Capítulo Único
Eu encarava o mar da enorme janela do meu escritório. Fazia tempo demais desde a minha última vez no Brasil, mas as memórias eram tão vívidas como se fosse ontem que eu tivesse embarcado rumo à Europa, fugindo de tudo e de todos.
No topo do meu novo hotel, o primeiro da rede que eu pretendia abrir no Brasil, meu país de origem, eu via a imensidão azul do mar no Rio de Janeiro. Saí para a sacada e respirei fundo o ar puro. O vento bagunçava meu cabelo, um frio cortante deixava um calafrio por todo o meu corpo.
Suspirei ao sentir dois braços ao meu redor. Apoiei minha cabeça sobre seu ombro, recebendo todo o carinho e o amor que ele sempre me dava.
— Essa paisagem combina perfeitamente com você, não sei como conseguiu ficar ainda mais linda. — disse em meu ouvido, e não consegui conter o sorriso que logo surgiu em meu rosto.
— Eu não mereço você. — Falei depois de um tempo, e senti seus braços apertarem ao meu redor, seu longo suspiro trazendo uma certa tensão entre nós.
— Não gosto quando fala assim de si mesma. — Ele me virou para que eu ficasse de frente para ele.
— Me desculpe, é pesado demais estar aqui. — Eu me virei novamente, não querendo encarar seus olhos questionadores.
— Ela vai vir pra inauguração? — Ele perguntou, receoso. Eu apenas balancei a cabeça, negando.
— Eu nunca fui uma prioridade pra ela, , por que mudaria agora? — Senti-o bufar atrás de mim. Ele odiava minha mãe, e nossas conversas sobre ela nunca terminavam bem.
— Nunca vou conseguir entender como ela pode ser assim com você. — Eu dei de ombros, acostumada.
— Mas meu irmão vem, você sabe como ele fica todo orgulhoso e sempre está em todas as inaugurações. — Isso pareceu o fazer ficar mais calmo, ainda que seus braços estivessem mais apertados do que o normal em volta de mim.
— Pelo menos ela o tratou direito. — Eu soltei uma risada forçada.
— O tesouro da mamãe. — Eu falei, mas não com inveja do meu irmão ou rancor dele. Com ela, a história era outra.
— É só por um mês, então a gente poderá voltar para os Estados Unidos. — deu um beijo na minha bochecha, sempre fazendo o possível para fazer eu me sentir melhor.
— Vai ser um longo mês. — Eu me coloquei de frente para ele, passando meus braços sobre os seus ombros. Ele sorriu, afundando o rosto no meu pescoço, deixando leves beijos ali.
— Eu vou estar com você em todos os momentos, você só tem que prometer que não vai enjoar de ver minha cara te seguindo por aí. — Ele soltou uma risada, a que eu tanto amava e a que me fazia esquecer de tudo e de todos. Eu apenas o beijei, apertando-o junto a mim, como se minha vida dependesse disso.
— Eu amo você, . — Falei, com os lábios ainda muito próximos do dele.
— Eu amo você mais. — Ele me deu um beijo rápido e me pegou pela mão. — Vamos, a gente precisa se arrumar, hoje é o grande dia.
— Anda, , você vai se atrasar para a escola. — Minha mãe tirou o pão que estava nas minhas mãos, jogando-o sobre a mesa e me puxando pelo braço. — Já comeu demais no café da manhã, não acha? — Eu apenas assenti, sentindo toda a culpa tomar conta de mim. Subi as escadas correndo, escovando os dentes e descendo apressada, encontrando-a com o carro já engatado para sair.
— Sinto muito pelo atraso, mamãe. — Falei, verdadeiramente arrependida. Ela apenas olhou para mim, seu olhar levemente mais suave, mas nada disse. Eu apenas encarei as imagens passando como borrão pela janela do carro. Era mais um dia que começava com mamãe já me odiando.
— Uau. — encarava meu reflexo no espelho com os olhos ardendo. Seu olhar percorria do topo da minha cabeça até meus pés, tomando todo o seu tempo apreciando cada parte do meu corpo. Eu apenas sorri, sem fala diante de tamanho amor que eu via em seus olhos. — Acho que eu não quero sair desse quarto.
— Mas precisamos. — Eu disse, com um sorriso nos lábios. Assim que me virei em sua direção, senti-o prender a respiração, seus olhos sobre mim novamente.
— Eu não consigo parar de te olhar. — Ele deu de ombros.
— Notei. — Eu ri e parei diante dele, colocando meus braços sobre seus ombros. — Suponho que tenha gostado do vestido. — Ele sorriu de lado.
— Gosto ainda mais do que tem debaixo dele. — Seus lábios logo estavam no vão do meu pescoço, me fazendo suspirar com seu carinho.
— Vamos, a festa de inauguração já deve ter começado. — suspirou, hesitando ao me soltar e apenas pegar minha mão.
— Você sabe que a verdadeira festa vai ser mais tarde. — Eu corei com suas palavras, fazendo-o gargalhar. — Todo esse tempo juntos e ainda consigo te fazer ficar vermelha. — Ele deu um beijo em minha bochecha e então saímos.
— Se tivesse feito a dieta do jeito que eu disse, não estaríamos na décima loja procurando um vestido que te sirva. — Eu encarava meu reflexo no espelho, usando todas as minhas forças para controlar as lágrimas presas em meus olhos.
— Eu já cansei de falar que não tenho estrutura corporal para entrar em um 36, mamãe. Eu tenho mais de 1,70m de altura e meus ossos são largos. — Falei, controlando minha raiva.
— Desculpas e mais desculpas. Se fizesse como eu, estaria naquele vestido maravilhoso na vitrine. — Ela apontou para um modelo vermelho, extremamente acentuado na cintura.
— Está sabendo mais que os próprios médicos, então. — Eu resmunguei.
— O que disse? — Ela colocou uma mão na cintura e me encarou.
— Nada, acho que vou ficar com esse mesmo. — Ela apenas revirou os olhos, não gostando da minha escolha por um vestido azul, com manga três quartos, que cobria a maior parte do meu corpo. Pelo menos assim eu conseguiria me sentir um pouquinho mais confortável.
— Espero que fique mais atrás nas fotos, pelo menos o rosto bonito você tem. — Foram suas últimas palavras antes de virar e seguir para o balcão para pagar o vestido. Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto, e eu logo a limpei. Com um pesado suspiro, eu apenas queria que a formatura acabasse logo.
— , , acorda!
— Não, mãe, não, para! — Eu acordei assustada. Meu pijama estava grudado na minha pele por causa do suor. estava sentado ao meu lado. Ele me encarava preocupado. Eu respirava com dificuldade e, sem olhar novamente em sua direção, eu levantei e segui para o banheiro. Tirei o pijama e entrei sob a água fria do chuveiro, não me importando em molhar o cabelo no meio da noite. Apoiei minhas duas mãos na parede e apenas deixei que a água levasse os últimos vestígios das lembranças tão dolorosas da minha infância.
Ouvi a porta abrir e logo estava atrás de mim, mas ele não me tocava. Sua respiração estava pesada. Eu sabia que ele sempre se sentia impotente quando isso acontecia, mas ele sabia respeitar meu espaço.
Após alguns instantes, ele notou meu corpo relaxar um pouco. Então suas mãos logo estavam sobre mim, me lavando. Nenhuma palavra saía da sua boca, mas seu toque gentil era o suficiente para amenizar toda a dor da rejeição que estava dentro de mim.
lavou cada parte do meu corpo e, em seguida, meus cabelos. Eu ainda estava de costas para ele, ainda não tinha forças para encará-lo.
— Odeio que só de estar no mesmo país que ela me faça sentir assim. Odeio esses pesadelos, odeio que me faça contestar tudo aquilo que eu lutei para conquistar. — Eu suspirei, cansada demais. — Odeio que ela me faça eu me odiar sem ao menos estar aqui. — desligou o chuveiro e me secou. Eu apenas o deixei cuidar de mim, forçando minha mente a focar no agora e não no passado. começou a secar meu cabelo, mas ele não me encarava.
Quando já estávamos deitados novamente, ele deitou de frente para mim, olhando no fundo dos meus olhos.
— Não ouse se desculpar, . — Ele disse, em um tom suave. Eu respirei fundo, não queria chorar de novo. — Eu amo você mais do que eu consigo dizer ou até mesmo demonstrar, e ver o que sua mãe te causou me deixa com tanta raiva. — desviou o olhar por um instante. Eu levei uma das minhas mãos até seu rosto. Ele fechou os olhos por um momento, mas logo voltou a me encarar. — Eu não vou te deixar sozinha com ela, para a sua sanidade e para a minha. — Com isso, ele me puxou junto de si. Seria uma longa noite.
O telefone tocou e imediatamente eu soube: ele havia partido.
Quando corri para a sala, onde mamãe falava ao telefone, eu vi as lágrimas escorrendo por seu rosto. Ela apenas balançou a cabeça em minha direção. Eu apoiei na parede atrás de mim, sentindo minhas costas escorregarem pela parede e o ar faltar em meus pulmões.
A dor da perda era tão grande, que eu me sentia anestesiada, de certa forma. Minha família começou a entrar pelas portas da casa, tentando nos consolar. Meu irmão logo apareceu. Ele não chorava, mas sua feição de dor era clara.
Eu corri para o meu quarto, pegando meus fones de ouvido. Uma vez li que uma cantora famosa disse: “As pessoas nem sempre estiveram lá para me ajudar, mas a música sempre esteve”.
Uma das maiores verdades da minha vida.
O velório e o enterro passaram como um borrão. Muito choro, muita dor, muitas lembranças tristes que ficariam para sempre gravadas na minha mente.
Quando já estávamos de volta em casa, tudo o que eu queria era tomar um banho e limpar qualquer vestígio de cemitério de mim.
— Não, não, papai, fica comigo. — Acordei gritando, as lágrimas grossas escorriam pelo meu rosto e a dor em meu peito era tão forte que tornava difícil respirar.
— Irmã, respira. Calma, vai ficar tudo bem. — Meu irmão estava ao meu lado, me abraçando.
— O que está acontecendo aqui? — Eu ainda tinha dificuldades de enxergar o que estava ao meu redor. Tudo estava desfocado, eu só ouvia as vozes da minha mãe e do meu irmão.
— Ela teve um pesadelo, mãe. Pode voltar a dormir, eu cuido dela. — Meu irmão disse, me abraçando.
— Sempre dando trabalho. — Senti-a bufar, irritada. — Agora que seu pai não está mais aqui, não vou deixar você ser um estorvo maior do que já é. As coisas vão mudar nessa casa. — Eu a encarei, sem saber como reagir. Soltei-me dos braços do meu irmão, sorrindo em sua direção.
— Pode ficar tranquila, vou dar trabalho algum. — Eu levantei da cama, limpando os rastros de lágrimas pelo meu rosto. — Sinto muito ter perturbado seu sono, não vai acontecer de novo. — Minha voz estava fria. Ela havia quebrado o que ainda restava de mim. Minha mãe apenas revirou os olhos e saiu. Meu irmão me deu um beijo na testa, também sem saber o que fazer ou falar depois de suas duras palavras.
Mas eu sabia o que fazer.
Olhei pela janela e já estava quase amanhecendo. Tomei um banho rápido e vesti roupas confortáveis. Peguei a mala debaixo da cama e comecei a colocar apenas as coisas mais importantes, apenas aquilo que ela não sentiria falta.
Minha mãe poderia achar que eu era um estorvo para ela, mas poucas vezes eu pedi dinheiro a ela para qualquer coisa. Muito pelo contrário, eu sempre trabalhei e juntei dinheiro, mesmo com meus pais tendo uma vida confortável.
Verifiquei o saldo na minha conta e respirei fundo. Seria o suficiente por algum tempo.
Fui até o quarto do meu irmão e deixei um cartão, me despedindo e dizendo que ligaria assim que chegasse. Eu não sabia para onde estava indo, mas sabia que não poderia ficar ali por nem mais um segundo.
— Seu irmão vai estar lá? — perguntou, claramente tenso com o almoço marcado com a minha mãe.
— Sim, ele sabe que ela pensa melhor no que dizer quando ele está por perto. — Fui até ele e o abracei pela cintura. — Eu não sou mais uma criança, . Eu já sei lidar com ela.
— Ela sempre encontra formas de te machucar, . — Ele estava sério, poucas vezes eu o tinha visto assim.
— Eu sei, mas dessa vez eu não vou estar sozinha. — Eu o beijei e, aos poucos, senti parte da tensão deixar seu corpo.
— Você nunca mais vai estar sozinha. Nunca. — me beijou mais intensamente, me apertando junto a ele.
— Nós precisamos ir, ela odeia atrasos. — Falei com meus lábios quase colados aos dele. sorriu. — Não vamos nos atrasar de propósito. — Eu ri, e ele logo murchou.
— Droga. — fez bico, triste.
— Quanto mais cedo chegarmos, mais cedo sairemos.
— Excelente plano.
O caminho até minha antiga casa foi rápido. À medida que o carro se aproximava dos portões do condomínio, eu sentia tremores percorrerem por todo o meu corpo. O carro recebeu autorização para entrar e logo paramos na frente da casa da minha mãe.
— Faz dez anos. Eu nunca voltei aqui desde que saí naquela manhã. — pegou uma das minhas mãos e a beijou.
— Eu estou aqui. — Eu desviei o olhar da imponente entrada da casa e o encarei. Eu o amava tanto. Sorri em sua direção e respirei fundo.
— Vamos, só quero acabar com isso logo. Ela provavelmente não vai me importunar depois disso.
Descemos do carro e logo o mordomo abriu a porta para nos receber. Não vi rostos conhecidos entre os empregados, apenas apertei mais a mão do e continuei andando até a sala de jantar.
Meu irmão já havia chegado, e deixei escapar um leve suspiro com isso. Assim que ela nos viu, ela encarou o relógio sobre a porta. Nós estávamos adiantados.
— ! — Meu irmão logo nos cumprimentou. — Estou tão feliz que está de volta ao Brasil, ainda que por pouco tempo. — Ele disse em inglês, para que pudesse nos entender.
— Estava com saudades de você! — Eu não iria mentir que estava feliz em estar de volta naquela casa, então parti para assuntos em território mais firme.
— , não vai falar com a sua mãe e apresentar seu namorado? — ficou sério de repente, sem saber o que minha mãe havia dito, já que ela falou em português.
— Claro que vou apresenta-lo, mãe. — Falei em inglês. — Acho que seria melhor mantermos a conversa em inglês, se estiver tudo bem para a senhora. é dos Estados Unidos e não fala português.
