O céu amanhecera carregado de imensas nuvens cinzas e pesadas. O vento gélido sussurrava, e algumas gotas de chuva começavam a cair enquanto dormia tranquilamente, encolhida debaixo de três cobertores. Era sábado, o relógio marcava 11h23min am e a mulher não tinha o menor interesse em deixar a cama aconchegante e quentinha. Por si, dormia o dia inteiro para repor o sono perdido que uma semana completamente exaustiva havia roubado. A faculdade estava exigindo cada vez mais dos alunos, o trabalho estava esgotando-a e mal tinha visto durante esses cinco dias que pareceram mais cinco séculos, de tão devagar que passaram. Entretanto, seu plano fora completamente arruinado por sua mãe, que ligava pela quarta vez seguida e por seu notebook, que apitava continuamente há uns quatro minutos indicando que um novo e-mail havia chegado. Resmungando, remexeu-se na cama torcendo para que toda aquela barulhada cessasse de uma vez. O que não aconteceu, pois sua mãe tivera a proeza de telefonar uma quinta vez, e o notebook não tinha parado uma só vez de gritar. Suspirou derrotada e levantou, enrolando-se numa das cobertas. Atendeu o telefone no último segundo.
- Alô. - Seu "alô" saiu mais como um grunhido do que como uma palavra. Bocejou duas vezes enquanto aguardava a mãe respondê-la.
- Filha! Até que enfim! Como está?
- Dormindo - resmungou, deitando novamente na cama. Ouvia uma barulhada do outro lado da linha: panelas, conversas, gritos infantis e risadas. Era só o que faltava.
- Ainda? Ora! Pois venha aqui em casa almoçar conosco. Seu pai está assando carne e a Juliet veio nos visitar com o marido e as crianças. Até o tio Thommy está aqui com a esposa! - Ela falava animada, como uma criança. - Você não tem nada para fazer, mesmo!
- Quem disse que não? - questionou, bocejando mais uma vez. Tudo o que queria era não ir até a casa de seus pais.
- Dormir o dia inteiro é não ter nada pra fazer, . Deixe de preguiça!
- Isso quando não se faz nada a semana inteira. Mãe, eu estou detonada! - reclamou fazendo bico, como se a mãe fosse ver. Conhecendo-a, sabia que de nada adiantaria; se tinha alguém teimoso e insistente na família, esse alguém era sua mãe.
- Amanhã ainda é domingo, . Amanhã você dorme o dia inteiro. Juliet está morrendo de saudades e as crianças não param de perguntar por você.
- Mãe, eu definitivamente, totalmente, imensamente não estou com vontade nenhuma de passar a tarde com os berros dos gêmeos e as piadas do tio Thommy. Por favor! - Agora são 12h00min. Se você não enrolar, pode chegar até as 13h00min. O almoço vai demorar, mesmo! Chame o , estamos esperando vocês!
- Mãe, eu já disse que...
- Beijo, filha, até daqui a pouco!
E a ligação foi finalizada. cobriu a cabeça e soltou um grito de frustração. Tinha 21 anos e ainda era tratada como se tivesse 14, mesmo morando sozinha em seu próprio apartamento. Saco! Era pedir demais uma tarde inteira de sono? Derrotada, mandou uma mensagem a , convidando-o para ir junto. Pelo menos poderia passar um tempo com o namorado.
"Eu já ia falar com você. Sua mãe acabou de me ligar. Passo aí às 13h00min? Xx"
Ótimo. Sua mãe já tinha ligado para ele e o convencido, e agora estava mesmo sem nenhuma escapatória. Suspirou e levantou-se da cama de súbito, sentindo o frio invadir-lhe lentamente. Tinha mesmo que ir?
buzinou às 12h52min. Como já estava arrumada, desceu logo, ainda com sono e saudades do rapaz.
- Só assim para ter um tempo pra me ver, hein? - brincou ele, fingindo estar bravo.
- Amor, o meu cansaço está tanto que mesmo morrendo de saudades de você eu só queria passar o fim de semana na cama, morgando, assistindo qualquer coisa que passasse na televisão, comendo e dormindo. - Deu um sorrisinho sem graça, depois de dar-lhe um beijo.
- A semana foi tão complicada assim?
