Ao Leitor
Digo aos mais ambiciosos que, quando apenas três leitores admiram sua obra, isto basta. Muitos me perguntam o porquê desse pensamento. Apenas respondo que, no meu caso, serve apenas para aqueles que um dia sentiram meu verdadeiro eu. Escrevi-a com um pouco do que tenho de cada um, até daqueles considerados vilões da história, já que, por mais que negue, nunca fugiu ou fugirá de me conhecer um dia.
Um dia, sei que dominarei o mundo. Imagino que esse seja o seu desejo também, lá no fundo. Agora paro por aqui, já que tenho que contar o motivo deste conto. Além do mais, até o final.
Um dia, sei que dominarei o mundo. Imagino que esse seja o seu desejo também, lá no fundo. Agora paro por aqui, já que tenho que contar o motivo deste conto. Além do mais, até o final.
Over Again
O cotidiano estava matando , cardiologista do John Hopkins. Por mais que, na teoria, tudo fosse novidade no campo da Medicina, ele estava cansado do joguinho besta em que nunca aceitara entrar com , sua esposa. Como qualquer casal normal, os dois brigaram. Contudo, a última vez passou dos limites.
Concordo que ele não deveria ter dito o que disse para sua paixão, como sei que você nunca aprovaria se soubesse. Com isso, ela resolveu passar um tempo no hotel próximo ao hospital e, desde então, suas madrugadas eram dos piores pesadelos envolvendo a sua garota.
E isso estava o destruindo em pedaços por dentro.
Mal sabia ele que o outro lado da história também estava sofrendo. , sempre com pose de mulher forte, chorava todas as noites em que a música do casal tocava no rádio. Maldita era a frequência com que o locutor anunciava tal banda. A orelha do homem deveria estar queimando depois de tanta praga da médica. Até Hannah, sua melhor amiga, ela não queria escutar.
Dizem que a dor precisa ser sentida e, talvez, a mulher levara muito ao pé da letra.
Nas cirurgias, eles eram realocados para estarem sempre em turnos opostos, a mando do pai da médica e chefe do departamento. Inclusive, fora ele quem unira os dois pela primeira vez.
– Hannah, você viu a sua amiga? – doía falar o nome dela. Não era costume do se dirigir assim a . Nunca foi.
Agora, o que era engraçado é que nenhum dos dois queria abaixar as máscaras. É difícil admitir o erro, convenhamos, mas aprendi algo recentemente que devo contar a vocês: todo mundo erra e é isso o que nos faz humanos. Por mais que fosse contra minha natureza, achava risível como eles se comportavam, com suas almas sempre negando o que o corpo mandava.
– , eu a vi no quarto 2033 – respondeu, andando rapidamente na direção oposta. O cardiologista andou até o referido lugar, vendo a sua garota conversando com a paciente animadamente. Sem fazer barulho, ele ficou encostado à porta semiaberta, apenas a admirando.
Então caiu a ficha de que ele nunca a deixaria, porque os dois se completavam. Mesmo nas brigas mais ferrenhas, tentou evitar magoá-la, mas as palavras malditas escapuliram da sua boca. É inteligível o fato de que, no momento do estresse, algumas falas não são reais. Entretanto, nem sempre entendemos assim. Ainda mais das pessoas por quem nutrimos um carinho especial. Nesse quesito, sou especialista.
Somente após a garota na maca apontar para a porta, a médica olhou para trás. Seus olhos finalmente se encontraram com os do , depois de tanto tempo. Ela não podia negar o efeito que aquele homem causava nela, dilatando suas pupilas e o seu coração disparado. Era fisiológico, impossível de negar. O médico andou até o lado da esposa e reconheceu a paciente, uma das amigas de infância da mulher ao seu lado.
– Você é o famoso ? – ela falou, rindo. não pode segurar o riso, deixando que seu sorriso ficasse à mostra. – Ela sempre fala de você – continuou, deixando a outra mulher envergonhada.
– Também já falou muito de você, não é? – ele olhou, sorrindo de lado. o ignorou, fazendo a paciente franzir o cenho para nós dois. – Agora eu preciso falar algo importante com minha esposa – ela revirou os olhos, saindo atrás do marido.
– O que você quer, ? – falou, pegando ar. Na verdade, vou contar o que ela realmente queria: jogá-lo na parede e matar toda a saudade. Mas o grande “porém” é que ela estava fingindo apenas para não dar o braço a torcer. – Você não viu que eu estava ocupada?
– Calma – ele colocou as mãos nos ombros dela, que foram rapidamente retiradas com um ato grosseiro. – , nós realmente precisamos conversar – completou, engrossando e abaixando o tom de voz. Quando o casal percebeu que todos olhavam na direção deles, ela o puxou para a sala do pai. – Precisamos viajar.
