Capítulo Único
Finalmente o encontrei, pressionando o botão para desligá-lo, porém aquela coisa não parou. Mas que diabos! Já sentindo minha cabeça latejar, fechei minha mão e golpeei o botão com meu punho. Deu certo. No entanto, a força que usei fez com que o despertador caísse do criado mudo, causando um grande estrondo.
- Droga... – murmurei sonolenta
- Está querendo quebrar mais um despertador? – de repente ouvi alguém dizer
Abri os olhos e encontrei tal pessoa parada na porta de meu quarto. Franzi o cenho ao perceber quem estava ali, mas logo a ignorei. Era apenas uma de minhas colegas de faculdade vindo me encher o saco às seis da manhã.
- O que você quer, Josie? – murmurei, enfiando minha cara no travesseiro.
- Eu não quero nada. – ouvi sua voz debochada – Só vim te avisar que é melhor se apressar, pois hoje temos prova de dermatologia. E não está nem um pouco fácil.
- O quê? Mas que... – no último segundo não falei o que queria, pois outra pessoa apareceu na porta.
Essa, porém, vinha correndo e passou como um furacão por Josie, quase a levando junto. Soltei um riso abafado com a euforia daquele garoto.
- Jay, você é louco? – Josie o repreendeu – Está querendo me matar?
- Não, gata. Não ainda. – ele piscou pra ela e depois se virou em minha direção – Só vim dizer a que daqui a pouco vai chover.
- E daí? – franzi o cenho sem entender.
- É que têm umas roupas suas penduradas lá na varanda. – ele disse num tom curioso – Tem umas calcinhas também...
Mas Jay parou assim que ouvimos o som de um trovão. Segundos depois aquele típico som de chuva se iniciou e olhei alarmada para minha janela, vendo a água escorrer pelo vidro.
- Merda! – finalmente disse.
Sem pensar duas vezes, me levantei da cama e corri até a varanda do nosso apartamento. Morávamos os três ali e até que era legal. A não ser quando o Jay resolvia dar festas com outros universitários. No fim, a Josie e eu sempre limpávamos tudo.
Enquanto ia até o lado de fora, os outros dois voltaram a se arrumar para o dia de aula. Ao chegar à varanda soltei todos os palavrões que conhecia, pois minhas roupas já estavam molhadas. Ainda assim, entrei de cabeça na chuva e peguei todas elas.
Furiosa, voltei pra dentro com a trouxa em mãos, passando pela cozinha e indo ao meu quarto. Joguei todas as peças sobre a cama e suspirei. Não teria tempo de cuidar disso agora.
Apressada, peguei uma toalha na minha cômoda e a roupa que eu vestiria. Adentrei o único banheiro da casa e tomei um banho. Pelo menos tínhamos água quente. Depois de uns dez minutos, saí e me troquei. Aproveitei o clima para usar uma roupa mais pesada. Terminei de me arrumar, calçando uma bota de cano baixo e prendendo meu cabelo num rabo de cavalo, então fui tomar meu café.
Eles ainda estavam lá. Josie tomava uma xícara de café, enquanto folheava uma apostila enorme. Jay arrumava sua mochila. Ele cursava educação física, enquanto Josie e eu, medicina.
- Finalmente. – Josie falou sem me encarar, fitando os papéis – Pensei que tinha descido pelo ralo.
- Tão engraçada. – falei sem ânimo algum.
- É melhor se apressar, saímos em quinze minutos. – Jay já calçava seu tênis.
- Relaxa. – revirei os olhos.
Comi algumas frutas e bebi um pouco de café, o que não demorou muito. Escovei os dentes e voltei ao meu quarto. Lá, peguei minha mochila que ficava atrás da porta e a conferi para ver se não faltava nada.
- A apostila de medicina geral. – murmurei aliviada ao me lembrar.