- Acredita que aquela velha da senhora Thompson ainda pega no meu pé? Ela me fez repetir toda a prova de expressão três vezes. Três vezes! Estava tudo certo e a mal amada ainda ficava reclamando. E só de mim, ainda por cima! Arghhhh, você não sabe da minha vontade de voar no pescoço daquela velha! Pra melhorar, a diretora da escola me deu trocentos trabalhos a serem realizados, e alguns nem cabem a mim a realização. Estou começando a achar que eles pensam que só porque sou estagiária, vou fazer qualquer coisa a qualquer hora. Pois estão muito enganados! - E continuava a tagarelar sobre tudo o que acontecera, enquanto dividia sua atenção entre ela e a estrada. Quando se empolgava com algum assunto era difícil contê-la, e essa era uma das coisas que o rapaz mais gostava na namorada. A forma como os movimentos das suas mãos se encaixavam com seu semblante concentrado, sua boca contorcendo-se sem parar, suas expressões assustadoramente convictas e reais. ficava hipnotizado com a mulher, principalmente quando ela resolvia "encarnar" algum personagem aleatório ou inventado. definitivamente tinha o dom de interpretar e era apaixonada por isso. Essa foi uma das razões pelas quais tinha se encantado por ela aos seus 11 anos, vendo-a pela primeira vez numa representação de "Branca de Neve", no pequeno teatro da escola. agia tão naturalmente e segura de si, que parecia que ela era a própria princesa. Num instante todos os outros personagens e falas da peça não se fizeram mais presentes; apenas estava ali, com sua voz doce, seu sorriso aconchegante e os olhos divertidos. E, desde aquele dia, decidiu que nunca mais iria afastar-se dela. Foi difícil no começo, mas quando estava quase perdendo as esperanças, a garota o deixou fazer parte de sua vida. Entretanto, ela, um ano e três meses mais velha que ele, parecia ser inatingível da maneira que desejava. Tornaram-se melhores amigos e ele já estava conformado em ser apenas isso, quando se encheu de coragem e declarou-se para ela, oito anos depois de conhecê-la. O medo e a vergonha corroíam-no internamente enquanto aguardava a resposta da moça; essa, quando veio, aqueceu seu coração de forma tão branda que achou que teria uma taquicardia. Sim. A resposta tinha sido sim. "Caramba, eu achava que era coisa da minha cabeça. Sempre fui apaixonada por você, ! E é claro que eu aceito ser sua namorada!". Lembrava-se como se fosse ontem, mas havia sido já há dois anos. Dois maravilhosos, incríveis e inesquecíveis. E só o começo de tudo, como ele desejava que fosse. ouvia tudo com atenção e sorria, completamente apaixonado. era, definitivamente, a mulher de sua vida.
- Chegamos, amor! - Ela falava tanto que nem havia se tocado de que já estavam parados na frente da casa de seus pais.
- Já? Meu Deus, eu perco totalmente a noção do tempo quando começo a falar. Você deve estar de saco cheio da minha tagarelice. - Cruzou seus dedos nos de , sorrindo.
- Nunca. - beijou-lhe os lábios antes de sair e dar a volta no carro, a fim de abrir a porta para a namorada. - Vamos?
- Fazer o quê, né. Já estamos aqui, não dá para voltar atrás. - sorriu, dando de ombros.
Entrelaçaram as mãos e caminharam rumo à porta de entrada da antiga casa.
- Mamãe, cheguei! - anunciou , assim que passaram pela porta. Imediatamente gritinhos agudos fizeram-se presente, aumentando o volume cada vez mais enquanto duas crianças chegavam correndo na sala.
- Tia Bebecca! - Gritaram ao mesmo tempo, fazendo doer os ouvidos do casal. Os dois meninos se jogaram nas pernas de , que ria e tentava pegá-los no colo.
- Aaaaaai, minhas delicinhas! Como eu estava com saudades! - Outro fator que amava em : ela adorava crianças. Adorava mesmo; fazia amizade rápido com qualquer uma e logo já estava dengando-os. Sempre que via com os sobrinhos só faltava babar, imaginando a mamãe coruja que ela seria de seus filhos.
- Pelo telefone nem queria saber deles, agora já está mimando, né dona ?! - A mãe de aparecera na sala, secando as mãos no avental que usava por cima do vestido floral.
