Capítulo Único
Com um buquê na mão, o flash da câmera quase cegou , que desejou com todas as forças que não saísse com os olhos fechados na foto.
― Ok, essa está ótima! ― ela respirou de alívio ao ouvir essas palavras saírem da boca do fotógrafo.
― Acalme-se, meu amor, você é a noiva mais linda do universo. ― , o homem ao seu lado e seu noivo, fez um carinho reconfortante no seu ombro.
― Bem, tecnicamente, não sou uma noiva ainda, só daqui quatro meses. ― ela o corrigiu, recebendo uma risada e um olhar sedutor como resposta.
― Ah, mas com esse vestidinho e essa carinha linda eu poderia casar agora mesmo. ― ele pôs as mãos na cintura da noiva e encostou a testa na sua, suspirando.
― , estamos no meio de um ensaio fotográfico, contenha-se. ― falou baixinho, mas uma maneira um tanto quanto sedutora.
O homem riu novamente e, antes que pudesse largá-la, sentiram o forte flash da câmera em seus olhos, olhando com desconfiança para o fotógrafo.
― Sinto muito, mas do jeito que vocês estavam, não pude resistir tirar uma! ― justificou-se, quase derretendo de amores pelo casal. ― Foi a melhor foto até agora, na minha opinião.
Surpresos, o casal se encarou mas, ao invés de reclamarem, apenas acreditaram na palavra do talentoso fotógrafo que contrataram e continuaram com o ensaio. estava se sentindo maravilhosa naquele dia. Mesmo sendo um tanto quanto tímida, ao mesmo tempo era narcisista e adorava se arrumar e tirar fotos, especialmente com aquele vestido branco, longo e discreto ― mesmo não sendo seu vestido de noiva de verdade ― no meio de um dos parques mais bonitos de Manchester.
Terminada a sessão, e viram umas pequenas prévias das fotos que tiraram e, após sentirem-se satisfeitos, foram para seu apartamento.
O estresse dos últimos meses com a organização da cerimônia de casamento era indescritível, mas para , valia a pena. Só de olhar para o homem ao seu lado já lhe dava vontade de organizar 50 casamentos. Como ela conseguiu agarrar um modelo daqueles, alto, ruivo, forte e, acima de tudo, romântico e educado? Nem ela sabia. Mas pelo menos era garantido que ele sairia bem em todas as fotos dos dois pelo resto das suas vidas.
Já em suas roupas normais, apareceu com óculos escuros de aviador, um jeans preto, uma blusa branca e sua jaqueta jeans azul pendurada em seu ombro.
― Ok, tenho que ir trabalhar agora. ― avisou e tentou dar um selinho na noiva, que recusou.
― Nãoooo! ― ela soava como uma criança mimada, logo colocando as mãos na blusa dele. ― Fique.
Foi extremamente difícil para resistir ao beicinho de , presente naqueles lábios rosados de batom e muito, muito deliciosos.
― Ah amor, você sabe que não posso. ― ele também fez biquinho e colocou as mãos no quadril da mulher. ― Mas é tentador.
― É, mas você já trabalhou. Você é um modelo e recém saiu de um ensaio fotográfico, qual é! ― ela tentou insistir, mas para sua tristeza, isso não funcionou.
― Eu prometo que voltarei logo, logo. ― disse, beijando a ponta do nariz de e colocando uma mecha de seu cabelo preto como a noite atrás de sua orelha. ― Eu te amo, .
― Eu também te amo, . ― ela abriu um sorriso bobo e voltou a falar enquanto o assistia ir embora. ― Tenha um bom trabalho!
abriu um sorriso antes de seguir seu caminho até a garagem do prédio e, em seguida que entrou no carro, para o estúdio de fotografia para ser o rosto da nova campanha a qual tinha sido designado.
Chegando no prédio enorme da Virtuous Magazine, retirou os óculos e anunciou-se para o recepcionista, que o informou o andar onde ele teria sua sessão de fotos para um editorial da revista.
Normalmente, ele foi até o elevador e apertou o botão número “6”, mas antes que as portas fechassem, uma mulher loira apareceu correndo como um furacão, mesmo usando saltos e aparentemente uma roupa bem justa. Assim que ela parou e agradecer por ter segurado o elevador quando a viu correndo, ele teve a plena visão de quem ela era. E, naquele momento, ele pôde observar no espelho o quão pálido ele estava.
Aquela mulher era Francesca Corden. Sua ex-esposa.
não sabia o que sentir além de surpresa e apavoramento. Qualquer um que o visse poderia jurar que ele acabara de ver um fantasma. Entretanto, ela não pareceu tão desconfortável quanto ele.
― ! ― ela o cumprimentou com alegria. ― Por que você está aqui?
Ele ficou sem responder por uns minutos, ainda processando a presença dela ali.
― Hã... eu... ― o coitado estava mais confuso do que nunca. ― A campanha da S&M.
― Ai meu Deus, que coincidência, vou fazer parte da campanha também! ― Francesca colocou a mão no peito e parecia mais feliz do que nunca. ― Isso vai ser divertido.
Não, não seria divertido. mal sabia o porquê de ela estar tão animada, considerando que o término e o divórcio foram caóticos. Eles casaram quando tinham apenas vinte e dois anos, com suas carreiras de modelos recém decolando. Foram enganados pelo momento e pelo encantamento que sentiram em seus primeiros meses de namoro, pois quando o casamento chegou, foi um inferno. Brigavam por qualquer coisinha, tinham crises de ciúmes até com o carteiro ou com a figurinista, até que a coisa toda explodiu e sentiram a necessidade de se separarem.
Mas a presença dela ainda o abalava. Ela tinha sido o primeiro relacionamento real de , a primeira pessoa a qual ele se apaixonou. E o jeito que eles deixaram as coisas no relacionamento não ajudava.
Ele não disse mais nada até o elevador parar no andar designado e nem no caminho para o camarim. Era uma campanha um tanto quanto... íntima. tinha sido informado que faria o par de outra modelo, mas não fazia ideia que a “outra modelo” seria sua ex.
Contrariado, e um pouco chocado, executou seu trabalho perfeitamente, afinal não poderia fazer nada sobre aquilo. Entretanto, decidiu não falar nada para , pois sabia que ela não gostaria de tudo aquilo. Ela sabia da história do noivo com Francesca, sabia o que ele passou durante o divórcio ― já que foi nessa época que o casal se conheceu.
Mas mal sabia ele que omitir o acontecimento do seu dia para sua noiva seria um tiro no pé e daria muito errado.
(...)
Era um bom dia em Manchester. Em pleno início de Fevereiro, um mês muito frio e nebuloso, o sol brilhava forte e o céu estava aberto e num tom de azul incrível. Esse tempo inspirou a voltar do trabalho à pé, considerando que a distância da loja que gerenciava e do prédio em que morava não era grande.