– Você para o que eu estava fazendo, independente do que fosse, para dizer que precisamos viajar? , por favor!
– Eu estou mentindo? – ela ficou sem respostas. A respiração pesada denunciava o que o cardiologista imaginava: a mulher também concordava com ele. Essa teoria o acalmou, já que ela também não desistiu deles. segurou sua mão direita, não sofrendo nenhum repúdio desta vez, e olhou em seus olhos. – É apenas um congresso em Nova York. Já comprei nossas entradas – ele tirou do bolso os dois papeis.
A expressão de era inevitável. O homem sabia que ela estava esperando a oportunidade para este congresso há muito tempo. riu, entregando um dos papeis à esposa.
– Posso ter a honra de viajar com minha digníssima esposa?
– É só um congresso – ela respondeu. , antes de sair, depositou um singelo beijo na sua testa.
Não nos interessa o percurso até a outra cidade, então irei pular esse pedaço da história. Enquanto eles não chegam, deixo essa pergunta para você: você desistiria da pessoa que completa os seus dias? Quero que me responda depois de escutar o restante, porque acaba de ser anunciado que o voo da American estava desembarcando no John Kennedy, Nova York.
– ? – olhou para o marido. Agora, após negar veementemente esse ato, percebera o quanto estava aparentemente cansado. O homem, logicamente, se surpreendeu ao escutar a esposa chamá-lo pelo primeiro nome. O frio nova-iorquino piorou, fazendo-a se encolher mais ainda ao lado dele. – Obrigada.
O cardiologista sorriu como não fazia há muito tempo.
Os dois deixaram os seus pertences no hotel e foram ao local marcado. Fazia tempo que não viajavam juntos e sozinhos, o que deixava ambos sem jeito. parecia criança pequena diante uma loja de brinquedos, como não se sentia há anos depois de formada. – São apenas dois dias – balbuciou tristonha. De certa forma, ela estava se sentindo bem, muito bem. não sentia tanto interesse pela área quanto a mulher, mas foi a maneira que encontrou para se reaproximar. – Eu queria mais tempo – continuou.
– Comigo? – olhou para ela. – Os tempos mudam.
preferiu dar de ombros. Algumas coisas não precisam ser respondidas verbalmente – ainda mais quando se tratava dos dois. Ambos andaram lado a lado até o local da palestra. Analogamente, andava em direção ao paraíso.
Naquele momento, lembrei-me de quando eles se conheceram. Permita-me esse momento de quebra da linearidade da narração, até porque eu consigo confundir a mente das pessoas também na maioria das vezes. Eles se encontraram pela primeira vez quando fora designado para o departamento dela. Esse momento vive em mim como neles.
– – estendeu a mão para a oncologista.
– Olá, – os dois já tinham se batido pela faculdade, mas nunca chegaram a trocar mais de uma palavra.
Naquele momento, o destino brincou com o casal de pombinhos. Apenas com o toque das mãos, uma corrente passou por toda a extensão do corpo deles, como se os dois fossem chave-fechadura. É, caros leitores. Foi a partir dali que eu comecei a acompanhá-los. O chefe percebeu, como bom observador, que existiria algo entre eles. , depois que entrou na equipe, passou a ser dupla inseparável do cardiologista. Os dois se tornaram melhores amigos, depois namorados, noivaram e, hoje, casados.
Contudo, de corações partidos.
A apresentação transcorreu, enquanto eu mudava o rumo da história. Não sou de ficar narrando processo novo de quimioterapia.
-xx-
– – parou na frente dela, antes de chegarem ao Central Park. A neve era constante e já cobria os pés deles. Com isso, a médica reclamava do frio. Palavras não bastavam para o cardiologista e a proximidade deles aumentava cada vez mais. fechou os olhos e deixou que a mão coberta pela luva do marido tocasse o seu rosto. – Desculpe.
– Desculpe – respondeu, para surpresa do médico. – Nós temos que tirar as nossas máscaras para admitirmos que nos arrependemos. Não é verdade?
sorriu, encostando a sua testa à dela. As mãos entrelaçadas e as respirações pesadas – era assim que o casal estava. O homem encostou, depois de tanto tempo, os seus lábios aos da mulher.
Finalmente, tudo fazia sentido novamente. Era como se tivessem tirado os dois da escuridão, do pesadelo. Um tanto quanto casto, os dois apenas curtiram aquele momento juntos após o beijo. Não era momento de ultrapassar esse limite, até porque eu teria que chamar outra pessoa para terminar esse conto.
– Então nós podemos começar tudo de novo – ele sussurrou no ouvido da esposa.
