Contador:

Finalizada em: 04/06/2020

1º Capítulo

“Verte con ella me hace mal, saber que ocupa mi lugar… Saber que fuímos, solo, y nada más, un amor fugaz.”

Minhas pernas balançavam sem parar e eu reparei pelo canto dos meus olhos que todos a minha volta me fitavam. Eu ficava repassando a cena toda na minha cabeça enquanto aguardava o resultado sair.
As mãos dele estavam pousadas sobre uma das coxas dela, exatamente como ele costumava fazer comigo há três anos atrás, só que no nosso caso era somente quando estávamos só os dois, pois tínhamos uma mania ridícula de na frente dos nossos amigos fingir que nada acontecia entre nós, inclusive eu fingia para todos eles que odiava o , e ele fazia o mesmo. Vivíamos implicando um com o outro, na frente dos outros, para tentar disfarçar que na verdade, estávamos juntos.
Não juntos da forma que eu gostaria, é claro, mas juntos, e isso me bastava.
Os dois davam algumas gargalhadas e hora ou outra ela colocava o garfo com o risotto na boca dele, também exatamente da mesma forma que fazia… Os dois se olhavam e davam vários selinhos enquanto almoçavam, ela fazia carinho em seus cabelos… E eu ali pensando que deveria ser eu, e não ela!
Nunca entendi muito bem o que eu e tínhamos, e acho que ele também não. Durante um grande período desde que tudo acabou entre nós, eu tentei entender: aonde eu havia errado, o que tínhamos, porque não demos certo, porque ele não me quis mais… Mas depois desisti. Hoje eu voltei a me fazer essas mesmas perguntas vendo ele com a noiva.
Eu soube do noivado dele por um conhecido em comum do curso, que tenho certeza só comentou comigo para cutucar a ferida que eu achava já ter cicatrizado. Nos encontramos na rua, ele perguntou sobre minha vida, e disparou a falar o que sabia da vida dos outros colegas do curso e quando chegou nele, só ouvi a parte "você sabia que o está noivo? E você não imagina de quem!" Eu disse:"mesmo? Que bom, agora tenho de ir, tchau! Boa sorte!"
Não sigo em nenhuma rede social, não tenho seu número de telefone, cortei todo e qualquer possível laço entre nós quando tudo acabou e cada um foi seguir sua vida. Havia três anos que não o via, que eu não sabia que cor estava seu cabelo, já que na época da faculdade ele pintava bastante e de várias cores, não sabia se o cheiro dele ainda era o mesmo, se ainda tinha as mesmas manias… Nada.
Nós nos formamos, um dia depois da formatura tudo acabou e ele sumiu. E hoje eu tinha uma entrevista de emprego em um dos maiores escritórios de advocacia da nossa modesta (mas nem tanto) cidade. Trabalhei em alguns escritórios por aí, mas sempre esperando alguma chance de trabalhar para a melhor e maior família de advogados da cidade. Era o meu sonho desde que soube que queria cursar Direito.
E essa oportunidade havia chegado, eles haviam aberto duas vagas, e uma delas tinha que ser minha.
Mas acho que foi tudo por água abaixo… Encontrei com e sua noiva num restaurante que havia lá perto do escritório, minha entrevista estava marcada para às quatorze horas e eu não queria correr o risco de me atrasar nem um milésimo de segundo, eu morava longe, precisava pegar duas conduções para chegar até o escritório (bairro nobre e central, vocês devem saber como é), então se eu almoçasse em casa para depois ir, me atrasaria com certeza. Me arrependi assim que entrei no restaurante e fui conduzida por um garçom para a minha mesa e abri o cardápio, cada prato era uma fortuna que certamente me deixaria endividada por uns dois meses, e logo depois de fazer meu pedido, os dois entraram.
O meu coração primeiro parou de bater, até que eu tivesse certeza de que quem eu via ali, era realmente ele. Depois ele acelerou, como nunca antes (nem na época em que estávamos juntos, chegou perto), a minha boca ficou seca e senti que ia desmaiar, porque certamente minha pressão caiu. Ele não me viu, e nem ela.
Quando fixei meus olhos nela, cabelos pretos e curtos como os meus na época, alta (diferente de mim só nesse quesito parece), vestida num terninho elegante que provavelmente nem se eu trabalhasse a vida toda conseguiria pagar, eu comecei a entender.
Ela era Melinda Salvatore, filha (e sobrinha também) dos donos do escritório Salvatore, o escritório que eu sonho desde pequena em trabalhar… Pronto, ali eu sabia que provavelmente não passaria na entrevista. 1. Porque agora eu estaria um poço de ansiedade e nervosismo ainda maior do que eu já estava, estava completamente desestabilizada. 2. Se por algum acaso do destino ela imaginasse ou soubesse que nós dois já havíamos tido um caso no último ano da faculdade, ela provavelmente me descartaria.
“Será que ele trabalha lá também?” pensei brevemente enquanto assistia eles se sentarem bem próximos de mim. “Mas o sempre quis abrir o próprio escritório, lembro-me bem que desde o começo do curso, quando ainda não tínhamos nada, ele comentou que já juntava dinheiro para isso”, pensei novamente enquanto tomava um gole da água com gás que o garçom acabara de servir em meu copo. “E se ele também participar da entrevista?”
- Ai não, ! Pelo amor de Deus, não! Isso não pode acontecer! E se eu estiver num sonho? Hum? Vai ver tudo isso é uma alucinação da minha cabeça ansiosa. Vou me beliscar e acordar agora…
Me belisquei de olhos fechados, e quando voltei a abri-los, os dois se beijavam.
Droga!



