come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja.
Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem,
e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja.
— Clarice Lispector
- Você sabe o que acontece quando se brinca com fogo? – ele perguntou, levantando seus olhos até os dela, encarando-os profundamente.
- E você sabe o que acontece quando fogo encontra a gasolina? – retrucou a menina, umedecendo os lábios e sorrindo de lado.
- Prazer, Fogo. – estendeu uma das mãos na direção dela.
- Muito prazer, Gasolina.
It’s dangerous to fall in love
But I want to burn with you tonight
Hurt me
But I want to burn with you tonight
Hurt me
O fogo, assim como os demais elementos da natureza, possui uma característica, digamos, peculiar. Da mesma forma que pode assumir dimensões catastróficas e ter um alto poder destrutivo, pode ser domado e diminuído a apenas uma fagulha, sem muito poder. Vamos pensar que o que controla o seu poder é o que o cerca; imagine uma pequena fagulha cercada de água, qual a chance dessa mesma crescer? Agora imagine essa mesma fagulha cercada por gasolina, qual a chance desse encontro não se transformar num grande catástrofe? Não levar tudo a ruina?
Há que diga que todo mundo tem um milagre na vida, alguém que aparece quando você menos espera e transforma tudo ao seu redor, geralmente para melhor, é claro. Só que ele, diferente dos outros, não teve um milagre em sua vida. Teve ela. Tudo foi transformado, sim, mas não apenas para o melhor. Ela não pensava dessa forma, não se questionava se aquela mudança seria majoritariamente boa; ela apenas mudava. Surgiu como um furacão, levando tudo o que ele acreditava ser importante. Foi derrubado, revirado, arruinado. E quando menos esperava, ela desapareceu. Inesperadamente, da mesma forma que surgiu.
Seu nome? Acho que não importa.
Vamos dizer que ele seja o fogo. Uma pequena fagulha, aprisionada e contida dentro de mim mesmo.
E ela? Bem, ela era a gasolina.
There’s two of us
We’re certain with desire
The pleasure’s pain and fire
Burn me
We’re certain with desire
The pleasure’s pain and fire
Burn me
- Qual foi a coisa mais louca que você já fez? – ela perguntou, sorrindo de lado e mordendo o lábio inferior. O rapaz não sabia o que responder, porque não tinha algo decente para lhe dizer. Talvez a coisa mais louca que eu já tinha feito na vida era o que estava fazendo naquele momento: conversando com uma total estranha num bar qualquer.
- Não sei, fica difícil responder assim tão rápido. – respondeu, sincero. Ela alargou o sorriso, balançando a cabeça lentamente. O rapaz sabia que ela não acreditava nele, era como se pudesse lê-lo com uma facilidade absurda.
- Quando você responde essa pergunta com uma expressão como “não sei”, só pode significar uma coisa: você nunca fez algo louco. Talvez essa a hora de mudar isso, não?
- Isso é um convite? – seus lábios se moveram antes que ele pudesse pensar. Esse era o efeito dela sobre os homens, eles perdiam o controle sobre tudo.
- O nome continua o mesmo quando a pessoa perde o direito de recusar? – ela arqueou a sobrancelha. Sentiu o medo tomar de si, seguido de uma excitação absurda, que parecia que corroeria todo o corpo. Era algo como uma urgência, uma ânsia de se jogar no desconhecido. Um desespero encorajador. Uma onda de prazer inexplicável, porque ela nem estava lhe tocando. Ela apenas o olhava e ele já queimava.
So come on
I’ll take you on, take you on
I ache for love, ache for us
I’ll take you on, take you on
I ache for love, ache for us
Caminhavam pela areia fofa da praia completamente deserta. A menina ia mais a frente, deixando suas pegadas para que o rapaz a acompanhasse. Ele, ainda meio desnorteado, apenas a seguia. Talvez a seguiria até o inferno, se fosse o caso, tamanho era o impacto que ela tinha causado sobre o rapaz. Não estava muito certo se deveria estar ali, num lugar desconhecido, com uma pessoa que acabou de conhecer, mas seus instintos não estavam gritando para ir embora, pelo contrário, eles gritavam para ele se aproximar dela. Ficar perto, cada vez mais perto. E ele tentava, lutando com a sua timidez. Queria saber mais de sua vida. Queria conhecê-la. Só que ela não parecia muito disposta a isso, sempre disfarçando, respondendo as perguntas de forma evasiva, como se não quisesse se abrir. Não ali. Não naquela hora. E ele respeitou, deu seu espaço e esperou. Esperou pelo momento em que ela também sentiria aquela urgência, que ela também iria desejá-lo de uma forma ampla como ele. Porque ele não desejava apenas o corpo da menina. Ansiava por ela por completo: corpo e mente. Tudo isso porque se conheciam há apenas algumas horas. De tanto que pensava nela, não percebeu o caminho sem volta que estava adentrando.
