Capítulo Único
O som irritante de calçados contra o porcelanato trouxe uma careta a minha face, ouvi meu pai sussurrar meu nome em aviso, tentei ignorar o ser ruidosos naquele instante focando no animalzinho a minha frente, o bulddog alemão que Camilo, melhor amigo de meu pai, havia adotado era um dos cachorros mais fofos daquele abrigo, Camilo voltou um mês depois da adoção dos cães com a desculpa de fazer um check-up neles, para ter certeza de que os animais estavam se adaptando bem ao novo lar…Uma desculpa esfarrapada, Camilo estava ali por causa de Alana. A qual estava justamente de folga naquele dia, a decepção era evidente na face de Camilo mas meu pai se divertia gozando o melhor amigo. Revirei os olhos ao ouvir Camilo perguntar o número de Alana quando ouvi um espirro prosseguido de um palavrão, quando meus olhos encontraram o entruso contive o impétuo de o retirar dali; os olhos dele eram escuros mesmos nas luzes da recepção, mas não fora isso que me chamara a atenção, foi notar que seus olhos começavam a avermelhar…Sinais de alergia!
Não havia razões para um alérgico estar ali por livre e espontânea vontade, quando notei que ele também me observava a decepção fora um balde de água fria. Odiava garotos que fariam qualquer coisa para ter uma garota aos seus pés, a desonestidade era o traço que eu mais odiava, voltei meus olhos para o animalzinho a minha frente, preferia os bichos aos seres humanos, os animais não mentiam. Sorri para a bolota que o animal de Camilo havia se tornado enquanto conversava com ele, eu não me importava se parecia uma doida enquanto sorria e brincava com as palavras com um cachorro, as pessoas eram tediosas e mentirosas, logo a opinião delas não me importava.
Me despedi dos cachorros de Camilo antes que ele partisse, minha expressão voltou a usual, e então comecei a checar o que era necessário no computador enquanto meu pai seguia até a Sra.Lima, a senhora de quase 90 anos permanecia ativar e era a mulher mais lúcida que já havia conhecido, ela era uma doadora valiosa para o abrigo além de ter me visto crescer…O abrigo era conhecido e um dos mais antigos da cidade, meu pai tinha uma clínica veterinária em três pontos diferentes da cidade mas nos fins de semana trabalhava exclusivamente no abrigo; havia crescido entre animais, me apaixonar por eles fora natural. Enquanto digitava algo, ouvi novamente o ruído irritante dos calçados do mentiroso, eu não o conhecia e já o detestava. Como se ele ter alergia oa que eu amava fosse a maior das ofensas, era um absurdo, mas de alguma maneira estava furiosa. Então, enquanto ele se aproximava, lhe dei um olhar de aviso, deixando claro que sua presença não era bem vinda.
— Bom dia, eu gostaria de ver os animais para a doação. — O mentiroso se pronunciou assim que parou diante o balcão, seus olhos exibiam um entusiasmo estranho para tal hora do dia, em seus lábios haviam um sorriso cordial.
— Você não parece do tipo que teria um animal de estimação. — Proferi as palavras de forma a expressar meus pensamentos diretamente, porém o meu tom havia saído mais hostil do eu esperava e isso iria me causar uma dor de cabeça, meu pai vinha a semanas pegando no meu pé devido a forma que eu me expresava com as pessoas, ele sempre vinha com " , imagine que as pessoas são animais, dessa forma você será mais tolerante e menos hostil ".
— O ditado não diz que não se deve julgar um livro pela capa?! — Ele me respondeu sem se abalar, seu sorriso de alguma forma havia crescido ainda mais, como se ele estivesse se divertindo com a minha hostilidade.
— Eu sou muito boa em julgar o caráter das pessoas. — Por ele parecer confortável frente a minha hostilidade, não me incomodei em mostrar qualquer arrependimento, no entanto isso o fez rir em divertimento, me senti ainda mais irritada.
— ! Não seja tão rude com o pobre rapaz! — Meu pai surgiu no resgate daquele garoto, seu modo de agir me irirtava, eu não entendia o que mamãe gostava em meu pai além do amor pelos animais. — Não ligue para o mal-humor meu carro, parace gostar mais de bichos do que de gente. — Ouvir meu próprio pai dizer isso me fez morder a língua para não soltar palavras ácidas, pelas quais seria punidas mais tarde através de minha mãe.
— Está tudo bem, mas entendo o você quis dizer. — Ele concordou com o que meu pai disse, eu os olhei como tivessem enlouquecido.
