Essa era uma daquelas noites que não ia conseguir dormir, eu sabia disso.
Uma sensação estranha me dominava, um aperto no peito, uma angústia sem motivo, um mal estar generalizado que fazia a cama ficar desconfortável. Eu me virava de um lado para o outro. Nada. Voltava para o anterior. Nada. Eu não conseguia me sentia confortável de jeito nenhum ali deitada. Mas não era a cama, o problema era eu, era na minha própria cabeça. Assim, sem motivo algum, eu sentia como se estivesse me sufocando, não conseguia respirar, não conseguia pensar. Só de tentar me acalmar, eu já ficava nervosa novamente, apenas porque não conseguia. E começava um ciclo sem fim de tentar respirar, não conseguir, ficar nervosa por não conseguir respirar e não conseguir novamente por estar nervosa. Era muito difícil passar por esses momentos sozinha, era muito difícil ter ansiedade. Porque quando você comenta algo sobre isso, as pessoas sempre falavam coisas do tipo: “mas você tá ansiosa por quê? vai acontecer algo importante?” ou “ah, eu também estou muito ansiosa, tenho um show para ir no fim de semana e não vejo a hora”.
A grande diferença é que eles estão ansiosos e eu sou ansiosa. Não é algo legal, bonito, que surge quando você tem algo divertido para fazer no fim de semana. Ou porque você quer muito que algo aconteça logo. É um sentimento que te domina por qualquer motivo, o mais bobo e simples que seja, basta uma pessoa dizer que precisa conversar com você, quando alguém com quem você sempre conversou muito, se afasta bruscamente, ou quando algo que te afeta muito psicologicamente está perto de acontecer. A sua mente começa a trabalhar buscando motivos pra aquela conversa ou o afastamento. Você começa a questionar por que a pessoa precisa falar com você. Ela vai brigar contigo? Se for seu parceiro, ele vai terminar? Será que ele te traiu? Nada de bom passa pela sua cabeça, você imagina sempre o pior cenário. Começa a sofrer com as consequências daquela conversa minutos, horas, dias antes dela realmente acontecer e quando acontece, muitas vezes não era nada de muito importante e você percebe que perdeu o sono, passou mal e se preocupou a toa. Era assim que eu viva, dia após dia. Tendo crises inexplicáveis, me que fazia sentir um aperto no peito e uma sensação de que algo ruim estava acontecendo, só porque meu namorado não tinha ligado avisando que estava em casa e isso porque ele estava apenas cinco minutos fora do horário que costumava chegar. Parece exagero? Parece. Mas não é algo que eu possa, simplesmente, controlar. Na minha cabeça, as piores coisas passam como um filme, e eu só preciso saber que ele está bem. Ele ou qualquer pessoa.
Só que hoje eu não tinha motivos para estar assim, eu apenas estava. Fechei os olhos, tentando controlar a respiração, inspirando bem fundo e soltando o ar bem devagar, mas não adiantava. Tentei outra coisa que sempre funcionava, fechei os olhos tentando lembrar dez cores que tinham no meu quarto, tentando esquecer aquela sensação, focando em qualquer outra coisa, mas não consegui lembrar nem de cinco. Numa última tentativa, levantei da cama e deitei no chão frio. A sensação era incômoda, mas também agradável. Deitada e com os olhos fechados, tentei decifrar cinco sons diferentes que conseguia ouvir. Mas minha mente estava trabalhando tão rápido, que eu só conseguia ouvir um zumbido chato e constante nos ouvidos. Minha cabeça já estava doendo e eu estava com a sensação que poderia enlouquecer. Encarei o teto, sem conseguir me acalmar. E quando mais tempo eu demorava, mais nervosa eu ficava e isso era uma combinação horrível. Porém, ainda deitada, voltei a fechar os olhos e tentei focar na primeira coisa que viesse à minha cabeça e foi ele.
