Capítulo Único
O trabalho nem sempre é fácil. Às vezes eu consigo terminar em um dia, às vezes em uma semana. O mais difícil e demorado de todos durou três meses e meio. Mas é sempre assim. Sempre rápido, como um band-aid. Eu começo, faço o que estão me pagando para fazer, e então vou embora. Sem deixar provas, sem deixar rastros.
As pessoas que me procuram não são pessoas boas nem que estão apenas precisando de meus serviços. São pessoas vingativas que não têm coragem para fazerem o que realmente querem, então, elas me pagam para fazer o trabalho sujo. Não que eu me importe, eu realmente gosto do que faço.
Imagine minha surpresa quando o assessor particular do presidente me ligou e marcou um encontro comigo.
Estávamos em um restaurante movimentado o suficiente para passarmos despercebidos. Eu não levava meus clientes para casa porque era particular demais. Meu trabalho não iria interferir na paz do meu lar.
O garçom colocou a xícara de café na minha frente e eu agradeci com um sorriso que não era típico meu. O senhor Gates agradeceu por seu chá com canela.
Eu pude ver uma pequena gota de suor escorrer de sua testa. Seu chapéu casualmente pousado na cabeça escondia uma pequena câmera, que ele pensava que eu não tinha visto. Seu paletó bege também escondia um microfone para que todas suas falas fossem captadas, e uma segunda câmera na caneta no bolso de seu paletó. Sua gravata estava torta e os dentes estavam amarelados, o que me provava que ele era um fumante compulsivo. Sua mão esquerda tinha uma marca de anel no dedo anelar, me dizendo que Gates era casado, mas que passava um bom tempo sem a aliança, como estava agora. Isso só podia significar que o assessor do presidente dos Estados Unidos costuma trair sua mulher. Frequentemente. Não está tomando café porque está agitado e a cafeína o tornaria ainda pior; o chá de camomila com canela irá acalmá-lo o suficiente, mas também é fácil ver seus dedos da mão direita se esfregarem várias vezes uns nos outros. Ele é um fumante desesperado para fumar.
Minha presença o deixa nervoso.
E mesmo assim, tem mais três homens que estão de olho nele no ambiente. Estão fingindo ter uma conversa casual, cada um em um canto, com uma pessoa diferente, um deles sozinho lendo o jornal de hoje, mas isso só prova como são patéticos.
Consegui captar tudo isso e Gates não tinha nem começado a falar ainda.
– E então? – perguntei, já que ele não parecia querer ser o primeiro a falar – O que tem para mim?
– Como sabe, estou aqui a pedido do presidente. Ele é quem está contratando seus serviços.
– Ele está me apresentando a proposta. – corrigi – Não aceitei nada ainda.
– Sim, senhorita. – Gates concordou e engoliu em seco. Tomou um longo gole de chá para não ter que falar.
– E então... – estimulei, para que continuasse.
O assessor limpou a garganta.
– Andamos fazendo uma pesquisa sobre todos os atuantes na sua área e a senhorita é, de longe, a melhor de todos. Sabemos o que você andou fazendo, mas nunca teríamos provas o suficiente para acusá-la.
Ele estava enrolando. Não precisava me dizer o que eu já sabia. Provavelmente, não me faria uma boa proposta e estava tentando me intimidar, mostrando que o governo tinha bastante informação sobre mim; quem sabe eu aceitasse a proposta por medo.
Como se eu tivesse medo de alguma coisa.
Apenas arqueei uma das sobrancelhas e tomei um gole do meu café, demonstrando o quanto aquele assunto estava me entediando.
– Quem exatamente eu devo encontrar? – perguntei, adiantando o assunto. Eu tinha voltado de Paris tinha apenas três horas e estava exausta.
Gates reparou como eu tinha feito a troca de palavras e dito “encontrar”.
– O presidente tem sofrido alguns ataques nos últimos meses. – Gates murmurou, sua voz ficando mais baixa e nós dois tivemos que nos aproximar para que pudéssemos nos entender – Pensamos que eram apenas baderneiros protestando contra o governo na Casa Branca, mas as coisas ficaram mais sérias há uma semana e meia.
Interessada na história que os jornais não tinham contado, eu me aproximei ainda mais, sem deixar transparecer o quanto eu queria saber o que estava acontecendo na Casa Branca. Meu pior defeito? Curiosidade excessiva.
– O presidente sofreu um ataque direto. Alguém matou um dos primos mais próximos de .
– Por que ninguém está falando sobre isso? – questionei, interrompendo-o.
– A morte de Julian foi tão discreta está classificada como suicídio. E o presidente pediu que mantivéssemos a situação em total sigilo.
Assenti, imaginando como deveria ser uma merda ser o presidente; não se pode ter privacidade nem mesmo quando alguém que você ama morre.
– Então, pelo que eu entendi, vocês querem que eu descubra e acabe com quem está ameaçando o presidente, certo?
– Não exatamente... já colocou os melhores agentes da CIA e do FBI no caso. Em pouco tempo, estará resolvido.
– Não estou entendendo o motivo de contratar meus serviços, senhor Gates...
– acredita que sua família vai começar a ser atingida para que ele seja acuado e confrontado. Seu filho, , é o mais provável alvo; além de ser fácil, é uma das pessoas mais importantes na vida do presidente.
Eu não estava gostando do rumo daquela conversa.
– O presidente quer que você proteja .
– Não. – respondi na mesma hora. Gates arregalou os olhos.
– Não?
– Não.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, bebericando seu chá enquanto eu matava a minha xícara de café. Quando terminei, ele ainda parecia totalmente em choque, então resolvi me pronunciar:
– Vocês pegaram o tipo de pessoa errada, senhor Gates. – informei-lhe – Eu sou uma assassina de aluguel. Você me paga e eu mato quem você quiser. É assim que funciona. Não protejo nem banco a babá de ninguém.
– Não quer nem mesmo saber o salário?
– Não me importo com dinheiro. Estou trabalhando porque gosto do que faço. – enfatizei, referindo-me a matar.
Percebi que Gates tremeu e me contive para não revirar os olhos.
– Se é só isso... Sinto muito por não poder ajudar.
Eu comecei a me levantar para ir embora, mas Gates não estava disposto a me deixar ir.
– Você ajudaria o FBI enquanto está na casa. Nenhum deles tem acesso à casa porque Judith, a primeira dama, não quer problemas em seu lar, mas você passaria o tempo todo lá. Se descobrir alguma coisa e pegar a pessoa certa, você ganharia ainda mais.
– Eu ficaria na casa?
– Sim. Moraria na Casa Branca até que tudo acabe. Não precisa seguir por todo lugar, apenas tenha certeza de que ninguém vai matá-lo. É um trabalho fácil para você, senhorita . E você ainda vai ganhar 10 mil dólares por semana que passar lá dentro.
E aí eu ri.
– 10 mil dólares por semana e não fazer o que eu quero? – debochei, cruzando os braços. Fiquei séria logo depois – Quero no mínimo 75 mil dólares por semana ou nada feito. Pode procurar outra pessoa para tomar conta do precioso .
– Veja, senhorita... Não sabemos quanto tempo isso vai durar ou...
– E eu não sei o quanto de trabalho esse mimado vai me dar. Eu conheço , senhor Gates. Vejo notícias sobre ele e o comportamento mimado. Sobre como deu uma festa na piscina em Malibu e depois afundou uma Ferrari no oceano, por diversão. Ou então sobre as prostitutas que foram encontradas dormindo com ele em uma casa em Manhattan, que ele comprou só para isso. O senhor convive com o garoto, imagino. Sabe como ele não é fácil e sobre como vai ser um inferno cuidar dele. Não vou aceitar fazer por 10 mil dólares. Porém, se quiser que eu elimine o garoto, farei com prazer por 5.
Localizei um sorriso de compreensão no canto dos lábios de Gates. Ele conhecia e sabia o quão ruim o garoto era.
– Podemos fechar por 50 mil por semana?
– Perfeitamente.
E foi assim que eu aceitei a proposta que acabaria com a minha vida.
***
Eu sempre me imaginei conhecendo o presidente Terence . Sempre imaginei que eu acabaria fazendo uma merda tão grande que ele apareceria em pessoa para me mandar para o inferno. Quando Terence – sim, eu ganhei a liberdade de chamá-lo pelo nome – me cumprimentou com um enorme sorriso e me pediu para ir encontrá-lo em uma hora em uma de suas salas de reuniões, eu me senti muito... Errada. Sabe, como se eu estivesse em alguma realidade alternativa que não era a minha. Era uma sensação boa.
– Senhorita ... – começou o presidente, mas eu me senti segura o suficiente para interrompê-lo.
– Pode me chamar de , Terence. Se vou te chamar pelo nome, podemos jogar as formalidades pela janela.
Ele riu melodicamente. Acho que o presidente devia fazer aulas para conseguir ser tão carismático assim.
Estávamos só nós dois em uma sala de reuniões, com uma linda vista para a cidade. A sala parecia realmente grande demais, mas eu não iria discutir com o presidente. Eu ainda não tinha conhecido a casa toda, apenas o quarto onde eu ficaria enquanto estava em missão.
– Imagino que você tenha ouvido falar de ... – começou Terence, parecendo meio hesitante. Naquele ponto, percebi que e Terence não eram os melhores amigos do mundo.
Então por que Terence estava disposto a pagar 50 mil dólares por semana para eu ficar de babá do filhinho rebelde?
Você pode dizer que é porque é filho de Terence e os pais amam os filhos acima de tudo e outras besteiras do tipo, mas eu não engulo essa merda. Conheço as pessoas o suficiente para saber como são.
– Não muito. – menti – Apenas algumas notícias que vejo por aí.
Terence suspirou. Ele tinha comprado minha mentira.
– acabou de fazer 18 anos e está um pouco deslumbrado com isso. Ele gosta de sair para festas, beber e às vezes não volta para casa. Pior ainda, ele colocou na cabeça a ideia de que precisa sair daqui para ir morar sozinho.
– Qual o problema de ir morar sozinho?
– Não teria problema nenhum, é claro, se não fosse pelos acontecimentos recentes aqui na Casa Branca, . Nós não podemos nos dar ao luxo de perder outra pessoa.
– Entendo.
– é um pouco difícil e não vai aceitar de primeira a ideia de que alguém vai vigiá-lo. Talvez esse seja seu único problema.
– Já imaginei isso, Terence. Vou convencer de que não é nada demais ter alguém cuidando dele.
– Ótimo. Espero que passe um bom tempo na casa, .
Sorri para esconder minha raiva do modo como Terence falava. Eu não estava na Casa Branca de férias.
– Obrigada.
Essa era minha deixa para sair e eu a aproveitei. Tinha alguma coisa errada com os e eu pretendia descobrir o que era.
Meu quarto na Casa Branca era no 5 andar, onde ficavam a maioria dos quartos. Os três primeiros andares eram abertos ao público, então nenhum quarto ficava lá. As paredes brancas eram cuidadosamente decoradas com quadros de paisagens de florestas e casas de campo, com molduras que pareciam ser de ouro. Haviam algumas cômodas ao redor da enorme cama de casal que comportava facilmente umas cinco pessoas e um abajur de cada lado da cama. Uma enorme janela, que não chegava a ser uma sacada, mas podia ser. Paralela à cama, uma televisão enorme, com um rack preto e várias caixas de som. Eu não era uma adepta da televisão, então não pretendia ligar aquilo, mas era algo bonito de se ter em um quarto.
Na parede paralela à janela haviam duas portas, uma era um banheiro e outra um closet. Eu não tinha roupas o suficiente para encher o lugar, mas minhas armas e canivetes e objetos de trabalho seriam. No banheiro, um ofurô de cerâmica branca ocupava a maior parte do espaço. Também tinha um chuveiro grande no canto, caso eu não quisesse usar o ofurô.
Para terminar, uma lareira, que eu não pretendia usar. Estávamos no verão, não seria necessário – e eu não pretendia ficar lá até o inverno chegar.
Assim que me deitei na cama que parecia ser macia e totalmente confortável, uma sirene disparou. Eu revirei os olhos e já imaginei que o trabalho tinha começado. Eu vestia um colete a prova de balas por baixo da roupa preta de couro, então apenas coloquei minhas armas no coldre na cintura e nas coxas. Enganchei alguns canivetes na bainha da calça, só por proteção. Sai do quarto prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo alto, para ter certeza de que os fios não me atrapalhariam. Seria muito mais fácil cortar meu cabelo, mas eu não gostava de cabelo curto. Os fios tocando minha cintura me agradavam bem mais.
Senhorita , favor encontrar o presidente na sala de conferências do andar 6.
Franzi o cenho para a voz, não acreditando que todo aquele alarde era apenas para Terence me chamar na sala outra vez. Seria muito mais fácil se ele simplesmente ligasse no telefone do meu quarto.
Bufando, corri até a sala, trombando com vários homens fardados.
– Qual o problema? – perguntei assim que adentrei a sala.
Eu havia estado ali minutos antes, mas tudo tinha mudado. As janelas de vidro haviam sido fechadas por uma parede de aço que impedia o sol de entrar e uma luz branca iluminava o lugar. A mesa no centro da sala estava lotada de papéis e totalmente desorganizada. Terence estava ao lado de um telefone, junto com alguns homens fardados, que, por acaso, lotavam o lugar.
– ! Ainda bem que está aqui! – Terence gritou para mim, me chamando para perto com um gesto da mão.
– O que aconteceu? – perguntei, nem um pouco acostumada e confortável com a grande movimentação de pessoas; eu não era uma assassina de aluguel à toa.
– foi sequestrado. – Terence informou com um suspiro. Percebi que ele parecia mais de saco cheio do que preocupado – Acabamos de receber uma ligação dos sequestradores.
– Gravaram?
– Sim, estava esperando você chegar para colocar o áudio.
Uma voz estranha pedia socorro. Não dava para saber se era masculina ou feminina, tamanha a distorção. Logo depois, uma voz masculina bem grossa – também distorcida – pedia 100 mil dólares. Simples, rápido. Nada elaborado para um sequestrador que conseguiu o filho do presidente.
– Como tem tanta certeza de que não é um golpe e que está bem? – questionei, franzindo o cenho.
– Ligaram do telefone dele.
– E se ele só foi roubado?
– , entendo que isso tem a ver com o que você faz, mas quero que saiba que eu sei como administrar um país e a minha família. Pedi para você vir até aqui apenas porque quero que ajude os policiais e mate o sequestrador de .
– Matar o sequestrador? Vou cobrar isso a parte. – informei, cruzando os braços. Terence podia ser o presidente dos Estados Unidos, mas na arte de matar, quem comandava era eu.
– Não vou pagar a mais para você fazer o seu trabalho!
– Meu trabalho é vigiar o garoto rebelde. Você mesmo me disse que não mataria ninguém. Quer que eu mate o sequestrador? Quero mais 10 mil essa semana.
– Você é bem espertinha, senhorita .
– Muito mais do que o senhor imagina. Negócio fechado?
– Fechado. Pegue o endereço que rastreamos da ligação.
***
Era um prédio afastado do centro da cidade. Estava abandonado e eu continuava com aquela impressão de que tinha algo errado. Sequestros não aconteciam em lugares afastados; principalmente o resgate.
Uma equipe do FBI estava comigo, mas os idiotas apenas iriam me atrapalhar. Eles rodearam o prédio silenciosamente, graças a Deus. O capitão deles estava no carro comigo, esperando as outras equipes chegarem.
– O que você faz? – ele perguntou em um tom baixo, me analisando de cima a baixo.
– Faço o que me pagam para fazer. – respondi vagamente. As equipes não sabiam que eu era uma assassina de aluguel e eu preferia assim. Eu não sabia até quando o presidente me daria cobertura com a polícia, então era melhor manter tudo em segredo. Eu podia estar trabalhando para Terence , mas ainda fazia algo ilegal.
– Isso é muito vago, senhorita...?
Parei de encarar o prédio e me virei para ele. O homem estava no comando das investigações da família . Terence havia me dito seu nome, mas eu não tinha me importado. Seus olhos eram de um verde tão profundo que chegavam a hipnotizar alguém, mas totalmente vazios, como se suas emoções não alcançassem seus globos. Não era fácil identificar quais seriam seus próximos movimentos como eu fazia com todos.
– . .
– Travis Corvus.
– Não é como se fossemos nos ver outra vez.
Travis ignorou meu comentário.
– Nós vamos tentar fazer a negociação toda aqui do lado de dentro. – ele começou. Falava perto do painel do carro para que os outros pudessem ouvir também o que ele dizia – Precisamos fazer isso do modo mais civilizado possível. Não esqueçam que está dentro do prédio.
Revirei os olhos. Não tinha tempo para todo esse planejamento.
