Fanfic finalizada.

I

Exclamações de dor ecoaram por toda a arquibancada. Archibald havia conseguido fazer a proeza de tropeçar sozinho e cair, perdendo mais uma vez a bola para o time adversário. Pela careta, além da cena que fazia, realmente era o caso. O placar um pouco acima dele denunciava que o time de futebol americano da faculdade perdia por uma diferença vergonhosa e aquele definitivamente era um dos maiores fiascos que eu já havia presenciado na vida. Não que eu entendesse tudo sobre o esporte, eu sabia o suficiente para alguém que não era muito fã de qualquer prática desportiva e tenho certeza de que até quem não conhecia nada conseguiria perceber o quão ruim era aquele time. Isso não evitava, é claro, que seus jogadores seguissem o estereótipo de gente esnobe que achava que todos precisavam se curvar aos seus pés.
Suspirei fundo. Aquele tipo de interação me esgotava e não me restavam dúvidas de que meu humor estaria muito melhor se eu estivesse em casa, com meu violão velho, compondo uma música qualquer mesmo que nunca fosse mostrar para ninguém. Música era tudo na minha vida. Eu gostava de dizer que na verdade o que corria nas minhas veias eram notas musicais e toda vez que escutava isso, me empurrava e dizia que eu era completamente maluco.
era a razão de eu assistir a um jogo pelo qual não possuía o menor interesse quando claramente tinha coisas melhores para fazer, mas toda vez que eu pensava nisso, mentalizava logo em seguida que na verdade nada era melhor do que a companhia dela. Por mais que não tivesse paciência com o time de futebol americano e menos ainda com as líderes de torcida, não havia nada que me pedisse que eu não fizesse.
Talvez eu fosse o ser mais trouxa do universo por agir daquela forma, mas eu não conseguia evitar por mais que tentasse. era a garota mais incrível que eu conhecia e um sorriso dela já bastava para que eu ganhasse o meu dia. Ela tinha uma dificuldade absurda de enxergar isso, mas toda vez que meus olhos batiam nela era só isso que eu via.
Eu devia ter uns treze ou catorze anos quando percebi que gostava de muito mais do que eu deveria se a ideia fosse sermos apenas amigos. Nós nos conhecíamos desde que nos entendíamos por gente, nossas mães foram colegas na faculdade e eram inseparáveis desde então. A amizade das duas era tão forte que engravidaram praticamente na mesma época e eu e nascemos com apenas algumas semanas de diferença.
Como nossas mães, eu e também éramos inseparáveis, o que só deixou as coisas mais complicadas para mim quando percebi meus sentimentos por ela. Eu não deveria olhar para daquela forma. Com toda certeza ela me via como um irmão e isso era notável toda vez que ela olhava para mim ou suspirava por Corey Cooper. No entanto, não importava quantas vezes eu repetisse aquilo para mim mesmo, meu coração era teimoso e adorava ser judiado. Eu já havia tentado de tudo e não tinha jeito de esquecer minha melhor amiga.
Corey Cooper não era o capitão do time de futebol, como na grande maioria dos clichês. Na verdade, ele fazia parte do grupo de líderes de torcida e não havia um jogo ao qual não fosse, obviamente por causa dele. Não era fácil ter que acompanhá-la em todos eles só para ver o quanto a garota babava em outra pessoa, mas o que eu poderia fazer? Eu era masoquista o suficiente para pensar que era muito melhor estar ao lado dela daquele jeito do que não estar.
, vulgo eu, era o ser mais patético da humanidade.
Suspirei quando o jogo acabou, pondo um fim no sofrimento da torcida quando a derrota dos Salukis da Southern Illinois University foi declarada. Eu sabia que a minha tortura só ia aumentar dali a alguns minutos e quando se levantou ao meu lado, fazendo aquela cara de quem implorava para que eu a esperasse para irmos embora juntos, de novo, eu não fui capaz de lhe dizer não.