Conheci na escola, quando tínhamos dezesseis anos, talvez quinze, não me lembro bem. O que eu lembro é que ele foi meu amigo antes de qualquer coisa. Nosso namoro foi construído na base da amizade. E talvez seja isso que o mantenha tão vivo, tão real e tão inteiro mesmo depois de dez anos. Quando você passa tanto tempo da sua vida com alguém, precisa ter algo além da paixão, porque ela acaba. Você precisa ter amor, precisa ter companheirismo e precisa ter entendimento. Talvez seja por isso que ele foi a primeira coisa que se passou em minha mente, porque dentre tantas coisas no mundo, ele é uma das poucas que eu acredito que posso confiar. Também sei que não devemos ter ninguém como garantia na vida, porque não sabemos o dia de amanhã, mas se eu tivesse a chance de escolher algo pra levar comigo, para sempre, eu escolheria a relação que temos. E presa nesse rodamoinho de emoções, algumas lembranças voltaram com força.
Dez anos antes
Sentei na poltrona do cinema, sentindo o coração batendo um pouco mais forte. sentou ao meu lado e nas duas cadeiras seguintes estavam nossos amigos. Eles já eram um casal e pediram, leia-se, imploraram para que fossemos ao cinema com eles. Tudo ideia do , que queria uma oportunidade para se aproximar e eu sabia. Eu fui sabendo de tudo o que poderia acontecer. As luzes se apagaram e eu o encarei pelo canto dos olhos, vendo que ele parecia tão nervoso quanto eu, talvez ainda mais. O filme começou e tudo parecia muito estranho. Tínhamos ido ver Harry Potter e a Ordem da Fênix, mas o começo filme era todo sobre o espaço, falava sobre a lua e tudo mais. Olhei para os meus amigos, que tinham a mesma cara confusa e depois para , que estava com a expressão normal. Até que apareceu na tela “Transformers”. Nós quatro começamos a rir no meio da sessão, atrapalhando todo mundo. Tínhamos comprado o ingresso errado e ninguém percebeu. Resultado, tivemos que ver um filme que não queríamos. Bem, nossos amigos não viram muito o filme, mas eu e o não estávamos “lá” ainda. Depois que acabou e resolvemos ir embora, meus amigos foram para um lado e me acompanhou até o ponto de ônibus que ficava para o outro. Ficamos em silêncio durante todo o tempo, até que ele se aproximou, ainda sem jeito e me beijou. Não foi um beijo cinematográfico, desses de tirar o fôlego. Foi um beijo calmo, suave e repleto de nervosismo. Foi o único de trocamos naquela noite.
E foi o primeiro de muitos.
Lembro que depois as coisas não desenrolaram muito fácil para nós dois, já que eu não tinha muita certeza se eu queria ficar com ele. Mas depois que eu fui sincera quanto a isso, ele reagiu da forma mais normal possível, se mantendo por perto como meu amigo, sem forçar a barra para nada. Mas conforme o tempo passava e eu passava mais tempo ele, comecei a enxergar as coisas de forma diferente e no final só pude agradecer pelo fato de que ele pode me esperar durante todo o tempo que eu precisei. Porque algumas vezes você não tem certeza de cara, como determinados livros, filmes e novelas mostram. Às vezes você precisa desenvolver e cultivar o sentimento pouco a pouco, dia a dia. estava a minha frente, ele tinha mais noção do que sentia e não tinha medo de me dizer. Foi até um pouco assustador e chocante quando ele disse que me amava. Mas depois disse que não fazia problema se eu não me sentisse assim ainda. Fiquei aliviada, porque eu não tinha certeza do que sentia, eu tinha decidido deixar tudo seguir, sem me preocupar muito. Só que tem coisas que não podemos controlar, não é mesmo? E o amor é uma delas. Ele apenas chega, mesmo que você ainda não queria, mesmo que não esteja preparada. Ele apenas chega. Sem pedir licença ou avisar...
Ainda lembro o exato momento em que percebi que estava apaixonada.
Dez anos antes
Já estávamos namorando há um pouco mais de um mês. Tínhamos matado aula naquela tarde, só para ficarmos sem fazer nada. Sem fazer nada, mas juntos. Sentamos na parte externa da escola e ouvíamos uma música qualquer, dividindo o fone de ouvido. Lembro de olhar pra ele e sentir que tinha algo diferente em mim. Que eu poderia ficar ali pra sempre. Ali ou em qualquer outro lugar, bastava ser ao lado dele. Também lembro de sentir o coração acelerar só com essa certeza, depois piorar quando ele me olhou e sorriu.
- O que foi? – ele perguntou, percebendo que havia algo de estranho em mim.
