Capítulo Único
“Eu não esperava e você apareceu do nada... Eu improvisando o jantar e você dando risada! E se resolver passar a noite aqui não leve a mal, a cama é de solteiro mas o coração é de casal!”
Fazia um mês exatamente hoje desde o nosso primeiro encontro, beijo… e eu me encontrava perdidamente apaixonado, de quatro, caidinho por ela, gado, como costumam dizer, sabe? É clichê o que vou dizer, mas é a mais pura verdade, eu estava apaixonado e apaixonado como nunca estive! Não que eu tenha um currículo de envolvimentos amorosos muito extensos ou duradouros, e talvez o motivo de todos os meus envolvimentos amorosos terem sido tão efêmeros seja exatamente este: eu nunca estive de fato apaixonado. Não como estou agora!
Eu sei, eu sei, só tem um mês, como posso estar tão apaixonado em tão pouco tempo? Essa é uma boa pergunta, eu não sei explicar. Mas posso ser sincero? Tempo é tão relativo... E o mais interessante é que eu não estava procurando, eu não esperava encontrá-la, não esperava me apaixonar desta forma tão cedo, não com a bagunça que as coisas estavam nesses últimos meses na minha vida de uma forma geral. Mas aí então ela apareceu, da forma mais inesperada o possível, e tomou conta dos meus pensamentos, dos meus sorrisos…
Flashback:
“A risada alta dos meus colegas de trabalho empesteava todo o ambiente, que era aberto por sinal, e todos ao redor nos olhavam. Eles não sabiam se comportar feito gente nem dentro do escritório, imagina fora dele! Eu definitivamente não queria estar ali! Queria estar enchendo a cara? Fato que queria, mas não ali e não com eles. Eu os odiava, a todos, havia uma exceção, a recepcionista do prédio, afinal de contas ela só falava bom dia, boa tarde e boa noite. O restante eu tinha asco. Eles eram prepotentes, arrogantes, misóginos, machistas, sexistas (só tínhamos uma única colega de trabalho mulher, o restante eram homens, e até ela propagava esses pensamentos machistas), eles falavam alto, faziam brincadeiras inapropriadas, falavam encostando e cutucando a gente, não sabiam o que era espaço vital, privacidade, educação… Eu observava eles interagindo um com o outro enquanto pensava que diabos eu ainda estava fazendo ali, e porque diabos eu não tinha pedido conta até hoje! Ah é, deve ser porque eu preciso de dinheiro para pagar o aluguel (e terminar de pagar a minha festa de formatura, que dividi em milhões de vezes), para comprar minhas coisas, para viver, e aquilo infelizmente era a única coisa que eu sabia fazer, depois de quatro malditos anos estudando contra a minha vontade para finalmente exercer aquela profissão e tentar não ser a maior decepção dos meus pais. Senti Brendon repousar uma de suas mãos fedidas de cigarro sobre meu ombro esquerdo enquanto gargalhava tão alto que lá do outro lado da rua conseguiriam ouvir, ele e Matthew disseram algo incompreensível devido ao nível de álcool em seus sangues e eu apenas concordei com a cabeça enquanto alegava que iria ao banheiro, me livrando do odor desagradável de cigarro de Brendon.
Me escorei no balcão, cocei levemente a cabeça em sinal de descrença total, quando ouvi alguns berros vindos da mesa aonde eu estava segundos atrás, e vi Shelley banhada em cerveja despejando uma onde de palavrões contra Matthew, que pedia (ou tentava) desculpas por ter derrubado todo seu chopp nela.
- Eles parecem animais, meu pai! - balancei a cabeça me virando de frente pro balcão - Na verdade até animais se comportam melhor que esses idiotas.
- Você não deveria falar assim dos seus colegas de trabalho! Que feio! - ela piscou -
Ali, eu senti algo diferente… Os olhos dela cintilavam, tinham um brilho diferente, ela nem parecia ser real. Eu estava delirando, certamente! Só podia ser.