Na calçada, caminhava calmamente até avistar uma banca de jornais e revistas, interessando-se pela capa da edição do mês da Virtuous Magazine, que continha uma noiva na capa. Alguma celebridade qualquer havia casado e na revista encontrava-se dicas inspiradoras para casamentos. Nesse tempo da sua vida, nunca poupava seu dinheiro com revistas com esse tipo de conteúdo, então não deixou de comprá-la.
Parando por alguns minutos para folhear, surpreendeu-se com um editorial da S&M, uma marca de roupas e acessórios de couro, exclusiva para a Virtuous. Lá estavam fotos do seu noivo modelando, e uau, ele estava muito gostoso naquelas fotos, usando jaquetas estilosas sem nada por baixo enquanto montava numa moto. Havia uma loira com em quase todas as fotos e, embora estivesse acostumada com isso, ela parecia familiar para , incomodando-a.
Até que a última página do editorial apareceu e nela, em letras minúsculas, dizia:
“Modelos: e Francesca Corden”.
Ao ler o último nome, ficou boquiaberta e mal conseguiu acreditar que aquilo estava acontecendo. Não apenas seu noivo fez uma campanha com sua ex-esposa ― com fotos em que as poses eram um tanto quanto sensuais ―, ele escondeu isso dela. O primeiro fato não a assustaria tanto se não combinado com o segundo. tinha consciência de que aquilo era o trabalho dele e que em noventa por cento das vezes não interferia na sua vida pessoal, mas omitir isso dela?
sabia toda a história deles. Conheceu quando ele pousou para uma propaganda de sua loja, e na época ele estava se divorciando de Francesca. Eles se conheceram aos vinte e dois, se apaixonaram perdidamente, casaram antes mesmo dos vinte e três e, quando tomaram esse passo, o desencantamento não demorou a chegar e se separaram aos vinte e cinco, finalizando o divórcio aos vinte e seis. Dessa vez, com , ele esperou quatro anos de namoro para pedi-la em casamento, tomando mais cuidado. A atual noiva sabia que o relacionamento de com a ex era turbulento e que foi muito intenso, que o afetou de formas indescritíveis, mas nunca esperou que ele fosse esconder isso dela, afinal, por acaso ele tinha uma razão para isso?
Sem nem pensar mais, marchou até sua moradia com a expressão fechada e sem parar por nada. Céus, ela odiava que seu dia, que estava perfeitamente bom, tinha sido arruinado por algo assim.
Assim que abriu a porta do apartamento, já viu o rosto o qual não estava com paciência para aturar no momento. estava sentado no sofá, assistindo Criminal Minds enquanto saboreava uma maçã e, quando ouviu a porta se abrindo, se virou para ver quem era.
― Oi, amor. Como foi o trabalho? ― o sorriso que ele abriu, em qualquer outro dia, faria derreter como um sorvete numa tarde de verão, sentar em seu colo e desabafar sobre clientes mal-educados e fornecedores atrasados, mas não naquele dia. Ao invés disso, ela cruzou os braços e o encarou com um tanto de fúria.
, sabendo que de mau humor era uma má notícia, tirou o sorriso do rosto e a olhou com preocupação.
― O que aconteceu? ― perguntou.
respirou fundo, com os olhos fechados, e fechou a porta de entrada, para depois abrir a revista e mostrá-lo a página com uma foto dele e de Francesca. não sabia o que faz naquele momento, além de ficar parado e olhando para os lados, se fazendo de tonto, algo que a noiva simplesmente odiava.
― Não vai falar nada? ― ela questionou, sem aumentar o tom, mas com uma expressão que já tinha conhecimento de que era capaz de matá-lo.
― Eu sabia que você reagiria dessa maneira. ― ele suspirou e saiu do sofá, mas apenas para colocar o restante da maçã no lixo.
― Reagiria dessa maneira a o que? A você fazendo um ensaio fotográfico com sua ex ou por mentir? Porque honestamente, eu estou muito mais furiosa pelo segundo item. ― observava o noivo andar de um lado para o outro com certa indignação, já que ele nem se incomodava em abrir a boca. ― Fale comigo, !
― Eu não menti para você, ! Eu só... ― ele tentou achar alguma palavra adequada para dizer, mas não achou nenhuma que coubesse naquele momento, então só conseguiu ficar calado.
― Você só o que, ? Omitiu? Porque para mim isso é tão ruim quanto mentir. ― ficava cada vez mais furiosa, mas , também não sendo uma pessoa fácil, não baixou a cabeça como deveria numa situação daquelas.
― Se você está preocupada com a possibilidade de algo ter acontecido, relaxa, nada aconteceu. ― ele tentou a acalmar, mas mesmo assim não funcionou.
― Eu não estaria preocupada se você tivesse me falando quando esse ensaio aconteceu, mas já que escondeu, algo deve estar errado.
― Nada aconteceu, ! ― pôs as mãos no peito. ― Eu juro, eu só não te contei porque não queria que você ficasse brava ou com ciúmes.
― Bem, não funcionou, porque não me contando eu só fiquei ainda mais brava! ― ela respirou fundo e começou a massagear as próprias têmporas. ― Eu não sei como encarar isso, . Não sei como me sentir sobre isso. Preciso de um tempo.
encarou e seu inegável estado confuso e perturbado. Conhecendo ela, sabia que não havia nada que poderia fazer além de dá-la algum tempo para pensar, pois nenhuma palavra era capaz de mudar sua mente. Todas as suas brigas foram assim. A única pessoa capaz de curá-la e consolá-la era ela mesma.
― Ok, eu só... Eu vou te dar tempo para pensar então, se é o que quer... ― um tanto quanto triste, ele disse. ― Vou pegar algumas coisas e ir para a casa do meu irmão. Volto amanhã ou quando você se decidir como quer lidar com isso.
cruzou os braços e assentiu, mas o coração do noivo quebrou quando viu seu mar de olhos azuis preenchidos por lágrimas que ela teimava em não deixarem cair. Entretanto, ele apenas preparou sua mochila e a pendurou, e a única coisa que fez antes de sair foi dar um beijo na testa de , que possuía nenhum brilho no olhar enquanto assistia televisão, e continuou perplexa após receber o gesto de .
Pelo resto do dia, sua felicidade do começo já havia dissipado em mais de cem por cento. A mulher ficou de bruços no sofá, assistindo a uma série de culinária qualquer num daqueles canais de tv por assinatura que quase ninguém vê mas que sempre está disponível na programação.
ficou por quase duas horas desse jeito, deitada de maneira estática naquele móvel desconfortável até decidir levantar-se para fazer um jantar para si mesma. Sem vontade, caminhou até a cozinha e abriu a geladeira para ver o que havia dentro dela, mas alguns segundos depois sentiu o celular em seu bolso da calça jeans vibrar e a música Raise Your Glass da P!nk tocar, indicando que alguém estava a ligando.
Estranhou ao observar o número não salvo, porém com o mesmo DDD da cidade. Passou o dedo e pôs o celular em seu ouvido, curiosa com o que se tratava.