— O que você faz por aqui num dia como esse rapaz ? — Meu pai o questionou cordialmente, sua postura relaxada enquanto o indagava era curiosa, fiquei confusa, o que ele estava querendo ao sondar o mentiroso?!
— Estou aqui pela doação de animais, quando criança não pude ter um melhor amigo de quatro patas. — O garoto o respondeu tranquilamente, a mentira escapou de seus lábios com tanta naturalidade que eu tive de me conter outra vez , era por isso que detestava tanto ter de interagir com as pessoas, elas mentiam o tempo todo!
— É uma razão estranho, porque parece que você tem alergia senhor…— Me intrometi querendo tirar ao menos o nome dele, para que assim eu soubesse a quem estava ofendendo.
— ! Minha filha, nós já conversarmos sobre isso antes. — Meu pai me interrompeu, seu tom era gentil apesar de estar me repreendendo. — Me desculpe pela atitude grosseira de minha filha, meu caro rapaz.
— , pode me chamar de . — Ele balançou a cabeça como se disesse que estava tudo bem, ao mesmo tempo respondendo a pergunta que eu havia lhe feito antes. — Eu gostaria de ver aqueles que estão para doação. — Ele sorriu para mim, teimosamente insistindo.
— leve-o até o canil. — Meu pai se virou para mim após dar a , o mentiroso, um olhar de agradecimento.
— Mas pai, ele espirrou assim que entrou na clínica! — Insisti em tentar o convencer a tirá-lo dali, não havia o porquê de insitir tanto. Era óbvio que eu desejava que cada um dos animais disponíveis para a doação encontrasse um lar, porém não entregaria um a uma pessoa alérgica.
— Por favor filha, não vamos discutir , a senhora Lima está me esperando no consultório, leve o jovem rapaz até o canil…Você estava animada com a doação de animais esse fim de semana inteiro. — Meu pai deu uma batidinha em meu ombro para tentar me animar,antes de se afastar. — Espero que encontre o que deseja . — Ele piscou para antes de seguir pelo corredor.
— Mentiroso. — O chamei pelo o que estava nomeando em minha mente desde o instante em que pus meus olhos sobre sua figura; detestava que meu pai não estivesse acreditando em minhas palavras, mas também não poderia o culpar, de fato eu não era uma pessoa de fácil convívio.
— Você não está errada no todo , mas eu realmente estou aqui para adotar um deles. — me respondeu mantendo firmemente seu olhar no meu, eu engoli em seco, desconfortável pela minha sinceridade dele, fora algo que me pegou de surpresa.
— Eu não gosto nenhum pouco de você. — O informei, havia algo sobre ele que somente por respirar me irritava, eu não entendia o porquê de o detestar tanto!
— Eu me apaixonei por você assim que pus meus olhos sobre você. — replicou dando de ombros tranquilamente, como se suas palavras não lhe causassem nenhum embaraço, o olhei subitamente sem fôlego.
" Da boca dele saía apenas absurdos?! "
— Você é repugnante. — Rebati sua fala com enojo, eu o via como um completo lunático, quem se declarava para outra vez após vê-la ?!
— Você ainda não sabe, mas eu sou muito persuasivo, podemos ter começado mal mas eu farei você mudar de ideia. — Ele piscou mim assobiando tranquilamente enquanto andava tranquilamente pelo corredor, como se suas palavras não tivessem um peso enorme!
— Você é lunático, . — O respondi completamente na defensiva.
— Eu gosto de você, pode levar o tempo que for mas eu farei você gostar de mim da mesma maneira que ama os animais . — Ele replicou tranquilamente parando em minha frente, a uma certa distância, ele não parecia querer me assustar e em seus olhos pude ver a mudança da tranquilidade para a seriedade. — Eu não farei nada com você , eu sei que estou dizendo absurdos, não sou um homem que age baseado nos impulsos, sou da área de exatas, minhas ações são baseadas na razão mas por algum motivo eu simplesmente não consigo explicar essa estranha atração que eu sinto por você. — Ele se apoiou contra a parede do corredor olhando para o teto, respirando fundo como se estivesse buscando forças para prosseguir com o restante de sua fala e ao mesmo tempo tentando controlar a ardência que sentia por conta da alergia, estava muito próxima de eu mesma o encaminhar para o hospital por ficar tanto tempo exposto aos animais. — Eu não farei nada com você até que eu tenha o seu consentimento, eu não estou mentindo sobre adotar um pet, meu melhor amigo ama cachorros tanto quanto adora engenharia, ele é um bom amigo e eu não vejo o porque de não retribuir o quanto ele vem abdicando em prol da nossa amizade. — Ele sorriu, como se estivesse imaginando como seu amigo reagiria a notícia. — Eu não sou o ser repugnante que está imaginando. — Ele completou por fim, finalizando tudo o que queria dizer.