2º Capítulo

“Y és que no entiendo aún tu adiós, pues lo que había entre tú y yo fue algo más dulce, tierno y pasional que un amor fugaz.”

Flashback:

Dei uma última olhada no espelho antes de ouvir a buzina do carro de ecoar lá fora.
Eu morava numa kitnet, com quarto, uma pequena cozinha e um banheiro minúsculo que mal me cabia dentro. Era o que eu conseguia pagar naquele momento, os meus pais só conseguiam me enviar uma graninha extra um mês ou outro. Eu trabalhava num call center no período da manhã para conseguir pagar o aluguel da kitnet e despesas como água, luz e comida, mas era a continha e tinha meses que eu tinha que pegar algum bico como garçonete para conseguir dar conta. Graças a Deus, consegui passar no vestibular e cursar em uma universidade pública (a única da cidade e região). Mas eu estava feliz, apesar de todos os apertos, eu estava fazendo o curso dos meus sonhos… E agora eu tinha na minha vida…
Não éramos um casal dos mais convencionais, eu sei! Mas eu estava feliz com ele. A companhia dele era agradável, nós tínhamos os mesmos gostos, tínhamos os mesmos propósitos, a personalidade dele puxava a minha… Não sei explicar, tínhamos uma sintonia.
Pelo menos eu achava que tínhamos…
Ele buzinou outra vez, e eu terminei de trancar a casa, passei pelo minúsculo corredor que dava acesso ao portão da garagem. Cumprimentei a dona Marisa, que alugava a kitnet para mim. Ela sorriu e fez um “joia” com a mão.
- Está linda, querida! Que Deus abençoe! Divirta-se.
- Obrigada, dona Marisa! Prometo que vou aproveitar!
Hoje era o nosso baile de formatura, o tão sonhado baile! Escolhi um vestido simples, que claro, era alugado (juntei cada dinheirinho extra que meus pais mandavam). Uma conhecida do trabalho havia me maquiado (e não cobrou, ufa!). Eu usava verde, era a minha cor preferida. O vestido era modelo sereia, mas nada desconfortável, eu me sentia bonita.
Adentrei o carro de , e dei o meu melhor sorriso. Eu estava feliz! Eu havia sonhado tanto tempo com aquele dia!
- Uau! Uma sereia! - nós dois gargalhamos -
- Eu até poderia dizer “uau, um príncipe”, mas sabemos que você não é!
- Você sabe que eu sou! Um gentleman!
- Um gentleman que nem sequer abriu a porta do carro para mim! E nem cumprimentou a dona Marisa, tadinha! Ela gosta tanto de você, até te faz chá!
Ele gargalhou enquanto parávamos em um sinaleiro.
- Verdade! Tadinha! Da dona Marisa, no caso!

Encostei a cabeça no assento do carro enquanto sorria, debochada e nós dois trocamos olhares.
Ele estava lindo! Aliás, não havia um dia sequer que eu não o olhasse e o achasse o homem mais bonito do mundo. Eu me sentia uma adolescente quando estava com ele.