Havia uma arma grande no chão aos meus pés. Enquanto Travis continuava a falar, eu desviei o olhar para baixo e identifiquei uma metralhadora. Não entendi qual a necessidade de uma arma daquele porte para uma simples missão de resgate. Talvez Travis sempre andasse com uma arma agressiva dentro do carro.
Ele pretendia levar o sequestrador preso. Eu precisava dele morto.
Saí do carro, levando a metralhadora.
– ! – Travis gritou – Mas que porra você está fazendo?
– Estou fazendo algo melhor do que você.
Destravei a metralhadora e comecei a metralhar o portão do prédio, que, em segundos, estava no chão. Ouvi o barulho da porta do carro de Travis bater quando ele saiu atrás de mim.
Se minhas suspeitas estivessem corretas, o sequestrador de estava começando a chorar exatamente nesse momento.
Metralhei a porta de vidro que eu poderia ter quebrado com um simples chute, mas havia um cadeado garantindo que ficasse fechada. Logo, não tinha mais nada.
Eu não sabia que andar eles estavam, mas resolvi seguir meu instinto que dizia que eles estavam na garagem. Era um prédio bem antigo e abandonado, a estrutura estava fraca demais para arriscar um passeio nos últimos andares; eu tinha certeza de que e seu sequestrador sabiam disso.
Metralhei as portas que me levariam para o subsolo.
A metralhadora não era necessária; eu podia muito bem usar meu revólver, mas eu queria que os dois ficassem com medo. Sim, eram apenas dois: e o idiota que o tinha “sequestrado”. Para ser honesta, não acreditei nessa história nem por um segundo.
O barulho da arma era ensurdecedor e me dava dor de cabeça, mas era fácil de se acostumar. Com o tempo, se torna até reconfortante.
Andei em silêncio pelas escadas que dariam na garagem. Eles estariam em algum canto escondido e eu tinha que fazê-los denunciar suas posições. Tinha um jeito bem arriscado, mas merecia ficar com um pouco de medo.
Atirei contra uma das pilastras do estacionamento, até que fosse completamente destruída. Os tiros contra mim começaram imediatamente, vindo do lado leste da garagem.
Idiotas.
Caminhei atirando para cima em direção aos dois. Quase caí para trás quando vi saindo de detrás de um carro com uma garota. Ele olhou em meus olhos e começou a atirar também, me atingindo no estômago. Alguns anos atrás, eu morderia o lábio para conter a dor. Hoje em dia, eu apenas ignorava-a.
– Boa tentativa, garoto. – murmurei. estava sem balas e a garota ao lado dele estava em pânico, agarrada em sua cintura, os olhos cheios de lágrimas. Eles eram patéticos.
– Eu vou atirar outra vez! – gritou.
– Você está sem balas. Apenas fique quieto e vou dizer que o sequestrador fugiu. – me aproximei deles o suficiente para que vissem o meu olhar frio e cortante que eu havia aperfeiçoado ao longo dos anos – Vocês vão concordar com tudo o que eu disser.
– E o dinheiro? – a garota teve a coragem de perguntar.
– Está no lugar onde vocês mandaram colocar. Agora calem a boca e venham comigo.
– Como soube que éramos nós? – sussurrou perto do meu ouvido, com medo de quem alguém lá em cima os ouvisse.
Não respondi. Obriguei-os a subir devagar porque, há essa hora, Travis e sua equipe já estavam prontos para armar bombas e jogar dentro do prédio. Quando me viu sair com as crianças, ele praticamente beijou o chão.
– Caralho, ! – ele gritou – Que porra você tem na cabeça?!
– Obviamente um cérebro. Diferente de você. – retruquei, empurrando a metralhadora em seu peito – Vamos embora.
– E o sequestrador?
– Os três fugiram. – menti.
– Você deixou eles fugirem?!
– E trouxe as crianças! Vai se foder.
Travis não disse mais nada enquanto eu entrava no carro e batia a porta com força. e a namoradinha foram socorridos por outros agentes, que entregaram cobertores para os dois, como se tivessem sofrido horrores. O tempo todo, senti o olhar do pequeno em minhas costas, me observando e tentando entender o porquê de eu não ter entregado os dois.
***
Quando chegamos na Casa Branca, Judith chorou a alma abraçando . A garota era Mellody, sua namorada. Eu nunca imaginei que ele teria uma namorada, principalmente com a quantidade de notícias dizendo que estava perdido em uma boate qualquer com algumas – ou muitas – prostitutas.
Mellody era a maior corna na história.
O quarto de era no mesmo andar que o meu, propositalmente. Terence queria que eu o vigiasse o máximo possível. Quando a noite caiu e todos já pareciam estar dormindo, mais calmos depois do dia agitado, segui para o quarto de .
Bati duas vezes na porta e ele atendeu na hora.
– Quem é você e por que me salvou? – ele perguntou logo depois de me puxar para dentro do quarto e bater a porta. Eu era 10 anos mais velha que ele, mas era realmente alto.
– Seu pai me contratou para te vigiar. – respondi observando-o de cima a baixo. Estava sem camiseta e não pude deixar de reparar em seu abdômen trincado. Ele não se parecia nem um pouco com o pai.
– Terence jamais se preocuparia comigo. – retrucou. Consegui captar um pouco de amargura em sua voz.
– Bom, ele se preocupa o bastante para me pagar 50 mil por semana para vigiar sua bunda. E eu quero mais 30 mil.
– Peça para ele. Quero ver se consegue. – debochou, puxando uma maleta de debaixo da cama. Reconheci a maleta onde haviam deixado os 100 mil dólares do resgate do “sequestro”.
– Quero de você.
soltou uma risada e me ignorou totalmente. Respirei fundo para não me irritar e soltar um murro na cara do garoto.
– Acho que você não entendeu. Seu pai ia me pagar para matar o sequestrador. É isso que eu faço. Sou uma assassina de aluguel e eu nunca falho. Por sua culpa, o presidente acredita que eu falhei. Seria uma pena se ele descobrisse que o precioso filho dele armou o próprio sequestro para tirar dinheiro do papai.
– E quem vai acreditar em você? – continuou com um tom irônico, mas dessa vez percebi que ele estava com um pouco mais de medo.
– Não precisam. Vou apenas enviar o corpo para ele.
– E então vai ter falhado na missão de me proteger.
– Nunca disse que mandaria o seu.
Meus olhos foram diretamente para a foto que ele tinha com a namorada. Estava pendurada na parede do quarto, ocupando grande parte do espaço com uma moldura dourada e trabalhada para ser detalhadamente perfeita; ao redor, milhares de outras fotos coladas dos dois.
– Você não pode matar Mellody, sua louca!
– E você não pode armar o próprio sequestro, seu bobinho.
Os olhos de brilharam em desespero. Ele não sabia o que fazer. Não queria me pagar, mas estava morrendo de medo de eu cumprir minha ameaça.
Não era uma ameaça real. Era um puta de um blefe.
E ele caiu direitinho.
me entregou o dinheiro com raiva nos olhos e eu saí do quarto um pouco mais tranquila e com uma certeza cada vez maior de que havia algo errado com os .
***
Travis Corvus me ligou três dias depois do sequestro. Eu precisava admitir que não era tão ruim assim morar com os . estava quieto, em casa, não saiu nesses três dias. Acabei conversando um pouco com Mellody, mas acho que ela não achou a conversa tão agradável assim, pois parecia desesperada para ir embora e para longe de mim o mais rápido possível. Terence queria um relatório semanal sobre – que agora eu chamava apenas de – e seu comportamento, coisa que eu neguei veemente. Eu já estava de babá do garoto e agora ainda por cima teria que escrever sobre ele? Nem fodendo.
e Mellody estavam na piscina curtindo o sol que estava consideravelmente forte. Eu estava apenas observando os dois, sorrindo. Eles tinham uma tranquilidade no olhar que me dava inveja, porque eu nunca teria aquilo. Deitei um pouco mais a espreguiçadeira e tentei relaxar. Aquele era um dos trabalhos mais fáceis que eu já fizera.
– Como conseguiu meu número? – perguntei para Travis depois de ele se identificar.
– Foi bem fácil, na verdade. Diga à que eu agradeço.
Encarei , com um sorriso de lado. Ele logo percebeu e me olhou de volta, dando de ombros com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso brincalhão; depois, uma piscadinha. Quando não o entreguei para o pai no dia do sequestro, acabei ganhando alguns pontos com .
– Então você pediu para o filho do presidente o meu número? Uau.
– Pois é. Pra você ver o quanto eu fiquei impressionado com a mulher que saiu metralhando um prédio, contra as minhas ordens.
– Foi por isso que ligou?
– É claro que não. Liguei para perguntar o que você vai fazer essa noite.
– Trabalhar, Corvus. Estou trabalhando em tempo integral.
– Até mesmo nos sábados?
– Até nos domingos.
Travis suspirou.
– Isso é uma pena. Eu tinha planejado uma ótima noite para nós.
Eu ri.
– E você tinha tanta certeza de que eu toparia? Há! É isso que dá excesso de confiança.
– Me ligue se mudar de ideia.
– Anotado.
Desliguei o telefone e me levantei para esticar as pernas. estava parado na minha frente, com os braços cruzados e o corpo inteiramente molhado.
Deus, eu ainda não comentei isso, mas agora eu preciso dizer: tem um corpo maravilhoso!
– Eu te dou cobertura. – ele murmurou, como se estivesse contando um segredo só para mim.
– O quê?
– Travis. Saia com Travis.
– Se seu pai me pegar...
– Ele não vai descobrir nada, . – é, tinha intimidade o suficiente para me chamar de .
– Não estou confiando em você, sozinho.
– Vou estar com Mellody. Sabe, vou estar com ela de verdade.
Por causa do jeito que disse aquilo, acabei deixando uma gargalhada escapar.
– Sabe, você pode dizer que vai transar com ela sem nenhum problema.
deu uma risada, um pouco nervoso. Suas bochechas começaram a corar e eu achei aquilo totalmente adorável.
– É. Vou fazer isso. Se você quiser sair com Travis, você devia. Ele é um cara legal. Trabalha pro meu pai tem um tempo já...
Foi aí que me convenceu. Eu queria saber mais sobre Terence e os e essa seria uma ótima chance.
– Ok... Então acho que você me convenceu, garoto.
abriu o maior sorriso da face da Terra e voltou para piscina, onde Mellody estava boiando. Quando pulou na água, ela olhou para mim e viu o sorriso que eu estava mandando para o namorado. Posso afirmar que o medo que ela sentia de mim se tornou uma raiva forte e profunda, baseada em ciúmes.
Meu sorriso não diminuiu nem um pouco por causa disso.
Voltei a deitar confortavelmente na espreguiçadeira e mandei uma mensagem para o número recém salvo de Travis.
Venha me buscar as 9hPM.
***
Eu não era o tipo de mulher que ficava nervosa com encontros nem nada do tipo. Na verdade, eu gostava de sair com vários homens porque era divertido. Mas esse era diferente.
pensava que eu estava nervosa porque estava gostando de Travis, o que era impossível, porque eu só estive com ele por duas horas, três dias atrás. Tudo que passava pela minha cabeça era como ele devia ter informações valiosas sobre Terence.
– !
Eu estava tão concentrada nas perguntas que faria sem levantar nenhuma suspeita sobre as minhas intenções que não estava me conectando ao mundo exterior.
estava falando comigo.
– Desculpe. Estou distraída.
– Estou vendo. Só relaxa. Travis é um cara legal. E vocês dois curtem matar pessoas. Vai dar tudo certo.
Eu ia rir, mas acabei me prendendo a uma informação que soltou.
– Travis mata pessoas?
– Eu acho que mata, sei lá. Ele é um agente do FBI. Deve matar gente.
Às vezes eu esquecia que tinha só 18 anos.
Assenti e peguei o vestido que eu usaria e me tranquei no banheiro. Amarrei um coldre em minha coxa, prendendo vários tipos de canivete ali. Como eu estava de vestido, não dava para levar uma arma, mas as facas me ajudariam caso algo acontecesse. Meu vestido preto tomara que caia era curto demais pro meu gosto, mas Travis precisava falar.
Fechei o zíper nas costas até a metade, mas aí chegou aquela parte infernal que seu braço não alcança de jeito nenhum e fui obrigada a sair do banheiro segurando a parte da frente do vestido para não deixar ver o que não devia.
– , será que você pode me ajudar com o zíper?
O garoto ficou atônito por alguns segundos. O olhar de estava praticamente tirando pedaços da minha pele enquanto ele se demorava olhando para minhas pernas expostas e os movimentos de seu peito se tornaram quase nulos quando chegou até as minhas coxas. Seu pomo de adão se moveu enquanto ele engolia em seco e seu olhar subia pelo vestido apertado e se deparava com as minhas mãos segurando o tecido nos seios. Discretamente – talvez até sem perceber – seus dentes capturaram seu lábio inferior e seus olhos escureceram.
– O quê? – ele perguntou, finalmente olhando-me nos olhos.
Nesse momento, alguma coisa mudou. não devia me olhar assim. Não era algo que eu deveria aprovar.
Então por que tinha uma corrente de calor percorrendo meu corpo desde que ele colocou os olhos em mim?
– Meu zíper. Você pode fechar?
– Claro.
Arrepiei-me com sua voz que ficara rouca de repente.
tossiu e se aproximou de mim. Virei-me de costas e tirei o cabelo do caminho, para que ele pudesse fechar meu zíper sem maiores dificuldades.
Sua respiração bateu na minha nuca e senti suas mãos começarem a trabalhar lentamente no zíper. Sua voz – ainda rouca – continuou soando próxima ao meu ouvido, talvez mais próxima do que o necessário.
– Quando você começou a fazer essa tatuagem?
Meu braço esquerdo era coberto por tatuagens escuras que começavam na palma de minha mão, com uma rosa vermelha que ocupava todo o espaço. Os galhos e os espinhos subiam pelo braço, junto com algumas cobras e outros animais que eu tinha feito. No fim, não era possível ver nenhum pedaço de pele.
– Com 15 anos. – confessei. Ninguém nunca me feito aquela pergunta.
Eu não costumava deixar que alguém se aproximasse de mim o suficiente para me fazer perguntas sobre meu passado ou meus gostos. Comecei a me perguntar quando se aproximou.
Ouvi o barulho quando engoliu em seco outra vez e terminou de fechar meu vestido, lentamente.
Virei-me para , o vestido finalmente no lugar.
– Obrigada.
Por algum motivo, eu havia sussurrado.
Eu não consegui encarar . Meus olhos não conseguiam atingir os dele, porque havia uma força incrivelmente forte que me puxava para os lábios dele. Vermelhos, cheios, finos e que pareciam ainda mais atrativos quando os mordia.
Deus, por que eu queria tanto sentir o gosto de seus lábios?
também estava me observando. Seus globos não se desgrudavam de mim e ainda estávamos perigosamente perto demais.
– Não me agradeça. – ele murmurou.
E seus lábios de aparência tão deliciosa se chocaram contra os meus.
Deixei que minha respiração saísse pelo nariz de uma vez; nem percebi que estava prendendo-a. começou devagar, testando, provando, querendo absorver cada sensação que pudesse obter daquele beijo. Quando nossas bocas já estavam cansadas e nossos corpos pediam por mais, ele entreabriu meus lábios e então sua língua entrou em contato com a minha.
Pequenas explosões aconteciam ao meu redor. Não era apenas um beijo como outro qualquer, daqueles que eu não sentia nada e era apenas uma língua estranha na minha boca. Era . Algo em tê-lo daquele jeito, suas mãos no meu pescoço, os dedos quase perdidos nos meus cabelos e o corpo totalmente tensionado enquanto ele se controlava para não fazer algum movimento brusco demais e acabar com o momento... Algo em tudo isso estava me fazendo ficar tonta.
Seu gosto era de café. estava sempre bebendo café e isso se refletia em sua boca.
Em alguns segundos, aquele se tornou o melhor beijo da minha vida.
A boca insistente de me cobrou uma reação e eu voltei para Terra. Voltei para o lugar onde e eu éramos duas pessoas que não poderiam se envolver. Ele era o filho do presidente, de apenas 18 anos, enquanto eu era uma mulher de 28, que já tinha matado mais pessoas do que conheceria em toda sua vida.
Isso não podia estar acontecendo.
Afastei , empurrando-o pelo peito.
Meus lábios estavam inchados e minha respiração ofegante. estava assim também e era doloroso ver o quão lindo ele ficava daquele jeito.
– Nunca mais faça isso. – murmurei, sem coragem de falar mais alto.
– ...
– Não, ! – gritei, finalmente encontrando minha voz – As coisas não funcionam assim! Você é o filho da porra do presidente! Eu sou uma assassina de aluguel! Você é 10 anos mais novo que eu! Isso não tem condições!