— Vou te dar uns quinze minutos. Depois disso, eu vou para casa — impliquei com ela, mesmo que nós dois soubéssemos que eu não a abandonaria nem que fizesse eu esperar por horas.
— Amo você, — fechei meus olhos de um jeito bem tosco quando ela beijou minha bochecha e acompanhei com meu olhar quando desceu praticamente correndo as arquibancadas, seguindo na direção de Corey.
O garoto estava rodeado por líderes de torcida e jogadores do time, mas era bem fácil distinguir minha melhor amiga entre eles porque suas roupas destoavam completamente. Eu vi o momento exato em que ela se aproximou de Cooper, dizendo algo de um jeito sorridente e lindo que era só dela e eu o invejei. Daria qualquer coisa para que sorrisse para mim daquela forma.
Percebi que algo estava errado quando ele pareceu sem graça diante dela e meu cenho se franziu quando a garota lhe deu as costas e refez o caminho até mim. A pressa dela era nítida, mas ela não correu. Eu a conhecia muito bem, era apenas para não parecer tão desesperada para sair dali.
Rapidamente, eu fui em sua direção, diminuindo a distância entre nós dois o mais rápido possível e eu quis arrebentar a cara de Corey Cooper quando notei os olhos da minha menina brilhantes de lágrimas.
— O que ele fez dessa vez, ? — perguntei, da forma mais sutil que consegui, e ela apenas negou com a cabeça.
— Depois. Eu preciso sair daqui primeiro, — praticamente me implorou e eu assenti, entrelaçando meus dedos nos dela porque eu sabia que assim lhe daria uma melhor firmeza para vir comigo.
Pelo canto de olho, percebi que Cooper olhava na nossa direção e segundos depois uma de suas companheiras de time se pendurou no pescoço dele, rindo de . Eu não era de desejar a morte das pessoas, mas senti que poderia acabar com a vida dele com minhas próprias mãos. Quando olhou para trás, sentindo que era observada por Corey, um suspiro escapou de seus lábios e eu tomei as rédeas da situação, guiando minha amiga para longe daquele lugar antes que eu não conseguisse mais me manter são.
Deixei que o silêncio permanecesse entre nós dois até estarmos bem longe do campo. Percebia nas feições de que ela precisava de cada vez mais força para se manter firme, mas sabia que no primeiro momento em que surgisse oportunidade desabaria. E mais uma vez pensar que alguém era capaz de magoar alguém como ela quase me tirava do sério. Isso e o fato de que eu não conseguia acreditar na falta de maturidade daquelas pessoas. Era como se nunca tivéssemos saído do colegial.
Não me surpreendi quando vi o lago cada vez mais próximo de nós, aquele era como nosso lugar sagrado, fosse para sorrir ou desabafar as mágoas. Parei de caminhar assim que vi minha amiga fazer o mesmo e fiz uma careta quando ela me encarou e deixou as lágrimas rolarem por suas bochechas.
— Uma palavra, . Uma só palavra e eu acabo com a raça dele — me adiantei na direção dela, segurando-a em meus braços e deixando que ela molhasse minha camiseta ao encostar seu rosto em meu peito. Sentir aquela proximidade sempre mexia comigo, mas o meu papel naquele momento era mais importante do que aqueles sentimentos que eu tinha por . Ela fungou baixinho, soluçando quando tentou falar e eu esperei com paciência até que se acalmasse.
— Não precisa. Eu é que sou uma boba — se desvencilhou de mim, mordendo o lábio. — Corey nunca me prometeu nada. Não sei por que eu continuo me iludindo — soltou um suspiro que doeu em mim.
— Por que você sempre se culpa? — tentei não soar tão frustrado, mas era difícil. Ver minha menina sofrer por causa de um babaca era a pior coisa do mundo. — , você é incrível e qualquer cara que não queira gritar para todos que tem alguém como você é um tremendo imbecil — toquei suas bochechas, secando as lágrimas dela por mais que outras acabassem surgindo logo em seguida.
Seus olhos, que tinham se fixado nos meus, quebraram o contato quando ela encarou o chão, discordando de mim ao negar com a cabeça.