Por mais clichê que isto soe, eu aqueci os dois. Depois disso, ainda não sei o que acontecerá, já que só troquei os nomes, pois realmente existe. Não necessariamente com o glamour da Big Apple ou a neve sobre os ombros.
Concordo que ele não deveria ter dito o que disse para sua paixão, como sei que você nunca aprovaria se soubesse. Com isso, ela resolveu passar um tempo no hotel próximo ao hospital e, desde então, suas madrugadas eram dos piores pesadelos envolvendo a sua garota.
E isso estava o destruindo em pedaços por dentro.
Mal sabia ele que o outro lado da história também estava sofrendo. , sempre com pose de mulher forte, chorava todas as noites em que a música do casal tocava no rádio. Maldita era a frequência com que o locutor anunciava tal banda. A orelha do homem deveria estar queimando depois de tanta praga da médica. Até Hannah, sua melhor amiga, ela não queria escutar.
Dizem que a dor precisa ser sentida e, talvez, a mulher levara muito ao pé da letra.
Nas cirurgias, eles eram realocados para estarem sempre em turnos opostos, a mando do pai da médica e chefe do departamento. Inclusive, fora ele quem unira os dois pela primeira vez.
– Hannah, você viu a sua amiga? – doía falar o nome dela. Não era costume do se dirigir assim a . Nunca foi.
Agora, o que era engraçado é que nenhum dos dois queria abaixar as máscaras. É difícil admitir o erro, convenhamos, mas aprendi algo recentemente que devo contar a vocês: todo mundo erra e é isso o que nos faz humanos. Por mais que fosse contra minha natureza, achava risível como eles se comportavam, com suas almas sempre negando o que o corpo mandava.
– , eu a vi no quarto 2033 – respondeu, andando rapidamente na direção oposta. O cardiologista andou até o referido lugar, vendo a sua garota conversando com a paciente animadamente. Sem fazer barulho, ele ficou encostado à porta semiaberta, apenas a admirando.
Então caiu a ficha de que ele nunca a deixaria, porque os dois se completavam. Mesmo nas brigas mais ferrenhas, tentou evitar magoá-la, mas as palavras malditas escapuliram da sua boca. É inteligível o fato de que, no momento do estresse, algumas falas não são reais. Entretanto, nem sempre entendemos assim. Ainda mais das pessoas por quem nutrimos um carinho especial. Nesse quesito, sou especialista.
Somente após a garota na maca apontar para a porta, a médica olhou para trás. Seus olhos finalmente se encontraram com os do , depois de tanto tempo. Ela não podia negar o efeito que aquele homem causava nela, dilatando suas pupilas e o seu coração disparado. Era fisiológico, impossível de negar. O médico andou até o lado da esposa e reconheceu a paciente, uma das amigas de infância da mulher ao seu lado.
– Você é o famoso ? – ela falou, rindo. não pode segurar o riso, deixando que seu sorriso ficasse à mostra. – Ela sempre fala de você – continuou, deixando a outra mulher envergonhada.
– Também já falou muito de você, não é? – ele olhou, sorrindo de lado. o ignorou, fazendo a paciente franzir o cenho para nós dois. – Agora eu preciso falar algo importante com minha esposa – ela revirou os olhos, saindo atrás do marido.
– O que você quer, ? – falou, pegando ar. Na verdade, vou contar o que ela realmente queria: jogá-lo na parede e matar toda a saudade. Mas o grande “porém” é que ela estava fingindo apenas para não dar o braço a torcer. – Você não viu que eu estava ocupada?
– Calma – ele colocou as mãos nos ombros dela, que foram rapidamente retiradas com um ato grosseiro. – , nós realmente precisamos conversar – completou, engrossando e abaixando o tom de voz. Quando o casal percebeu que todos olhavam na direção deles, ela o puxou para a sala do pai. – Precisamos viajar.
– Você para o que eu estava fazendo, independente do que fosse, para dizer que precisamos viajar? , por favor!
– Eu estou mentindo? – ela ficou sem respostas. A respiração pesada denunciava o que o cardiologista imaginava: a mulher também concordava com ele. Essa teoria o acalmou, já que ela também não desistiu deles. segurou sua mão direita, não sofrendo nenhum repúdio desta vez, e olhou em seus olhos. – É apenas um congresso em Nova York. Já comprei nossas entradas – ele tirou do bolso os dois papeis.
A expressão de era inevitável. O homem sabia que ela estava esperando a oportunidade para este congresso há muito tempo. riu, entregando um dos papeis à esposa.
– Posso ter a honra de viajar com minha digníssima esposa?
– É só um congresso – ela respondeu. , antes de sair, depositou um singelo beijo na sua testa.
