Última atualização: 21/05/2018

Capítulo Único

1998 - You said I was the most exotic flower

E lá estava eu.
Novamente o garoto que ninguém quer. O idiota do clube dos otários que ninguém queria.
Já era ruim ser do clube dos otários. Ser o pior do clube dos otários, era ser o pior dos piores.
A música embalava todos naquele baile de inverno do colégio McKinley. Todos menos eu.
O cara que foi recusado por basicamente todas as garotas.
Arrumei meus óculos e me escondi atrás das arquibancadas para que meus amigos não me vissem chorar. Não que fosse errado chorar... Mas chorar em um baile de escola quando você tem 13 anos não me parece a melhor opção. É a única que me resta.

Ouvi um barulho de alguém se aproximando. Provavelmente um casalzinho com os hormônios à flor da pele que queria se amassar atrás da arquibancada.
Tentei me afastar dali, indo na direção contrária antes que me vissem, e ouvi alguém correr. Comecei a correr também, não queria que me vissem chorar.
- Ei! - Era uma voz feminina que me chamou.
Virei-me no impulso de curiosidade. E vi seu emaranhado de cabelos negros.
Parei de correr. Não estava muito longe dela.
- Quer dançar? - Vi seus lábios se mexerem, mas não parecia real. Senti meus olhos piscarem mil vezes antes de conseguir abrir a boca antes de responder.
- Eu? Dançar com você?
Seus lábios sorriram para mim. Limpei as lágrimas com as costas da mão.
- Claro. Por que não?
Porque eu era o pior dos piores otários.
Ela esticou a mão para mim.
Seus cabelos eram cacheados e compridos. Sua pele era escura e brilhante. Ela usava um vestido preto e uma jaqueta de couro. Nos pés um coturno verde musgo como os do exército.
A música que havia começado a tocar era “Iris” do Goo goo Dolls, e eu apertei sua mão, indo com ela até o meio do ginásio.
Seus dedos entrelaçaram os meus, e vi a grande maioria das pessoas nos olhando. Ela era , a garota de preto que todo mundo tinha medo, a estranha misteriosa que eu, particularmente, nunca havia notado.
Eu não sabia dançar, e ela percebeu isso imediatamente.
- Coloque suas mãos aqui. - Ela levou minhas mãos até sua cintura. - E chegue mais perto, não aja como um virgem.
- Mas eu sou virgem. – Falei, assustado. - Tenho 13 anos e sou do clube dos otários.
- Mas ninguém precisa saber disso. - Ela disse, me puxando mais para perto. - Agora deixa a música te embalar.
Ela era um palmo mais alta do que eu. Tentei deixar a música me embalar.
- Com mais calma. Assim, olha. - Ela mexeu os ombros calmamente, enquanto eu não sabia muito bem como fazer aquilo. Provavelmente era um dom natural dela.
Fui me embalando junto com ela. A saia do seu vestido roçava nas minhas pernas.
Ela sorriu, seus lábios pintados de preto.
- Quantos anos você tem? - Perguntei.
- 15. - Respondeu ela.
- Por que você veio atrás de mim? - Perguntei novamente.
- Porque gentileza gera gentileza. E nenhuma dessas garotas foi gentil com você hoje. - Ela disse, nitidamente brava. - Eu odeio como essas garotas agem, como se fossem melhores do que os outros.
- Elas são populares... - Tentei argumentar.
- E isso é motivo para tratar você feito lixo? – Perguntou, irritada. - Você é como eu, . É diferente do que eles são, mas não deixa de ser humano. Elas vão se arrepender de ter dito não pra você. Você vai ver só.