Assim que ouvi o alarme do carro soar, eu ajeitei meu vestido no corpo, sob o olhar atento dele. Sorri, maliciosa. Mas a malícia, parecia ter vindo só da minha parte...
- O que foi?
- Nada! Você está exuberante esta noite! - ele sorriu e abaixou a cabeça.
Achei estranho, mas preferi não insistir, já que ele havia dito que não era nada.
- Vamos dizer que nos encontramos no meio do caminho do estacionamento, e ai resolvemos entrar e procurar a galera juntos, certo?
- Você é a mulher mais esperta do mundo, sabia?
As mãos dele entrelaçaram a minha cintura e nossas testas se encostaram.
- O dia de hoje é muito importante para nós dois! Os seus pais não vem mesmo?
Aspirei o cheiro que vinha de seu pescoço, e senti meus olhos lacrimejarem. Queria que meus pais tivessem conseguido vir para esse momento. Eu não os tive presente em nenhum momento da minha formatura, e isso me machucava. Mas eu entendi, mesmo chateada com a situação toda de eles não conseguirem dispensa dos trabalhos.
- Não vem! Não conseguiram folga, sabe como são as coisas, né?
Nos olhamos.
- Poxa! Que pena! Achei que fosse vê-los hoje, mesmo que de longe! Como um colega de faculdade…
- Teremos outras oportunidades, ué! - pisquei meu olho direito.
Ele apenas sorriu sem mostrar os dentes, e me deu um beijo. Demorado, profundo, as mãos dele desciam e subiam por minhas costas desnudas, as mordidas vinham da minha parte, no lábio inferior, porque eu sabia que ele gostava.
Quando o beijo acabou ele disse que eu precisava retocar o batom, pois, o mesmo já era e eu assim o fiz.
- Eu já disse que você está linda? Como nunca antes, é até uma covardia!
Eu sorri e senti meu rosto ruborizar, como poucas vezes acontecia.
Não quero e nem vou mentir, algo me dizia que aquela noite me marcaria, e eu esperava do fundo do meu coração, que fosse por algo que eu estava aguardando há um ano: o pedido de namoro de .
Ele sempre dizia que estava cedo para começarmos um namoro, que precisávamos nos conhecer melhor, que estávamos a pouco tempo juntos, para que estragar algo que estava bom da forma que estava, e que eu precisava ter calma. Isso porque eu toquei poucas vezes nesse assunto, porque já havia decorado as desculpas que ele dava. Mas eu tinha esperança, de que hoje seria o grande dia, e eu estava mais do que pronta…
Nos beijamos novamente, com menos intensidade dessa vez e logo após o beijo, ele beijou minha testa. Estranhei, ele nunca havia feito aquilo, mas gostei, é, gostei bastante!
Começamos a caminhar lado a lado, a noite estava fria então eu cruzei os braços abaixo dos seios numa tentativa falha de diminuir o frio, e ele ficou sério.
Adentramos o salão, que estava lindo, e nos encontramos com nossos amigos e amigas, demos a desculpa que havíamos combinado e ninguém questionou nada.
Toda a cerimônia foi maravilhosa e logo fomos para a pista de dança, e pegar bebidas, afinal de contas, a noite era uma criança.
Vislumbrei os pais de pela primeira vez, e algumas vezes durante à noite, mas eles bem conservadores pelo que havia me explicado e bem cedo mesmo eles deixaram a festa. Lembrei-me de como ficava chateado com o jeito dos pais, que também eram loucos para o filho ficar rico, custe o que custar. Ele me contou que o pai uma vez disse que na guerra e no amor valiam tudo, e que se ele precisasse passar por cima de alguém algum dia para conquistar seus objetivos, tudo bem… Balancei a cabeça, afastando esses pensamentos e tomando mais um gole do meu drink.
Trocamos um olhar cúmplice, e ele fez um gesto já conhecido meu, me chamando para algum lugar onde pudéssemos estar somente os dois, e eu claro, fui logo atrás dele.
Senti o gelado da parede tocar minhas costas nuas e as mãos de apertarem minha cintura e logo em seguida os lábios dele estavam sobre os meus com força. Baguncei seus cabelos, e perdi as contas de quanto tempo ficamos nos beijando.
Assim que abri meus olhos eu já não o vi mais. Desgraçado… Gargalhei e fui ao bar pegar mais uma bebida, meus órgãos estavam quentes, se é que vocês me entendem.
Fugimos mais algumas vezes para dar mais uns amassos, dançamos juntos (escondido da galera), dançamos juntos com os amigos, e eu senti que já estava começando a perder os sentidos então parei de beber. Tínhamos combinado de terminar a noite juntos em algum motel, e então nós fomos.
Depois de transarmos algumas vezes (algumas maravilhosas vezes, diga-se de passagem), o dia começava a amanhecer. E eu ainda estava esperando o meu pedido de namoro…
Jogamos conversa fora, sobre como seria a nossa vida agora que estávamos finalmente formados. disse que não sabia o que seria de sua vida dali para frente, que estava um pouco desiludido, seus pais estavam cada vez mais endividados, seu pai cada vez mais paranoico em querer que o filho enriquecesse para salvar a família do buraco.
Acariciei suas costas, meio sem saber o que dizer. Nos olhamos.
- Você vai conseguir ajudar seus pais! Você é esperto, inteligente, vai ficar rico algum dia, tenho certeza! - sorri de canto -
Ele selou meus lábios demoradamente, acariciou minha bochecha e ficou encarando meus olhos por um tempo..
- Vamos? Preciso ir para casa, meus pais, mesmo fodidos, vão fazer um almoço em família para comemorar, e eu quero dormir um pouco antes!
Eu engoli seco, fui pega de supetão.
- Claro! Hã, vou chamar um táxi.
Levantei-me.
- Vou te deixar em casa, ! - eu revirei os olhos, detestava este apelido e ele gargalhou.
- Não quero te atrasar, nem te atrapalhar.
- Não vai! Faço questão, vai ser importante para mim te deixar em casa!
Umedeci os lábios com a língua enquanto me vestia. Seria lá, o pedido de namoro? Mordi o lábio, ansiosa e esperançosa.
Fomos o caminho todo em silêncio, meu coração batia rápido. Assim que paramos o carro na porta de casa, questionei se ele gostaria de entrar, tentando parecer despretensiosa. Ele disse que não e agradeceu.
Beijou-me novamente a testa e olhou o retrovisor. Minha cabeça deu um nó, senti meu peito doer, estava decepcionada.
Desci do carro desorientada, nem respondi dona Marisa que disse algo que não compreendi, adentrei meu “lar”, escorei as costas na parede e fiquei lá por alguns minutos, digerindo tudo.
Não houve pedido de namoro, nem um beijo sequer ele havia me dado. Balancei a cabeça e afastei as lágrimas e, engoli o choro. Não iria chorar por isso. Amanhã seria outro dia, certamente ele me procuraria.
Tomei um longo banho, lutando contra o aperto em meu peito e a vontade de desabar em lágrimas. Coloquei uma roupa velha e confortável, e fui tomar um café da manhã. Ouvi meu celular apitar, era ele. Meu coração voltou a palpitar, e eu abri a mensagem.