Why don’t you come?
Don’t you come a little closer?
Don’t you come a little closer?
Ela se deitou na areia, com os olhos fechados e parte do corpo ainda molhado. Eles tinham caminhado perto do mar e uma onda tinha encharcado suas roupas. Riram, correram e agora estavam deitados, lado a lado, olhando o horizonte, que já dava indícios que o dia iria amanhecer. A menina girou o corpo da direção do rapaz, ficando de lado e de frente para ele. Um sorriso bobo, quase infantil, ocupava seus lábios e ela disse:
- E agora, qual foi a coisa mais louca que você já fez? – ele sorriu, virando para olha-la também.
Assim que o dia amanheceu, eles se levantaram para ir embora. Enquanto ele pensava em como se despedir, ela, simplesmente, juntou seus lábios num selinho rápido e perguntou:
- Nos vemos amanhã?
O rapaz ficou em silêncio por mais tempo que esperava. Ele queria dizer que sim, que iriam se encontrar amanhã e depois de amanhã se ele quisesse, depois de depois de amanhã também. Mas se limitou a balançar a cabeça, afirmando. A menina sorriu de lado e, sem dizer mais nada, virou as costas e seguiu na direção de que vieram na noite anterior. Já ele permaneceu lá parado, como se ainda estivesse internalizando e entendendo o que tinha acontecido. Não só naquele momento, mas desde o instante em que ela sentou-se em sua mesa no bar, horas atrás.
Eles se encontraram novamente naquela noite e na noite seguinte. Ela sempre o incentivando a fazer algo diferente, louco e inconsequente. Dizendo que a vida era uma só e que ele precisava fazer com que valesse a pena. O rapaz nunca tinha pensado dessa maneira, mas de certa forma concordava com ela. Sempre desejou ser mais corajoso, se jogar em diversas aventuras, fazer mil loucuras, mas nunca havia tido coragem. Até que surgiu ela, a gasolina para alimentar a sua chama.
So come on now
Strike the match
Strike the match now
We’re a perfect match
Perfect somehow
Strike the match
Strike the match now
We’re a perfect match
Perfect somehow
Estavam no terraço do prédio mais alto da rua. Eles não poderiam estar ali, mas estavam. Ela tinha quebrado o trinco da porta de serviço e eles correram pelos corredores, para não serem pegos pelas câmeras. Mas agora que já estavam lá, nem pensavam mais em nada, só admiravam a vista. Era a quinta noite seguida que se encontravam, mas ele já sentia como se eles tivessem juntos por mais tempo que pudesse contar. A menina se sentou na mureta, com as pernas balançando a cerca de 12 andares de altura. O rapaz ficou mais para trás, sem ter muita certeza se era isso que deveria fazer. O seu medo de altura impediria que ele se aproximasse muito da mureta, mas ele não queria demonstrar nenhuma fraqueza. Deu dois passos a frente e viu a menina girar o corpo em sua direção, sorrindo abertamente.
- Vem cá. – ela disse, com uma das mãos estendidas em sua direção. E como se isso o enchesse de coragem, ele foi. Caminhou a passos decididos, sentando-se ao seu lado.
We were meant for one another
Come a little closer
Come a little closer
Dava para ver grande parte da cidade dali de cima, as luzes dos apartamentos se misturavam às estrelas e criava uma grande constelação que ia do alto do céu, até quase ao chão. Uma das imagens mais bonitas que já tinha visto.
– Sabe o que eu sempre quis fazer? – ela perguntou, virando o corpo e sentado de lado para ficar de frente para ele.
- O que? – falou incentivando que ela continuasse e se mostrando interessado.
- Eu sempre quis transar com alguém debaixo de um céu estrelado como esse. – mordeu o lábio, vendo o rapaz respirar fundo e ficar em silêncio, sem saber o que responder. Ela, simplesmente, se aproximou ainda mais, juntando seus lábios de forma doce. Suas mãos apertaram a nuca dele, puxando alguns fios no processo. Já ele espalmou suas mãos nas pernas da menina, apertando suas coxas com vigor. Mostrando que podia lhe faltar palavras, mas que ele poderia compensar em ações.
- Você sabe o que acontece quando se brinca com fogo? – ele perguntou, levantando seus olhos até os dela, encarando-os profundamente.
