a cama, até ficar deitada e, assim, posicionou-se por cima da garota que riu durante o processo. - Não quero sair da cama hoje.
Ele sussurrou praticamente contra os lábios dela e então a beijou. Calmo, suave e apaixonado. o abraçou pelo pescoço trazendo para ainda mais perto, entregue e absorta no beijo. Ficaram ali sabe-se lá por quanto tempo, provando-se, tocando-se. Amando um ao outro com intensidade e dedicação. Deslizando mãos, marcando os corpos. Ela fincava as unhas em seus ombros e depois as escorregava pelos braços. Abraçava-o trazendo para perto. E ele fazia de tudo para mostrar que poderia dar de tudo a ela, o mundo e um pouco mais.
sentiu um arrepio quase doloroso quando ela traçou suavemente as marcas em suas costas. Cicatrizes conhecidas por ela, mas que ele explicou como “ócios do ofício”. Não mentiu. Na verdade, ele não podia mentir. Então, deixou que ela assumisse qualquer coisa. nem quis falar muito no assunto, sabia que tinha limites e segredos que uma relação não poderia abarcar.
Foi ele quem se afastou primeiro, devagar e com os olhos ainda fechados como se quisesse gravar em sua mente as sensações diferenciadas que seu corpo humano tinha. Depois, abriu os olhos e encontrou o rosto de , os olhos grandes e curiosos encarando-o como se ele fosse a melhor coisa de sua vida. sabia que ela pensava assim, o que era um de seus maiores problemas.
- , eu tenho que te dizer algo importante. - ela sussurrou subindo uma de suas mãos até o rosto dele.
- Diga. - sorriu, roçando a bochecha contra a mão dela. soltou uma risada divertida.
- Eu recebi um email ontem… De uma faculdade na capital. Eles estão selecionando biólogos para um projeto de pesquisa em flores e propriedades comestíveis e medicinais delas. Certamente eu não passarei, mas… Pensei que seria legal tentar. O que acha?
O coração do homem falhou uma batida e ele teve que controlar a reação de choque e desconfiança para colocar uma de alegria absoluta.
- Isso é incrível! - ele foi sincero. Por mais que aquilo fosse o início do fim, era a oportunidade que ela precisava para seguir em frente, para viver como deveria ao invés de limitar seu talento em uma estufa escondida em uma cidade pequena. merecia aquilo.
Além do mais, era o que precisava para partir sem deixar fios soltos.
Por isso, ele a abraçou, rolando com ela pela cama.
- Você tem que tentar, ! Nasceu para isso! E você mesma já contou que gostaria de saber mais sobre isso. Não fez aquele curso online por nada…
- Eu sei, é só que… Eu não sou boa o bas… - foi interrompida pelos lábios dele se colando aos seus, delicados.
- Você é! - ele sussurrou em seu ouvido enquanto afundava o rosto na curva do pescoço da garota. Ela sorriu o abraçando e sentindo o peso do corpo dele afunda um pouco mais seu corpo no colchão.
O silêncio pairou por alguns segundos, até ela começar a acariciar os cabelos do rapaz e soltar um suspiro alto, seguido de um sorriso.
- Sabe… - ela começou com um tom baixo. - Assim que eu te conheci, pensei que era um enviado do meu anjo da guarda para me salvar de mim mesma… Mas agora… Eu tenho certeza. Obrigada.
Ela sussurrou, fechando os olhos, e não percebeu que uma única lágrima caiu perdida em seu ombro.
O problema era que estava sendo muito mais difícil do que ele esperava. Afinal, ele não contava que o fator humano fosse tão forte. As emoções, o desejo, a carne… Tudo aquilo era tão sublime que não evitou desejar aos céus que permanecesse naquele mundo um pouco mais. E de todos os sentimentos o amor era o mais preocupante. Ele fazia coisas inimagináveis, revirava seu interior e tirava qualquer pingo de razão que insistia em colocar em sua mente. Ele cedeu ao amor no fim das contas, porque tinha licença para isso. Porque podia ser humano por um pouco de tempo e sentiu que deveria aproveitar aquela oportunidade.
Só que havia um preço alto a pagar e ele ainda estava queimando em suas costas.
- Hey, ! - o chamou e logo apareceu na soleira da porta, camisa longa, shorts curtos e cabelos desalinhados.
conhecia o paraíso, mas pensou que aquilo era uma visão que facilmente poderia se encaixar por lá.
- Bom dia, . - ele sorriu e ela caminhou até ele devagar sentando-se ao seu lado na cama. A proximidade da garota fazia a dor diminuir aos poucos e logo tudo o que podia sentir era as carícias dela em seu braço.
- Você estava demorando, está tudo bem? - perguntou preocupada e ele sorriu ainda mais.
- Sim… É só que… - seu tom era divertido e então ele a puxou para a cama, até ficar deitada e, assim, posicionou-se por cima da garota que riu durante o processo. - Não quero sair da cama hoje.
Ele sussurrou praticamente contra os lábios dela e então a beijou. Calmo, suave e apaixonado. o abraçou pelo pescoço trazendo para ainda mais perto, entregue e absorta no beijo. Ficaram ali sabe-se lá por quanto tempo, provando-se, tocando-se. Amando um ao outro com intensidade e dedicação. Deslizando mãos, marcando os corpos. Ela fincava as unhas em seus ombros e depois as escorregava pelos braços. Abraçava-o trazendo para perto. E ele fazia de tudo para mostrar que poderia dar de tudo a ela, o mundo e um pouco mais.
sentiu um arrepio quase doloroso quando ela traçou suavemente as marcas em suas costas. Cicatrizes conhecidas por ela, mas que ele explicou como “ócios do ofício”. Não mentiu. Na verdade, ele não podia mentir. Então, deixou que ela assumisse qualquer coisa. nem quis falar muito no assunto, sabia que tinha limites e segredos que uma relação não poderia abarcar.