Deixei a mochila sobre a cama, ao lado do monte de roupas molhadas e caminhei até minha cômoda. Abri a penúltima gaveta, mas não encontrei o queria, então fui até a última. Finalmente encontrei a apostila, que mais parecia um livro, e a tirei de lá. Quando a colocava na mochila, vi algo deslizar de entre as folhas e cair no chão. Olhei curiosa para o pedaço de papel e me surpreendi ao notar o que era.
- Eu não acredito! – murmurei surpresa.
Era uma foto.
Me abaixei e a peguei, a olhando com toda atenção. Haviam várias pessoas abraçadas, totalmente descabeladas, com copos de bebida nas mãos. Entre elas eu, Josie e Jay. Ela era do tempo que eu ainda morava em Huntington Beach. Do último ano do ensino médio. Arfei ao reconhecer cada uma das pessoas. Há quanto tempo eu não as via? Sorri ao me lembrar daquele dia, o dia em que a fotografia havia sido tirada. Minha última semana lá, antes de vir para Nova Iorque.
Continuei olhando a imagem de todas aquelas pessoas que pareciam estar se divertindo demais e soltei um risinho. Eu nunca me esqueceria daqueles momentos, afinal, nunca fiquei tão pirada. Naquele dia nada mais importou, queríamos apenas aproveitar. E foi o que fizemos.
Flash Back -On-
(Algum dia quando estivermos olhando para trás)
Vamos pensar nessas noites
Então vamos fazê-las durarem mais
Cinco Anos Antes
Eu caminhava pelos corredores da escola. Aquele era o último dia de aula. Eu estava radiante, pois finalmente me livraria daquele inferno. No entanto, minha alegria não era plena. Logo na próxima semana, eu me mudaria para Nova Iorque, onde meu pai morava. Continuaria os estudos lá.
Aquela era uma grande oportunidade, afinal, eu poderia começar uma carreira na área de medicina. No entanto, haviam coisas aqui em Huntington Beach que me faziam querer ficar. Minha mãe, meus avós, meus amigos. Ele. O garoto que eu costumava chamar de melhor amigo, mas que sempre fora mais do que isso.
Mas agora era tarde, a decisão havia sido tomada e não podia mais voltar atrás.
Continuei minha caminhada pelos corredores, agora repleto de alunos, indo em direção ao refeitório. Ao passar pelas portas brancas, avistei de longe meus amigos, todos sentados na mesma mesa. Abri um largo sorriso e fui até eles.
- E aí, galera! – falei enquanto me sentava com eles.
- Vejam só, a miss Nova Iorque chegou! – Jay falou debochado.
- Por que não cala essa boca? – joguei um guardanapo amassado nele.
- Que história é essa de miss Nova Iorque? – de repente ouvimos alguém perguntar.
Senti meu coração pulsar mais rápido, pois não tinha dúvidas de a quem aquela voz pertencia. Era o meu melhor amigo. Ergui meus olhos, o encontrando lá, nos encarando confuso. Eu ainda não tinha contado a ele.
- ? – falei surpresa, mas tentei me recompor – Ah... não é nada.
- Como assim, nada? – ele franziu a testa – Eu não sou surdo.
- Por que não deixam essa briguinha de casal pra depois? – Josie suspirou cansada – Eu quero comer em paz, tá legal?!
- O quê? – falamos juntos.
- Isso não é briga de casal. – eu bradei.
- Não que você não queira... – ouvi um murmúrio ao meu lado.
- , calado! – falei entredentes.
já havia se sentado, e bem de frente pra mim, o que me deixou desconfortável. Será que ele não pararia de me encarar daquela forma, como se me acusasse por algo? “Depois falamos sobre isso.” Ele murmurou quase como uma intimação. Desviei os olhos, buscando qualquer coisa que pudesse olhar.
Nesse meio tempo, fitei . Aquele ser parecia estar bolando algo, pois tinha uma das mãos sobre o queixo, o esfregando distraidamente.
- , você tá legal? – perguntei.
- Sabe, vocês estão muito tensos. – ele ainda estava pensativo.
- Ah, totalmente. – Jay falou enquanto olhava para o decote da saia de uma garota que passava.