- E você sabe o que acontece quando fogo encontra a gasolina? – retrucou a menina, umedecendo os lábios e sorrindo de lado.
- Prazer, Fogo. – estendeu uma das mãos na direção dela.
- Muito prazer, Gasolina.
And we will fly
Like smoke darkening in the sky
I’m Eve, I wanna try
Take a bite
Like smoke darkening in the sky
I’m Eve, I wanna try
Take a bite
Quando perceberam, já estavam sentados no chão. Ele com as costas apoiadas na mureta e ela em seu colo. Os lábios dele deslizavam pela pele quente da menina. Seu pescoço. Colo. Lábios. Seios. De volta aos lábios. Enquanto a menina mantinha a cabeça jogada para trás, encarando o céu estrelado que estava acima deles. O rapaz apertou sua cintura, forçando seu corpo para baixo, fazendo com que a intimidade dela tocasse diretamente seu membro. Ela arfou, deixando a respiração sair fraca e através de um suspiro baixo, quase sofrido. O rapaz juntou seus lábios em meio aos suspiros, enquanto movia lentamente o corpo da menina sobre o seu. Um pouco recuperada, colocou a mão em seus ombros, descendo pelo peito e chegando até a barriga, onde ela passou as unhas com vontade, enquanto mordia seu lábio inferior e o puxava sem o menor cuidado. Sua mão se apressou em desabotoar a calça que ele usava, invadindo sem cerimônias e envolvendo seu membro com vigor. Foi o momento de o rapaz respirar um pouco mais fundo, buscando o ar que, repentinamente, faltou. Com movimentos vigorosos e potentes, a menina deslizava sua mão por toda a extensão do rapaz, acompanhando atentamente as reações que ela conseguia tirar de seu corpo.
But it’s a bad bet
Certain death
But I want what I want
And I gotta get it
Certain death
But I want what I want
And I gotta get it
Subindo as mãos pelas pernas dela, o rapaz avançou pela parte interna de sua coxa, tocando sua intimidade ainda coberta, quase que involuntariamente. O pequeno gemido que ouviu serviu como estímulo e permissão para que continuasse. Seus dedos deslizaram de forma mais profunda, fazendo com que a menina arqueasse o corpo e, em seguida, jogasse-o para trás, ansiando por um contato mais intenso. E buscando por mais respostas como essa do corpo dela, o rapaz continuava a movimentar sua mão, usando a outra para acariciar seu clitóris ao mesmo tempo. Ela jogou a cabeça para trás, soltando o ar de forma pesada, como se estivesse perdendo o controle sobre si mesma. Suas pernas se contraiam ao redor do rapaz, o que o fazia pensar que estava fazendo um bom trabalho. Jogando o corpo de volta para frente, ela buscou seus lábios de forma sedenta, enquanto com uma das mãos, tentava abaixar suas calças e roupa de baixo. E, assim que conseguiu, posicionou o corpo, deixando-o descer lentamente, até tê-lo todo dentro de si.
When the fire dies
Dark in the skies
Hot ash, dead match
Only smoke is left
Dark in the skies
Hot ash, dead match
Only smoke is left
Ele apertou sua cintura, empurrando-a para baixo, fazendo com que o ar saísse todo de seus pulmões. Ela tentava respirar, mas não conseguia. Seu corpo estava quente, sentia como se estivesse, literalmente, queimando. Via seu desejo se refletir no olhar do rapaz e isso a deixava ainda mais excitada. As mãos grandes e pesadas dele passeavam pelo seu corpo sem nenhuma restrição ou pudor, deixando um rastro de puro fogo por onde passavam. Mas ela não se preocupava com isso, porque ela queria queimar. Ela ansiava pelo fogo. Apoiando as mãos em seus ombros, descia e subia o corpo na maior velocidade que conseguia, ouvindo os suspiros quase suplicantes do rapaz à sua frente. Juntou seus lábios num beijo ardente e intenso, querendo senti-lo mais perto do que já estavam. Queria sentir seu corpo pesando sobre o dela. Queria sentir sua pele colada a dela. Queria saber se ele estava tão quente quanto ela.
- Eu quero olhar as estrelas. Para ver exatamente onde você está me levando. – sussurrou no ouvido do rapaz.
Ele segurou o corpo da menina em seus braços, tentando não separá-los, e a deitou suavemente no chão do terraço, ainda que preocupado com qualquer incômodo que ela poderia sentir, mas ela não estava preocupada com isso, pois logo o puxou de volta, beijando-o com vontade, para recomeçarem exatamente de onde pararam.