- Eu… - pausei com a boca aberta, ainda sem saber se ela era real e completamente sem reação -
- Eu estava brincando! - ela riu enquanto passava um pano branco e úmido no balcão - O que vai querer?
- Você trabalha aqui? - questionei ainda achando que ela era apenas uma visão -
Ela olhou para baixo, de um lado para o outro e apontou para o próprio avental que continha o nome do bar. Me senti um idiota.
- Acho que sim! - ela sorriu outra vez, debochada e delicada ao mesmo tempo. -
Eu balancei a cabeça negativamente enquanto sorria sem mostrar os dentes.
- Você tem cara de que gosta de cerveja de goiaba! Ou cerveja artesanal! - ela colocou a mão no queixo fazendo cara de quem pensava em algo -
Eu sorri mostrando os dentes dessa vez.
- Já ouvi dizer que a cerveja de goiaba de vocês, é a melhor! Me vê uma então, senhorita....? - deixei aberto o espaço para que ela me dissesse seu nome -
- ! E você?
- ! - estendi a mão em sua direção -
Ela segurou e nós nos olhamos nos olhos.
Ali eu sabia que ela mudaria a minha vida se quisesse, num estalar de dedos.”
A campainha tocou e eu havia acabado de sair do banho, ainda estava só de toalha, eu estava terrivelmente atrasado, graças ao meu glorioso trabalho que resolveu me deixar de plantão de última hora fazendo com que eu chegasse em casa faltando apenas quinze minutos para encontrá-la, eu não a avisei do atraso porque minha mente sabotadora me disse que daria tempo.
Eu corri até a porta e abri só até a metade, primeiro para me certificar de que era ela e depois porque eu estava apenas de toalha e não queria que ela pensasse algo errado de mim.
Assim que nossos olhares se cruzaram eu sorri abertamente para ela, que sorriu sem mostrar os dentes.
- Pontual, como sempre! - nós rimos - Então , eu acabei de sair do banho, basicamente, então, você entra e me espera aqui, pode ser? Me desculpe, eu tive uns contratempos no trabalho, que me atrasaram.
Reparei que ela fitava meu cabelo bagunçado e molhado, ela seguia as gotas que caíam no chão com os olhos. Isso era um mau sinal?
- Imagina, sem problemas! Eu espero por você !
- Entre, fique à vontade!
Terminei de abrir a porta, meio que me escondendo atrás da mesma e dei espaço para que ela entrasse, e ela assim o fez depois de sussurrar timidamente um “com licença”.
A casa estava uma bagunça, e eu me sentia ainda mais envergonhado. Os móveis empoeirados, tinha camisetas e calças espalhados pelo sofá, meias… O que ela pensaria de mim, meu pai!
- Não repara, fiquei de arrumar minha casa semana passada, ela tá igual minha vida meio bagunçada... Não repara! - soltei uma risada nasalada tentando esconder minha vergonha -
Ela gargalhou, jogando a cabeça para trás, como sempre fazia. Linda!
- Imagina ! Eu também moro sozinha, e vivo na correria, e cansada, se esqueceu? Sei como são essas coisas!
Nós nos encaramos de novo, o olhar dela percorreu meu corpo ainda úmido e então ela ruborizou e se virou para pegar as calças e camisetas que estavam no sofá, envergonhada pelo que havia feito. Eu havia adorado!
- Vou me trocar bem rapidinho e já venho.
se sentou no sofá, com os braços cruzados sobre o peito, ainda tímida e sem jeito e me perguntou se podia ligar a TV e eu permiti é claro.
Enquanto me trocava pensei em como parecia que eu estava vivendo aquilo de uma maneira mais intensa que , ela ainda parecia travar comigo em alguns momentos, ela parecia ainda não estar na mesma vibe que eu, e eu precisava mudar aquilo e puxá-la pro mesmo degrau que o meu. Mas como eu poderia fazer isso? E se ela definitivamente não quisesse estar na mesma vibe que eu? E se eu realmente estiver sendo só um passa tempo? Um rolo? Só uma diversão?