Continuamos dançando, pelo menos eu achava que era uma dança. Quando ela parou repentinamente e disse:
- Você quer ir lá fora?
Concordei, sentindo minhas mãos suarem. Nenhuma menina nunca havia falado assim comigo. Consegui ver meus amigos otários me olhando enquanto eu descia.
E, ainda mais, eu conseguia ouvir o farfalhar das pessoas espantadas:
“Aquela é a , com o ?”
Quando saímos do estádio, logo tirou uma carteira de cigarros do bolso da jaqueta e acendeu estilosamente seu isqueiro prateado.
Tragou com calma.
- Quer um? - Ofereceu-me, e neguei, nervoso, enquanto empurrava os óculos pra cima.
- Você é muito bonita. - Eu disse, sem saber exatamente o que dizer.
- Você é muito gentil.
- Gentileza gera gentileza. - Repeti sua frase, e ela sorriu. Tragou mais uma vez o cigarro.
- Por que você fuma? - Perguntei, mexendo na manga da minha camisa, sem muita intimidade para ficar olhando em seus olhos ou para o seu rosto.
- Porque me faz pensar. Me deixa tranquila. - Tragou novamente, soltando a fumaça lentamente, na direção contrária da minha.
- Você não deveria continuar. Pode ficar com câncer.
- A vida é muito curta para não aproveitarmos ao máximo o que a gente gosta. - Ela disse. - O que você gosta de fazer?
- Jogar vídeo game.
- E você deixaria de jogar se alguém te dissesse que faz mal?
- Se esse alguém fosse minha mãe, provavelmente. – Falei, sorrindo. - Ela daria um jeito de jogar o vídeo game fora.
Ela gargalhou com isso. Sua risada era sincera e gostosa. Ela era dois anos mais velha do que eu. Mas era diferente. Era simples.
Eu ri junto.
- Eu entendi a comparação do cigarro, mas cigarro mata. - Continuei, e ela sorriu.
- Muita coisa mata. Você não fuma e pode simplesmente morrer atropelado hoje. - Ela disse, passando a mão nos cabelos.
- Sim. Eu provavelmente morreria cheio de arrependimentos, e não só porque não fumo cigarros. - Eu disse, e ela concordou.
- Do que você se arrepende? - Perguntou ela, apagando o cigarro e jogando a bituca no chão.
Pisei na mesma.
- Não sei. Só saberei quando morrer e perceber quanta coisa deixei de fazer. – Brinquei, e ela sorriu.
- Você é esperto, . Vamos nos dar bem. - Brincou ela. - Você já beijou uma garota antes?
- Olha bem pra mim, . Eu sou um otário. - Falei.
- Você é o otário mais legal que aparentemente já conheci. - Disse ela, logo buscando mais um cigarro da carteira.
- Você é a pessoa mais exótica que eu aparentemente já conheci. - Falei. – E, acredite, isso é muito bom no meio desses robôs. - Disse, me referindo às outras garotas da escola.
- Continue sendo esse garoto. - Ela jogou sua mão na minha cabeça, bagunçando meus cabelos.
fumou seu outro cigarro, e seguimos para o ginásio novamente sendo seguidos pelos olhares de todos.
Provavelmente éramos o casal otário nesse momento.
Até os professores olhavam curiosos. O menino estranho e a menina exótica.
Dançamos feito dois patos desengonçados “You only get what you give” do New Radicals.
Sabe quando o tempo passa em câmera lenta, como nos filmes? Onde tudo está girando e acontecendo muito rápido mas os principais da cena estão em câmera lenta. Então, era assim que estava sendo aquela música com .
Senti suas mãos puxarem o colarinho da minha camisa e, logo depois, seus lábios colaram nos meus. Ficamos assim por um bom tempo. Apena sentindo os lábios um do outro, sem se mexer.
Um beijo inocente e maravilhoso que marcou minha vida.
Ela separou nossas bocas, limpou a minha com o seu dedão com delicadeza e sorriu.
- Agora você já pode dizer que beijou uma menina. - Disse ela, no pé do meu ouvido, eu sorri junto. Nossa noite continuou daquele jeito, com música, dança e sorrindo e me divertindo, como se fosse o dever dela. E eu não me importava que aquilo fosse uma aposta que ela tivesse perdido, ou um jogo. Estava sendo legal. E eu queria que continuasse assim, afinal, gentileza gera gentileza.

Na segunda-feira, não apareceu na escola. Meus amigos estavam esperando para conhecê-la, a garota que beijou , mas a única coisa que vi foi o seu armário vazio. Ela havia partido.

2017 - Something so strange, hard to define

Toda semana ele ia ali.
Toda semana eu via ele e seus olhos tristes bebendo aquela cerveja sem cara de quem queria conversar. E eu nunca o forcei a isto.
Semana após semana eu servi-o com sua cerveja preferida, vendo seus olhos vazios admirarem o balcão à sua frente sem disposição para as pessoas a sua volta.
Me acostumei com isto. E sentia falta quando ele não ia.