Foi ele quem se afastou primeiro, devagar e com os olhos ainda fechados como se quisesse gravar em sua mente as sensações diferenciadas que seu corpo humano tinha. Depois, abriu os olhos e encontrou o rosto de , os olhos grandes e curiosos encarando-o como se ele fosse a melhor coisa de sua vida. sabia que ela pensava assim, o que era um de seus maiores problemas.
- , eu tenho que te dizer algo importante. - ela sussurrou subindo uma de suas mãos até o rosto dele.
- Diga. - sorriu, roçando a bochecha contra a mão dela. soltou uma risada divertida.
- Eu recebi um email ontem… De uma faculdade na capital. Eles estão selecionando biólogos para um projeto de pesquisa em flores e propriedades comestíveis e medicinais delas. Certamente eu não passarei, mas… Pensei que seria legal tentar. O que acha?
O coração do homem falhou uma batida e ele teve que controlar a reação de choque e desconfiança para colocar uma de alegria absoluta.
- Isso é incrível! - ele foi sincero. Por mais que aquilo fosse o início do fim, era a oportunidade que ela precisava para seguir em frente, para viver como deveria ao invés de limitar seu talento em uma estufa escondida em uma cidade pequena. merecia aquilo.
Além do mais, era o que precisava para partir sem deixar fios soltos.
Por isso, ele a abraçou, rolando com ela pela cama.
- Você tem que tentar, ! Nasceu para isso! E você mesma já contou que gostaria de saber mais sobre isso. Não fez aquele curso online por nada…
- Eu sei, é só que… Eu não sou boa o bas… - foi interrompida pelos lábios dele se colando aos seus, delicados.
- Você é! - ele sussurrou em seu ouvido enquanto afundava o rosto na curva do pescoço da garota. Ela sorriu o abraçando e sentindo o peso do corpo dele afunda um pouco mais seu corpo no colchão.
O silêncio pairou por alguns segundos, até ela começar a acariciar os cabelos do rapaz e soltar um suspiro alto, seguido de um sorriso.
- Sabe… - ela começou com um tom baixo. - Assim que eu te conheci, pensei que era um enviado do meu anjo da guarda para me salvar de mim mesma… Mas agora… Eu tenho certeza. Obrigada.
Ela sussurrou, fechando os olhos, e não percebeu que uma única lágrima caiu perdida em seu ombro.
Capítulo 6
Era a primeira vez que não entrava sozinha naquele cemitério. tinha uma das mãos envolvidas pela mão de . Na outra, segurava o pequeno buquê de lisiantos rosados, os mais bonitos de sua estufa. Fazia parte da tradição que criou desde sua morte, há quatro anos. Ela parou em frente a lápide já um tanto gasta, mas sempre florida.
Também era a primeira vez que não sentia a necessidade imensa de chorar.
Não que tivesse superado, que achasse justo a partida de sua mãe quando seu pai tinha ido ainda mais cedo. Talvez apenas estivesse se acostumando a ideia de que a saudade nunca iria passar e lidar com a dor era difícil, mas necessário. Entretanto, o principal: ela não tinha que fazer isso sozinha. O tempo que esteve com Jin ensinou que pessoas poderiam ser assustadoras, porém também poderiam ser ainda mais acolhedoras. agora tinha um namorado e recuperou o contato com as pessoas mais importantes de sua vida. Mais do que isso, estava tocando sua história para frente.
- Mãe… - ela sussurrou ao vento e apertou um pouquinho mais forte a mão de . - Como você está? Espero que tão bem quanto eu… - disse um pouco mais alto e arriscou uma risadinha sem forças no final. - Eu arrumei um namorado e queria que o conhecesse… Ele tem me ensinado muitas coisas durante os últimos 10 meses… Você sabe, ano passado eu te disse que talvez o melhor para mim era mesmo simplesmente cuidar da floricultura para sempre… Mas eu me tornei ganaciosa e fiz planos para o futuro. Fiz inscrição em um projeto de pesquisa de uma universidade grande, mãe, e quero ser chamada. Quero ter essa oportunidade. Eu quero crescer mais e fazer mais coisas. Ver o mundo e explorar as flores de todos os continentes. Meu anjo da guarda tem feito um ótimo trabalho… Porém… Você bem que poderia dizer a ele para fazer um esforço para me dar essa vaga...
pausou o pequeno discurso para rir baixo, sendo acompanhada pelo companheiro. Desta vez, ele soltou sua mão para passar um de seus braços pelos ombros dela, aconchegando-a um pouco mais perto de seu peito. Ela se encostou nele e suspirou controlando o pouco do choro que veio aos seus olhos. Queria se manter forte até o fim.
- Eu sinto sua falta, mãe… E sempre vou sentir. Talvez eu não seja capaz de voltar aqui no próximo ano. Mas estarei conhecendo o mundo sabendo que está cuidado de mim ai de cima. Eu te amo.
Ela sentiu uma rajada de vento sacudir seus cabelos fortemente, separou-se de e olhou para o horizonte por alguns instantes. Os olhos do rapaz estavam cravados na garota e um sorriso imensamente doce apareceu nos lábios dele. não tinha os olhos de , ela não sabia, mas havia uma sombra protetora pairando ao seu lado. Outra rajada de vento e ela sentiu calor ao invés de frio. Era estranhamente reconfortante. Jin então pegou o buquê de suas mãos e cuidadosamente o ofereceu ao túmulo fazendo uma pequena reverência. Depois voltou o corpo para a garota, um sorriso triste nos lábios dela e apenas uma lágrima decorou seu rosto por poucos segundos antes do homem limpá-la com o dedão enquanto envolvia seu rosto em suas mãos.
- Não se preocupe, . Ela está feliz e cuidado de você. - ele sussurrou com toda a certeza do mundo.