- Eu acho que te amo. – falei, mordendo o lábio inferior e olhando para a frente, com um pouco de vergonha.
- Você acha? – sua voz soou engraçada, como se ele quisesse rir. Olhei em sua direção, vendo um sorriso fraco em seus lábios, sua mãos estendida para que eu a segurasse e seu olhar preso ao meu, com seus olhos brilhando de forma intensa.
- Não. – coloquei minha mão sobre a sua, entrelaçando nossos dedos. Me aproximei um pouco, juntando nossos lábios por poucos segundos. – Eu tenho certeza.
E eu tenho certeza até hoje. É engraçado, porque conforme o tempo passa, tudo vai se tornando mais claro. Quando éramos jovens e falávamos do futuro, tudo parecia tão distante. Tínhamos dezessete anos, não podíamos falar com a maturidade que temos hoje. Mas agora, com vinte e sete anos, dez anos de relacionamento, que imaginávamos na época da escola, é hoje. E o que imaginamos atualmente, são planos para daqui há anos, um, dois, dez ou vinte, vai depende do que a vida nos proporcionar. Mas a gente sabe que vai querer estar um ao lado do outro. Esses planos, que eram tão soltos e distantes no passado, hoje se parecem mais reais. O sonho de ter uma casa, uma família juntos. Às vezes nem parece mais sonho, é quase uma realidade. Já me pego pensando que daqui a alguns anos, eu terei mais tempo de vida ao lado dele, do que sem ele. Isso me assusta? Um pouco. Me faz querer recuar? Jamais. Porque o tenho com ele, o que sinto ao seu lado, é diferente de tudo o que já vivi na vida. Às vezes parece que o tempo tá correndo rápido demais pra mim, parece que eu não consigo acompanhar. Sinto que não sou mais a jovem que imagino ser. Sinto que devo crescer e ser a adulta que esperam que eu seja. O relógio da vida sempre fala tão alto, né? Suas badaladas estão soando como sirenes de alerta em meus ouvidos. Mas eu também me pego pensando se deveria tanto me preocupar com essas coisas. Talvez a vida tenha um plano para mim, pra nós dois. Não sei. Talvez eu fique confusa quando estou ansiosa. Mas quando penso nisso, lembrar que você acompanha o meu ritmo de caminhada na vida me acalma. Porque a vida também é isso, certo? Encontrar alguém para caminhar ao nosso lado.
I will speak in cursive
Vou falar de forma fácil
About the way it was
Sobre a forma como foi
When days were young but now the clock talks so loud
Quando os dias eram jovens, mas agora o relógio fala tão alto
Articulate and perfect
Articulado e perfeito
About the way it is and we ain't kids
Sobre a forma como é e nós não somos crianças
The clock, it always talks so loud
O relógio, ele sempre fala tão alto
Conforme me lembrei dessas coisas simples, mas significantes, percebi como pensar nele me acalmava. De repente eu não me sentia mais tão mal, não tinha dificuldades de respirar, não sentia como se não coubesse em meu próprio corpo. Não era uma cura, era uma calma passageira, até a próxima crise, mas era bom saber que tinha alguém que ajudava a me acalmar, mesmo distante, apenas com algumas lembranças. E quanto mais pensava nele, mais sentia vontade de falar com ele. Peguei o celular, olhando rapidamente para a hora. Já passava das quatro da manhã e eu não tinha conseguido dormir. estava dormindo, com certeza. Pensei e repensei se deveria ligar e resolvi tentar, ele entenderia. O telefone chamou uma, duas, três, quatro vezes até sua voz de sono e assustada atender.
- O que foi, aconteceu alguma coisa? – ele soou apreensivo do outro lado da linha. Só ouvir sua voz já fez meu coração bater mais devagar. Deixei um sorriso escapar, era alívio. Era calma. A voz dele me acalmava. – , tá tudo bem?
- Tá sim, é que... – falei, com a voz baixa, meio arrastada, de quem estava a beira de um precipício interno, quase caindo para o desconhecido, mas que tinha conseguido se salvar mais uma vez. – Eu só queria falar com você.
And did you know?
E você sabia?
