Última atualização: 10.07.2020

Capítulo Único

O relógio em minha mesa de cabeceira denuncia que já passa das nove e meia da manhã. A claridade que entra no quarto, apesar das cortinas fechadas, é suficiente para fazer meus olhos arderem, e minha cabeça dói demais, me fazendo não ter vontade alguma de sair da cama.
Do outro lado da linha, ouço Hannah dizer que, se eu não quiser ficar sem a promoção que recebi recentemente, e até mesmo sem emprego, devo tratar de pegar um uber e pedir que o motorista corra. Sei que ela se contém para manter o tom de voz menos estridente possível, em meio ao desespero. O emprego dela pode não estar em risco, mas ambas sabemos o inferno que ela também vai ter que aguentar, diante do meu atraso.
Talvez mais por isso do que pelo próprio perigo de uma demissão, sigo o seu conselho, o mais rápido que posso, e agora estou aqui, em um carro acelerado rumo ao centro de Londres, jogada no banco de trás como um trapo velho.
Eu me sinto um trapo! Então vejo um semáforo, ainda um pouco longe. Cheia de esperança, peço um sinal. Pergunto às luzes do trânsito se vou ficar bem e, quando nos aproximamos, vejo frustrada a luz amarela se acender.
Meus amigos e minha família dizem que é questão de tempo, mas não há nenhum indício de que isso vá realmente acontecer! Nem mesmo quando recorro à minha tola brincadeira de criança, durante meu trajeto longo demais para o escritório.
E, como uma pessoa adulta, eu reconheço que deveria ao menos fingir que está tudo bem, mas eu não tenho conseguido fazer isso! Eu não consigo simplesmente virar a página!
Para mim, dizer adeus é como uma morte por milhares de cortes…


parou por um segundo na porta de casa, conferindo, mais uma vez, se a caixinha forrada de veludo estava no bolso direito de seu casaco, como se ela simplesmente pudesse ter sumido magicamente nos últimos dois minutos.
Enfiou a chave na maçaneta e abriu a porta devagar, respirando fundo. Não que ele tivesse alguma dúvida ou receio, porém não era todos os dias que ele tinha um discurso romântico preparado e carregava consigo um par de alianças de ouro branco, feitas sob medida.
o esperava, sentada à mesa da sala de jantar, mas se levantou rápido ao vê-lo, engatando um monólogo acelerado sobre o jantar que havia comprado em um restaurante tailandês, no caminho entre a estação de trem e a casa em que o casal morava.
Ele deu um beijo nos lábios da namorada, comentou que estava mesmo faminto, e ambos se sentaram à mesa, mas ela não parecia muito animada e ficava se movendo de um jeito estranho na cadeira, inquieta.
— O que você tem, ? — o rapaz questionou, quando ela se serviu, mas escolheu empurrar a comida de um lado para o outro no prato, ao invés de comê-la.
— Eu tenho uma coisa pra te falar — respondeu ela, largando o garfo. — É uma coisa muito, muito boa pra mim, por um lado, mas... também é ruim. Eu nunca imaginei que algo pudesse ser tão bom e tão ruim, ao mesmo tempo, até hoje à tarde.
— Você tá grávida? — ele indagou, sem rodeios. Uma gravidez, naquele momento, era definitivamente algo que ele tinha certeza de que a namorada consideraria bom e ruim, ao mesmo tempo, ainda que ela provavelmente nunca tivesse parado para pensar nisso.
— Não! — ela respondeu, sem entender de onde ele tinha tirado aquilo, quando eles tomavam todos os cuidados. — Eu recebi uma promoção no escritório. Eles me deram uma grande conta, de uma empresa enorme, cheia de contratos importantes...
— E isso é maravilhoso, ! — ele se entusiasmou por ela. Sabia o quanto levava a carreira a sério e como se dedicava ao escritório, no qual entrara quando ainda era apenas estudante, como estagiária, tendo se tornado uma das principais advogadas, abaixo apenas dos sócios.