, obrigado por tudo que proporcionou ao longo deste um ano! Juro que jamais me esquecerei da sua risada, de como você junta os olhos quando ri profundamente e do seu riso fácil. Jamais me esquecerei do toque de suas mãos, de como o seu corpo se moldava perfeitamente ao meu, de como o seu beijo despertou em mim todos os sentimentos de luxúria e desejo possíveis, de como nos dávamos bem na cama… Nunca me esquecerei das nossas conversas madrugada adentro, de como você é doce e serena. Você merece o mundo, e eu não mereço você! Espero que entenda, que não daríamos certo, pois, o que você quer, eu não posso lhe dar. E não vou lhe prender mais a mim, não é justo com você! Você é maravilhosa e sei que sua vida será perfeita, e com alguém que possa lhe oferecer o que você procura em um homem. Não me procure mais, é para o nosso próprio bem. Um beijo carinhoso, !”

Senti que as veias da minha cabeça latejavam, as lágrimas estavam presas, mas a ponto de se libertarem. Reli a mensagem mais algumas vezes, achando que talvez eu estivesse sonhando, lendo errado, eu estava equivocada.
Liguei para ele algumas vezes, mas o celular estava desligado. Eu não tive coragem de responder aquela mensagem, queria ouvir a voz dele me dizendo tudo aquilo, queria conversar, de igual para igual. Se ele queria acabar tudo, que fosse pelo menos numa ligação.
Finalmente me permiti chorar, depois de mais uma tentativa falha de falar com ele. Eram quase 11 da manhã quando a primeira lágrima escorreu por minha face, eu só fui conseguir parar de chorar definitivamente às 13:15. Quando parava de chorar, lembrava dos momentos e voltava a me afundar em lágrimas, depois, parava de chorar e lembrava da mensagem, chorava de novo.
Minha cabeça doía, eu estava com enxaqueca e meu estômago roncava. Mas não comi nada até o dia seguinte. Onde eu tentei falar com novamente, mas não consegui.
Ali, eu decidi que homem nenhum jamais quebraria o meu coração novamente, e que o amor só existia nos contos de fada. Eu prometi para mim mesma que jamais voltaria a derramar nenhuma lágrima sequer por , ou por qualquer outra pessoa.
Homens agora somente para diversão, da mesma forma que eu provavelmente havia sido para todos eles. Eu jamais amaria alguém novamente.
Depois disso nunca mais o vi ou falei com ele.



3º Capítulo

“Nadie te hará jamás sentir, lo que vivias junto a mí. Aunque lo intentes nunca olvidarás, nuestro amor fugaz!”