- E aí, ? - Ouvi Norman dizer, aproximando-se do bar como todas as vezes que entrava ali.
Norman era apaixonado por mim e sempre deixou isso muito claro. - Qual a boa de hoje? Vamos fazer alguma coisa quando você sair?
Ele sempre perguntava com esperanças. E eu sempre ria.
- Você sabe que não é o meu estilo, Norman. - Brinquei, secando alguns copos e colocando-os de volta embaixo do balcão.
- Mas você é o meu. - Insistiu ele. - Mulher, independente, bonita, encrenqueira e dona de um bar. Somos feitos um para o outro! Veja: Eu sou homem, independente, bonito, encrenqueiro e cliente fiel do seu bar.
Eu gargalhei. Ele sorriu junto, sentando-se ao balcão. Não podia negar que Norman era lindo, o tipo perigoso de cara que eu realmente me envolveria e me arrependeria disso. Norman era integrante de um motoclube, então sempre estava andando de motocicleta, com bandana e colete de couro. O perfeito Jax de Sons Of Anarchy, se não fosse pela bebedeira insistente que estragava sua personalidade. Eu conhecia vários homens e mulheres que eram estragados pela bebida, assim como conhecia pessoas maravilhosas que bebiam socialmente sem estragar sua personalidade.
- Só me meto em encrenca quando você puxa uma briga que não consegue vencer. - Eu já havia separado muitas brigas de Norman e de muitos outros. Eu tinha uma esquerda muito forte.
- Você é minha salvadora. - Ele fez um sinal com os dedos, que significava que ele queria um copo de whisky.
- Eu sei. - Servi-o, vendo a porta do bar se abrir e meu coração bobo dar um pequeno pulo vendo minha paixonite entrar pela porta. Ele estava radiante com seu óculos escuros, camisa polo preta, calça jeans e seu all star rotineiro.
Quando ele se aproximou, já segui ao freezer para pegar sua cerveja. Eu gostava de saber o gosto de meus clientes. Às vezes ele pedia algo para comer junto, mas dependia do dia.
Norman percebeu meu sorriso besta e olhou indignado para a pessoa que estava chegando.
- Oi. Tudo bem? - Perguntou ele, meio encabulado pela olhada invasiva de Norman.
- Tudo ótimo e contigo? - Perguntei automaticamente, colocando sua cerveja na sua frente e pegando o copo embaixo do balcão onde eu havia colocado minutos antes. - Quer algo pra comer?
- Sim. Me vê uma porção de amendoim? - Perguntou educadamente.
- Qual o seu nome, cara? - Norman perguntou.
- . - Ele respondeu, enquanto eu enchia o potinho de amendoim na sua frente. - E o seu?
- Norman. O que você faz da vida, ? - Norman perguntou, enquanto eu entregava sua porção de amendoim.
- Eu sou médico. - Ele suspirou, parecia cansado. - E você?
- Que legal! Qual a sua área? - Me meti na conversa.
- Pediatria. - Ele disse, tomando um gole da sua cerveja.
- Sério cara? Você tem a chance de ser ginecologista, e você escolhe ficar cuidando de pirralhos? - Norman disse, e eu virei os olhos.
- Por favor, ignore o Norman. Ele tem probleminhas. - Comentei, fazendo o médico sorrir.
- Ah ! Qual é! Estou brincando. - Ele gargalhou.
O médico me olhou confuso.
- ? Espera... Você é ?
- Sou. Você me conhece? - Perguntei sem jeito. Norman nos olhava com as sobrancelhas unidas.
Vi outro cliente que não estava no balcão fazer um sinal, pedindo outra bebida.
- Um segundo. - Eu disse para , enquanto segui para levar uma cerveja para Bob.

