Última atualização: 20/04/2020

Capítulo Único

null olhou ao redor, examinando o seu quarto e pensando no que faria naquela tarde. Poderia tocar piano, ter aula de balé, aprender um novo idioma ou fazer compras no shopping. Em meio a tantas opções, nada parecia agradá-la. Estava cansada da mesma rotina de sempre, sentia falta de algo diferente, de alguma novidade em sua vida. Muitas vezes, ter dinheiro não supria as suas vontades e, diferente da sua mãe, a garota não achava que o dinheiro podia resolver qualquer coisa. Viu o dia passar lentamente, estava quase pegando no sono quando ouviu algumas batidas na porta e teve que se levantar para atender quem estava do lado de fora do cômodo. Abriu e deu de cara com a sua mãe, a mais velha havia acabado de chegar do trabalho mas parecia estar saindo de casa naquele momento. null queria entender como ela conseguia ficar impecável o dia inteiro.
Lucy era médica, trabalhava em um clínica particular que tinha e sempre se esforçou muito para chegar onde estava. Apesar da ambição da mãe, null sentia orgulho da mais velha e de tudo o que ela conquistou com o próprio suor. Contrariando Lucy, null não queria ser médica. A jovem ainda tinha dúvidas sobre o que queria cursar após o ensino médio mas tinha certeza de que não desejava seguir os passos da mãe. A médica sempre tentava fazer a filha mudar de ideia, o que resultava em sérias discussões das duas quando entravam naquele assunto.
– Como foi seu dia, filha? – Perguntou depois de abraçar a mais nova e beijá-la no topo da cabeça, como fazia sempre que chegava em casa.
– Normal, mãe, não fiz nada depois que cheguei do colégio. Pra falar a verdade, eu estava quase dormindo quando você chegou. – Deu de ombros ao responder.
– Já te disse que dormir é perda de tempo. – Comentou enquanto enrolava o cabelo no topo da cabeça. – E tempo é dinheiro, minha filha.
– Eu fui dormir tarde, passei a madrugada estudando para uma prova, mãe. – Mentiu para evitar uma discussão. – E vou continuar estudando daqui a pouco, minha melhor amiga está vindo pra cá me ajudar com alguns exercícios.
– Que melhor amiga? – Perguntou desconfiada, querendo ter certeza dos seus pensamentos.
– Você sabe que eu só tenho uma melhor amiga. – null revirou os olhos, já imaginando o que viria a seguir.
– Odeio quando você traz esse tipo de gente aqui em casa. – A médica mudou o seu tom de voz, nada satisfeita em confirmar sobre quem null estava falando. – Vê se não esquece de guardar as suas coisas de valor e não pense em trancar a porta do quarto. – Avisou e saiu antes mesmo que a filha pudesse responder qualquer coisa sobre aquele absurdo que ela tinha acabado de falar.
null bufou antes de entrar para o quarto e fechar a porta atrás de si. Odiava os comentários de sua mãe, o quão superior ela se achava por ter dinheiro e como ela tratava as pessoas de acordo com a sua classe social ou profissão. Felizmente, null se identificava mais com o jeito amoroso do pai, havia herdado as qualidades dele. Apesar do mais velho quase nunca parar em casa por causa do trabalho, null sentia que estava sempre próxima dele pela forma como ele tratava a filha e as pessoas de quem ela gostava.
A melhor amiga a quem null estava se referindo na conversa com Lucy era null, jovem da mesma idade de null mas que, diferente dela, morava em uma comunidade e já trabalhava para ajudar a família. Sem dúvidas nenhuma, era uma das melhores pessoas que null já havia conhecido, as duas eram bem próximas e o padrão de vida nunca foi um problema entre elas. O único problema que null tinha com a amiga era mentir para a mesma para esconder os comentários maldosos de Lucy, que tratava bem a garota quando a encontrava mas não poupava julgamentos assim que ela saía.