– Eu pensei que...
– Saia daqui. Agora.
Com uma careta, deixou o quarto. Não disse nem mais uma palavra.
De repente, eu havia esquecido os motivos que eu tinha para sair com Travis Corvus.
***
Era mais de meia noite quando eu voltei para a Casa Branca. Travis era ótimo e quando ele me beijou no final da noite, nublou meus pensamentos e acabei fazendo comparações entre os dois. Foi impossível não fazer, mas o pior foi quando eu percebi que era melhor.
Eu estava perdida.
Encontrei somente no outro dia, no café da manhã. Ele e Mellody tinham uma notícia para dar.
– Agora que estão todos aqui, – começou, levantando-se. Seus olhos encontraram os meus com uma frieza atípica dele e seu olhar não caiu em nenhum momento depois – para dar uma ótima notícia.
Todos pararam de comer para prestar atenção no que tinha para dizer.
– Eu e Mellody vamos nos casar.
Judith foi a primeira a quebrar o silêncio.
– Isso é maravilhoso, ! Estou muito feliz por vocês!
A primeira dama se levantou e abraçou o filho e Mellody. Eu não disse nada na próxima hora, enquanto todos se perguntavam o motivo do casamento repentino, se Mellody estava grávida e pra quando seria a cerimônia.
Eu e não conseguimos quebrar a conexão que havíamos estabilizado pelo olhar.
O café cuidadosamente preparado pelas empregadas se tornara pedra na minha boca. Era difícil de engolir e eu estava me sentindo enjoada.
– Com licença. – pedi, falando relativamente alto. Alto o suficiente para ouvir do outro lado da mesa. Seus olhos que se desviaram dos meus por um momento voltaram com força total – Não estou me sentindo muito bem. Acho que vou me retirar.
O silêncio foi notável assim que me afastei. Apenas meus passos ecoaram no corredor.
Subi para o quinto andar, onde ficavam os quartos. Não entendi o motivo de meu rosto começar a esquentar como se eu estivesse prestes a irromper em lágrimas.
era uma criança. Uma criança que eu estava sendo paga para cuidar. Não tinha motivos para pensar nele do jeito que eu estava pensando. Ele me rendia 50 mil dólares por semana; não era nada mais do que um trabalho.
E se fosse?
Só percebi que estava chorando quando o alarme soou.
Não era o mesmo tipo de alarme que eu ouvira quando cheguei – apenas um barulho alto e uma voz me convocando. Agora, era bem pior.
Uma luz vermelha piscava no meu quarto, deixando tudo escuro e difícil de enxergar. Abri a porta e percebi que essa luz também brilhava no corredor. O barulho era tão alto que senti as batidas do meu coração ecoarem nos ouvidos, no mesmo compasso do alarme.
estava parado na porta do meu quarto.
– Olha, , eu...
E então o ritmo do alarme mudou. Eram 4 sirenes seguidas. E então um silêncio de 4 segundos. olhou para cima, uma expressão de pânico se formando em seu rosto.
– Merda!
– O que está acontecendo? – perguntei, agradecendo mentalmente pelas luzes estarem alteradas e acabar deixando tudo mais escuro. Assim, não veria meu rosto manchado de lágrimas.
– A Casa foi invadida
Um outro alarme soou na minha cabeça no mesmo momento. Puxei pela camiseta para dentro do quarto com certa força, sem me importar se ele iria ou não se machucar. Fechei a porta e passei o trinco, quebrando a maçaneta com um chute circular logo em seguida; assim, seria impossível alguém abrir a porta. Eu não tinha percebido, mas as janelas do meu quarto tinham se fechado e havia uma parede de aço do lado de fora.
– Se esconda! – gritei para , tirando uma calibre 38 do coldre da minha cintura. Destravei o revólver e o apontei para a porta, o único lugar por onde poderia sair alguém.
– Não! Precisamos ir para outro lugar! – ele gritou de volta – Tem um esconderijo na Casa, ! Precisamos ir para lá!
– , meu trabalho é te proteger, não me questione!
– Me escute, cacete! Eu moro aqui, sei o que é melhor. O lugar para onde podemos ir é bem mais seguro.
Eu continuei a ignorá-lo e apontar a arma para a porta.
– Confia em mim, .
Aquelas três palavras, seguidas pelo meu nome, acabaram por me convencer. Eu resolvi que podia estar certo. Ele conhecia a casa melhor do que eu e se algo desse errado, eu podia protegê-lo.
Atirei na maçaneta da porta e ela se abriu com um estrondo, soando alto mesmo com o barulho do alarme.
– Vem, por aqui!
Segui pelo corredor, até entrarmos em seu quarto. Me lembrei da última vez que estive ali, quando peguei no flagra, contando o dinheiro que ele havia roubado do próprio pai.
Alguma coisa nessa lembrança me fez lembrar que os não eram confiáveis e que eu precisava investigá-los mais.
tirou o quadro de Mellody da parede e visualizei um painel com cinco botões. Ele apertou todos várias vezes, em uma sequência e ouvi um barulho no quarto. Com a arma em punho virei para trás, mas não vi nada.
– O que você fez? – perguntei.
– O banheiro!
Ele correu para o banheiro e eu apenas o segui com o cenho franzido. No banheiro, quando abriu a porta, eu fui surpreendida. Uma sala toda feita de paredes de aço estava ali. Nós entramos e ele fechou a porta, digitando um outro código no pequeno painel que ficava no lugar da fechadura.
– O que é isso? – perguntei outra vez. Senti que estava sendo passada para trás.
– O Serviço Secreto andou fazendo umas mudanças por aqui ultimamente. – ele contou – Com o turismo crescendo e as pessoas querendo entrar aqui cada vez mais, eles acharam melhor colocar algumas medidas preventivas na Casa. Esses quartos secretos são uma das medidas. No quarto que você está ficando não tem nada disso porque é só um quarto de hóspedes, mas a maioria dos outros quartos tem essa sala secreta.
Com as sobrancelhas arqueadas em surpresa, eu encarei .
– Uau.
Ele riu.
foi até o extremo norte da sala e apertou um botão vermelho que estava ali. Um barulho ecoou no espaço e então prateleiras saíram das paredes, repletas de salgadinhos e todos os outros tipos de comidas que serviam para matar a fome temporariamente.
– Eu não sabia disso. – comentei. Pela minha reação, isso era óbvio, mas eu precisava dizer em palavras.
– Tem muitas coisas que você não sabe, . – respondeu de volta, com um ar misterioso e um olhar que estava me despindo aos poucos. Pegou um pacote de salgadinho e me jogou outro.
Sentou-se ao meu lado, começando a comer o conteúdo do pacote. Comecei a me perguntar como ele matinha o porte físico tão bom quando comia mais do que um búfalo.
– Por que estava chorando?
A pergunta quebrou o silêncio que eu estava tentando manter. Os acontecimentos foram muito rápidos e eu não tive tempo de processar tudo. Mas ainda estava lá: ia se casar com Mellody. Isso não tinha mudado. Esperava que as luzes vermelhas tivessem acobertado meu rosto, mas ele tinha percebido.
– Eu não estava. – menti – E então... Você vai se casar?
Graças a Deus, não tinha insistido no assunto.
– Vou. Vou me casar com Mellody em um mês.
– Um mês?! – perguntei, um pouco chocada – Ela está grávida ou alguma coisa do tipo?
– Meu pai me deu uma condição: só posso sair daqui se eu me casar. Então, eu vou me casar.
– E você está tão desesperado assim para sair de casa?
– É... Sei lá. É só a Mellody. Eu a conheço desde que tinha dois anos. Ela é tipo minha melhor amiga.
Ficamos quase duas horas lá dentro, conversando. me contou e me explicou todos os motivos para se casar com Mellody. Eu aceitei todos e não o questionei. Os acontecidos na noite passada não foram mencionados e eu não senti a necessidade de trazê-los para conversa. Quando alguns agentes do Serviço Secreto abriram a porta, eu e saímos. Não entendi por que meu peito estava doendo como nunca havia doído em toda minha vida.
***
Uma reunião no salão oval foi convocada logo após o incidente. Os principais chefes do FBI, CIA e Serviço Secreto foram chamados e nos encontramos todos exatamente às 15 horas. Os agentes foram tão pontuais para obedecer ao presidente que me senti na Inglaterra.
– Muito bem, – começou Terence – os danos já foram analisados, assim como todas as câmeras de segurança. Sabemos que não temos nada, mas exijo que algo seja encontrado.
– Primeiramente, sugiro que suspendam as visitas de turistas. – disse um dos representantes da CIA quando Terence abriu a discussão – A Casa acabou de ser invadida, não podemos mais deixar que desconhecidos entrem aqui.
– O que mais? – Terence exigiu, desesperado por evidências e qualquer coisa que o ajudasse a resolver o problema. Seus olhos correram por todos os rostos ao redor da mesa, até pararem no meu – Senhorita ?
Levantei meus olhos. Até aquele momento, eu estava apenas ignorando aquilo. Imaginei que minha opinião não seria ouvida e minha presença era apenas para me manter informada do que acontecia e poupar Terence de ter que me contar tudo depois. Parei de cutucar o cantinho da minha unha.
– Bom, meu quarto foi revistado. – declarei – Minhas armas sumiram, mas, mesmo depois de pegarem minhas coisas, continuaram procurando e revirando o quarto.
– Por que estão atrás de você? – perguntou um arrogante agente do FBI. Eu era a única mulher no salão e percebi que esse babaca não gostava nada disso – O que você fez?
– Mandei um filho da puta como você ir se foder. – retruquei, sem medir palavras. Algumas pessoas têm que aprender a se portar!
– Como é?!
Ele se levantou como se fosse partir para uma briga e eu não fiquei para trás, derrubando minha cadeira quando o fiz. O agente se aproximou de mim andando em passos largos e autoritários, erguendo o nariz, como se fosse superior. Com minha visão periférica, vi sua mão direita – a que ele estava batendo constantemente na mesa antes de se levantar – se fechar em punho, pronto para me acertar. Antes que ele conseguisse, lhe dei um gancho de direita, derrubando-o no chão.
– O que foi, grandão?! – gritei, já sentindo alguém vir me segurar e outros irem ajudar o agente a se levantar – Perdeu a pose de macho?!
Como sou um poço de classe e gentileza, totalmente feminina, não consegui voltar para meu lugar sem antes cuspir na direção do homem, para deixar bem claro meu nojo.
– ! – exclamou Terence – O que foi isso?
– Só porque sou mulher não significa que sou menos digna de estar aqui. Acabei de provar isso. – dei de ombros – E esse idiota me interrompeu.
– Richard estava comigo no dia do sequestro, senhor. – ouvi a voz de Travis Corvus pela primeira vez naquele dia – Ele já estava um pouco... Intrigado com o jeito peculiar da senhorita . Acho que se sentiu ameaçado.
Travis piscou para mim e eu contive um sorriso.
– Vai se foder, Corvus!
– Por favor! Mais respeito! – gritou Terence. Todos já estavam de volta aos seus lugares e ele não parecia estar incomodado com os palavrões e sim com o desvio do foco da reunião – Vocês estão aqui para ajudar! Se não pretendem fazer isso, façam o favor de se retirar imediatamente!
O silêncio caiu sobre a mesa e a paz voltou a reinar.
Viva à América!
– Como eu estava dizendo... – voltei a falar, me lembrando de cada detalhe que eu tinha captado dentro do quarto revirado – Havia outra coisa. Um cheiro de colônia masculina... Era um perfume bem forte. O invasor se arrumou bastante para saquear a Casa.
– Um perfume? Realmente?
– Richard! – Terence gritou em forma de advertência, lançando um olhar letal para o agente – E então, ... Pode identificar o perfume?
– Sinto muito, senhor. Não posso. Mas tenho certeza de que consigo reconhecer se sentir o mesmo cheiro outra vez. Era um perfume misturado com tabaco... Um fumante compulsivo, provavelmente. Não mexi no quarto desde que tudo aconteceu, então talvez eu consiga mais alguma coisa...
– Se me permite interromper, – um dos agentes do Serviço Secreto começou, olhando diretamente para mim e não para . Dei de ombros como quem diz “vá em frente” porque gostei de como ele se virou para mim para pedir permissão – acho que nós devíamos dar uma olhada no quarto.
Com “nós”, ele se referia aos agentes do Serviço Secreto.
Nem fodendo.
– Acho melhor não. – interrompi na hora – Não me sinto confortável em saber que alguém revirou meu quarto, não vai ficar nada melhor saber que uma equipe vai procurar resquícios do invasor lá.
– Como quiser, senhorita.
– Meu Deus, ela acha que tem 15 anos. – o tal Richard resmungou baixinho, pensando que eu não ouviria.
– Você deve estar querendo perder um dente, não é possível!
O filho da puta – conhecido como Travis – riu.
Não foi uma reunião muito produtiva.
***
O casamento de e Mellody foi um dos acontecimentos do ano. Eles alugaram o maior salão de Washington para a festa. Eu continuei meu trabalho como vigia – ele odiava o termo “babá” e, particularmente, eu também – de e tudo ocorreu tranquilamente bem. O pagamento entrava todos os domingos e meu estoque de armas já havia sido reposto.
Depois da invasão na Casa na manhã do anúncio do casamento, encontrei meu quarto revirado e meu estoque de armas e canivetes estava limpo. As câmeras foram danificadas ao ponto de não ser possível identificar os invasores e ninguém conseguiu capturar nenhum deles. Fiquei um pouco mais tranquila depois de ver que minhas coisas haviam sumido; isso provava que os invasores estavam atrás de mim.
Eu tinha vários inimigos, é claro. Uma assassina de aluguel nunca era bem vista. Apenas ignorei o que aconteceu, porque realmente não valia a pena.
Saí com Travis Corvus mais três vezes naquele mês. Tudo ocorria sempre bem nos nossos encontros, até que Travis resolvia me beijar e eu me lembrava de . Eu me odiava por isso. Odiava-me por pensar nele e por observar demais suas costas e peito definidos quando estávamos na piscina. Odiava ainda mais quando Mellody estava por perto, abraçando-o e dizendo o quanto ele era importante e o quanto ela o amava; meu estômago se revirava e tudo que eu pensava em fazer era vomitar.
Até que chegou o dia do casamento.
A Casa Branca ficou bem movimentada e o turismo nos três primeiros andares foi cortado para que os arranjos pudessem ser feitos sem interrupções. E também tinha o fato de que Terence estava preocupado com uma nova invasão, desde que a última tinha ficado sem explicações. Cobrei mais 50 mil dólares para descobrir alguma coisa, mas ele recusou.
Travis seria meu par no casamento. Por algum motivo, eu não queria chegar lá sozinha e uma vez que estávamos saindo e ele foi convidado, não vi por que não irmos juntos.
Comecei a me trocar para ir e uma sensação de dejá vù me atingiu quando alguém bateu na minha porta.
Mas não estava ali. O pai dele estava.
– Olá, . Posso entrar?
Não respondi, apenas abri a porta para Terence entrar no quarto, totalmente decepcionada.
– Vejo que está se preparando. – ele comentou, sem saber direito como começar a conversa. Era engraçado ver o presidente dos Estados Unidos ficar sem graça.
Sorri para ele.
– Sim, Terence. – apontei para o terno que escondia roupas maleáveis e coldres. Eu parecia um dos seguranças que rondavam a Casa – Sempre trabalhando.
– Gosto da sua dedicação, . – continuou enquanto se sentava na minha cama. Eu não me importei, é claro. Afinal, a Casa é dele mesmo – Posso te chamar assim, eu creio.
– Mas é claro. – respondi, mantendo o sorriso no rosto. Terence tinha me tratado muito bem no último mês e havia feito com que eu me sentisse como se fosse sua própria filha, ou melhor, uma amiga próxima – me chama de .
– Ah, sim. . Ele está se casando. E está totalmente a salvo, como você me garantiu.
Meu sorriso aumentou devido ao orgulho. Eu podia ser uma vadia fria, mas ainda gostava de ser elogiada.
– Você está dispensada de seus serviços hoje, .
– Como?
– Não precisa ir ao casamento como segurança de . Você está indo como convidada do pai do noivo, o que acha?
Um pouco surpresa e grata, não soube como responder sem ser com uma brincadeira.
– Acho que vou dever explicações para Judith.
Terence riu e se levantou, colocando um braço em meu ombro, me puxando para mais perto.
– Não se preocupe, . Você tem feito um bom trabalho. Suas férias vão começar assim que for para sua lua de mel com Mellody e acredito que você não precisará ficar por perto muito depois de eles voltarem. O Serviço Secreto não identificou quem matou Julian e quem está tentando acabar comigo, mas seja lá quem for, parece ter desistido.