E ela sentiu novamente o vento cálido em sua pele confirmando aquelas palavras.
(...)
- !! - o homem se sobressaltou da cadeira, deixando o livro se estatelar no chão enquanto levantava desesperado a procura da voz desesperada.
saiu correndo dos fundos da loja para o balcão, o sorriso brilhante no rosto, os olhos esperançosos e reluzentes. Ela levava o celular na mão trêmula.
- O que houve? - ele respondeu assustado, vasculhando o rosto dela em busca de um sinal de desconforto. Mas não havia nada além de brilho, confiança e expectativa.
- O email da universidade chegou! Não abri ainda, vamos ler juntos! - Ela disse enquanto se concentrava em destravar o telefone, Jin se posicionou atrás da garota quando ela clicou no pequeno ícone de mensagem em sua tela. A espera era uma tortura, mas não demorou para que um pequeno texto aparecesse. - Cara Candidata , gostaríamos de informar que foi aprovada com sucesso para ser a bolsista do nosso projeto. Enviamos as mais sinceras felicitações. Segue abaixo as instruções para o restante do processo… EU PASSEI!
A garota gritou. Era a primeira vez que ouvia sua voz soar tão alto em felicidade. Ele a abraçou pela cintura, levantando-a e girando-a no ar por alguns segundos.
- Céus! Eu não acredito que está acontecendo comigo… Eu consegui! Jamais poderia… - Como o de costume, ele a calou com um beijo. Fazia sempre que a garota começava a reclamar demais de si mesma. Ela riu e o apertou mais em seu abraço.
- Eu sabia que ia conseguir. - ele colou a testa na dela e sorriu carinhosamente.
- Não teria se não fosse você.
- Eu não fiz nada. - riu se afastando.
- Você fez tudo, Jin. E eu ainda não sei como te agradecer. - ela olhou para baixo por um instante e ele percebeu as lágrimas correndo pelo rosto dela. - E também… Não sei como vou pedir para você me esperar.
suspirou fundo. Ele mesmo contendo o próprio pranto, mordeu o lábio e a trouxe para mais perto novamente. encostou sua cabeça no peito dele. Uma das coisas que descobriu sobre o amor, era que ela precisava pensar nela mesma antes dele. Soava egoísta e com certeza era doloroso. Porém, um sonho estava em jogo. Um sonho que ela se permitiu sonhar através dele.
- Não precisamos falar disso agora, . - Mas precisavam. - Nós temos tempo.
Eles não tinham.
Também era a primeira vez que não sentia a necessidade imensa de chorar.
Não que tivesse superado, que achasse justo a partida de sua mãe quando seu pai tinha ido ainda mais cedo. Talvez apenas estivesse se acostumando a ideia de que a saudade nunca iria passar e lidar com a dor era difícil, mas necessário. Entretanto, o principal: ela não tinha que fazer isso sozinha. O tempo que esteve com Jin ensinou que pessoas poderiam ser assustadoras, porém também poderiam ser ainda mais acolhedoras. agora tinha um namorado e recuperou o contato com as pessoas mais importantes de sua vida. Mais do que isso, estava tocando sua história para frente.
- Mãe… - ela sussurrou ao vento e apertou um pouquinho mais forte a mão de . - Como você está? Espero que tão bem quanto eu… - disse um pouco mais alto e arriscou uma risadinha sem forças no final. - Eu arrumei um namorado e queria que o conhecesse… Ele tem me ensinado muitas coisas durante os últimos 10 meses… Você sabe, ano passado eu te disse que talvez o melhor para mim era mesmo simplesmente cuidar da floricultura para sempre… Mas eu me tornei ganaciosa e fiz planos para o futuro. Fiz inscrição em um projeto de pesquisa de uma universidade grande, mãe, e quero ser chamada. Quero ter essa oportunidade. Eu quero crescer mais e fazer mais coisas. Ver o mundo e explorar as flores de todos os continentes. Meu anjo da guarda tem feito um ótimo trabalho… Porém… Você bem que poderia dizer a ele para fazer um esforço para me dar essa vaga...
pausou o pequeno discurso para rir baixo, sendo acompanhada pelo companheiro. Desta vez, ele soltou sua mão para passar um de seus braços pelos ombros dela, aconchegando-a um pouco mais perto de seu peito. Ela se encostou nele e suspirou controlando o pouco do choro que veio aos seus olhos. Queria se manter forte até o fim.
- Eu sinto sua falta, mãe… E sempre vou sentir. Talvez eu não seja capaz de voltar aqui no próximo ano. Mas estarei conhecendo o mundo sabendo que está cuidado de mim ai de cima. Eu te amo.
Ela sentiu uma rajada de vento sacudir seus cabelos fortemente, separou-se de e olhou para o horizonte por alguns instantes. Os olhos do rapaz estavam cravados na garota e um sorriso imensamente doce apareceu nos lábios dele. não tinha os olhos de , ela não sabia, mas havia uma sombra protetora pairando ao seu lado. Outra rajada de vento e ela sentiu calor ao invés de frio. Era estranhamente reconfortante. Jin então pegou o buquê de suas mãos e cuidadosamente o ofereceu ao túmulo fazendo uma pequena reverência. Depois voltou o corpo para a garota, um sorriso triste nos lábios dela e apenas uma lágrima decorou seu rosto por poucos segundos antes do homem limpá-la com o dedão enquanto envolvia seu rosto em suas mãos.
- Não se preocupe, . Ela está feliz e cuidado de você. - ele sussurrou com toda a certeza do mundo.
E ela sentiu novamente o vento cálido em sua pele confirmando aquelas palavras.
(...)
- !! - o homem se sobressaltou da cadeira, deixando o livro se estatelar no chão enquanto levantava desesperado a procura da voz desesperada.
saiu correndo dos fundos da loja para o balcão, o sorriso brilhante no rosto, os olhos esperançosos e reluzentes. Ela levava o celular na mão trêmula.