Um bom tempo depois, null desceu para comer e para esperar null, que avisou que já estava a caminho. Descobriu, ao conversar com uma das funcionárias, que a sua mãe havia saído, e agradeceu pela ausência da médica em casa enquanto null estivesse lá. Como só null percebia os olhares da mãe, tinha a sensação de que estava enganando a melhor amiga por não entregar a própria mãe para null.
– Cheguei, meu amor. – null cumprimentou, animada, abraçando null pelas costas, já que a mesma estava sentada na mesa da cozinha, comendo um pedaço de bolo.
– Chegou na melhor hora, senta aqui comigo e come alguma coisa. – Fez o convite e, de imediato, a funcionária que havia recepcionado null serviu mais um lugar na mesa. – Obrigada, pode ir descansar um pouco que agora a gente se vira por aqui. – null agradeceu a mais velha, que era uma das responsáveis por cuidar da casa, que sorriu em resposta antes de se retirar.
– Eu nunca me acostumaria com toda essa mordomia. – null comentou enquanto se servia.
– Confesso que eu acho um exagero, mas não sou louca de questionar a minha mãe. Provavelmente, ela faria uma palestra sobre todas as coisas que eu tenho, graças ao trabalho dela, e que não aproveito. – Riu, sendo acompanhada da amiga.
As duas finalizaram a refeição e subiram para estudar, tinham provas na próxima semana e queriam tirar todas as dúvidas uma com a outra antes de passarem pelas avaliações. null era melhor em exatas e null, em humanas, e assim as duas conseguiam se ajudar. Como sempre, os estudos fluíram da melhor forma, graças à facilidade que as mesmas tinham em determinadas matérias e a forma informal que elas podiam conversar e se entenderem fora da sala de aula.
Quase sempre, os momentos das duas juntas envolviam os estudos, e os encontros quase sempre aconteciam na sala de aula. null trabalhava muito e aproveitava os finais de semana para descansar e ficar com a família, o que null sempre entendia.
– Eu acho que por hoje é só, estamos preparadas para as avaliações que estão vindo. – null avisou enquanto elas começavam a guardar os materiais.
– Se você quiser, pode voltar aqui amanhã, a gente refaz alguns exercícios só pra garantir. – Ouviu null propor, mas negou com a cabeça antes mesmo de responder.
– Sem chances, tenho uma festa pra ir amanhã. – Contou, batendo palminhas, o que demonstrava a sua animação.
– Festa?
– Sim, uma festa à fantasia. Vou com uma outra amiga, só não te chamei porque eu sei que você não iria. – Respondeu enquanto ainda arrumava seus materiais.
– Eu quero ir nessa festa, amiga. – null avisou, quase em forma de pedido, antes mesmo de pensar em alguma coisa.
Talvez fosse aquilo o que ela precisava no momento: se divertir com outras pessoas, aproveitar uma noite que não fosse acompanhada pela sua mãe, regada por formalidades. null sentia falta de fazer as coisas que garotas da sua idade faziam, sentia falta de curtir uma festa qualquer que não fosse um jantar de negócios ou aniversários dos filhos das amigas de Lucy.
– E você acha que a sua mãe vai deixar você ir em uma festa assim? Ainda mais comigo? – null perguntou, embora já soubesse a resposta de ambas as perguntas.
No calor do momento, null não pensou naquilo. Certamente, Lucy jamais permitiria. Só o fato de saber que aquela ideia estava passando pela cabeça da filha levaria a médica à loucura. null conseguia ouvir a voz de Lucy em seu subconsciente, dizendo que lugares como aqueles não deviam ser frequentados por alguém que carregava o seu sobrenome, mesmo sem saber do que, de fato, se tratava. Talvez fosse necessário sair de baixo das asas da mãe, talvez uma mentira bem pensada não fizesse mal algum.
– Se você me disser que posso ir com você e que posso dormir na casa, eu me resolvo com a minha mãe. – null sorriu de canto, já pensando na desculpa que usaria para convencer a médica.
null ficou alguns segundos em silêncio, pensando naquela ideia. Apesar de não ter muito contato e também não conversar sobre, ela conhecia muito bem a mãe da sua melhor amiga. Sabia que Lucy jamais permitiria que null fosse em uma festa na sua companhia e que null provavelmente não poderia falar a verdade para a mãe. Porém, se null estava com vontade de fazer uma coisa diferente, não seria ela a pessoa que atrapalharia a sua diversão.