– Devem ter ficado com medo de mim.
Mais uma risada sonora vinda do presidente.
– Gosto do seu jeito, moça. Tire esse terno e ponha um vestido bonito. Não quero que você trabalhe hoje. Apenas aproveite, tudo bem?
– Sim. Obrigada, Terence. Você tem sido muito gentil comigo.
Terence apenas se despediu e me deixou sozinha novamente. A sensação de calor que invadia meu peito não era nada familiar. Eu não estava acostumada a me sentir tão bem-vinda em algum lugar como estava me sentindo na Casa Branca. As minhas suspeitas sobre os estavam diminuindo a cada dia, porque eles tinham seus segredos, mas, até aí, quem não tem?
Talvez eu só estivesse um pouco paranoica.
Removi o terno de linho e o coloquei com cuidado sobre a cama. Se as empregadas desconfiassem que a roupa estava um pouco amassada por eu – quase – tê-la usado, iriam correr para lavar, secar, passar e cuidar para que ficasse impecável de novo. Isso era algo que me preocupava na Casa; os empregados – de todos, desde o motorista até os cozinheiros – trabalhavam demais.
Percebi que não tinha nenhuma roupa que servisse para a ocasião e comecei a cogitar não ir ao casamento. Eu não queria ver se unindo com Mellody para o resto de sua vida. Não parecia certo; eles eram tão novos e tinham tanto para viver! Não conseguia aceitar o fato de que eles estavam dispostos a jogar tudo pela janela para viver um “amor eterno” que não passaria pela depressão pós 20.
– Você não pode continuar com isso, . – murmurei para mim mesma, na frente do espelho – e você não têm absolutamente nada. Você não é idiota.
Aquelas palavras pareciam certas. Pareciam ser o que eu precisava ouvir e não estava dando devida atenção.
– Você não é idiota. – repeti. Talvez mais algumas vezes e tudo ficaria melhor – Você não é idiota. Você não é...
– ?
Dei um pulo, assustada. Ninguém nunca me surpreendia. No mais tardar, eu era pega... Desprevenida.
– ?
Saí do closet e encontrei parado no meio do meu quarto, com um sorriso bobo no rosto. Seus olhos brilhavam de um modo que eu nunca tinha visto e isso não podia me incomodar mais; seu corpo estava delineado por um smoking caro preto e uma gravata vermelha, que estava desamarrada, combinando com o estilo desarrumado que era acentuado pelos primeiros botões abertos de sua camisa social branca.
Um garoto. não era nada mais do que um garoto.
– Trouxe isso para você.
segurava um cabide com uma roupa escondida por uma capa preta, para proteger. Olhei para ele, desacreditada.
– Você... Você comprou um para mim?
– Claro. – ele continuou sorrindo – Ou você pensou que iria ao meu casamento como minha babá?
Nós rimos porque ele usou o termo que melhor descrevia nossa condição e que mais odiávamos. Também ri para disfarçar a careta que senti se formar quando mencionou o casamento.
Ele me entregou o cabide a ficou esperando eu abrir a capa para observar minha reação. Desci o zíper e encontrei o vestido mais lindo que já tinha visto na minha vida.
– Eu não sei nem o que dizer... – murmurei, realmente sem saber – Como escolheu isso?
– Para ser bem honesto, eu imaginei o quanto você ficaria incrível nele.
Levantei os olhos do vestido e encarei , ficando hipnotizada com sua beleza naquele smoking. Ele estava perto demais e eu sentia que meu coração poderia explodir a qualquer momento.
Mas que merda estava acontecendo comigo?!
– Obrigada.
assentiu. Deixou seus olhos descansarem sobre mim por mais cinco segundos e depois saiu do quarto, batendo a porta.
Assim que ele saiu, me encontrei no espelho, com lágrimas finas e discretas escorrendo pelo meu rosto.
– Você é uma idiota.
***
Depois que disse “eu aceito”, meu mundo desabou. Foi somente nesse momento que fui capaz de admitir para mim mesma o que estava rondando minha mente desde quando o beijei quando saí com Travis: eu estava apaixonada por .
Isso era ridículo. Totalmente ridículo. era um garoto e eu não tinha espaço para sentimentos. Quer dizer... O que eu esperava? Que aceitasse tudo o que eu fazia e ainda ficasse comigo? Eu já estava velha para viver romances com adolescentes que nem sabiam o que queriam da vida ainda.
Então por que era tão doloroso aceitar que agora Mellody iria cuidar de ?
Eu estava no terraço do salão, ao ar livre. A lua estava cheia e brilhando forte naquela noite, o céu estrelado. Eu sempre gostei de olhar para o céu de noite; gostava da ideia de imensidão e universo. Suspirei, deixando o ar fresco invadir meus pulmões.
O barulho do salão estava me incomodando um pouco, mesmo eu estando de fora da festa. Acho que foi por isso que não percebi quando alguém entrou no terraço e se juntou à mim.
– Por que está aqui, sozinha?
estava ainda mais maravilhoso. Acho que aquilo de “você começa a dar valor a algo quando perder” era verdade; no meu caso, o valor que eu dava para apenas aumentou. Ele estava ainda melhor desde quando o vi no salão, dançando com Mellody.
– Resolvi respirar um pouco de ar puro. – menti, mas não totalmente. O ar de comemoração e alegria do salão estava mesmo me sufocando.
Uma música lenta começou a tocar lá. Minha respiração ficou fraca quando se afastou um pouco e estendeu a mão para mim, obviamente me convidando para dançar.
I don’t ever ask you where you’ve been
(Eu nunca te pergunto onde você estava)
And I don’t feel the need to know who you’re with
(E não sinto a necessidade de saber com quem você estava)
– Você não dançou comigo nenhuma vez. – lembrou, fazendo uma carinha de cachorro abandonado que eu não conseguia resistir.
Antes que eu pudesse parar para pensar racionalmente, me encontrei indo para seus braços.
Por algum motivo, o sorriso que me lançou acabou recompensando.
I can’t even think straight
(Não consigo nem pensar direito)
But I can tell
(Mas posso dizer)
That you were just with her
(Que você estava com ela)
Suas mãos firmes envolveram minha cintura, me obrigando a ficar próxima dele. A mão esquerda subiu um pouco, para o meio das minhas costas enquanto a outra roçou meu braço até encontrar a minha, entrelaçando nossos dedos. Por instinto, acabei por pousar a mão que sobrou em seu braço.
Com firmeza, me segurou e começamos a girar pelo terraço.
– Você sabe dançar? – perguntei com um tom de deboche. Eu, com 18 anos, não conseguia nem andar pra frente e assobiar ao mesmo tempo.
riu, uma risada sonora e que, em meus ouvidos, soavam como sinos.
– Tive que aprender em um mês para dançar na minha valsa com a Mellody. Ela é dançarina desde os 8 anos.
Mordi meu lábio inferior, odiando o rumo que a conversa tinha tomado.
And I’ll still be a fool
(E eu ainda serei uma idiota)
I’m a fool for you
(Sou uma idiota por você)
– Vou sentir sua falta, .
– Vou sentir sua falta também, .
Um risinho escapou de seus lábios.
– Pensei que assassinas de aluguel fossem mais duronas.
– Idiota. Eu sou durona. – reclamei, dando-lhe um beliscão no braço que eu segurava.
– Ai, ai! Tudo bem, você é durona, .
me segurou pela mão e me girou para longe, me trazendo de volta logo depois. Meu vestido rodou por todo o telhado, criando uma linda ilusão se olhado de cima. Meus cabelos também se esvoaçaram e eu arfei em surpresa quando senti o toque firme de em mim novamente.
– Você está muito linda, .
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your hear is all I want
(Só um pedacinho do seu coração é tudo que eu quero)
Era muito ruim. Eu sentia uma explosão de sentimentos em meu peito e quando me olhava nos olhos eu podia dizer que ele sentia a mesma coisa. Eu queria perguntar, queria contar para ele o que eu queria, mas algo me impedia de deixar as palavras escaparem.
Mas me beijou. E logo depois eu o dispensei, não foi? Foi exatamente o que eu fiz. Ele não se aproximara porque eu não tinha permitido. Se eu não o tivesse repelido naquela noite, tudo seria diferente, não seria?
Deus, eu estava morrendo para saber as respostas.
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit is all I’m asking for
(Só um pedacinho é só o que estou pedindo)
De um momento para o outro, a postura de mudou. Ele ficou um pouco mais nervoso e vi que mordia a parte interna das bochechas. Engoliu em seco algumas vezes e percorreu meu rosto com os olhos, um pouco menos concentrado em seus passos de dança.
– , eu... Eu acho que preciso te pedir desculpas.
– O quê? Por quê?
respirou fundo, como se estivesse com medo de continuar a falar.
– Na primeira vez que você saiu com Travis. O beijo... Eu não devia ter feito aquilo...
– Está tudo bem. – interrompi na mesma hora. Aquele não era um assunto que eu queria retomar – Já passou, não precisamos falar sobre isso agora.
– Acho que precisamos sim, sabe. Eu acabei de casar, sinto que preciso resolver tudo que deixei em aberto.
I don’t ever tell you how I really feel
(Eu nunca te digo como realmente me sinto)
‘Cause I can’t find the words to say what I mean
(Porque não consigo encontrar as palavras certas)
Desde quando eu não sabia o que dizer? Desde quando alguém me deixava sem palavras?
– Então você se arrepende? – perguntei, já que aquilo estava entalado na minha garganta.
olhou para o lado e suspirou. A dança parou e nós ficamos apenas próximos o suficiente para sentirmos o calor do corpo do outro.
And nothing’s ever easy
(E nada é sempre fácil)
That’s what they say
(É o que dizem)
I know I’m not your only
(Eu sei que não sou a sua única)
But I’ll still be a fool
(Mas ainda serei uma idiota)
I’m a fool for you
(Sou uma idiota por você)
– Não. – respondeu, enfim – Não me arrependo.
E o tempo parou. Tudo ao meu redor parou. Eu não consiga respirar.
se aproximou. Cada vez mais, ele chegou perto de mim, seus olhos nunca deixando minha boca. Observei cada movimento até que estávamos totalmente conectados. Quando finalmente nos beijamos, eu senti fogos de artifício explodirem no céu sobre nós.
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your hear is all I want
(Só um pedacinho do seu coração é tudo que eu quero)
De repente, algo mudou no modo que me beijava. Ele ficou mais exigente, mais possessivo, mais faminto. Uma de suas mãos se perdeu em meus cabelos e eu acabei por pousar as minhas duas em seu peito.
Apesar de achar estranho, eu não reclamei.
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit is all I’m asking for
(Só um pedacinho é só o que estou pedindo)
Com certa violência, mordeu meu lábio inferior. Um pouco sem entender o que estava acontecendo, me afastei dele. não agia assim.
E assim senti o cano frio na minha cabeça.
I know I’m not your only
(Sei que não sou a sua única)
But at least I’m one
(Mas pelo menos sou uma)
– Não se mexe.
Mellody. Mellody estava atrás de mim com uma arma apontada para minha cabeça.
Olhei para , assustada, apenas para perceber que ele não parecia estar nem um pouco surpreso.
– O que está acontecendo? – perguntei, murmurando, não querendo acreditar naquilo tudo.
Senti uma pancada forte na cabeça e minha visão se escureceu. A necessidade de deitar ficava cada vez mais forte, e, mesmo eu lutando contra isso, precisava deixar a escuridão me tomar.
Os lábios de formando a palavra “desculpa” foi a única coisa que eu vi antes de apagar.
I heard a little love is better than none
(Ouvi dizer que um pouco de amor é melhor que nada)
***
O primeiro pensamento que tive foi que eu não estava morta.
O segundo foi que eu queria estar morta para não sentir aquela dor de cabeça forte que eu estava sentindo.
Pisquei algumas vezes para tentar ver onde eu estava, mas era impossível. Não estava sentindo meus pés e meus braços, então deduzi que estava amarrada em uma cadeira. Além da minha cabeça, meu pescoço também estava muito dolorido. Uma olhada rápida e notei que ainda usava o vestido da festa.
Estava tudo escuro, mas havia uma claridade direcionada à mim. Por causa disso, eu não fazia ideia de onde estava.
Algo estalou em algum lugar perto de mim e ouvi passos.
Mellody. Mellody e .
Os eventos que me levaram até ali me atingiram tão forte que a dor de cabeça piorou.
– O que você sabe sobre Julian ?
Levantei a cabeça para encarar Mellody.
– Nada. Não sei nada sobre Julian. Quem diabos é Julian?
Meu rosto esquentou quando Mellody desceu a mão em mim.
– Sua puta! – gritei, começando a me debater. Minha cabeça estava doendo e o tapa apenas agravou a situação – Vai se foder!
– Onde está Julian ?! – ela perguntou outra vez, dessa vez falando mais alto.
– Eu não sei quem é esse!
– Julian , em Paris. Há um mês, na Torre Eiffel.
Eu estava lenta e demorei pra processar. Julian não me era um nome estranho e eu realmente estivera em Paris há um mês, antes de começar a trabalhar para...
Julian . O primo de que foi morto misteriosamente antes de eu começar a trabalhar para o presidente.
Só não conseguia entender qual a relação de Julian com meu trabalho em Paris.
– Você matou Julian em Paris. – Mellody acusou.
– Julian é primo de . – retruquei – Nunca faria nada com ele!
– Então quem você matou em Paris?!
– Matei Jully Northman! Uma mulher! Uma mulher sueca!
Do bolso da calça, Mellody tirou uma pequena foto e a deixou no alcance da minha visão. Duas Jully Northman estavam ali. Eu sabia porque nunca me esquecia de um rosto que eu tirava a vida.
– Que merda é essa?
– Jully e Julian . Irmãos gêmeos quase idênticos. Jully casou-se com um sueco alguns anos atrás e todo mundo a condenou, porque ele era envolvido com a máfia e coisas do tipo. Julian combinou de se encontrar com a irmã em Paris, mas ela nunca chegou a vê-lo, porque você matou a pessoa errada.
– O quê? Eu nunca erro.
– Errou dessa vez, . Errou. Você matou Julian .
O estalo da porta soou outra vez e um totalmente acabado em lágrimas apareceu em minha frente. Seus olhos estavam tão inchados e ele parecia tão desolado que eu fiquei sem ar. Seu nariz escorria e fungou, parecendo uma criancinha, totalmente frágil e exposto.
– Eu te disse, amor. – Mellody murmurou, se aproximando de e o abraçando de lado – Ela é uma assassina. Ela matou Julian . Não vale a pena você me trocar por ela, .
Para minha surpresa, empurrou Mellody.
– Por quê? – ele perguntou, assim que fez a esposa sair da sala.
– Me perdoa, . Eu não sabia. Juro que não sabia.
– , eu confiei em você! – gritou, ainda chorando. Eu queria dizer que meu coração estava se quebrando, mas este já tinha sido arrancado do meu peito no momento em que o vi entrando na sala.
– Eu não tinha como saber, ! Eles me pagam para matar e é isso que eu faço!
– E comigo?! Foi assim também?! Se alguém tivesse te pagado para me matar, você teria me matado?!
Eu não podia responder, porque sabia que minha resposta era positiva. Se tivesse me dado o dinheiro e me mandado acabar com , eu teria feito, sem pensar duas vezes.
Essa era quem eu era.
Comecei a me sentir suja quando as lágrimas começaram a escorrer. Eu não valia absolutamente nada.
Lembrei-me da família que eu havia abandonado por dinheiro.
– Quero que você se entregue para o meu pai.
Com aquela frase, me matou. Eu já deveria saber que me mataria no momento em que ele me beijou. Nunca pensei que seria ao pé da letra.
Fui idiota o bastante para me entregar para Terence, que me deu uma chance para fugir; chance que usei para tentar pedir desculpa para .
Acho que, uma vez que você experimenta amor e compaixão, todos seus pecados voltam para te lembrar o que você andou fazendo. Eu tinha mais de 25 mortes nas costas em 10 anos de profissão. Deixei todos os nomes anotados em um papel, junto com um pedido de desculpas à família.
Já para , deixei um bilhete.
Eu só queria um pedaço seu coração. Acho que pedi demais.
O amor é como entregar uma arma para alguém e confiar que não vão puxar o gatilho. Quando me obrigou a me confessar para Terence, ele puxou o gatilho.
Bom, a minha sorte é que eu sempre usava colete a prova de balas.
Meu coração podia estar em pedaços, mas eu ainda estava viva e era preciso bem mais do que um homem para acabar comigo. Talvez, daqui 10 anos, quando tudo for menos complicado, eu e possamos nos encontrar outra vez. De qualquer jeito, vou mantê-lo para sempre comigo e guardar um espaço para quando ele estiver pronto para me entregar seu coração.