― Alô?
― Aqui é do St. ’s Hospital. Posso falar com , por favor? ― uma voz um tanto quanto profissional e séria foi percebida, já preocupando .
― É ela. ― respondeu, já sentindo o coração bater mais rápido quando ouviu que a ligação vinha de um hospital.
― , consta aqui que você é o contato de emergência para ... ― antes que a mulher do outro lado da linha pudesse falar mais, já poderia saber que algo tinha dado muito errado.
― Sim, ele é o meu noivo. O que aconteceu? ― ela já perguntou diretamente.
― Senhorita , seu noivo sofreu um acidente de carro há cerca de uma hora. Ele está com diversos ossos quebrados, algumas costelas, vários cortes profundos e uma parte das ferragens perfurou parte de seu abdômen, ele se encontra em estado grave e entrou em cirurgia imediatamente, mas precisará de vários tratamentos...
involuntariamente ensurdeceu-se após ouvir algumas palavras da atendente no outro lado do telefone, que embora falasse de maneira tranquila e despreocupada, não a acalmou de jeito algum. Tentando captar o resto de seu recado, sem sucesso, ela praticamente escorregou até o chão e deixou as lágrimas caírem feito uma cachoeira.
Sua cabeça doía. Seu coração se partia. Sua mente não entendia. Nada daquela situação parecia real, absolutamente nada. Seu corpo, consumido pelo choque, não parecia funcionar apropriadamente. Sua falta de ar era inexplicável, e a torneira que eram seus olhos não se fechavam nunca, além de suas pernas que se recusavam a apoiá-la em pé como deveriam.
― Ele está no quarto 306... ― foi a única parte da ligação em que conseguiu prestar atenção antes de desligar para ter um momento em paz.
Na verdade, paz não. Ela não teria paz até que melhorasse, nem um pouquinho. Abraçada em suas próprias pernas, sabia que precisaria apanhar o telefone novamente para avisar os pais e o irmão de , além de sua própria mãe. Teria que levantar, ir ao hospital e cuidar de tudo.
Ela teria que ser forte.
Três anos e meio antes...
“ alisou seu vestido enquanto se olhava no espelho. Era lindíssimo, de cor vermelho-escuro, longo e com pequenas aberturas nos lados onde ficava sua cintura. Naquela época, seu cabelo preto ainda era longo, com ondas que caíam perfeitamente. Mal tinha aberto sua primeira loja, estava namorando provavelmente o cara mais lindo que ela já tinha conhecido, que coincidentemente foi o modelo de sua primeira campanha, e sua vida estava ótima em muitos sentidos. Contudo, aquele dia em si foi destinado a deixar a mulher nervosa; conheceria os pais, tios, irmãos, primos e avós de , todos ao mesmo tempo, já que era o dia do casamento de sua irmã mais velha.
Sem perceber ou estar preparada para isso, sentiu os braços fortes e reconfortantes do namorado em sua volta, beijando o topo de sua cabeça, fazendo cada pedacinho de seu corpo relaxar.
― Está pronta? ― ele perguntou, sussurrando em seu ouvido.
― E-Eu não sei... ― respondeu, um tanto quanto nervosa, mordendo seus lábios com batom rosa.
― Ei, não se preocupe. ― fez ela virar de frente para ele, para que olhasse no fundo de seus olhos e escutasse suas palavras com atenção. ― Você é a mulher mais incrível que já conheci, e tenho certeza que a minha família vai sentir o mesmo.
sentiu seu coração aquecendo com aquelas palavras, abrindo um sorrisinho genuíno e ficando com os olhos mais brilhantes que nunca. Eles namoravam há apenas seis meses, mas já significava o mundo inteiro para ela.
― Eu te amo tanto, sabia? ― expressou, entrelaçando suas mãos na dele, que sorriu com o toque e as palavras dela.
― Eu também te amo, . Muito. ― ele retribuiu, selando seus lábios logo após, sem se importar se o batom rosa que ela usava o mancharia. Na verdade, mesmo que toda a maquiagem dela transferisse nele, não se importaria; tudo que valia para os dois era aquele momento, aquele amor, e um ao outro.”
(...)
Os corredores e o cheio de desinfetante tonteavam ainda mais do que já estava, mas precisava continuar andando. Ficou de se encontrar com a família de , tão preocupados e devastados quanto ela, mas precisavam conversar com a noiva dele e os médicos para realmente entender o que aconteceu.
Finalmente, encontrou os pais dele e seu irmão sentados em um banco, com expressões agonizantes e preocupadas, mas os três levantaram-se em sintonia quando botaram os olhos em .
― , querida, é tão bom te ver! ― a sogra, Theresa, a cumprimentou com um abraço apertado. ― Ainda estamos tentando compreender o que aconteceu.
Após cumprimentar o sogro e o cunhado, suspirou e olhou para eles, sentindo a maior culpa do universo. Teria que contar a história toda, como ela e brigaram feito por causa dele ter mentido sobre Francesca, como ele foi embora para ficar com o irmão até que se acalmasse e que se acidentou no meio do caminho. Se não fosse por ela, que foi tão dura com ele, nunca estaria naquela situação.
Então, ela contou. Cada detalhe. Adorava a família do noivo, e o sentimento era aparentemente recíproco, e o medo de que eles a julgassem pela briga era maior que tudo, porém eles mereciam a verdade.
―... E eu juro que pagarei por casa centavo das cirurgias e tratamentos que ele precisar, cuidarei do plano de saúde dele, tudo. Sinto muito, de verdade, nada disso estaria acontecendo se não fosse pela nossa briga. ― disse com grande pesar na voz e com um olhar extremamente triste, até sentir uma mão no ombro dela.
― Não se preocupe, . Vocês brigaram, qualquer casal briga, não se penalize por causa disso. Não é sua culpa. ― Josh, o irmão de , a confortou.
― É, e também ajudaremos com as despesas. Somos os pais dele, afinal. ― o sogro também tentou consolá-la, e os dois conseguiram.
― Muito obrigada, gente. Sério. ― ela agradeceu, colocando as mãos no meio do peito.
― Bem, agora tudo que temos para fazer é esperar e rezar. ― Theresa abraçou a nora, como uma forma de tentar fazer ela ficar mais confortável.
(...)
Algumas horas já tinham passado e já tinha feito boa parte de suas cirurgias de emergência. O médico liberou a visita ao quarto dele, mas decidiu que iria apenas depois dos pais dele. Sabia que, pela compaixão, pena e compreensão que os médicos e enfermeiros demonstravam a falar com ela, o estrago não tinha sido pequeno, e ela não estava pronta para ver o corpo destroçado do noivo, quando sua última lembrança dele foi uma briga.
A saída de seus sogros e cunhado dali foi seu pior pesadelo; sabia que teria que ser a próxima. Notando a dificuldade de para entrar, Josh lançou um olhar compadecido e deu dois tapinhas no ombro direito da mulher, algo que fez ela respirar fundo, fechar os olhos, mentalizar rapidamente algumas preces e entrar no quarto.