Não nos interessa o percurso até a outra cidade, então irei pular esse pedaço da história. Enquanto eles não chegam, deixo essa pergunta para você: você desistiria da pessoa que completa os seus dias? Quero que me responda depois de escutar o restante, porque acaba de ser anunciado que o voo da American estava desembarcando no John Kennedy, Nova York.
– ? – olhou para o marido. Agora, após negar veementemente esse ato, percebera o quanto estava aparentemente cansado. O homem, logicamente, se surpreendeu ao escutar a esposa chamá-lo pelo primeiro nome. O frio nova-iorquino piorou, fazendo-a se encolher mais ainda ao lado dele. – Obrigada.
O cardiologista sorriu como não fazia há muito tempo.
Os dois deixaram os seus pertences no hotel e foram ao local marcado. Fazia tempo que não viajavam juntos e sozinhos, o que deixava ambos sem jeito. parecia criança pequena diante uma loja de brinquedos, como não se sentia há anos depois de formada. – São apenas dois dias – balbuciou tristonha. De certa forma, ela estava se sentindo bem, muito bem. não sentia tanto interesse pela área quanto a mulher, mas foi a maneira que encontrou para se reaproximar. – Eu queria mais tempo – continuou.
– Comigo? – olhou para ela. – Os tempos mudam.
preferiu dar de ombros. Algumas coisas não precisam ser respondidas verbalmente – ainda mais quando se tratava dos dois. Ambos andaram lado a lado até o local da palestra. Analogamente, andava em direção ao paraíso.
Naquele momento, lembrei-me de quando eles se conheceram. Permita-me esse momento de quebra da linearidade da narração, até porque eu consigo confundir a mente das pessoas também na maioria das vezes. Eles se encontraram pela primeira vez quando fora designado para o departamento dela. Esse momento vive em mim como neles.
– – estendeu a mão para a oncologista.
– Olá, – os dois já tinham se batido pela faculdade, mas nunca chegaram a trocar mais de uma palavra.
Naquele momento, o destino brincou com o casal de pombinhos. Apenas com o toque das mãos, uma corrente passou por toda a extensão do corpo deles, como se os dois fossem chave-fechadura. É, caros leitores. Foi a partir dali que eu comecei a acompanhá-los. O chefe percebeu, como bom observador, que existiria algo entre eles. , depois que entrou na equipe, passou a ser dupla inseparável do cardiologista. Os dois se tornaram melhores amigos, depois namorados, noivaram e, hoje, casados.
Contudo, de corações partidos.
A apresentação transcorreu, enquanto eu mudava o rumo da história. Não sou de ficar narrando processo novo de quimioterapia.
– – parou na frente dela, antes de chegarem ao Central Park. A neve era constante e já cobria os pés deles. Com isso, a médica reclamava do frio. Palavras não bastavam para o cardiologista e a proximidade deles aumentava cada vez mais. fechou os olhos e deixou que a mão coberta pela luva do marido tocasse o seu rosto. – Desculpe.
– Desculpe – respondeu, para surpresa do médico. – Nós temos que tirar as nossas máscaras para admitirmos que nos arrependemos. Não é verdade?
sorriu, encostando a sua testa à dela. As mãos entrelaçadas e as respirações pesadas – era assim que o casal estava. O homem encostou, depois de tanto tempo, os seus lábios aos da mulher.
Finalmente, tudo fazia sentido novamente. Era como se tivessem tirado os dois da escuridão, do pesadelo. Um tanto quanto casto, os dois apenas curtiram aquele momento juntos após o beijo. Não era momento de ultrapassar esse limite, até porque eu teria que chamar outra pessoa para terminar esse conto.
– Então nós podemos começar tudo de novo – ele sussurrou no ouvido da esposa.
Por mais clichê que isto soe, eu aqueci os dois. Depois disso, ainda não sei o que acontecerá, já que só troquei os nomes, pois realmente existe. Não necessariamente com o glamour da Big Apple ou a neve sobre os ombros.
Epílogo
E eu não precisei, em momento algum, dar o meu nome.
Você me reconhece ao olhar para os seus pais, quando encontra com os seus amigos. Minha personalidade muda de país para país, de pessoa para pessoa. Sabe, leitor, olhe para você mesmo no espelho e veja o meu reflexo. Nós, juntos, temos a capacidade de mudar o mundo.
Estou dentro de você e última coisa: por mim, você move montanhas.
Atenciosamente,
O Amor.
Você me reconhece ao olhar para os seus pais, quando encontra com os seus amigos. Minha personalidade muda de país para país, de pessoa para pessoa. Sabe, leitor, olhe para você mesmo no espelho e veja o meu reflexo. Nós, juntos, temos a capacidade de mudar o mundo.
Estou dentro de você e última coisa: por mim, você move montanhas.
Atenciosamente,
O Amor.