Última atualização: 19/07/2018

Capítulo Único

- null, anda logo. A gente vai se atrasar já no primeiro dia de aula? – Joshua estava berrando na sala enquanto eu descia as escadas com certa pressa.
- Ai calma. Pra que essa animação? É só mais um dia como outro qualquer. Conhecemos os alunos, os colegas de turma, os professores... Nada mudou.
- Devem ter entrado garotas novas. Estou curioso por carne nova no terreno.
- Por que você se refere as garotas dessa forma? – Eu questionei. – Elas merecem respeito. Não são pedaços de carne. – Revirei os olhos e fechei a porta de casa.
Fomos caminhando lentamente até a escola. Assim que entramos pude notar que tudo continuava igual. Grupo dos jogadores, grudo das líderes de torcida, grupo dos geeks, alguns alunos novos perdidos nos corredores e eu e Joshua. Melhores amigos desde sempre. Amigos de todo mundo sem pertencer a grupo nenhum.
- Nossa! O jardim está mais florido que o ano passado. A gente se vê na aula.
- Calma Joshua, onde você vai? – Eu sabia a resposta.
- Estou indo ajudar umas alunas perdidas. Love u bro.
Balancei a cabeça negativamente e sorri. Fui andando em direção ao meu armário e no percurso cumprimentei várias pessoas conhecidas, pude ajudar alguns alunos perdidos e, finalmente, cheguei até meu armário. Ao meu lado tinha uma garota quase quebrando a fechadura do seu armário por não conseguir destrancá-lo e inserir um novo código. Me controlei para não soltar uma gargalhada. Estava na hora de mais uma ação do dia. Com certa pressa empurrei a garota um pouco pro lado e dei um tapa na porta do objeto.
- A primeira vez só funciona assim. Sou o null.
- Obrigada. Sou a null. Sou nova por aqui, mas você deve ter percebido pelo jeito que esse armário estava me dando de 10 x 0. – Sorri. Bonita, impossível não prestar atenção, simpática também e tem senso de humor.
- Já sabe onde serão suas aulas? Aqui é muito fácil se perder.
- Só sei os números das salas, ainda não consegui explorar a escola inteira.
- Não tem muito o que ver aqui. Temos quadra, piscina, vestiários, salas de aula, auditório, sala de teatro, cantina e refeitório separadamente... Enfim.
- Isso não é muito? – Ela foi interrompida com a sirene avisando que o primeiro tempo estava no ar.
- Eu preciso ir. Qual é a sua aula?
- Biologia. Segundo ano.
- É o destino. Segundo ano também. Vamos, então.
- Você pode me mostrar depois como troca o segredo desse treco?
- Claro.
***

A aula de biologia não foi tão tediosa como de costume, null tinha uma parcela importante por eu ter suportado a aula sem querer surtar ou fugir na metade do horário. Essa garota estava mexendo comigo. Eu acabei de conhece-la, que poder ela pode ter sobre mim?
- Quer almoçar? – Ela perguntou enquanto eu estava viajando em meus pensamentos e a observando com uma cara idiota. – null?
- Desculpa, o que você disse?
- Perguntei se você quer ir almoçar. Vamos?
- Claro, vamos dar um pulo no armário antes.
O destino faz certas coisas que eu chego a duvidar que é possível. Somos vizinhos de armário, nos demos bem no primeiro contato e ela desperta algo em mim que não consigo descrever em palavras. Vocês acreditam em amor à primeira vista? Não sou mais capaz de opinar.
Fomos caminhando até o armário enquanto ela fazia algumas perguntas que qualquer aluno que acabara de chegar perguntaria e eu plenamente tirei suas dúvidas.
- Pra trocar a senha é só fazer esse movimento aqui. – Expliquei quantas vezes ela deveria rodar sentido horário e anti-horário. – Em seguida é só inserir um novo número com três dígitos e voir là, um novo segredo no seu armário.
- Obrigada. Podemos almoçar?
- Vamos, é por aqui.
Fomos para o refeitório e ela observava atentamente o percurso que fazíamos, observava as pessoas, observava as salas de aula. Continuamos andando até o refeitório e, finalmente, Joshua apareceu depois de faltar as aulas da manhã.
- Onde você se meteu Joshua? – Eu questionei rapidamente. – Essa é a null. null esse é o Joshua meu melhor amigo. Bro essa é a null, ela é da nossa classe e acabou de chegar.
- Olá. – Foi tudo o que ela conseguiu dizer. – Isso na gola da sua camisa é batom? – Ela questionou e soltou uma gargalhada que ainda não conhecia. Até sorrindo descontroladamente ela ficava excepcionalmente bonita.
Joshua se juntou a nós e fomos almoçar. Contamos para null várias histórias, mostramos fotos de evento, ela disse já estar interessada em alguns clubes para atividades extracurriculares.
- Temos aula durante a tarde também?
- Sim, são as melhores. – Joshua falou. – A escola está bem vazia e o ensino médio domina. – Ela sorriu.
- As garotas não são muito adeptas a novatas, não é?
- Raramente. – Meu amigo disparou.
- Joshua. Não fala assim.
- É a verdade. Elas ficam fazendo seleções das garotas em que vale a pena investir para se tornar uma líder de torcida.
Depois desse comentário a conversa se encerrou e fomos para mais uma aula.
Dias depois