As pessoas que me procuram não são pessoas boas nem que estão apenas precisando de meus serviços. São pessoas vingativas que não têm coragem para fazerem o que realmente querem, então, elas me pagam para fazer o trabalho sujo. Não que eu me importe, eu realmente gosto do que faço.
Imagine minha surpresa quando o assessor particular do presidente me ligou e marcou um encontro comigo.
Estávamos em um restaurante movimentado o suficiente para passarmos despercebidos. Eu não levava meus clientes para casa porque era particular demais. Meu trabalho não iria interferir na paz do meu lar.
O garçom colocou a xícara de café na minha frente e eu agradeci com um sorriso que não era típico meu. O senhor Gates agradeceu por seu chá com canela.
Eu pude ver uma pequena gota de suor escorrer de sua testa. Seu chapéu casualmente pousado na cabeça escondia uma pequena câmera, que ele pensava que eu não tinha visto. Seu paletó bege também escondia um microfone para que todas suas falas fossem captadas, e uma segunda câmera na caneta no bolso de seu paletó. Sua gravata estava torta e os dentes estavam amarelados, o que me provava que ele era um fumante compulsivo. Sua mão esquerda tinha uma marca de anel no dedo anelar, me dizendo que Gates era casado, mas que passava um bom tempo sem a aliança, como estava agora. Isso só podia significar que o assessor do presidente dos Estados Unidos costuma trair sua mulher. Frequentemente. Não está tomando café porque está agitado e a cafeína o tornaria ainda pior; o chá de camomila com canela irá acalmá-lo o suficiente, mas também é fácil ver seus dedos da mão direita se esfregarem várias vezes uns nos outros. Ele é um fumante desesperado para fumar.
Minha presença o deixa nervoso.
E mesmo assim, tem mais três homens que estão de olho nele no ambiente. Estão fingindo ter uma conversa casual, cada um em um canto, com uma pessoa diferente, um deles sozinho lendo o jornal de hoje, mas isso só prova como são patéticos.
Consegui captar tudo isso e Gates não tinha nem começado a falar ainda.
– E então? – perguntei, já que ele não parecia querer ser o primeiro a falar – O que tem para mim?
– Como sabe, estou aqui a pedido do presidente. Ele é quem está contratando seus serviços.
– Ele está me apresentando a proposta. – corrigi – Não aceitei nada ainda.
– Sim, senhorita. – Gates concordou e engoliu em seco. Tomou um longo gole de chá para não ter que falar.
– E então... – estimulei, para que continuasse.
O assessor limpou a garganta.
– Andamos fazendo uma pesquisa sobre todos os atuantes na sua área e a senhorita é, de longe, a melhor de todos. Sabemos o que você andou fazendo, mas nunca teríamos provas o suficiente para acusá-la.
Ele estava enrolando. Não precisava me dizer o que eu já sabia. Provavelmente, não me faria uma boa proposta e estava tentando me intimidar, mostrando que o governo tinha bastante informação sobre mim; quem sabe eu aceitasse a proposta por medo.
Como se eu tivesse medo de alguma coisa.
Apenas arqueei uma das sobrancelhas e tomei um gole do meu café, demonstrando o quanto aquele assunto estava me entediando.
– Quem exatamente eu devo encontrar? – perguntei, adiantando o assunto. Eu tinha voltado de Paris tinha apenas três horas e estava exausta.
Gates reparou como eu tinha feito a troca de palavras e dito “encontrar”.
– O presidente tem sofrido alguns ataques nos últimos meses. – Gates murmurou, sua voz ficando mais baixa e nós dois tivemos que nos aproximar para que pudéssemos nos entender – Pensamos que eram apenas baderneiros protestando contra o governo na Casa Branca, mas as coisas ficaram mais sérias há uma semana e meia.
Interessada na história que os jornais não tinham contado, eu me aproximei ainda mais, sem deixar transparecer o quanto eu queria saber o que estava acontecendo na Casa Branca. Meu pior defeito? Curiosidade excessiva.
– O presidente sofreu um ataque direto. Alguém matou um dos primos mais próximos de .
– Por que ninguém está falando sobre isso? – questionei, interrompendo-o.
– A morte de Julian foi tão discreta está classificada como suicídio. E o presidente pediu que mantivéssemos a situação em total sigilo.
Assenti, imaginando como deveria ser uma merda ser o presidente; não se pode ter privacidade nem mesmo quando alguém que você ama morre.
– Então, pelo que eu entendi, vocês querem que eu descubra e acabe com quem está ameaçando o presidente, certo?
– Não exatamente... já colocou os melhores agentes da CIA e do FBI no caso. Em pouco tempo, estará resolvido.
– Não estou entendendo o motivo de contratar meus serviços, senhor Gates...
– acredita que sua família vai começar a ser atingida para que ele seja acuado e confrontado. Seu filho, , é o mais provável alvo; além de ser fácil, é uma das pessoas mais importantes na vida do presidente.
Eu não estava gostando do rumo daquela conversa.
– O presidente quer que você proteja .
– Não. – respondi na mesma hora. Gates arregalou os olhos.
– Não?
– Não.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, bebericando seu chá enquanto eu matava a minha xícara de café. Quando terminei, ele ainda parecia totalmente em choque, então resolvi me pronunciar:
– Vocês pegaram o tipo de pessoa errada, senhor Gates. – informei-lhe – Eu sou uma assassina de aluguel. Você me paga e eu mato quem você quiser. É assim que funciona. Não protejo nem banco a babá de ninguém.
– Não quer nem mesmo saber o salário?
– Não me importo com dinheiro. Estou trabalhando porque gosto do que faço. – enfatizei, referindo-me a matar.
Percebi que Gates tremeu e me contive para não revirar os olhos.
– Se é só isso... Sinto muito por não poder ajudar.
Eu comecei a me levantar para ir embora, mas Gates não estava disposto a me deixar ir.
– Você ajudaria o FBI enquanto está na casa. Nenhum deles tem acesso à casa porque Judith, a primeira dama, não quer problemas em seu lar, mas você passaria o tempo todo lá. Se descobrir alguma coisa e pegar a pessoa certa, você ganharia ainda mais.
– Eu ficaria na casa?
– Sim. Moraria na Casa Branca até que tudo acabe. Não precisa seguir por todo lugar, apenas tenha certeza de que ninguém vai matá-lo. É um trabalho fácil para você, senhorita . E você ainda vai ganhar 10 mil dólares por semana que passar lá dentro.
E aí eu ri.
– 10 mil dólares por semana e não fazer o que eu quero? – debochei, cruzando os braços. Fiquei séria logo depois – Quero no mínimo 75 mil dólares por semana ou nada feito. Pode procurar outra pessoa para tomar conta do precioso .
– Veja, senhorita... Não sabemos quanto tempo isso vai durar ou...
– E eu não sei o quanto de trabalho esse mimado vai me dar. Eu conheço , senhor Gates. Vejo notícias sobre ele e o comportamento mimado. Sobre como deu uma festa na piscina em Malibu e depois afundou uma Ferrari no oceano, por diversão. Ou então sobre as prostitutas que foram encontradas dormindo com ele em uma casa em Manhattan, que ele comprou só para isso. O senhor convive com o garoto, imagino. Sabe como ele não é fácil e sobre como vai ser um inferno cuidar dele. Não vou aceitar fazer por 10 mil dólares. Porém, se quiser que eu elimine o garoto, farei com prazer por 5.
Localizei um sorriso de compreensão no canto dos lábios de Gates. Ele conhecia e sabia o quão ruim o garoto era.
– Podemos fechar por 50 mil por semana?
– Perfeitamente.
E foi assim que eu aceitei a proposta que acabaria com a minha vida.
***
Eu sempre me imaginei conhecendo o presidente Terence . Sempre imaginei que eu acabaria fazendo uma merda tão grande que ele apareceria em pessoa para me mandar para o inferno. Quando Terence – sim, eu ganhei a liberdade de chamá-lo pelo nome – me cumprimentou com um enorme sorriso e me pediu para ir encontrá-lo em uma hora em uma de suas salas de reuniões, eu me senti muito... Errada. Sabe, como se eu estivesse em alguma realidade alternativa que não era a minha. Era uma sensação boa.
– Senhorita ... – começou o presidente, mas eu me senti segura o suficiente para interrompê-lo.
– Pode me chamar de , Terence. Se vou te chamar pelo nome, podemos jogar as formalidades pela janela.
Ele riu melodicamente. Acho que o presidente devia fazer aulas para conseguir ser tão carismático assim.
Estávamos só nós dois em uma sala de reuniões, com uma linda vista para a cidade. A sala parecia realmente grande demais, mas eu não iria discutir com o presidente. Eu ainda não tinha conhecido a casa toda, apenas o quarto onde eu ficaria enquanto estava em missão.
– Imagino que você tenha ouvido falar de ... – começou Terence, parecendo meio hesitante. Naquele ponto, percebi que e Terence não eram os melhores amigos do mundo.
Então por que Terence estava disposto a pagar 50 mil dólares por semana para eu ficar de babá do filhinho rebelde?
Você pode dizer que é porque é filho de Terence e os pais amam os filhos acima de tudo e outras besteiras do tipo, mas eu não engulo essa merda. Conheço as pessoas o suficiente para saber como são.
– Não muito. – menti – Apenas algumas notícias que vejo por aí.
Terence suspirou. Ele tinha comprado minha mentira.
– acabou de fazer 18 anos e está um pouco deslumbrado com isso. Ele gosta de sair para festas, beber e às vezes não volta para casa. Pior ainda, ele colocou na cabeça a ideia de que precisa sair daqui para ir morar sozinho.
– Qual o problema de ir morar sozinho?
– Não teria problema nenhum, é claro, se não fosse pelos acontecimentos recentes aqui na Casa Branca, . Nós não podemos nos dar ao luxo de perder outra pessoa.
– Entendo.
– é um pouco difícil e não vai aceitar de primeira a ideia de que alguém vai vigiá-lo. Talvez esse seja seu único problema.
– Já imaginei isso, Terence. Vou convencer de que não é nada demais ter alguém cuidando dele.
– Ótimo. Espero que passe um bom tempo na casa, .
Sorri para esconder minha raiva do modo como Terence falava. Eu não estava na Casa Branca de férias.
– Obrigada.
Essa era minha deixa para sair e eu a aproveitei. Tinha alguma coisa errada com os e eu pretendia descobrir o que era.
Meu quarto na Casa Branca era no 5 andar, onde ficavam a maioria dos quartos. Os três primeiros andares eram abertos ao público, então nenhum quarto ficava lá. As paredes brancas eram cuidadosamente decoradas com quadros de paisagens de florestas e casas de campo, com molduras que pareciam ser de ouro. Haviam algumas cômodas ao redor da enorme cama de casal que comportava facilmente umas cinco pessoas e um abajur de cada lado da cama. Uma enorme janela, que não chegava a ser uma sacada, mas podia ser. Paralela à cama, uma televisão enorme, com um rack preto e várias caixas de som. Eu não era uma adepta da televisão, então não pretendia ligar aquilo, mas era algo bonito de se ter em um quarto.
Na parede paralela à janela haviam duas portas, uma era um banheiro e outra um closet. Eu não tinha roupas o suficiente para encher o lugar, mas minhas armas e canivetes e objetos de trabalho seriam. No banheiro, um ofurô de cerâmica branca ocupava a maior parte do espaço. Também tinha um chuveiro grande no canto, caso eu não quisesse usar o ofurô.
Para terminar, uma lareira, que eu não pretendia usar. Estávamos no verão, não seria necessário – e eu não pretendia ficar lá até o inverno chegar.
Assim que me deitei na cama que parecia ser macia e totalmente confortável, uma sirene disparou. Eu revirei os olhos e já imaginei que o trabalho tinha começado. Eu vestia um colete a prova de balas por baixo da roupa preta de couro, então apenas coloquei minhas armas no coldre na cintura e nas coxas. Enganchei alguns canivetes na bainha da calça, só por proteção. Sai do quarto prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo alto, para ter certeza de que os fios não me atrapalhariam. Seria muito mais fácil cortar meu cabelo, mas eu não gostava de cabelo curto. Os fios tocando minha cintura me agradavam bem mais.
Senhorita , favor encontrar o presidente na sala de conferências do andar 6.
Franzi o cenho para a voz, não acreditando que todo aquele alarde era apenas para Terence me chamar na sala outra vez. Seria muito mais fácil se ele simplesmente ligasse no telefone do meu quarto.
Bufando, corri até a sala, trombando com vários homens fardados.
– Qual o problema? – perguntei assim que adentrei a sala.
Eu havia estado ali minutos antes, mas tudo tinha mudado. As janelas de vidro haviam sido fechadas por uma parede de aço que impedia o sol de entrar e uma luz branca iluminava o lugar. A mesa no centro da sala estava lotada de papéis e totalmente desorganizada. Terence estava ao lado de um telefone, junto com alguns homens fardados, que, por acaso, lotavam o lugar.
– ! Ainda bem que está aqui! – Terence gritou para mim, me chamando para perto com um gesto da mão.
– O que aconteceu? – perguntei, nem um pouco acostumada e confortável com a grande movimentação de pessoas; eu não era uma assassina de aluguel à toa.
– foi sequestrado. – Terence informou com um suspiro. Percebi que ele parecia mais de saco cheio do que preocupado – Acabamos de receber uma ligação dos sequestradores.
– Gravaram?
– Sim, estava esperando você chegar para colocar o áudio.
Uma voz estranha pedia socorro. Não dava para saber se era masculina ou feminina, tamanha a distorção. Logo depois, uma voz masculina bem grossa – também distorcida – pedia 100 mil dólares. Simples, rápido. Nada elaborado para um sequestrador que conseguiu o filho do presidente.
– Como tem tanta certeza de que não é um golpe e que está bem? – questionei, franzindo o cenho.
– Ligaram do telefone dele.
– E se ele só foi roubado?
– , entendo que isso tem a ver com o que você faz, mas quero que saiba que eu sei como administrar um país e a minha família. Pedi para você vir até aqui apenas porque quero que ajude os policiais e mate o sequestrador de .
– Matar o sequestrador? Vou cobrar isso a parte. – informei, cruzando os braços. Terence podia ser o presidente dos Estados Unidos, mas na arte de matar, quem comandava era eu.
– Não vou pagar a mais para você fazer o seu trabalho!
– Meu trabalho é vigiar o garoto rebelde. Você mesmo me disse que não mataria ninguém. Quer que eu mate o sequestrador? Quero mais 10 mil essa semana.
– Você é bem espertinha, senhorita .
– Muito mais do que o senhor imagina. Negócio fechado?
– Fechado. Pegue o endereço que rastreamos da ligação.
***
Era um prédio afastado do centro da cidade. Estava abandonado e eu continuava com aquela impressão de que tinha algo errado. Sequestros não aconteciam em lugares afastados; principalmente o resgate.
Uma equipe do FBI estava comigo, mas os idiotas apenas iriam me atrapalhar. Eles rodearam o prédio silenciosamente, graças a Deus. O capitão deles estava no carro comigo, esperando as outras equipes chegarem.
– O que você faz? – ele perguntou em um tom baixo, me analisando de cima a baixo.
– Faço o que me pagam para fazer. – respondi vagamente. As equipes não sabiam que eu era uma assassina de aluguel e eu preferia assim. Eu não sabia até quando o presidente me daria cobertura com a polícia, então era melhor manter tudo em segredo. Eu podia estar trabalhando para Terence , mas ainda fazia algo ilegal.
– Isso é muito vago, senhorita...?
Parei de encarar o prédio e me virei para ele. O homem estava no comando das investigações da família . Terence havia me dito seu nome, mas eu não tinha me importado. Seus olhos eram de um verde tão profundo que chegavam a hipnotizar alguém, mas totalmente vazios, como se suas emoções não alcançassem seus globos. Não era fácil identificar quais seriam seus próximos movimentos como eu fazia com todos.
– . .
– Travis Corvus.
– Não é como se fossemos nos ver outra vez.
Travis ignorou meu comentário.
– Nós vamos tentar fazer a negociação toda aqui do lado de dentro. – ele começou. Falava perto do painel do carro para que os outros pudessem ouvir também o que ele dizia – Precisamos fazer isso do modo mais civilizado possível. Não esqueçam que está dentro do prédio.
Revirei os olhos. Não tinha tempo para todo esse planejamento.
Havia uma arma grande no chão aos meus pés. Enquanto Travis continuava a falar, eu desviei o olhar para baixo e identifiquei uma metralhadora. Não entendi qual a necessidade de uma arma daquele porte para uma simples missão de resgate. Talvez Travis sempre andasse com uma arma agressiva dentro do carro.