– Preparada pra curtir uma noite de festa ao meu lado? – Usou uma pergunta para responder a anterior.
null não conseguiu segurar o grito de animação antes de abraçar a amiga, dividindo uma com a outra toda a animação que estavam sentindo.

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Dentro do táxi, null sentia-se um gênio. Por um momento, teve medo de que Lucy descobrisse toda a verdade, mas estar a caminho da casa de null significava que o seu plano havia dado certo e continuava funcionando até aquele momento. Mentiu para a mãe dizendo ia dormir na casa da sua prima, o que, sem sombras de dúvidas, Lucy permitiria. A médica sempre dizia que a sobrinha era uma ótima influência para a sua filha. Como a prima citada não concordava com a forma que null era tratada, não pensou duas vezes antes de aprovar a ideia. null estava tranquila pois sabia que, se Lucy ligasse atrás dela, a sua prima saberia o que fazer.
– Me mostra a sua fantasia. – null pediu quando as duas já estavam no quarto, se arrumando para a festa.
– Eu não tenho fantasia. – null respondeu, segurando o riso principalmente quando recebeu o olhar incrédulo da amiga. – Minha mãe não saiu de casa hoje, não consegui fugir para comprar uma. E acredite, não tenho nada de fantasia no meu closet, mas trouxe umas roupas de balada.
– Eu não vou permitir que você vá para uma festa a fantasia sem fantasia, vou ver o que eu tenho aqui em casa pra você. – null comentou enquanto examinava todas as suas peças de roupa.
Encontrou uma fantasia que era da sua irmã e que serviu perfeitamente em null, como se a peça tivesse sido feita sob medida pra ela. Finalizaram os cabelos e maquiagem, animadas demais para aquela festa, um tanto quanto proibida, que as duas iriam juntas. null estava curiosa para saber se amiga iria gostar. Sabia que null costumava frequentar lugares diferentes.
Chegaram no local e null percebeu que era uma festa pequena e com poucas pessoas, como se fosse um encontro de amigos, só que um pouco mais organizado. Se null não tivesse avisado que ela também podia levar convidados, null ficaria com a sensação de que ela era uma penetra naquele ambiente. Não podia esquecer de agradecer a null pela fantasia depois, as roupas que ela tinha como opção não combinariam nenhum pouco com a ocasião.
Dançando músicas com letras que sua mãe provavelmente reprovaria, null aproveitava a noite acompanhada pela amiga e por outras pessoas que ela conheceu minutos antes. Vez ou outra, aparecia um garoto bêbado querendo ficar com ela, mas não era ninguém que despertava o interesse da menina.
Diferente dos pretendentes que surgiu, um rapaz em especial conseguiu chamar a atenção de null. Ele estava com algumas outras pessoas mas não era ninguém que estava próximo dela. null não deixou de reparar o rapaz, mas estava tão feliz por ter conseguido sair de casa naquela noite que ficar ou não com alguém não era um problema.
– Está gostando, null? – null perguntou a amiga que, até então, não tinha elogiado e nem criticado a festa.
null sabia que null nunca tinha ido em uma festa como aquela. Apesar das duas nunca tocarem no assunto, ela tinha consciência de que null vivia em uma realidade completamente diferente da dela. Mesmo que não fosse intencional, null esperava que null fosse estranhar aquele que era um mundo novo pra ela e completamente familiar para null.
– Estou sim, amiga, mais do que eu imaginava. Acho que nunca me diverti tanto. – Respondeu sincera e viu a amiga concordar. – Eu vou ao banheiro, já volto. – Avisou depois de um tempo e null apenas assentiu, o lugar era pequeno e null certamente não precisaria da companhia da amiga, que estava dançando animadamente.