Umedeci os lábios com a língua, vesti a camisa e o moletom e então saí do quarto e fui para a sala. mexia no celular, distraída. Resolvi não atrapalhar e então me dirigi até a cozinha, começando então a retirar os ingredientes da geladeira. E assim que o fiz, voltei para a sala e ela olhava ao redor, parecendo se sentir perdida.
- Tá em casa, escolhe a bebida e tira o sapato, relaxa! Se livra da sua armadura e baixa essa guarda, prometo que você não tá se metendo em roubada, tá em casa!
Me atrevi. Seu olhar subiu até o meu, e ela sorriu. Ah aquele maldito sorriso! Eu estava desarmado de novo, rendido.
- Tá bom! - ela retirou as sandálias que usava, depositando-as num cantinho da casa - É muito aconchegante aqui! Meio hipponga né? Sua cara mesmo ! - ela riu - Seus pais já vieram aqui?
- Já! - eu gargalhei - Eles detestaram, botaram defeito em tudo, disseram que era tudo feio e que eu nunca ia arrumar uma namorada morando num apartamento com uma decoração dessas.
Ela fez uma careta e riu logo em seguida.
- Porque os pais tem isso né? De querer decidir as coisas pela gente, de se frustrarem por nós escolhermos os nossos próprios sonhos, caminhos…
- Não sei! - balancei a cabeça - Eles projetam todos os sonhos deles na gente, e acham que devemos isso á eles, a realização do sonho deles, eles acham que porque nos deram a vida, nos sustentaram por um período de tempo, nos deram todo amor do mundo, o “pagamento” - fiz aspas com os dedos - é seguirmos a vida do jeito que eles sonharam, bizarro, sei lá! Nunca vou entender.
- Me desculpe, sei que esse assunto te deixa na bad! Vamos falar de outra coisa! - ela pôs uma das mãos sobre um de meus ombros -
- Não precisa se desculpar bobinha! - apertei seu nariz -
- O que você vai cozinhar para a gente? To curiosa!
- Pensei em fazer um carbonara para gente, o que acha? Você já disse diversas vezes que ama massa…
Ela sorriu abaixando a cabeça, e ruborizando outra vez.
- Eu amo! Eu fico aqui enquanto você prepara?
- Claro que não! Você vai ser minha ajudante, tá doida? - segurei sua mão enquanto a arrastava para a cozinha e ela resmungava -
Coloquei um avental preto e branco e deixei o chinelo em um canto qualquer enquanto observava os ingredientes despotos na pia.
- Ué e cadê o macarrão? - ela perguntou indignada -
- No armário bem atrás de você! Pode pegar aí já inclusive mocinha!
Observei a mesma ficando na ponta dos pés para conseguir alcançar o armário o que me fez rir alto.
- Para ! - ela esbravejou enquanto ria também enquanto me entregava o pacote de macarrão - Só porque você tem 1,80! Todo mundo fica pequeno perto de você!
Eu fiz cara de ofendido, enquanto ela se aproximava, envolvendo seus braços em meu pescoço, e eu estremeci. Abracei sua cintura ainda com o pacote de macarrão em mãos, pego de surpresa por aquela súbita aproximação, já que basicamente cem por cento das vezes era eu quem tomava as iniciativas. Nossos lábios se tocaram levemente de início, e eu senti meu coração querer saltar do peito, apertei-a em mim e então nos beijamos. Lentamente, como se quiséssemos saborear com mais tempo e paciência os sabores um do outro. Eu estava muito na dela, definitivamente. E desejava loucamente que ela também estivesse, que eu não fosse só mais um passatempo, eu queria que ela resolvesse ficar comigo essa noite e muitas outras daqui para frente.
Não sei exatamente por quanto tempo nós ficamos naquele momento gostoso até que por fim nossos lábios se separaram.
- To com fome! - ela sussurrou fazendo com que nós dois gargalhássemos -
- Então vamos começar esse macarrão! Tenho que alimentar esse monstro que mora aí dentro!