" Maluco, incomum, irritante e ao mesmo tempo parecia que ele estava dizendo a verdade…Eu mal podia considerar isso como verdade, jamais havia permitido que alguém chegasse tão próximo de mim. "
— Você é incomum. — O respondi balançando a cabeça negativamente, tentando contradizer meus próprios pensamentos.
— Vou considerar isso como um elogio. — me respondeu sorrindo, voltando a assobiar enquanto me seguia inabalável, de todas as reações que eu poderia esperar de , definitivamente não era uma delas!
— Não foi o que quis dizer. — O respondi olhando sobre os ombros uma última vez antes de abrir a porta de ferro do canil, ao olhar meus amados cães se agitarem por meu retorno, sorri adentrando o local me sentindo como se pudesse respirar direito outra vez, eu me sentia em casa ali.
— Eu sei, mas eu vou considerar mesmo assim. — piscou para mim antes de começar a observar os cachorros e gatos, sentia os seus olhos sobre mim embora fingisse que não.
Por algum tempo manteve sua boca fechada, seus olhos percorriam os cachorros atentamente, suas palavras não pareciam vazias quando disse que desejava presentear o seu melhor amigo. Seus dedos algumas vezes ajustaram os óculos no lugar a cada vez que a armação começava deslizar pela ponte de seu nariz. passou algumas vezes por mim antes de escolher um pitbull cinza, por algum motivo naquele instante o detestei um pouco menos, muitas pessoas evitavam os pitbulls com medo baseando seus receios em esteriótipos sobre a raça. Abri o canil do cachorro que apelidei de Rex, que agora ganharia um lar, eu estava feliz por ele ser adotado enquanto me sentia como uma mãe que vê seus filhos irem embora de casa para conquistar o mundo.
— Eu sinto que esse cachorro é mais especial do que os outros. — se pronunciou, se aproximando para fazer carinho em Rex.
— Todos merecem ter um lar. — Comentei distraída, afagando entre as orelhas de Rex que havia se deitado deixando a barriga para cima, a qual fazia carinho.
— Sim, e serem amados também. — replicou a minha frase com humor, suas íris possuíam um brilho, eu não entendia o que estava havendo, no entanto, supunha que a presença de Rex o tornasse menos intragável.
— Vamos cuidar da papelada e você poderá encontrar seu novo dono hoje. — Comentei com suavidade olhando para Rex, eu sentiria falta dele por ali mas eu estava feliz por ele encontrar um lar.
— Eu sei que você me detesta, . — iniciou sua fala olhando diretamente em meus olhos, o humor havia desvanecido de seu olhar sobrando apenas a seriedade. — Mas eu estava falando seriamente sobre como me sinto a seu respeito, para que eu possa fazer isso, preciso saber mais sobre você…, não precisa me contar tudo, eu sou um desastre excelente aluno, posso aprender observando, não pedirei seu telefone porque sei que não me dirá, em troca me diga onde estuda.
— Eu não quero, porque insistir tanto? — O questionei sem paciência.
— Eu já lhe disse, , adorável limãozinho azedo, dona do mais gentil coração, para os animaizinhos claro, me permita te ensinar a amar, inicialmente eu quero me aproximar de você como amigo mas o que eu desejo é um dia ser seu marido mas até lá eu tenho muito tempo para te convencer. — se levantou sorrindo brilhantemente.
— UFPR. — O respondi por motivos que nem mesmo eu sabia explicar.
— Seu pai deve ter muito orgulho de você, bem o polo veterinário fica perto do meu trabalho, então minha azedinha , te vejo por ai. — espirrou algumas vezes assim que saiu do canil, Rex o seguia como se sempre tivera sido o seu dono.
— No que foi que eu me meti?