- O que houve? - ele respondeu assustado, vasculhando o rosto dela em busca de um sinal de desconforto. Mas não havia nada além de brilho, confiança e expectativa.
- O email da universidade chegou! Não abri ainda, vamos ler juntos! - Ela disse enquanto se concentrava em destravar o telefone, Jin se posicionou atrás da garota quando ela clicou no pequeno ícone de mensagem em sua tela. A espera era uma tortura, mas não demorou para que um pequeno texto aparecesse. - Cara Candidata , gostaríamos de informar que foi aprovada com sucesso para ser a bolsista do nosso projeto. Enviamos as mais sinceras felicitações. Segue abaixo as instruções para o restante do processo… EU PASSEI!
A garota gritou. Era a primeira vez que ouvia sua voz soar tão alto em felicidade. Ele a abraçou pela cintura, levantando-a e girando-a no ar por alguns segundos.
- Céus! Eu não acredito que está acontecendo comigo… Eu consegui! Jamais poderia… - Como o de costume, ele a calou com um beijo. Fazia sempre que a garota começava a reclamar demais de si mesma. Ela riu e o apertou mais em seu abraço.
- Eu sabia que ia conseguir. - ele colou a testa na dela e sorriu carinhosamente.
- Não teria se não fosse você.
- Eu não fiz nada. - riu se afastando.
- Você fez tudo, Jin. E eu ainda não sei como te agradecer. - ela olhou para baixo por um instante e ele percebeu as lágrimas correndo pelo rosto dela. - E também… Não sei como vou pedir para você me esperar.
suspirou fundo. Ele mesmo contendo o próprio pranto, mordeu o lábio e a trouxe para mais perto novamente. encostou sua cabeça no peito dele. Uma das coisas que descobriu sobre o amor, era que ela precisava pensar nela mesma antes dele. Soava egoísta e com certeza era doloroso. Porém, um sonho estava em jogo. Um sonho que ela se permitiu sonhar através dele.
- Não precisamos falar disso agora, . - Mas precisavam. - Nós temos tempo.
Eles não tinham.
Capítulo 7
Quando lhe disseram que ser humano era perigoso, não ligou muito. Considerava-se um dos mais fortes anjos da guarda presentes no céu. Era sensato, carinhoso, bondoso e proativo. Também se orgulhava de ser considerado uma fortaleza por muitos anjos mais novos e também conseguiu respeito dos mais velhos. Portanto, quando a ideia de descer a Terra lhe veio, não parecia sua pior missão. Claro, ele foi alertado diversas vezes por todos aqueles que ousaram fazer o mesmo. Na maioria dos casos, algo dava errado porque os anjos não estavam acostumados a lidar com as coisas do corpo humano, seus sentimentos, suas necessidades. E quando se descia, era como se a vida de anjo virasse memória e ele assumisse uma identidade genuinamente humana. Sem poderes e com poucos recursos previamente conseguidos. As missões não poderiam demorar, o prazo máximo era de um ano e caso ele não voltasse antes, seria carregado de volta.
Absolutamente plausível, em sua opinião.
não iria se deixar abalar pelos humanos e suas emoções. Por mais lindas e tentadoras que elas fossem. Ele era mais forte do que isso.
Acontece que não.
E se tornou mais um anjo falho e condenado pelas consequências de se apaixonar enquanto humano e ainda viver carnalmente o amor, em todas as formas. Mesmo que tivesse um corpo humano, não lhe era conveniente ser humano. Mas ele só foi entender meses depois quando já era tarde demais e estava perdidamente apaixonado por , sua protegida. Aquela história era comum entre os anjos que resolviam descer e seus desdobramentos eram eternos.
Não havia uma punição específica.
Apenas uma regra: ao fim da missão, o anjo deveria apagar todas as memórias de quem esteve próximo durante a estadia terrestre. Caso não fosse cumprido, outro anjo se encarregaria do trabalho. E certamente aquilo lhe parecia dor o suficiente para o resto da eternidade. Era o que se ganhava por quebrar as regras. Não que se arrependesse. Isso jamais.
Se não tivesse tomado tal decisão, talvez as malas de não estariam sendo feitas nesse exato momento. Sentado na cama que dividiram por quase sete meses, o homem (ou anjo) observava a garota embalar algumas roupas para sua mudança. O clima era pesado naquela semana, uma áurea de despedida pairava ali. Jin tinha decidido que esperaria o dia da partida para apagar a memória de sua protegida e voltar aos céus, até mesmo havia convencido a garota de fechar a loja pelo tempo necessário alegando que queria voltar para a profissão original ao invés de cuidar de suas flores. Ela aceitou e doou a maior parte de seus cultivos para as escolas da região se enfeitarem. Não teria problemas em reconstruir aquilo novamente.
Não se tivesse ao seu lado, pensou.
Ele suspirou mais fundo e ela ouviu virando-se para trás e encarando a expressão abatida do namorado.
- Se ficar me olhando assim, vai ficar ainda mais difícil de partir. - ela sussurrou se levantando do chão para ir se sentar na cama. riu sem graça.
- Desculpe. Estava pensando em algumas coisas. Falta muita coisa? Precisa de ajuda? - ele desviou o assunto.
- Não. Nada que eu não consiga fazer nessa semana restante.
Uma semana. Era tudo o que ele tinha. concordou com a cabeça e sorriu envolvendo uma das mãos da garota nas suas. Um choque lhe percorreu o corpo até as costas, especificamente onde guardava suas asas. A dor ficava cada vez mais intensa, claro sinal do esgotamento de seu tempo. Ele sentiu uma pontada a mais das costas e gemeu baixo mordendo o interior da bochecha. apertou os olhos.
- Hey, está tudo bem? - ela perguntou preocupada.
- Está sim, não se preocupe. É só uma dor nas costas… Acho que dormi de mal jeito.