Fechei os meus olhos por alguns instantes enquanto ouvia o barulho ao meu redor. As pessoas finalmente pararam de me observar e resolveram conversar entre si.
Eu precisava me concentrar e esquecer e todas as cenas que presenciei no restaurante. Pedi a Deus que ele não estivesse na entrevista, pedi a Deus que ele não fosse um dos candidatos, pedi a Deus que eu simplesmente conseguisse fazer essa entrevista da melhor forma o possível… Eu já nem sabia mais se queria aquele emprego. Minha cabeça estava para explodir.
As horas iam se passando, os candidatos entravam e saiam, e eu ainda estava lá esperando. Até que fiquei sozinha e ouvi uma moça muito bem vestida (ah, que novidade!) chamar meu nome, finalizando com um “vamos?” eu assenti que sim me levantando e pegando minha bolsa. Respirei fundo tentando enviar forças as minhas pernas, que travaram.
- Tudo bem? - a moça se aproximou colocando uma das mãos sobre meu braço.
Ah que ótimo! Nem comecei a entrevista e já estou passando vergonha! Eu deveria ir para casa, que piada!
- Minha pressão deve ter caído, mas eu estou bem! Tudo bem! Obrigada! Vamos?
Ela sorriu e assentiu com a cabeça e eu a segui até a sala de paredes branco-gelo com uma mesa enorme, onde pensei que ali sim, eu desmaiaria.
Nossos olhares se cruzaram de imediato, como imãs. A cara que ele fez foi impagável, provavelmente não tão impagável quanto a minha no restaurante, mas ainda assim impagável.
Ele estava tão lindo! Que droga!
- Pode se sentar! Em qualquer cadeira dessas tá bom? - a moça que me auxiliou disse me tirando do devaneio -
Eu me sentei numa cadeira bem em frente aos dois, havíamos só nós três naquela sala enorme. O ar condicionado estava ligado, mas eu senti calor. Era como se eu estivesse no deserto do Saara e tudo o que eu queria era arrancar aquele paletó. O meu e o dele…
Mas que inferno! O que ele estava fazendo ali?
- , certo? - ele me questionou como se não soubesse meu nome completo.
Eu quis dar na cara dele, e senti minhas bochechas ruborizarem.
- Correto!
- Essa é a senhorita Angélica, nossa psicóloga e gestora do setor de Recursos Humanos, ela participará da entrevista também! Junto comigo. - ele pigarreou. - Eu sou , diretor geral do setor de advogados trabalhistas!
Eu não consegui disfarçar minha cara de deboche, à qual eu sei que ele percebeu, pois me conhecia muito bem!
- Seu futuro chefe principal e direto! - ele complementou. - Essas duas vagas são de advogado sênior, quem passar vai assumir duas equipes pequenas de advogados júnior, e, portanto, responderão diretamente para mim! Tudo bem para você? Quer prosseguir com a entrevista mesmo assim?
Por dentro eu quis gritar na cara dele que ele era ridículo, e que eu o odiava. Mas no fundo no fundo, eu sabia muito bem que eu não o odiava.
Por que infernos eu tinha que justamente concorrer á uma vaga para ser subordinada dele?
- Sem problema algum, podemos prosseguir. Não temo desafios, muito pelo contrário!
Ele sorriu sem mostrar os dentes e arqueou a sobrancelha.