— O que estou bastante arrependido, no momento. — Ele falou entredentes, para que só eu pudesse ouvir. Eu o encarei, tentando acalmá-lo.
— Mãe, esse é o . , essa é a minha mãe, Eliza. — estava atrás de mim, então apenas estendeu a mão para cumprimentá-la, forçando um sorriso no rosto.
— É um prazer enfim conhecê-lo. — apenas assentiu, e eu segurei o riso. Ele jamais diria o mesmo para ela.
— É uma bela casa. — Eu o abracei pela cintura, querendo esconder o riso. estava sendo nada sutil, mas quem era eu para culpá-lo?
— Muito obrigada. Eu fiz poucas mudanças ao longo dos anos, preferi manter a estrutura da casa. — Minha mãe disse, no mesmo tom. Nós sentamos à mesa e logo os pratos começaram a ser servidos.
— Aqui tem azeitona, melhor não colocar no prato, vai ser difícil tirar. — disse ao colocar um pouco de salpicão no prato.
— Meu herói. — Eu disse e o beijei no rosto.
— Ainda com problemas com azeitona? — Minha mãe perguntou, de volta ao português.
— Algumas coisas não mudam, não é mesmo? — Respondi em inglês, rapidamente traduzindo o que ela me perguntou para . Ele estava começando a perder a paciência.
— E então, Luís, o software que te passou ajudou lá no consultório? — Mudei o foco da conversa para o meu irmão. Ela adorava se gabar dele mesmo.
— Nossa, sim, tenho nem palavras pra agradecer. — Os dois entraram em uma conversa animada que minha mente não conseguiu acompanhar. Eu sentia minha mãe tensa ao meu lado, ainda que sorrisse só de ouvir meu irmão falar.
— Você está calada. — Minha mãe falou baixinho, e em português. Imediatamente, senti ficar tenso ao meu lado. Coloquei minha mão sobre sua perna, sob a mesa.
— Só estou cansada pelo fuso horário. — Menti. Nunca entendi a lógica dessa conversa fiada. Quanto antes todo esse almoço acabasse, melhor.
— Eu vi algumas notícias sobre a inauguração do hotel ontem, as pessoas estavam falando muito bem. — Eu apenas assenti, não queria dar margem para ela prolongar esse assunto, porque ela sempre tinha algo ruim a dizer. — Achei seu vestido um pouco inapropriado, estava muito justo, marcando demais. — Eu larguei meus talheres sobre a mesa, pegando o guardanapo do meu colo e, calmamente, limpando minha boca. Eu só queria ganhar tempo, porque o olhar de estava pesado sobre nós. Ele sabia que alguma coisa estava errada. A conversa com meu irmão morreu, e ambos nos encaravam.
— Está tudo bem? — Meu irmão perguntou, em inglês. estava com o braço no encosto da minha cadeira, seu rosto próximo ao meu ouvido.
— O que ela disse? — Eu o encarei e balancei a cabeça, isso apenas o irritou. Ele respirou fundo e encarou minha mãe.
— Está tudo bem, só vamos terminar esse almoço de forma civilizada. — estava nada feliz com a minha resposta, e seu apetite parecia ter acabado, já que logo afastou o prato da sua frente.
— Eu só fiz um comentário sobre a inauguração do hotel. — Minha mãe disse, inocente. Eu apenas sorri, já que ela disse isso em inglês, então eu não precisaria traduzir para .
— Certo. — Meu irmão disse, mas seu sorriso era claramente forçado. Ele sabia que alguma coisa havia acontecido, mas não queria piorar ainda mais a situação.
— Por que não vamos para a sala ao lado? Acredito que todo mundo já terminou de almoçar. — Minha mãe disse e logo levantou. Meu irmão foi atrás dela, mas e eu demoramos um pouco mais.
— , o que ela disse? — estava muito sério. — Se você não me falar, eu vou perguntar diretamente a ela.
— Ela fez um comentário sobre meu vestido de ontem ser inapropriado, disse que estava marcando demais. — virou as costas e encarou a janela atrás de nós. Suas mãos estavam em punho, e eu sabia que ele estava se controlando para não causar uma cena. Eu segui até ele e passei meus braços por sua cintura. Após alguns instantes, virou e ficou de frente para mim, nós ainda abraçados.
— Olha para mim. — Ele pediu, ainda sério demais. — Você estava absolutamente maravilhosa ontem à noite. — Seu olhar era tão intenso, e suas palavras, tão verdadeiras, que eu tive dificuldade em conter as lágrimas.
— Eu me senti maravilhosa ontem à noite. — Eu respondi, baixinho.
— Você tem nada do que se envergonhar. O vestido era apenas uma roupa, apenas um complemento a você. — Eu sorri em sua direção, sem saber como reagir. Eu nunca sabia o que fazer ou falar quando ele me elogiava assim. — Nós percorremos um longo caminho para você aceitar seu corpo do jeito que é, e eu não vou deixá-la estragar isso com um comentário maldoso. — Eu desviei o olhar.
— Não quero uma cena, . — Ele tocou meu queixo, me fazendo olhar novamente para ele.
— Eu não vou fazer uma... Se ela controlar as palavras. Não vou deixá-la te diminuir porque você não veste 36, . — me abraçou novamente, sua cabeça apoiada sobre a minha. Ele fazia eu me sentir tão pequena.
— Ela queria que eu fosse como ela, mas puxei a estrutura grande do meu pai. Talvez por isso ela me odeie tanto. — Sussurrei, me sentindo fraca demais. apoiou sua testa na minha, respirando fundo.
— Eu amo você exatamente do jeito que você é. Eu só quero que você se sinta confortável com você mesma, porque acaba comigo te ver sofrer por um comentário tão mesquinho e sem fundamento.
— Só vamos acabar logo com isso. — assentiu e seguimos para a sala onde minha mãe e meu irmão nos esperavam.
— Luís, eu tenho uma reunião agora, estou quase atrasada. — Eu andava apressadamente na direção que a secretária havia me indicado.
— , faz seis anos que você não vem pra casa, sério, quando você volta? — Eu revirei os olhos Não era o momento para ter aquela conversa de novo.
— Eu já te falei que não vou voltar e que eu estou ótima. Os hotéis estão crescendo, vou abrir outra filial, inclusive. — Eu podia sentir a surpresa do meu irmão no ar.
— E como não soube disso antes?
— Você só sabe me perguntar quando eu volto. — Dei de ombros. — Eu estou nos Estados Unidos.
— Mas até ontem você estava em Paris! — Ele parecia exasperado.
— Talvez eu tenha esquecido de avisar. — Culpada.
— , você não pode ficar sem me dar notícias assim. Mamãe...
— Luís, eu preciso desligar. — Meu irmão bufou do outro lado da linha.
— Você sabe que ela também se preocupa, do jeito dela.
— Claro, o que você disser. Sério, não se preocupe comigo. Te mando os detalhes da inauguração quando eu os tiver. Tchau.
— Tchau, e responda minhas mensagens! — Eu ri e desliguei. Respirei fundo e bati duas vezes na porta à minha frente. Essa era uma empresa enorme em tecnologia, e eu precisava de um novo sistema para o hotel que eu pretendia abrir aqui.
— Entra. — Abri a porta com cuidado, mas com toda a confiança dentro de mim. Eu não era mais uma novata, não precisava mais provar nada para ninguém.
— Olá, boa tarde. — Eu caminhei confiante até o homem que estava atrás da mesa à minha frente.
— Boa tarde. — Ele parecia assustado.
— Tudo bem? Você parece surpreso. — Arqueei uma sobrancelha em sua direção.
— Uhm, bom, não esperava alguém tão... jovem. — Eu sorri em sua direção. Estava acostumada com esse tipo de comportamento.
— Eu comecei cedo. — Dei de ombros, não querendo continuar nesse assunto.
— Você tem o quê, vinte e cinco anos? — Eu ri.
— Deixa eu te dar um conselho — Eu me aproximei da sua mesa e ele fez o mesmo. — Sempre que for chutar a idade de alguém, sempre jogue para baixo. — Eu disse e voltei a recostar na cadeira. Ele estava atônito. — Eu tenho vinte e quatro. — Cedi, finalmente.
— Eu tenho vinte e sete. — Eu prendi o riso, sem entender. — Enfim, só pareceu o justo a se dizer. — Ele estava desconfortável. Apenas assenti, estava achando o desconforto dele muito engraçado. De repente, ele se levantou e estendeu a mão para mim. — Eu sou . — Levantei e o cumprimentei novamente.
— . É um prazer conhecê-lo. — Disse, segurando o riso.
— A senhorita está se divertindo às minhas custas? — Ele sorriu de lado, ainda sem soltar minha mão.
— Talvez.
— Está tudo bem com vocês? — Meu irmão perguntou assim que chegamos à sala.
— Claro, tudo ótimo. — estava tenso ao meu lado. Nós nos sentamos em um sofá mais afastado, de frente para a minha família.
— Quais são os próximos planos que tem aqui no Brasil? — Minha mãe perguntou, em inglês. Acho que ela percebeu a feição nada alegre do .
— Eu não pretendo ficar muito aqui no Rio, acredito que semana que vem eu vá para São Paulo e depois para o Sul. Preciso estudar algumas cidades para ver se meu hotel teria público.
— E seu namorado veio apenas te acompanhar? — Ela sorriu para . Ele permanecia em silêncio ao meu lado, com um braço sobre meus ombros.
— Ele me ajuda com a parte da tecnologia, a empresa dele é responsável por todos os meus hotéis. — Coloquei uma mão sobre sua perna, o tirando sutilmente de onde quer que sua mente estava.
— Bom que estão sempre juntos. Vejo várias fotos de vocês pelo mundo. — Eu me recostei sobre o peito do , não sabendo onde minha mãe queria chegar com essa conversa.
— A gente gosta de viajar.
— E depois vão voltar direto para os Estados Unidos? — Meu irmão perguntou.
— Sim, nós temos algumas coisas para resolver lá, algumas reuniões já estão até marcadas.
— E vocês pretendem se casar lá? — Eu engasguei com a minha própria saliva, assustada com sua pergunta repentina. começou a rir da minha reação, pelo menos isso fez com que seu humor melhorasse um pouco.
— É bem provável que seja lá, sim, mas ainda não conversamos sobre isso. — Eu o encarei, não entendendo sua resposta. Nós nunca tínhamos conversado sobre casamento.
— E não pretendem fazer nada aqui no Brasil? Na sua casa? — Eu ri.
— Eu não tenho casa no Brasil. — Minha mãe me encarou, assustada.
— E sua família aqui? — Eu dei de ombros.
— Quem quiser ir, posso fretar um avião. Minha vida não é aqui, meus amigos estão lá.
— Então seus amigos são mais importantes que sua própria família? — Ela mudou para o português.
— Que família? Eu saí de casa faz dez anos porque a senhora disse que eu era um estorvo na sua vida. A única coisa que sempre fez foi julgar meu peso, tirar comida da minha mão e jogar na minha cara que eu só dava trabalho. Não falo com minhas tias e primos desde que saí do país. Que família? — Perguntei novamente, tremendo de raiva. estava segurando minhas mãos, sem entender nada do que estava acontecendo.
— Continua a mesma menina mimada de sempre. — Ela se levantou.
— Mimada? Eu trabalho desde que eu era uma adolescente para não ter que te pedir um centavo. — Eu também me levantei.
— Quando você tiver os seus filhos, você vai me entender.
— Não, quando eu tiver os meus filhos, eu vou ser uma mãe muito melhor do que você jamais foi. — Eu peguei minha bolsa sobre o sofá. — Vamos, . — Ele logo levantou, mesmo que sem entender o que tinha acabado de acontecer.
— Irmã, não precisa ir embora assim. — Luís disse, e eu o encarei, séria.
— A gente se fala depois. — apenas acenou para o meu irmão e nós saímos. O carro já estava nos esperando. Assim que entrei no veículo, soltei a respiração com força.
— O que acabou de acontecer? — perguntou, completamente perdido.
— Nós conversamos de volta no hotel, por favor. — Pedi, me aproximando dele, que logo me abraçou apertado.
— O que foi? — perguntou, ainda se recuperando de seu ataque de riso de alguma coisa idiota que eu disse.
— Todas as suas reuniões de negócios são assim? — Ele arqueou uma sobrancelha.
— Assim como? — Eu sorri em sua direção.
— Fora da empresa, em um restaurante legal, conversas não relacionadas ao trabalho... — Eu enumerei. Desde a nossa primeira conversa, em seu escritório há mais ou menos um mês, eu não entendia o que se passava na cabeça do . Ele lidava com tudo relacionado ao hotel pessoalmente, supervisionava cada etapa do processo, estava em todas as reuniões...
— Na verdade, não. — Ele se ajeitou na cadeira, meio sem saber o que dizer. Eu tinha a impressão que o deixava sempre desconfortável. — Só com você. — Eu desviei o olhar, ainda sem entender nada. Voltei a olhar para ele quando ouvi seu longo suspiro. — Você sempre faz isso.
— Isso o quê? — Disse, surpresa com seu tom desapontado.
— Você puxa o assunto e depois volta atrás. Você joga as coisas, mas nunca se mantém até ouvir o final. — Eu abri a boca algumas vezes para rebater, mas nenhum som saía. — Exatamente. Faz um mês que estou querendo te chamar para sair de verdade, em um encontro sem ser só sobre trabalho, porque às vezes você me dá abertura, mas às vezes parece tão fechada que eu não sei mais como dizer de uma maneira sutil que eu estou completamente interessado em você. — Eu arregalei meus olhos em sua direção, sem saber como responder.
— Uhm... Você está interessado em mim? — Perguntei, idiotamente.
— Por que você parece tão surpresa? — apoiou os braços sobre a mesa, dedicando toda sua atenção para mim.
— Bom, homens... Como eu posso dizer isso? Homens não gostam de mulheres como eu. — Ele me encarava como se eu tivesse contado o maior absurdo do mundo.
— Do que exatamente você está falando? Homens não gostam de mulheres bonitas e bem-sucedidas? — Ele parecia verdadeiramente chocado.
— Homens não gostam de mulheres... Uhm... Grandes como eu. — Falei, logo pegando o copo com água e tomando um grande gole. apenas me encarava, sem fala. — Eu preciso ir...
— Não, não, não. Você não pode me falar um absurdo desses e me deixar aqui. Quem foi o idiota que te disse isso? — Sua raiva me deixou levemente comovida.
— Minha mãe. — Sua surpresa era tão grande, que me fez rir.