- Acho que sei como resolver isso. – um sorriso surgiu em seus lábios.
Sem esperar qualquer tipo de questionamento, o se levantou e subiu na mesa. Ficamos com aquelas caras de “desce daí, seu pirado”, mas ele não se importou. Então, sem mais nem menos, aquela coisa começou a bater palmas e gritar, chamando a atenção de todos.
- É o seguinte, galera! – ele falava bem alto – Esse é o nosso último dia de aula e é bem provável que não nos vejamos nunca mais. Cada um vai seguir seu rumo na vida e nem vamos nos lembrar que isso aqui existiu uma dia.
- O que ele está fazendo? – sussurrou pra mim, fazendo uma careta.
- Eu sei lá, ele é pirado! – coloquei uma das mãos do lado da boca para abafar minha fala.
Rimos juntos e então voltamos nossa atenção para . Ele ainda discursava sobre toda aquela baboseira de último ano, caminhos diferentes e irmandade.
- Sei que nem todos nos conhecemos, mas agora é a hora. – ele abriu os braços – HOJE À NOITE, FESTA NA MINHA CASA!
Assim que ele disse aquilo, toda a galera vibrou. Como assim o daria uma festa? Como ele armaria tudo em um dia? Se ele achava que eu iria ajudar, estava enganado. Não passaria o dia todo arrumando nada. Nem morta.
- Eu não acredito nisso! – resmunguei pela décima vez.
- , é o seguinte. – se aproximou com uma vassoura na mão – Se não estiver a fim de ajudar, pode vazar.
- Quanto amor. – debochei.
- É sério. – ele riu – Não precisa fazer nada, se quiser apareça apenas pela noite.
- Nem pensar. – arranquei a vassoura de suas mãos – Vamos acabar logo com isso.
- É assim que se fala. – ele fez sinal positivo com as mãos e se afastou.
Enquanto o via caminhar pela sala, indo até Josie, balancei a cabeça negativamente. só tinha conseguido arrumar a festa por que teve nossa ajuda. Além disso, os pais dele estavam viajando.
Antes que começasse a varrer o chão, senti alguém parar ao meu lado. Não precisei olhar, era .
- Acho que estamos quase terminando. – ele disse, limpando o suor da testa.
- Felizmente. – mordi os lábios por um instante.
Ficamos em silêncio. Parecia que nenhum de nós dois sabia o que falar. Nas últimas semanas esse era o clima que pairava sobre nós, mas eu não podia deixar que continuássemos assim. Erámos melhores amigos.
- , eu... – tentei falar, mas ele foi mais rápido.
- É verdade que você vai morar em Nova Iorque? – perguntou de uma só vez.
- Eu... – as palavras sumiram – Quem... te contou... isso?
- Obriguei o Jay a me dizer. – ele falou.
O fitei pela primeira vez e seus olhos me diziam que ele queria uma explicação. Eu estava ferrada. Ele merecia saber que eu me mudaria, eu sei, mas eu simplesmente não consegui contar. Cada vez que eu tentava, desistia.
- ... – murmurei seu nome, mas fui interrompida por Josie, que gritava da porta.
- , MINHA MÃE JÁ CHEGOU, VAMOS! – ela berrou a plenos pulmões.
Olhei para lá e em seguida voltei meu olhar para o . Ele parecia saber que eu não responderia. Ele me conhecia.
- Podemos conversar sobre isso... depois. – falei, já pegando minha bolsa.
- Depois quando? – ele me seguia pelo recinto.
- Depois. – parei por um instante e me virei para ele – Me desculpe.
- ... – ele tentou falar, mas me aproximei e o abracei.
- Nos vemos à noite. – sussurrei.
Sem esperar sua resposta, me afastei e corri até o jardim da casa dos . Josie já me esperava dentro do carro. Entrei me sentando no banco traseiro e olhei pela janela. Meu coração se apertou ao ver parado na porta ao lado de . Vi que ele olhava diretamente pra mim, então desviei o olhar para frente. Encontrei Josie me encarando.