*


Eu mal dormi à noite, pensando em como o destino estava sendo filha da puta comigo. Sai da entrevista ontem parecendo um robô, como se eu estivesse no piloto automático, nem sei como consegui chegar em casa.
Eu já não morava mais na kitnet de três anos atrás graças a Deus, mas ainda não tinha uma casa ou apartamento próprio, eu pagava aluguel de um apartamento de 62m² que infiltrava toda vez que chovia e que nem tinha elevador. Mas já era mil vezes melhor que uma kitnet.
Passei a noite toda intercalando meus pensamentos entre o passado e o presente. Eu pensava nas nossas noites quentes e de repente lembrava dele fazendo alguma pergunta para a entrevista, daí lembrava de nós dois rindo e brincando, voltava para a entrevista.
O café estava pronto e eu estava na geladeira pegando a margarina quando o celular tocou, e eu praticamente voei da cozinha para sala (como se elas fossem muito longe uma da outra num apartamento de 62m²), era um número que eu não conhecia. Achei estranho, pois, eu havia salvado na minha agenda o número da psicóloga, e eu estava esperando que fosse ela para me dizer o resultado.
- Alô?
- Eu falo com ?
Eu reconheceria a voz de nem que se passassem 20 anos. Era um patife mesmo! Fez questão de me ligar para dizer com gosto que obviamente havia me reprovado para o cargo.
- Você sabe que sim! - eu bufei, me sentando a mesa.
Ele gargalhou, cínico. Que saudade de ouvir aquela gargalhada… Af! Preciso me recompor.
- Parabéns! Você foi aprovada no processo seletivo para advogada sênior! Eu fiz questão de te ligar para dar a notícia!
- Ah, que fofo! Nossa, fiquei até emocionada agora, senhor ! Que honra, né?
Eu fechei os olhos com força.
- Algumas coisas nunca mudam, não é, ? - ele gargalhou e eu já de olhos abertos, revirei os mesmos -
- Ah, vá se foder, !
- Eu não disse? Continua a mesma boca suja de três anos atrás!
Então ele se lembrava de algumas coisas? Como por exemplo quantos anos tinha que ele havia me deixado sem explicação plausível e sumido da minha vida?
- Quando eu começo?
Ele respirou fundo.
- No seu e-mail tem uma lista com todos os documentos necessários, você pode vir até o escritório, no RH às quinze? Consegue todos os documentos até esse horário? Não são muitos… Se conseguir e der tudo certo no RH, e no exame admissional, você começa depois de amanhã!
- Sim, eu consigo! Às quinze no RH, né? Combinado. Obrigada!
- Espera! - ele gritou do outro lado. - Você aceitaria um convite para almoçar?
Eu travei. Não consegui dizer nada.
- ? Está ai? Me ouve?
- Ouço! Eu não acho certo, a não ser que sua noiva esteja conosco.
Ele respirou pesadamente do outro lado. Eu até consegui imaginá-lo. Provavelmente estava em algum terno caro, de cor cinza, gravata roxa, próximo as persianas de sua sala, que provavelmente era muito bem decorada, as persianas deveriam estar parcialmente abertas, a mão direita no bolso, e ele estava virado para a janela.
- É realmente necessário esse tipo de comentário?
- É realmente necessário esse convite?
- Sim! Nós precisamos conversar!
- Sobre o trabalho? Faremos isso depois de amanhã, durante minhas 9 horas de trabalho.
- Não é sobre o trabalho! Precisamos conversar sobre nós, sobre tudo o que aconteceu!
- Três anos depois você quer conversar, ? Faça-me o favor!
- Justamente, é a nossa oportunidade de esclarecer tudo! Preciso te explicar tudo o que aconteceu dentro de mim, e porque tomei aquela decisão!
- Não me interessa mais! Há três anos atrás eu quis muito saber, te liguei várias veze, mandei mensagens, você não quis se explicar quando era o momento, agora pouco me importa!
- Você sente a minha falta? Porque eu sinto a sua!
Fechei meus olhos novamente.
- De repente você partiu sem aviso, você simplesmente sumiu, no começo foi muito difícil aceitar, eu senti que não ia conseguir viver sem você, com o passar do tempo eu fui capaz de sorrir, mas ainda sinto sua falta, como uma boba, eu ainda choro, porque você não vai voltar e eu sinto sua falta.
- Eu sabia! Sabia! Viu? Precisamos conversar, ! Por favor aceite o meu convite! Faz assim, nos encontramos em algum restaurante que você goste ao meio dia, pode ser? Qual lugar?
*