Flame, you came to me
Fire meet gasoline
Fire meet gasoline
I’m burning alive
Fire meet gasoline
Fire meet gasoline
I’m burning alive
O rapaz levantou uma das pernas da menina e a penetrou bem profundamente. As unhas dela se agarraram em seus ombros e ele tomou isso como um incentivo. Os olhos dela estavam fortemente fechados e ela mordia os lábios de uma forma que os debaixo estavam quase brancos. Ele se movimentou de forma mais intensa, fazendo com que outro gemido contido saísse de seus lábios e assim continuou até que ela não conseguisse mais se segurar. Seus olhos se abriram e encaravam o céu. Seu corpo começou tremer, sua respiração acelerou e ela tentou se agarrar na primeira coisa que conseguiu tocar. Puxou os cabelos do rapaz, enquanto ele afundava o rosto na curva de seu pescoço, tentando aprofundar essa sensação incrível que era fazer alguém sentir prazer. Era prazeroso até mesmo apenas olhar. Ele não queria parar, queria continuar ali com dela, dentro dela pelo restante da noite. Da semana. Da vida. A forma com que ela fazia com que ele se sentisse. Os sentimentos que libertava. As novas sensações que despertava. Eram diversos tipos de prazer e ele queria desfrutar cada um deles, cada fez mais.
Um gemido quase sofrido escapou dos lábios da menina, antes que seu corpo perdesse a rigidez e relaxasse embaixo do rapaz. Ela juntou seus lábios aos dele mais uma vez, de forma íntima e intensa. Como não tinha feito antes. Como se compartilhassem um segredo profundo agora. Como se fossem cúmplices de um crime. De um crime perfeito.
I can barely breathe
When you’re here loving me
Fire meet gasoline
Fire meet gasoline
When you’re here loving me
Fire meet gasoline
Fire meet gasoline
Eles deitaram lado a lado no chão, olhando para o céu estrelado acima deles. As respirações ainda estavam pesadas e ambos cansados. Mas isso não importava nada. Eles, principalmente o rapaz, estavam realizados. Ele nunca tinha pensado em fazer algo assim, mas a menina libertava um lado que ele mesmo não conhecia. Esticou uma das mãos, fazendo seus dedos tocarem os dela de forma suave. Se olharam por alguns segundos, até ele segurou sua mão, pensando como seria se ela ficasse ao lado dele por mais tempo do que parecia que ficaria. Porque, na sua cabeça, tudo aquilo não tinha passado de uma despedida. Esse momento era ela dizendo adeus. Um adeus sem palavras. O que seria bem a cara dela. Poderia pedir para que ficasse, até mesmo implorar, mas não faria. Porque se ela quisesse ficar, ficaria. E não era esse o caso.
I got all I need
When you came after me
Fire meet gasoline
I’m burning alive
When you came after me
Fire meet gasoline
I’m burning alive
A pergunta dela ficava ecoando na cabeça do rapaz, como um looping eterno.
”Qual a coisa mais louca que você já fez?
Ele queria ter a chance de responder que tinha sido conhecê-la. Ela tinha sido a coisa mais louca em sua vida. Desde aquela noite no terraço do prédio, a menina não tinha mais aparecido. O rapaz não tinha seu telefone, não sabia onde ela morava. Mal sabia seu nome, então não tinha nem ideia de como procurá-la. Imaginou que tenha sido esse o plano dela desde o começo, por isso não se deixava envolver, não falava sobre sua vida, sobre si mesma. Sempre queria saber sobre a vida dele, mas nunca se abria sobre a sua. Mas ele não estava arrependido, longe disso. Ele tinha feito brotar uma coragem que ele não sabia ter e que gostou de sentir. Mas, no fundo, não queria que ela tivesse desaparecido. Queria tê-la por perto, para compartilhar a coragem recém-adquirida. Para fazer mais coisa que nunca fez antes. Mas ao invés de ficar triste com a sua partida, ele ficava feliz pelos dias que passaram juntos. Podem ter sido poucos, mas foram significativos e ele lembraria para sempre. Lembraria sempre do seu rosto. Dos seus olhos. Do seu sorriso.
E você, qual foi a coisa mais louca que já vez?
And I can barely breathe
When you’re here loving me
Fire meet gasoline
Burn with me tonight
When you’re here loving me
Fire meet gasoline
Burn with me tonight
Fim.
Nota da autora: Nem acredito que terminei essa fic. Ainda mais com 84 anos de atrasado. Pelo menos fiz, né? Isso que importa!
E me lembrem de nunca mais tentar escrever uma fic restrita, porque acaba ficando isso aí que vocês leram.
Até a próxima.
Beijo da That.
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