Ele pretendia levar o sequestrador preso. Eu precisava dele morto.
Saí do carro, levando a metralhadora.
– ! – Travis gritou – Mas que porra você está fazendo?
– Estou fazendo algo melhor do que você.
Destravei a metralhadora e comecei a metralhar o portão do prédio, que, em segundos, estava no chão. Ouvi o barulho da porta do carro de Travis bater quando ele saiu atrás de mim.
Se minhas suspeitas estivessem corretas, o sequestrador de estava começando a chorar exatamente nesse momento.
Metralhei a porta de vidro que eu poderia ter quebrado com um simples chute, mas havia um cadeado garantindo que ficasse fechada. Logo, não tinha mais nada.
Eu não sabia que andar eles estavam, mas resolvi seguir meu instinto que dizia que eles estavam na garagem. Era um prédio bem antigo e abandonado, a estrutura estava fraca demais para arriscar um passeio nos últimos andares; eu tinha certeza de que e seu sequestrador sabiam disso.
Metralhei as portas que me levariam para o subsolo.
A metralhadora não era necessária; eu podia muito bem usar meu revólver, mas eu queria que os dois ficassem com medo. Sim, eram apenas dois: e o idiota que o tinha “sequestrado”. Para ser honesta, não acreditei nessa história nem por um segundo.
O barulho da arma era ensurdecedor e me dava dor de cabeça, mas era fácil de se acostumar. Com o tempo, se torna até reconfortante.
Andei em silêncio pelas escadas que dariam na garagem. Eles estariam em algum canto escondido e eu tinha que fazê-los denunciar suas posições. Tinha um jeito bem arriscado, mas merecia ficar com um pouco de medo.
Atirei contra uma das pilastras do estacionamento, até que fosse completamente destruída. Os tiros contra mim começaram imediatamente, vindo do lado leste da garagem.
Idiotas.
Caminhei atirando para cima em direção aos dois. Quase caí para trás quando vi saindo de detrás de um carro com uma garota. Ele olhou em meus olhos e começou a atirar também, me atingindo no estômago. Alguns anos atrás, eu morderia o lábio para conter a dor. Hoje em dia, eu apenas ignorava-a.
– Boa tentativa, garoto. – murmurei. estava sem balas e a garota ao lado dele estava em pânico, agarrada em sua cintura, os olhos cheios de lágrimas. Eles eram patéticos.
– Eu vou atirar outra vez! – gritou.
– Você está sem balas. Apenas fique quieto e vou dizer que o sequestrador fugiu. – me aproximei deles o suficiente para que vissem o meu olhar frio e cortante que eu havia aperfeiçoado ao longo dos anos – Vocês vão concordar com tudo o que eu disser.
– E o dinheiro? – a garota teve a coragem de perguntar.
– Está no lugar onde vocês mandaram colocar. Agora calem a boca e venham comigo.
– Como soube que éramos nós? – sussurrou perto do meu ouvido, com medo de quem alguém lá em cima os ouvisse.
Não respondi. Obriguei-os a subir devagar porque, há essa hora, Travis e sua equipe já estavam prontos para armar bombas e jogar dentro do prédio. Quando me viu sair com as crianças, ele praticamente beijou o chão.
– Caralho, ! – ele gritou – Que porra você tem na cabeça?!
– Obviamente um cérebro. Diferente de você. – retruquei, empurrando a metralhadora em seu peito – Vamos embora.
– E o sequestrador?
– Os três fugiram. – menti.
– Você deixou eles fugirem?!
– E trouxe as crianças! Vai se foder.
Travis não disse mais nada enquanto eu entrava no carro e batia a porta com força. e a namoradinha foram socorridos por outros agentes, que entregaram cobertores para os dois, como se tivessem sofrido horrores. O tempo todo, senti o olhar do pequeno em minhas costas, me observando e tentando entender o porquê de eu não ter entregado os dois.
***
Quando chegamos na Casa Branca, Judith chorou a alma abraçando . A garota era Mellody, sua namorada. Eu nunca imaginei que ele teria uma namorada, principalmente com a quantidade de notícias dizendo que estava perdido em uma boate qualquer com algumas – ou muitas – prostitutas.
Mellody era a maior corna na história.
O quarto de era no mesmo andar que o meu, propositalmente. Terence queria que eu o vigiasse o máximo possível. Quando a noite caiu e todos já pareciam estar dormindo, mais calmos depois do dia agitado, segui para o quarto de .
Bati duas vezes na porta e ele atendeu na hora.
– Quem é você e por que me salvou? – ele perguntou logo depois de me puxar para dentro do quarto e bater a porta. Eu era 10 anos mais velha que ele, mas era realmente alto.
– Seu pai me contratou para te vigiar. – respondi observando-o de cima a baixo. Estava sem camiseta e não pude deixar de reparar em seu abdômen trincado. Ele não se parecia nem um pouco com o pai.
– Terence jamais se preocuparia comigo. – retrucou. Consegui captar um pouco de amargura em sua voz.
– Bom, ele se preocupa o bastante para me pagar 50 mil por semana para vigiar sua bunda. E eu quero mais 30 mil.
– Peça para ele. Quero ver se consegue. – debochou, puxando uma maleta de debaixo da cama. Reconheci a maleta onde haviam deixado os 100 mil dólares do resgate do “sequestro”.
– Quero de você.
soltou uma risada e me ignorou totalmente. Respirei fundo para não me irritar e soltar um murro na cara do garoto.
– Acho que você não entendeu. Seu pai ia me pagar para matar o sequestrador. É isso que eu faço. Sou uma assassina de aluguel e eu nunca falho. Por sua culpa, o presidente acredita que eu falhei. Seria uma pena se ele descobrisse que o precioso filho dele armou o próprio sequestro para tirar dinheiro do papai.
– E quem vai acreditar em você? – continuou com um tom irônico, mas dessa vez percebi que ele estava com um pouco mais de medo.
– Não precisam. Vou apenas enviar o corpo para ele.
– E então vai ter falhado na missão de me proteger.
– Nunca disse que mandaria o seu.
Meus olhos foram diretamente para a foto que ele tinha com a namorada. Estava pendurada na parede do quarto, ocupando grande parte do espaço com uma moldura dourada e trabalhada para ser detalhadamente perfeita; ao redor, milhares de outras fotos coladas dos dois.
– Você não pode matar Mellody, sua louca!
– E você não pode armar o próprio sequestro, seu bobinho.
Os olhos de brilharam em desespero. Ele não sabia o que fazer. Não queria me pagar, mas estava morrendo de medo de eu cumprir minha ameaça.
Não era uma ameaça real. Era um puta de um blefe.
E ele caiu direitinho.
me entregou o dinheiro com raiva nos olhos e eu saí do quarto um pouco mais tranquila e com uma certeza cada vez maior de que havia algo errado com os .
***
Travis Corvus me ligou três dias depois do sequestro. Eu precisava admitir que não era tão ruim assim morar com os . estava quieto, em casa, não saiu nesses três dias. Acabei conversando um pouco com Mellody, mas acho que ela não achou a conversa tão agradável assim, pois parecia desesperada para ir embora e para longe de mim o mais rápido possível. Terence queria um relatório semanal sobre – que agora eu chamava apenas de – e seu comportamento, coisa que eu neguei veemente. Eu já estava de babá do garoto e agora ainda por cima teria que escrever sobre ele? Nem fodendo.
e Mellody estavam na piscina curtindo o sol que estava consideravelmente forte. Eu estava apenas observando os dois, sorrindo. Eles tinham uma tranquilidade no olhar que me dava inveja, porque eu nunca teria aquilo. Deitei um pouco mais a espreguiçadeira e tentei relaxar. Aquele era um dos trabalhos mais fáceis que eu já fizera.
– Como conseguiu meu número? – perguntei para Travis depois de ele se identificar.
– Foi bem fácil, na verdade. Diga à que eu agradeço.
Encarei , com um sorriso de lado. Ele logo percebeu e me olhou de volta, dando de ombros com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso brincalhão; depois, uma piscadinha. Quando não o entreguei para o pai no dia do sequestro, acabei ganhando alguns pontos com .
– Então você pediu para o filho do presidente o meu número? Uau.
– Pois é. Pra você ver o quanto eu fiquei impressionado com a mulher que saiu metralhando um prédio, contra as minhas ordens.
– Foi por isso que ligou?
– É claro que não. Liguei para perguntar o que você vai fazer essa noite.
– Trabalhar, Corvus. Estou trabalhando em tempo integral.
– Até mesmo nos sábados?
– Até nos domingos.
Travis suspirou.
– Isso é uma pena. Eu tinha planejado uma ótima noite para nós.
Eu ri.
– E você tinha tanta certeza de que eu toparia? Há! É isso que dá excesso de confiança.
– Me ligue se mudar de ideia.
– Anotado.
Desliguei o telefone e me levantei para esticar as pernas. estava parado na minha frente, com os braços cruzados e o corpo inteiramente molhado.
Deus, eu ainda não comentei isso, mas agora eu preciso dizer: tem um corpo maravilhoso!
– Eu te dou cobertura. – ele murmurou, como se estivesse contando um segredo só para mim.
– O quê?
– Travis. Saia com Travis.
– Se seu pai me pegar...
– Ele não vai descobrir nada, . – é, tinha intimidade o suficiente para me chamar de .
– Não estou confiando em você, sozinho.
– Vou estar com Mellody. Sabe, vou estar com ela de verdade.
Por causa do jeito que disse aquilo, acabei deixando uma gargalhada escapar.
– Sabe, você pode dizer que vai transar com ela sem nenhum problema.
deu uma risada, um pouco nervoso. Suas bochechas começaram a corar e eu achei aquilo totalmente adorável.
– É. Vou fazer isso. Se você quiser sair com Travis, você devia. Ele é um cara legal. Trabalha pro meu pai tem um tempo já...
Foi aí que me convenceu. Eu queria saber mais sobre Terence e os e essa seria uma ótima chance.
– Ok... Então acho que você me convenceu, garoto.
abriu o maior sorriso da face da Terra e voltou para piscina, onde Mellody estava boiando. Quando pulou na água, ela olhou para mim e viu o sorriso que eu estava mandando para o namorado. Posso afirmar que o medo que ela sentia de mim se tornou uma raiva forte e profunda, baseada em ciúmes.
Meu sorriso não diminuiu nem um pouco por causa disso.
Voltei a deitar confortavelmente na espreguiçadeira e mandei uma mensagem para o número recém salvo de Travis.
Venha me buscar as 9hPM.
Eu não era o tipo de mulher que ficava nervosa com encontros nem nada do tipo. Na verdade, eu gostava de sair com vários homens porque era divertido. Mas esse era diferente.
pensava que eu estava nervosa porque estava gostando de Travis, o que era impossível, porque eu só estive com ele por duas horas, três dias atrás. Tudo que passava pela minha cabeça era como ele devia ter informações valiosas sobre Terence.
– !
Eu estava tão concentrada nas perguntas que faria sem levantar nenhuma suspeita sobre as minhas intenções que não estava me conectando ao mundo exterior.
estava falando comigo.
– Desculpe. Estou distraída.
– Estou vendo. Só relaxa. Travis é um cara legal. E vocês dois curtem matar pessoas. Vai dar tudo certo.
Eu ia rir, mas acabei me prendendo a uma informação que soltou.
– Travis mata pessoas?
– Eu acho que mata, sei lá. Ele é um agente do FBI. Deve matar gente.
Às vezes eu esquecia que tinha só 18 anos.
Assenti e peguei o vestido que eu usaria e me tranquei no banheiro. Amarrei um coldre em minha coxa, prendendo vários tipos de canivete ali. Como eu estava de vestido, não dava para levar uma arma, mas as facas me ajudariam caso algo acontecesse. Meu vestido preto tomara que caia era curto demais pro meu gosto, mas Travis precisava falar.
Fechei o zíper nas costas até a metade, mas aí chegou aquela parte infernal que seu braço não alcança de jeito nenhum e fui obrigada a sair do banheiro segurando a parte da frente do vestido para não deixar ver o que não devia.
– , será que você pode me ajudar com o zíper?
O garoto ficou atônito por alguns segundos. O olhar de estava praticamente tirando pedaços da minha pele enquanto ele se demorava olhando para minhas pernas expostas e os movimentos de seu peito se tornaram quase nulos quando chegou até as minhas coxas. Seu pomo de adão se moveu enquanto ele engolia em seco e seu olhar subia pelo vestido apertado e se deparava com as minhas mãos segurando o tecido nos seios. Discretamente – talvez até sem perceber – seus dentes capturaram seu lábio inferior e seus olhos escureceram.
– O quê? – ele perguntou, finalmente olhando-me nos olhos.
Nesse momento, alguma coisa mudou. não devia me olhar assim. Não era algo que eu deveria aprovar.
Então por que tinha uma corrente de calor percorrendo meu corpo desde que ele colocou os olhos em mim?
– Meu zíper. Você pode fechar?
– Claro.
Arrepiei-me com sua voz que ficara rouca de repente.
tossiu e se aproximou de mim. Virei-me de costas e tirei o cabelo do caminho, para que ele pudesse fechar meu zíper sem maiores dificuldades.
Sua respiração bateu na minha nuca e senti suas mãos começarem a trabalhar lentamente no zíper. Sua voz – ainda rouca – continuou soando próxima ao meu ouvido, talvez mais próxima do que o necessário.
– Quando você começou a fazer essa tatuagem?
Meu braço esquerdo era coberto por tatuagens escuras que começavam na palma de minha mão, com uma rosa vermelha que ocupava todo o espaço. Os galhos e os espinhos subiam pelo braço, junto com algumas cobras e outros animais que eu tinha feito. No fim, não era possível ver nenhum pedaço de pele.
– Com 15 anos. – confessei. Ninguém nunca me feito aquela pergunta.
Eu não costumava deixar que alguém se aproximasse de mim o suficiente para me fazer perguntas sobre meu passado ou meus gostos. Comecei a me perguntar quando se aproximou.
Ouvi o barulho quando engoliu em seco outra vez e terminou de fechar meu vestido, lentamente.
Virei-me para , o vestido finalmente no lugar.
– Obrigada.
Por algum motivo, eu havia sussurrado.
Eu não consegui encarar . Meus olhos não conseguiam atingir os dele, porque havia uma força incrivelmente forte que me puxava para os lábios dele. Vermelhos, cheios, finos e que pareciam ainda mais atrativos quando os mordia.
Deus, por que eu queria tanto sentir o gosto de seus lábios?
também estava me observando. Seus globos não se desgrudavam de mim e ainda estávamos perigosamente perto demais.
– Não me agradeça. – ele murmurou.
E seus lábios de aparência tão deliciosa se chocaram contra os meus.
Deixei que minha respiração saísse pelo nariz de uma vez; nem percebi que estava prendendo-a. começou devagar, testando, provando, querendo absorver cada sensação que pudesse obter daquele beijo. Quando nossas bocas já estavam cansadas e nossos corpos pediam por mais, ele entreabriu meus lábios e então sua língua entrou em contato com a minha.
Pequenas explosões aconteciam ao meu redor. Não era apenas um beijo como outro qualquer, daqueles que eu não sentia nada e era apenas uma língua estranha na minha boca. Era . Algo em tê-lo daquele jeito, suas mãos no meu pescoço, os dedos quase perdidos nos meus cabelos e o corpo totalmente tensionado enquanto ele se controlava para não fazer algum movimento brusco demais e acabar com o momento... Algo em tudo isso estava me fazendo ficar tonta.
Seu gosto era de café. estava sempre bebendo café e isso se refletia em sua boca.
Em alguns segundos, aquele se tornou o melhor beijo da minha vida.
A boca insistente de me cobrou uma reação e eu voltei para Terra. Voltei para o lugar onde e eu éramos duas pessoas que não poderiam se envolver. Ele era o filho do presidente, de apenas 18 anos, enquanto eu era uma mulher de 28, que já tinha matado mais pessoas do que conheceria em toda sua vida.
Isso não podia estar acontecendo.
Afastei , empurrando-o pelo peito.
Meus lábios estavam inchados e minha respiração ofegante. estava assim também e era doloroso ver o quão lindo ele ficava daquele jeito.
– Nunca mais faça isso. – murmurei, sem coragem de falar mais alto.
– ...
– Não, ! – gritei, finalmente encontrando minha voz – As coisas não funcionam assim! Você é o filho da porra do presidente! Eu sou uma assassina de aluguel! Você é 10 anos mais novo que eu! Isso não tem condições!
– Eu pensei que...
– Saia daqui. Agora.
Com uma careta, deixou o quarto. Não disse nem mais uma palavra.