- Espero que sua noiva saiba que você está almoçando com sua futura colega de trabalho! - basicamente joguei a bolsa em cima da mesa com raiva e tirei a jaqueta que vestia.
Os olhos dele percorreram meu corpo, como se me queimassem. E eu balancei a cabeça, sentindo meu corpo também reagir com o olhar dele passeando por mim.
- Sim, ela sabe, ! Que implicância!
- Implicância? Eu não quero perder meu emprego sem nem ter começado ainda!
- Eu não deixaria isso acontecer! Quero que saiba antes de tudo, que te contratei porque sei do seu potencial, sempre acreditei em você, sempre te disse que... - eu o interrompi.
- Que eu seria uma das melhores advogadas dessa cidade! - abaixei a cabeça, tentando esconder o meu sorriso com a lembrança.
- Isso! Não te contratei porque já tivemos um caso.
- E seu cogitasse essa ideia teria recusado a vaga, é claro! Eu conheço você, sei que você não faria isso. Aliás, imagino! Porque na verdade, eu conhecia você, há três anos.
Ele mordeu o lábio e coçou a cabeça, sempre fazia isso, quando não sabia o que falar.
- Estou esperando! - cruzei minhas pernas e braços. - Pode começar o chororô!
- Não vai pedir nada?
- Eu já comi, só vim porque tenho palavra, e não sou de não cumprir o que prometo. Vamos, , eu tenho um compromisso às quinze horas, querido!
- Primeiro preciso que você abaixe a guarda!
- Baixar a guarda? Você está falando sério? , você terminou comigo, ou melhor me dispensou, como se eu fosse um casinho qualquer, por mensagem! Não foi nem por ligação, que ainda seria escroto, foi uma mensagem de texto! Você não atendeu as minhas ligações, não respondeu as mensagens, você desapareceu sem deixar rastros, um dia depois da nossa formatura, e ainda quer que eu abaixe a guarda? Você me disse que não queria mais e foi embora, mas eu só consigo lembrar da sua boca na minha, dizendo totalmente o contrário. E aí, em quem eu devo acreditar?
- Eu não queria namorar! E você queria! Eu e você sabemos que sim, que você queria! Eu não estava preparado para um namoro. Tanto que você sempre soube que eu conhecia e ficava às vezes com outras garotas, assim você também teve outros caras enquanto estávamos juntos. Mas eu sabia da sua expectativa!
- E aí foi mais fácil me mandar um textinho pronto da internet... - ele me interrompeu.
- Textinho pronto, não! Eu escrevi aquela mensagem com as coisas que eu realmente sentia! Eu falei a verdade em cada linha! Eu sempre me lembrei da sua risada, que é inesquecível, aliás! Por dias, aliás, anos, eu lembrei de nós dois diversas vezes! Eu nunca conheci uma mulher como você, ! Mas eu era imaturo, eu estava confuso. Eu não me sentia no direito de prender uma mulher como você, num relacionamento sem perspectiva de futuro como o nosso, eu estaria sendo egoísta! O que você queria?
- Sinceramente? Tantas coisas! Queria que você e eu nos estabelecêssemos, queria que tivéssemos um relacionamento estável, sem precisar fingir para os outros que nos odiávamos! Queria que não tivéssemos sido apenas um amor fugaz! Um casinho qualquer. Eu queria ter sido a mulher da sua vida!
- Mas você foi! - eu bati as mãos sobre as pernas, incrédula.
- Me poupe! Me poupe, ! Se eu tivesse sido a mulher da sua vida, você teria me pedido em namoro, como eu esperei durante todo o baile de formatura, como eu esperei no motel, como eu esperei até o dia daquela maldita mensagem de texto… Eu criei mil teorias de como seria o pedido...
- Mas, meu bem, oceanos não se prendem em aquários e você já deveria saber.
Senti meus olhos lacrimejarem, e eles ardiam. Mas eu não choraria, eu prometi que jamais choraria por ele novamente.
- Como a mocinha romântica que sou, ainda disfarçada de macho cínico, sempre achei o amor a coisa mais importante dos quatros cantos do universo. Mas você tem razão! O dinheiro é com certeza mais importante…
Ele entendeu o que eu quis dizer.
- Você disse que sabia que um dia eu ficaria rico. Nunca me esqueci… Nunca me esqueci de como você acreditava em mim, de como você me incentivava.
- Eu só não tinha o dinheiro… Você sequer sente algum carinho por ela?
- Claro que sinto! Só não temos nada a ver um com o outro, só não a amo e nem a desejo como desejava você! Só não temos nenhuma química sexualmente e mentalmente, como nós dois tínhamos. Mas ela é uma boa pessoa, me ajuda muito… Quando eu lembro de nós dois juntos, eu sinto que eu te amei, muito, do meu jeito, mas amei.
Uma lágrima teimosa desceu.
- Você não me amava, só gostava da minha presença quando se sentia só. Quando não tinha mais ninguém para te ouvir, era eu quem você procurava, e todas as vezes eu te acolhi, sabe por quê? Porque o meu amor sempre foi mais forte que suas crises de carência.
- Não diga isso, por favor! Você não sabe como foi difícil para mim decidir te deixar. Fiquei amargurado, me arrependi, e eu sofri. Nunca te esqueci! Eu só não tinha coragem de procurar, porque sabia que tinha metido os pés pelas mãos e tinha te magoado muito! Eu estava com vergonha e com medo, por isso nunca te procurei. Mas pensava na gente todos os dias. Em como nosso corpo se encaixava, em como você me beijava, em como tínhamos uma conexão. Conexão que eu não tenho com a Melinda. Quando estou com ela, na maioria das vezes, penso em você, em nós… Em como eu gostaria que você estivesse ali no lugar dela, em como eu queria estar tocando você, em como eu gostaria de estar aonde você estivesse.
- Se você está com ela, mas deseja estar em outro lugar, então deixe-a. Uma das coisas mais cruéis que você pode fazer a uma pessoa é fazê-la se sentir em casa, quando para você ela é apenas temporária. Todos nós merecemos adoração e atenção focada. Todos nós merecemos nos sentir completos. Se você não pode dar a ela todo o seu coração, então não se atreva a fazê-la refém.
- Eu não posso mais! Não posso deixar a Melinda e tudo que ela e o pai me proporcionam, a mim, e a minha família.
- Como você tem coragem? Você fez exatamente o que seu pai queria, e você tinha repulsa por isso!
- Foi a minha única saída!
- Foi a saída mais fácil que você encontrou, diga a verdade.
Ele respirou fundo passando as mãos pelas pálpebras.
- Você não entenderia! Ninguém entende nada na verdade!
- Eu já ouvi o suficiente! - peguei minha bolsa, a jaqueta e me levantei.
- Você voltaria para mim?
Eu parei onde estava, e me virei para encará-lo. Ele estava em pé, bem na minha frente. Eu senti minhas pernas vacilarem, a imagem de nós dois há três anos veio em minha mente.
- Me lembrei do nosso primeiro beijo agora! Eu daria tudo, para te beijar de novo, nem que fosse uma última vez! Eu nunca vou te esquecer e quero que saiba disso!
- Uma última vez? - me ergui, ficando nas pontas dos pés e aproximei meus lábios dos dele.
Meu coração batia com força dentro do peito, muito acelerado. Voltei a sentir o que não sentia fazia tempo, saudade.
fechou os olhos e finalmente quando íamos nos beijar, eu espalmei minhas mãos em seu peito com força o empurrando para trás.
- Só nos seus sonhos, baby!
Dei as costas ao meu futuro patrão, com as mãos trêmulas, a boca seca e com a certeza de que certamente, ele iria sonhar comigo.