Semanas depois, quase meses…
Suportar era eufemismo, aonde quer que ele aparecesse, sua presença ruidosa me tirava do sério. Algumas semanas ele comparecia ao abrigo, se voluntariando para executar tarefas que o deixasse distante dos animais devido a sua alergia, em outras ele simplesmente aparecia no campus com a desculpa de me entregar algum lanche, "mimo" , era como ele se referia. Palavras absurdas não pararam de jorrar de seus lábios, com a frequência em que ele me vinha, se sentia o suficientemente confortável para ser desbocado, dizendo exatamente o que pensava, apesar de inicialmente o achar tímido pelas roupas que usava, era realmente um comunicativo nato, apaixonado por astrofísica e aquele fim de semana em específico, estávamos todos na cidade de Paranaguá, meus pais me arrastaram para o aquário da cidade, com a desculpa de que faz muito tempo desde a última vez em que viajamos em família…mentiras apenas! havia comentado que queria alguns asteroides que seriam visíveis mais facilmente no meio do mar,ele havia conversado com alguns marinheiros…Não que eu estivesse prestando atenção em seu desabafo ou aceitado o convite! Ao avistar a figura de , com a mochila nas costas, um sorriso despretensioso mas com um olhar de diversão…
" Ele havia arquitado tudo com o meu pai! "
— Preparada para observar o universo? — Ele me saudou com uma pergunta, enfim desistirá das saudações de cordialidade.
— Como conseguirá um telescópio? — O respondi com outra pergunta.
— Eu sempre estou muito bem preparado, agora senhorita Ranzinza, vamos logo, eu quero chegar a alto mar antes que anoiteça. — Ele segurou minhas mãos me levando para a praia.
Meus pais haviam me deixado no aquário havia meia hora e saíram para um momento apenas para os dois, quando eles saíram, deveria ter notado que eles na verdade estavam armando com ! Eu até que tentei tirar a minha mão da dele, no entanto era quase impossível, ele continuou a me guiar pelas ruas, até atingirmos um píer, ali estava alguns barcos e canoas de pescadores; entrou numa embarcação mediana, com dois andares, na qual o segundo andar consistia em um deck comprido, assim que estava dentro do barco, ele me estendeu a mão para que eu pudesse entrar.
— Você é estranho. — Comentei aceitando sua mão, ele me puxou para ele, caímos sobre o chão de madeira, ele riu abertamente enquanto o olhava um pouco aborrecida.
— Sim, você já me disse isso. — Ele me respondeu rindo ajudando-me a levantar.
— Onde está o capitão? — Perguntei engolindo o ímpeto de o lançar no mar.
— Você está olhando para ele. — abriu a mochila sacando um molho de chaves que ele usou para abrir a porta do barco, colocando sua bolsa na primeira superfície que avistou.
— Não, não, não…Eu quero voltar para a terra firme! — Parei em frente a , ele sorriu pacientemente, suas mãos foram para o meu cabelo colocando a mecha que havia se desprendido atrás de minha orelha.
— Respira minha azedinha, eu faço isso há muitos anos, meu tio é marinheiro, você está segura comigo. — beijou o topo dos meus cabelos colocando a chave em seu lugar antes de ligar o barco, para então apertar o botão de içar a âncora.
Eu fiquei em silêncio, absorvendo o que estava acontecendo, fazia semanas que vinha ao meu encontro para conversarmos, conhecer mais um ao outro. Sua faculdade não era fácil, era explícito o quanto adorava isso, e mesmo tendo uma pilha de responsabilidades, encontrava tempo para me encontrar…Aonde eu estava me metendo?! Enquanto divagava, observei , eu detestava as pessoas, principalmente as mentirosas, limitava meu contato apenas aos funcionários do abrigo e alguns amigos de curso, juntando-os dava os números da mima mão. Após essa convivência quase forçada, a companhia de se tornou agradável, eu me sentia estranha, não entendia o que estava surgindo em meu peito, tinha medos, eu o observei de perfil, seus óculos refletiam a luz do entardecer, as cores do pôr do sol o deixava agradável aos olhos…É, eu não o elogiaria nem mesmo em meus pensamentos?!
— Aqui está bom, vou preparar o deck para a observação, se sinta em casa para xeretar o quiser, é um barco relativamente pequeno mas seja gentil, eu cresci vendo as estrelas nele. — piscou para mim antes de deixar o leme após acionar a âncora.
Em silêncio fiz exatamente o que ele disse, com a curiosidade aflorada fui impelida a desvendar o barco. Eu apenas fiz exatamente o que havia dito, ao subir para o segundo andar eu perdi o fôlego, o oceano estava estrelado, se estivéssemos em Curitiba a probabilidade era de a noite estar nublada, fora uma boa escolha vir ao litoral e apreciar um pouco de calor para variar. não só transformou o deck em seu ponto de observação, como também providenciou um belo jantar a luz de velas…
— …— Minha voz esmoreceu ao notar ele sorrir um pouco envergonhado enquanto se aproximava.