- Sabe que não está sendo justa com ele, não é? – ela sussurrou para que apenas eu ouvisse.
Não respondi, baixando a cabeça e fitando minhas mãos. Eu sabia. Ele era meu amigo, meu melhor amigo, deveria ter sido um dos primeiros a saber. Eu o amava, deveria ter compartilhado isso com ele.
Enquanto o carro virava a esquina, tentava me esquecer daquilo. Eu iria falar com ele, mas só tinha uma oportunidade. E seria à noite, na festa na casa do .
Porque somos reis adolescentes
Fingindo que somos famosos
E não vamos sair até alguém ficar sem nenhuma vergonha
É um dia divertido de luta até sábado à noite
Quantos os caras ficam loucos e as garotas dançam
Somos reis adolescentes fingindo que somos famosos, sim
- Você dirigindo? – falei assim que entrei no carro.
- Acho que isso significa que a noite vai ser incrível! – ela sorriu, apertando o volante com força.
Então minha amiga pisou fundo no acelerador, nos levando rumo à casa dos . Ao virarmos a esquina, avistei o jardim repleto de pessoas e meu estômago revirou de entusiasmo. Paramos e o som era bastante alto. Descemos juntas e começamos a caminhar de braços dados para evitar nos perder.
Passamos pelo jardim e adentramos a casa. Havia uma luz colorida pendurada no teto, refletindo bolinhas por todos os lados. Onde o tinha encontrado aquilo? Continuamos e eu concluí que todos os alunos do colégio estavam ali. Pelo menos a maioria deles. A casa mais parecia uma lata de sardinha.
Avistei os nerds mandando ver na bebida e garotas populares praticamente se esfregando neles. Acho que elas já tinham percebido que aqueles seriam os caras bem sucedidos do futuro. Toda a galera do time de futebol, com mais algumas pessoas, faziam uma competição de bebida. Eles já estavam pirados.
- Vamos pra piscina. – Josie falou em meu ouvido.
Concordei e ela me conduziu pelo meio da galera. Ao chegarmos ao lado de fora, demos de cara com mais pessoas. Garotas com biquínis de todos os tipos mergulhavam na piscina, chamando a atenção dos garotos. Entre eles, vi nossos amigos.
- Eles estão ali! – falei alto por causa da música.
- Vamos até lá! – Josie falou no mesmo tom.
Andamos com cuidado pela beirada da piscina, pois era o único lugar onde não havia pessoas. Ainda no meio do caminho, nos notou e berrou algo para os outros dois. Jay abriu os braços e gritou pra todo mundo ouvir.
- CHEGARAM AS GAROTAS MAIS GOSTOSAS DE HUNTINGTON BEACH! – ele disse e várias pessoas gritaram e soltaram assobios.
- Ai, que ótimo. – minha miga falou em meu ouvido – Eles já estão bêbados.
- Não esquenta, daqui a pouco estaremos também. – ri enquanto dizia.
- Finalmente! – falou mais alto do que deveria – Talvez agora alguém consiga animar o .
Olhei na direção que apontava e o encontrei lá, sentado em uma das cadeiras de descanso. Ele observava a festa e ria das coisas que aconteciam, mas não parecia se divertir plenamente. Apenas esperava que não fosse por minha causa.
- ! – Jay gritou e ele nos encarou – CARA, VEM PRA CÁ!
Depois de uma pequena hesitação, ele fez o que Jay pediu. O observei se aproximar e meu coração bateu mais rápido quando vi que ele estava apenas de bermuda. Não era justo que ele fosse tão bonito.
- Garotas. – ele acenou com a cabeça.
- Cara, qual é! – o abraçou pelos ombros – Se anima, essa é nossa última festa do colégio e ela está bombando!
- Daqui a pouco é isso mesmo que vai acontecer. – soltou um risinho – Não tem lugar pra nem mais uma pena aqui.
- Que tal fazemos uma competição de bebida? – Jay sugeriu – Aposto que ninguém bebe mais que a Josie.