- E quem resiste a esses dois, mãe? Impossível! - Fez cócegas nos gêmeos, arrancando risadas simultâneas não só deles, mas dos três adultos também.
- , que bom que veio! George, Thommy e Benett estão arrumando as coisas lá atrás no quintal, já que parou de chover. Estão te aguardando. - A sogra sorriu, abraçando-o. bagunçou os cabelos dos meninos, que continuavam no colo de e saiu seguindo o aroma delicioso de churrasco.
- Já passou o stress, senhorita "tô-detonada"? - questionou a senhora, fazendo a filha mostrar a língua para ela, num gesto bobo.
- Eu estou detonada, ok? Essa semana foi completamente desgastante, em todos os aspectos. Meninos desçam um pouquinho senão a titia vai ficar sem braços, pode ser? - Colocou-os no chão, contrariando-os. - Mas eu sabia que você ia ficar me enchendo saco caso não viesse, e eu estava com saudades, então...
- Sua boba. - Sorriu a mãe, abraçando-a. - Juliet está na cozinha, terminando de cuidar das panelas. Scott! James! Tirem essas mãozinhas sujas da janela que eu limpei quase agora, caramba!
- Não fale assim com eles, mãe! Tadinhos - resmungou .
- Tadinha de mim, isso sim! Não foram eles que passaram a manhã inteira limpando os vidros. - revirou os olhos, rindo das gracinhas que os meninos faziam. - Vai logo ver a sua irmã, ela quem ficou me enchendo o saco pra ligar pra você e te chamar para vir até aqui. Enquanto isso, vou ao banheiro. - E saiu, deixando a filha na sala com as duas crianças. não pensou duas vezes em ir à cozinha. Estava morrendo de saudades da irmã também.
- HA! - Entrou de supetão no cômodo, gritando e assustando a irmã mais velha, que quase atirou uma vasilha de alumínio sua cabeça.
- Você ficou retardada, mulher? Quer me matar do coração? - gargalhava enquanto Juliet apoiava-se na pia, com as mãos no coração.
- Também... Também te amo, maninha. - Não conseguia conter as risadas. Era difícil pegar a Juliet distraída e, quando conseguia, era o melhor susto do mundo. A expressão da mais velha se suavizava, conforme a vontade de rir crescia nela também.
- Ai, eu te odeio! Peste. - Jogou um pano de pratos no rosto de , já rindo.
- Oi, Jut. - Chamou-a pelo apelido a qual havia dado quando era pequenina. Abraçou a irmã fortemente, sentindo o abraço ser retribuído.
- Oi, ! Nossa, eu estava com tantas saudades!
- Quem manda ficar tanto tempo longe? Foi só se mudar e você nem tem tempo pra família mais...
- Bem que eu queria, mas está corrido mesmo. Mas você não tem desculpa! Por que não foi me visitar durante todo esse tempo?
- Faculdade, né. Mesmo nas férias eu tive que fazer um monte de coisa, e no trabalho também... - Engataram numa conversa animada, colocando os assuntos e as fofocas em dia. As crianças corriam pela casa inteira e o pai, tios e cunhado de estavam no quintal, comendo os primeiros pedaços de carne que saíam da churrasqueira. saiu a cumprimentá-los depois de um tempo e ali ficaram todos conversando.
- E esse almoço, sai ou não sai? Achei que eu ia chegar aqui e vocês já estariam comendo! - observou , com a barriga roncando.
- Era para ter saído, mas sabe como é o seu pai. Tudo tem que ser feito em cima da hora.
- E o arroz e a maionese, já estão prontos, por acaso? - questionou o senhor.
- Estão, sim. Só você que ficou enrolando - respondeu a mãe de , vendo os ombros do marido murcharem e os demais deram gargalhadas.
- Vamos lá para casa, depois daqui? Minha mãe viajou. - abraçou pelas costas, acariciando-lhe o cabelo. - Só tenho que checar e uns emails da faculdade e depois sou todinho seu. - Sorriu-lhe com segundas intenções, sendo correspondido.
- Com certeza. Falando em emails, recebi um hoje de manhã e esqueci de abrir lá em casa. Vou dar uma olhada.