— Eu te prometi que te tocaria apenas se você consentisse, minha palavra está de pé, eu só não suportava ficar parado, deixando o destino agir para te convencer que somos perfeitos um para o outro. — Ele riu diante minha careta. — ,meu amor, minha ranzinza favorita, eu quero muito avançar no degrau de nosso relacionamento mas hoje a noite é sobre você querida, você dita as regras. — Ele ergueu minha face pousando seus lábios no centro da minha testa.
— Você é insuportável, mas será o meu insuportável. — Seguro a gola da camiseta dele o puxando para um beijo.
Sobre as estrelas, com uma chuva de meteoros a caminho, em meio a um oceano de águas calmas, com o meu completo oposto…o garoto que invadiu o abrigo num domingo de manhã. Eu estava exatamente onde deveria estar.
Não havia razões para um alérgico estar ali por livre e espontânea vontade, quando notei que ele também me observava a decepção fora um balde de água fria. Odiava garotos que fariam qualquer coisa para ter uma garota aos seus pés, a desonestidade era o traço que eu mais odiava, voltei meus olhos para o animalzinho a minha frente, preferia os bichos aos seres humanos, os animais não mentiam. Sorri para a bolota que o animal de Camilo havia se tornado enquanto conversava com ele, eu não me importava se parecia uma doida enquanto sorria e brincava com as palavras com um cachorro, as pessoas eram tediosas e mentirosas, logo a opinião delas não me importava.
Me despedi dos cachorros de Camilo antes que ele partisse, minha expressão voltou a usual, e então comecei a checar o que era necessário no computador enquanto meu pai seguia até a Sra.Lima, a senhora de quase 90 anos permanecia ativar e era a mulher mais lúcida que já havia conhecido, ela era uma doadora valiosa para o abrigo além de ter me visto crescer…O abrigo era conhecido e um dos mais antigos da cidade, meu pai tinha uma clínica veterinária em três pontos diferentes da cidade mas nos fins de semana trabalhava exclusivamente no abrigo; havia crescido entre animais, me apaixonar por eles fora natural. Enquanto digitava algo, ouvi novamente o ruído irritante dos calçados do mentiroso, eu não o conhecia e já o detestava. Como se ele ter alergia oa que eu amava fosse a maior das ofensas, era um absurdo, mas de alguma maneira estava furiosa. Então, enquanto ele se aproximava, lhe dei um olhar de aviso, deixando claro que sua presença não era bem vinda.
— Bom dia, eu gostaria de ver os animais para a doação. — O mentiroso se pronunciou assim que parou diante o balcão, seus olhos exibiam um entusiasmo estranho para tal hora do dia, em seus lábios haviam um sorriso cordial.
— Você não parece do tipo que teria um animal de estimação. — Proferi as palavras de forma a expressar meus pensamentos diretamente, porém o meu tom havia saído mais hostil do eu esperava e isso iria me causar uma dor de cabeça, meu pai vinha a semanas pegando no meu pé devido a forma que eu me expresava com as pessoas, ele sempre vinha com " , imagine que as pessoas são animais, dessa forma você será mais tolerante e menos hostil ".
— O ditado não diz que não se deve julgar um livro pela capa?! — Ele me respondeu sem se abalar, seu sorriso de alguma forma havia crescido ainda mais, como se ele estivesse se divertindo com a minha hostilidade.
— Eu sou muito boa em julgar o caráter das pessoas. — Por ele parecer confortável frente a minha hostilidade, não me incomodei em mostrar qualquer arrependimento, no entanto isso o fez rir em divertimento, me senti ainda mais irritada.
— ! Não seja tão rude com o pobre rapaz! — Meu pai surgiu no resgate daquele garoto, seu modo de agir me irirtava, eu não entendia o que mamãe gostava em meu pai além do amor pelos animais. — Não ligue para o mal-humor meu carro, parace gostar mais de bichos do que de gente. — Ouvir meu próprio pai dizer isso me fez morder a língua para não soltar palavras ácidas, pelas quais seria punidas mais tarde através de minha mãe.
— Está tudo bem, mas entendo o você quis dizer. — Ele concordou com o que meu pai disse, eu os olhei como tivessem enlouquecido.
— O que você faz por aqui num dia como esse rapaz ? — Meu pai o questionou cordialmente, sua postura relaxada enquanto o indagava era curiosa, fiquei confusa, o que ele estava querendo ao sondar o mentiroso?!
— Estou aqui pela doação de animais, quando criança não pude ter um melhor amigo de quatro patas. — O garoto o respondeu tranquilamente, a mentira escapou de seus lábios com tanta naturalidade que eu tive de me conter outra vez , era por isso que detestava tanto ter de interagir com as pessoas, elas mentiam o tempo todo!