- Hm… - apenas concordou com a cabeça, sem estar completamente convencida. Dormir mal jamais daria a dor que ele parecia sentir no momento.
As costas de começaram a arder. Ele queria xingar, já havia chegado naquele estágio antes e era horrível de suportar. Sorte que nunca havia presenciado nenhuma de suas crises. Ele respirou fundo tentando se acalmar e não a preocupar mais.
- Tem certeza que está bem? - ela perguntou bruscamente, o tom da voz um pouco mais alto e ainda mais aflito. - Você está suando!
não conseguiu responder porque a dor aumentou. colocou uma de suas mãos na sua testa, estava pelando de quente. A garota se levantou.
- Céus! Temos que ir ao médico! Você está com febre! Tem algo de errado! Vou chamar um táxi…
- NÃO! - se esforçou para puxá-la de volta. - Não precisa! Vai passar daqui a pouco.
- Como você sabe? Já teve isso antes? ! Você está doente?! - voltou desesperada para a cama envolvendo o rapaz em seus braços. Sua respiração estava pesada e ele suava como se tivesse corrido uma maratona. Parecia que ia desmaiar. - Você não pode fazer isso comigo, nós vamos ao hospital sim!
- Não, … Por favo… AHHH.
sentiu uma dor ainda maior em suas costas então entendeu. Seu tempo havia chegado ao fim. Olhou para o rosto desesperado de e o trouxe para perto com a mão que conseguiu levantar. Beijou-a nos lábios vagarosamente, apaixonado como nunca.
- Me desculpe… - ele sussurrou contra a boca dela.
tentava entender o que estava acontecendo, o desespero tomando conta de si. Não podia perdê-lo, ficaria sozinha novamente. O que faria? O que ela deveria fazer? Estava em choque, paralisada pela intensidade das emoções que corriam pelo seu corpo.
Sua mente só voltou ao raciocínio quando percebeu as costas de , duas marcas de sangue manchavam a camiseta branca do rapaz, bem nos lugares de suas cicatrizes. Ela prestou mais atenção, era como se algo quisesse sair dali. Estava empurrando o tecido para cima, o sangue aumentava. Céus! O que era aquilo!? E quando ela clamou em pensamento, tudo se iluminou. Parecia que o mundo estava em câmera lenta. caiu no chão enquanto contemplava asas saindo das costas de .
E então ela entendeu.
- Você… - ela gaguejou ainda relutante em acreditar naquilo que reluzia diante os seus olhos. - Você é um anjo!
queria poder praguejar. Dizer palavrões aos sete cantos do mundo, mas não tinha muita força restando, sabia que seus últimos segundos na terra deviam ser dedicados a somente uma coisa: apagar a memória de .
- Desculpe, … Eu não podia… - com dificuldade ele se levantou da cama, caminhando cambaleante até a garota e estendendo a mão para levantá-la. Mesmo com sua respiração pesada e o medo percorrendo o corpo, aceitou, pondo-se de pé. - Por favor, me perdoe.
Ele sussurrou abaixando o rosto e fitando os pés. Os últimos resquícios de humanidade deixaram que o anjo chorasse na frente da garota que ainda não conseguia entender o que estava acontecendo ali. Segundos se passaram e tudo o que podia ser ouvido era o pranto cortante de preenchendo o cômodo. não podia aguentar mais. Não importava o que estava acontecendo, nem quem aquele homem realmente era.
A única coisa que importava para é que ela amava , anjo ou humano. Ela o amava.
Por isso, ergueu as mãos até o rosto dele e levantou-o para que o encarasse. Os olhos sempre tão gentis de estavam vermelhos e inchados, porém o brilho que vira desde o primeiro dia cintilava como nunca. Talvez essa fosse sua maior pista, pena não ter percebido antes.
- Para de se desculpar… - ela murmurou e sorriu, lágrimas descendo vagarosamente pelo canto de seus olhos. - Você é o meu anjo da guarda… Eu não poderia querer alguém melhor para me proteger… Você me salvou, , tantas vezes… E a única coisa que eu posso te dizer em troca hoje é que eu te amo.
chorou ainda mais e entendeu que aquelas lágrimas não eram apenas porque seu disfarce tinha sido descoberto.
- Você tem que ir, não é? - ela perguntou ainda tentando sustentar o sorriso no rosto.
- Tenho. - ele finalmente respondeu engolindo o choro e respirando fundo.
- Está tudo bem… Eu…
- Não, . Não está… - falou entre lágrimas um pouco mais controladas. Teve que prender o ar por alguns segundos antes de falar sem tremular a voz. - Escute, você é uma garota incrível e merece tudo o que quiser. Eu vou estar ao seu lado sempre e todas as vezes que o vento soprar em suas costas, tenha certeza, será meu toque. Eu estarei olhando por você.
sorriu, era uma promessa e ela sabia que cumpriria. Ele acolheu o rosto da garota entre suas mãos. Era chegada a hora.
- Olhe nos meus olhos, . - ela o fez, mesmo sentindo que algo de errado viria daquilo. engoliu seco. - Eu te amo.
Ela ouviu ele sussurrar e logo depois um clarão tomou conta de seus olhos.
(...)
Quando acordou na manhã seguinte sentia sua cabeça doer como o inferno. Levantou-se devagar e deu uma olhada no quarto. Estava uma bagunça com roupas espalhadas por todos os cantos e sua mala aberta parcialmente cheia. Suspirou. Sentia-se como se tivesse tomando o maior porre de sua vida. Passou a mão pelos cabelos, algo estava estranho por ali, fora do lugar, errado… Vazio.
De repente, uma pequena ventania entrou pela janela (quando é que ela tinha a aberto mesmo?), indo direto para suas costas, acariciando-a como um abraço. não entendeu o porquê, mas apenas sorriu.