E saiu, caminhando para dentro de casa. A conversa seguia leve e regada a risadas no quintal, os dois bebês brincavam num tapete estendido na grama junto com e o tio Thommy contava uma de suas aventuras engraçadas. De repente, um grito. Alto e agudo vindo de dentro da casa dos . Os adultos entreolharam-se por um instante, antes de levantar-se num pulo e correr para dentro do imóvel.
- Ai, meu Deus! Ai, meu Deus, ai me Deus! Eu não acredito! Meu Deus! - corria de um lado para outro no escritório de seu pai, com as mãos uma de cada lado da cabeça e o semblante histérico. Tinha parado de correr e dava pulinhos quando chegou ao cômodo, seguido dos sogros e dos cunhados.
- Amor, você está bem? O que aconteceu? - questionou preocupado. A moça parou de pular, mas ainda estava com as mãos na cabeça.
- Isso aconteceu, ! O email aconteceu, o agente Davis aconteceu, Hollywood aconteceu! Ai, meu Deus! - Ainda sem entender nada, aproximou-se do notebook na escrivaninha enquanto pulava nos pais, abraçando-os.
- Lembram do agente Davis, não lembram? Aquele do terno curto. Faz tanto tempo! Não acredito que ele ainda lembra de mim! - A garota cantarolava, alegre demais para dizer coisa com coisa para os ali presentes.
- Mulher do céu, vai com calma! Ninguém aqui está entendo o motivo de você estar pirando! - reclamou Juliet, desviando o olhar da irmã eufórica para o cunhado, que lia o email com uma expressão séria, de poucos amigos.
- Está bem, está bem, deixem-me explicar - pediu , acalmando-se. - Lembram-se daquela vez que anunciaram na faculdade que um agente de uma grande produtora de filmes norte-americanos ia até lá, a procura de alguém que o agradasse e que ele achasse que valeria a pena levar para produzir um filme em Hollywood? Então, lembram que eu cheguei histérica em casa uma tarde por que o tal agente tinha assistido duas de nossas aulas e que tinha me elogiado?
- Você não tinha chegado eufórica porque o tinha te pedido em namoro? - interrompeu Juliet.
- Isso foi na mesma semana, Juliet, não no mesmo dia. Enfim, ele tinha dito que eu era uma das melhores alunas e tinha futuro como atriz, caso eu quisesse. Claro que eu disse que queria né, aí ele falou que não era pra me surpreender caso chegasse algo no email em alguns meses e, na verdade, eu fiquei foi decepcionada, porque nenhum email tinha sido enviado para mim. Até hoje pela manhã! - gritou. Sua mãe arregalou os olhos e Juliet e seu pai escancaram a boca.
- Não brinca!
- Não estou brincando, Jut. Te juro! Eu recebi um email dizendo que uma produtora lá está com planos de fazer um novo filme e eu fui convidada a realizar um teste para um dos papeis! Eu fui convidada! E está assinado pelo tal agente Davis, gente! Eu fui convidada! - começou novamente a gritar e a pular, agora acompanhada da irmã.
- Eu não acredito! Sua sortuda! - Juliet abraçava , também eufórica. Desde pequena o sonho de era ser atriz. As duas sempre brincavam que estavam fazendo um filme e Juliet morria de inveja da facilidade que a irmã mais nova tinha de interpretar personagens. E fazia tão bem!
Lembrava, sim, de quando ela chegara gritando aos quatro ventos de que estava "quase dentro de Hollywood" na semana em que o carinha foi na faculdade. Lembrava, também, de que teve que consolá-la durante o tempo em que ela só sabia chorar por que não tinha recebido nenhum email e achava que seu sonho tinha ido por água abaixo. E agora ela estava tão perto de realizá-lo!
- Isso é sério? - Um sério e carrancudo interrompeu a comemoração das irmãs com sua voz grave.
- Como assim? Claro que é, amor. - olhou-o sem entender. - O que foi?
- , aqui está escrito que você tem que se apresentar em Los Angeles dentro de uma semana. E que, se você passar no tal teste, vai ter que se mudar para lá em até um mês. Tem noção do que é isso? - perguntou e um clima tenso se instalou rapidamente, deixando os demais desconfortáveis.
- Claro que tenho. É a oportunidade do meu sonho se realizar. Qual o problema? - indagou .