Senti meus ombros arderem levemente pelo tapa que levei. E assim começamos a cozinhar juntos, enquanto bebíamos um bom vinho e dávamos boas e longas risadas, além de alguns amassos.
Depois de comer nos sentamos no tapete da sala para assistirmos um série ou filme qualquer para passar o tempo. E então eu resolvi tocar no assunto que vinha me perturbando alguns dias:
- , eu posso te fazer uma pergunta?
- Claro! - ela respondeu enquanto tomava mais um gole do vinho - Ah, tava uma delíciaaaaaa! Eu acho de verdade que você deveria pedir conta daquele seu trabalho que você odeia, se formar em gastronomia, já que sempre foi seu sonho e abrir um restaurante, desses chiques! E me contratar é, claro, para ser a recepcionista do local! Ai ia ser tudo ! - ela gargalhou me levanto junto -
Ficamos sérios por alguns segundos e nos encaramos.
- Até onde a gente vai?
Ela engoliu seco e depositou a taça de lado se ajeitando para ficar frente a mim.
- O que isso quer dizer?
Eu respirei fundo, tentando encontrar as palavras sem que ela se assustasse e correse para longe de mim me dando um belo pé na bunda.
- Tenho por você um amor fresco e com gosto de chuva, raios e urgências. Tenho um amor que me veio pronto, assim, água que caiu de repente, sabe? Nuvem que não passa. Me escorrem desejos pelo rosto, pelo corpo. .. Um amor susto. Um amor raio, trovão fazendo barulho, me entende? Me bagunça e chove em mim todos os dias ! A gente tem muito pudor de parecer ridículos, melosos, piegas, bregas, românticos, pueris banais. Mas eu não tenho mais! Não com você!
Ela coçou a cabeça enquanto ruborizava e eu mordi meu lábio.
- Sabe, para mim a vida é um punhado de lantejoulas e purpurina que o vento sopra. Daqui a pouco tudo vai ser passado mesmo, deixa o vento soprar, let it be, fique pelo menos com o gostinho de ter brilhado um pouco…
Eu assenti com a cabeça sentindo meu coração quebrar em pedacinhos.
- Entendi! Eu não me importo, vá em frente e me magoe. - dei de ombros -
- Mas sabe de uma coisa ? Me recordei rapidamente de todas as pessoas e coisas que perdi por ainda não estar preparada para elas, ou por ainda ter muita curiosidade de mundo e dificuldade em ser permanente… Recordei de amigos e parentes distantes, aqueles que eu sempre deixo para depois porque moram muito longe ou acabaram se tornando pessoas muito diferentes de mim, sempre penso “mês que vem faço contato com eles”. E se não tiver mês que vem?
Eu não estava entendendo muito bem o que ela queria dizer com aquilo.
- Sinto algo muito bom quando estou com você! Sinto meus pés fora de órbita, sinto que não tem vida lá fora quando a gente tá junto! Parece que só tem eu, e você! E eu gosto disso! Me faz bem! Me faz bem, mas não faz sentido!
- Sinta e não tente explicar!
Ela me encarou por alguns segundos antes de se atirar em meus braços me beijando com vontade. Aquilo era um bom sinal! Eu estava mais calmo e ainda mais entregue á ela. Dali para frente não importava mais o que aconteceria, éramos nós dois ali naquele momento e eu o viveria.
- Escuta! - ela segurou meu rosto - Vamos devagar, pode ser? Não tem que ter uma data de validade para isso que estamos vivendo acabar agora, ou sei lá, daqui dois meses. Vamos vivendo, vamos curtir, vamos viver intensamente, até onde nossos corações quiserem! Você apareceu tão do nada, me deixou tão envolvida que eu me assustei, foi isso!
Eu assenti enquanto depositava alguns selinhos em seus lábios.
- Eu sei! Dizem que depois da tempestade vem a calmaria, no meu caso veio você!
sorriu com os olhos brilhando e eu fiquei em paz.