— Qual é, ? Eu não sou incrível coisa nenhuma. Sou apenas uma garota qualquer. Não há nada de especial em mim — sua voz morreu ao fim da frase e mais algumas lágrimas escorreram por suas bochechas.
— Ei — chamei, esperando até que ela voltasse a me encarar. — Eu não acredito que você vai deixar um babaca te dizer se você é especial ou não, .
... — suspirou, mas não deixei que continuasse.
— Vá para casa, . E quando chegar ao seu quarto pare diante do espelho e olhe para você, mas olhe de verdade. Expulse da cabeça qualquer besteira que tenham dito e aí eu tenho certeza de que você vai se enxergar de outra forma e vai perceber que não precisa da opinião de ninguém, nem mesmo da minha — enquanto eu falava, não desviou seu olhar do meu e eu precisei de muita força de vontade para não confessar que mesmo minha opinião não contando eu poderia ficar por horas só listando as coisas que admirava nela.
Levei minha mão mais uma vez até seu rosto, então ela me impediu, segurando-a e entrelaçando seus dedos nos meus. respirou fundo, enquanto eu engolia em seco, me sentindo um tanto nervoso porque não consegui decifrar o que havia em seus olhos.
— Você não existe, — sua voz soou tão doce que me peguei sorrindo feito um idiota.
— Só quero te ver feliz — era verdade, por mais que minha mente fosse sacana e me fizesse sonhar com minha melhor amiga todas as noites, eu só queria que fosse feliz. Eu sabia que uma hora ou outra ela conheceria alguém muito melhor do que Corey Cooper e sentia uma pontada de dor porque eu sempre seria o melhor amigo, mas acho que é assim que o amor funciona. Você quer o melhor mesmo para alguém, por mais que esse melhor não seja você.
Aquela era uma péssima hora para eu constatar aquilo que sempre foi óbvio. Eu amava e não era de amor de amigo que eu estava falando. Eu era completamente doido por ela.
— O que foi? — eu devia ter deixado algo transparecer em minhas feições e seu questionamento me pegou de surpresa.
— O que foi o quê? — respondi, com outra pergunta, confuso.
— De repente, você me pareceu triste — neguei com a cabeça, então sorri.
— Não estou triste, apenas preocupado com você — contei uma meia verdade e ela aproximou seu rosto do meu de um jeito que me deixou tenso por mais que eu soubesse que, da parte dela, não havia nada demais naquilo.
— Pode se preocupar menos então. Vou seguir o seu conselho e ainda te digo mais. Corey Cooper a partir de hoje é passado — suas feições eram determinadas e quando ela tocou seus lábios em minha bochecha, deixando um beijo ali, eu lutei para não fechar os olhos.


II

Se eu não tivesse presenciado aquilo antes, definitivamente teria me surpreendido ao ver Cooper sair de uma sala de aula parecendo preocupado em ser visto. Um suspiro escapou de meus lábios minutos depois, quando apareceu com a mesma expressão e quando seus olhos pararam em mim ela abriu um pequeno sorriso.
Não era a primeira vez que Corey havia agido como um idiota e o perdoou. Para ser sincero, aquilo acontecia com cada vez mais frequência e além de morrer um pouco por dentro toda vez que eu via que eles estavam juntos, me sentia mal por minha amiga porque eu sabia que por mais apaixonada que ela fosse, isso não o mudaria, já que ele não sentia o mesmo.
Eu sempre odiei triângulos amorosos e a vida havia sido bem irônica comigo me metendo em um.
— Pelo jeito você gosta do passado, né? — acusei, assim que se aproximou de mim e uma risada culpada ecoou de seus lábios enquanto caminhávamos pelo corredor.
— É complicado, , você sabe. A Hilary não dá sossego. Eu me precipitei indo atrás dele depois do jogo, mas Corey prometeu mudar as coisas e estou sentindo que vai até me chamar para aquele baile que vão fazer — a animação dela era nítida e eu queria realmente ficar feliz, mas não conseguia. Cooper havia conseguido enrolá-la mais uma vez.