I only wanna talk to you
Eu só quero falar com você
Uma sensação estranha me dominava, um aperto no peito, uma angústia sem motivo, um mal estar generalizado que fazia a cama ficar desconfortável. Eu me virava de um lado para o outro. Nada. Voltava para o anterior. Nada. Eu não conseguia me sentia confortável de jeito nenhum ali deitada. Mas não era a cama, o problema era eu, era na minha própria cabeça. Assim, sem motivo algum, eu sentia como se estivesse me sufocando, não conseguia respirar, não conseguia pensar. Só de tentar me acalmar, eu já ficava nervosa novamente, apenas porque não conseguia. E começava um ciclo sem fim de tentar respirar, não conseguir, ficar nervosa por não conseguir respirar e não conseguir novamente por estar nervosa. Era muito difícil passar por esses momentos sozinha, era muito difícil ter ansiedade. Porque quando você comenta algo sobre isso, as pessoas sempre falavam coisas do tipo: “mas você tá ansiosa por quê? vai acontecer algo importante?” ou “ah, eu também estou muito ansiosa, tenho um show para ir no fim de semana e não vejo a hora”.
A grande diferença é que eles estão ansiosos e eu sou ansiosa. Não é algo legal, bonito, que surge quando você tem algo divertido para fazer no fim de semana. Ou porque você quer muito que algo aconteça logo. É um sentimento que te domina por qualquer motivo, o mais bobo e simples que seja, basta uma pessoa dizer que precisa conversar com você, quando alguém com quem você sempre conversou muito, se afasta bruscamente, ou quando algo que te afeta muito psicologicamente está perto de acontecer. A sua mente começa a trabalhar buscando motivos pra aquela conversa ou o afastamento. Você começa a questionar por que a pessoa precisa falar com você. Ela vai brigar contigo? Se for seu parceiro, ele vai terminar? Será que ele te traiu? Nada de bom passa pela sua cabeça, você imagina sempre o pior cenário. Começa a sofrer com as consequências daquela conversa minutos, horas, dias antes dela realmente acontecer e quando acontece, muitas vezes não era nada de muito importante e você percebe que perdeu o sono, passou mal e se preocupou a toa. Era assim que eu viva, dia após dia. Tendo crises inexplicáveis, me que fazia sentir um aperto no peito e uma sensação de que algo ruim estava acontecendo, só porque meu namorado não tinha ligado avisando que estava em casa e isso porque ele estava apenas cinco minutos fora do horário que costumava chegar. Parece exagero? Parece. Mas não é algo que eu possa, simplesmente, controlar. Na minha cabeça, as piores coisas passam como um filme, e eu só preciso saber que ele está bem. Ele ou qualquer pessoa.
Só que hoje eu não tinha motivos para estar assim, eu apenas estava. Fechei os olhos, tentando controlar a respiração, inspirando bem fundo e soltando o ar bem devagar, mas não adiantava. Tentei outra coisa que sempre funcionava, fechei os olhos tentando lembrar dez cores que tinham no meu quarto, tentando esquecer aquela sensação, focando em qualquer outra coisa, mas não consegui lembrar nem de cinco. Numa última tentativa, levantei da cama e deitei no chão frio. A sensação era incômoda, mas também agradável. Deitada e com os olhos fechados, tentei decifrar cinco sons diferentes que conseguia ouvir. Mas minha mente estava trabalhando tão rápido, que eu só conseguia ouvir um zumbido chato e constante nos ouvidos. Minha cabeça já estava doendo e eu estava com a sensação que poderia enlouquecer. Encarei o teto, sem conseguir me acalmar. E quando mais tempo eu demorava, mais nervosa eu ficava e isso era uma combinação horrível. Porém, ainda deitada, voltei a fechar os olhos e tentei focar na primeira coisa que viesse à minha cabeça e foi ele.
Conheci na escola, quando tínhamos dezesseis anos, talvez quinze, não me lembro bem. O que eu lembro é que ele foi meu amigo antes de qualquer coisa. Nosso namoro foi construído na base da amizade. E talvez seja isso que o mantenha tão vivo, tão real e tão inteiro mesmo depois de dez anos. Quando você passa tanto tempo da sua vida com alguém, precisa ter algo além da paixão, porque ela acaba. Você precisa ter amor, precisa ter companheirismo e precisa ter entendimento. Talvez seja por isso que ele foi a primeira coisa que se passou em minha mente, porque dentre tantas coisas no mundo, ele é uma das poucas que eu acredito que posso confiar. Também sei que não devemos ter ninguém como garantia na vida, porque não sabemos o dia de amanhã, mas se eu tivesse a chance de escolher algo pra levar comigo, para sempre, eu escolheria a relação que temos. E presa nesse rodamoinho de emoções, algumas lembranças voltaram com força.