- Você salvou minha juventude. - Ele disse, pela primeira vez sorrindo de verdade.
Não entendi. E uni as sobrancelhas, fitando-o.
- Espera aí. - Ele falou, buscando algo no bolso de sua jaqueta que estava jogada no banco ao seu lado. Pegou um óculos de armação preta e colocou sobre os olhos.
Era ele. . O garotinho que eu havia beijado e fugido na escola. Meu coração bateu mais forte quando finalmente o reconheci.
- Meu Deus! ?! Eu não acredito! - Quase gritei, saindo de trás do balcão e indo ao seu encontro para abraçá-lo.
O abraço não foi desajeitado como o de quando éramos crianças, foi apertado e caloroso, como se fossemos velhos amigos. Ele cheirava a canela e menta. Eu cheirava a nicotina e café, provavelmente era uma ofensa ao seu bom cheiro.
- O que aconteceu com você? - Perguntou ele, transformando-se no cara mais animado do mundo em um segundo. Fiquei feliz por isso. Era ele! Muito diferente do que minha mente recordava, o garotinho magricelo e pálido que usava óculos fundo de garrafa. estava muito mais alto, seus cabelos estavam curtos e ligeiramente despenteados, a barba era grossa e bem feita. Seus olhos ainda eram de um menino do Clube dos otários.
- Bom... Aquele dia do baile, era meu último dia na cidade. Eu queria fazer algo especial na vida de alguém. - Falei, voltando para trás do balcão. - Eu fiz?
Norman ficou entediado com a nossa repentina amizade e resolveu sair dali.
- Fez. Você não sabe o quanto. - Ele suspirou, fazendo cara de pensativo. - Meus amigos ficaram uma semana me dizendo que eu tinha sonhado com aquilo. Que ninguém nos viu lá.
Eu ri, virando os olhos.
- Seus amigos eram uns otários. - Brinquei.
- , você mudou a minha vida. Levei o lema do “Gentileza gera gentileza” pra vida. Por isso me tornei médico. - Ele disse, bebendo um gole da sua bebida.
- Eu gostaria de poder ter levado esse lema comigo, mas não me esforcei tanto quanto você. - Falei, sem graça.
- Acho que eu posso ajudar você nisso, se estiver disposta. - Ele disse, dando um sorriso tímido.
- Isso foi um convite? - Perguntei.
- Talvez. Se você aceitar. - Ele respondeu. - Não quero que você pense que estou dando em cima de você ou algo do tipo, só quero retribuir o que você me fez no passado.
- Tudo bem. Acho que eu aceito, o que você tem para mim?
- Ah, se eu te contar, perde a graça! - Ele sorriu, pegando um punhado de amendoins e colocando na boca. Virei os olhos.
- Vou ter que confiar em um estranho?
- Não sou estranho, sou o Otário, lembra?
- Você é inacreditável. - Falei tentando esconder minha admiração, em perceber como o mundo era pequeno e eu realmente estava falando com o cara misterioso do bar que na verdade era um velho... amigo?

2017 - You're screwed up and brilliant

Depois que fechei o bar, esperei do lado de fora como havíamos combinado. Meu coração palpitando como se eu fosse uma adolescente boba, eu ria sozinha enquanto via o carro virar a esquina. Pude ver dentro do carro dando um sorriso bobo como o meu, e suspirei aliviada vendo que eu não era a única otária.
Eu usava uma blusa preta com uma caveira na frente, de ombros caídos que mostravam meu top roxo escuro, calças rasgadas nos joelhos e um coturno preto que vinha até a metade da panturrilha. Não sei se eu me vestia adequadamente para o convite que ele me fizera, mas ele não pareceu incomodado com isso.
Eram dez da noite (fechei o bar mais cedo pela ocasião, Norman não gostou muito), entrei no seu carro, e beijei seu rosto ainda meio boba com a situação.
- Então, preparada? - Perguntou ele, sorrindo.
- Creio que sim. Estou vestida para a ocasião? - Perguntei, sem graça. Ele apenas me olhou de cima a baixo.
- Você está linda. - Disse. - Não se preocupe com isto.
Ele guiou o carro por um caminho que eu conhecia, fomos conversando tranquilamente pelo percurso, falando sobre nossa época de escola, para onde eu havia ido quando mudei de cidade, e como tinha sido minha adolescência lá. Sua adolescência havia sido muito melhor depois do nosso baile de primavera, comentou que muitas meninas começaram a falar com ele depois de ver como eu me dava bem com garotas, e novamente me agradeceu por isto.
Ele estacionou o carro no hospital em que ele provavelmente trabalhava. Saí do carro com receio do que me esperava lá. Várias imagens de Grey's Anatomy viajaram pela minha mente, todos os médicos de plantão me olhando de cima a baixo, as médicas mais bonitas do mundo olhando-o com cara de “Nossa, o que essa coisa está fazendo aqui?”. Afinal, estava no nível de beleza de Grey's Anatomy... Eu estava mais para Stranger Things.