— Vão mesmo fazer esse baile? Achei que isso tinha ficado no colegial — tentei desviar do assunto.
— Claro que vão. Quando é que eles perdem a chance de uma festa? E não é algo formal como no colégio, mas é para relembrar — deu de ombros.
— Pois eu fico bem feliz sem precisar relembrar, muito obrigado — soltei, em tom de riso. Bailes só costumam ser memoráveis para pessoas populares e eu nunca fui um deles.
— Não acredito que você não vai! — reclamou, parando de andar e me olhando indignada.
— Tenho nada para fazer nesse baile, . E se você vai com o Cooper, o papel de vela nunca foi a minha cara — fora que seria um chute no estômago ter que ver os dois juntos lá.
— Você devia convidar alguém. Eu já vi várias garotas da nossa turma te olhando — não ia negar, talvez ela tivesse mesmo razão, mas eu não queria outra garota e não achava justo brincar com os sentimentos de ninguém até dar um jeito nos meus.
— Eu sei, mas não gosto muito de bailes. Vou acabar ficando em casa, fazendo maratona de Supernatural — fui sincero, o que fez ela negar com a cabeça.
— Vai maratonar sem mim? Essa doeu! — aquele comentário me fez rir.
— Você está mais do que bem vinda a se juntar a mim, sabe disso — mas era óbvio que preferia ir ao baile e ficou mais ainda quando ela mordeu o lábio, nervosa.
— Se eu não fosse ao baile...
— Eu sei, . Relaxa — pisquei para ela, então nós voltamos a caminhar. Tínhamos uma aula dali a alguns minutos e eu devia estar com pressa de chegar, porém não estava.
Com quem você acha? Óbvio que vou com Corey Cooper. Ele me convidou hoje mais cedo — naquele momento eu desejei que não tivéssemos alcançado Brenda e Casey. A primeira havia soltado aquilo de um jeito tão animado quanto o de minutos atrás e aquilo doeu em mim, principalmente quando minha melhor amiga paralisou ao meu lado.
Por isso que vocês chegaram os dois atrasados para a aula de metodologia do trabalho. Vocês não prestam, sabia? — era Casey. As duas deram risadas cúmplices, mas eu nem me importei mais com elas. A única coisa que consegui focar foi na expressão de nojo e decepção de .
— Não acredito nisso — sua voz quase não pôde ser ouvida de tão fraca e dessa vez ela saiu correndo sem nem me dar tempo de dizer ou fazer qualquer coisa.
As duas se assustaram quando passou por elas e eu pisquei meus olhos, tentando processar as coisas, então segui na mesma direção segundos depois, tentando acompanhá-la, mas percebendo que era tarde demais quando já não consegui mais localizar minha amiga.
A frustração me fez grunhir baixo e a sorte de Corey foi não aparecer na minha frente naquele momento. Eu poderia procurá-lo só para esmurrar sua cara, mas em vez disso eu corri para a casa de , porque era lá que eu a encontraria.


III

Naquele dia eu não poderia estar mais errado sobre o paradeiro de minha melhor amiga. Eu não a encontrei em casa, muito menos em nenhum dos lugares onde costumávamos ir quando estávamos chateados. Aquilo me deixou preocupado. não seria capaz de cometer alguma loucura por causa de Corey Cooper, ou será que seria?
Só sosseguei quando recebi uma ligação dela, quase duas horas depois, dizendo que estava bem, só tinha seguido para um lugar mais afastado porque precisava colocar as ideias nos eixos. Me senti um pouco magoado por ela não dividir comigo onde era, mas entendi e fiquei calado. Se fosse parar para pensar, eu também escondia segredos de .