— Só que tem um porém: a empresa é francesa e, se eu aceitar a promoção, eu tenho que me mudar pra Paris até o fim do mês que vem — ela suspirou e ele ficou em silêncio por alguns instantes, olhando para o prato de comida que esfriava.
Se você aceitar? — ele perguntou, enfim.
— Você sabe o que isso significa pra gente, não é? — ela devolveu a pergunta.
— Eu sei, sim, . Mas também sei que você já se decidiu e que você vai. Pra que dificultar as coisas, tentando fingir que existem possibilidades?
— Eu amo você, . — Foi nesse momento que ela não aguentou mais e as lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Ele se levantou da cadeira em que estava e se agachou na frente dela, segurando seu rosto e enxugando seu pranto.
— Eu nunca, nunca duvidaria disso, nem por um segundo, . Mas você tá esperando há tempos por essa promoção! A sua carreira é muito importante pra você e você não é do tipo de pessoa que deixaria de fazer uma coisa importante pra você por alguém, mesmo amando esse alguém. E eu te admiro por isso. Eu te amo por isso!
— Você não tá com raiva de mim? — Por incrível que pareça, a pergunta o fez rir.
— Nunca! — ele assegurou, sincero.
Ele se levantou e a puxou para um abraço apertado.
— Eu vou pra casa dos meus pais — ela avisou, quando se soltaram.
— Você não precisa sair correndo, como uma fugitiva, — ponderou.
— Eu sei, mas... eu não quero continuar tendo um relacionamento com você e sabendo que ele tem hora certa pra acabar. Cada beijo que você me desse teria gosto de despedida... cada vez que a gente fosse pra cama juntos isso tudo ficaria ainda mais difícil.
— Pra mim, é difícil deixar você ir — ele a beijou nos lábios, um verdadeiro beijo de despedida, com gosto de sal, pois agora era a vez dele de chorar. Era irônico saber que, naquela mesma noite, os planos que ele tinham eram para um pedido de casamento, um tipo de piada de humor negro que a vida estava contanto, tendo ele como protagonisa, e que não tinha graça alguma.
Ele a ajudou a arrumar uma mala e prometeu embalar todas as outras coisas, para que ela buscasse depois, fazendo questão de perguntar mais detalhes sobre a promoção que a estava levando embora. Estaria sempre ali, torcendo por ela. De algum modo, em meio à tristeza da separação, conseguia se sentir feliz pelo que ela estava conquistando.
Levou a mala até o uber que a garota pediu, e foi a vez dela de se despedir com um último beijo, entre soluços, depois de ouvi-lo dizer que a história de amor dos dois tinha sido maravilhosa e deixaria as melhores lembranças.

tinha passado três dias trabalhando no automático e três noites chorando na cama (que é lugar quente), até adormecer, exausta.
Na quarta noite, a secretária de um dos chefes do escritório, Hannah, conseguiu convencê-la a sair um pouco e ir a um bar, do qual ela saíra bêbada, o que quase ajudara a esquecer um pouco aquela dor no peito.
Quase! Porque ficar bêbada não foi o suficiente (nem naquela noite nem nas quatro seguintes, em que saiu, cada hora acompanhada por uma amiga ou dupla de amigas diferente). Quando a manhã chegava, não era mais seu namorado, não era mais aquele que ela chamava de amor, todas as manhãs durante o café, e todas as noites, quando costumavam adormecer lado a lado. Depois de quase oito anos de paixão e cumplicidade, tudo tinha acabado em um piscar de olhos e as lembranças, apesar de lindas, só serviam para machucar.
Isso quando ela não se lembrava dele no meio da bebedeira, quando qualquer raciocínio sensato se tornava absolutamente impossível!
— Ele desistiu de mim, como se eu fosse uma droga ruim! — acusou o ex, fazendo Samantha revirar os olhos.
— Ele não desistiu de nada! Você tá indo embora e deixando ele — lembrou Glory, que era uma romântica incorrigível e não concordava com a escoha da amiga.
— Você tá fazendo o que é certo pra você — Samantha interviu. — E ele também fez o que é certo pra vocês dois.