Entramos no hospital, e de cara, uma mulher veio em nossa direção.
- ! - Ela sorriu.
Ele sorriu de volta e colocou uma das mãos em minhas costas, me apresentando.
- Cassie, essa é a , a dona do bar do qual eu te falei. Lembra?
Ela sorriu mais ainda, visivelmente surpresa, mas não parecia ser de um modo ruim.
- A famosa ! - Ela disse, me puxando para um abraço.
Cassie era estonteante. Lindos cabelos ruivos que caiam por seus ombros em cachos largos, olhos azuis claro de tirar o fôlego e um sorriso lindo. Até eu fiquei em dúvida de minha sexualidade quando analisei seu rosto perfeito. E claro, ela era muito cheirosa.
- Como você está? - Me perguntou. Eu não sabia muito bem como lidar naquela situação. Eu era a famosa ? O quanto havia falado de mim?
- Estou muito bem, obrigada. E você?
- Estou ótima. Então, me disse que queria te mostrar uma coisa diferente de velhos bêbados em bares hoje. Não é algo que a gente faça com muita frequência aqui, mas é um dos nossos melhores cirurgiões e bom, ele nunca tinha me pedido nada assim antes.
Olhei , e ele estava visivelmente envergonhado, o que encontrei atrás daquela arquibancada há anos.
- Você é a chefe dele? - Perguntei, tentando entender melhor a questão.
- Sou sim. Ele é meu fiel escudeiro.
se limitou a sorrir.
Conversamos mais um pouquinho com Cassie e ele me guiou pelo emaranhado de corredores do hospital, eu tentava acompanhar as alas e placas, mas me perdi depois de cinco minutos.
- Não se assuste, ou fique brava comigo por isso. Eu só acho que preciso te mostrar como você foi importante para o que eu sou hoje e como isto é importante pra mim. - Ele disse nervoso, quando paramos na frente de uma porta grande.
Dei de ombros e sorri.
- Me surpreenda. - Falei, e ele acompanhou meu sorriso, seus dentes brancos me aconchegando.
Ele abriu a porta e eu vi várias camas bagunçadas com cobertores azuis e rosas, bichinhos de pelúcia e livros. Em cada cama havia uma criança, algumas acordadas, outras dormindo; algumas carecas, outras de cabelo curto; algumas lendo, algumas brincando.
Assim que viram , o estardalhaço começou.
A maioria correu na direção dele, abraçando-o.
- O que vocês estão fazendo acordados? - Perguntou ele, rindo do ataque de fofura. Eu observava um pouco de longe para não assustar as crianças.
- Estávamos te esperando! A Tia Cassie disse que você viria. - Uma delas disse.
- Ela disse que você traria uma namorada! - Outra criança disse, sussurrando “namorada” como se fosse para eu não ouvir. Assim que a palavra mágica foi pronunciada, todas as crianças acordadas viraram-se para mim. E me olhou sorrindo extremamente sem graça.
- Crianças, essa é a . - Ele disse, vindo até mim, e me puxando pela mão. - Ela não é minha namorada, ela é uma colega de longa data. Foi ela que me inspirou a ser o que eu sou hoje.
Meus olhos se encheram de lágrimas, quando vi aquelas criancinhas de perto. Elas eram LINDAS.
Uma delas, que devia ter uns seis anos veio sorrindo ao meu alcance e abriu os braços para eu abraçá-la. Abracei-a com vontade.
- Qual o seu nome, gracinha? - Perguntei, sorrindo. Seus olhos eram negros como carvão.
- Alisson. - Disse ela.
As outras crianças vieram me abraçar também. E lá estavam Alisson, Kimberly, Rachel, Theodore, Alexander e Jade.
- A quanto tempo vocês estão namorando? - Rachel perguntou, ignorando completamente o discurso de sobre sermos colegas.
- Vocês já se beijaram? - Kim perguntou, tampando o rostinho com as mãos, envergonhada pela pergunta.
- Foi como num conto de fadas? - Perguntou Theo, que era o menorzinho.
- É claro que foi como um conto de fadas, Theo! - Alisson disse, virando os olhinhos. - Eles se amam!
- É verdade, quando eles se amam o beijo é igual num conto de fadas. - Rachel disse completamente convicta disso.
- Ei, ei, ei! - chamou a atenção deles. - A Tia vai ficar assustada com vocês assim. Ela é só minha amiga, lembram?
- Não era colega? Agora é amiga? - Perguntou Alexander, que até o momento estava quieto. Ele era o mais velho. - Daqui a pouco vira outra coisa.
Eu ri. me olhou pedindo desculpas com os lábios. Eu dei de ombros.
- Bom, eu e o Tio somos amigos muito antigos. Nós já nos beijamos, mas nós éramos crianças. E nunca mais nos vimos... Só voltamos a nos encontrar há pouco tempo e ainda não nos conhecemos direito.
- Então, vocês estão se apaixonando?
- Creio que não. – Respondi, calma, vendo-os ficarem decepcionados.
Olhei desesperada para . Eu não queria que as crianças me odiassem!
- Que tal a gente parar de falar de mim e da Tia e nos divertirmos um pouco? - Perguntou ele. - Eu ouvi dizer que Tia é uma ótima contadora de histórias.
Eu não era, mas fui salva por Jade que se prontificou a trazer um livro com várias histórias, pedi para eles escolherem uma história e logo todos estávamos sentados no chão, em círculo para que eu começasse a ler. Contei histórias, brincamos de esconde-esconde e colocamos cada um na sua cama para dormir, afinal já eram onze horas da noite. Beijei todos na testa e mandei um beijo no ar da porta quando já estávamos saindo.