— O que ela te disse não é verdade, todo mundo vai encontrar alguém para amar. — Eu ri, com um pouco de deboche.
— Certo. — Esse assunto já estava indo longe demais.
— Então você está dizendo que eu estou fingindo meu interesse? Que eu menti pra você? — Ele perguntou, muito sério.
— Eu não disse isso...
— Você disse exatamente isso. — Eu suspirei.
— É melhor a gente encerrar a noite por aqui. — Eu disse, já retirando o guardanapo do colo e me preparando para levantar.
— Então é isso? Você vai simplesmente ir embora? — Ele perguntou, exasperado.
— O que você quer que eu diga, ?
— Você não sente o mesmo, é isso? — Ele recuou na cadeira, recostando. Seu olhar, antes tão confiante, agora mostrava dúvida.
— ... Eu... — Minhas mãos suavam. Eu não conseguia acreditar que um cara tão bonito e legal como ele estava interessado por mim. — Eu, sei lá, sou cheia de estrias. — Falei a primeira coisa que veio à minha mente.
— Eu também tenho várias. — Ele disse, até que bem rápido, se analisarmos o choque em seu rosto.
— Tenho muita celulite, eu amo refrigerante.
— Quem não tem celulite nessa vida, ? — Ele arqueou uma sobrancelha em minha direção.
— Sabe o “tchauzinho” do braço? — Eu mostrei para ele. — Pois é, eu também tenho.
— Eu não ligo.
— Eu não tenho uma barriga chapada.
— Muito menos eu. — Ele rebateu.
— Eu nem me depilo com a frequência que deveria. — não conseguiu conter o riso.
— E para que exatamente você quer se depilar? — Sua confiança havia voltado, e eu estava completamente hipnotizada pelo sorriso que ele me lançava. — Tudo o que você me disse é apenas estético, , nada disso faz de você quem você realmente é. Você é engraçada, não desiste fácil das coisas, sempre corre atrás do que quer, tem uma inteligência para não só abrir um hotel sozinha, mas transformar em um negócio enorme. E, sim, você é incrivelmente linda, só não consegue enxergar isso. Ainda.
— E você disse isso tudo para ela? — estava tendo dificuldades de conter o riso.
— Sem tirar nem por. — Falei, suspirando. Ele logo me abraçou, beijando o topo da minha cabeça.
— Estou extremamente orgulhoso de você. Não acredito que jogou todas essas verdades na cara da sua mãe. — Eu o encarei. — O que foi?
— Não sei, eu só... — Eu pausei, sem conseguir colocar em palavras tudo o que se passava dentro de mim. — No fundo, bem no fundo, eu achava que ela tinha mudado, que ela me receberia de braços abertos, que ela teria orgulho de tudo o que eu conquistei. — me encarava, preocupado.
— Eu não sabia que se sentia assim. — Ele me abraçou mais apertado.
— Eu evito pensar nela a maior parte do tempo. — Dei de ombros, como se fosse nada de mais.
— Quando você vai entender que eu me importo com exatamente tudo que está relacionado a você, meu amor? — me encarava sério, mas seu tom era nada menos do que terno. Eu sorri para ele.
— Eu sei. Você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, sabia? — Eu apoiei minhas mãos em seus ombros, aproximando nossos rostos. Nós estávamos sentados no sofá, e conseguiu me colocar sobre seu colo sem esforço algum.
— Eu amo tanto você, , mas tanto. — Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto, e ele rapidamente a limpou. Logo seus lábios já estavam sobre os meus, e me ergueu em seus braços, indo para o nosso quarto.
me imprensou contra a porta do meu apartamento, seus lábios estavam sedentos sobre os meus. Suas mãos passeavam pelo meu corpo, como se ele não conseguisse se decidir onde apertar primeiro. Descolei nossos lábios por um instante, buscando por ar. Ele desceu seus beijos por meu pescoço, deixando leves mordidas pelo caminho.
— Eu... Eu... — Comecei a dizer, mas seus lábios me interromperam. parecia cansado de se curvar tanto para me beijar, então deu impulso na minha bunda para que eu cruzasse minhas pernas em sua cintura.
Ele não iria me aguentar.
Nós iríamos cair.
continuava me beijando com a mesma intensidade, uma das suas mãos estava firme na minha bunda, me mantendo, com aparente facilidade, no ar, mas minha mente não conseguia se desligar.
— Me coloca no chão, . Agora. — Ele parou de me beijar, me encarando, confuso.
— Qual o problema? Você é muito baixinha para mim. — Ele riu, mas seu sorriso murchou ao ver minha expressão séria. — O que foi, , eu fiz alguma coisa de errado? — Seu olhar era preocupado.
— Só me coloca no chão. — Eu respirava com dificuldade, e podia sentir lágrimas se formando em meus olhos. , ainda que hesitante, me colocou no chão. — Acho melhor eu entrar.
— ...
— Boa noite, , eu me diverti muito hoje. — Eu virei as costas, escondendo as lágrimas que começaram a escorrer pelo meu rosto. Já com as chaves na minha mão, eu abri a porta, mas, antes de conseguir fechar, usou sua mão para me impedir.
— Não é assim que as coisas funcionam. — Ele disse, sua voz baixa, mas confiante. — Por que você está chorando? — elevou o tom da sua voz ao perceber meu estado. Ele logo fechou a porta atrás de si e veio atrás de mim até a sala.
— Eu sou toda fodida, , ‘tá bem? Achei que já tivesse deixado isso bem claro! — Eu abri os braços, cansada demais de viver odiando a mim mesma. — NÃO SE APROXIMA DE MIM! — Eu gritei quando ele veio em minha direção, com os braços prestes a me abraçar. — Não encosta em mim. — Eu mal conseguia enxergá-lo agora, as lágrimas caíam grossas pelo meu rosto, meu coração doía tanto que eu tinha medo de desmaiar a qualquer momento.
— Conversa comigo. O que disparou tudo isso? — ergueu as mãos, mostrando que não se aproximaria. Eu me abracei, andando de um lado para o outro.
— A gente ia cair, eu tinha certeza de que a gente ia cair. — Eu murmurei, mais para mim mesma.
— Quando? — Ele não entendia.
— Ela sempre disse que não seria como nos filmes, não para mim. Ela sempre disse isso. — Eu continuava perdida demais em mim mesma.
— Ela quem? — Eu podia ouvir sua voz desesperada, podia sentir que ele queria vir até onde eu estava, mas ninguém tocou em mim.
— Ela disse que nenhum homem conseguiria me carregar por aí, que eu era grande e gorda demais para esse tipo de brincadeira, ou durante uns amassos. Ela disse... — Eu virei de frente para o , ainda que o enxergasse de maneira borrada, devido às lágrimas. — A gente ia cair. — Eu sussurrei.
— Eu posso me aproximar de você agora? — Eu balancei a cabeça, negando. Ninguém queria me tocar, me abraçar, nunca. Eu não sabia o que fazer, ou o que sentir. — Ok. Eu vou ficar aqui, esperando.
Não sei por quanto tempo ficamos de pé um na frente do outro, mas em algum ponto meu corpo relaxou. Foi então que veio em minha direção e passou os braços ao meu redor. Ele deixou um leve beijo na minha testa e levou seus lábios até meus ouvidos.
— Você confia em mim? — Ele sussurrou. Eu assenti levemente, meus olhos fechados com força, apenas sentindo seu carinho. Suas mãos desceram até minha bunda, e eu sabia o que ele iria fazer em seguida.
— ...
— Calma. Você disse que confiava em mim. — Ele me interrompeu. — Olha para mim. — pediu com tamanha ternura, que novas lágrimas formaram em meus olhos. Ele deu impulso de novo, fazendo com que minhas pernas cruzassem ao redor da sua cintura. Meus olhos estavam fechados com força, meu coração batia acelerado. Eu só esperava pela queda. — Eu não vou te deixar cair, nunca. — Eu escondi meu rosto em seu pescoço, sem saber o que fazer. — ?
— Oi? — Respondi baixinho.
— Eu posso te segurar aqui a noite toda, como já deve ter percebido, mas acho que é melhor a gente ir para a cama. Nós precisamos acordar cedo amanhã. — Eu o encarei, assustada. — Só para dormir, eu realmente não quero te deixar sozinha hoje à noite.
— Tudo bem. — Eu suspirei, esperando-o me colocar no chão.
— Não, não, só me aponta a direção do quarto.
— Mas...
— Sem mas, está tudo bem. — me beijou e seguiu na direção que eu apontei.
Eu não entendia. Mamãe mentiu para mim esse tempo todo?
— Vamos, dorminhoca, está na hora de levantar. — Eu virei na cama, escondendo meu rosto sob o travesseiro.
— Só mais um pouquinho. — Pedi. gargalhou, e eu não consegui segurar o riso. Senti o lençol ser gentilmente tirado de cima de mim, mostrando minhas costas nuas. começou a fazer desenhos sem sentido ali, me fazendo arrepiar.
— Nós temos uma reunião marcada, amor. — Ele começou a distribuir beijos pelo meu pescoço enquanto suas mãos tiravam o resto do lençol sobre o meu corpo. Ouvi seu longo suspiro e mordi meu lábio. Ele não cansava de me observar.
— Você não está ajudando em nada meu processo de sair dessa cama. — Disse, me virando de frente para ele. suspirou novamente, seus olhos descendo pelo meu corpo. — Meu rosto está aqui em cima, sabe. — Provoquei.
— Aham. — começou a me beijar, suas mãos percorrendo cada pedaço de pele que ele conseguia alcançar.
— A gente tem reunião marcada, amor. — Repeti sua fala, segurando o riso. me encarou com um sorriso de canto nos lábios.
— Eles vão poder começar nada sem a gente. — Não consegui conter a gargalhada.
— Vamos tomar banho, você sabe que odeio me atrasar. — bufou, apenas me fazendo rir mais.
— Você é má, , muito má. — Eu me levantei, ainda nua, e segui para o banheiro. se jogou na cama, encarando o teto. Eu me apoiei no batente da porta do banheiro, o encarando sobre a cama.
— Achei que fosse me acompanhar. — Fingi um suspiro de decepção. — Tinha alguns planos para esse banho. — logo me encarou, e em poucos segundos estava de frente para mim, com um largo sorriso em seus lábios.
— Me conte mais sobre esses planos. — Ele disse após me pegar no colo e fechar a porta atrás de nós.
— Não aguento mais usar esses fones. Já decidi: vou aprender a falar português. — e eu havíamos terminado a reunião um pouco mais tarde do que o planejado, e eu estava morrendo de fome.
— Eu posso te ajudar com isso. — Beijei-o na bochecha. — Mas agora eu preciso comer. — Ele riu.
— Você com fome é um perigo. — Notei seu sorriso desaparecer assim que abriu a porta do meu escritório.
— Mãe. — Eu verdadeiramente não a esperava. estava tenso ao meu lado, sem saber o que fazer. — Não sabia que viria.
— Espero não estar atrapalhando. — nos encarava, já que estávamos conversando em português.
— Não, nós estávamos em reunião. Está esperando faz muito tempo? — Mudei a conversa para o inglês, e relaxou visivelmente.
— Pouco mais de dez minutos. — Também relaxei um pouco quando ela me respondeu em inglês. Eu segui até minha mesa, deixando uns documentos e checando outros.
— Nós vamos almoçar agora, se quiser nos acompanhar. — Eu sugeri, dando de ombros, mas por dentro meu coração batia acelerado.
— Eu gostaria de conversar com você, a sós. — Eu me aproximei do , sentindo que ele iria fazer uma cena.
— Nem pensar. — Ele disse assim que o abracei.
— ... — Eu comecei, mas ele não me deixou dizer nada além disso.
— Não, , não confio nela sozinha com você. — Minha mãe nos observava, estava se controlando ao máximo para não elevar o tom de voz. Eu sorri para ele.
— Eu vou ficar bem, confia em mim. — Pedi.
— Eu confio em você, é nela que confio nada. — apoiou a testa na minha, não gostando nada da ideia.
— Eu encontro você logo em seguida e conto tudo, eu prometo. — Beijei-o rapidamente e me virei para minha mãe. — Vamos? — Segurei a porta aberta para ela passar. apenas acenou quando ela o cumprimentou.
— Eu vou almoçar no quarto, qualquer coisa é só ligar que eu desço correndo. — Ele me beijou. — Eu amo você.
— Eu também te amo. — Sorri em sua direção e encontrei com Eliza no corredor.
— Acho que seu namorado não gosta muito de mim. — Ela disse quando a porta do elevador fechou. Eu apenas dei de ombros. Era verdade, mas eu não iria admitir.
estava com os braços ao meu redor, seu peito nu colado nas minhas costas. Depois de muitos encontros e amassos, nós tínhamos transado.
E tinha sido incrível.
A forma como ele olhava para mim era como se não houvesse nada mais lindo. Mesmo dormindo, seu corpo não se afastava do meu, suas mãos não saíam de mim.
Mas eu estava tão assustada.
Encarei o relógio sobre o criado mudo: 3:30AM. Suspirei.
Eu não estava preparada para expor meu corpo assim. E quando amanhecesse?
— Você está pensando demais. — sussurrou, beijando meu ombro. Minha respiração ficou acelerada com o susto. — Quer que eu te solte? — Ele sugeriu, já movendo um dos braços.
— Não! — Eu o segurei no lugar, me sentindo envergonhada no segundo seguinte ao perceber o quão desesperada minha voz soou. — Não me incomoda. — me virou de frente para ele. Assim que seus olhos encararam os meus, senti um arrepio percorrer todo o meu corpo.
— Qual o problema? — Seu tom era gentil. Eu me aproximei dele, escondendo meu rosto em seu pescoço.
— Eu odeio meu corpo, morro de vergonha dele. — Seus braços me envolveram apertado. Após alguns instantes, subiu em cima de mim, me colocando de costas sobre a cama. Ele pegou minha mão e levou até uma parte específica da sua bunda.
— Consegue sentir? — Ele riu da minha expressão de choque. — Relaxa, . — Eu passei meus dedos onde ele colocou minha mão. — Eu tenho várias estrias na bunda. — Ele deu de ombros e subiu minhas mãos para as suas costas. — Consegue sentir aqui também? — Eu balancei a cabeça, assentindo. — Eu cresci muito na minha adolescência, e isso deixou estrias nas minhas costas, daquelas bem vermelhas. Eu fiz tratamento a laser e hoje elas são bem melhores, mas houve uma época que nada nem ninguém conseguia me fazer tirar a camisa.
— Mas... — Eu o encarava, achando difícil acreditar que ele alguma vez já se sentiu desconfortável com seu próprio corpo. Ele parecia sempre tão confiante.