De repente, eu havia esquecido os motivos que eu tinha para sair com Travis Corvus.
***
Era mais de meia noite quando eu voltei para a Casa Branca. Travis era ótimo e quando ele me beijou no final da noite, nublou meus pensamentos e acabei fazendo comparações entre os dois. Foi impossível não fazer, mas o pior foi quando eu percebi que era melhor.
Eu estava perdida.
Encontrei somente no outro dia, no café da manhã. Ele e Mellody tinham uma notícia para dar.
– Agora que estão todos aqui, – começou, levantando-se. Seus olhos encontraram os meus com uma frieza atípica dele e seu olhar não caiu em nenhum momento depois – para dar uma ótima notícia.
Todos pararam de comer para prestar atenção no que tinha para dizer.
– Eu e Mellody vamos nos casar.
Judith foi a primeira a quebrar o silêncio.
– Isso é maravilhoso, ! Estou muito feliz por vocês!
A primeira dama se levantou e abraçou o filho e Mellody. Eu não disse nada na próxima hora, enquanto todos se perguntavam o motivo do casamento repentino, se Mellody estava grávida e pra quando seria a cerimônia.
Eu e não conseguimos quebrar a conexão que havíamos estabilizado pelo olhar.
O café cuidadosamente preparado pelas empregadas se tornara pedra na minha boca. Era difícil de engolir e eu estava me sentindo enjoada.
– Com licença. – pedi, falando relativamente alto. Alto o suficiente para ouvir do outro lado da mesa. Seus olhos que se desviaram dos meus por um momento voltaram com força total – Não estou me sentindo muito bem. Acho que vou me retirar.
O silêncio foi notável assim que me afastei. Apenas meus passos ecoaram no corredor.
Subi para o quinto andar, onde ficavam os quartos. Não entendi o motivo de meu rosto começar a esquentar como se eu estivesse prestes a irromper em lágrimas.
era uma criança. Uma criança que eu estava sendo paga para cuidar. Não tinha motivos para pensar nele do jeito que eu estava pensando. Ele me rendia 50 mil dólares por semana; não era nada mais do que um trabalho.
E se fosse?
Só percebi que estava chorando quando o alarme soou.
Não era o mesmo tipo de alarme que eu ouvira quando cheguei – apenas um barulho alto e uma voz me convocando. Agora, era bem pior.
Uma luz vermelha piscava no meu quarto, deixando tudo escuro e difícil de enxergar. Abri a porta e percebi que essa luz também brilhava no corredor. O barulho era tão alto que senti as batidas do meu coração ecoarem nos ouvidos, no mesmo compasso do alarme.
estava parado na porta do meu quarto.
– Olha, , eu...
E então o ritmo do alarme mudou. Eram 4 sirenes seguidas. E então um silêncio de 4 segundos. olhou para cima, uma expressão de pânico se formando em seu rosto.
– Merda!
– O que está acontecendo? – perguntei, agradecendo mentalmente pelas luzes estarem alteradas e acabar deixando tudo mais escuro. Assim, não veria meu rosto manchado de lágrimas.
– A Casa foi invadida
Um outro alarme soou na minha cabeça no mesmo momento. Puxei pela camiseta para dentro do quarto com certa força, sem me importar se ele iria ou não se machucar. Fechei a porta e passei o trinco, quebrando a maçaneta com um chute circular logo em seguida; assim, seria impossível alguém abrir a porta. Eu não tinha percebido, mas as janelas do meu quarto tinham se fechado e havia uma parede de aço do lado de fora.
– Se esconda! – gritei para , tirando uma calibre 38 do coldre da minha cintura. Destravei o revólver e o apontei para a porta, o único lugar por onde poderia sair alguém.
– Não! Precisamos ir para outro lugar! – ele gritou de volta – Tem um esconderijo na Casa, ! Precisamos ir para lá!
– , meu trabalho é te proteger, não me questione!
– Me escute, cacete! Eu moro aqui, sei o que é melhor. O lugar para onde podemos ir é bem mais seguro.
Eu continuei a ignorá-lo e apontar a arma para a porta.
– Confia em mim, .
Aquelas três palavras, seguidas pelo meu nome, acabaram por me convencer. Eu resolvi que podia estar certo. Ele conhecia a casa melhor do que eu e se algo desse errado, eu podia protegê-lo.
Atirei na maçaneta da porta e ela se abriu com um estrondo, soando alto mesmo com o barulho do alarme.
– Vem, por aqui!
Segui pelo corredor, até entrarmos em seu quarto. Me lembrei da última vez que estive ali, quando peguei no flagra, contando o dinheiro que ele havia roubado do próprio pai.
Alguma coisa nessa lembrança me fez lembrar que os não eram confiáveis e que eu precisava investigá-los mais.
tirou o quadro de Mellody da parede e visualizei um painel com cinco botões. Ele apertou todos várias vezes, em uma sequência e ouvi um barulho no quarto. Com a arma em punho virei para trás, mas não vi nada.
– O que você fez? – perguntei.
– O banheiro!
Ele correu para o banheiro e eu apenas o segui com o cenho franzido. No banheiro, quando abriu a porta, eu fui surpreendida. Uma sala toda feita de paredes de aço estava ali. Nós entramos e ele fechou a porta, digitando um outro código no pequeno painel que ficava no lugar da fechadura.
– O que é isso? – perguntei outra vez. Senti que estava sendo passada para trás.
– O Serviço Secreto andou fazendo umas mudanças por aqui ultimamente. – ele contou – Com o turismo crescendo e as pessoas querendo entrar aqui cada vez mais, eles acharam melhor colocar algumas medidas preventivas na Casa. Esses quartos secretos são uma das medidas. No quarto que você está ficando não tem nada disso porque é só um quarto de hóspedes, mas a maioria dos outros quartos tem essa sala secreta.
Com as sobrancelhas arqueadas em surpresa, eu encarei .
– Uau.
Ele riu.
foi até o extremo norte da sala e apertou um botão vermelho que estava ali. Um barulho ecoou no espaço e então prateleiras saíram das paredes, repletas de salgadinhos e todos os outros tipos de comidas que serviam para matar a fome temporariamente.
– Eu não sabia disso. – comentei. Pela minha reação, isso era óbvio, mas eu precisava dizer em palavras.
– Tem muitas coisas que você não sabe, . – respondeu de volta, com um ar misterioso e um olhar que estava me despindo aos poucos. Pegou um pacote de salgadinho e me jogou outro.
Sentou-se ao meu lado, começando a comer o conteúdo do pacote. Comecei a me perguntar como ele matinha o porte físico tão bom quando comia mais do que um búfalo.
– Por que estava chorando?
A pergunta quebrou o silêncio que eu estava tentando manter. Os acontecimentos foram muito rápidos e eu não tive tempo de processar tudo. Mas ainda estava lá: ia se casar com Mellody. Isso não tinha mudado. Esperava que as luzes vermelhas tivessem acobertado meu rosto, mas ele tinha percebido.
– Eu não estava. – menti – E então... Você vai se casar?
Graças a Deus, não tinha insistido no assunto.
– Vou. Vou me casar com Mellody em um mês.
– Um mês?! – perguntei, um pouco chocada – Ela está grávida ou alguma coisa do tipo?
– Meu pai me deu uma condição: só posso sair daqui se eu me casar. Então, eu vou me casar.
– E você está tão desesperado assim para sair de casa?
– É... Sei lá. É só a Mellody. Eu a conheço desde que tinha dois anos. Ela é tipo minha melhor amiga.
Ficamos quase duas horas lá dentro, conversando. me contou e me explicou todos os motivos para se casar com Mellody. Eu aceitei todos e não o questionei. Os acontecidos na noite passada não foram mencionados e eu não senti a necessidade de trazê-los para conversa. Quando alguns agentes do Serviço Secreto abriram a porta, eu e saímos. Não entendi por que meu peito estava doendo como nunca havia doído em toda minha vida.
***
Uma reunião no salão oval foi convocada logo após o incidente. Os principais chefes do FBI, CIA e Serviço Secreto foram chamados e nos encontramos todos exatamente às 15 horas. Os agentes foram tão pontuais para obedecer ao presidente que me senti na Inglaterra.
– Muito bem, – começou Terence – os danos já foram analisados, assim como todas as câmeras de segurança. Sabemos que não temos nada, mas exijo que algo seja encontrado.
– Primeiramente, sugiro que suspendam as visitas de turistas. – disse um dos representantes da CIA quando Terence abriu a discussão – A Casa acabou de ser invadida, não podemos mais deixar que desconhecidos entrem aqui.
– O que mais? – Terence exigiu, desesperado por evidências e qualquer coisa que o ajudasse a resolver o problema. Seus olhos correram por todos os rostos ao redor da mesa, até pararem no meu – Senhorita ?
Levantei meus olhos. Até aquele momento, eu estava apenas ignorando aquilo. Imaginei que minha opinião não seria ouvida e minha presença era apenas para me manter informada do que acontecia e poupar Terence de ter que me contar tudo depois. Parei de cutucar o cantinho da minha unha.
– Bom, meu quarto foi revistado. – declarei – Minhas armas sumiram, mas, mesmo depois de pegarem minhas coisas, continuaram procurando e revirando o quarto.
– Por que estão atrás de você? – perguntou um arrogante agente do FBI. Eu era a única mulher no salão e percebi que esse babaca não gostava nada disso – O que você fez?
– Mandei um filho da puta como você ir se foder. – retruquei, sem medir palavras. Algumas pessoas têm que aprender a se portar!
– Como é?!
Ele se levantou como se fosse partir para uma briga e eu não fiquei para trás, derrubando minha cadeira quando o fiz. O agente se aproximou de mim andando em passos largos e autoritários, erguendo o nariz, como se fosse superior. Com minha visão periférica, vi sua mão direita – a que ele estava batendo constantemente na mesa antes de se levantar – se fechar em punho, pronto para me acertar. Antes que ele conseguisse, lhe dei um gancho de direita, derrubando-o no chão.
– O que foi, grandão?! – gritei, já sentindo alguém vir me segurar e outros irem ajudar o agente a se levantar – Perdeu a pose de macho?!
Como sou um poço de classe e gentileza, totalmente feminina, não consegui voltar para meu lugar sem antes cuspir na direção do homem, para deixar bem claro meu nojo.
– ! – exclamou Terence – O que foi isso?
– Só porque sou mulher não significa que sou menos digna de estar aqui. Acabei de provar isso. – dei de ombros – E esse idiota me interrompeu.
– Richard estava comigo no dia do sequestro, senhor. – ouvi a voz de Travis Corvus pela primeira vez naquele dia – Ele já estava um pouco... Intrigado com o jeito peculiar da senhorita . Acho que se sentiu ameaçado.
Travis piscou para mim e eu contive um sorriso.
– Vai se foder, Corvus!
– Por favor! Mais respeito! – gritou Terence. Todos já estavam de volta aos seus lugares e ele não parecia estar incomodado com os palavrões e sim com o desvio do foco da reunião – Vocês estão aqui para ajudar! Se não pretendem fazer isso, façam o favor de se retirar imediatamente!
O silêncio caiu sobre a mesa e a paz voltou a reinar.
Viva à América!
– Como eu estava dizendo... – voltei a falar, me lembrando de cada detalhe que eu tinha captado dentro do quarto revirado – Havia outra coisa. Um cheiro de colônia masculina... Era um perfume bem forte. O invasor se arrumou bastante para saquear a Casa.
– Um perfume? Realmente?
– Richard! – Terence gritou em forma de advertência, lançando um olhar letal para o agente – E então, ... Pode identificar o perfume?
– Sinto muito, senhor. Não posso. Mas tenho certeza de que consigo reconhecer se sentir o mesmo cheiro outra vez. Era um perfume misturado com tabaco... Um fumante compulsivo, provavelmente. Não mexi no quarto desde que tudo aconteceu, então talvez eu consiga mais alguma coisa...
– Se me permite interromper, – um dos agentes do Serviço Secreto começou, olhando diretamente para mim e não para . Dei de ombros como quem diz “vá em frente” porque gostei de como ele se virou para mim para pedir permissão – acho que nós devíamos dar uma olhada no quarto.
Com “nós”, ele se referia aos agentes do Serviço Secreto.
Nem fodendo.
– Acho melhor não. – interrompi na hora – Não me sinto confortável em saber que alguém revirou meu quarto, não vai ficar nada melhor saber que uma equipe vai procurar resquícios do invasor lá.
– Como quiser, senhorita.
– Meu Deus, ela acha que tem 15 anos. – o tal Richard resmungou baixinho, pensando que eu não ouviria.
– Você deve estar querendo perder um dente, não é possível!
O filho da puta – conhecido como Travis – riu.
Não foi uma reunião muito produtiva.
***
O casamento de e Mellody foi um dos acontecimentos do ano. Eles alugaram o maior salão de Washington para a festa. Eu continuei meu trabalho como vigia – ele odiava o termo “babá” e, particularmente, eu também – de e tudo ocorreu tranquilamente bem. O pagamento entrava todos os domingos e meu estoque de armas já havia sido reposto.
Depois da invasão na Casa na manhã do anúncio do casamento, encontrei meu quarto revirado e meu estoque de armas e canivetes estava limpo. As câmeras foram danificadas ao ponto de não ser possível identificar os invasores e ninguém conseguiu capturar nenhum deles. Fiquei um pouco mais tranquila depois de ver que minhas coisas haviam sumido; isso provava que os invasores estavam atrás de mim.
Eu tinha vários inimigos, é claro. Uma assassina de aluguel nunca era bem vista. Apenas ignorei o que aconteceu, porque realmente não valia a pena.
Saí com Travis Corvus mais três vezes naquele mês. Tudo ocorria sempre bem nos nossos encontros, até que Travis resolvia me beijar e eu me lembrava de . Eu me odiava por isso. Odiava-me por pensar nele e por observar demais suas costas e peito definidos quando estávamos na piscina. Odiava ainda mais quando Mellody estava por perto, abraçando-o e dizendo o quanto ele era importante e o quanto ela o amava; meu estômago se revirava e tudo que eu pensava em fazer era vomitar.
Até que chegou o dia do casamento.
A Casa Branca ficou bem movimentada e o turismo nos três primeiros andares foi cortado para que os arranjos pudessem ser feitos sem interrupções. E também tinha o fato de que Terence estava preocupado com uma nova invasão, desde que a última tinha ficado sem explicações. Cobrei mais 50 mil dólares para descobrir alguma coisa, mas ele recusou.
Travis seria meu par no casamento. Por algum motivo, eu não queria chegar lá sozinha e uma vez que estávamos saindo e ele foi convidado, não vi por que não irmos juntos.
Comecei a me trocar para ir e uma sensação de dejá vù me atingiu quando alguém bateu na minha porta.
Mas não estava ali. O pai dele estava.
– Olá, . Posso entrar?
Não respondi, apenas abri a porta para Terence entrar no quarto, totalmente decepcionada.
– Vejo que está se preparando. – ele comentou, sem saber direito como começar a conversa. Era engraçado ver o presidente dos Estados Unidos ficar sem graça.
Sorri para ele.
– Sim, Terence. – apontei para o terno que escondia roupas maleáveis e coldres. Eu parecia um dos seguranças que rondavam a Casa – Sempre trabalhando.
– Gosto da sua dedicação, . – continuou enquanto se sentava na minha cama. Eu não me importei, é claro. Afinal, a Casa é dele mesmo – Posso te chamar assim, eu creio.
– Mas é claro. – respondi, mantendo o sorriso no rosto. Terence tinha me tratado muito bem no último mês e havia feito com que eu me sentisse como se fosse sua própria filha, ou melhor, uma amiga próxima – me chama de .
– Ah, sim. . Ele está se casando. E está totalmente a salvo, como você me garantiu.
Meu sorriso aumentou devido ao orgulho. Eu podia ser uma vadia fria, mas ainda gostava de ser elogiada.
– Você está dispensada de seus serviços hoje, .
– Como?
– Não precisa ir ao casamento como segurança de . Você está indo como convidada do pai do noivo, o que acha?
Um pouco surpresa e grata, não soube como responder sem ser com uma brincadeira.
– Acho que vou dever explicações para Judith.
Terence riu e se levantou, colocando um braço em meu ombro, me puxando para mais perto.
– Não se preocupe, . Você tem feito um bom trabalho. Suas férias vão começar assim que for para sua lua de mel com Mellody e acredito que você não precisará ficar por perto muito depois de eles voltarem. O Serviço Secreto não identificou quem matou Julian e quem está tentando acabar comigo, mas seja lá quem for, parece ter desistido.
– Devem ter ficado com medo de mim.
Mais uma risada sonora vinda do presidente.