Os cinco dias que antecediam ao baile passaram voando. Parecia que o botão de acelerar havia sido apertado no controle do universo e era engraçado o quanto meus colegas de faculdade estavam agitados com o evento. Realmente, parecia que voltávamos aos tempos de escola e enquanto eu saía de uma aula tediosa acabou me ocorrendo que por mais que meu colegial não tenha sido dos melhores, eu não podia esquecê-lo completamente. fazia grande parte dele e foi nela que nossa amizade atingiu novos patamares. Nós não tínhamos apenas brincadeiras bobas para compartilhar, nós dividíamos segredos. Nem todos, é claro, mas a grande maioria deles.
Foi no colegial também que eu comecei a compor algumas músicas e no início eu não fazia ideia, mas quando me dei conta percebi que quase todas as minhas letras falavam sobre ela.

Every insecurity, like a neon sign, as bright as day
Toda insegurança, brilhante como um néon, tão clara quanto o dia
If you knew what you were to me
Se você soubesse o que você é para mim
You would never try to hide away
Você nunca tentaria se esconder

'Cause everybody's lookin' at you now, my, oh my
Porque todo mundo está olhando para você agora, oh, minha querida
I guess some queens don't need a crown
Eu acho que algumas rainhas não precisam de coroa
And I know why
E eu sei o motivo
Even when your tears are fallin' down
Mesmo quando suas lágrimas estão caindo
Still, somehow, you're perfect now
Ainda assim, de alguma forma, você está perfeita agora


Fazia alguns minutos que eu encarava aquele caderno de composições e a letra daquela música em especial saltava aos meus olhos. Dentre todas, definitivamente aquela era a que demonstrava com mais clareza tudo o que eu sentia por . Desde a admiração extrema que até me confundiu a princípio até o fato de que aquela garota era linda, não importava o que fizesse. Se sorrisse, ficasse braba, fizesse cara de tédio ou se chorasse. Ela era perfeita.
Larguei o caderno, soltando um suspiro bem alto de frustração. Eu amava a única garota que não poderia ter e aquilo estava acabando comigo. Vê-la triste a semana inteira também e por mais que ela conseguisse disfarçar bem quando Cooper passava ou tentava chamar sua atenção, eu sabia que estava sofrendo.
Eu já tinha decidido que não iria ao baile desde o dia em que foi anunciado, mas quando uma ideia veio à minha cabeça, dei um jeito de arrumar uma roupa mais social e me aprontei. Ainda não gostava daquelas coisas, mas queria ir, então por que eu não poderia ser o par dela naquela noite? Eu corria o risco de ela ser enrolada pelo Corey outra vez, mas não dei importância. Desde que ela ficasse feliz, eu estaria também.
Eram seis e quarenta quando eu toquei a campainha dos , então esperei pacientemente, até ver uma descabelada e de pijamas abrir a porta da frente.
— Bela roupa — elogiei, em tom de brincadeira, o que fez com que ela risse e arqueasse uma sobrancelha ao notar as roupas que eu vestia enquanto dava passagem para que eu entrasse.
— Você que o diga, hein — me encarou dos pés à cabeça ao fechar a porta. — Então resolveu me ouvir e convidar alguém para ir ao baile? Você está maravilhoso. Agora me conta. Quem é? — disparou, empolgada.
— Quem é o quê? — me fiz de desentendido, o que fez com que estreitasse os olhos para mim.
— Quem é seu par, ? — era bem provável que se eu a enrolasse mais um pouco receberia uns tapas. Se tinha uma coisa que minha melhor amiga odiava, era ficar curiosa por muito tempo.
— Você — resolvi responder na cara dura, o que a fez me encarar, piscando os olhos rapidamente.
— O quê? — questionou, com certeza querendo que eu repetisse para se certificar que não estava imaginando coisas.
— Você é meu par nessa noite, — então estendi o pequeno arranjo de flor que eu havia trazido comigo e ela nem havia percebido. — Quer ir ao baile comigo?
Ela não me respondeu de imediato, seus olhos continuaram fixos em mim e eu senti um calafrio percorrer minha espinha. Se havia me analisado daquela forma antes, eu certamente não havia percebido. Alguma parte de mim quis acreditar que era a primeira vez em que ela me via como alguém além de um amigo.