— Eu não sou perfeito, , e isso não importa. Eu verdadeiramente não me importo com nenhuma das marcas que você diz tanto odiar. Sua altura para mim é a ideal, seu corpo parece que se encaixa perfeitamente no meu. — Ele colocou um pouco mais do seu peso sobre mim. — Nós somos pessoas reais, com marcas da vida. Isso não te faz melhor nem pior do que ninguém. — Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Ele fazia eu me sentir tão bem, e isso me assustava tanto.
— Eu tenho tanto medo, . — Ele limpou meu rosto, aproximando seus lábios dos meus.
— Eu sei, mas a gente vai ficar bem. Confia em mim?
— Confio.
Nós já estávamos no prato principal, e minha mãe não havia dito uma palavra. Se ela veio me procurar, eu que não iria ficar mantendo uma conversa sobre nada apenas para preencher o silêncio.
— Você parece com fome. — Claro que isso tinha que ser a sua primeira frase. Eu apenas balancei a cabeça, rindo sem acreditar.
— Eu fiquei em reunião desde às 9h — encarei o relógio que tinha no salão —, e agora são 16h. Acho que tenho todo o direito de ter fome. — Sorri em sua direção, o sarcasmo escorrendo pelos meus lábios. Minha mãe voltou a ficar em silêncio, e eu não iria parar de comer como fiz por tantos anos, indo para o meu quarto morrendo de fome porque ela disse que já era o suficiente.
— As senhoras vão pedir alguma sobremesa? — O garçom perguntou, já retirando nossos pratos.
— Sim, por favor. Quero mousse de maracujá. — Minha mãe apenas negou com a cabeça, sua expressão séria, e claramente desaprovando minha escolha. Eu não iria deixá-la me atingir.
— Não gostei das coisas que me disse e da forma como saiu de casa depois do almoço. Você volta depois de dez anos e é assim que me trata? — Eu controlei o riso quando minha sobremesa chegou. Eu, calmamente, abri o pote e dei uma colherada. Estava delicioso.
— É exatamente esse seu olhar me julgando comer que eu precisei de muitos anos de terapia para superar. — Falei, voltando a comer. Eu não iria medir as palavras mais.
— Você fez terapia? — Eu ri.
— Fiz não, faço. Minha psicóloga é minha discagem rápida, ainda fica um pouco sentido com isso. — Ela me encarava, perplexa. — Você está me olhando como se eu fosse louca. — Brinquei, terminando minha sobremesa.
— Eu... Eu não sabia. — Ela disse, completamente sem palavras.
— Claro que não, a senhora nunca se interessou por nada da minha vida além do meu peso. E, sinceramente, se até hoje não conseguiu enxergar o quão mal me fez, não vejo motivo para ficarmos aqui nessa conversa sem sentido. — Dei de ombros, ainda não acreditando no que eu estava dizendo. — Tem alguma coisa que queira me dizer? — Perguntei.
— Não. — Ela disse após alguns minutos em silêncio. Eu sorri em sua direção.
— Como eu já esperava. Adeus, mãe. — Levantei e a deixei ali. O pior de tudo era que, bem no fundo, eu tinha esperanças de uma reconciliação, que ela iria se desculpar e dizer que, da sua maneira deturpada, era isso que ela achava que era o melhor para mim. No fundo, eu queria acreditar que um dia ela seria capaz de me amar por quem eu era.
Mas parecia que eu estava enganada.
Eu estava sentada em uma bancada na janela, encarando o céu do fim de tarde e a enorme imensidão azul do mar. Eu me sentia tão mais leve depois de dizer aquelas coisas para a minha mãe, ainda que não chegasse nem perto de tudo o que ela precisava ouvir.
havia saído, e eu não fazia a menor ideia de onde ele poderia ter ido.
Continuei observando a paisagem. As ondas estavam fortes e não havia banhistas na praia, ainda que estivesse um belo dia.
Ouvi um barulho na porta e logo a voz do preencheu o ambiente.
— Não, não tem vírus. Eu já resolvi. — Ele fez uma pausa. Eu podia sentir que estava extremamente impaciente. — Sim. — Ele chegou onde eu estava e eu o encarei, sorrindo em sua direção. — Não tem mais nada, eu garanto. Eu te ligo depois... — suspirou.
— Algum problema? — Ele correu na minha direção, me abraçando.
— Eu estava tão preocupado. — Ele distribuiu vários beijos pelo meu rosto. — Assim que eu acabei de comer, me ligaram dos EUA. Deu um problema e eu tive que correr para o seu escritório para tentar resolver, e você não chegava nunca.
— Ei, ei, ei. — Interrompi-o. — Respira, amor. Muito bem. — Passei meus braços sobre seus ombros, puxando-o para perto de mim. — Conseguiu resolver?
— Sim, ainda que eu estivesse desesperado por notícias suas. — Ele suspirou, afundando seu rosto em meu pescoço. Eu ri. — Você parece... bem.
— Eu estou.
— O que ela queria, afinal? — parecia confuso.
Eu contei todo nosso almoço, não escondendo parte alguma dele. Sua cara de espanto com as coisas que eu disse para minha mãe foi impagável.
— E foi isso. Realmente não faço ideia do que ela queria realmente. — Ele sorriu.
— Estou adorando essa coisa de você jogar todas essas verdades na cara da sua mãe.
— Ela disse que acha que você não gosta muito dela. — Falei, e ele deu de ombros.
— Não gosto mesmo, como poderia? O que você respondeu? — Ele quis saber, curioso.
— Nada, não iria confirmar assim, ! — Ele me apertou junto a ele.
— Gosto de te ver assim, ainda mais depois de um encontro sozinha com ela. Eu fiquei verdadeiramente muito preocupado, . — estava sério de novo.
— Eu sei, mas eu estou bem.
— Eu queria ter visto a cara dela quando disse que fazia terapia. — Nós rimos.
— Engraçado como as pessoas ainda têm preconceito com isso.
— Pronto, essa é a última caixa. — a colocou com cuidado na sala do meu novo apartamento.
— Ainda não acredito que me convenceu a comprar um apartamento, seria muito mais fácil ficar no hotel. — Falei, abrindo uma das caixas.
— Nós realmente vamos ter essa conversa de novo? — Ele arqueou uma sobrancelha em minha direção. Dei de ombros. — , vai fazer um ano que está morando aqui, no hotel você tem zero descanso, sempre tem alguém te procurando para coisas que eles mesmos podem resolver. Você não tem seu espaço do jeito que você quer. Você só tinha um porta-retratos lá porque eu coloquei. — Ele estava enumerando com os dedos.
— Isso realmente te incomodava, né? — Eu larguei meus poucos pertences e andei até ele. suspirou quando o abracei pela cintura.
— Muito. — Eu sabia que ele tinha mais para dizer, mas ele se segurou. — Eu quero que você tenha sonhos, que você crie raízes. Eu só quero que você seja feliz. — Ele me deu um beijo na testa.
— Você me faz feliz. — Eu afirmei, olhando em seus olhos.
— O que você quer nesse apartamento? O que sempre quis ter, mas nunca teve seu espaço ou porque nunca colocou suas vontades na frente dos negócios. — Mordi meu lábio, com vergonha. — Então você tem um desejo. Vamos, me conta. — parecia verdadeiramente empolgado. Eu o segurei pela mão e o puxei pelo apartamento.
— Um dos motivos de eu ter comprado esse apartamento...
— Além de ficar próximo ao meu. — Ele me interrompeu e eu revirei os olhos. Um sorriso bobo em seus lábios.
— Um dos motivos foi esse cômodo. — Era um cômodo bastante iluminado, uma das paredes era toda de vidro que mostrava uma enorme parte de um parque, com árvores imensas e vários campos com flores.
— Qual a sua ideia? — perguntou depois de algum tempo encarando a vista.
— Eu quero uma biblioteca. — Ele logo me encarou, um enorme sorriso surgindo em seu rosto. — Eu quero aquelas poltronas enormes e extremamente confortáveis bem aqui. — Eu apontei um espaço bem de frente para a janela.
— Eu acho uma excelente ideia. — andou até mim, colocando suas mãos em ambos os lados do meu rosto. Os últimos raios do sol entravam pela janela, nos envolvendo.
— O que foi? — Perguntei quando ele me encarava há tempo demais sem dizer uma palavra.
— Eu nunca vi esse brilho tão intenso nos seus olhos antes, você parece verdadeiramente feliz. — Uma lágrima escorreu do seu rosto, e eu logo a limpei.
— Por que... Por que você está chorando? — Meus olhos se encheram de lágrimas, porque eu podia sentir o que ele diria, eu sabia exatamente o que viria.
— Porque eu venho segurando essas palavras há tempo demais, me controlando a cada momento porque eu nunca senti que você estava preparada para ouvir. Porque eu sabia que você ainda não seria capaz de acreditar. — Contive um soluço, as lágrimas agora escorrendo pelo meu rosto livremente.
— ... — Sussurrei. Ele limpou algumas lágrimas minhas, não se importando com outra lágrima sua que caía.
— Eu amo você, . E ver você assim, feliz, fazendo planos... Eu sei que a gente está namorando há pouco mais de dez meses, e talvez você não sinta o mesmo... — Eu o beijei, desesperada para mostrar o quão bem ele me fazia sentir. Eu precisava que ele entendesse o quanto ele era importante nessa minha mudança. E o quanto eu o amava.
Afastei-me um pouco, nossas testas coladas. Quando abri os olhos, não me encarava. Seus olhos estavam fechados com força.
— Olha pra mim. — Pedi. Bem devagar, ele abriu os olhos e me encarou. — Eu amo você. Eu jamais imaginei que algo assim fosse acontecer comigo, mas você me prova o contrário a cada dia que passa, . Você fez muito mais que me amar, você me ensinou a amar a mim mesma, e por isso eu jamais terei como agradecer o suficiente.
— Hora de voltar para casa. — colocou a última mala na porta. Eu encarava o mar pela sacada do hotel, meus pensamentos a mil. — Resolveu tudo o que precisava? Ainda temos um tempinho, caso queira fazer alguma coisa. — Ele me envolveu pela cintura.
— Falta só uma coisa. Poderia pedir para já descerem nossas malas? Preciso fazer uma parada antes de irmos para o aeroporto. — Ele me encarou, preocupado.
— Claro. Posso saber aonde vamos?
— Na casa da minha mãe. — abriu a boca algumas vezes, mas nada disse. Em seguida, ligou para a recepção.
— Tem certeza de que não quer que eu desça com você? — Seu olhar era preocupado, mas era algo que eu tinha que fazer sozinha.
— Sim, não vou demorar. — Dei um rápido beijo em e desci do carro. Assim que entrei na casa, senti minha respiração falhar. Eu estava nervosa.
— . — Minha mãe cumprimentou assim que cheguei à sua sala de visitas. — Acredito que tenha vindo se despedir. — Ela fez menção de levantar, mas eu indiquei que não precisava. Depois do nosso almoço no hotel, não havíamos trocado nem mais uma palavra.
— Por muito tempo eu achei que o problema fosse eu. Será que eu não valho a pena? Será que não sou boa o bastante para ela? Eram tantas perguntas na minha mente que eu sempre ficava perdida, e nunca achava respostas. — Eliza iria dizer alguma coisa, mas não permiti. — Quando fui embora, eu me perguntava o tempo todo se a senhora notaria. O primeiro mês longe foi péssimo. Ainda que tivesse muitas perguntas, todas giravam em torno de uma: será que você poderia me amar mesmo se tentasse?
— ... — Minha mãe disse, mas eu apenas continuei.
— Eu sempre achei que todas as mães amassem e cuidassem dos seus filhos, mas essa fase ficou para trás há muito tempo. Todas as cicatrizes que você me deixou, eu não escondo mais, porque eu finalmente consegui me encontrar. Toda a dor que me causou, eu usei como combustível e nunca desisti. Eu lutei demais pra chegar onde estou, para construir tudo o que eu tenho hoje. Eu não preciso do seu arrependimento, não preciso do seu amor, carinho ou cuidado, porque agora eu sei meu valor, as feridas já cicatrizaram. — Eu respirei fundo antes de continuar. — Eu nunca ganhei o seu amor. Acho que você sempre quis o melhor, sinto muito, já que claramente não sou eu. Isso é tudo o que eu posso ser, e quer saber? Eu estou extremamente feliz. Eu tenho um namorado que me ama e que não poderia ligar menos para o meu peso ou para o meu manequim. Um namorado que me carrega no colo por aí, coisa que você sempre disse que eu jamais teria. Você quase conseguiu me destruir por completo, mas quase. Eu só queria que você me amasse, mas eu nunca fui boa o bastante para você, a diferença é que agora eu não me importo. — Sorri em sua direção, limpando uma lágrima solitária que escorreu pelo meu rosto. — Agora eu tenho todas as respostas daquelas perguntas: eu valho a pena, eu sou boa o bastante, eu sou linda... Eu amo meu corpo, eu amo minha vida, eu amo meu trabalho. E é aquilo que dizem: você não pode sentir falta daquilo que nunca teve. — Dei de ombros, virando as costas, mas me virei para dizer uma última coisa. — Desejo verdadeiramente tudo de melhor para a senhora, mãe, e, se precisar de mim, eu virei correndo. Mas jamais pense que preciso de qualquer coisa de você, ou que pode se intrometer na minha vida, porque perdeu esse direito há muito tempo. — Encarei minha mãe pela última vez, seu rosto impassível. — Adeus. — Sorri e me virei, saindo da casa.
— Tudo bem? — perguntou assim que entrei no carro.
— Nunca estive melhor. — Beijei-o rapidamente, segurando sua mão e entrelaçando nossos dedos. — Vamos para casa. — sorriu para mim, levando minha mão até seus lábios.
— Vamos para casa.
No topo do meu novo hotel, o primeiro da rede que eu pretendia abrir no Brasil, meu país de origem, eu via a imensidão azul do mar no Rio de Janeiro. Saí para a sacada e respirei fundo o ar puro. O vento bagunçava meu cabelo, um frio cortante deixava um calafrio por todo o meu corpo.
Suspirei ao sentir dois braços ao meu redor. Apoiei minha cabeça sobre seu ombro, recebendo todo o carinho e o amor que ele sempre me dava.
— Essa paisagem combina perfeitamente com você, não sei como conseguiu ficar ainda mais linda. — disse em meu ouvido, e não consegui conter o sorriso que logo surgiu em meu rosto.
— Eu não mereço você. — Falei depois de um tempo, e senti seus braços apertarem ao meu redor, seu longo suspiro trazendo uma certa tensão entre nós.