— Ele nem tentou me convencer a ficar! — gritou, o que só não chamou a atenção de ninguém porque a música estava alta e muitas outras pessoas gritavam ao mesmo tempo dentro do pub.
— Ele teria conseguido? — A amiga mais pragmática indagou, desafiadora.
— Não — respondeu, bufando.
— E ele sabia disso, assim como qualquer pessoa que te conheça — a outra concluiu seu ponto.
— Por que ele tinha que ser tão frio? — continuou, sem se dar por vencida.
— Ele não foi frio. Foi racional. Assim como você é racional e não pensou realmente em abrir mão da melhor oportunidade da sua vida por romantismo.
— Talvez eu precise de alguém mais romântico, então... mais passional, pra equilibrar!
— O que de bom poderia te trazer um cara que implorasse pra você ficar, se você iria de qualquer jeito, amiga? — Sam perguntou, ficando mais impaciente.
Incapaz de discordar, pediu mais duas doses de tequila e virou as duas, uma atrás da outra, sem se importar se estaria no banheiro vomitando em menos de meia hora.
Só que ficar bêbada, além de não diminuir a dor da separação, também não era a melhor escolha, no meio da semana, quando havia clientes a visitar e reuniões com os sócios do escritório, muitas vezes logo de manhã.
No dia em que Hannah ligou desesperada, porque ela estava atrasada e a reunião do dia começaria em menos de uma hora, ela concluiu que precisava largar aquela vida de noitada e álcool, e tentou usar o trabalho como remédio para os seus males.
Mas ela ainda pensava em o tempo todo! E, quando viu que uma placa com o dizer “Aluga-se” fora colocada na casa em que moravam até poucos dias antes, foi como levar um soco no estômago. O que antes era deles agora não era de ninguém! E parecia que só o que compartilhavam agora era aquela cidade cada vez mais cinzenta, sendo que até isso estava com os dias contados.
Depois de uma noite particularmente infeliz, ela decidiu pedir aos chefes que a mandassem logo para a França.
Talvez fosse mais fácil deixar de escrever as páginas daquela mesma história, se fosse para um lugar que jamais compartilhara com . Ou pelo menos, se isso não desse certo, sofreria em um apartamento de duzentos metros quadrados, com vista para o Sena, lindamente decorado, que ajudaria a lembrar mais facilmente das razões de suas escolhas.
Em apenas três dias, ela arrumou o resto de seus pertences, colocou boa parte deles no carro e dirigiu até Dover, onde embarcou no ferry boat, para atravessar o Canal da Mancha.
Fez apenas uma parada na casa de Brad, para entregar um presente de aniversário ao amigo. Deu um abraço bem forte nele, sentindo que simbolicamente se despedia de todas as pessoas que amava, e levou seu cacos para o lugar em que passaria a viver, esperando que lá pudesse juntá-los com algum sucesso.

Acontece que não era apenas para que a separação estava sendo como uma morte lenta e dolorosa.
também via a ex-namorada em todos os lugares e tentava descobrir (em vão) alguma parte dele em que ela não tivesse tocado, para se apegar a esse pedaço de si mesmo.
Então, menos de uma semana depois de ela chegar a Paris, ele acabou decidindo comprar uma passagem de avião e voar até a capital francesa.
Chegando lá, pegou o primeiro táxi que encontrou na área de desembarque do Charles de Gaulle e deu ao motorista o endereço que conseguira arrancar de Sacha, uma das melhores amigas de , desde o ensino médio, que também estudara com os dois na faculdade de Direito. Fora difícil convencer a garota, que temia ver a amiga ainda mais magoada, mas no final ela acabara acreditando nas suas melhores intenções.
Apesar de sempre ter tido vontade de conhecer Paris, não conseguia prestar muita atenção nas ruas que o automóvel ia percorrendo, em direção ao apartamento no qual estava morando havia poucos dias. Ele só conseguia pensar em tudo que queria dizer a ela! E, ao mesmo tempo, quanto mais pensava, menos conseguia ensaiar alguma coisa, pois um novo discurso, completamente diferente do anterior, lhe ocorria.