Ela teve bons sonhos naquela noite. Sonhou que alguém a protegia e a empurrava para frente, para o futuro. Passou os braços pelo próprio corpo e deixou uma lágrima solitária cair sem querer.
Sabia que dali para frente, tudo ficaria bem.
I’m looking at you, passing by along with the wind
(Eu estou olhando para você, passando pelo vento)
Absolutamente plausível, em sua opinião.
não iria se deixar abalar pelos humanos e suas emoções. Por mais lindas e tentadoras que elas fossem. Ele era mais forte do que isso.
Acontece que não.
E se tornou mais um anjo falho e condenado pelas consequências de se apaixonar enquanto humano e ainda viver carnalmente o amor, em todas as formas. Mesmo que tivesse um corpo humano, não lhe era conveniente ser humano. Mas ele só foi entender meses depois quando já era tarde demais e estava perdidamente apaixonado por , sua protegida. Aquela história era comum entre os anjos que resolviam descer e seus desdobramentos eram eternos.
Não havia uma punição específica.
Apenas uma regra: ao fim da missão, o anjo deveria apagar todas as memórias de quem esteve próximo durante a estadia terrestre. Caso não fosse cumprido, outro anjo se encarregaria do trabalho. E certamente aquilo lhe parecia dor o suficiente para o resto da eternidade. Era o que se ganhava por quebrar as regras. Não que se arrependesse. Isso jamais.
Se não tivesse tomado tal decisão, talvez as malas de não estariam sendo feitas nesse exato momento. Sentado na cama que dividiram por quase sete meses, o homem (ou anjo) observava a garota embalar algumas roupas para sua mudança. O clima era pesado naquela semana, uma áurea de despedida pairava ali. Jin tinha decidido que esperaria o dia da partida para apagar a memória de sua protegida e voltar aos céus, até mesmo havia convencido a garota de fechar a loja pelo tempo necessário alegando que queria voltar para a profissão original ao invés de cuidar de suas flores. Ela aceitou e doou a maior parte de seus cultivos para as escolas da região se enfeitarem. Não teria problemas em reconstruir aquilo novamente.
Não se tivesse ao seu lado, pensou.
Ele suspirou mais fundo e ela ouviu virando-se para trás e encarando a expressão abatida do namorado.
- Se ficar me olhando assim, vai ficar ainda mais difícil de partir. - ela sussurrou se levantando do chão para ir se sentar na cama. riu sem graça.
- Desculpe. Estava pensando em algumas coisas. Falta muita coisa? Precisa de ajuda? - ele desviou o assunto.
- Não. Nada que eu não consiga fazer nessa semana restante.
Uma semana. Era tudo o que ele tinha. concordou com a cabeça e sorriu envolvendo uma das mãos da garota nas suas. Um choque lhe percorreu o corpo até as costas, especificamente onde guardava suas asas. A dor ficava cada vez mais intensa, claro sinal do esgotamento de seu tempo. Ele sentiu uma pontada a mais das costas e gemeu baixo mordendo o interior da bochecha. apertou os olhos.
- Hey, está tudo bem? - ela perguntou preocupada.
- Está sim, não se preocupe. É só uma dor nas costas… Acho que dormi de mal jeito.
- Hm… - apenas concordou com a cabeça, sem estar completamente convencida. Dormir mal jamais daria a dor que ele parecia sentir no momento.
As costas de começaram a arder. Ele queria xingar, já havia chegado naquele estágio antes e era horrível de suportar. Sorte que nunca havia presenciado nenhuma de suas crises. Ele respirou fundo tentando se acalmar e não a preocupar mais.
- Tem certeza que está bem? - ela perguntou bruscamente, o tom da voz um pouco mais alto e ainda mais aflito. - Você está suando!
não conseguiu responder porque a dor aumentou. colocou uma de suas mãos na sua testa, estava pelando de quente. A garota se levantou.
- Céus! Temos que ir ao médico! Você está com febre! Tem algo de errado! Vou chamar um táxi…
- NÃO! - se esforçou para puxá-la de volta. - Não precisa! Vai passar daqui a pouco.
- Como você sabe? Já teve isso antes? ! Você está doente?! - voltou desesperada para a cama envolvendo o rapaz em seus braços. Sua respiração estava pesada e ele suava como se tivesse corrido uma maratona. Parecia que ia desmaiar. - Você não pode fazer isso comigo, nós vamos ao hospital sim!
- Não, … Por favo… AHHH.
sentiu uma dor ainda maior em suas costas então entendeu. Seu tempo havia chegado ao fim. Olhou para o rosto desesperado de e o trouxe para perto com a mão que conseguiu levantar. Beijou-a nos lábios vagarosamente, apaixonado como nunca.
- Me desculpe… - ele sussurrou contra a boca dela.
tentava entender o que estava acontecendo, o desespero tomando conta de si. Não podia perdê-lo, ficaria sozinha novamente. O que faria? O que ela deveria fazer? Estava em choque, paralisada pela intensidade das emoções que corriam pelo seu corpo.
Sua mente só voltou ao raciocínio quando percebeu as costas de , duas marcas de sangue manchavam a camiseta branca do rapaz, bem nos lugares de suas cicatrizes. Ela prestou mais atenção, era como se algo quisesse sair dali. Estava empurrando o tecido para cima, o sangue aumentava. Céus! O que era aquilo!? E quando ela clamou em pensamento, tudo se iluminou. Parecia que o mundo estava em câmera lenta. caiu no chão enquanto contemplava asas saindo das costas de .
E então ela entendeu.
- Você… - ela gaguejou ainda relutante em acreditar naquilo que reluzia diante os seus olhos. - Você é um anjo!
queria poder praguejar. Dizer palavrões aos sete cantos do mundo, mas não tinha muita força restando, sabia que seus últimos segundos na terra deviam ser dedicados a somente uma coisa: apagar a memória de .