— Não gosto quando fala assim de si mesma. — Ele me virou para que eu ficasse de frente para ele.
— Me desculpe, é pesado demais estar aqui. — Eu me virei novamente, não querendo encarar seus olhos questionadores.
— Ela vai vir pra inauguração? — Ele perguntou, receoso. Eu apenas balancei a cabeça, negando.
— Eu nunca fui uma prioridade pra ela, , por que mudaria agora? — Senti-o bufar atrás de mim. Ele odiava minha mãe, e nossas conversas sobre ela nunca terminavam bem.
— Nunca vou conseguir entender como ela pode ser assim com você. — Eu dei de ombros, acostumada.
— Mas meu irmão vem, você sabe como ele fica todo orgulhoso e sempre está em todas as inaugurações. — Isso pareceu o fazer ficar mais calmo, ainda que seus braços estivessem mais apertados do que o normal em volta de mim.
— Pelo menos ela o tratou direito. — Eu soltei uma risada forçada.
— O tesouro da mamãe. — Eu falei, mas não com inveja do meu irmão ou rancor dele. Com ela, a história era outra.
— É só por um mês, então a gente poderá voltar para os Estados Unidos. — deu um beijo na minha bochecha, sempre fazendo o possível para fazer eu me sentir melhor.
— Vai ser um longo mês. — Eu me coloquei de frente para ele, passando meus braços sobre os seus ombros. Ele sorriu, afundando o rosto no meu pescoço, deixando leves beijos ali.
— Eu vou estar com você em todos os momentos, você só tem que prometer que não vai enjoar de ver minha cara te seguindo por aí. — Ele soltou uma risada, a que eu tanto amava e a que me fazia esquecer de tudo e de todos. Eu apenas o beijei, apertando-o junto a mim, como se minha vida dependesse disso.
— Eu amo você, . — Falei, com os lábios ainda muito próximos do dele.
— Eu amo você mais. — Ele me deu um beijo rápido e me pegou pela mão. — Vamos, a gente precisa se arrumar, hoje é o grande dia.
— Anda, , você vai se atrasar para a escola. — Minha mãe tirou o pão que estava nas minhas mãos, jogando-o sobre a mesa e me puxando pelo braço. — Já comeu demais no café da manhã, não acha? — Eu apenas assenti, sentindo toda a culpa tomar conta de mim. Subi as escadas correndo, escovando os dentes e descendo apressada, encontrando-a com o carro já engatado para sair.
— Sinto muito pelo atraso, mamãe. — Falei, verdadeiramente arrependida. Ela apenas olhou para mim, seu olhar levemente mais suave, mas nada disse. Eu apenas encarei as imagens passando como borrão pela janela do carro. Era mais um dia que começava com mamãe já me odiando.
— Uau. — encarava meu reflexo no espelho com os olhos ardendo. Seu olhar percorria do topo da minha cabeça até meus pés, tomando todo o seu tempo apreciando cada parte do meu corpo. Eu apenas sorri, sem fala diante de tamanho amor que eu via em seus olhos. — Acho que eu não quero sair desse quarto.
— Mas precisamos. — Eu disse, com um sorriso nos lábios. Assim que me virei em sua direção, senti-o prender a respiração, seus olhos sobre mim novamente.
— Eu não consigo parar de te olhar. — Ele deu de ombros.
— Notei. — Eu ri e parei diante dele, colocando meus braços sobre seus ombros. — Suponho que tenha gostado do vestido. — Ele sorriu de lado.
— Gosto ainda mais do que tem debaixo dele. — Seus lábios logo estavam no vão do meu pescoço, me fazendo suspirar com seu carinho.
— Vamos, a festa de inauguração já deve ter começado. — suspirou, hesitando ao me soltar e apenas pegar minha mão.
— Você sabe que a verdadeira festa vai ser mais tarde. — Eu corei com suas palavras, fazendo-o gargalhar. — Todo esse tempo juntos e ainda consigo te fazer ficar vermelha. — Ele deu um beijo em minha bochecha e então saímos.
— Se tivesse feito a dieta do jeito que eu disse, não estaríamos na décima loja procurando um vestido que te sirva. — Eu encarava meu reflexo no espelho, usando todas as minhas forças para controlar as lágrimas presas em meus olhos.
— Eu já cansei de falar que não tenho estrutura corporal para entrar em um 36, mamãe. Eu tenho mais de 1,70m de altura e meus ossos são largos. — Falei, controlando minha raiva.
— Desculpas e mais desculpas. Se fizesse como eu, estaria naquele vestido maravilhoso na vitrine. — Ela apontou para um modelo vermelho, extremamente acentuado na cintura.
— Está sabendo mais que os próprios médicos, então. — Eu resmunguei.
— O que disse? — Ela colocou uma mão na cintura e me encarou.
— Nada, acho que vou ficar com esse mesmo. — Ela apenas revirou os olhos, não gostando da minha escolha por um vestido azul, com manga três quartos, que cobria a maior parte do meu corpo. Pelo menos assim eu conseguiria me sentir um pouquinho mais confortável.
— Espero que fique mais atrás nas fotos, pelo menos o rosto bonito você tem. — Foram suas últimas palavras antes de virar e seguir para o balcão para pagar o vestido. Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto, e eu logo a limpei. Com um pesado suspiro, eu apenas queria que a formatura acabasse logo.
— , , acorda!
— Não, mãe, não, para! — Eu acordei assustada. Meu pijama estava grudado na minha pele por causa do suor. estava sentado ao meu lado. Ele me encarava preocupado. Eu respirava com dificuldade e, sem olhar novamente em sua direção, eu levantei e segui para o banheiro. Tirei o pijama e entrei sob a água fria do chuveiro, não me importando em molhar o cabelo no meio da noite. Apoiei minhas duas mãos na parede e apenas deixei que a água levasse os últimos vestígios das lembranças tão dolorosas da minha infância.
Ouvi a porta abrir e logo estava atrás de mim, mas ele não me tocava. Sua respiração estava pesada. Eu sabia que ele sempre se sentia impotente quando isso acontecia, mas ele sabia respeitar meu espaço.
Após alguns instantes, ele notou meu corpo relaxar um pouco. Então suas mãos logo estavam sobre mim, me lavando. Nenhuma palavra saía da sua boca, mas seu toque gentil era o suficiente para amenizar toda a dor da rejeição que estava dentro de mim.
lavou cada parte do meu corpo e, em seguida, meus cabelos. Eu ainda estava de costas para ele, ainda não tinha forças para encará-lo.
— Odeio que só de estar no mesmo país que ela me faça sentir assim. Odeio esses pesadelos, odeio que me faça contestar tudo aquilo que eu lutei para conquistar. — Eu suspirei, cansada demais. — Odeio que ela me faça eu me odiar sem ao menos estar aqui. — desligou o chuveiro e me secou. Eu apenas o deixei cuidar de mim, forçando minha mente a focar no agora e não no passado. começou a secar meu cabelo, mas ele não me encarava.
Quando já estávamos deitados novamente, ele deitou de frente para mim, olhando no fundo dos meus olhos.
— Não ouse se desculpar, . — Ele disse, em um tom suave. Eu respirei fundo, não queria chorar de novo. — Eu amo você mais do que eu consigo dizer ou até mesmo demonstrar, e ver o que sua mãe te causou me deixa com tanta raiva. — desviou o olhar por um instante. Eu levei uma das minhas mãos até seu rosto. Ele fechou os olhos por um momento, mas logo voltou a me encarar. — Eu não vou te deixar sozinha com ela, para a sua sanidade e para a minha. — Com isso, ele me puxou junto de si. Seria uma longa noite.
O telefone tocou e imediatamente eu soube: ele havia partido.
Quando corri para a sala, onde mamãe falava ao telefone, eu vi as lágrimas escorrendo por seu rosto. Ela apenas balançou a cabeça em minha direção. Eu apoiei na parede atrás de mim, sentindo minhas costas escorregarem pela parede e o ar faltar em meus pulmões.
A dor da perda era tão grande, que eu me sentia anestesiada, de certa forma. Minha família começou a entrar pelas portas da casa, tentando nos consolar. Meu irmão logo apareceu. Ele não chorava, mas sua feição de dor era clara.
Eu corri para o meu quarto, pegando meus fones de ouvido. Uma vez li que uma cantora famosa disse: “As pessoas nem sempre estiveram lá para me ajudar, mas a música sempre esteve”.
Uma das maiores verdades da minha vida.
O velório e o enterro passaram como um borrão. Muito choro, muita dor, muitas lembranças tristes que ficariam para sempre gravadas na minha mente.
Quando já estávamos de volta em casa, tudo o que eu queria era tomar um banho e limpar qualquer vestígio de cemitério de mim.
— Não, não, papai, fica comigo. — Acordei gritando, as lágrimas grossas escorriam pelo meu rosto e a dor em meu peito era tão forte que tornava difícil respirar.
— Irmã, respira. Calma, vai ficar tudo bem. — Meu irmão estava ao meu lado, me abraçando.
— O que está acontecendo aqui? — Eu ainda tinha dificuldades de enxergar o que estava ao meu redor. Tudo estava desfocado, eu só ouvia as vozes da minha mãe e do meu irmão.
— Ela teve um pesadelo, mãe. Pode voltar a dormir, eu cuido dela. — Meu irmão disse, me abraçando.
— Sempre dando trabalho. — Senti-a bufar, irritada. — Agora que seu pai não está mais aqui, não vou deixar você ser um estorvo maior do que já é. As coisas vão mudar nessa casa. — Eu a encarei, sem saber como reagir. Soltei-me dos braços do meu irmão, sorrindo em sua direção.
— Pode ficar tranquila, vou dar trabalho algum. — Eu levantei da cama, limpando os rastros de lágrimas pelo meu rosto. — Sinto muito ter perturbado seu sono, não vai acontecer de novo. — Minha voz estava fria. Ela havia quebrado o que ainda restava de mim. Minha mãe apenas revirou os olhos e saiu. Meu irmão me deu um beijo na testa, também sem saber o que fazer ou falar depois de suas duras palavras.
Mas eu sabia o que fazer.
Olhei pela janela e já estava quase amanhecendo. Tomei um banho rápido e vesti roupas confortáveis. Peguei a mala debaixo da cama e comecei a colocar apenas as coisas mais importantes, apenas aquilo que ela não sentiria falta.
Minha mãe poderia achar que eu era um estorvo para ela, mas poucas vezes eu pedi dinheiro a ela para qualquer coisa. Muito pelo contrário, eu sempre trabalhei e juntei dinheiro, mesmo com meus pais tendo uma vida confortável.
Verifiquei o saldo na minha conta e respirei fundo. Seria o suficiente por algum tempo.
Fui até o quarto do meu irmão e deixei um cartão, me despedindo e dizendo que ligaria assim que chegasse. Eu não sabia para onde estava indo, mas sabia que não poderia ficar ali por nem mais um segundo.
— Seu irmão vai estar lá? — perguntou, claramente tenso com o almoço marcado com a minha mãe.
— Sim, ele sabe que ela pensa melhor no que dizer quando ele está por perto. — Fui até ele e o abracei pela cintura. — Eu não sou mais uma criança, . Eu já sei lidar com ela.
— Ela sempre encontra formas de te machucar, . — Ele estava sério, poucas vezes eu o tinha visto assim.
— Eu sei, mas dessa vez eu não vou estar sozinha. — Eu o beijei e, aos poucos, senti parte da tensão deixar seu corpo.
— Você nunca mais vai estar sozinha. Nunca. — me beijou mais intensamente, me apertando junto a ele.
— Nós precisamos ir, ela odeia atrasos. — Falei com meus lábios quase colados aos dele. sorriu. — Não vamos nos atrasar de propósito. — Eu ri, e ele logo murchou.
— Droga. — fez bico, triste.
— Quanto mais cedo chegarmos, mais cedo sairemos.
— Excelente plano.
O caminho até minha antiga casa foi rápido. À medida que o carro se aproximava dos portões do condomínio, eu sentia tremores percorrerem por todo o meu corpo. O carro recebeu autorização para entrar e logo paramos na frente da casa da minha mãe.
— Faz dez anos. Eu nunca voltei aqui desde que saí naquela manhã. — pegou uma das minhas mãos e a beijou.
— Eu estou aqui. — Eu desviei o olhar da imponente entrada da casa e o encarei. Eu o amava tanto. Sorri em sua direção e respirei fundo.
— Vamos, só quero acabar com isso logo. Ela provavelmente não vai me importunar depois disso.
Descemos do carro e logo o mordomo abriu a porta para nos receber. Não vi rostos conhecidos entre os empregados, apenas apertei mais a mão do e continuei andando até a sala de jantar.
Meu irmão já havia chegado, e deixei escapar um leve suspiro com isso. Assim que ela nos viu, ela encarou o relógio sobre a porta. Nós estávamos adiantados.
— ! — Meu irmão logo nos cumprimentou. — Estou tão feliz que está de volta ao Brasil, ainda que por pouco tempo. — Ele disse em inglês, para que pudesse nos entender.
— Estava com saudades de você! — Eu não iria mentir que estava feliz em estar de volta naquela casa, então parti para assuntos em território mais firme.
— , não vai falar com a sua mãe e apresentar seu namorado? — ficou sério de repente, sem saber o que minha mãe havia dito, já que ela falou em português.
— Claro que vou apresenta-lo, mãe. — Falei em inglês. — Acho que seria melhor mantermos a conversa em inglês, se estiver tudo bem para a senhora. é dos Estados Unidos e não fala português.
— O que estou bastante arrependido, no momento. — Ele falou entredentes, para que só eu pudesse ouvir. Eu o encarei, tentando acalmá-lo.
— Mãe, esse é o . , essa é a minha mãe, Eliza. — estava atrás de mim, então apenas estendeu a mão para cumprimentá-la, forçando um sorriso no rosto.
— É um prazer enfim conhecê-lo. — apenas assentiu, e eu segurei o riso. Ele jamais diria o mesmo para ela.
— É uma bela casa. — Eu o abracei pela cintura, querendo esconder o riso. estava sendo nada sutil, mas quem era eu para culpá-lo?
— Muito obrigada. Eu fiz poucas mudanças ao longo dos anos, preferi manter a estrutura da casa. — Minha mãe disse, no mesmo tom. Nós sentamos à mesa e logo os pratos começaram a ser servidos.
— Aqui tem azeitona, melhor não colocar no prato, vai ser difícil tirar. — disse ao colocar um pouco de salpicão no prato.
— Meu herói. — Eu disse e o beijei no rosto.