Foi até o banheiro e percebeu que, lá, já tinha algumas outras pessoas, em uma fila mal formada. null não se importou em esperar, se encostou na parede mais próxima enquanto aguardava a sua vez, não tinha pressa alguma. Aproveitou para observar a festa que acontecia em sua frente, várias pessoas dançando, flertando e bebendo, cada uma aproveitando da sua maneira. Percebeu também que nem todo mundo estava fantasiado mas, mesmo assim, ela estava amando estar usando aquela fantasia.
– Oi, eu posso te conhecer? – null ouviu um rapaz falar ao seu lado e, ao olhar pra ele, percebeu que era o mesmo que tinha chamado a sua atenção mais cedo.
– Pode sim. – Apenas respondeu, torcendo para ele continuar com a conversa.
– Qual o seu nome? – Ele perguntou e logo null respondeu, se apresentando. – Sou o null, muito prazer. – Ele também se apresentou.
Logo, os dois começaram a conversar, contando de onde eram, o que faziam da vida e como chegaram até aquela festa. Poucos minutos depois, os dois estavam trocando beijos no meio da festa. null assistia aquilo e não tinha intenção alguma de interromper, sabia que null precisava se divertir e era exatamente aquilo que ela estava fazendo.
– Eu estava te olhando desde quando você chegou. – null confessou, quebrando o silêncio que nasceu enquanto os dois ainda estavam abraçados.
– Você também chamou a minha atenção, não vou negar. Só que eu não ia ter coragem de ir até você e te falar isso. – Ela disse sorridente, o pouco tempo juntos fazia com que eles sentissem como se já se conhecessem a muito tempo e, graças a isso, todas as conversas entre eles fluíam com facilidade.
– Ainda bem que eu te procurei então. – null afirmou antes de beijá-la.
Enquanto null aproveitava a noite dançando e bebendo, null seguia aproveitando, trocando beijos com null. Ficaram juntos até o final da festa. Não faltava assunto entre eles e, mesmo com uma festa acontecendo em volta dos dois, eles preferiam a companhia um do outro. Foi só quando tudo acabou e null avisou que estava na hora de ir embora que null se despediu de null. Não deixaram de trocar telefones e prometeram que marcariam um novo encontro.

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Em frente ao colégio em que ela estudava, null se encontrava abraçada com null. Mais de três meses haviam se passado, eles estavam apaixonados e se encontravam com uma certa frequência. null nunca tinha sentido antes o que sentia pelo rapaz. Se possível, passaria todo o seu tempo ao lado dele. null estava completamente apaixonado e não negava isso para null e nem para ninguém. O que ele sentiu quando viu a garota pela primeira vez ainda não havia passado.
Os dois, naquela manhã, conversavam sobre oficializar a relação, e não era a primeira vez que eles tocavam naquele assunto. null queria pedir a mão de null aos pais dela, e a garota sempre dizia que ia marcar um encontro entre ele e os seus pais. Ela comentava que tinha um pouco de receio de apresentar alguém para a família porque nunca tinha passado por isso antes. null, como sempre, muito paciente e respeitoso com o tempo dela, entendia perfeitamente a situação.
– Eu vou esperar o seu tempo, mas você sabe que eu posso te fazer uma surpresa e falar com os sogrinhos antes de você, não sabe? Diferente de você, eu não teria vergonha nenhuma de abordá-los. – Ele brincou antes de distribuir selinhos nos lábios de null. – E eu sei onde você mora e sei também que adora surpresas.
– Eu vou falar com os meus pais, apressadinho, prometo. – Ela garantiu antes de beijá–lo.
Ficaram juntos até que null chegasse e as duas entrassem para a aula. null vivia dizendo que a amiga estava mais feliz depois que conheceu null e que estava torcendo muito para que os dois ficassem juntos. O jovem conquistou a confiança de null que, sempre que tinha oportunidade, brincava e dizia que null tinha todo apoio e a permissão para namorar a melhor amiga dela.
– Amiga, ele tá doido pra conhecer os meus pais, só que eu nunca namorei sério e nunca falei sobre isso com eles antes. – null atualizava a amiga das novidades enquanto as duas andavam até a sala de aula. – O problema é que eu não faço ideia de como falar.