— É uma razão estranho, porque parece que você tem alergia senhor…— Me intrometi querendo tirar ao menos o nome dele, para que assim eu soubesse a quem estava ofendendo.
— ! Minha filha, nós já conversarmos sobre isso antes. — Meu pai me interrompeu, seu tom era gentil apesar de estar me repreendendo. — Me desculpe pela atitude grosseira de minha filha, meu caro rapaz.
— , pode me chamar de . — Ele balançou a cabeça como se disesse que estava tudo bem, ao mesmo tempo respondendo a pergunta que eu havia lhe feito antes. — Eu gostaria de ver aqueles que estão para doação. — Ele sorriu para mim, teimosamente insistindo.
— leve-o até o canil. — Meu pai se virou para mim após dar a , o mentiroso, um olhar de agradecimento.
— Mas pai, ele espirrou assim que entrou na clínica! — Insisti em tentar o convencer a tirá-lo dali, não havia o porquê de insitir tanto. Era óbvio que eu desejava que cada um dos animais disponíveis para a doação encontrasse um lar, porém não entregaria um a uma pessoa alérgica.
— Por favor filha, não vamos discutir , a senhora Lima está me esperando no consultório, leve o jovem rapaz até o canil…Você estava animada com a doação de animais esse fim de semana inteiro. — Meu pai deu uma batidinha em meu ombro para tentar me animar,antes de se afastar. — Espero que encontre o que deseja . — Ele piscou para antes de seguir pelo corredor.
— Mentiroso. — O chamei pelo o que estava nomeando em minha mente desde o instante em que pus meus olhos sobre sua figura; detestava que meu pai não estivesse acreditando em minhas palavras, mas também não poderia o culpar, de fato eu não era uma pessoa de fácil convívio.
— Você não está errada no todo , mas eu realmente estou aqui para adotar um deles. — me respondeu mantendo firmemente seu olhar no meu, eu engoli em seco, desconfortável pela minha sinceridade dele, fora algo que me pegou de surpresa.
— Eu não gosto nenhum pouco de você. — O informei, havia algo sobre ele que somente por respirar me irritava, eu não entendia o porquê de o detestar tanto!
— Eu me apaixonei por você assim que pus meus olhos sobre você. — replicou dando de ombros tranquilamente, como se suas palavras não lhe causassem nenhum embaraço, o olhei subitamente sem fôlego.
— Você é repugnante. — Rebati sua fala com enojo, eu o via como um completo lunático, quem se declarava para outra vez após vê-la ?!
— Você ainda não sabe, mas eu sou muito persuasivo, podemos ter começado mal mas eu farei você mudar de ideia. — Ele piscou mim assobiando tranquilamente enquanto andava tranquilamente pelo corredor, como se suas palavras não tivessem um peso enorme!
— Você é lunático, . — O respondi completamente na defensiva.
— Eu gosto de você, pode levar o tempo que for mas eu farei você gostar de mim da mesma maneira que ama os animais . — Ele replicou tranquilamente parando em minha frente, a uma certa distância, ele não parecia querer me assustar e em seus olhos pude ver a mudança da tranquilidade para a seriedade. — Eu não farei nada com você , eu sei que estou dizendo absurdos, não sou um homem que age baseado nos impulsos, sou da área de exatas, minhas ações são baseadas na razão mas por algum motivo eu simplesmente não consigo explicar essa estranha atração que eu sinto por você. — Ele se apoiou contra a parede do corredor olhando para o teto, respirando fundo como se estivesse buscando forças para prosseguir com o restante de sua fala e ao mesmo tempo tentando controlar a ardência que sentia por conta da alergia, estava muito próxima de eu mesma o encaminhar para o hospital por ficar tanto tempo exposto aos animais. — Eu não farei nada com você até que eu tenha o seu consentimento, eu não estou mentindo sobre adotar um pet, meu melhor amigo ama cachorros tanto quanto adora engenharia, ele é um bom amigo e eu não vejo o porque de não retribuir o quanto ele vem abdicando em prol da nossa amizade. — Ele sorriu, como se estivesse imaginando como seu amigo reagiria a notícia. — Eu não sou o ser repugnante que está imaginando. — Ele completou por fim, finalizando tudo o que queria dizer.
— Você é incomum. — O respondi balançando a cabeça negativamente, tentando contradizer meus próprios pensamentos.
— Vou considerar isso como um elogio. — me respondeu sorrindo, voltando a assobiar enquanto me seguia inabalável, de todas as reações que eu poderia esperar de , definitivamente não era uma delas!