— Ainda com problemas com azeitona? — Minha mãe perguntou, de volta ao português.
— Algumas coisas não mudam, não é mesmo? — Respondi em inglês, rapidamente traduzindo o que ela me perguntou para . Ele estava começando a perder a paciência.
— E então, Luís, o software que te passou ajudou lá no consultório? — Mudei o foco da conversa para o meu irmão. Ela adorava se gabar dele mesmo.
— Nossa, sim, tenho nem palavras pra agradecer. — Os dois entraram em uma conversa animada que minha mente não conseguiu acompanhar. Eu sentia minha mãe tensa ao meu lado, ainda que sorrisse só de ouvir meu irmão falar.
— Você está calada. — Minha mãe falou baixinho, e em português. Imediatamente, senti ficar tenso ao meu lado. Coloquei minha mão sobre sua perna, sob a mesa.
— Só estou cansada pelo fuso horário. — Menti. Nunca entendi a lógica dessa conversa fiada. Quanto antes todo esse almoço acabasse, melhor.
— Eu vi algumas notícias sobre a inauguração do hotel ontem, as pessoas estavam falando muito bem. — Eu apenas assenti, não queria dar margem para ela prolongar esse assunto, porque ela sempre tinha algo ruim a dizer. — Achei seu vestido um pouco inapropriado, estava muito justo, marcando demais. — Eu larguei meus talheres sobre a mesa, pegando o guardanapo do meu colo e, calmamente, limpando minha boca. Eu só queria ganhar tempo, porque o olhar de estava pesado sobre nós. Ele sabia que alguma coisa estava errada. A conversa com meu irmão morreu, e ambos nos encaravam.
— Está tudo bem? — Meu irmão perguntou, em inglês. estava com o braço no encosto da minha cadeira, seu rosto próximo ao meu ouvido.
— O que ela disse? — Eu o encarei e balancei a cabeça, isso apenas o irritou. Ele respirou fundo e encarou minha mãe.
— Está tudo bem, só vamos terminar esse almoço de forma civilizada. — estava nada feliz com a minha resposta, e seu apetite parecia ter acabado, já que logo afastou o prato da sua frente.
— Eu só fiz um comentário sobre a inauguração do hotel. — Minha mãe disse, inocente. Eu apenas sorri, já que ela disse isso em inglês, então eu não precisaria traduzir para .
— Certo. — Meu irmão disse, mas seu sorriso era claramente forçado. Ele sabia que alguma coisa havia acontecido, mas não queria piorar ainda mais a situação.
— Por que não vamos para a sala ao lado? Acredito que todo mundo já terminou de almoçar. — Minha mãe disse e logo levantou. Meu irmão foi atrás dela, mas e eu demoramos um pouco mais.
— , o que ela disse? — estava muito sério. — Se você não me falar, eu vou perguntar diretamente a ela.
— Ela fez um comentário sobre meu vestido de ontem ser inapropriado, disse que estava marcando demais. — virou as costas e encarou a janela atrás de nós. Suas mãos estavam em punho, e eu sabia que ele estava se controlando para não causar uma cena. Eu segui até ele e passei meus braços por sua cintura. Após alguns instantes, virou e ficou de frente para mim, nós ainda abraçados.
— Olha para mim. — Ele pediu, ainda sério demais. — Você estava absolutamente maravilhosa ontem à noite. — Seu olhar era tão intenso, e suas palavras, tão verdadeiras, que eu tive dificuldade em conter as lágrimas.
— Eu me senti maravilhosa ontem à noite. — Eu respondi, baixinho.
— Você tem nada do que se envergonhar. O vestido era apenas uma roupa, apenas um complemento a você. — Eu sorri em sua direção, sem saber como reagir. Eu nunca sabia o que fazer ou falar quando ele me elogiava assim. — Nós percorremos um longo caminho para você aceitar seu corpo do jeito que é, e eu não vou deixá-la estragar isso com um comentário maldoso. — Eu desviei o olhar.
— Não quero uma cena, . — Ele tocou meu queixo, me fazendo olhar novamente para ele.
— Eu não vou fazer uma... Se ela controlar as palavras. Não vou deixá-la te diminuir porque você não veste 36, . — me abraçou novamente, sua cabeça apoiada sobre a minha. Ele fazia eu me sentir tão pequena.
— Ela queria que eu fosse como ela, mas puxei a estrutura grande do meu pai. Talvez por isso ela me odeie tanto. — Sussurrei, me sentindo fraca demais. apoiou sua testa na minha, respirando fundo.
— Eu amo você exatamente do jeito que você é. Eu só quero que você se sinta confortável com você mesma, porque acaba comigo te ver sofrer por um comentário tão mesquinho e sem fundamento.
— Só vamos acabar logo com isso. — assentiu e seguimos para a sala onde minha mãe e meu irmão nos esperavam.
— Luís, eu tenho uma reunião agora, estou quase atrasada. — Eu andava apressadamente na direção que a secretária havia me indicado.
— , faz seis anos que você não vem pra casa, sério, quando você volta? — Eu revirei os olhos Não era o momento para ter aquela conversa de novo.
— Eu já te falei que não vou voltar e que eu estou ótima. Os hotéis estão crescendo, vou abrir outra filial, inclusive. — Eu podia sentir a surpresa do meu irmão no ar.
— E como não soube disso antes?
— Você só sabe me perguntar quando eu volto. — Dei de ombros. — Eu estou nos Estados Unidos.
— Mas até ontem você estava em Paris! — Ele parecia exasperado.
— Talvez eu tenha esquecido de avisar. — Culpada.
— , você não pode ficar sem me dar notícias assim. Mamãe...
— Luís, eu preciso desligar. — Meu irmão bufou do outro lado da linha.
— Você sabe que ela também se preocupa, do jeito dela.
— Claro, o que você disser. Sério, não se preocupe comigo. Te mando os detalhes da inauguração quando eu os tiver. Tchau.
— Tchau, e responda minhas mensagens! — Eu ri e desliguei. Respirei fundo e bati duas vezes na porta à minha frente. Essa era uma empresa enorme em tecnologia, e eu precisava de um novo sistema para o hotel que eu pretendia abrir aqui.
— Entra. — Abri a porta com cuidado, mas com toda a confiança dentro de mim. Eu não era mais uma novata, não precisava mais provar nada para ninguém.
— Olá, boa tarde. — Eu caminhei confiante até o homem que estava atrás da mesa à minha frente.
— Boa tarde. — Ele parecia assustado.
— Tudo bem? Você parece surpreso. — Arqueei uma sobrancelha em sua direção.
— Uhm, bom, não esperava alguém tão... jovem. — Eu sorri em sua direção. Estava acostumada com esse tipo de comportamento.
— Eu comecei cedo. — Dei de ombros, não querendo continuar nesse assunto.
— Você tem o quê, vinte e cinco anos? — Eu ri.
— Deixa eu te dar um conselho — Eu me aproximei da sua mesa e ele fez o mesmo. — Sempre que for chutar a idade de alguém, sempre jogue para baixo. — Eu disse e voltei a recostar na cadeira. Ele estava atônito. — Eu tenho vinte e quatro. — Cedi, finalmente.
— Eu tenho vinte e sete. — Eu prendi o riso, sem entender. — Enfim, só pareceu o justo a se dizer. — Ele estava desconfortável. Apenas assenti, estava achando o desconforto dele muito engraçado. De repente, ele se levantou e estendeu a mão para mim. — Eu sou . — Levantei e o cumprimentei novamente.
— . É um prazer conhecê-lo. — Disse, segurando o riso.
— A senhorita está se divertindo às minhas custas? — Ele sorriu de lado, ainda sem soltar minha mão.
— Talvez.
— Está tudo bem com vocês? — Meu irmão perguntou assim que chegamos à sala.
— Claro, tudo ótimo. — estava tenso ao meu lado. Nós nos sentamos em um sofá mais afastado, de frente para a minha família.
— Quais são os próximos planos que tem aqui no Brasil? — Minha mãe perguntou, em inglês. Acho que ela percebeu a feição nada alegre do .
— Eu não pretendo ficar muito aqui no Rio, acredito que semana que vem eu vá para São Paulo e depois para o Sul. Preciso estudar algumas cidades para ver se meu hotel teria público.
— E seu namorado veio apenas te acompanhar? — Ela sorriu para . Ele permanecia em silêncio ao meu lado, com um braço sobre meus ombros.
— Ele me ajuda com a parte da tecnologia, a empresa dele é responsável por todos os meus hotéis. — Coloquei uma mão sobre sua perna, o tirando sutilmente de onde quer que sua mente estava.
— Bom que estão sempre juntos. Vejo várias fotos de vocês pelo mundo. — Eu me recostei sobre o peito do , não sabendo onde minha mãe queria chegar com essa conversa.
— A gente gosta de viajar.
— E depois vão voltar direto para os Estados Unidos? — Meu irmão perguntou.
— Sim, nós temos algumas coisas para resolver lá, algumas reuniões já estão até marcadas.
— E vocês pretendem se casar lá? — Eu engasguei com a minha própria saliva, assustada com sua pergunta repentina. começou a rir da minha reação, pelo menos isso fez com que seu humor melhorasse um pouco.
— É bem provável que seja lá, sim, mas ainda não conversamos sobre isso. — Eu o encarei, não entendendo sua resposta. Nós nunca tínhamos conversado sobre casamento.
— E não pretendem fazer nada aqui no Brasil? Na sua casa? — Eu ri.
— Eu não tenho casa no Brasil. — Minha mãe me encarou, assustada.
— E sua família aqui? — Eu dei de ombros.
— Quem quiser ir, posso fretar um avião. Minha vida não é aqui, meus amigos estão lá.
— Então seus amigos são mais importantes que sua própria família? — Ela mudou para o português.
— Que família? Eu saí de casa faz dez anos porque a senhora disse que eu era um estorvo na sua vida. A única coisa que sempre fez foi julgar meu peso, tirar comida da minha mão e jogar na minha cara que eu só dava trabalho. Não falo com minhas tias e primos desde que saí do país. Que família? — Perguntei novamente, tremendo de raiva. estava segurando minhas mãos, sem entender nada do que estava acontecendo.
— Continua a mesma menina mimada de sempre. — Ela se levantou.
— Mimada? Eu trabalho desde que eu era uma adolescente para não ter que te pedir um centavo. — Eu também me levantei.
— Quando você tiver os seus filhos, você vai me entender.
— Não, quando eu tiver os meus filhos, eu vou ser uma mãe muito melhor do que você jamais foi. — Eu peguei minha bolsa sobre o sofá. — Vamos, . — Ele logo levantou, mesmo que sem entender o que tinha acabado de acontecer.
— Irmã, não precisa ir embora assim. — Luís disse, e eu o encarei, séria.
— A gente se fala depois. — apenas acenou para o meu irmão e nós saímos. O carro já estava nos esperando. Assim que entrei no veículo, soltei a respiração com força.
— O que acabou de acontecer? — perguntou, completamente perdido.
— Nós conversamos de volta no hotel, por favor. — Pedi, me aproximando dele, que logo me abraçou apertado.
— O que foi? — perguntou, ainda se recuperando de seu ataque de riso de alguma coisa idiota que eu disse.
— Todas as suas reuniões de negócios são assim? — Ele arqueou uma sobrancelha.
— Assim como? — Eu sorri em sua direção.
— Fora da empresa, em um restaurante legal, conversas não relacionadas ao trabalho... — Eu enumerei. Desde a nossa primeira conversa, em seu escritório há mais ou menos um mês, eu não entendia o que se passava na cabeça do . Ele lidava com tudo relacionado ao hotel pessoalmente, supervisionava cada etapa do processo, estava em todas as reuniões...
— Na verdade, não. — Ele se ajeitou na cadeira, meio sem saber o que dizer. Eu tinha a impressão que o deixava sempre desconfortável. — Só com você. — Eu desviei o olhar, ainda sem entender nada. Voltei a olhar para ele quando ouvi seu longo suspiro. — Você sempre faz isso.
— Isso o quê? — Disse, surpresa com seu tom desapontado.
— Você puxa o assunto e depois volta atrás. Você joga as coisas, mas nunca se mantém até ouvir o final. — Eu abri a boca algumas vezes para rebater, mas nenhum som saía. — Exatamente. Faz um mês que estou querendo te chamar para sair de verdade, em um encontro sem ser só sobre trabalho, porque às vezes você me dá abertura, mas às vezes parece tão fechada que eu não sei mais como dizer de uma maneira sutil que eu estou completamente interessado em você. — Eu arregalei meus olhos em sua direção, sem saber como responder.
— Uhm... Você está interessado em mim? — Perguntei, idiotamente.
— Por que você parece tão surpresa? — apoiou os braços sobre a mesa, dedicando toda sua atenção para mim.
— Bom, homens... Como eu posso dizer isso? Homens não gostam de mulheres como eu. — Ele me encarava como se eu tivesse contado o maior absurdo do mundo.
— Do que exatamente você está falando? Homens não gostam de mulheres bonitas e bem-sucedidas? — Ele parecia verdadeiramente chocado.
— Homens não gostam de mulheres... Uhm... Grandes como eu. — Falei, logo pegando o copo com água e tomando um grande gole. apenas me encarava, sem fala. — Eu preciso ir...
— Não, não, não. Você não pode me falar um absurdo desses e me deixar aqui. Quem foi o idiota que te disse isso? — Sua raiva me deixou levemente comovida.
— Minha mãe. — Sua surpresa era tão grande, que me fez rir.
— O que ela te disse não é verdade, todo mundo vai encontrar alguém para amar. — Eu ri, com um pouco de deboche.
— Certo. — Esse assunto já estava indo longe demais.
— Então você está dizendo que eu estou fingindo meu interesse? Que eu menti pra você? — Ele perguntou, muito sério.
— Eu não disse isso...
— Você disse exatamente isso. — Eu suspirei.
— É melhor a gente encerrar a noite por aqui. — Eu disse, já retirando o guardanapo do colo e me preparando para levantar.
— Então é isso? Você vai simplesmente ir embora? — Ele perguntou, exasperado.
— O que você quer que eu diga, ?
— Você não sente o mesmo, é isso? — Ele recuou na cadeira, recostando. Seu olhar, antes tão confiante, agora mostrava dúvida.
— ... Eu... — Minhas mãos suavam. Eu não conseguia acreditar que um cara tão bonito e legal como ele estava interessado por mim. — Eu, sei lá, sou cheia de estrias. — Falei a primeira coisa que veio à minha mente.
— Eu também tenho várias. — Ele disse, até que bem rápido, se analisarmos o choque em seu rosto.