– Se fosse só esse o problema... – null pensou alto, fazendo a amiga paralisar os seus passos.
– Como assim? – null demonstrou confusão com aquele comentário.
– Amiga, você acha mesmo que a sua mãe vai aceitar o null? Eu nunca toquei no assunto pra não te magoar, mas você conhece a mãe que você tem, null. Com certeza, o tipo de homem que ela quer pra você está longe de ser alguém parecido com o null. – Falou de uma vez.
Temia pelo momento em que elas teriam aquela conversa, mas null jamais seria capaz de falar outra coisa só para agradá-la. Ela não conseguia mentir e null sabia muito bem disso.
– Você fala como se ela fosse um mostro. – null não conseguiu esconder a sua chateação com aquela conversa.
– Sua mãe não gosta de mim só porque eu sou pobre, null. E não adianta você negar, eu sei que ela fala de mim pelas costas e, mesmo quando ela não fala nada, só a forma como ela me olha já diz muito. Eu também sei que você não fala nada pra não me magoar e eu te entendo, de verdade. – null jogou as cartas na mesa, vendo a amiga se entristecer.
null achava que amiga não percebia tudo o que Lucy fazia e, apesar de não concordar com as atitudes da mãe, não tinha nada que ela pudesse fazer para mudar a mais velha. Um dos desejos da jovem era ser como o pai quando crescesse. Ele, sim, era motivo de orgulho da garota quando o assunto era atitudes e amor ao próximo.
– Você acha mesmo que isso pode ser um problema? – Ela quis saber ao quebrar um pequeno silêncio que surgiu entre elas.
– Infelizmente, sim, null. Eu jamais vou deixar de ser sua amiga por puro preconceito da sua mãe porque eu gosto muito de você. Só que saber que uma pessoa te julga pelo que você tem ou deixa de ter machuca muito. Basta saber se, assim como eu, o null está disposto a suportar tudo isso por você.
null não conseguiu responder mais nada ou sequer pedir desculpas pelo o que a amiga poderia ter passado graças a sua mãe, apenas deixou as lágrimas tomarem conta de si e, quando percebeu, estava sendo consolada por null dentro de um abraço reconfortante.

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null ficou paralisada ao ver aquela imagem: null segurando um buquê de flores, parado no meio da sua sala e respirando fundo para tentar segurar as lágrimas. A poucos metros dali, estava Lucy, que parecia ter coragem de pular em alguém de tanta raiva que estava sentido. O seu rosto avermelhado a entregava. O pai de null não estava ali mas, se estivesse, provavelmente estaria tentando mudar aquele clima estranho que pairava sobre a sala ou estaria tão surpreso quanto a filha, já que ele era o oposto da esposa.
Os dois olharam para null assim que ela chegou e, antes mesmo que qualquer um dos dois pudessem falar qualquer coisa, null sabia que algo muito grave havia acontecido.
null, como você tem coragem de se envolver com um garoto desse tipo? – Lucy gritou, revoltada. – Eu sabia que essas suas amizades erradas não iam te acrescentar em nada. – Acrescentou, querendo dizer que o fato de null estar ali era culpa de null, mesmo não citando o nome dela.
– Esse garoto tem nome, mãe. – Ela respondeu e viu a imagem da médica voar em sua direção.
– Olha como você fala comigo, garota. Me respeita que eu sou sua mãe. Eu não vou aceitar você se relacionar com esse tipo de gente, não é pra isso que eu pago caro na sua educação. Já não basta os amigos pobres que você trás aqui pra dentro de casa. Quer casar com alguém assim e morrer de fome? Viver contando moeda? Aonde você está com a cabeça, null?
null não conseguiu dizer mais nada, as lágrimas tomaram conta dela. Queria perguntar da discussão que certamente estava acontecendo quando ela chegou, mas não conseguiu. Também queria ter forças para enfrentar a mãe, dizer que amava null e que dinheiro não era tudo. null queria fazer qualquer coisa para resolver aquilo, mas nenhuma palavra saía de seus lábios.