Fazia um mês exatamente hoje desde o nosso primeiro encontro, beijo… e eu me encontrava perdidamente apaixonado, de quatro, caidinho por ela, gado, como costumam dizer, sabe? É clichê o que vou dizer, mas é a mais pura verdade, eu estava apaixonado e apaixonado como nunca estive! Não que eu tenha um currículo de envolvimentos amorosos muito extensos ou duradouros, e talvez o motivo de todos os meus envolvimentos amorosos terem sido tão efêmeros seja exatamente este: eu nunca estive de fato apaixonado. Não como estou agora!
Eu sei, eu sei, só tem um mês, como posso estar tão apaixonado em tão pouco tempo? Essa é uma boa pergunta, eu não sei explicar. Mas posso ser sincero? Tempo é tão relativo... E o mais interessante é que eu não estava procurando, eu não esperava encontrá-la, não esperava me apaixonar desta forma tão cedo, não com a bagunça que as coisas estavam nesses últimos meses na minha vida de uma forma geral. Mas aí então ela apareceu, da forma mais inesperada o possível, e tomou conta dos meus pensamentos, dos meus sorrisos…
Flashback:
“A risada alta dos meus colegas de trabalho empesteava todo o ambiente, que era aberto por sinal, e todos ao redor nos olhavam. Eles não sabiam se comportar feito gente nem dentro do escritório, imagina fora dele! Eu definitivamente não queria estar ali! Queria estar enchendo a cara? Fato que queria, mas não ali e não com eles. Eu os odiava, a todos, havia uma exceção, a recepcionista do prédio, afinal de contas ela só falava bom dia, boa tarde e boa noite. O restante eu tinha asco. Eles eram prepotentes, arrogantes, misóginos, machistas, sexistas (só tínhamos uma única colega de trabalho mulher, o restante eram homens, e até ela propagava esses pensamentos machistas), eles falavam alto, faziam brincadeiras inapropriadas, falavam encostando e cutucando a gente, não sabiam o que era espaço vital, privacidade, educação… Eu observava eles interagindo um com o outro enquanto pensava que diabos eu ainda estava fazendo ali, e porque diabos eu não tinha pedido conta até hoje! Ah é, deve ser porque eu preciso de dinheiro para pagar o aluguel (e terminar de pagar a minha festa de formatura, que dividi em milhões de vezes), para comprar minhas coisas, para viver, e aquilo infelizmente era a única coisa que eu sabia fazer, depois de quatro malditos anos estudando contra a minha vontade para finalmente exercer aquela profissão e tentar não ser a maior decepção dos meus pais. Senti Brendon repousar uma de suas mãos fedidas de cigarro sobre meu ombro esquerdo enquanto gargalhava tão alto que lá do outro lado da rua conseguiriam ouvir, ele e Matthew disseram algo incompreensível devido ao nível de álcool em seus sangues e eu apenas concordei com a cabeça enquanto alegava que iria ao banheiro, me livrando do odor desagradável de cigarro de Brendon.
Me escorei no balcão, cocei levemente a cabeça em sinal de descrença total, quando ouvi alguns berros vindos da mesa aonde eu estava segundos atrás, e vi Shelley banhada em cerveja despejando uma onde de palavrões contra Matthew, que pedia (ou tentava) desculpas por ter derrubado todo seu chopp nela.
- Eles parecem animais, meu pai! - balancei a cabeça me virando de frente pro balcão - Na verdade até animais se comportam melhor que esses idiotas.
- Você não deveria falar assim dos seus colegas de trabalho! Que feio! - ela piscou -
Ali, eu senti algo diferente… Os olhos dela cintilavam, tinham um brilho diferente, ela nem parecia ser real. Eu estava delirando, certamente! Só podia ser.
- Eu… - pausei com a boca aberta, ainda sem saber se ela era real e completamente sem reação -
- Eu estava brincando! - ela riu enquanto passava um pano branco e úmido no balcão - O que vai querer?