- E... Então? - Perguntou ele quando estávamos voltando pelo labirinto de corredores do shopping. - Elas são maravilhosas ! Eu amei! Eles são seus pacientes? Todos? - Perguntei.
- São sim. Estão fazendo quimio. Já fiz a minha parte, sou cirurgião. Mas gosto de acompanhá-las, de distraí-las... São crianças.
- Entendi. Você é brilhante. - Falei, e ele sorriu.
- Não. Você é.
- Pare de dizer que isso tudo foi por mim. É você quem está fazendo, foi você que passou por uma faculdade de medicina e ainda trabalha em um hospital. Eu não fiz porra nenhuma. Você fez.
- Eu não teria feito, se não fosse por você. - Ele insistiu.
- Você não sabe disso, então o crédito é todo seu. – Falei, tranquila.
Entramos no elevador que tocava uma música ambiente suave. Ele ficou em silêncio, então continuei:
- Você é demais , e isso é mérito seu. Continua sendo esse cara que vale um milhão de dólares. Você merece isso.
Ele sorriu.
- Eu não valho um milhão de dólares. - Retrucou.
- Só uma pessoa que vale um milhão de dólares diria isso. - Respondi, rindo da cara que ele fez.
- Eu sou um fodido. - Disse, olhando para baixo.
- Fodido e brilhante.

2017 - I don't know what you do, It's unbelievable

seguiu indo sempre que possível no bar, me contava como estavam as crianças e como elas perguntavam por mim, insistindo que ele devia se casar comigo. Acabamos criando um vínculo agradável de amizade de bar, e não posso negar para mim mesma que eu estava tento uma queda por ele. Afinal, ele só era lindo, cheiroso, responsável, médico e divertido... Eu podia lutar contra isso, certo? Podia, mas não queria.
- O que você vai fazer hoje? - Perguntei, sem muita esperança.
- Nada. Geralmente eu venho pra cá, bebo uma cerveja pra espairecer e vou para casa dormir... O Plantão me consome muito tempo. - Ele respondeu. - Por quê? Quer fazer algo?
- Não sei. Não quero te atrapalhar, na verdade. - Falei, colocando uma mecha do meu cabelo rebelde para trás da orelha.
- Você não atrapalha, você me relaxa. Por que acha que venho para cá mesmo antes de saber que você era você? - Vi seus olhos seguindo minha mão no meu cabelo.
- Por causa da bebida? – Perguntei, óbvia.
- Claro que não. Você tem uma algo que me relaxa. Que me deixa tranquilo. - Admitiu ele, sorrindo. - Inclusive, você fica linda de cabelo solto. Me lembra a de 98.
- Também gosto de você de óculos. Me lembra o Otário.
- Então, quer fazer algo comigo quando fechar o bar? Não sei exatamente como se convida uma dona de bar para beber algo... Quer... Comer algo? Ver um filme?
Mordi o lábio inferior, sorrindo com a preocupação dele.
- Eu adoraria beber em meu próprio bar e comer um x-bacon enquanto vemos um filme na TV de 14 polegadas. O que me diz?
bebeu de sua cerveja e bateu com o copo no balcão.
- Temos um acordo então.
Ele ficou ali até o último cliente ir embora e eu fechar a porta de madeira pesada.
Servi-me com chopp e peguei uma garrafa da cerveja que ele costumava beber, saí de trás do balcão e sentei-me ao seu lado.
- Por conta da casa. - Disse, entregando a cerveja a ele.
estava lindo. Usava uma blusa dos Beatles preta, uma calça jeans surrada e um tênis preto nos pés. A roupa era simples, assim como ele... Mas eu não conseguia negar que ele tinha um charme, principalmente de óculos. Me dava um sentimento ótimo de nostalgia.
- Muito obrigado. - Ele levantou a cerveja para brindarmos.
Brindamos, e eu bebi um gole do chopp. Como eu precisava de álcool.