— Tenho muita celulite, eu amo refrigerante.
— Quem não tem celulite nessa vida, ? — Ele arqueou uma sobrancelha em minha direção.
— Sabe o “tchauzinho” do braço? — Eu mostrei para ele. — Pois é, eu também tenho.
— Eu não ligo.
— Eu não tenho uma barriga chapada.
— Muito menos eu. — Ele rebateu.
— Eu nem me depilo com a frequência que deveria. — não conseguiu conter o riso.
— E para que exatamente você quer se depilar? — Sua confiança havia voltado, e eu estava completamente hipnotizada pelo sorriso que ele me lançava. — Tudo o que você me disse é apenas estético, , nada disso faz de você quem você realmente é. Você é engraçada, não desiste fácil das coisas, sempre corre atrás do que quer, tem uma inteligência para não só abrir um hotel sozinha, mas transformar em um negócio enorme. E, sim, você é incrivelmente linda, só não consegue enxergar isso. Ainda.
— E você disse isso tudo para ela? — estava tendo dificuldades de conter o riso.
— Sem tirar nem por. — Falei, suspirando. Ele logo me abraçou, beijando o topo da minha cabeça.
— Estou extremamente orgulhoso de você. Não acredito que jogou todas essas verdades na cara da sua mãe. — Eu o encarei. — O que foi?
— Não sei, eu só... — Eu pausei, sem conseguir colocar em palavras tudo o que se passava dentro de mim. — No fundo, bem no fundo, eu achava que ela tinha mudado, que ela me receberia de braços abertos, que ela teria orgulho de tudo o que eu conquistei. — me encarava, preocupado.
— Eu não sabia que se sentia assim. — Ele me abraçou mais apertado.
— Eu evito pensar nela a maior parte do tempo. — Dei de ombros, como se fosse nada de mais.
— Quando você vai entender que eu me importo com exatamente tudo que está relacionado a você, meu amor? — me encarava sério, mas seu tom era nada menos do que terno. Eu sorri para ele.
— Eu sei. Você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, sabia? — Eu apoiei minhas mãos em seus ombros, aproximando nossos rostos. Nós estávamos sentados no sofá, e conseguiu me colocar sobre seu colo sem esforço algum.
— Eu amo tanto você, , mas tanto. — Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto, e ele rapidamente a limpou. Logo seus lábios já estavam sobre os meus, e me ergueu em seus braços, indo para o nosso quarto.
me imprensou contra a porta do meu apartamento, seus lábios estavam sedentos sobre os meus. Suas mãos passeavam pelo meu corpo, como se ele não conseguisse se decidir onde apertar primeiro. Descolei nossos lábios por um instante, buscando por ar. Ele desceu seus beijos por meu pescoço, deixando leves mordidas pelo caminho.
— Eu... Eu... — Comecei a dizer, mas seus lábios me interromperam. parecia cansado de se curvar tanto para me beijar, então deu impulso na minha bunda para que eu cruzasse minhas pernas em sua cintura.
Ele não iria me aguentar.
Nós iríamos cair.
continuava me beijando com a mesma intensidade, uma das suas mãos estava firme na minha bunda, me mantendo, com aparente facilidade, no ar, mas minha mente não conseguia se desligar.
— Me coloca no chão, . Agora. — Ele parou de me beijar, me encarando, confuso.
— Qual o problema? Você é muito baixinha para mim. — Ele riu, mas seu sorriso murchou ao ver minha expressão séria. — O que foi, , eu fiz alguma coisa de errado? — Seu olhar era preocupado.
— Só me coloca no chão. — Eu respirava com dificuldade, e podia sentir lágrimas se formando em meus olhos. , ainda que hesitante, me colocou no chão. — Acho melhor eu entrar.
— ...
— Boa noite, , eu me diverti muito hoje. — Eu virei as costas, escondendo as lágrimas que começaram a escorrer pelo meu rosto. Já com as chaves na minha mão, eu abri a porta, mas, antes de conseguir fechar, usou sua mão para me impedir.
— Não é assim que as coisas funcionam. — Ele disse, sua voz baixa, mas confiante. — Por que você está chorando? — elevou o tom da sua voz ao perceber meu estado. Ele logo fechou a porta atrás de si e veio atrás de mim até a sala.
— Eu sou toda fodida, , ‘tá bem? Achei que já tivesse deixado isso bem claro! — Eu abri os braços, cansada demais de viver odiando a mim mesma. — NÃO SE APROXIMA DE MIM! — Eu gritei quando ele veio em minha direção, com os braços prestes a me abraçar. — Não encosta em mim. — Eu mal conseguia enxergá-lo agora, as lágrimas caíam grossas pelo meu rosto, meu coração doía tanto que eu tinha medo de desmaiar a qualquer momento.
— Conversa comigo. O que disparou tudo isso? — ergueu as mãos, mostrando que não se aproximaria. Eu me abracei, andando de um lado para o outro.
— A gente ia cair, eu tinha certeza de que a gente ia cair. — Eu murmurei, mais para mim mesma.
— Quando? — Ele não entendia.
— Ela sempre disse que não seria como nos filmes, não para mim. Ela sempre disse isso. — Eu continuava perdida demais em mim mesma.
— Ela quem? — Eu podia ouvir sua voz desesperada, podia sentir que ele queria vir até onde eu estava, mas ninguém tocou em mim.
— Ela disse que nenhum homem conseguiria me carregar por aí, que eu era grande e gorda demais para esse tipo de brincadeira, ou durante uns amassos. Ela disse... — Eu virei de frente para o , ainda que o enxergasse de maneira borrada, devido às lágrimas. — A gente ia cair. — Eu sussurrei.
— Eu posso me aproximar de você agora? — Eu balancei a cabeça, negando. Ninguém queria me tocar, me abraçar, nunca. Eu não sabia o que fazer, ou o que sentir. — Ok. Eu vou ficar aqui, esperando.
Não sei por quanto tempo ficamos de pé um na frente do outro, mas em algum ponto meu corpo relaxou. Foi então que veio em minha direção e passou os braços ao meu redor. Ele deixou um leve beijo na minha testa e levou seus lábios até meus ouvidos.
— Você confia em mim? — Ele sussurrou. Eu assenti levemente, meus olhos fechados com força, apenas sentindo seu carinho. Suas mãos desceram até minha bunda, e eu sabia o que ele iria fazer em seguida.
— ...
— Calma. Você disse que confiava em mim. — Ele me interrompeu. — Olha para mim. — pediu com tamanha ternura, que novas lágrimas formaram em meus olhos. Ele deu impulso de novo, fazendo com que minhas pernas cruzassem ao redor da sua cintura. Meus olhos estavam fechados com força, meu coração batia acelerado. Eu só esperava pela queda. — Eu não vou te deixar cair, nunca. — Eu escondi meu rosto em seu pescoço, sem saber o que fazer. — ?
— Oi? — Respondi baixinho.
— Eu posso te segurar aqui a noite toda, como já deve ter percebido, mas acho que é melhor a gente ir para a cama. Nós precisamos acordar cedo amanhã. — Eu o encarei, assustada. — Só para dormir, eu realmente não quero te deixar sozinha hoje à noite.
— Tudo bem. — Eu suspirei, esperando-o me colocar no chão.
— Não, não, só me aponta a direção do quarto.
— Mas...
— Sem mas, está tudo bem. — me beijou e seguiu na direção que eu apontei.
Eu não entendia. Mamãe mentiu para mim esse tempo todo?
— Vamos, dorminhoca, está na hora de levantar. — Eu virei na cama, escondendo meu rosto sob o travesseiro.
— Só mais um pouquinho. — Pedi. gargalhou, e eu não consegui segurar o riso. Senti o lençol ser gentilmente tirado de cima de mim, mostrando minhas costas nuas. começou a fazer desenhos sem sentido ali, me fazendo arrepiar.
— Nós temos uma reunião marcada, amor. — Ele começou a distribuir beijos pelo meu pescoço enquanto suas mãos tiravam o resto do lençol sobre o meu corpo. Ouvi seu longo suspiro e mordi meu lábio. Ele não cansava de me observar.
— Você não está ajudando em nada meu processo de sair dessa cama. — Disse, me virando de frente para ele. suspirou novamente, seus olhos descendo pelo meu corpo. — Meu rosto está aqui em cima, sabe. — Provoquei.
— Aham. — começou a me beijar, suas mãos percorrendo cada pedaço de pele que ele conseguia alcançar.
— A gente tem reunião marcada, amor. — Repeti sua fala, segurando o riso. me encarou com um sorriso de canto nos lábios.
— Eles vão poder começar nada sem a gente. — Não consegui conter a gargalhada.
— Vamos tomar banho, você sabe que odeio me atrasar. — bufou, apenas me fazendo rir mais.
— Você é má, , muito má. — Eu me levantei, ainda nua, e segui para o banheiro. se jogou na cama, encarando o teto. Eu me apoiei no batente da porta do banheiro, o encarando sobre a cama.
— Achei que fosse me acompanhar. — Fingi um suspiro de decepção. — Tinha alguns planos para esse banho. — logo me encarou, e em poucos segundos estava de frente para mim, com um largo sorriso em seus lábios.
— Me conte mais sobre esses planos. — Ele disse após me pegar no colo e fechar a porta atrás de nós.
— Não aguento mais usar esses fones. Já decidi: vou aprender a falar português. — e eu havíamos terminado a reunião um pouco mais tarde do que o planejado, e eu estava morrendo de fome.
— Eu posso te ajudar com isso. — Beijei-o na bochecha. — Mas agora eu preciso comer. — Ele riu.
— Você com fome é um perigo. — Notei seu sorriso desaparecer assim que abriu a porta do meu escritório.
— Mãe. — Eu verdadeiramente não a esperava. estava tenso ao meu lado, sem saber o que fazer. — Não sabia que viria.
— Espero não estar atrapalhando. — nos encarava, já que estávamos conversando em português.
— Não, nós estávamos em reunião. Está esperando faz muito tempo? — Mudei a conversa para o inglês, e relaxou visivelmente.
— Pouco mais de dez minutos. — Também relaxei um pouco quando ela me respondeu em inglês. Eu segui até minha mesa, deixando uns documentos e checando outros.
— Nós vamos almoçar agora, se quiser nos acompanhar. — Eu sugeri, dando de ombros, mas por dentro meu coração batia acelerado.
— Eu gostaria de conversar com você, a sós. — Eu me aproximei do , sentindo que ele iria fazer uma cena.
— Nem pensar. — Ele disse assim que o abracei.
— ... — Eu comecei, mas ele não me deixou dizer nada além disso.
— Não, , não confio nela sozinha com você. — Minha mãe nos observava, estava se controlando ao máximo para não elevar o tom de voz. Eu sorri para ele.
— Eu vou ficar bem, confia em mim. — Pedi.
— Eu confio em você, é nela que confio nada. — apoiou a testa na minha, não gostando nada da ideia.
— Eu encontro você logo em seguida e conto tudo, eu prometo. — Beijei-o rapidamente e me virei para minha mãe. — Vamos? — Segurei a porta aberta para ela passar. apenas acenou quando ela o cumprimentou.
— Eu vou almoçar no quarto, qualquer coisa é só ligar que eu desço correndo. — Ele me beijou. — Eu amo você.
— Eu também te amo. — Sorri em sua direção e encontrei com Eliza no corredor.
— Acho que seu namorado não gosta muito de mim. — Ela disse quando a porta do elevador fechou. Eu apenas dei de ombros. Era verdade, mas eu não iria admitir.
estava com os braços ao meu redor, seu peito nu colado nas minhas costas. Depois de muitos encontros e amassos, nós tínhamos transado.
E tinha sido incrível.
A forma como ele olhava para mim era como se não houvesse nada mais lindo. Mesmo dormindo, seu corpo não se afastava do meu, suas mãos não saíam de mim.
Mas eu estava tão assustada.
Encarei o relógio sobre o criado mudo: 3:30AM. Suspirei.
Eu não estava preparada para expor meu corpo assim. E quando amanhecesse?
— Você está pensando demais. — sussurrou, beijando meu ombro. Minha respiração ficou acelerada com o susto. — Quer que eu te solte? — Ele sugeriu, já movendo um dos braços.
— Não! — Eu o segurei no lugar, me sentindo envergonhada no segundo seguinte ao perceber o quão desesperada minha voz soou. — Não me incomoda. — me virou de frente para ele. Assim que seus olhos encararam os meus, senti um arrepio percorrer todo o meu corpo.
— Qual o problema? — Seu tom era gentil. Eu me aproximei dele, escondendo meu rosto em seu pescoço.
— Eu odeio meu corpo, morro de vergonha dele. — Seus braços me envolveram apertado. Após alguns instantes, subiu em cima de mim, me colocando de costas sobre a cama. Ele pegou minha mão e levou até uma parte específica da sua bunda.
— Consegue sentir? — Ele riu da minha expressão de choque. — Relaxa, . — Eu passei meus dedos onde ele colocou minha mão. — Eu tenho várias estrias na bunda. — Ele deu de ombros e subiu minhas mãos para as suas costas. — Consegue sentir aqui também? — Eu balancei a cabeça, assentindo. — Eu cresci muito na minha adolescência, e isso deixou estrias nas minhas costas, daquelas bem vermelhas. Eu fiz tratamento a laser e hoje elas são bem melhores, mas houve uma época que nada nem ninguém conseguia me fazer tirar a camisa.
— Mas... — Eu o encarava, achando difícil acreditar que ele alguma vez já se sentiu desconfortável com seu próprio corpo. Ele parecia sempre tão confiante.
— Eu não sou perfeito, , e isso não importa. Eu verdadeiramente não me importo com nenhuma das marcas que você diz tanto odiar. Sua altura para mim é a ideal, seu corpo parece que se encaixa perfeitamente no meu. — Ele colocou um pouco mais do seu peso sobre mim. — Nós somos pessoas reais, com marcas da vida. Isso não te faz melhor nem pior do que ninguém. — Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Ele fazia eu me sentir tão bem, e isso me assustava tanto.
— Eu tenho tanto medo, . — Ele limpou meu rosto, aproximando seus lábios dos meus.
— Eu sei, mas a gente vai ficar bem. Confia em mim?
— Confio.
Nós já estávamos no prato principal, e minha mãe não havia dito uma palavra. Se ela veio me procurar, eu que não iria ficar mantendo uma conversa sobre nada apenas para preencher o silêncio.
— Você parece com fome. — Claro que isso tinha que ser a sua primeira frase. Eu apenas balancei a cabeça, rindo sem acreditar.