Dez anos antes
Sentei na poltrona do cinema, sentindo o coração batendo um pouco mais forte. sentou ao meu lado e nas duas cadeiras seguintes estavam nossos amigos. Eles já eram um casal e pediram, leia-se, imploraram para que fossemos ao cinema com eles. Tudo ideia do , que queria uma oportunidade para se aproximar e eu sabia. Eu fui sabendo de tudo o que poderia acontecer. As luzes se apagaram e eu o encarei pelo canto dos olhos, vendo que ele parecia tão nervoso quanto eu, talvez ainda mais. O filme começou e tudo parecia muito estranho. Tínhamos ido ver Harry Potter e a Ordem da Fênix, mas o começo filme era todo sobre o espaço, falava sobre a lua e tudo mais. Olhei para os meus amigos, que tinham a mesma cara confusa e depois para , que estava com a expressão normal. Até que apareceu na tela “Transformers”. Nós quatro começamos a rir no meio da sessão, atrapalhando todo mundo. Tínhamos comprado o ingresso errado e ninguém percebeu. Resultado, tivemos que ver um filme que não queríamos. Bem, nossos amigos não viram muito o filme, mas eu e o não estávamos “lá” ainda. Depois que acabou e resolvemos ir embora, meus amigos foram para um lado e me acompanhou até o ponto de ônibus que ficava para o outro. Ficamos em silêncio durante todo o tempo, até que ele se aproximou, ainda sem jeito e me beijou. Não foi um beijo cinematográfico, desses de tirar o fôlego. Foi um beijo calmo, suave e repleto de nervosismo. Foi o único de trocamos naquela noite.
E foi o primeiro de muitos.
Lembro que depois as coisas não desenrolaram muito fácil para nós dois, já que eu não tinha muita certeza se eu queria ficar com ele. Mas depois que eu fui sincera quanto a isso, ele reagiu da forma mais normal possível, se mantendo por perto como meu amigo, sem forçar a barra para nada. Mas conforme o tempo passava e eu passava mais tempo ele, comecei a enxergar as coisas de forma diferente e no final só pude agradecer pelo fato de que ele pode me esperar durante todo o tempo que eu precisei. Porque algumas vezes você não tem certeza de cara, como determinados livros, filmes e novelas mostram. Às vezes você precisa desenvolver e cultivar o sentimento pouco a pouco, dia a dia. estava a minha frente, ele tinha mais noção do que sentia e não tinha medo de me dizer. Foi até um pouco assustador e chocante quando ele disse que me amava. Mas depois disse que não fazia problema se eu não me sentisse assim ainda. Fiquei aliviada, porque eu não tinha certeza do que sentia, eu tinha decidido deixar tudo seguir, sem me preocupar muito. Só que tem coisas que não podemos controlar, não é mesmo? E o amor é uma delas. Ele apenas chega, mesmo que você ainda não queria, mesmo que não esteja preparada. Ele apenas chega. Sem pedir licença ou avisar...
Ainda lembro o exato momento em que percebi que estava apaixonada.
Dez anos antes
Já estávamos namorando há um pouco mais de um mês. Tínhamos matado aula naquela tarde, só para ficarmos sem fazer nada. Sem fazer nada, mas juntos. Sentamos na parte externa da escola e ouvíamos uma música qualquer, dividindo o fone de ouvido. Lembro de olhar pra ele e sentir que tinha algo diferente em mim. Que eu poderia ficar ali pra sempre. Ali ou em qualquer outro lugar, bastava ser ao lado dele. Também lembro de sentir o coração acelerar só com essa certeza, depois piorar quando ele me olhou e sorriu.
- O que foi? – ele perguntou, percebendo que havia algo de estranho em mim.
- Eu acho que te amo. – falei, mordendo o lábio inferior e olhando para a frente, com um pouco de vergonha.