- Você trabalha aqui? - questionei ainda achando que ela era apenas uma visão -
Ela olhou para baixo, de um lado para o outro e apontou para o próprio avental que continha o nome do bar. Me senti um idiota.
- Acho que sim! - ela sorriu outra vez, debochada e delicada ao mesmo tempo. -
Eu balancei a cabeça negativamente enquanto sorria sem mostrar os dentes.
- Você tem cara de que gosta de cerveja de goiaba! Ou cerveja artesanal! - ela colocou a mão no queixo fazendo cara de quem pensava em algo -
Eu sorri mostrando os dentes dessa vez.
- Já ouvi dizer que a cerveja de goiaba de vocês, é a melhor! Me vê uma então, senhorita....? - deixei aberto o espaço para que ela me dissesse seu nome -
- ! E você?
- ! - estendi a mão em sua direção -
Ela segurou e nós nos olhamos nos olhos.
Ali eu sabia que ela mudaria a minha vida se quisesse, num estalar de dedos.”
A campainha tocou e eu havia acabado de sair do banho, ainda estava só de toalha, eu estava terrivelmente atrasado, graças ao meu glorioso trabalho que resolveu me deixar de plantão de última hora fazendo com que eu chegasse em casa faltando apenas quinze minutos para encontrá-la, eu não a avisei do atraso porque minha mente sabotadora me disse que daria tempo.
Eu corri até a porta e abri só até a metade, primeiro para me certificar de que era ela e depois porque eu estava apenas de toalha e não queria que ela pensasse algo errado de mim.
Assim que nossos olhares se cruzaram eu sorri abertamente para ela, que sorriu sem mostrar os dentes.
- Pontual, como sempre! - nós rimos - Então , eu acabei de sair do banho, basicamente, então, você entra e me espera aqui, pode ser? Me desculpe, eu tive uns contratempos no trabalho, que me atrasaram.
Reparei que ela fitava meu cabelo bagunçado e molhado, ela seguia as gotas que caíam no chão com os olhos. Isso era um mau sinal?
- Imagina, sem problemas! Eu espero por você !
- Entre, fique à vontade!
Terminei de abrir a porta, meio que me escondendo atrás da mesma e dei espaço para que ela entrasse, e ela assim o fez depois de sussurrar timidamente um “com licença”.
A casa estava uma bagunça, e eu me sentia ainda mais envergonhado. Os móveis empoeirados, tinha camisetas e calças espalhados pelo sofá, meias… O que ela pensaria de mim, meu pai!
- Não repara, fiquei de arrumar minha casa semana passada, ela tá igual minha vida meio bagunçada... Não repara! - soltei uma risada nasalada tentando esconder minha vergonha -
Ela gargalhou, jogando a cabeça para trás, como sempre fazia. Linda!
- Imagina ! Eu também moro sozinha, e vivo na correria, e cansada, se esqueceu? Sei como são essas coisas!
Nós nos encaramos de novo, o olhar dela percorreu meu corpo ainda úmido e então ela ruborizou e se virou para pegar as calças e camisetas que estavam no sofá, envergonhada pelo que havia feito. Eu havia adorado!
- Vou me trocar bem rapidinho e já venho.
se sentou no sofá, com os braços cruzados sobre o peito, ainda tímida e sem jeito e me perguntou se podia ligar a TV e eu permiti é claro.
Enquanto me trocava pensei em como parecia que eu estava vivendo aquilo de uma maneira mais intensa que , ela ainda parecia travar comigo em alguns momentos, ela parecia ainda não estar na mesma vibe que eu, e eu precisava mudar aquilo e puxá-la pro mesmo degrau que o meu. Mas como eu poderia fazer isso? E se ela definitivamente não quisesse estar na mesma vibe que eu? E se eu realmente estiver sendo só um passa tempo? Um rolo? Só uma diversão?