— Não foi o que quis dizer. — O respondi olhando sobre os ombros uma última vez antes de abrir a porta de ferro do canil, ao olhar meus amados cães se agitarem por meu retorno, sorri adentrando o local me sentindo como se pudesse respirar direito outra vez, eu me sentia em casa ali.
— Eu sei, mas eu vou considerar mesmo assim. — piscou para mim antes de começar a observar os cachorros e gatos, sentia os seus olhos sobre mim embora fingisse que não.
Por algum tempo manteve sua boca fechada, seus olhos percorriam os cachorros atentamente, suas palavras não pareciam vazias quando disse que desejava presentear o seu melhor amigo. Seus dedos algumas vezes ajustaram os óculos no lugar a cada vez que a armação começava deslizar pela ponte de seu nariz. passou algumas vezes por mim antes de escolher um pitbull cinza, por algum motivo naquele instante o detestei um pouco menos, muitas pessoas evitavam os pitbulls com medo baseando seus receios em esteriótipos sobre a raça. Abri o canil do cachorro que apelidei de Rex, que agora ganharia um lar, eu estava feliz por ele ser adotado enquanto me sentia como uma mãe que vê seus filhos irem embora de casa para conquistar o mundo.
— Eu sinto que esse cachorro é mais especial do que os outros. — se pronunciou, se aproximando para fazer carinho em Rex.
— Todos merecem ter um lar. — Comentei distraída, afagando entre as orelhas de Rex que havia se deitado deixando a barriga para cima, a qual fazia carinho.
— Sim, e serem amados também. — replicou a minha frase com humor, suas íris possuíam um brilho, eu não entendia o que estava havendo, no entanto, supunha que a presença de Rex o tornasse menos intragável.
— Vamos cuidar da papelada e você poderá encontrar seu novo dono hoje. — Comentei com suavidade olhando para Rex, eu sentiria falta dele por ali mas eu estava feliz por ele encontrar um lar.
— Eu sei que você me detesta, . — iniciou sua fala olhando diretamente em meus olhos, o humor havia desvanecido de seu olhar sobrando apenas a seriedade. — Mas eu estava falando seriamente sobre como me sinto a seu respeito, para que eu possa fazer isso, preciso saber mais sobre você…, não precisa me contar tudo, eu sou um desastre excelente aluno, posso aprender observando, não pedirei seu telefone porque sei que não me dirá, em troca me diga onde estuda.
— Eu não quero, porque insistir tanto? — O questionei sem paciência.
— Eu já lhe disse, , adorável limãozinho azedo, dona do mais gentil coração, para os animaizinhos claro, me permita te ensinar a amar, inicialmente eu quero me aproximar de você como amigo mas o que eu desejo é um dia ser seu marido mas até lá eu tenho muito tempo para te convencer. — se levantou sorrindo brilhantemente.
— UFPR. — O respondi por motivos que nem mesmo eu sabia explicar.
— Seu pai deve ter muito orgulho de você, bem o polo veterinário fica perto do meu trabalho, então minha azedinha , te vejo por ai. — espirrou algumas vezes assim que saiu do canil, Rex o seguia como se sempre tivera sido o seu dono.
— No que foi que eu me meti?
Semanas depois, quase meses…
Suportar era eufemismo, aonde quer que ele aparecesse, sua presença ruidosa me tirava do sério. Algumas semanas ele comparecia ao abrigo, se voluntariando para executar tarefas que o deixasse distante dos animais devido a sua alergia, em outras ele simplesmente aparecia no campus com a desculpa de me entregar algum lanche, "mimo" , era como ele se referia. Palavras absurdas não pararam de jorrar de seus lábios, com a frequência em que ele me vinha, se sentia o suficientemente confortável para ser desbocado, dizendo exatamente o que pensava, apesar de inicialmente o achar tímido pelas roupas que usava, era realmente um comunicativo nato, apaixonado por astrofísica e aquele fim de semana em específico, estávamos todos na cidade de Paranaguá, meus pais me arrastaram para o aquário da cidade, com a desculpa de que faz muito tempo desde a última vez em que viajamos em família…mentiras apenas! havia comentado que queria alguns asteroides que seriam visíveis mais facilmente no meio do mar,ele havia conversado com alguns marinheiros…Não que eu estivesse prestando atenção em seu desabafo ou aceitado o convite! Ao avistar a figura de , com a mochila nas costas, um sorriso despretensioso mas com um olhar de diversão…
— Preparada para observar o universo? — Ele me saudou com uma pergunta, enfim desistirá das saudações de cordialidade.
— Como conseguirá um telescópio? — O respondi com outra pergunta.