- Você acha? – sua voz soou engraçada, como se ele quisesse rir. Olhei em sua direção, vendo um sorriso fraco em seus lábios, sua mãos estendida para que eu a segurasse e seu olhar preso ao meu, com seus olhos brilhando de forma intensa.
- Não. – coloquei minha mão sobre a sua, entrelaçando nossos dedos. Me aproximei um pouco, juntando nossos lábios por poucos segundos. – Eu tenho certeza.
E eu tenho certeza até hoje. É engraçado, porque conforme o tempo passa, tudo vai se tornando mais claro. Quando éramos jovens e falávamos do futuro, tudo parecia tão distante. Tínhamos dezessete anos, não podíamos falar com a maturidade que temos hoje. Mas agora, com vinte e sete anos, dez anos de relacionamento, que imaginávamos na época da escola, é hoje. E o que imaginamos atualmente, são planos para daqui há anos, um, dois, dez ou vinte, vai depende do que a vida nos proporcionar. Mas a gente sabe que vai querer estar um ao lado do outro. Esses planos, que eram tão soltos e distantes no passado, hoje se parecem mais reais. O sonho de ter uma casa, uma família juntos. Às vezes nem parece mais sonho, é quase uma realidade. Já me pego pensando que daqui a alguns anos, eu terei mais tempo de vida ao lado dele, do que sem ele. Isso me assusta? Um pouco. Me faz querer recuar? Jamais. Porque o tenho com ele, o que sinto ao seu lado, é diferente de tudo o que já vivi na vida. Às vezes parece que o tempo tá correndo rápido demais pra mim, parece que eu não consigo acompanhar. Sinto que não sou mais a jovem que imagino ser. Sinto que devo crescer e ser a adulta que esperam que eu seja. O relógio da vida sempre fala tão alto, né? Suas badaladas estão soando como sirenes de alerta em meus ouvidos. Mas eu também me pego pensando se deveria tanto me preocupar com essas coisas. Talvez a vida tenha um plano para mim, pra nós dois. Não sei. Talvez eu fique confusa quando estou ansiosa. Mas quando penso nisso, lembrar que você acompanha o meu ritmo de caminhada na vida me acalma. Porque a vida também é isso, certo? Encontrar alguém para caminhar ao nosso lado.
Vou falar de forma fácil
About the way it was
Sobre a forma como foi
When days were young but now the clock talks so loud
Quando os dias eram jovens, mas agora o relógio fala tão alto
Articulate and perfect
Articulado e perfeito
About the way it is and we ain't kids
Sobre a forma como é e nós não somos crianças
The clock, it always talks so loud
O relógio, ele sempre fala tão alto
Conforme me lembrei dessas coisas simples, mas significantes, percebi como pensar nele me acalmava. De repente eu não me sentia mais tão mal, não tinha dificuldades de respirar, não sentia como se não coubesse em meu próprio corpo. Não era uma cura, era uma calma passageira, até a próxima crise, mas era bom saber que tinha alguém que ajudava a me acalmar, mesmo distante, apenas com algumas lembranças. E quanto mais pensava nele, mais sentia vontade de falar com ele. Peguei o celular, olhando rapidamente para a hora. Já passava das quatro da manhã e eu não tinha conseguido dormir. estava dormindo, com certeza. Pensei e repensei se deveria ligar e resolvi tentar, ele entenderia. O telefone chamou uma, duas, três, quatro vezes até sua voz de sono e assustada atender.
- O que foi, aconteceu alguma coisa? – ele soou apreensivo do outro lado da linha. Só ouvir sua voz já fez meu coração bater mais devagar. Deixei um sorriso escapar, era alívio. Era calma. A voz dele me acalmava. – , tá tudo bem?
- Tá sim, é que... – falei, com a voz baixa, meio arrastada, de quem estava a beira de um precipício interno, quase caindo para o desconhecido, mas que tinha conseguido se salvar mais uma vez. – Eu só queria falar com você.
E você sabia?
I only wanna talk to you
Eu só quero falar com você
Fim.
Nota da autora: Nunca escrevi uma fic tão pessoal na vida. A forma que a principal estava se sentindo no começo, era um retrato fiel do meu estado na última terça-feira. É pesado, não é legal, muito melhor glamuroso. Pelo menos eu também tenho uma @ para ajudar a me acalmar. Será que a fic é baseada numa história real? Será?
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