Então abriu um sorriso triste e mordeu o lábio inferior, do jeito que ela sempre fazia quando algo lhe incomodava. Antes mesmo de ela dizer, eu soube que não aceitaria.
, me desculpa. Você sabe que eu jamais recusaria um convite seu e seria o máximo ter a sua companhia nesse baile, mas sabe o que é? Eu não quero ir até lá. Não quando ainda estou vulnerável a Corey Cooper e pensando bem, que mal há em ficar em casa, maratonando Supernatural? — tentou descontrair a última parte e por mais que a rejeição inicial tivesse me chateado, eu sorri para ela e assenti.
— Tudo bem então. Mudança de planos — dei de ombros.
— É sério, você seria o par perfeito, eu só... Espera, você disse que tudo bem? — me olhou, confusa.
— Sim. E disse também que mudei meus planos. Já que não vamos ao baile, maratona de séries, aqui vamos nós! — tirei meu casaco e arregacei um pouco as mangas da camisa.
! Você não precisa fazer isso. Vá ao baile! — negou, mas eu nem pensei no assunto.
— Eu só iria por você, . Sabes que não gosto de bailes — minha fala fez com que ela abrisse um sorriso lindo na minha direção e era claro que não havia nada demais nisso, mas fiquei agitado.
Depois disso, me puxou para que fôssemos até a cozinha. Reviramos os armários e não tinha muita coisa interessante, então pedimos uma pizza e aproveitamos para comer enquanto assistíamos alguns episódios da nossa série.
Eu me sentia bem ali, era os efeitos dela sobre mim, mas algo naquela noite me deixava mais nervoso.
— E se nós abríssemos aquela garrafa de rum velha do meu pai? — não fiquei nem um pouco surpreso ao ouvir a proposta porque nós sempre dávamos um jeito de desfalcar os estoques de nossos pais.
— Eu achei que você nunca fosse sugerir isso. Estava até te estranhando — ri quando ela me deu língua.
— Bobo — provavelmente a minha cara era realmente a do ser mais bobo do universo ao ouvi-la dizer aquilo. Eu poderia puxar para mim e cobri-la de beijos naquele momento. Força de vontade era uma necessidade constante.
Observei ela se levantar para pegar a garrafa de rum com uns dois copos e arqueei uma sobrancelha porque tínhamos ali uma bacia de pipoca e o rum.
— Combinação interessante essa daí — brinquei e ela sorriu de canto.
— Ouvi dizer que as combinações mais improváveis são as mais gostosas — me encarou de um jeito travesso ao dizer aquilo e eu me senti mais mexido do que nunca.
Seria improvável que ficássemos juntos, mas em todos os meus sonhos tê-la em meus braços não era apenas gostoso, era inesquecível.
— Talvez. A gente só vai saber se provar — me vi retrucando e certamente ela atribuía aquela conversa ao lance da pipoca com rum, mas eu não. Eu queria descobrir como seria beijá-la e puxá-la para mim, só desgrudar quando precisasse muito de ar.
— Abra a boca, — quando me dei conta, já estava muito próxima e eu a obedeci sem pestanejar, abrindo minha boca e esperando-a fazer o que pretendia.
Senti quando ela colocou a pipoca e em seguida me inclinei um pouco quando ela dispensou o copo e levou a garrafa de rum até meus lábios. De forma automática, sorvi um pouco da bebida e mastiguei a pipoca junto. Aquela mistura havia sido desastrosa, mas eu não me importei porque meus olhos não se desgrudavam de .
Ela levou uma pipoca à boca e bebeu alguns goles de rum. Vi a bebida escorrer de seus lábios até o queixo e me perguntei se ela teria deixado aquilo acontecer de propósito.
Por que ela tinha que estar tão próxima?
Sem pensar direito, levei uma de minha mãos até seu rosto, limpando o rum que havia escorrido e subindo com o toque de meus dedos até seus lábios, deslizando e sentindo a textura gostosa que tinha.