- Desculpe, … Eu não podia… - com dificuldade ele se levantou da cama, caminhando cambaleante até a garota e estendendo a mão para levantá-la. Mesmo com sua respiração pesada e o medo percorrendo o corpo, aceitou, pondo-se de pé. - Por favor, me perdoe.
Ele sussurrou abaixando o rosto e fitando os pés. Os últimos resquícios de humanidade deixaram que o anjo chorasse na frente da garota que ainda não conseguia entender o que estava acontecendo ali. Segundos se passaram e tudo o que podia ser ouvido era o pranto cortante de preenchendo o cômodo. não podia aguentar mais. Não importava o que estava acontecendo, nem quem aquele homem realmente era.
A única coisa que importava para é que ela amava , anjo ou humano. Ela o amava.
Por isso, ergueu as mãos até o rosto dele e levantou-o para que o encarasse. Os olhos sempre tão gentis de estavam vermelhos e inchados, porém o brilho que vira desde o primeiro dia cintilava como nunca. Talvez essa fosse sua maior pista, pena não ter percebido antes.
- Para de se desculpar… - ela murmurou e sorriu, lágrimas descendo vagarosamente pelo canto de seus olhos. - Você é o meu anjo da guarda… Eu não poderia querer alguém melhor para me proteger… Você me salvou, , tantas vezes… E a única coisa que eu posso te dizer em troca hoje é que eu te amo.
chorou ainda mais e entendeu que aquelas lágrimas não eram apenas porque seu disfarce tinha sido descoberto.
- Você tem que ir, não é? - ela perguntou ainda tentando sustentar o sorriso no rosto.
- Tenho. - ele finalmente respondeu engolindo o choro e respirando fundo.
- Está tudo bem… Eu…
- Não, . Não está… - falou entre lágrimas um pouco mais controladas. Teve que prender o ar por alguns segundos antes de falar sem tremular a voz. - Escute, você é uma garota incrível e merece tudo o que quiser. Eu vou estar ao seu lado sempre e todas as vezes que o vento soprar em suas costas, tenha certeza, será meu toque. Eu estarei olhando por você.
sorriu, era uma promessa e ela sabia que cumpriria. Ele acolheu o rosto da garota entre suas mãos. Era chegada a hora.
- Olhe nos meus olhos, . - ela o fez, mesmo sentindo que algo de errado viria daquilo. engoliu seco. - Eu te amo.
Ela ouviu ele sussurrar e logo depois um clarão tomou conta de seus olhos.
(...)
Quando acordou na manhã seguinte sentia sua cabeça doer como o inferno. Levantou-se devagar e deu uma olhada no quarto. Estava uma bagunça com roupas espalhadas por todos os cantos e sua mala aberta parcialmente cheia. Suspirou. Sentia-se como se tivesse tomando o maior porre de sua vida. Passou a mão pelos cabelos, algo estava estranho por ali, fora do lugar, errado… Vazio.
De repente, uma pequena ventania entrou pela janela (quando é que ela tinha a aberto mesmo?), indo direto para suas costas, acariciando-a como um abraço. não entendeu o porquê, mas apenas sorriu.
Ela teve bons sonhos naquela noite. Sonhou que alguém a protegia e a empurrava para frente, para o futuro. Passou os braços pelo próprio corpo e deixou uma lágrima solitária cair sem querer.
Sabia que dali para frente, tudo ficaria bem.
(Eu estou olhando para você, passando pelo vento)
Epílogo
- O que você tem tatuado nas costas? – olhou para o garoto que se sentava ao seu lado, depositando a câmera fotográfica no chão. Sorriu serenamente antes de voltar seu olhar para a bela paisagem.
- Asas. – ela respondeu um tanto perdida no cenário que aquele lugar lhe proporcionava. Estava no fim de sua pesquisa e deu sorte de ser mandada para um país rico em flores e horizontes igualmente encantadores. tirou os cabelos das costas e o rapaz pode ver com clareza os traços que ocupavam apenas a parte superior de sua coluna, estendendo-se do meio até perto dos ombros. – Asas de anjo.
Ele ficou bons minutos contemplando o desenho, depois se afastou, sorrindo para a moça que recolocou o cabelo para trás e voltou-se para frente.
- São lindas. – ele comentou imitando a garota. – Tem alguma história por trás?
ponderou por alguns instantes. Todas as vezes que pensava sobre essa decisão sentia um enorme vazio em seu peito, como se tivesse se esquecido de algo extremamente importante, mas nada no mundo conseguia fazê-la se lembrar. Era como seu corpo sentisse falta de algo que sua mente não sabia o que era. Além do mais, o ano que passou antes que ela ingressasse em sua pesquisa foi muito estranho.... No final, ela suspirou. Cansada de pensar naquele assunto e então olhou para o rapaz que lhe fazia companhia ali, no topo de um monte da região.
é um jovem fotógrafo que conheceu ainda nos primeiros meses de seu trabalho. Belo, misterioso e divertido, ficaram amigos rapidamente e talvez podia admitir que estava desenvolvendo uma paixonite por ele. Estava ali participando de um concurso de fotografias, acabou perdendo, mas se apaixonou tanto pelo local que quis explorá-lo mais vezes.
e se encontraram em um canteiro de tulipas ao som do clique de sua câmera que capturava o sorriso de uma jovem entre as flores.
- Você acredita em anjo da guarda? – ela perguntou sem ainda responder a pergunta que ele fez.
- Acho que sim. – ele para por um momento e permite que sua mente divague um pouco, depois encolhe os joelhos ao peito e apoia neles o seu queixo. Sorri. – Eu tenho a impressão que alguém sempre está me protegendo. Eu não sei, parece loucura. Sempre que sinto um vazio ou penso demais, eu sinto uma pequena rajada de vento, quente, passando por mim... Como um...
