Capítulo Único
Trixie a observa andar pelos corredores da faculdade como se fosse dona daquele lugar. Os cabelos loiros caiam lisos até as costas, o óculos de grau descansava sobre o nariz perfeitamente empinado, os lábios cheios formavam um sorriso que era direcionado para o jogador de basquete que a esperava de braços abertos. Seus olhares se encontram. O sorriso morre aos poucos. Trixie sente seu estômago afundando.
— Eu vi vocês se pegando loucamente ontem! - A voz de Marvin penetra em seu subconsciente, tirando-a do seu transe hipnótico. Trixie lhe lança um olhar melancólico. - Que cara é essa linda? Você é completamente apaixonada por ela desde o primeiro ano! Você deveria estar feliz!
Ela suspira triste. Não estava feliz.
Aquela festa estava extremamente cheia e quente. A morena sentia que a qualquer momento desmaiaria, portanto saiu para o quintal, e a encontrou lá.
Faye estava sentada com a cabeça entre os joelhos, as costas subiam e desciam com a respiração profunda que a mesma dava de tempos em tempos. Sem querer, sentiu seus pés lhe arrastando para onde a loira se encontrava.
— A festa tá acontecendo lá dentro, ninguém te avisou? - Falou sentando-se ao lado da menina. Faye levantou os olhos inchados e a encarou. Conseguiu ver que a loira tinha chorado. Franziu o cenho preocupada. - O que houve?
— O de sempre. - Deu de ombros e suspirou, depois abriu sua bolsa de mão a procura de algo. - Dylan foi um escroto como sempre, me traiu como sempre e agora eu to na merda, como sempre. - Colocou um cigarro entre os lábios e continuou a revirar a bolsa a procura de um isqueiro. Suas mãos tremiam e Trixie conseguia notar que os olhos enchiam-se novamente de lágrimas. - Que merda! - Desistiu frustrada, suspirando com raiva.
Trixie pegou o próprio isqueiro e a ofereceu.
— Quem foi a da vez? - Perguntou observando a amiga acender o cigarro. Ela já estava habituada àquilo. As duas eram melhores amigas desde o primeiro ano, e desde o primeiro ano Trixie estava acostumada a ver Dylan tratar Faye como se fosse um mero objeto à sua disposição, para usar quando bem entendesse e durante três anos ela assistiu de camarote a saúde mental da amiga ficando cada vez mais precária. Ela o odiava e, independente de seus sentimentos escondidos pela amiga, achava o jogador de basquete o ser mais desprezível da face da terra.
Faye tragou fundo o cigarro e a encarou.
— Aquela caloura que mandou foto de calcinha pra ele semana passada. - Ela suspirou e apertou as têmporas com os dedos, como se aquela ideia já estivesse lhe causando dores de cabeça à tempos. - Trixie eu já deveria ter notado que ele nunca… Nunca vai me levar à sério! - Ela havia voltado a chorar, o que deixava sua voz mais embargada. Só então a garota notou o quanto a amiga estava bêbada. - Eu faço tudo por ele! E o que eu ganho em troca? Que porra de relacionamento é esse, Trixie? Por que caralhos eu não consigo ter um pingo de amor próprio? - Ela falava, mas a morena sabia que ela já não estava se dirigindo especificamente à ela. Faye costumava pensar alto quando estava bêbada.
Ela deu uma pausa, fungando com força, e tragando mais uma vez o cigarro.
Toda vez era aquilo. Toda vez Dylan fazia algo, toda vez era Trixie quem tinha que recolher os pedaços de Faye e colocá-los no lugar. Ela era apaixonada pela melhor amiga, e aquilo a matava aos poucos, principalmente quando Faye bêbada ficava amorosa e a abraçava e falava que se ela fosse lésbica ela definitivamente namoraria com Trixie, porque ela era a única que a entendia e a amava de verdade. Ela sabia que deveria cortar esse comportamento, mas ela nunca fora forte o suficiente.
— Faye, você quer ir pra minha casa e esperar a ressaca passar? Amanhã com calma você pode mandar Dylan tomar no cu. - A morena ofereceu, estendendo a mão para a amiga.
Mas o olhar de Faye estava com uma determinação raivosa. Ela ignorou a mão da amiga e levantou-se cambaleando.
— Quer saber? - Começou, limpando a saia com as mãos, e jogando o cigarro no chão. - Eu não vou deixar ele acabar com a minha festa. Eu consigo fingir que ele não existe por uma noite, eu posso fazer isso.