A cada palavra que saía da boca de , eu sentia meu corpo pulsar. Depois de algumas horas conversando e bebendo, eu já olhava descaradamente para seus lábios, desejando eles colados aos meus. Era inacreditável como o corpo dele tinha poder sobre o meu. Cada vez que ele empurrava os óculos para cima, eu prendia a respiração.
Nós tínhamos assunto para tudo. Falamos sobre meu bar e como eu cheguei naquele patamar, falamos sobre o seu emprego, sobre nossos filmes favoritos e bandas, sobre bonecos ventríloquos, palhaços e mais coisas que me assustavam, falamos sobre qualquer coisa que viesse em nossa mente. A conversa simplesmente fluía.
- . - Chamei-o. Ele parou o que estava falando e olhou-me com atenção. - Você é gay?
- Não! Caralho, por que você pensaria isso?! - Perguntou ele, visivelmente nervoso.
- Porque eu quero te beijar, mas não quero que seja estranho. – Falei, olhando em seus olhos. Ele empurrou seus óculos otários para trás uma última vez.
- Meu Deus, , eu quero te beijar desde a primeira vez que entrei nesse bar e te vi do outro lado do balcão conversando com aquele cara. - Me aproximei dele. Seu cheiro me arrebatando com força.
- Posso fazer isto então? – Perguntei, ansiosa, fitando seus lábios úmidos e carnudos que me encaravam. Ele sorriu, mostrando seus dentes perfeitos antes de me puxar pela cintura. Passei minhas mãos por seu pescoço e deixei-as em sua nuca. Colei nossos lábios com vontade, sua boca estava gelada pela cerveja, senti os pelinhos do meu braço se arrepiarem, separei nossas bocas. Olhei em seus olhos, vendo que ele queria o mesmo que eu. Tirei seus óculos, coloquei no balcão.
abriu as pernas para que eu me encaixasse no meio delas, segurou meu rosto com suas mãos e colou nossas bocas mais uma vez. Fechei meus olhos, sentindo minhas pernas fraquejarem quando sua língua entrou em minha boca, fazendo minha pele se arrepiar mais uma vez. Puxei seu cabelo com uma mão, enquanto a outra agarrava sua cintura com força, seus lábios eram macios e sua língua sabia muito bem o que estava fazendo, não parecia nem um pouco o de 98.
Suas mãos seguiram de minha nuca para minha cintura, e da cintura para minha bunda, onde ele pegou impulso e me colocou sobre o balcão, derrubei um copo, mas não me importei muito. Descolei nossos lábios, e comecei a dar beijos em seu queixo, seguindo para seu pescoço, enquanto ouvia ele puxar o ar pelos dentes. Pude jurar que ouvi ele soltar uns palavrões, mas podia ser coisa da minha mente pervertida. Senti seus dedos frios tocarem minha pele por baixo de minha blusa. Dedos ágeis que arrepiavam minhas costas e barriga, fazendo-me suspirar de tesão, imaginando o que aqueles dedos podiam fazer comigo.
Suguei seu pescoço, roçando minha virilha na sua barriga, já que o balcão era mais alto do que deveria.
- Caralho. - Ouvi ele sussurrar. Fazendo com que minha pouca sanidade fosse para o beleléu. Colei nossos lábios de novo, dessa vez com fúria, sua língua misturando-se com a minha como se fosse uma só. Anos de paixão reprimida, sendo descontada em uma só noite. Suas mãos exploravam cada parte de pele que ele alcançava por baixo de minha blusa, até ele começar a levantá-la. Separamos o beijo para fazer aquela parte de pano voar longe. Sua boca desceu para meu colo, beijando e lambendo até onde ele conseguia. Meus gemidos reprimidos eram descontados em minha perna que não parava de apertar sua cintura. passou seu braço por baixo de minha bunda mais uma vez, e entendi que ele queria mudar de lugar. Agarrei-o com as pernas e, Deus, senti sua ereção roçando em minha vagina. Quase tive um orgasmo ali mesmo.
Eu precisava senti-lo. Era uma necessidade. Rocei nossas partes íntimas de propósito, vendo-o suspirar e sentar-me na mesa de sinuca, ali a altura era ideal. Puxei sua blusa para cima, vendo seu tronco semi definido à mostra. Soltei alguns beijinhos por ali e colei nossos lábios mais uma vez, sentindo aquela sensação da sua língua com a minha de novo. Que vício.
Suas mãos exploraram meu corpo novamente, indo do pescoço à minha virilha, onde ele massageou sobre o jeans apertado que eu usava. Ele guiou sua mão até o botão de minha calça e abriu-a com uma só mão.