As primeiras semanas passaram voando e com elas vieram os primeiros trabalhos em equipe. Duplas, dessa vez. Joshua se prontificou a fazer dupla com uma garota que ele já estava de olho há um tempo e eu acabei ficando com null.
- Não temos muito tempo. Podemos começar hoje mesmo? – Ela questionou e eu rapidamente assenti. – Na minha casa ou na sua?
- Pode ser na minha. 18h? A gente sai daqui as 16h.
- Perfeito.
O dia estava passando lentamente e eu estava distraído com algumas coisas que não havia conseguido concluir na noite anterior. Fomos liberados mais cedo devido à ausência de um professor, então me adiantei e fui para casa.
***

Passei a tarde deitado com um caderno ao meu lado em cima da cama e o violão do outro lado. Riscando notas, riscando letras, nada estava bom. Mal percebi a hora passar.
null chegou na minha casa no horário combinado, mas estava distraído demais para sequer ter escutado a campainha. Minha mãe a recebeu e ela subiu lentamente as escadas até parar na porta do meu quarto. Estava em silêncio e me observava dedilhar as cordas do violão buscando uma melodia para uma nova composição.
- Não sabia que você tocava. – Dei um grito assustado. Não a imaginava ali me olhando. – Desculpa, não quis te assustar.
- Você quase me matou do coração. Há quanto tempo está parada aí?
- Tempo suficiente para ouvir algumas palavras e escutar uma doce melodia. Parecia uma canção de amor. Temos um apaixonado por aqui? – Ela cerrou os olhos e fez uma cara engraçada.
- Não, não. Eu gosto de falar de amor. É o sentimento mais puro, intenso e vivo que existe.
- Belas palavras, cantor. Vamos ao trabalho?
Começamos a trabalhar. Pesquisando, lendo, copiando e refazendo. Era interessante ver como null era uma aluna dedicada. Nunca falamos sobre futuro, mas tenho plena certeza de que qualquer profissão que ela escolher será muito bem sucedida.
- Terminamos? Não acredito! – Ela exclamou extremamente cansada. – Ainda bem que amanhã é sábado.
- Meu Deus, está tarde. Quase 1 da madrugada.
- Vou pedir para minha mãe me buscar.
- Pode passar a noite aqui, se quiser. Temos um quarto de hóspedes.
- Perfeito. – Ela sorriu em gratidão e eu sorri de volta. – Posso pedir uma coisa?
- Pode.
- Me mostra o que você estava compondo.
- Certo... – Eu disse enquanto pegava o violão e a letra. – Ainda não está bom, tenho muitas modif...
- Só me mostra. – Ela me cortou e eu concordei.
Comecei a melodia e pude ver seus olhos brilharem enquanto acompanhavam o movimento dos meus dedos pelas cordas do instrumento. Cantei o que tinha escrito e encerrei.
- Posso dar uma lida?
- Fique à vontade.
Ela pediu um lápis e começou a rabiscar algumas coisas por cima do que eu já tinha escrito. Modificações, talvez.
- Repete essa frase três vezes, coloca essa frase primeiro, essa em segundo e essa em terceiro. Canta tudo de novo. – Obedeci.
Recomecei e ela começou a acompanhar revelando uma bela voz. Ela transformou o meu solo em um dueto? Ou ela transformou um “eu” em “nós”?
- Ficou incrível. Que voz...
Suas bochechas coraram levemente, então ela apenas se despediu e foi até o quarto de hóspedes já preparado para recebe-la.
Passei a madrugada trabalhando na letra dessa música. As correções que ela fez na música contribuíram para um belo trabalho final. Queria cantar para null, ela também fez parte disso.
No dia seguinte, antes que ela pudesse ir embora, a levei até o quintal da minha casa.
- Eu tenho que te mostrar o trabalho final. Passei a madrugada inteira trabalhando na música.
- Estou curiosa.
Comecei a dedilhar o violão e aos poucos a letra foi saindo naturalmente de mim. Falava sobre estar apaixonado, sobre querer escrever uma canção de amor, sobre o amor e a vontade de amar.
- Ficou sensacional! Perfeito. Incrível.
- Você gostou mesmo? Tem dedo seu aqui também! É um trabalho conjunto.
- Imagina, o mérito é todo seu.
Deixei o violão de lado e me aproximei dela. Peguei em suas mãos que estavam levemente geladas.
- Eu gosto tanto de você null. Desde o dia que nos conhecemos e você estava brigando com o seu armário. Fiquei encantado. Deslumbrado. A letra dessa música é parte do que sinto. Finalmente poder falar. Eu sei, a gente se conhece há pouco tempo, mas parece que vivemos uma vida inteira juntos. Eu sinto isso só de olhar para você.
- Eu não sei muito bem como responder. Você é o meu melhor amigo, me arranca sorrisos. Está ao meu lado todos os dias. É a peça que faltava no meu quebra-cabeças que eu chamo de vida. Eu nunca me senti assim e nem sei o que dizer. Provavelmente estou dizendo coisas que não fazem o menor sentido, mas...
E eu apenas a calei com um beijo. Um beijo carinhoso, puro, com ternura. Um beijo que nós dois merecíamos. Um beijo que a gente não sabia o peso que teria daqui pra frente.


Continua...



Nota da autora: Alô alô minha gente.
Vocês devem estar cansados de me ver metida em ficstape, não é? HAHAHAHA
Podem se preparar que tem mais vindo por aí! XOXO, Iana.





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