Nada, na verdade, parecia bom o suficiente... intenso e verdadeiro o suficiente.
O Arco do Triunfo chamou sua atenção, de repente, e então, pelo vidro da janela, seus olhos capturaram também o momento exato em que um casal saía abraçado de um bistrô. Ele sempre considerara Paris a cidade certa para o romance e planejara passar a lua de mel naquela cidade. Planos sempre tinham sido seu forte, mas agora ele podia ver que só o tinham feito mal. No final, só lhe restava torcer para que a atmosfera daquele lugar o ajudasse a corrigir as coisas.
Logo o motorista estacionou em frente a um prédio simpático, apenas um pouco distante do Centro, e o jovem pagou a corrida e pegou a pequena mala, na qual jogara algumas mudas de roupas sem pensar muito. Sentia um nervosismo que jamais havia experimentado e mal conseguiu agradecer em francês, ainda que falasse perfeitamente bem a língua, depois de anos de estudo.
Quando tocou a campainha do apartamento, estava ofegante, e não era tanto pelos dois lances de escada que precisara subir. A garota não demorou a abrir a porta, mas aqueles poucos segundos provaram o acerto da teoria da relatividade!
? O que você tá fazendo aqui? — Ela perguntou, franzindo a testa, completamente surpresa. O rapaz imaginara que talvez Sacha fosse contar a ela que ele pretendia procurá-la, mas pelo jeito se enganara e, sendo assim, não era de se estranhar que estivesse espantada com a visita.
Os dois tinham preferido não manter contato, pelo menos no início, quando ela terminara com ele. Na época, tudo em que ele conseguira pensar era em como sua vida estava estruturada na Inglaterra, e que portanto a separação era mesmo inevitável. Cada um teria que seguir o seu caminho.
Ele tentara convencer a si mesmo que dizer adeus era o melhor para ambos, e até conseguira se enganar, por um tempo, sempre fazendo o possível para deixar de lado as lembranças, mas só até ficar sabendo que ela já estava a quilômetros de distância.
Quando pensara que a veria na festa de aniversário de um grande amigo em comum e ela não aparecera, sentira um vazio inexplicável. Quando o aniversariante comentara sobre o presente que ela lhe entregara, antes de embarcar para a França, seu coração decidira não deixar mais que ele ignorasse a saudade.
— Eu preciso muito falar com você. Será que você pode me ouvir, ? — Conseguiu dizer com determinação, mesmo tremendo por dentro.
— Claro que eu posso te ouvir! Entra — respondeu, abrindo espaço e fazendo sinal para que ele passasse. — Você quer beber alguma coisa? Talvez uma...
— Não. Eu preciso falar. Me deixa falar de uma vez — pediu, puxando a ex até um sofá. — Eu me mudei, porque cada cantinho da casa me lembrava você. Mudei a playlist do meu celular e enfiei vários CDs no fundo do armário, porque parecia que, toda vez que eu resolvia ouvir música, eu tava sempre ouvindo a trilha sonora da nossa história. Eu não consegui mais usar o perfume que usava havia anos, porque me fazia lembrar de você passando o nariz pelo meu pescoço e dizendo que aquele era o melhor cheiro do mundo. Eu mudei o meu caminho pro trabalho, porque, quando eu passava pelo Tate Modern, eu me lembrava de quando você me levou pra ver aquela exposição que eu odiei e de como nós passamos uma semana inteira discutindo sobre arte depois disso. Eu trocava de canal sempre que tava passando um filme do Tom Hanks, e às vezes eu acabava desligando a TV, porque, se não era ele, tinha a Julia Roberts pra me assombrar com lembranças de nós dois, deitados no sofá, comendo pipoca e assistindo ao mesmo filme pela milésima vez! — riu do próprio monólogo e ficou aliviado ao ver que ria também, então tomou coragem para continuar. — Mas, no final, eu não posso ignorar o que eu sinto. E esse coração aqui... Ele te deseja tanto, ele tem tanta saudade! Ele ama tanto você que chega a doer! , eu te amo tanto que, pela primeira vez na minha vida, eu agi quase por impulso e vim atrás de você. Eu não me importei se os seus planos se encaixam ou não nos meus e, até estar dentro do avião, eu não pensei nem no fato de que eu poderia chegar aqui, te dizer tudo isso, e você nem me querer mais. Eu só posso ter ficado louco!