Umedeci os lábios com a língua, vesti a camisa e o moletom e então saí do quarto e fui para a sala. mexia no celular, distraída. Resolvi não atrapalhar e então me dirigi até a cozinha, começando então a retirar os ingredientes da geladeira. E assim que o fiz, voltei para a sala e ela olhava ao redor, parecendo se sentir perdida.
- Tá em casa, escolhe a bebida e tira o sapato, relaxa! Se livra da sua armadura e baixa essa guarda, prometo que você não tá se metendo em roubada, tá em casa!
Me atrevi. Seu olhar subiu até o meu, e ela sorriu. Ah aquele maldito sorriso! Eu estava desarmado de novo, rendido.
- Tá bom! - ela retirou as sandálias que usava, depositando-as num cantinho da casa - É muito aconchegante aqui! Meio hipponga né? Sua cara mesmo ! - ela riu - Seus pais já vieram aqui?
- Já! - eu gargalhei - Eles detestaram, botaram defeito em tudo, disseram que era tudo feio e que eu nunca ia arrumar uma namorada morando num apartamento com uma decoração dessas.
Ela fez uma careta e riu logo em seguida.
- Porque os pais tem isso né? De querer decidir as coisas pela gente, de se frustrarem por nós escolhermos os nossos próprios sonhos, caminhos…
- Não sei! - balancei a cabeça - Eles projetam todos os sonhos deles na gente, e acham que devemos isso á eles, a realização do sonho deles, eles acham que porque nos deram a vida, nos sustentaram por um período de tempo, nos deram todo amor do mundo, o “pagamento” - fiz aspas com os dedos - é seguirmos a vida do jeito que eles sonharam, bizarro, sei lá! Nunca vou entender.
- Me desculpe, sei que esse assunto te deixa na bad! Vamos falar de outra coisa! - ela pôs uma das mãos sobre um de meus ombros -
- Não precisa se desculpar bobinha! - apertei seu nariz -
- O que você vai cozinhar para a gente? To curiosa!
- Pensei em fazer um carbonara para gente, o que acha? Você já disse diversas vezes que ama massa…
Ela sorriu abaixando a cabeça, e ruborizando outra vez.
- Eu amo! Eu fico aqui enquanto você prepara?
- Claro que não! Você vai ser minha ajudante, tá doida? - segurei sua mão enquanto a arrastava para a cozinha e ela resmungava -
Coloquei um avental preto e branco e deixei o chinelo em um canto qualquer enquanto observava os ingredientes despotos na pia.
- Ué e cadê o macarrão? - ela perguntou indignada -
- No armário bem atrás de você! Pode pegar aí já inclusive mocinha!
Observei a mesma ficando na ponta dos pés para conseguir alcançar o armário o que me fez rir alto.
- Para ! - ela esbravejou enquanto ria também enquanto me entregava o pacote de macarrão - Só porque você tem 1,80! Todo mundo fica pequeno perto de você!
Eu fiz cara de ofendido, enquanto ela se aproximava, envolvendo seus braços em meu pescoço, e eu estremeci. Abracei sua cintura ainda com o pacote de macarrão em mãos, pego de surpresa por aquela súbita aproximação, já que basicamente cem por cento das vezes era eu quem tomava as iniciativas. Nossos lábios se tocaram levemente de início, e eu senti meu coração querer saltar do peito, apertei-a em mim e então nos beijamos. Lentamente, como se quiséssemos saborear com mais tempo e paciência os sabores um do outro. Eu estava muito na dela, definitivamente. E desejava loucamente que ela também estivesse, que eu não fosse só mais um passatempo, eu queria que ela resolvesse ficar comigo essa noite e muitas outras daqui para frente.
Não sei exatamente por quanto tempo nós ficamos naquele momento gostoso até que por fim nossos lábios se separaram.
- To com fome! - ela sussurrou fazendo com que nós dois gargalhássemos -
- Então vamos começar esse macarrão! Tenho que alimentar esse monstro que mora aí dentro!
Senti meus ombros arderem levemente pelo tapa que levei. E assim começamos a cozinhar juntos, enquanto bebíamos um bom vinho e dávamos boas e longas risadas, além de alguns amassos.