O barulho da máquina que registrava os batimentos cardíacos de pareciam ecoar na mente de , seu olhar teimava em ir apenas para a pintura branca do quarto ao invés do seu noivo machucado e o cheiro de produtos hospitalares impregnava suas narinas. Entretanto, alguns segundos depois aquilo precisou terminar, e quando seu olhos azuis migraram seu campo de visão para em uma maca, cheio de gessos, fios, sangue e tubos, eles se encheram de água imediatamente.
De repente, estava do mesmo jeito, ou até pior, que estava horas atrás, quando estava em seu apartamento e descobriu que havia sofrido um acidente. Seu joelhos voltaram a enfraquecer, sua mente voltou a se perturbar e suas mãos a tremer. Quando percebeu, estava ajoelhada no chão chorando como se suas linhas d’água fossem torneiras travadas com fonte de água infinita, sem ser possível seu fechamento ou esvaziamento.
― Sinto muito, , sinto tanto, tanto... ― ela repetia com a voz embargada, balançando seu corpo para frente e para trás. ― se eu soubesse que aquela briga resultaria nisso, ah se eu soubesse...
Toda vez que ela achava que pararia de chorar, voltava a encarar o corpo vulnerável e mais pálido do que nunca do noivo, cheio de machucados e precisando de ajuda para respirar, fazendo com que a sua situação piorasse.
Poucas horas e já não aguentava mais, imagina se aquilo durasse mais tempo? Como que ela conseguiria sobreviver? Como que seguiria em frente, trabalharia, riria, sorriria, sairia, sabendo que seu noivo estava com a vida por um fio, deitado numa cama de hospital sem apoio algum, depois que seu último encontro foi uma briga calorosa e séria?
Ela também não sabia, e nem queria saber.
Cinco meses antes...
“― Ok , você vai ter que me dizer agora o que está acontecendo ou eu te juro que pagará caro! ― ameaçava, mas não botava medo no namorado, que só conseguia ter vontade de rir de sua agressividade fofa enquanto usava uma máscara rosa com ursinhos nos olhos. Entretanto, teria que se segurar se quisesse manter a surpresa.
― Calma, meu amor. Só mais alguns segundos e... ― carinhosamente retirou a máscara de seus olhos. ― chegamos!
, primeiramente, ficou confusa; onde diabos eles estavam? Depois, percebeu; era o topo de um prédio, só não sabia qual, mas a vista era linda. Era possível observar toda a paisagem noturna de Manchester, uma imagem um tanto quanto inspiradora. Por último, voltou a ficar confusa; por que diabos eles estavam ali?
Talvez fosse o exagero de champanhe consumido durante o grande jantar de aniversário de quatro anos do casal, talvez fosse sua própria lerdeza, mas ficou tão ocupada olhando em volta pelo céu estrelado e os prédios igualmente altos cheios de luzes, que não percebeu que havia um homem ajoelhado atrás dela.
― Esse é o topo do prédio do estúdio Light&Flash, onde nos conhecemos e nos vimos pela primeira vez. ― ele disse, com o objetivo de fazer a mulher virar de costas para perceber sua presença.
Quando finalmente olhou para ele, o choque tomou conta do seu corpo. Podia ser lerda, mas não era burra. Mesmo ainda não mostrando uma caixa com anel dentro, já conseguia adivinhar o que significava ele ali, ajoelhado e delicadamente pegando suas mãos e falando sobre o dia em que se conheceram.
― , eu te amo, mas isso já não é novidade para você. Nós namoramos há quatro anos e nada do meu sentimento mudou. Quer dizer, estou mentindo, mudou sim, mas para o melhor. Meu amor por você evoluiu junto com o nosso relacionamento, amadureceu e ficou mais sério. Todos os dias em que acordo ao seu lado, eu sinto que aquilo seria o certo a se fazer todos os dias da minha vida. A decisão mais sábia que meu agente já fez foi marcar aquele ensaio fotográfico para a divulgação da sua loja, mas essa será a minha. ― ele tirou uma caixa de veludo branca do seu bolso, abrindo-a e revelando um incrível anel de ouro com pedras brilhantes de cor verde. ― Desde que te vi pela primeira vez, usando aquele vestidinho branco curto com a saia um tanto quanto esvoaçante, eu sabia que gostaria de te ver novamente com outro tipo de vestido branco. , quer se casar comigo?
Encantada com as palavras dele, com o seu gesto, com o ambiente e suas ações, derramou lágrimas de felicidade, sem se importar se elas borrariam sua maquiagem que demorara horas para terminar. Tudo que importava era e aquele momento maravilhoso e tocante, então não havia outra escolha de resposta:
― Sim! ― aceitou, jogando-se nos braços deles antes mesmo de receber o anel. ― Sim, sim, sim, mil vezes sim!
Aliviado, apaixonado e emocionado, a abraçou forte e logo colocou o anel no dedo dela. Ele ficou um pouco grande, mas aquilo não era relevante ― a sua nova noiva mandaria ajustar algumas semanas depois. O casal se beijou como se não houvesse amanhã, e eles até chegaram a acampar naquele topo, dormindo pelo resto da noite ali.
Ao nascer-do-sol, acordou e sua primeira visão foi o anel em seu dedo, e sua segunda foi o homem adormecido ao seu lado; homem esse que ela tinha toda a certeza do mundo que queria pelo resto da sua vida.”
(...)
Várias semanas já haviam se passado desde o acidente. fez várias cirurgias, mas, mesmo assim, ainda não tinha acordado, mesmo que seu quadro de saúde tivesse melhorado. A frustração tomava o corpo de , que só queria que as coisas voltassem a ser como antes.
Com o tempo corrido, ela precisou voltar ao trabalho e tentar retomar pelo menos um pouco de sua rotina, mas nada tirava sua mente da imagem do St ’s e sua vontade de estar lá. Não se orgulhava do atendimento que fornecia aos clientes da sua loja nos últimos dias, mas ela não conseguia pensar em mais anda além da possibilidade de acordar a qualquer momento. Na verdade, agora ela deveria estar concentrada, afinal sabia que era hora de uma das cirurgias do noivo, mas não conseguia; seu corpo estava fisicamente ali, mas sua alma estava naquele hospital.
Um exemplo disso foi um momento em que ela estava ajudando uma mulher a encontrar uma bota que ela gostasse, mas, assim que sentiu seu celular vibrando no bolso de sua calça, pediu licença e atendeu imediatamente.
― , venha aqui, rápido! ― Josh, o irmão de , parecia desesperado e não disse mais nada além daquilo, passando aquele sentimento para a cunhada.
Pedindo desculpas à cliente que atendera anteriormente e ordenando uma de suas funcionárias a assumir o posto, foi correndo para o hospital como um leopardo, se frustrando a cada sinal vermelho e faixa de pedestre que precisava parar.