– Gosto do seu jeito, moça. Tire esse terno e ponha um vestido bonito. Não quero que você trabalhe hoje. Apenas aproveite, tudo bem?
– Sim. Obrigada, Terence. Você tem sido muito gentil comigo.
Terence apenas se despediu e me deixou sozinha novamente. A sensação de calor que invadia meu peito não era nada familiar. Eu não estava acostumada a me sentir tão bem-vinda em algum lugar como estava me sentindo na Casa Branca. As minhas suspeitas sobre os estavam diminuindo a cada dia, porque eles tinham seus segredos, mas, até aí, quem não tem?
Talvez eu só estivesse um pouco paranoica.
Removi o terno de linho e o coloquei com cuidado sobre a cama. Se as empregadas desconfiassem que a roupa estava um pouco amassada por eu – quase – tê-la usado, iriam correr para lavar, secar, passar e cuidar para que ficasse impecável de novo. Isso era algo que me preocupava na Casa; os empregados – de todos, desde o motorista até os cozinheiros – trabalhavam demais.
Percebi que não tinha nenhuma roupa que servisse para a ocasião e comecei a cogitar não ir ao casamento. Eu não queria ver se unindo com Mellody para o resto de sua vida. Não parecia certo; eles eram tão novos e tinham tanto para viver! Não conseguia aceitar o fato de que eles estavam dispostos a jogar tudo pela janela para viver um “amor eterno” que não passaria pela depressão pós 20.
– Você não pode continuar com isso, . – murmurei para mim mesma, na frente do espelho – e você não têm absolutamente nada. Você não é idiota.
Aquelas palavras pareciam certas. Pareciam ser o que eu precisava ouvir e não estava dando devida atenção.
– Você não é idiota. – repeti. Talvez mais algumas vezes e tudo ficaria melhor – Você não é idiota. Você não é...
– ?
Dei um pulo, assustada. Ninguém nunca me surpreendia. No mais tardar, eu era pega... Desprevenida.
– ?
Saí do closet e encontrei parado no meio do meu quarto, com um sorriso bobo no rosto. Seus olhos brilhavam de um modo que eu nunca tinha visto e isso não podia me incomodar mais; seu corpo estava delineado por um smoking caro preto e uma gravata vermelha, que estava desamarrada, combinando com o estilo desarrumado que era acentuado pelos primeiros botões abertos de sua camisa social branca.
Um garoto. não era nada mais do que um garoto.
– Trouxe isso para você.
segurava um cabide com uma roupa escondida por uma capa preta, para proteger. Olhei para ele, desacreditada.
– Você... Você comprou um para mim?
– Claro. – ele continuou sorrindo – Ou você pensou que iria ao meu casamento como minha babá?
Nós rimos porque ele usou o termo que melhor descrevia nossa condição e que mais odiávamos. Também ri para disfarçar a careta que senti se formar quando mencionou o casamento.
Ele me entregou o cabide a ficou esperando eu abrir a capa para observar minha reação. Desci o zíper e encontrei o vestido mais lindo que já tinha visto na minha vida.
– Eu não sei nem o que dizer... – murmurei, realmente sem saber – Como escolheu isso?
– Para ser bem honesto, eu imaginei o quanto você ficaria incrível nele.
Levantei os olhos do vestido e encarei , ficando hipnotizada com sua beleza naquele smoking. Ele estava perto demais e eu sentia que meu coração poderia explodir a qualquer momento.
Mas que merda estava acontecendo comigo?!
– Obrigada.
assentiu. Deixou seus olhos descansarem sobre mim por mais cinco segundos e depois saiu do quarto, batendo a porta.
Assim que ele saiu, me encontrei no espelho, com lágrimas finas e discretas escorrendo pelo meu rosto.
– Você é uma idiota.
***
Depois que disse “eu aceito”, meu mundo desabou. Foi somente nesse momento que fui capaz de admitir para mim mesma o que estava rondando minha mente desde quando o beijei quando saí com Travis: eu estava apaixonada por .
Isso era ridículo. Totalmente ridículo. era um garoto e eu não tinha espaço para sentimentos. Quer dizer... O que eu esperava? Que aceitasse tudo o que eu fazia e ainda ficasse comigo? Eu já estava velha para viver romances com adolescentes que nem sabiam o que queriam da vida ainda.
Então por que era tão doloroso aceitar que agora Mellody iria cuidar de ?
Eu estava no terraço do salão, ao ar livre. A lua estava cheia e brilhando forte naquela noite, o céu estrelado. Eu sempre gostei de olhar para o céu de noite; gostava da ideia de imensidão e universo. Suspirei, deixando o ar fresco invadir meus pulmões.
O barulho do salão estava me incomodando um pouco, mesmo eu estando de fora da festa. Acho que foi por isso que não percebi quando alguém entrou no terraço e se juntou à mim.
– Por que está aqui, sozinha?
estava ainda mais maravilhoso. Acho que aquilo de “você começa a dar valor a algo quando perder” era verdade; no meu caso, o valor que eu dava para apenas aumentou. Ele estava ainda melhor desde quando o vi no salão, dançando com Mellody.
– Resolvi respirar um pouco de ar puro. – menti, mas não totalmente. O ar de comemoração e alegria do salão estava mesmo me sufocando.
Uma música lenta começou a tocar lá. Minha respiração ficou fraca quando se afastou um pouco e estendeu a mão para mim, obviamente me convidando para dançar.
I don’t ever ask you where you’ve been
(Eu nunca te pergunto onde você estava)
And I don’t feel the need to know who you’re with
(E não sinto a necessidade de saber com quem você estava)
– Você não dançou comigo nenhuma vez. – lembrou, fazendo uma carinha de cachorro abandonado que eu não conseguia resistir.
Antes que eu pudesse parar para pensar racionalmente, me encontrei indo para seus braços.
Por algum motivo, o sorriso que me lançou acabou recompensando.
I can’t even think straight
(Não consigo nem pensar direito)
But I can tell
(Mas posso dizer)
That you were just with her
(Que você estava com ela)
Suas mãos firmes envolveram minha cintura, me obrigando a ficar próxima dele. A mão esquerda subiu um pouco, para o meio das minhas costas enquanto a outra roçou meu braço até encontrar a minha, entrelaçando nossos dedos. Por instinto, acabei por pousar a mão que sobrou em seu braço.
Com firmeza, me segurou e começamos a girar pelo terraço.
– Você sabe dançar? – perguntei com um tom de deboche. Eu, com 18 anos, não conseguia nem andar pra frente e assobiar ao mesmo tempo.
riu, uma risada sonora e que, em meus ouvidos, soavam como sinos.
– Tive que aprender em um mês para dançar na minha valsa com a Mellody. Ela é dançarina desde os 8 anos.
Mordi meu lábio inferior, odiando o rumo que a conversa tinha tomado.
And I’ll still be a fool
(E eu ainda serei uma idiota)
I’m a fool for you
(Sou uma idiota por você)
– Vou sentir sua falta, .
– Vou sentir sua falta também, .
Um risinho escapou de seus lábios.
– Pensei que assassinas de aluguel fossem mais duronas.
– Idiota. Eu sou durona. – reclamei, dando-lhe um beliscão no braço que eu segurava.
– Ai, ai! Tudo bem, você é durona, .
me segurou pela mão e me girou para longe, me trazendo de volta logo depois. Meu vestido rodou por todo o telhado, criando uma linda ilusão se olhado de cima. Meus cabelos também se esvoaçaram e eu arfei em surpresa quando senti o toque firme de em mim novamente.
– Você está muito linda, .
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your hear is all I want
(Só um pedacinho do seu coração é tudo que eu quero)
Era muito ruim. Eu sentia uma explosão de sentimentos em meu peito e quando me olhava nos olhos eu podia dizer que ele sentia a mesma coisa. Eu queria perguntar, queria contar para ele o que eu queria, mas algo me impedia de deixar as palavras escaparem.
Mas me beijou. E logo depois eu o dispensei, não foi? Foi exatamente o que eu fiz. Ele não se aproximara porque eu não tinha permitido. Se eu não o tivesse repelido naquela noite, tudo seria diferente, não seria?
Deus, eu estava morrendo para saber as respostas.
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit is all I’m asking for
(Só um pedacinho é só o que estou pedindo)
De um momento para o outro, a postura de mudou. Ele ficou um pouco mais nervoso e vi que mordia a parte interna das bochechas. Engoliu em seco algumas vezes e percorreu meu rosto com os olhos, um pouco menos concentrado em seus passos de dança.
– , eu... Eu acho que preciso te pedir desculpas.
– O quê? Por quê?
respirou fundo, como se estivesse com medo de continuar a falar.
– Na primeira vez que você saiu com Travis. O beijo... Eu não devia ter feito aquilo...
– Está tudo bem. – interrompi na mesma hora. Aquele não era um assunto que eu queria retomar – Já passou, não precisamos falar sobre isso agora.
– Acho que precisamos sim, sabe. Eu acabei de casar, sinto que preciso resolver tudo que deixei em aberto.
I don’t ever tell you how I really feel
(Eu nunca te digo como realmente me sinto)
‘Cause I can’t find the words to say what I mean
(Porque não consigo encontrar as palavras certas)
Desde quando eu não sabia o que dizer? Desde quando alguém me deixava sem palavras?
– Então você se arrepende? – perguntei, já que aquilo estava entalado na minha garganta.
olhou para o lado e suspirou. A dança parou e nós ficamos apenas próximos o suficiente para sentirmos o calor do corpo do outro.
And nothing’s ever easy
(E nada é sempre fácil)
That’s what they say
(É o que dizem)
I know I’m not your only
(Eu sei que não sou a sua única)
But I’ll still be a fool
(Mas ainda serei uma idiota)
I’m a fool for you
(Sou uma idiota por você)
– Não. – respondeu, enfim – Não me arrependo.
E o tempo parou. Tudo ao meu redor parou. Eu não consiga respirar.
se aproximou. Cada vez mais, ele chegou perto de mim, seus olhos nunca deixando minha boca. Observei cada movimento até que estávamos totalmente conectados. Quando finalmente nos beijamos, eu senti fogos de artifício explodirem no céu sobre nós.
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your hear is all I want
(Só um pedacinho do seu coração é tudo que eu quero)
De repente, algo mudou no modo que me beijava. Ele ficou mais exigente, mais possessivo, mais faminto. Uma de suas mãos se perdeu em meus cabelos e eu acabei por pousar as minhas duas em seu peito.
Apesar de achar estranho, eu não reclamei.
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit of your heart
(Só um pedacinho do seu coração)
Just a little bit is all I’m asking for
(Só um pedacinho é só o que estou pedindo)
Com certa violência, mordeu meu lábio inferior. Um pouco sem entender o que estava acontecendo, me afastei dele. não agia assim.
E assim senti o cano frio na minha cabeça.
I know I’m not your only
(Sei que não sou a sua única)
But at least I’m one
(Mas pelo menos sou uma)
– Não se mexe.
Mellody. Mellody estava atrás de mim com uma arma apontada para minha cabeça.
Olhei para , assustada, apenas para perceber que ele não parecia estar nem um pouco surpreso.
– O que está acontecendo? – perguntei, murmurando, não querendo acreditar naquilo tudo.
Senti uma pancada forte na cabeça e minha visão se escureceu. A necessidade de deitar ficava cada vez mais forte, e, mesmo eu lutando contra isso, precisava deixar a escuridão me tomar.
Os lábios de formando a palavra “desculpa” foi a única coisa que eu vi antes de apagar.
I heard a little love is better than none
(Ouvi dizer que um pouco de amor é melhor que nada)
***
O primeiro pensamento que tive foi que eu não estava morta.
O segundo foi que eu queria estar morta para não sentir aquela dor de cabeça forte que eu estava sentindo.
Pisquei algumas vezes para tentar ver onde eu estava, mas era impossível. Não estava sentindo meus pés e meus braços, então deduzi que estava amarrada em uma cadeira. Além da minha cabeça, meu pescoço também estava muito dolorido. Uma olhada rápida e notei que ainda usava o vestido da festa.
Estava tudo escuro, mas havia uma claridade direcionada à mim. Por causa disso, eu não fazia ideia de onde estava.
Algo estalou em algum lugar perto de mim e ouvi passos.
Mellody. Mellody e .
Os eventos que me levaram até ali me atingiram tão forte que a dor de cabeça piorou.
– O que você sabe sobre Julian ?
Levantei a cabeça para encarar Mellody.
– Nada. Não sei nada sobre Julian. Quem diabos é Julian?
Meu rosto esquentou quando Mellody desceu a mão em mim.
– Sua puta! – gritei, começando a me debater. Minha cabeça estava doendo e o tapa apenas agravou a situação – Vai se foder!
– Onde está Julian ?! – ela perguntou outra vez, dessa vez falando mais alto.
– Eu não sei quem é esse!
– Julian , em Paris. Há um mês, na Torre Eiffel.
Eu estava lenta e demorei pra processar. Julian não me era um nome estranho e eu realmente estivera em Paris há um mês, antes de começar a trabalhar para...
Julian . O primo de que foi morto misteriosamente antes de eu começar a trabalhar para o presidente.
Só não conseguia entender qual a relação de Julian com meu trabalho em Paris.
– Você matou Julian em Paris. – Mellody acusou.
– Julian é primo de . – retruquei – Nunca faria nada com ele!
– Então quem você matou em Paris?!
– Matei Jully Northman! Uma mulher! Uma mulher sueca!
Do bolso da calça, Mellody tirou uma pequena foto e a deixou no alcance da minha visão. Duas Jully Northman estavam ali. Eu sabia porque nunca me esquecia de um rosto que eu tirava a vida.
– Que merda é essa?
– Jully e Julian . Irmãos gêmeos quase idênticos. Jully casou-se com um sueco alguns anos atrás e todo mundo a condenou, porque ele era envolvido com a máfia e coisas do tipo. Julian combinou de se encontrar com a irmã em Paris, mas ela nunca chegou a vê-lo, porque você matou a pessoa errada.
– O quê? Eu nunca erro.
– Errou dessa vez, . Errou. Você matou Julian .
O estalo da porta soou outra vez e um totalmente acabado em lágrimas apareceu em minha frente. Seus olhos estavam tão inchados e ele parecia tão desolado que eu fiquei sem ar. Seu nariz escorria e fungou, parecendo uma criancinha, totalmente frágil e exposto.
– Eu te disse, amor. – Mellody murmurou, se aproximando de e o abraçando de lado – Ela é uma assassina. Ela matou Julian . Não vale a pena você me trocar por ela, .
Para minha surpresa, empurrou Mellody.
– Por quê? – ele perguntou, assim que fez a esposa sair da sala.
– Me perdoa, . Eu não sabia. Juro que não sabia.
– , eu confiei em você! – gritou, ainda chorando. Eu queria dizer que meu coração estava se quebrando, mas este já tinha sido arrancado do meu peito no momento em que o vi entrando na sala.
– Eu não tinha como saber, ! Eles me pagam para matar e é isso que eu faço!
– E comigo?! Foi assim também?! Se alguém tivesse te pagado para me matar, você teria me matado?!
Eu não podia responder, porque sabia que minha resposta era positiva. Se tivesse me dado o dinheiro e me mandado acabar com , eu teria feito, sem pensar duas vezes.
Essa era quem eu era.
Comecei a me sentir suja quando as lágrimas começaram a escorrer. Eu não valia absolutamente nada.
Lembrei-me da família que eu havia abandonado por dinheiro.
– Quero que você se entregue para o meu pai.
Com aquela frase, me matou. Eu já deveria saber que me mataria no momento em que ele me beijou. Nunca pensei que seria ao pé da letra.
Fui idiota o bastante para me entregar para Terence, que me deu uma chance para fugir; chance que usei para tentar pedir desculpa para .
Acho que, uma vez que você experimenta amor e compaixão, todos seus pecados voltam para te lembrar o que você andou fazendo. Eu tinha mais de 25 mortes nas costas em 10 anos de profissão. Deixei todos os nomes anotados em um papel, junto com um pedido de desculpas à família.
Já para , deixei um bilhete.
Eu só queria um pedaço seu coração. Acho que pedi demais.
O amor é como entregar uma arma para alguém e confiar que não vão puxar o gatilho. Quando me obrigou a me confessar para Terence, ele puxou o gatilho.
Bom, a minha sorte é que eu sempre usava colete a prova de balas.
Meu coração podia estar em pedaços, mas eu ainda estava viva e era preciso bem mais do que um homem para acabar comigo. Talvez, daqui 10 anos, quando tudo for menos complicado, eu e possamos nos encontrar outra vez. De qualquer jeito, vou mantê-lo para sempre comigo e guardar um espaço para quando ele estiver pronto para me entregar seu coração.
FIM!
Nota da autora: Sem nota.
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