- Ei! – ela apoiou uma mão na cintura.
Mas eu havia parado de prestar atenção na conversa quando ouvi o sussurar algo que só entendi por leitura labial. “Me encontre no quarto de hóspedes”. E sem dizer mais nada, ele saiu, nos deixando confusos.
O acompanhei com o olhar enquanto se distanciava, mas logo minha atenção foi chamada por Josie que me puxou para uma mesa repleta de bebidas. Pegamos cervejas e voltamos pra dentro. Começamos a dançar, mas por mais que eu quisesse aproveitar, o que havia dito não saia de minha cabeça. Ele queria conversar sobre Nova Iorque.
Depois de uns dez minutos, já havia tomado algumas cervejas e o pouco álcool no meu sangue me deu a coragem que eu precisava para ir até meu melhor amigo.
- Eu já volto! – falei no ouvido de Josie.
Em seguida, fui até as escadas que levariam aos quartos. Subi cada degrau lentamente, respirando fundo e tentando não voltar atrás. Logo cheguei ao corredor dos quartos e avistei o último deles, o de hóspedes. Caminhei até lá.
Parei em frente à porta branca e segurei a maçaneta, a abrindo calmamente. Diferente do restante da casa, as luzes do quarto estavam acesas. Coloquei metade do meu corpo para dentro e o encontrei. estava parado na janela que dava visão ao quintal, onde parte da festa acontecia. Mordi meus lábios e então terminei de entrar, fechando a porta sem tentar fazer barulho. No mesmo segundo o som de fora foi abafado.
- Pensei que não vinha mais. – ele disse quando comecei a me aproximar.
- Eu... estava criando coragem. – resolvi admitir.
- Então é verdade. – ele finalmente se virou pra mim – , por que não me contou antes?
- , eu... eu não sei. – acelerei meus passos, parando em sua frente – É só que...
- Só que o quê? – ele tentou me olhar nos olhos.
- Eu apenas não consegui, me desculpe. – baixei o rosto.
- Não conseguiu? – ele riu sem humor e então seu tom de voz começou a se elevar – Como assim? O que havia de mais em me dizer “, eu vou embora, vou estudar em Nova Iorque e talvez não nos vejamos nunca mais?”
- Não é nada disso. – tentei falar por cima de sua voz.
- Se não fosse nada disso, você não teria escondido isso de mim. – ele falou mais baixo dessa vez.
Eu não respondi, pois sabia que era verdade, então ele soltou um suspiro longo e voltou a olhar pela janela. Fechei os olhos por alguns instantes, tentando mandar embora o choro que ameaçava vir e depois o fitei, observei suas costas que agora estavam cobertas por uma regata branca. Após hesitar, me aproximei lentamente, o abraçando por trás. Percebi sua surpresa diante de meu ato, mas continuei onde estava. Apoiei meu rosto em suas costas e senti sua respiração um pouco desregulada.
- Eu sinto muito. – murmurei – Eu tentei te contar, mas só de pensar em que ficaria longe, doía. Se eu pudesse, ficaria aqui, eu...
- Não estou zangado por que vai embora. – ele disse e se virou de frente pra mim – Só queria que confiasse em mim.
- E eu confio. – falei imediatamente – , eu...
Mordi meu lábio inferior. Será que valia pena dizer o que eu sentia? Quais seriam as chances de me decepcionar agora que eu iria embora? Mas, e se ele não sentisse o mesmo? Talvez fosse melhor manter nossa amizade intacta.
Olhei em seus olhos e sorri de canto. me encarava de uma forma tão plena, parecia querer que eu dissesse algo mais. E eu tinha que dizer. Mesmo que não fosse o que ele esperava.
- Quando eu descobri que havia passado na universidade, fiquei muito feliz, mas então me lembrei de vocês. Como poderia deixá-los? – comecei a dizer – Como poderia deixar você, meu melhor amigo?
- Você não está me deixando. – ele segurou minhas mãos – Está seguindo seu futuro, assim como nós faremos também.