- Qual o problema? Ah, então você não sabe? Deixa-me esclarecer: se você passar nesse teste, vai ter que deixar tudo para trás. Sua família, a faculdade, o emprego, eu. - engoliu em seco. Sua sogra tirou os outros da sala e agora se encontravam apenas o casal ali. - Você tem certeza que vai fazer isso?
- , eu não estou entendendo. Desde criança, tudo o que eu mais queria era ser atriz, e você sabe disso!
- Sim, eu sei! Mas eu pensei que você já tinha esquecido disso. Estava tudo se encaixando, . A faculdade, nós. E quando você pretendia me contar sobre isso, hein? Quando já estivesse com as malas prontas para ir embora?
- , como eu ia te contar se nem eu sabia que havia sido selecionada?
- Mas você já havia se exibido para o agente! Escondida! Por que não me falou sobre ele?
- Escondida? , por favor. - riu. - O agente Davis visitou a faculdade há dois anos. E por que eu não te contei? Porque foi justo na semana que você disse que me amava e depois fugiu, com vergonha. E depois, quando a gente começou a namorar, eu não contei porque não sabia se ia dar certo. Não queria me iludir ainda mais. E eu achava que realmente nada ia acontecer, por isso não senti necessidade de te contar meses depois.
- E o que você vai fazer?
- Como assim?
- Você não está pensando em aceitar esse convite, está?
- É claro que sim! - gritou com a voz uma oitava acima. - O que te faz pensar que não?
- O que me faz pensar que não? Bem, talvez o fato de toda a sua vida estar aqui? E o nosso namoro? Você quer realmente largar tudo para trás? - não acreditava no que ouvia. rolou os olhos.
- Eu não acredito que estou ouvindo isso, justo de você. O que você quer que eu faça? Deixar a oportunidade passar? , eu nem sei se eu vou ser aprovada ou não. E se eu for, o que tem impede de vir comigo?
- Ah, claro, como se fosse muito fácil eu simplesmente largar tudo por sua causa. Você não percebe o quão egoísta isso é? - disse, e ficara visivelmente chateada.
- Bom, me desculpe se correr atrás dos meus sonhos é egoísmo da minha parte. Eu achei que pudesse contar com você.
E saiu, com os olhos marejados. ficou no escritório e releu o email, bufando. não poderia simplesmente ir.
O almoço seguiu em um clima tenso entre e . Juliet havia conversado com a irmã e aconselhando-a a pensar bem antes de tomar sua decisão, mas já havia decidido. Era apenas um teste, depois ela pensaria no que faria caso fosse aprovada. Conversou com seus pais, que a apoiaram como sempre e iria conversar com na volta para casa, não queria ir sem estar bem com . Estava paparicando os sobrinhos quando ele a chamou para ir embora.
Despediram-se de todos e entraram no carro ainda em um clima pesado, até que tentou quebrá-lo.
- Eu conversei com meus pais... - esperou por algum sinal que demonstrasse que ele estava ouvindo. Não obteve, mas continuou mesmo assim. - Eles me apoiaram. Disseram que era pra eu ir. - soltou uma risadinha irônica, mas nada falou. - Eu só não queria ir brigada com você.
continuava a olhar a estrada e assim ela também fez. Depois de um tempo, ele a respondeu.
- Faz o que você achar melhor.
- , por favor...
- Não, . Você mesmo falou que é só um teste. Vai lá e faz, depois a gente vê no que vai dar.
- A gente não ia para a sua casa? - Questionou, ao ver que o namorado estacionara na frente de seu prédio.
- É melhor você descansar e pensar mais no assunto.
o olhou, incrédula. olhava fixamente para frente sem encará-la um minuto sequer, nem para despedir-se. Ela suspirou e saiu do carro sem falar mais nada. Ele queria fazer ceninha? Pois que fizesse. Não ia ficar se preocupando por causa disso. Poxa, não dava pra entender? Estava prestes a realizar o maior sonho de sua vida e ele, uma das pessoas mais importantes para ela, não a compreendia. Entrou em seu apartamento e seguiu até o quarto, jogando-se imediatamente na cama, de onde não devia ter saído tão cedo.