— Eu fiquei em reunião desde às 9h — encarei o relógio que tinha no salão —, e agora são 16h. Acho que tenho todo o direito de ter fome. — Sorri em sua direção, o sarcasmo escorrendo pelos meus lábios. Minha mãe voltou a ficar em silêncio, e eu não iria parar de comer como fiz por tantos anos, indo para o meu quarto morrendo de fome porque ela disse que já era o suficiente.
— As senhoras vão pedir alguma sobremesa? — O garçom perguntou, já retirando nossos pratos.
— Sim, por favor. Quero mousse de maracujá. — Minha mãe apenas negou com a cabeça, sua expressão séria, e claramente desaprovando minha escolha. Eu não iria deixá-la me atingir.
— Não gostei das coisas que me disse e da forma como saiu de casa depois do almoço. Você volta depois de dez anos e é assim que me trata? — Eu controlei o riso quando minha sobremesa chegou. Eu, calmamente, abri o pote e dei uma colherada. Estava delicioso.
— É exatamente esse seu olhar me julgando comer que eu precisei de muitos anos de terapia para superar. — Falei, voltando a comer. Eu não iria medir as palavras mais.
— Você fez terapia? — Eu ri.
— Fiz não, faço. Minha psicóloga é minha discagem rápida, ainda fica um pouco sentido com isso. — Ela me encarava, perplexa. — Você está me olhando como se eu fosse louca. — Brinquei, terminando minha sobremesa.
— Eu... Eu não sabia. — Ela disse, completamente sem palavras.
— Claro que não, a senhora nunca se interessou por nada da minha vida além do meu peso. E, sinceramente, se até hoje não conseguiu enxergar o quão mal me fez, não vejo motivo para ficarmos aqui nessa conversa sem sentido. — Dei de ombros, ainda não acreditando no que eu estava dizendo. — Tem alguma coisa que queira me dizer? — Perguntei.
— Não. — Ela disse após alguns minutos em silêncio. Eu sorri em sua direção.
— Como eu já esperava. Adeus, mãe. — Levantei e a deixei ali. O pior de tudo era que, bem no fundo, eu tinha esperanças de uma reconciliação, que ela iria se desculpar e dizer que, da sua maneira deturpada, era isso que ela achava que era o melhor para mim. No fundo, eu queria acreditar que um dia ela seria capaz de me amar por quem eu era.
Mas parecia que eu estava enganada.
Eu estava sentada em uma bancada na janela, encarando o céu do fim de tarde e a enorme imensidão azul do mar. Eu me sentia tão mais leve depois de dizer aquelas coisas para a minha mãe, ainda que não chegasse nem perto de tudo o que ela precisava ouvir.
havia saído, e eu não fazia a menor ideia de onde ele poderia ter ido.
Continuei observando a paisagem. As ondas estavam fortes e não havia banhistas na praia, ainda que estivesse um belo dia.
Ouvi um barulho na porta e logo a voz do preencheu o ambiente.
— Não, não tem vírus. Eu já resolvi. — Ele fez uma pausa. Eu podia sentir que estava extremamente impaciente. — Sim. — Ele chegou onde eu estava e eu o encarei, sorrindo em sua direção. — Não tem mais nada, eu garanto. Eu te ligo depois... — suspirou.
— Algum problema? — Ele correu na minha direção, me abraçando.
— Eu estava tão preocupado. — Ele distribuiu vários beijos pelo meu rosto. — Assim que eu acabei de comer, me ligaram dos EUA. Deu um problema e eu tive que correr para o seu escritório para tentar resolver, e você não chegava nunca.
— Ei, ei, ei. — Interrompi-o. — Respira, amor. Muito bem. — Passei meus braços sobre seus ombros, puxando-o para perto de mim. — Conseguiu resolver?
— Sim, ainda que eu estivesse desesperado por notícias suas. — Ele suspirou, afundando seu rosto em meu pescoço. Eu ri. — Você parece... bem.
— Eu estou.
— O que ela queria, afinal? — parecia confuso.
Eu contei todo nosso almoço, não escondendo parte alguma dele. Sua cara de espanto com as coisas que eu disse para minha mãe foi impagável.
— E foi isso. Realmente não faço ideia do que ela queria realmente. — Ele sorriu.
— Estou adorando essa coisa de você jogar todas essas verdades na cara da sua mãe.
— Ela disse que acha que você não gosta muito dela. — Falei, e ele deu de ombros.
— Não gosto mesmo, como poderia? O que você respondeu? — Ele quis saber, curioso.
— Nada, não iria confirmar assim, ! — Ele me apertou junto a ele.
— Gosto de te ver assim, ainda mais depois de um encontro sozinha com ela. Eu fiquei verdadeiramente muito preocupado, . — estava sério de novo.
— Eu sei, mas eu estou bem.
— Eu queria ter visto a cara dela quando disse que fazia terapia. — Nós rimos.
— Engraçado como as pessoas ainda têm preconceito com isso.
— Pronto, essa é a última caixa. — a colocou com cuidado na sala do meu novo apartamento.
— Ainda não acredito que me convenceu a comprar um apartamento, seria muito mais fácil ficar no hotel. — Falei, abrindo uma das caixas.
— Nós realmente vamos ter essa conversa de novo? — Ele arqueou uma sobrancelha em minha direção. Dei de ombros. — , vai fazer um ano que está morando aqui, no hotel você tem zero descanso, sempre tem alguém te procurando para coisas que eles mesmos podem resolver. Você não tem seu espaço do jeito que você quer. Você só tinha um porta-retratos lá porque eu coloquei. — Ele estava enumerando com os dedos.
— Isso realmente te incomodava, né? — Eu larguei meus poucos pertences e andei até ele. suspirou quando o abracei pela cintura.
— Muito. — Eu sabia que ele tinha mais para dizer, mas ele se segurou. — Eu quero que você tenha sonhos, que você crie raízes. Eu só quero que você seja feliz. — Ele me deu um beijo na testa.
— Você me faz feliz. — Eu afirmei, olhando em seus olhos.
— O que você quer nesse apartamento? O que sempre quis ter, mas nunca teve seu espaço ou porque nunca colocou suas vontades na frente dos negócios. — Mordi meu lábio, com vergonha. — Então você tem um desejo. Vamos, me conta. — parecia verdadeiramente empolgado. Eu o segurei pela mão e o puxei pelo apartamento.
— Um dos motivos de eu ter comprado esse apartamento...
— Além de ficar próximo ao meu. — Ele me interrompeu e eu revirei os olhos. Um sorriso bobo em seus lábios.
— Um dos motivos foi esse cômodo. — Era um cômodo bastante iluminado, uma das paredes era toda de vidro que mostrava uma enorme parte de um parque, com árvores imensas e vários campos com flores.
— Qual a sua ideia? — perguntou depois de algum tempo encarando a vista.
— Eu quero uma biblioteca. — Ele logo me encarou, um enorme sorriso surgindo em seu rosto. — Eu quero aquelas poltronas enormes e extremamente confortáveis bem aqui. — Eu apontei um espaço bem de frente para a janela.
— Eu acho uma excelente ideia. — andou até mim, colocando suas mãos em ambos os lados do meu rosto. Os últimos raios do sol entravam pela janela, nos envolvendo.
— O que foi? — Perguntei quando ele me encarava há tempo demais sem dizer uma palavra.
— Eu nunca vi esse brilho tão intenso nos seus olhos antes, você parece verdadeiramente feliz. — Uma lágrima escorreu do seu rosto, e eu logo a limpei.
— Por que... Por que você está chorando? — Meus olhos se encheram de lágrimas, porque eu podia sentir o que ele diria, eu sabia exatamente o que viria.
— Porque eu venho segurando essas palavras há tempo demais, me controlando a cada momento porque eu nunca senti que você estava preparada para ouvir. Porque eu sabia que você ainda não seria capaz de acreditar. — Contive um soluço, as lágrimas agora escorrendo pelo meu rosto livremente.
— ... — Sussurrei. Ele limpou algumas lágrimas minhas, não se importando com outra lágrima sua que caía.
— Eu amo você, . E ver você assim, feliz, fazendo planos... Eu sei que a gente está namorando há pouco mais de dez meses, e talvez você não sinta o mesmo... — Eu o beijei, desesperada para mostrar o quão bem ele me fazia sentir. Eu precisava que ele entendesse o quanto ele era importante nessa minha mudança. E o quanto eu o amava.
Afastei-me um pouco, nossas testas coladas. Quando abri os olhos, não me encarava. Seus olhos estavam fechados com força.
— Olha pra mim. — Pedi. Bem devagar, ele abriu os olhos e me encarou. — Eu amo você. Eu jamais imaginei que algo assim fosse acontecer comigo, mas você me prova o contrário a cada dia que passa, . Você fez muito mais que me amar, você me ensinou a amar a mim mesma, e por isso eu jamais terei como agradecer o suficiente.
— Hora de voltar para casa. — colocou a última mala na porta. Eu encarava o mar pela sacada do hotel, meus pensamentos a mil. — Resolveu tudo o que precisava? Ainda temos um tempinho, caso queira fazer alguma coisa. — Ele me envolveu pela cintura.
— Falta só uma coisa. Poderia pedir para já descerem nossas malas? Preciso fazer uma parada antes de irmos para o aeroporto. — Ele me encarou, preocupado.
— Claro. Posso saber aonde vamos?
— Na casa da minha mãe. — abriu a boca algumas vezes, mas nada disse. Em seguida, ligou para a recepção.
— Tem certeza de que não quer que eu desça com você? — Seu olhar era preocupado, mas era algo que eu tinha que fazer sozinha.
— Sim, não vou demorar. — Dei um rápido beijo em e desci do carro. Assim que entrei na casa, senti minha respiração falhar. Eu estava nervosa.
— . — Minha mãe cumprimentou assim que cheguei à sua sala de visitas. — Acredito que tenha vindo se despedir. — Ela fez menção de levantar, mas eu indiquei que não precisava. Depois do nosso almoço no hotel, não havíamos trocado nem mais uma palavra.
— Por muito tempo eu achei que o problema fosse eu. Será que eu não valho a pena? Será que não sou boa o bastante para ela? Eram tantas perguntas na minha mente que eu sempre ficava perdida, e nunca achava respostas. — Eliza iria dizer alguma coisa, mas não permiti. — Quando fui embora, eu me perguntava o tempo todo se a senhora notaria. O primeiro mês longe foi péssimo. Ainda que tivesse muitas perguntas, todas giravam em torno de uma: será que você poderia me amar mesmo se tentasse?
— ... — Minha mãe disse, mas eu apenas continuei.
— Eu sempre achei que todas as mães amassem e cuidassem dos seus filhos, mas essa fase ficou para trás há muito tempo. Todas as cicatrizes que você me deixou, eu não escondo mais, porque eu finalmente consegui me encontrar. Toda a dor que me causou, eu usei como combustível e nunca desisti. Eu lutei demais pra chegar onde estou, para construir tudo o que eu tenho hoje. Eu não preciso do seu arrependimento, não preciso do seu amor, carinho ou cuidado, porque agora eu sei meu valor, as feridas já cicatrizaram. — Eu respirei fundo antes de continuar. — Eu nunca ganhei o seu amor. Acho que você sempre quis o melhor, sinto muito, já que claramente não sou eu. Isso é tudo o que eu posso ser, e quer saber? Eu estou extremamente feliz. Eu tenho um namorado que me ama e que não poderia ligar menos para o meu peso ou para o meu manequim. Um namorado que me carrega no colo por aí, coisa que você sempre disse que eu jamais teria. Você quase conseguiu me destruir por completo, mas quase. Eu só queria que você me amasse, mas eu nunca fui boa o bastante para você, a diferença é que agora eu não me importo. — Sorri em sua direção, limpando uma lágrima solitária que escorreu pelo meu rosto. — Agora eu tenho todas as respostas daquelas perguntas: eu valho a pena, eu sou boa o bastante, eu sou linda... Eu amo meu corpo, eu amo minha vida, eu amo meu trabalho. E é aquilo que dizem: você não pode sentir falta daquilo que nunca teve. — Dei de ombros, virando as costas, mas me virei para dizer uma última coisa. — Desejo verdadeiramente tudo de melhor para a senhora, mãe, e, se precisar de mim, eu virei correndo. Mas jamais pense que preciso de qualquer coisa de você, ou que pode se intrometer na minha vida, porque perdeu esse direito há muito tempo. — Encarei minha mãe pela última vez, seu rosto impassível. — Adeus. — Sorri e me virei, saindo da casa.
— Tudo bem? — perguntou assim que entrei no carro.
— Nunca estive melhor. — Beijei-o rapidamente, segurando sua mão e entrelaçando nossos dedos. — Vamos para casa. — sorriu para mim, levando minha mão até seus lábios.
— Vamos para casa.
Fim
Nota da autora: Oi, pessoas lindas! Como estão? ^^
Essa música da Little Mix é tão maravilhosa e tão importante pra mim, que precisei pensar muito antes de escrever essa fic. Eu espero do fundo do meu coração que tenha conseguido me expressar bem, ainda que seja um tema bastante delicado, pelo menos pra mim.
O que eu queria deixar aqui é: nunca deixe ninguém diminuir você nem pela sua aparência nem por nada. Você é importante, você é lindx e ninguém tem o direito de dizer o contrário. Ame a si mesmo, seja sua melhor companhia, seja feliz com quem você é.
É só o que tento fazer todos os dias, e espero que essa mensagem possa te ajudar de alguma forma.
Bom, é isso. Espero que gostem e, se puderem, não deixem de comentar! Muito obrigada por tudo!
Larys
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- 08. The Heart Never Lies - Ficstape #011
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- Mixtape: Um Anjo Veio Me Falar - Mixtape: Brasil 00's
- Mixtape: Não Resisto a Nós Dois - Mixtape: Brasil 00's
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Essa música da Little Mix é tão maravilhosa e tão importante pra mim, que precisei pensar muito antes de escrever essa fic. Eu espero do fundo do meu coração que tenha conseguido me expressar bem, ainda que seja um tema bastante delicado, pelo menos pra mim.
O que eu queria deixar aqui é: nunca deixe ninguém diminuir você nem pela sua aparência nem por nada. Você é importante, você é lindx e ninguém tem o direito de dizer o contrário. Ame a si mesmo, seja sua melhor companhia, seja feliz com quem você é.
É só o que tento fazer todos os dias, e espero que essa mensagem possa te ajudar de alguma forma.
Bom, é isso. Espero que gostem e, se puderem, não deixem de comentar! Muito obrigada por tudo!
Larys
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