Andando por aqueles corredores brancos, que agora conhecia tão bem, ela ansiava cada vez mais por um rosto familiar, até que viu os sogros com expressões aflitas e mãos dadas enquanto prestavam atenção no que o médico alto e sério falava.
“Sinto muito”, foi tudo que conseguiu extrair das palavras dele, já aflita que o pior poderia ter acontecido. Isso foi agravado quando viu Theresa afundar seu rosto no ombro do marido e começar a chorar.
Sem querer incomodar eles, a mulher confusa olhava de um lado para o outro, esperando que Josh aparecesse ali, até que sentiu uma mão em seu ombro que a fez pular.
― A cirurgia de deu errado, . ― ele noticiou, mais branco que um papel. ― Ele entrou em estado de coma.
Dois anos antes...
A almofada preta com triângulos vermelhos era esmagada por , que chorava litros de lágrimas após assistir “Um amor para recordar” pela centésima vez. estava lá, consolando-a enquanto acariciava as suas costas, mas, ao mesmo tempo, com vontade de rir. Namorava com ela há dois anos e já tinha visto aquele filme milhares e milhares de vezes, e sempre acabava chorando mais do que um bebê.
― Se você chora tanto assim por um filme que viu centenas de vezes, não quero nem imaginar como reagiria se eu morresse. ― ele comentou de brincadeira, não esperando que a namorada fosse olhar para ele com uma expressão incrédula e começasse a chorar mais.
― Não diga isso! ― pediu, ou melhor, ordenou.
― Tudo bem. ― riu fraco, mas depois de alguns minutos retomou o assunto. ― Porém, sério, como você reagiria se eu morresse?
― Bem, para começar, eu ficaria devastada e iria até o além para te arrastar de volta. ― ela sarcasticamente respondeu, contudo logo ficou séria. ― Mas eu não sei, . Eu realmente não sei como eu reagiria, só acontecendo para saber. Eu ficaria chocada, é claro, e muito, muito triste, só não sei como agiria diante disso.
― Ah, você não superaria. ― ele disse, com nariz empinado e atitude de superior.
― Aham. ― assentiu, semicerrando os olhos e se forçando a não rir do convencimento dele. ― Mas e aí, como você reagiria se eu morresse?
― Ficaria completamente perdido. ― dessa vez, foi sério e olhou em seus olhos. ― Não saberia como viver sem você.
― Bem, você vai ter aprender. ― fez biquinho. ― Eu quero ser a primeira.
― Não, eu quero ser o primeiro. ― ele teimou.
― , me prometa que eu serei a primeira. ― a namorada o encarou carinhosamente, então ele riu fraco e pousou a mão em cima da dela.
― Está bem, você vai ser a primeira. ― cedeu ao desejo de , sorrindo quando ela apoiou a cabeça em seu ombro.
Mal eles sabiam o que estava os aguardando.”
(...)
Nada na história do universo deixou tão aflita quanto a incerteza da continuidade da vida de seu noivo. Ela não estava nada preparada para aquilo, então desde que seu cunhado deu a notícia, a mulher não conseguiu sentir nada além de um terrível choque.
Muitos pensamentos corriam pela sua mente; o que faria sem ? Teria que cancelar o casamento ou deixar marcado, apenas no caso de ele melhorar? E ele melhoraria? E se vivesse, mas ficasse com alguma sequela, aquilo prejudicaria a carreira dele? Quantos dias aquela tortura continuaria?
Ela tentava visitá-lo, mas não enxergava nada além de lágrimas assim que abria a porta do quarto. Não conseguia continuar com a possibilidade de ter que viver sem ele, principalmente quando aquilo aconteceu tão... repentinamente. Entretanto, teria que ser forte e vê-lo algum dia.
E aquilo demorou tanto, mas tanto tempo para acontecer.
O quarto estava arrumado do mesmo jeito de sempre. Um aparelho ajudava , inconsciente, a respirar. Seus batimentos cardíacos estavam muito lentos, o que é claro que contribuiu para a paranoia de . Dessa vez, ela não chorou. Ela não se ajoelhou no chão ou saiu correndo do quarto. Dessa vez, ficaria ali, por ele.
sentou-se na cadeira ao lado da maca em que seu noivo estava deitado, e pegou na sua mão, tentando dizer as palavras que estavam entaladas em sua garganta há muito tempo, mesmo que ele estivesse desacordado e não as ouviria.
― Ei , lembra quando você me prometeu que eu seria a primeira a ir? ― ela começou, segurando suas lágrimas. ― Então, agora, você não está cumprindo essa promessa, e você sabe o quão séria eu sou em relação à promessas. Eu sei que isso não é sua culpa, mas... por favor, acorde. Espere alguns anos, no mínimo uns sessenta anos, e aí sim você poderá talvez quebrar essa promessa, mas não agora. Eu não aceito que você vá embora agora, . Nós ainda temos um casamento para ir, lembra? O nosso. Vou usar um vestido de princesa e você vai colocar seu terno e me esperar no altar, onde diremos “sim” para a opção de passarmos a vida inteira juntos. Mas, veja, não poderemos passar nossa vida inteira juntos se a sua for interrompida agora. Nós deveríamos casar, ter nossos filhos e viver num subúrbio com uma cerca e dois pastores alemães, chorar na formatura dos nossos filhos e os incentivar a serem pessoas boas. Então trate de melhorar e tirar essa sua linda bunda daí, porque se não for com você, não terei essa vida com ninguém mais. Será impossível imaginar outro te substituindo nesses sonhos, porque eu só comecei a ter esses sonhos quando você chegou na minha vida e, se você sair dela assim, tão repentinamente, não sei o que seria de mim.
Sua tentativa de impedir que as lágrimas rolassem foi falhada, porque segundos depois de falar tudo aquilo, suas bochechas aqueceram com aquela fonte. suavemente acariciou os cabelos loiros de e deu um beijo em sua testa pálida, até que sentiu alguma coisa.
Em um pulo, recuou e observou o corpo do noivo, enquanto um de seus braços começava a se mexer e seus olhos começavam a abrir, e tudo que ela conseguiu fazer foi ir até a porta do quarto e gritar por alguém.
― Algum enfermeiro, por favor! Ajuda! ― usava toda a força em seus pulmões, até que vários funcionários vieram, acompanhados pela família do paciente.
― O que está acontecendo, ? ― Josh perguntou.
― Acho que ele está acordado. ― disse, abrindo um sorriso de alívio sem perceber.
Após alguns minutos e análises de vários enfermeiros e médicos, o veredito veio. A família de e levantaram-se das cadeiras em que estavam sentados em sintonia, aflitos pela confirmação da melhora de .