***

- Eu não acredito que isso está mesmo acontecendo! - Juliet sorria enquanto abraçava fortemente a irmã.
- Meu Deus, Jut, eu vou chegar toda amassada lá, de tanto que você me aperta!
- É porque eu estou muito feliz por você, ué. E já estou com tantas saudades!
- Não só ela, nós também! - Seu pai aproximou-se lhe dando também um abraço. - Estamos tão orgulhosos de você, filha! Não se esqueça de mandar uma mensagem assim que chegar lá. E se cuida, viu?
- Você está no papel errado, papai. Quem diz isso tem que ser a mãe!
- Acho que no momento sua mãe não pode dizer muita coisa...
E não podia mesmo, pois estava agarrada em Juliet chorando feito uma criancinha.
- Mãe! Ainda restam lágrimas nesse corpo? - brincou , caminhando até a senhora. - Eu não morri!
- Mas vai para o outro lado do mundo. Um oceano inteiro de distância me separando do meu bebê. - rolou os olhos e apertou ainda mais a mãe.
- Eu não vou ficar tão distante. Prometo ligar sempre e a Juliet vai ensinar vocês a mexerem no Skype, assim poderemos nos ver.
- Mesmo assim, você vai estar tão longe... - deu um beijo demorado na bochecha da mãe e soltou-se, indo despedir-se do cunhado.
- Se cuida lá nos States, garota. Qualquer coisa é só ligar.
- Obrigada, Stefan. Dê mais um beijo nas crianças por mim.
"Última chamada para o voo 4372 para Los Angeles. Senhores passageiros, por favor, dirijam-se para a ala de embarque." Era agora, estava na hora de partir. Juliet veio até a irmã para entregar suas malas e abraçá-la uma última vez, quando virou-se com os olhos marejados. Não se tratava apenas da viagem.
- Ele não veio, Jut. - Abraçou a irmã, fechando os olhos com força.
- Ele ainda te ama, . Você sabe disso.
- Será? - Indagou a moça, recebendo um sorriso em resposta.
- Anda logo, se não vai perder o voo.
deu um "tchau" para todos e saiu em direção as malas. Segurou o choro até não conseguir mais; as lembranças da briga atormentavam-na o tempo inteiro e o fato de não ter vindo despedir-se dela piorava tudo. Dessa vez a briga tinha sido grande e intensa, pior do que quando ela havia recebido o email. não aceitava o fato de deixar tudo para trás e partir para Los Angeles, já que havia sido aprovada no teste, e ela não entendia como ele não conseguia apoiá-la. A conversa, dois dias antes, iniciou-se com correndo debaixo de uma chuva pesada até a casa de , para suplicá-la uma última vez que não fosse para os Estados Unidos e terminou com uma bela discussão, muitas lágrimas e dois corações partidos.
"Se você for, eu não estarei mais aqui quando você voltar, ."
Por que tinha que ser assim? Por que tinha que complicar tudo? E agora estava mesmo deixando sua cidade, sozinha, com um futuro incerto e aparentemente solteira.

***


Três anos depois.

“Atriz recebe nova proposta de Angelina Jolie.”

“Desgastante! Estaria pensando em tirar férias?”

nega envolvimento com colega de elenco e diz estar solteira, mas apaixonada!”

“Férias à vista! diz não estar acostumada com assédio e pretende tirar uns dias de descanso. Três anos, 13 prêmios, 26 indicações, quatro sucessos de bilheteria e uma legião de fãs depois, , 24, revela ainda achar estranho toda a atenção que recebe. A filha do Dr. Mikhailov, personagem do ator Robert Downey Jr. em seu último longa, anunciou em uma entrevista recente que pretende voltar à sua cidade natal para desligar-se um pouco do mundo e resolver algumas coisas pendentes que deixara para trás.
Esperamos que tal período não demore a terminar, pois há boatos por aí de que a moça tem um convite da também atriz, produtora e diretora Angelina Jolie para uma nova superprodução. Mal podemos esperar!”