4º Capítulo

“Sigue engañándote, sigue engañándola… Me llevas en la piel, y me vas a extrañar. Sigue engañándote, sigue engañándola, yo te envenené con este amor fugaz.”

Eu estaria mentindo se dissesse que estava sendo normal e fácil ter como meu chefe, porque não estava. Havia momentos em que eu tinha vontade de pegar a coitada da Melinda, dar uma sacudida nela e falar: “Filha, cai fora! Ele me deseja, só quer sua grana e o conforto que sua família proporciona, você merece alguém que te ame de verdade!”
Todos os dias em que Melinda não aparecia no escritório era comigo que ele almoçava, e todos os dias em que eu fazia hora extra, ele também fazia. Ele me deu algumas caronas, tentou me beijar diversas vezes nessas caronas, e eu claro, tripudiei.
Sempre deixava ele achar que ia finalmente rolar, e saia do carro. Eu não seria a amante de ninguém! Jamais me submeteria a esse tipo de relação, por mais que ainda sentisse algo por , ou o teria por inteiro, como namorado e futuro marido, ou continuaríamos sendo somente empregado e empregador. Além do que, me coloquei no lugar de Melinda, como eu me sentiria sabendo que meu marido tem uma amante?
As investidas eram pesadas e muito difíceis de resistir, mas meu caso já estava duro e não caia mais.
- Está entregue! Mas antes de descer do carro eu preciso perguntar: você não se lembra mais dos nossos momentos? Trabalhar comigo fez você esquecer?
- Tem alguém ocupando o meu lugar, e disso sim eu me lembro todos os dias!
- Não foi essa a minha pergunta!
- Só estou te avisando para você não procurar por sentimentos bons ou ruins sobre você dentro de mim!
- É engraçado! Veja o que o tempo faz, eu quase nem te conheço mais, só lembro do que eu não fiz, de te perder por um triz… E toda essa culpa por não ter desculpa, por ter jogado fora o seu amor. Eu não quero lembrar que te perdi. - ele bateu as mãos no volante.
- E eu não quero lembrar do que eu fui para você, uma simples distração para você esquecer.
- E hoje tudo o que eu posso oferecer são minhas palavras, para você. E tudo que eu quero te dizer, eu já cansei de escrever. Não posso me separar da Melinda, mas eu quero você.
Nossos olhos se encontraram.
- Você quer? - ele assentiu enquanto aproximava o rosto do meu.
- Mas pelo visto vou ter que te esquecer!
Eu fiz questão de colar mais ainda nossas faces.
- Quando você não esperar vai doer, e eu sei como vai doer e vai passar como passou por mim. E fazer com que se sinta assim, como eu sinto, como eu vejo, como eu vivo, como eu não canso de cantar, eu sei que vai ouvir, eu sei que vai lembrar, vai rezar para esquecer, vai pedir para esquecer, mas eu não vou deixar, eu não vou deixar…





FIM.



Nota da autora: Olá meus amores! Comentei ai se gostaram ou não! Eu amei escrever essa fic, eu amo essa música! Se quiserem saber mais sobre minhas fanfics me chama lá no tt é @yoteenvenene (eu disse que amo essa música né?) <3



Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.


comments powered by Disqus