— Eu sempre estou muito bem preparado, agora senhorita Ranzinza, vamos logo, eu quero chegar a alto mar antes que anoiteça. — Ele segurou minhas mãos me levando para a praia.
Meus pais haviam me deixado no aquário havia meia hora e saíram para um momento apenas para os dois, quando eles saíram, deveria ter notado que eles na verdade estavam armando com ! Eu até que tentei tirar a minha mão da dele, no entanto era quase impossível, ele continuou a me guiar pelas ruas, até atingirmos um píer, ali estava alguns barcos e canoas de pescadores; entrou numa embarcação mediana, com dois andares, na qual o segundo andar consistia em um deck comprido, assim que estava dentro do barco, ele me estendeu a mão para que eu pudesse entrar.
— Você é estranho. — Comentei aceitando sua mão, ele me puxou para ele, caímos sobre o chão de madeira, ele riu abertamente enquanto o olhava um pouco aborrecida.
— Sim, você já me disse isso. — Ele me respondeu rindo ajudando-me a levantar.
— Onde está o capitão? — Perguntei engolindo o ímpeto de o lançar no mar.
— Você está olhando para ele. — abriu a mochila sacando um molho de chaves que ele usou para abrir a porta do barco, colocando sua bolsa na primeira superfície que avistou.
— Não, não, não…Eu quero voltar para a terra firme! — Parei em frente a , ele sorriu pacientemente, suas mãos foram para o meu cabelo colocando a mecha que havia se desprendido atrás de minha orelha.
— Respira minha azedinha, eu faço isso há muitos anos, meu tio é marinheiro, você está segura comigo. — beijou o topo dos meus cabelos colocando a chave em seu lugar antes de ligar o barco, para então apertar o botão de içar a âncora.
Eu fiquei em silêncio, absorvendo o que estava acontecendo, fazia semanas que vinha ao meu encontro para conversarmos, conhecer mais um ao outro. Sua faculdade não era fácil, era explícito o quanto adorava isso, e mesmo tendo uma pilha de responsabilidades, encontrava tempo para me encontrar…Aonde eu estava me metendo?! Enquanto divagava, observei , eu detestava as pessoas, principalmente as mentirosas, limitava meu contato apenas aos funcionários do abrigo e alguns amigos de curso, juntando-os dava os números da mima mão. Após essa convivência quase forçada, a companhia de se tornou agradável, eu me sentia estranha, não entendia o que estava surgindo em meu peito, tinha medos, eu o observei de perfil, seus óculos refletiam a luz do entardecer, as cores do pôr do sol o deixava agradável aos olhos…É, eu não o elogiaria nem mesmo em meus pensamentos?!
— Aqui está bom, vou preparar o deck para a observação, se sinta em casa para xeretar o quiser, é um barco relativamente pequeno mas seja gentil, eu cresci vendo as estrelas nele. — piscou para mim antes de deixar o leme após acionar a âncora.
Em silêncio fiz exatamente o que ele disse, com a curiosidade aflorada fui impelida a desvendar o barco. Eu apenas fiz exatamente o que havia dito, ao subir para o segundo andar eu perdi o fôlego, o oceano estava estrelado, se estivéssemos em Curitiba a probabilidade era de a noite estar nublada, fora uma boa escolha vir ao litoral e apreciar um pouco de calor para variar. não só transformou o deck em seu ponto de observação, como também providenciou um belo jantar a luz de velas…
— …— Minha voz esmoreceu ao notar ele sorrir um pouco envergonhado enquanto se aproximava.
— Eu te prometi que te tocaria apenas se você consentisse, minha palavra está de pé, eu só não suportava ficar parado, deixando o destino agir para te convencer que somos perfeitos um para o outro. — Ele riu diante minha careta. — ,meu amor, minha ranzinza favorita, eu quero muito avançar no degrau de nosso relacionamento mas hoje a noite é sobre você querida, você dita as regras. — Ele ergueu minha face pousando seus lábios no centro da minha testa.
— Você é insuportável, mas será o meu insuportável. — Seguro a gola da camiseta dele o puxando para um beijo.
Sobre as estrelas, com uma chuva de meteoros a caminho, em meio a um oceano de águas calmas, com o meu completo oposto…o garoto que invadiu o abrigo num domingo de manhã. Eu estava exatamente onde deveria estar.
Fim.
Nota da autora: Espero que gostem do resultado, eu adorei escrevê-la.
Para quem quiser saber mais sobre esse casal, essa fic é um aprofundamento da história Alergias e uma boa razão para se passar o resto da vida.
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