– Você poderia ter me falado que o motivo de adiar o meu encontro com os seus pais era vergonha, null. Eu jamais teria cogitado a ideia de te fazer uma surpresa. Imagino o quão vergonhoso e humilhante foi pra você se relacionar com um cara pobre como eu. – null disse e negou com a cabeça ao passar por null, que continuava imóvel próxima da porta, sem dizer mais nada pra Lucy ou até mesmo esperar por uma resposta de null.

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A contragosto, null ajudou null a ter um encontro com null, depois de tanto tempo. null dizia que a amiga devia seguir em frente, já que foi ele quem colocou um ponto final na história dos dois, e que null ainda devia estar magoado por causa do jeito com que Lucy tratou o rapaz. Porém null insistiu, ainda precisava ter uma última conversa com ele. null convenceu null de se encontrar e ter uma conversa com null e marcou um encontro para os dois após o horário de aula.
null estava nervosa como nunca esteve antes. Estava daquela forma porque sabia que aquela era a única chance de ter null de volta. Ele parecia decidido demais naquela discussão e, por muitas vezes, ela tentou um diálogo depois que tudo aconteceu, mas foi ignorada. Naquele fatídico dia em sua casa, faltaram palavras para que null conseguisse expressar o que estava sentido e, quem sabe, fazer com que null mudasse de ideia.
Chegou na cafeteria onde null marcou o encontro dela com null antes do horário combinado. null não teve sequer a coragem de convidar o rapaz para uma conversa e teve que recorrer à amiga. Sentia vergonha de tudo o que aconteceu e, principalmente, sentia-se culpada por tudo o que null foi obrigado a ouvir de sua mãe.
– Boa tarde, senhora, qual o seu pedido? – Um jovem rapaz perguntou gentilmente, fazendo com que null se assustasse, estava com a cabeça em outro lugar. – Me perdoe, não foi a minha intenção assustá-la.
– Imagina, eu que estava com a cabeça na lua. – Ela forçou um sorriso ao responder. – Eu vou querer só um café sem açúcar, por favor.
– Claro, só um momento que já trago para a senhora. – Ele ainda avisou antes de se retirar.
Não demorou muito para que o café fosse servido e para que null estivesse sozinha novamente. Sua cabeça parecia estar em qualquer outro lugar, exceto naquele café onde ela se encontrava. O barulho da porta, que indicava aos funcionários que um novo cliente havia chegado, chamou a atenção de null, que olhou de imediato naquela direção. Viu null entrando meio sem jeito, procurando por ela entre todas as mesas e clientes, até que os olhares dos dois se cruzaram.
null sentiu vontade de correr até ele, abraçá-lo e dizer que estava morrendo de saudades. Mas, no fundo, ela sabia que não podia fazer aquilo, não sem antes ter uma conversa com o rapaz. null forçou um sorriso sem nenhum humor para ela, apenas como cumprimento, pediu alguma coisa no balcão e, logo em seguida, foi até onde null estava, sentando-se de frente pra ela.
– Oi, null. – Ele cumprimentou sem desviar o olhar. – Desculpa o atraso.
– Tudo bem, eu sequer olhei a hora. – Tentou sorrir ao responder. – Obrigada por ter vindo.
– Eu só achei estranho a null vir falar comigo e não você. Sei que deixei de te responder algumas vezes mas, naquela época, eu fiquei muito chateado. Agora, eu jamais recusaria o seu convite.
Antes mesmo de null responder, o jovem que lhe atendeu minutos antes apareceu novamente, trazendo um cappuccino para null, que agradeceu o garçom antes de degustar a bebida. null observou tudo aquilo em silêncio, agradecendo mentalmente pelos segundos a mais que ela ganhou para respirar fundo antes de começar, de fato, aquela conversa.