— Eu gostei dessa sua versão — brincou ela, mas logo adotou um tom sério, como a situação exigia. Ele enfrentara uma viagem de muitas horas só para poderem conversar, e isso significava muita coisa, mas não mudava tudo automaticamente. — Eu ainda amo você, . Eu sempre vou amar. Você disse que se arriscou, porque eu podia nem te querer mais, mas eu quero tanto, que eu não sei nem que palavras usar pra dizer o quanto, sabe? Só que uma coisa que eu sei bem é que você tem seus desejos, seus planos, e que eu tenho os meus desejos também… os meus sonhos. E eu to aqui na França pra realizar parte desses sonhos e vou ficar aqui um bom tempo. Talvez nem volte, pra ser sincera. A gente poderia sair muito machucada de uma tentativa de relacionamento à distância. Então... eu realmente não sei o que te dizer.
— Eu arrisquei ao vir até aqui, mas não seria eu, se eu não tivesse pelo menos alguma coisa em mente, pro caso de você querer voltar comigo. A Paris 7 tem um curso de pós do jeito que eu queria, onde eu vou poder me especializar mais na área da Sociologia, sem deixar o Direito totalmente de lado. Eles abrem uma nova turma em dois meses...
— Eu não posso te pedir isso, — ela interrompeu, achando tudo uma loucura. — Você não pode largar tudo por minha causa! Você tem a sua vida…
— Você não tá me pedindo. Você nunca me pediu nem pediria nada assim, porque você se importa com os meus desejos e os meus sonhos. Assim como eu não te pedi pra ficar, porque me importo com os seus. Muito! Só que eu não quero fazer isso por você, quero fazer por mim. Porque eu quero ficar onde você estiver… quero ficar com você. Eu nunca tinha pensado em sair de Londres, assim como você mesma também não imaginava que a sua melhor oportunidade estaria aqui, mas a verdade é que, quando eu realmente parei pra pensar, eu disse pra mim mesmo “por que não?”… O que me prende à Inglaterra? Que sonhos eu tenho que eu não possa realizar em Paris? Eu já não tava trabalhando mais como advogado… Os meus amigos não vão deixar de ser meus amigos porque a gente não mora mais na mesma cidade! E a minha família talvez me veja até mais, porque eu vou enfim me sentir na obrigação de aparecer em todos os aniversários — concluiu, rindo.
— Mas você tem o seu projeto com o Nate! — lembrou, se referindo a uma pesquisa que ele e o melhor amigo estavam começando a fazer sobre como mudanças na legislação poderiam contribuir de fato para uma mudança sensível na sociedade com relação a racismo, homofobia, transfobia e formas de discriminação em geral.
— Um projeto que não precisa ser realizado em Londres. Na verdade, vai ser ótimo fazer a pesquisa aqui, enquanto o Nate faz por lá. Nós vamos ter muito mais dados! E eu ainda vou ter essa pós.
— Eu não sei, ... — ela disse, bem baixinho, com medo da assustadora esperança que lhe sorria.
Ele pegou as mãos dela nas suas, fazendo carinho nelas, e a encarou.
Que falta ela sentia daquele contato! E que saudades daquele olhar sincero, cheio de paixão, não só por ela, mas por todas as coisas!
não costumava ser muito espontâneo e, mesmo naquele momento, por mais que tivesse assumido realmente algum nível de risco, ele ainda tinha sido pragmático e buscado uma solução, antes de ir atrás dela em outro país. Porém, quando enfim resolvia uma coisa, ele sempre mergulhava fundo. Ela sabia que não ia conseguir fazer com que ele mudasse de ideia. E – pensando bem – ela nem queria que ele mudasse de ideia!