― Ele está acordado. ― assim que ele disse isso, pôs as mãos no peito, Josh bateu palmas e os pais dele se abraçaram de felicidade. ― Já que ele estavam em um coma, pode ter sofrido algumas consequências, então teremos que mantê-lo em observação. Uma coisa que notamos é que sua voz está um pouco falhada e o canto direito de seu lábio inferior com alguns tremores, o que pode ter sido um dos efeitos, mas ainda não sabemos se ele é duradouro ou não, porém não afetará em nada na sua vida diária se for e a única coisa que aconteceu. De resto, parece bem e está chamando por uma “”.
― Ah, essa sou eu. ― a noiva alegremente anunciou, mas antes de ir consultou a família de . ― Mas se vocês quiserem ir primeiro, está tudo bem.
― Não querida, pode ir. Vocês precisam resolver algumas coisas. ― Theresa disse, sorrindo de forma carinhosa para a nora.
Então, novamente, andou até o quarto e delicadamente abriu a porta, logo notando o olhar lindo de em sua direção.
― Oi, sumida. ― ele disse, confirmando o que o médico disse para ; sua voz estava realmente falhada e seu lábio tremendo.
O plano dela era apenas ir calmamente até ele, sorrindo e sendo civilizada, mas não conseguiu. No momento em que o viu ali, vivo, acordado e olhando para ela, correu até ele e o abraçou ― ou sua maca.
― Não acredito que você está realmente acordado! ― emocionada, ela beijou sua bochecha. ― Sinto muito por tudo, . Tipo, demais. Nunca deveria ter reagido daquele jeito.
― Que isso, . Eu menti para você, você tinha toda a razão para ficar chateada. ― disse, quase perdendo o ar de tanto falar, fazendo a noiva ficar preocupada.
― Ei, descanse, não fale muito. Te quero vivo e bem até o casamento. ― ela exigiu, sorrindo e acariciando seu rosto, ou pelo menos a parte sem fios e equipamentos. ― Juro que nunca mais vou exagerar e vou passar a te ouvir mais.
― E eu juro que não vou mentir para você sobre coisas assim. ― disse, e foi possível ver que ele estava tentando formar um sorriso. ― Eu te amo, . Tanto.
― Eu também te amo muito, . ― retribuiu, ainda sem acreditar naquele milagre.
(...)
Três meses tinham se passado e, agora, aguardava nervosamente pelo aparecimento de . Vestido num terno, ao lado do padre, ele mal podia esperar por vê-la no vestido branco o qual ela fez tanto mistério sobre.
Ele se recuperou bem, aliás. O tremor no canto do lábio realmente foi um sequela, mas diminuía a cada dia. Ainda tinha que usar uma bengala por causa de seu joelho, mas com seu progresso na fisioterapia, logo se livraria daquilo também. até sugeriu que eles adiassem o casamento, achando que ele não conseguiria andar direito até o altar, mas insistiu. Depois de tudo, queria que ganhasse o casamento que queria.
Quando a banda começou a tocar a marcha nupcial e os convidados se levantaram, sentiu todo o seu corpo arrepiar. Contudo, essa sensação foi nada comparado ao que ele sentiu quando as portas da igreja se abriram e apareceu, com um vestido digno de uma princesa, os cabelos presos e um tanto quanto disfarçados pelo enorme véu e um sorriso que ofuscava todas as velas e lustres naquele lugar.
Enquanto caminhava até o altar, já chorando de emoção, tanto ela quanto sabiam que aquela vida não seria fácil. Seria cheia de altos e baixos, e alguns baixos poderiam parecer impossíveis de superar, mas eles passariam por tudo juntos. Afinal, era aquilo que importava e nada mais.
Então, eles deram início ao que seria apenas o começo. Aquilo não seria uma linha reta, seria cheia de curvas, mas ela nunca teria um fim.
― Ok, essa está ótima! ― ela respirou de alívio ao ouvir essas palavras saírem da boca do fotógrafo.
― Acalme-se, meu amor, você é a noiva mais linda do universo. ― , o homem ao seu lado e seu noivo, fez um carinho reconfortante no seu ombro.
― Bem, tecnicamente, não sou uma noiva ainda, só daqui quatro meses. ― ela o corrigiu, recebendo uma risada e um olhar sedutor como resposta.
― Ah, mas com esse vestidinho e essa carinha linda eu poderia casar agora mesmo. ― ele pôs as mãos na cintura da noiva e encostou a testa na sua, suspirando.
― , estamos no meio de um ensaio fotográfico, contenha-se. ― falou baixinho, mas uma maneira um tanto quanto sedutora.
O homem riu novamente e, antes que pudesse largá-la, sentiram o forte flash da câmera em seus olhos, olhando com desconfiança para o fotógrafo.
― Sinto muito, mas do jeito que vocês estavam, não pude resistir tirar uma! ― justificou-se, quase derretendo de amores pelo casal. ― Foi a melhor foto até agora, na minha opinião.
Surpresos, o casal se encarou mas, ao invés de reclamarem, apenas acreditaram na palavra do talentoso fotógrafo que contrataram e continuaram com o ensaio. estava se sentindo maravilhosa naquele dia. Mesmo sendo um tanto quanto tímida, ao mesmo tempo era narcisista e adorava se arrumar e tirar fotos, especialmente com aquele vestido branco, longo e discreto ― mesmo não sendo seu vestido de noiva de verdade ― no meio de um dos parques mais bonitos de Manchester.
Terminada a sessão, e viram umas pequenas prévias das fotos que tiraram e, após sentirem-se satisfeitos, foram para seu apartamento.
O estresse dos últimos meses com a organização da cerimônia de casamento era indescritível, mas para , valia a pena. Só de olhar para o homem ao seu lado já lhe dava vontade de organizar 50 casamentos. Como ela conseguiu agarrar um modelo daqueles, alto, ruivo, forte e, acima de tudo, romântico e educado? Nem ela sabia. Mas pelo menos era garantido que ele sairia bem em todas as fotos dos dois pelo resto das suas vidas.
Já em suas roupas normais, apareceu com óculos escuros de aviador, um jeans preto, uma blusa branca e sua jaqueta jeans azul pendurada em seu ombro.
― Ok, tenho que ir trabalhar agora. ― avisou e tentou dar um selinho na noiva, que recusou.
― Nãoooo! ― ela soava como uma criança mimada, logo colocando as mãos na blusa dele. ― Fique.
Foi extremamente difícil para resistir ao beicinho de , presente naqueles lábios rosados de batom e muito, muito deliciosos.
― Ah amor, você sabe que não posso. ― ele também fez biquinho e colocou as mãos no quadril da mulher. ― Mas é tentador.
― É, mas você já trabalhou. Você é um modelo e recém saiu de um ensaio fotográfico, qual é! ― ela tentou insistir, mas para sua tristeza, isso não funcionou.
― Eu prometo que voltarei logo, logo. ― disse, beijando a ponta do nariz de e colocando uma mecha de seu cabelo preto como a noite atrás de sua orelha. ― Eu te amo, .
― Eu também te amo, . ― ela abriu um sorriso bobo e voltou a falar enquanto o assistia ir embora. ― Tenha um bom trabalho!
abriu um sorriso antes de seguir seu caminho até a garagem do prédio e, em seguida que entrou no carro, para o estúdio de fotografia para ser o rosto da nova campanha a qual tinha sido designado.