- Como um toque de alguém que ama. – completa quase sem ar nos pulmões. Ela quer chorar, muito. Mas segura o pranto porque aquilo parece bobagem.
- Exatamente! Também se sente assim?
- O tempo todo... E quando estou triste demais por esse vazio, sempre sinto o vento acariciando as minhas costas. Como se realmente tivesse alguém ali, dando tapinhas sabe?
- Eu entendo...
O silêncio pairou novamente e eles resolveram apenas apreciar a paisagem. Uma sensação de paz tomava conta do peito de aos poucos, invadindo, subindo por suas veias até anestesiar seu cérebro. Aceitar ser a pesquisadora desse projeto foi a melhor decisão que já tomou na vida e se arrependia de não ter dado uma chance a si mesma antes. No entanto, estava satisfeita. Feliz.
- Hey. – a voz de chamou a atenção novamente e fitou o rapaz. – O que vai fazer quando seu projeto terminar?
- Hum... Ainda não sei. Por que?
- Bom. Eu estava pensando em passar um mês viajando pelo continente, conhecendo paisagens, natureza.... Mas parece solitário. – notou o rubor que apareceu no rosto do rapaz e quis rir. Ele era adorável. – Pensei que pudesse vir comigo. Acho que gostaria de explorar um pouco mais o mundo tanto quanto eu.
- É... Parece uma boa ideia. – ela respondeu com um sorriso maior do que esperava dar e recebeu de volta a expressão de pura alegria de , mesmo que ele não externasse como deveria.
O vento, então, passou acariciando a pele dos dois e se sentiu mais segura do que nunca. A promessa de um futuro bom batia em sua porta e as rajadas cálidas que a envolviam confirmavam que ela estava seguindo o caminho certo. O caminho da felicidade. Ainda envolvida naquele sopro divino. olhou para o céu, sorriu e sussurrou ao vento.
Obrigada.
- Asas. – ela respondeu um tanto perdida no cenário que aquele lugar lhe proporcionava. Estava no fim de sua pesquisa e deu sorte de ser mandada para um país rico em flores e horizontes igualmente encantadores. tirou os cabelos das costas e o rapaz pode ver com clareza os traços que ocupavam apenas a parte superior de sua coluna, estendendo-se do meio até perto dos ombros. – Asas de anjo.
Ele ficou bons minutos contemplando o desenho, depois se afastou, sorrindo para a moça que recolocou o cabelo para trás e voltou-se para frente.
- São lindas. – ele comentou imitando a garota. – Tem alguma história por trás?
ponderou por alguns instantes. Todas as vezes que pensava sobre essa decisão sentia um enorme vazio em seu peito, como se tivesse se esquecido de algo extremamente importante, mas nada no mundo conseguia fazê-la se lembrar. Era como seu corpo sentisse falta de algo que sua mente não sabia o que era. Além do mais, o ano que passou antes que ela ingressasse em sua pesquisa foi muito estranho.... No final, ela suspirou. Cansada de pensar naquele assunto e então olhou para o rapaz que lhe fazia companhia ali, no topo de um monte da região.
é um jovem fotógrafo que conheceu ainda nos primeiros meses de seu trabalho. Belo, misterioso e divertido, ficaram amigos rapidamente e talvez podia admitir que estava desenvolvendo uma paixonite por ele. Estava ali participando de um concurso de fotografias, acabou perdendo, mas se apaixonou tanto pelo local que quis explorá-lo mais vezes.
e se encontraram em um canteiro de tulipas ao som do clique de sua câmera que capturava o sorriso de uma jovem entre as flores.
- Você acredita em anjo da guarda? – ela perguntou sem ainda responder a pergunta que ele fez.
- Acho que sim. – ele para por um momento e permite que sua mente divague um pouco, depois encolhe os joelhos ao peito e apoia neles o seu queixo. Sorri. – Eu tenho a impressão que alguém sempre está me protegendo. Eu não sei, parece loucura. Sempre que sinto um vazio ou penso demais, eu sinto uma pequena rajada de vento, quente, passando por mim... Como um...
- Como um toque de alguém que ama. – completa quase sem ar nos pulmões. Ela quer chorar, muito. Mas segura o pranto porque aquilo parece bobagem.
- Exatamente! Também se sente assim?
- O tempo todo... E quando estou triste demais por esse vazio, sempre sinto o vento acariciando as minhas costas. Como se realmente tivesse alguém ali, dando tapinhas sabe?
- Eu entendo...
O silêncio pairou novamente e eles resolveram apenas apreciar a paisagem. Uma sensação de paz tomava conta do peito de aos poucos, invadindo, subindo por suas veias até anestesiar seu cérebro. Aceitar ser a pesquisadora desse projeto foi a melhor decisão que já tomou na vida e se arrependia de não ter dado uma chance a si mesma antes. No entanto, estava satisfeita. Feliz.
- Hey. – a voz de chamou a atenção novamente e fitou o rapaz. – O que vai fazer quando seu projeto terminar?
- Hum... Ainda não sei. Por que?
- Bom. Eu estava pensando em passar um mês viajando pelo continente, conhecendo paisagens, natureza.... Mas parece solitário. – notou o rubor que apareceu no rosto do rapaz e quis rir. Ele era adorável. – Pensei que pudesse vir comigo. Acho que gostaria de explorar um pouco mais o mundo tanto quanto eu.
- É... Parece uma boa ideia. – ela respondeu com um sorriso maior do que esperava dar e recebeu de volta a expressão de pura alegria de , mesmo que ele não externasse como deveria.
O vento, então, passou acariciando a pele dos dois e se sentiu mais segura do que nunca. A promessa de um futuro bom batia em sua porta e as rajadas cálidas que a envolviam confirmavam que ela estava seguindo o caminho certo. O caminho da felicidade. Ainda envolvida naquele sopro divino. olhou para o céu, sorriu e sussurrou ao vento.
Obrigada.