E saiu andando, deixando Trixie a observando entrar na casa e se perder na multidão.
— Que tipo de amor doentio é esse? - Marvin suspira enquanto os dois observam Faye abraçada com Dylan no pátio do colégio. - Ele tava com a língua afundada na garganta daquela menina ontem na festa e hoje ela já perdoou?
— Toda vez é assim, Marvin. - Trixie suspira, pegando um pedaço do seu sanduíche e colocando na boca. - Ela mal olhou na minha cara hoje.
Marvin a olha com pena nos olhos, Trixie sente o estômago revirar.
Trixie seguiu Faye e adentrou no meio da multidão de pessoas dançando e se beijando pela sala. Ela em geral não se importava com a bagunça em festas, mas sua preocupação fazia com que todas as pessoas que esbarravam nela desse em seus nervos.
A cozinha estava mais vazia, e entulhada de bebidas por todo o canto: nos balcões, na pia… Pessoas estavam deitadas pelo chão, embriagadas demais para tentarem ir para outro canto, algumas haviam passado mal, outras só havia desmaiado mesmo.
Ela conseguiu ver Faye encostada em Spencer, o veterano que tinha fama de ser o traficante oficial dos alunos da escola. Ela sorriu largamente para ele, e Trixie a observou colocar o dedo num saquinho com um pó branco e logo em seguida lamber.
— Faye! - Ela gritou do outro lado, se aproximando enfurecida. Faye nunca fora de usar drogas, a cerveja era a única substância que consumia, então ao vê-la consumir MD sentiu seu sangue ferver em frustração. - Que porra é essa?
— Calma Trixie, é só um pouco pra ela ficar feliz. - Spencer sorriu lesado, mas a menina o empurrou com força para afastá-lo delas.
— Caralho Faye, o que diabos eu vou falar pro teu pai? - O sorriso da garota estava largo e sua atenção estava por toda parte. Trixie teve que pegar a loira pelos ombros para forçá-la a olhar para si. As pupilas estavam dilatadas, e naquele momento ela soube que teria que esperar até o efeito passar e cuidar da amiga para que não acontecesse nada com ela.
— Eu fui escrota com ela. - Trixie suspira com o amigo enquanto eles se dirigem à aula. - Eu me aproveitei dela, ela estava em uma situação vulnerável. Eu deveria ter sido responsável.
— Você não se aproveitou dela, ela não estava inconsciente do que fazia! - Marvin rebate, tentando defender a amiga. Ele sabe que a culpa que Trixie sente a impede de enxergar as coisas com clareza. - Você não entrou em detalhes, o que é uma pena, mas em todo o seu relato ela parecia saber exatamente o que estava fazendo.
Ela o olha com todas as dúvidas possíveis dentro de sua cabeça.
E se ele estivesse certo?
Faye a arrastou para a sala onde a música que tocava estava mais alta do que seus pensamentos. Trixie a observou dançar, com uma agitação nervosa causada pela droga, estava preocupada com o que a amiga poderia fazer. Sempre fora impulsiva, e sabia que o efeito da metanfetamina pioraria aquilo.
— Faye, a gente deveria ir pra casa! - Ela se aproximou da amiga para poder gritar em seu ouvido, mas no momento em que ela invadiu seu espaço pessoal, Faye abraçou sua cintura, a impedindo de se afastar.
— Dança comigo! - Ela a abraçou com mais força, encaixando-se entre as pernas de Trixie e remexendo os quadris com a batida lenta e envolvente da música.
Todas as bandeiras vermelhas de alerta se ergueram na cabeça de Trixie.
Elas estavam terrivelmente próximas, o que gerava uma onda gelada de nervosismo por todo o seu corpo e se alojava ao pé do estômago. Faye sorria de olhos fechados, mordendo levemente o lábio inferior. Suas mãos estavam descontroladas e percorriam freneticamente o corpo da morena, causando calafrios e ondas elétricas por onde passava. Trixie sabia que aquele era seu tipo particular de inferno, e estava com medo de se queimar.
— Quem garante que ela não fez isso pra causar ciúmes? - Marvin ainda tentava convencer Trixie de que ela era uma boa garota. Trixie sabe que jamais se aproveitaria de um momento de fraqueza da amiga, mas e se Faye tivesse se aproveitado dela?
— Eu acho difícil. Dylan estava comendo alguém, não o vi. - Ela suspira e se levanta de repente. Estava disposta a tirar aquilo a limpo.