Chegando no prédio enorme da Virtuous Magazine, retirou os óculos e anunciou-se para o recepcionista, que o informou o andar onde ele teria sua sessão de fotos para um editorial da revista.
Normalmente, ele foi até o elevador e apertou o botão número “6”, mas antes que as portas fechassem, uma mulher loira apareceu correndo como um furacão, mesmo usando saltos e aparentemente uma roupa bem justa. Assim que ela parou e agradecer por ter segurado o elevador quando a viu correndo, ele teve a plena visão de quem ela era. E, naquele momento, ele pôde observar no espelho o quão pálido ele estava.
Aquela mulher era Francesca Corden. Sua ex-esposa.
não sabia o que sentir além de surpresa e apavoramento. Qualquer um que o visse poderia jurar que ele acabara de ver um fantasma. Entretanto, ela não pareceu tão desconfortável quanto ele.
― ! ― ela o cumprimentou com alegria. ― Por que você está aqui?
Ele ficou sem responder por uns minutos, ainda processando a presença dela ali.
― Hã... eu... ― o coitado estava mais confuso do que nunca. ― A campanha da S&M.
― Ai meu Deus, que coincidência, vou fazer parte da campanha também! ― Francesca colocou a mão no peito e parecia mais feliz do que nunca. ― Isso vai ser divertido.
Não, não seria divertido. mal sabia o porquê de ela estar tão animada, considerando que o término e o divórcio foram caóticos. Eles casaram quando tinham apenas vinte e dois anos, com suas carreiras de modelos recém decolando. Foram enganados pelo momento e pelo encantamento que sentiram em seus primeiros meses de namoro, pois quando o casamento chegou, foi um inferno. Brigavam por qualquer coisinha, tinham crises de ciúmes até com o carteiro ou com a figurinista, até que a coisa toda explodiu e sentiram a necessidade de se separarem.
Mas a presença dela ainda o abalava. Ela tinha sido o primeiro relacionamento real de , a primeira pessoa a qual ele se apaixonou. E o jeito que eles deixaram as coisas no relacionamento não ajudava.
Ele não disse mais nada até o elevador parar no andar designado e nem no caminho para o camarim. Era uma campanha um tanto quanto... íntima. tinha sido informado que faria o par de outra modelo, mas não fazia ideia que a “outra modelo” seria sua ex.
Contrariado, e um pouco chocado, executou seu trabalho perfeitamente, afinal não poderia fazer nada sobre aquilo. Entretanto, decidiu não falar nada para , pois sabia que ela não gostaria de tudo aquilo. Ela sabia da história do noivo com Francesca, sabia o que ele passou durante o divórcio ― já que foi nessa época que o casal se conheceu.
Mas mal sabia ele que omitir o acontecimento do seu dia para sua noiva seria um tiro no pé e daria muito errado.
Era um bom dia em Manchester. Em pleno início de Fevereiro, um mês muito frio e nebuloso, o sol brilhava forte e o céu estava aberto e num tom de azul incrível. Esse tempo inspirou a voltar do trabalho à pé, considerando que a distância da loja que gerenciava e do prédio em que morava não era grande.
Na calçada, caminhava calmamente até avistar uma banca de jornais e revistas, interessando-se pela capa da edição do mês da Virtuous Magazine, que continha uma noiva na capa. Alguma celebridade qualquer havia casado e na revista encontrava-se dicas inspiradoras para casamentos. Nesse tempo da sua vida, nunca poupava seu dinheiro com revistas com esse tipo de conteúdo, então não deixou de comprá-la.
Parando por alguns minutos para folhear, surpreendeu-se com um editorial da S&M, uma marca de roupas e acessórios de couro, exclusiva para a Virtuous. Lá estavam fotos do seu noivo modelando, e uau, ele estava muito gostoso naquelas fotos, usando jaquetas estilosas sem nada por baixo enquanto montava numa moto. Havia uma loira com em quase todas as fotos e, embora estivesse acostumada com isso, ela parecia familiar para , incomodando-a.
Até que a última página do editorial apareceu e nela, em letras minúsculas, dizia:
“Modelos: e Francesca Corden”.
Ao ler o último nome, ficou boquiaberta e mal conseguiu acreditar que aquilo estava acontecendo. Não apenas seu noivo fez uma campanha com sua ex-esposa ― com fotos em que as poses eram um tanto quanto sensuais ―, ele escondeu isso dela. O primeiro fato não a assustaria tanto se não combinado com o segundo. tinha consciência de que aquilo era o trabalho dele e que em noventa por cento das vezes não interferia na sua vida pessoal, mas omitir isso dela?
sabia toda a história deles. Conheceu quando ele pousou para uma propaganda de sua loja, e na época ele estava se divorciando de Francesca. Eles se conheceram aos vinte e dois, se apaixonaram perdidamente, casaram antes mesmo dos vinte e três e, quando tomaram esse passo, o desencantamento não demorou a chegar e se separaram aos vinte e cinco, finalizando o divórcio aos vinte e seis. Dessa vez, com , ele esperou quatro anos de namoro para pedi-la em casamento, tomando mais cuidado. A atual noiva sabia que o relacionamento de com a ex era turbulento e que foi muito intenso, que o afetou de formas indescritíveis, mas nunca esperou que ele fosse esconder isso dela, afinal, por acaso ele tinha uma razão para isso?
Sem nem pensar mais, marchou até sua moradia com a expressão fechada e sem parar por nada. Céus, ela odiava que seu dia, que estava perfeitamente bom, tinha sido arruinado por algo assim.
Assim que abriu a porta do apartamento, já viu o rosto o qual não estava com paciência para aturar no momento. estava sentado no sofá, assistindo Criminal Minds enquanto saboreava uma maçã e, quando ouviu a porta se abrindo, se virou para ver quem era.
― Oi, amor. Como foi o trabalho? ― o sorriso que ele abriu, em qualquer outro dia, faria derreter como um sorvete numa tarde de verão, sentar em seu colo e desabafar sobre clientes mal-educados e fornecedores atrasados, mas não naquele dia. Ao invés disso, ela cruzou os braços e o encarou com um tanto de fúria.
, sabendo que de mau humor era uma má notícia, tirou o sorriso do rosto e a olhou com preocupação.
― O que aconteceu? ― perguntou.
respirou fundo, com os olhos fechados, e fechou a porta de entrada, para depois abrir a revista e mostrá-lo a página com uma foto dele e de Francesca. não sabia o que faz naquele momento, além de ficar parado e olhando para os lados, se fazendo de tonto, algo que a noiva simplesmente odiava.
― Não vai falar nada? ― ela questionou, sem aumentar o tom, mas com uma expressão que já tinha conhecimento de que era capaz de matá-lo.