Depois de comer nos sentamos no tapete da sala para assistirmos um série ou filme qualquer para passar o tempo. E então eu resolvi tocar no assunto que vinha me perturbando alguns dias:
- , eu posso te fazer uma pergunta?
- Claro! - ela respondeu enquanto tomava mais um gole do vinho - Ah, tava uma delíciaaaaaa! Eu acho de verdade que você deveria pedir conta daquele seu trabalho que você odeia, se formar em gastronomia, já que sempre foi seu sonho e abrir um restaurante, desses chiques! E me contratar é, claro, para ser a recepcionista do local! Ai ia ser tudo ! - ela gargalhou me levanto junto -
Ficamos sérios por alguns segundos e nos encaramos.
- Até onde a gente vai?
Ela engoliu seco e depositou a taça de lado se ajeitando para ficar frente a mim.
- O que isso quer dizer?
Eu respirei fundo, tentando encontrar as palavras sem que ela se assustasse e correse para longe de mim me dando um belo pé na bunda.
- Tenho por você um amor fresco e com gosto de chuva, raios e urgências. Tenho um amor que me veio pronto, assim, água que caiu de repente, sabe? Nuvem que não passa. Me escorrem desejos pelo rosto, pelo corpo. .. Um amor susto. Um amor raio, trovão fazendo barulho, me entende? Me bagunça e chove em mim todos os dias ! A gente tem muito pudor de parecer ridículos, melosos, piegas, bregas, românticos, pueris banais. Mas eu não tenho mais! Não com você!
Ela coçou a cabeça enquanto ruborizava e eu mordi meu lábio.
- Sabe, para mim a vida é um punhado de lantejoulas e purpurina que o vento sopra. Daqui a pouco tudo vai ser passado mesmo, deixa o vento soprar, let it be, fique pelo menos com o gostinho de ter brilhado um pouco…
Eu assenti com a cabeça sentindo meu coração quebrar em pedacinhos.
- Entendi! Eu não me importo, vá em frente e me magoe. - dei de ombros -
- Mas sabe de uma coisa ? Me recordei rapidamente de todas as pessoas e coisas que perdi por ainda não estar preparada para elas, ou por ainda ter muita curiosidade de mundo e dificuldade em ser permanente… Recordei de amigos e parentes distantes, aqueles que eu sempre deixo para depois porque moram muito longe ou acabaram se tornando pessoas muito diferentes de mim, sempre penso “mês que vem faço contato com eles”. E se não tiver mês que vem?
Eu não estava entendendo muito bem o que ela queria dizer com aquilo.
- Sinto algo muito bom quando estou com você! Sinto meus pés fora de órbita, sinto que não tem vida lá fora quando a gente tá junto! Parece que só tem eu, e você! E eu gosto disso! Me faz bem! Me faz bem, mas não faz sentido!
- Sinta e não tente explicar!
Ela me encarou por alguns segundos antes de se atirar em meus braços me beijando com vontade. Aquilo era um bom sinal! Eu estava mais calmo e ainda mais entregue á ela. Dali para frente não importava mais o que aconteceria, éramos nós dois ali naquele momento e eu o viveria.
- Escuta! - ela segurou meu rosto - Vamos devagar, pode ser? Não tem que ter uma data de validade para isso que estamos vivendo acabar agora, ou sei lá, daqui dois meses. Vamos vivendo, vamos curtir, vamos viver intensamente, até onde nossos corações quiserem! Você apareceu tão do nada, me deixou tão envolvida que eu me assustei, foi isso!
Eu assenti enquanto depositava alguns selinhos em seus lábios.
- Eu sei! Dizem que depois da tempestade vem a calmaria, no meu caso veio você!
sorriu com os olhos brilhando e eu fiquei em paz.
Fim
Nota da autora: Oieee! Espero que tenham gostado! Qualquer coisa me chama no twitter que eu tenho mais de 20 fanfics no site!
Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.