Vi minha melhor amiga fechar os olhos, gostando daquele contato e meu corpo formigou de vontade de romper o resto de distância entre nós dois. Ela parecia tão entregue a mim e um beijo nunca me soou tão certo.
Eu estava prestes a ceder meus anseios, mas então tornou a abrir os olhos e se afastou com um sorriso, bebendo mais longos goles do rum enquanto eu a encarava com cara de tacho.
— Dance comigo, — fui pego de surpresa por ela, que me puxou pela mão para o meio da sala.
— Dançar? Você sabe que eu não danço, — tentei fugir, mas no fundo sabia que não ia resistir.
— Ah, vamos lá! Você não veio aqui todo pomposo querendo me levar ao baile? Nos bailes a gente dança, sabe! — riu da minha cara e eu neguei com a cabeça.
— Então agora você quer que eu te mostre minhas habilidades de dançarino no particular? Saiba que não é assim, dona . Tem que me pagar jantar antes — brinquei com ela, que gargalhou.
— E por que você acha que pedimos pizza? Está pago o jantar. Agora quero os seus serviços de dançarino — me surpreendi porque ela tinha dado um jeito de desligar a televisão e colocar música. O efeito dela era tão forte sobre mim que eu perdia a noção das coisas ao meu redor.
— Só de dançarino? Tá parecendo que você quer me fazer de escravo sexual seu, isso sim — estreitei meus olhos para ela, empurrando para algum canto da minha mente que eu adoraria se aquilo fosse verdade.
— Não falei nada sobre sexo, mas já que você mencionou — mordeu os lábios para mim, de um jeito que quase me fez perder os eixos, então voltou a beber o rum.
— Me dá aqui essa garrafa antes que... — interrompi minha fala, pegando a bebida e tomando alguns goles enquanto dançava meio desajeitado com .
— Antes que o quê, ? — vi que ela me encarava com uma sobrancelha arqueada.
— Antes que eu esqueça todos esses anos de amizade — não sei o que deu em mim, mas de repente as palavras saíram e pareceu surpresa, mas não recuou.
— E por que você faria isso? — me senti nervoso pelos questionamentos dela e meu cérebro gritava que eu precisava parar. Que dizer a verdade acabaria com tudo o que tínhamos, mas o controle estava bem longe de mim.
— Porque você é a garota mais incrível e perfeita que eu já conheci, , e eu sou apaixonado por você desde o colegial — não tinha mais conserto, num impulso eu contei tudo para ela e fiquei esperando a rejeição me dar o soco no estômago.
— Mesmo? — fiquei surpreso ao ouvir ela dizer e só então percebi que havia fechado meus próprios olhos, apertando-os com medo da reação dela. sorria para mim de um jeito que eu sempre quis que sorrisse.
— Mesmo — afirmei, em dúvida do que eu faria.
— Isso explica muita coisa — soltou, parecendo conter a vontade de rir. Eu riria se fosse ela, minha cara devia estar patética.
— É? Tipo o quê? — perguntei, confuso.
— Tipo o porquê de você estar aí parado sem fazer nada. Você acabou de confessar que está apaixonado por alguém e não dá nem um beijinho? — eu mesmo caí na risada e por alguns segundos nós dois só sabíamos rir mesmo.
— Você quer? — questionei, quando paramos.
— Quero — nem acreditei quando ouvi aquela resposta, mas não hesitei mais.
Puxei de encontro a mim como havia desejado tantas vezes e nosso lábios se uniram em um beijo, que começou calmo e se encaixou perfeitamente.
Aquela garota era tudo na minha vida e eu não fazia ideia se estava arruinando uma amizade, mas naquele momento eu não me importei.
Era tudo sobre ela.


FIM?



Nota da autora: Estou sentindo que vou apanhar por finalizar essa short assim, mas já aviso a vocês que ela terá uma segunda parte! Eu fiquei absurdamente rendida por esse pp, sério. Ele é tão fofo que escrevi suspirando.
Comentem o que acharam, isso incentiva demais a continuar postando histórias para vocês!
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Beijos e até a próxima.
Ste.





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