— Onde você vai? - Marvin começa, mas Trixie já estava longe o suficiente para ouvi-lo dizer que aquilo não era uma boa ideia.
Faye a observa se aproximar, mas faz um sinal de negativo para ela. Ela entendia. Não agora. Não na frente de Dylan.
— Sabe Trixie? - Faye começou dizendo, os olhos estavam fechados, seu rosto estava corado, a respiração estava ofegante e a cada palavra ela se aproximava mais e mais. - Eu deveria começar a dar chance pra quem realmente me ama.
Trixie sentia seu coração disparado. Ela não sabia se estava ouvindo bem, devido à música alta, mas de repente todas as palavras de Faye estavam ecoando em sua mente. Ela prestava atenção em todas as ações da amiga.
A loira se inclinou, matando a distância entre as duas rapidamente e firmou as mãos na cintura da outra. Ela mordeu o lábio inferior e encarou longamente os lábios de Trixie, e rapidamente depositou um selinho neles.
Parou por um segundo, analisando o rosto confuso da amiga, talvez esperando que ela se afastasse. Trixie sabia que era o que deveria fazer, mas não conseguiu. A adrenalina que antes estava sentindo havia se calado debaixo da onda de eletricidade que a boca de Faye na sua desencadeara.
— Eu sei que é o que você queria. - Faye sussurrou e voltou a beijá-la com urgência. As mãos foram parar nos cabelos escuros, se embrenhando nos fios grossos. Trixie correspondeu, abraçando-a pela cintura, e sentindo o corpo esquentar e o estômago esfriar com a sensação familiar da excitação.
Elas continuaram se beijando até ficarem sem fôlego.
Trixie sentia que seu coração sairia pela boca, não sabia se deveria se sentir feliz por finalmente ter algo que sonhara fazia tempo, ou triste porque havia partido de um possível tesão causado pela droga consumida. Estava nessa batalha interna por algum tempo, quando os lábios da amiga em sua orelha calou suas vozes internas.
Definitivamente estava no inferno. E queimar estava sendo bom.
Trixie se apoia na parede do seu armário e observa o corredor, aguardando a amiga sair da aula.
Seu estômago está contraído em ansiedade, e por um breve momento pensa em abandonar a ideia de confrontar Faye e viver para sempre na ignorância. Se endireitou em seus pés, e ia sair, quando o sinal toca, e a primeira a sair da sala é a loira.
Faye sorri forçadamente para a amiga. Trixie sente o coração murchar aos poucos. Não fazia ideia do que esperava da conversa, mas a matava por dentro ver que sua melhor amiga tão desconfortável ao seu lado.
— A gente precisa conversar. - Trixie começa. Faye assente.
— Antes de tudo, você precisa saber que eu estava completamente sã do que eu estava fazendo. - Faye a interrompe no momento em que Trixie abre a boca para iniciar a conversa. - Eu te conheço, e sei que isso deve estar te matando.
— Então por que você fez isso? - Trixie engole em seco. - Dylan viu? Você queria causar ciúme?
— Claro que não Trixie! - Faye parece ofendida. - Eu só estava carente. E você estava lá.
Trixie sabia que poderia ser isso. Mas ouvir a amiga falar fez seu coração partir em pedaços. Ela não tinha esperanças de que fossem ficar juntas. Mas não queria ser o estepe de ninguém. Nem de Faye.
— Acho que agora eu não vou estar mais aqui. - Ela fala baixinho e vê Faye olhar para baixo, constrangida. - Acho que qualquer coisa que nós temos acaba por aqui.
Então se vira. E começa a andar.
Em sua cabeça ela pedia para que Faye corresse atrás, para que ela a pedisse desculpas.
Vamos Faye, eu te conheço.
— Trixie! - Ela a ouve, seu coração dispara. Volta a encarar. - Só não conta nada pra ninguém, por favor?
Ela sentia o gosto da decepção na boca enquanto encarava o rosto de Faye implorar.
— Eu não preciso dizer nada para ninguém. - E então encerrou o assunto. Ela sabia que nunca mais iriam ser amigas, e seu orgulho estava ferido. Faye havia sido dela por uma noite e ela continuaria amando a amiga, de longe e não mais na vida dela. Mas isso não era da conta de ninguém.
That's the beauty of a secret
You know you're supposed to keep it
But I don't have to fucking tell you anything
Fim
Nota da autora: 14/08/2017
Gente! Essa fanfic é para a Ficstape de Badlands! É e primeira vez que eu me atrevo à fazer um kinda slash, então se não ficou bom ceis perdoa! <3
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