A mãe de trocou rapidamente de canal quando percebeu que o filho descia as escadas. Fingiu prestar atenção no filme que estava passando, mas sua mente estava na ex nora. estava tão bonita, tão diferente... Diziam as más línguas de sua cidade que ela havia ficado metida e soberba, mas ela não acreditava; continuava com a mesma aparência doce e gentil que conhecia desde que era uma menininha, só estava mais rica e reconhecida. Reconhecimento tal, que ela sempre mereceu. passou direto para a cozinha, de cara fechada como sempre. Desde que a namorada se fora, não era a mesma pessoa. Ficou extremamente magoado com e trancafiado durante dias em seu quarto, sem querer consolo ou algo do tipo. Depois, quando saiu, disse que seguiria a vida normalmente, assim como a garota faria. Claro que ele não teve todas as festas, premiações e dinheiro que ela teve, então não foi assim tão fácil.
“Eu já a esqueci, mãe. Ela escolheu o que fazer e eu não posso mudar. Não estou mais nem aí também.” Dissera ele uma vez, e a senhora sabia bem que não era verdade. não demonstrava, mas mãe é mãe. E durante os últimos anos ela sabia que vinha sofrendo sozinho o tempo inteiro, sentindo a falta dilacerante que fazia em sua vida. A mãe suspirou, triste, trocando novamente de canal.
, por sua vez, subiu novamente ao seu quarto levando um sanduíche consigo. Antes de descer as escadas, percebeu que a mãe estava assistindo aquele canal idiota que falava da vida dos famosos, inclusive da vida dela. odiava esses canais e qualquer tipo de veículo que transmitisse notícias de , mas não deixava de acompanhar. Precisava, de alguma forma, ouvir sua voz, vê-la gargalhar, senti-la perto de si um pouquinho. Era dilacerante, mas fazia-o senti-la um pouquinho mais perto de si. Sentou na cama com o notebook no colo e abriu mais uma vez a pasta de fotos proibida. Inúmeras fotos dela se faziam presentes ali; criança, adolescente, fotos do namoro e de quando ainda eram melhores amigos.

Yes I do, I believe
That one day I will be, where I was
Right there, right next to you
And it's hard, the days just seem so dark
The moon, the stars, are nothing without you
Your touch, your skin, where do I begin?
No words can explain
The way I'm missing you

The night, this emptiness, this hole that I'm inside
These tears, they tell their own story

You told me not to cry when you were gone
But the feeling's overwhelming, it's much too strong
Can I lay by your side
Next to you, you
And make sure you're alright
I'll take care of you
And I don't want to be here
If I can't be with you tonight

I'm reaching out to you
Can you hear my call?
This hurt that I've been through
I'm missing you
Missing you like crazy

Não aguentava mais olhar, entretanto, não parava. Lágrimas desciam por seu rosto, mas ele já não fazia mais questão de secá-las. Se pudesse voltar no tempo... Fora orgulhoso, de certo modo egoísta; e acabara perdendo seu bem mais precioso, a única pessoa que ele verdadeiramente amava. Jamais seria capaz de amar outra além de , afinal, não havia parado de amá-la em nenhum segundo durante todos os torturantes dias longe dela. Missing you like crazy... Fechou o aparelho e deitou, deixando o lanche de lado e vendo-a entrar em seus sonhos novamente.

***


descia a escada rolante à procura de Juliet. Deu graças a Deus por ter conseguido sair de Los Angeles escondida, assim ninguém ficaria sabendo de sua viagem e ela teria paz por onde passasse – pelo menos por uma semana, talvez. Encontrou a irmã e foi correndo em sua direção. Juliet a recebeu de braços abertos e com um sorriso enorme no rosto.
- Meu Deus, como eu senti falta desse abraço! – exclamou, já sentindo a garganta fechar e os olhos marejarem.
- Eu nem comento o fato de você ficar três anos longe e não vir nenhuma vez para casa, nem por um dia sequer. Três anos, ! Eu quero te matar!
- Mas eu mal cheguei! – riu, seguida da irmã. Era tão bom estar em sua cidade natal... Tudo ali era reconfortante, exatamente do jeito que lembrava. Com a ajuda de Juliet seguiu para o carro com as malas, desejando um bom banho.