Então ela se agarrou a isso (e a ele!) e foi como se ela tivesse finalmente encontrado um lar na Cidade Luz.

parou por um segundo na porta do Wicked Weekend, conferindo, mais uma vez, se a caixinha forrada de veludo estava no bolso direito de seu casaco, como se ela simplesmente pudesse ter sumido magicamente nos últimos dois minutos. Olhou para o letreiro luminoso verde, no qual uma das letras ostentava um chapéu de bruxa, chamando atenção para o mais novo bar de americanos em Paris, ao qual insistira em ir naquela noite. Imaginou se haveria outras referências ao musical dentro do bar e sorriu, pois conhecia e amava tudo que se relacionava à Broadway.
A garota o esperava, sorridente, já sentada à mesa que haviam reservado, consultando o cardápio. Depois de cumprimentá-lo com um beijo nos lábios, mostrou ao namorado a lista de bebidas e petiscos, todas incluindo nomes de lugares ficcionais, músicas ou personagens que confirmaram o que ele tinha previsto.
— E aí? Como foi? — ela indagou, ansiosa, depois que pediram duas cervejas com Elixir Verde (na verdade um corante que, segundo a descrição do drink, não alterava o sabor original da bebida puro malte) e os tijolos amarelos da estrada, que nada mais eram do que uma boa porção de batatinhas fritas.
— Foi ótimo! Eles demonstraram bastante interesse. Marcaram uma reunião na semana que vem, comigo e o Nate. Tem problema ele ficar no apartamento com a gente? Nessa época do ano, não vai ser muito fácil arrumar um quarto de hotel, de uma semana pra outra.
— Claro que não! Ele podia trazer o Rich também. Saudades daquele humor ácido dele!
— Beleza. Eu vou avisar a ele e falar do Rich...
— E agora deixa eu dizer: eu sabia, tá? Não tinha como eles não terem interesse em publicar um livro tão bom! — ela disse com entusiamo orgulhoso, se referindo ao texto escrito com base nos resultados da pesquisa feita por e Nate. — E agora a gente tem mais um pretexto pra beber várias cervejas, além da nossa comemoração por esse um ano em Paris — completou, propondo um brinde com as bebidas que o garçom acabara de por sobre a mesa.
— Calma, amor. Eles tem interesse. A gente ainda não assinou um contrato.
— Tudo bem, tudo bem... — ela respondeu, mas sem concordar muito e com uma expressão brincalhona. — Eu gosto que você seja cauteloso, sabe? Mas às vezes você podia ser um pouco menos.
— Ah, é? — questionou ele, franzindo a testa e se controlando para não rir.
— Por exemplo, há pouco mais de um ano atrás, se você tivesse tido logo a ideia de vir pra cá, teria me poupado de alguns dias horríveis!
— Com isso eu tenho que concordar — ele riu e deu um bom gole em sua cerveja. — Também teria me poupado de um coração partido. Porém, em minha defesa, eu devo dizer que pessoas que pensam muito antes de agir, e se preparam e fazem planos... — ele fez um pausa e tirou do bolso a caixinha de veludo que havia escondido, por um ano, em uma gaveta de meias e cuecas, abrindo e mostrando a as alianças — também podem surpreender.
— Ai. Meu. Deus! — a garota sacudiu as mãos, animada demais para saber direito como reagir.
, você aceita se casar comigo?
— Eu pensei que você nunca fosse pedir! — ela brincou, se jogando nos braços dele e dando um beijo em seus lábios.
Talvez o tempo tivesse sido capaz de fazer com que as coisas melhorassem, se eles tivessem ficado separados. No entanto, era muito melhor estar ali, com ele, olhando nos seus olhos e aproveitando ao máximo aquela nova chance.
A cada dia com , ela sentia que era exatamente onde deveria estar, e era como se aquele novo passo em suas vidas viesse para terminar de cicatrizar todos os cortes.







Fim!



Nota da autora: sem nota





comments powered by Disqus