– Esse foi um os motivos pelos quais eu não ter coragem de te procurar de novo, mas não foi o principal. – Ela riu sem humor. – Eu não sabia mais como te abordar depois que... Depois de tanto tempo e depois de tudo o que aconteceu. – Confessou e viu null permanecer em silêncio, atento ao que ela dizia. – Eu só queria ter a chance de te pedir perdão, null. Por tudo o que aconteceu, pela forma como eu reagi, pelo o que a minha mãe te fez passar, por não ter te defendido e nem te preparado para toda aquela discussão... Eu conheço a minha mãe, mas juro que não imaginava que ela chegaria naquele ponto.
null, eu...
– Deixa eu continuar, por favor. – Ela pediu ao interromper null, que assentiu para que null continuasse. – Eu jamais senti vergonha de você, eu só queria te poupar das frescuras da minha mãe que eu sabia que viriam, só não pensei que seria daquela forma. Eu fiquei sem reação, null. – Os dois ficaram alguns segundos em silêncio. – Eu não fiz nada aquele dia mas, hoje, eu sou capaz de enfrentar a minha mãe ou fazer qualquer outra coisa só pra te ter de novo.
null tomou coragem e segurou as mãos de null que estavam em cima da mesa, embora também estivesse confuso com todas aquelas informações que estava recebendo. null sentiu o seu corpo arrepiar com o toque e uma pontada de alegria e esperança tomou conta do seu coração.
– Sabe o que aconteceu comigo depois que eu saí da sua casa? – Ele perguntou e ela negou com a cabeça. – Eu senti como se estivesse faltando uma parte de mim. Nunca doeu tanto como naquele dia, null. Eu cheguei a duvidar do seu amor mas, hoje, olhando nos seus olhos, eu sinto que você me ama tanto quanto eu te amo. – null sorriu com aquela declaração, com as mãos ainda entrelaçadas com as dele. – Só que o amor é o sentimento mais puro e mais lindo que pode existir. Amor é pra ser fácil, é pra ser leve e tranquilo. O problema é que, apesar de eu ainda te amar muito, eu não tenho ânimo e nem vontade de enfrentar a sua mãe depois de tudo o que ela me disse, muito menos ser o motivo de problemas entre vocês.
Aquela pequena alegria que ela sentiu desapareceu de imediato. null soltou as mãos dela, como se manter o contato físico fosse proibido depois de ter dito tudo aquilo. null sentiu as lágrimas se formarem em seus olhos mas não tinha intenção nenhuma de segurá-las.
– Você já veio decidido, não veio? – Quis confirmar os seus pensamentos, conhecia bem demais o rapaz para cogitar aquilo. – Nada que eu te disser aqui vai te fazer mudar de ideia. – Ela ainda concluiu.
– Eu só estou pensando no melhor pra nós dois, null. – null opinou, sem esconder em sua fala o quanto tudo aquilo também estava sendo difícil para ele.
Chegou um momento em que nada que os dois dissessem poderia mudar a situação em que eles se encontravam. Declaração nenhuma podia fazer com que null voltasse atrás na sua decisão. Promessa nenhuma de null podia garantir que, a partir daquele momento, as coisas seriam diferentes para eles.
– Se você mudar de ideia, vou estar te esperando. – null verbalizou o que se passou em sua mente.
– Somos tão jovens, null, temos uma vida toda pela frente. – Falou e sorriu, sem deixar claro se concordava com a fala dela ou não. – Se for pra ser, vai acontecer. O problema é que, agora, não tem como.
– De qualquer forma, você sabe onde me encontrar. – Ela ainda tentava, doía saber que estava perdendo null mais uma vez.
Ele apenas assentiu, criando alguns segundos de silêncio entre eles. Embora sentisse vontade de dizer um eu te amo ou até mesmo pedir um último abraço, sabia que aquilo não era o certo a ser feito. Pensando assim, null apenas se levantou, disse um tchau que null quase não ouviu e também não conseguiu responder antes de sair da cafeteria, deixando a garota com os seus pensamentos e também com a companhia de suas lágrimas.


Fim.



Nota da autora: "Olá, amores! Espero que tenham gostado da história, não deixem de comentar o que acharam.
Pra conhecer outras histórias minhas é só entrar no grupo do Facebook.
Beijos!!"



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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