Quatro dias passaram desde sua chegada e já se sentia infinitamente melhor. O stress de Los Angeles estava sufocando-a; se não tivesse saído de lá provavelmente entraria em pane. Contudo, não apenas Los Angeles a sufocava. Desde que fora embora, não passara um dia sem pensar em . Sentia sua falta a todo instante; sentia falta de seus toques, as piadas ridículas, sentia falta de tagarelar sem parar com ele sempre a escutando. Saiu de seu transe quando percebeu Juliet se aproximando.
- Vamos? Stefan vai buscar as crianças na escola, aí eu posso te levar lá. – concordou com um meneio de cabeça.
Em menos de meia hora chegaram. estava trêmula e sua boca estava secando cada vez mais. Achava que não ia conseguir. Mas não, não podia voltar atrás. Desceu do carro e dispensou Juliet; voltaria caminhando depois. A irmã concordou e saiu, deixando-a sozinha e quase vomitando as tripas de nervosismo. Por fim, caminhou até a porta e apertou a campainha. Não passou um minuto e a porta foi aberta.
- R-? – grande foi o espanto da sua sogra ao vê-la ali parada no batente da porta. Imediatamente as lágrimas surgiram e ela a abraçou fortemente. – Eu não acredito! Como...? Eu senti tanto a sua falta! Não acredito que você está realmente aqui! Tão bonita, tão diferente...
- Obrigada! Eu senti saudades imensas da senhora também. E o tempo só te fez bem, hein? – Comentou e as duas riram. entrou, convidada pela sogra.
- Sabe, eu não quero tomar muito o tempo da senhora, mas eu preciso resolver uma coisa que vem me sufocando há tempos, e eu não posso mais esperar. O está?
- Ah, minha filha... Está sim! Não acredito que isso está finalmente acontecendo. Você não sabe o perrengue que eu passei com esse menino! Você nos deixou em situação complicada, hein? – sorriu sem graça, sem saber o que responder. – Mas o que passou, passou. Não importa mais. O importante é que você está aqui e se Deus quiser vocês vão se acertar. Fique a vontade que eu vou lá chamá-lo! – E saiu contente, suspirando de alegria.
ficou na sala e passou a observar o cômodo. Não havia mudado muita coisa... Apenas uns porta-retratos haviam sido acrescentados na decoração. E estava olhando as fotos quando chegou ao meio da escada e parou de repente, sentindo uma dor no peito e achando que estava ficando maluco. Era ali, parada à sua frente?
- R-? O que...? Como...?
olhou para ele com o coração quase saltando do peito. estava mais lindo do que já era, se isso era possível. Meu Deus, fazia tanto tempo! Achava que sabia o tamanho da falta que ele fazia em sua vida, mas estava enganada. Não sabia mesmo. Era imensa! Sentiu vontade de chorar, de se jogar em seus braços, de beijá-lo sem parar e de se espernear. Mas ficou paralisada, com os pés grudados no chão.
- O que você está fazendo aqui? Quando chegou? Nossa, você está diferente? Por que veio aqui? – Um turbilhão de pensamentos passava pela cabeça de e ele não conseguia organizar nenhum.
- Não importa. Não importa nada, . O que interessa é que eu não aguentava mais ficar um segundo longe de você e voltei. Eu voltei por você, , voltei por nós.
Num ímpeto, desceu o restante dos degraus e abraçou-a fortemente. Ela realmente estava ali, eles estavam juntos novamente. E nada mais importava.



Fim



Nota da autora: (12/06/15) Olá! Que bom que chegou até aqui! Lay Me Down ficou bem short mesmo porque eu não consegui desenvolver a história direito, mas espero que tenha te agradado! Não esqueça de comentar, por favor. Um beijo, até a próxima!




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