- Eu sei, entendi isso agora. – sorri – E também entendi que, não importe o que aconteça, eu amo você e esse amor nunca vai acabar. Nunca.
Finalmente disse o que havia guardado há anos. Não importava qual seria a reação dele, mas sim que ele soubesse o que eu sentia. E agora ele sabia.
Continuei a fitar seu rosto, mesmo que sentisse minhas bochechas arderem. Me senti ainda mais envergonhada quando soltou minhas mãos. Eu não tinha esperanças, mas seria impossível não sofrer. Engoli seco e me preparei para dizer algo, mas então ele se aproximou e segurou meu rosto com as mãos. Sem avisar, ele uniu nossos lábios. Algo que me deixou surpresa.
Nos primeiros segundos, permaneci estática, sem saber como agir. Foi só quando senti uma de suas mãos descer até minha cintura, a segurando com firmeza, que voltei a realidade. Passei minhas mãos ao redor de seus ombros, intensificando mais o beijo. Um beijo cheio de urgência.
Quando o ar nos faltou, nos separamos ofegantes e encostou sua testa na minha. Eu não sabia o que dizer.
- O que... – tentei falar entre minha respiração descompassada .
- Eu também te amo. – ele acariciou meu rosto – Sempre amei.
Naquele minuto meu coração bateu mil vezes mais rápido. Porém, me lembrei do fato de que havíamos perdido tanto tempo. E eu iria embora em uma semana. Tínhamos perdido a chance. Sem que eu pudesse impedir algumas lágrimas escaparam de meus olhos. Não tentei limpá-las e antes que perguntasse por que eu chorava, o beijei outra vez.
Agora eu sabia que ele sentia o mesmo. Outra vez nos separamos, mas não deixei que ele me perguntasse nada. Já sabia o que deveria fazer. Aproveitar aqueles últimos momentos da melhor maneira possível.
- Vamos voltar. – eu disse – Não podemos aproveitar a festa daqui.
- Você tem razão. – ele sorriu e vi que havia percebido o que eu queria.
Ele me estendeu sua mão e eu a aceitei. Antes de descermos, me beijou outra vez. Então, rumamos para a área onde as pessoas estavam. Naquela noite, me diverti como nunca. Bebi coisas que nem sabia que existia, passei a maior parte do tempo com meus amigos. Passei todo o meu tempo com ele.
Quase no fim da festa, comecei a juntar as pessoas que estavam na sala e só depois de um tempo é que percebi o que se passava. Ele queria registrar o momento. O entregou uma câmera para uma garota que passava e pediu que ela tirasse a foto.
- TODO MUNDO DIZENDO TEQUILA! – berrou.
- TEQUILA! – gritamos juntos.
E num segundo o flash alcançou nossos rostos. Estávamos suados, bêbados e cansados, mas não demos a mínima pra isso. O que importava era os momentos e as lembranças que seriamos capazes de levar por toda nossa vida.
E quando todos nós olharmos para trás, vamos pensar nessas noites. Em como fomos reis. Reis adolescentes.
Flash Back -Off-
- , você está me ouvindo? – ouvi Josie me chamar e então olhei para ela.
Minha amiga estava parada na entrada do meu quarto, já com sua bolsa no ombro e com uma mão apoiada na cintura.
- Vamos logo ou chegaremos atrasados. – ela me apressou.
- Foi mal. – balancei a cabeça pros lados – Eu só... só estava... procurando minha apostila., mas já encontrei.
- Certo, então vamos. – ela começou a caminhar – Te vejo no carro.
Não respondi, apenas voltei meu olhar uma última vez para a foto em minhas mãos e sorri. Em seguida me levantei e a guardei na gaveta, saindo para encontrar meus amigos.
Adentrei o banco traseiro e enquanto Jay dirigia eu olhava pelo vidro da janela me lembrando dos meus tempos de adolescente. Eles foram incríveis, mas não voltariam. E foi essa certeza que me fez olhar para frente. Agora, eu tinha uma nova vida. Aqueles momentos seriam só boas lembranças.