- Você tem certeza disso? - Perguntou ele, entre um beijo e outro. - Se eu avançar essa etapa, não sei se posso voltar...
Em resposta, levei uma de minhas mãos até a fivela do meu sutiã e abri.
ficou sem palavras, admirando meu busto descoberto e prontamente agarrou meus seios com as mãos e lambeu-os, fazendo eu gemer sem piedade. Ele me empurrou, fazendo-me deitar na mesa de sinuca, ele subiu também, ficando por cima de mim.
- Não acredito que estou realizando o desejo de todos os caras que entram nesse bar.
- Que desejo? – Perguntei, entorpecida por suas mãos que massageavam meus seios.
- De transar com você na mesa de sinuca.
Soltei uma risada alta e terminei de tirar a minha calça para adiantar as coisas. Em seguida, comecei a desabotoar as calças dele. Sentindo o volume dele pulsar.
acariciou minha vagina por cima da calcinha, me fazendo gemer seu nome. Baixei sua calça com a sua ajuda e pude ver sua samba canção preta e seu pênis quase saltando para fora. Aquilo foi uma sensação de puro êxtase, minha boca salivou de tesão, e comecei a masturbá-lo, enquanto ele sugava meu seio e acariciava minha vagina delicadamente.
- . - Falei sem muita força. - , preciso sentir você.
Aquilo foi como um gatilho para ele. Mas antes que ele tirasse sua cueca e me fodesse como se não houvesse amanhã, ele retirou minha calcinha com delicadeza e admirou minha vagina. Passou seu dedo por toda a extensão, sem me penetrar. Brincou com meu clitóris, arrancando grunhidos do fundo de minha garganta. Ele sorriu e abaixou-se, dando uma lambida que me fez gritar, lambeu-me com maestria, meu tesão às alturas. A única coisa que pude fazer foi agarrar seus cabelos e gemer com todo aquele prazer que eu estava sentindo. Ele deslizou um dedo para dentro de mim, fazendo-me tremer. Gemi sem pudor, fechando os olhos com força, vendo que logo eu gozaria em sua boca, naqueles lábios magníficos. Senti o tremor aumentar, e minhas pernas perderem a compostura quando senti meu clímax chegando. viu que eu havia gozado, meu peito subindo e descendo sem ar, e sem esperar eu me recuperar, tirou seu pênis para fora e me penetrou. Senti minhas pernas formigarem de prazer, enquanto eu sentia seu membro deslizar por minha intimidade extremamente molhada. Ouvi seus gemidos em meu ouvido, e logo depois senti sua língua em meu pescoço, minha pele se arrepiando novamente.
Seu pênis deslizava para dentro de mim com força e velocidade, cravei minhas unhas em seu ombro e gemi, fechando os olhos fortemente. Beijei seu pescoço, mordi o lóbulo de sua orelha e senti meus pés formigando de prazer. Meus músculos contorcendo-se de prazer, ouvindo seus gemidos em meu pescoço.
- ... Caralho... - Ele disse, sem muito nexo.
Ele me penetrou com mais força, se é que era possível, e eu senti meu clímax chegando mais uma vez.
- , eu vou... - Não consegui terminar a frase, sentindo minha perna dar espasmos incontroláveis. Agarrei-me em seus cabelos e gozei.
Sua respiração era tão pesada quanto a minha e seu corpo estava coberto de suor, como o meu. Abri meus olhos e vi ele sorrindo para mim. Ele havia gozado junto comigo. Ele beijou meus lábios e desmoronou ao meu lado.
- Isso... Foi... Foda. – Falei, rindo e respirando pesado ainda.
Ele concordou com a cabeça.

2018 - I love you honey, I'm ready to go

Um ano depois desse reencontro, me chamava para ver as crianças toda semana. Durante meses ficávamos negando que éramos namorados... Até o momento que finalmente aceitamos a insistência das crianças. Eu amava aquele Otário.
E tenho bastante certeza de que ele me amava também.

If you're going crazy
Just grab me and take me


Fim.



Nota da autora: Então, espero que tenham gostado! Essa música me lembrava muito os filmes da franquia 007. Até cogitei a ideia de fazer algo nesse sentido, mas não queria fazer uma fic com um cara rico, gostosão, no maior estilo Christian Grey, pois isso não é muito a minha praia. Então fiz um cara que vale um milhão de dólares sem ser o “Pintudo Smith” pra variar. Obrigada por terem chegado até aqui, leiam as outras histórias e comentem!! <3

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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