― Eu sabia que você reagiria dessa maneira. ― ele suspirou e saiu do sofá, mas apenas para colocar o restante da maçã no lixo.
― Reagiria dessa maneira a o que? A você fazendo um ensaio fotográfico com sua ex ou por mentir? Porque honestamente, eu estou muito mais furiosa pelo segundo item. ― observava o noivo andar de um lado para o outro com certa indignação, já que ele nem se incomodava em abrir a boca. ― Fale comigo, !
― Eu não menti para você, ! Eu só... ― ele tentou achar alguma palavra adequada para dizer, mas não achou nenhuma que coubesse naquele momento, então só conseguiu ficar calado.
― Você só o que, ? Omitiu? Porque para mim isso é tão ruim quanto mentir. ― ficava cada vez mais furiosa, mas , também não sendo uma pessoa fácil, não baixou a cabeça como deveria numa situação daquelas.
― Se você está preocupada com a possibilidade de algo ter acontecido, relaxa, nada aconteceu. ― ele tentou a acalmar, mas mesmo assim não funcionou.
― Eu não estaria preocupada se você tivesse me falando quando esse ensaio aconteceu, mas já que escondeu, algo deve estar errado.
― Nada aconteceu, ! ― pôs as mãos no peito. ― Eu juro, eu só não te contei porque não queria que você ficasse brava ou com ciúmes.
― Bem, não funcionou, porque não me contando eu só fiquei ainda mais brava! ― ela respirou fundo e começou a massagear as próprias têmporas. ― Eu não sei como encarar isso, . Não sei como me sentir sobre isso. Preciso de um tempo.
encarou e seu inegável estado confuso e perturbado. Conhecendo ela, sabia que não havia nada que poderia fazer além de dá-la algum tempo para pensar, pois nenhuma palavra era capaz de mudar sua mente. Todas as suas brigas foram assim. A única pessoa capaz de curá-la e consolá-la era ela mesma.
― Ok, eu só... Eu vou te dar tempo para pensar então, se é o que quer... ― um tanto quanto triste, ele disse. ― Vou pegar algumas coisas e ir para a casa do meu irmão. Volto amanhã ou quando você se decidir como quer lidar com isso.
cruzou os braços e assentiu, mas o coração do noivo quebrou quando viu seu mar de olhos azuis preenchidos por lágrimas que ela teimava em não deixarem cair. Entretanto, ele apenas preparou sua mochila e a pendurou, e a única coisa que fez antes de sair foi dar um beijo na testa de , que possuía nenhum brilho no olhar enquanto assistia televisão, e continuou perplexa após receber o gesto de .
Pelo resto do dia, sua felicidade do começo já havia dissipado em mais de cem por cento. A mulher ficou de bruços no sofá, assistindo a uma série de culinária qualquer num daqueles canais de tv por assinatura que quase ninguém vê mas que sempre está disponível na programação.
ficou por quase duas horas desse jeito, deitada de maneira estática naquele móvel desconfortável até decidir levantar-se para fazer um jantar para si mesma. Sem vontade, caminhou até a cozinha e abriu a geladeira para ver o que havia dentro dela, mas alguns segundos depois sentiu o celular em seu bolso da calça jeans vibrar e a música Raise Your Glass da P!nk tocar, indicando que alguém estava a ligando.
Estranhou ao observar o número não salvo, porém com o mesmo DDD da cidade. Passou o dedo e pôs o celular em seu ouvido, curiosa com o que se tratava.
― Alô?
― Aqui é do St. ’s Hospital. Posso falar com , por favor? ― uma voz um tanto quanto profissional e séria foi percebida, já preocupando .
― É ela. ― respondeu, já sentindo o coração bater mais rápido quando ouviu que a ligação vinha de um hospital.
― , consta aqui que você é o contato de emergência para ... ― antes que a mulher do outro lado da linha pudesse falar mais, já poderia saber que algo tinha dado muito errado.
― Sim, ele é o meu noivo. O que aconteceu? ― ela já perguntou diretamente.
― Senhorita , seu noivo sofreu um acidente de carro há cerca de uma hora. Ele está com diversos ossos quebrados, algumas costelas, vários cortes profundos e uma parte das ferragens perfurou parte de seu abdômen, ele se encontra em estado grave e entrou em cirurgia imediatamente, mas precisará de vários tratamentos...
involuntariamente ensurdeceu-se após ouvir algumas palavras da atendente no outro lado do telefone, que embora falasse de maneira tranquila e despreocupada, não a acalmou de jeito algum. Tentando captar o resto de seu recado, sem sucesso, ela praticamente escorregou até o chão e deixou as lágrimas caírem feito uma cachoeira.
Sua cabeça doía. Seu coração se partia. Sua mente não entendia. Nada daquela situação parecia real, absolutamente nada. Seu corpo, consumido pelo choque, não parecia funcionar apropriadamente. Sua falta de ar era inexplicável, e a torneira que eram seus olhos não se fechavam nunca, além de suas pernas que se recusavam a apoiá-la em pé como deveriam.
― Ele está no quarto 306... ― foi a única parte da ligação em que conseguiu prestar atenção antes de desligar para ter um momento em paz.
Na verdade, paz não. Ela não teria paz até que melhorasse, nem um pouquinho. Abraçada em suas próprias pernas, sabia que precisaria apanhar o telefone novamente para avisar os pais e o irmão de , além de sua própria mãe. Teria que levantar, ir ao hospital e cuidar de tudo.
Ela teria que ser forte.
“ alisou seu vestido enquanto se olhava no espelho. Era lindíssimo, de cor vermelho-escuro, longo e com pequenas aberturas nos lados onde ficava sua cintura. Naquela época, seu cabelo preto ainda era longo, com ondas que caíam perfeitamente. Mal tinha aberto sua primeira loja, estava namorando provavelmente o cara mais lindo que ela já tinha conhecido, que coincidentemente foi o modelo de sua primeira campanha, e sua vida estava ótima em muitos sentidos. Contudo, aquele dia em si foi destinado a deixar a mulher nervosa; conheceria os pais, tios, irmãos, primos e avós de , todos ao mesmo tempo, já que era o dia do casamento de sua irmã mais velha.
Sem perceber ou estar preparada para isso, sentiu os braços fortes e reconfortantes do namorado em sua volta, beijando o topo de sua cabeça, fazendo cada pedacinho de seu corpo relaxar.
― Está pronta? ― ele perguntou, sussurrando em seu ouvido.
― E-Eu não sei... ― respondeu, um tanto quanto nervosa, mordendo seus lábios com batom rosa.
― Ei, não se preocupe. ― fez ela virar de frente para ele, para que olhasse no fundo de seus olhos e escutasse suas palavras com atenção. ― Você é a mulher mais incrível que já conheci, e tenho certeza que a minha família vai sentir o mesmo.
sentiu seu coração aquecendo com aquelas palavras, abrindo um sorrisinho genuíno e ficando com os olhos mais brilhantes que nunca. Eles namoravam há apenas seis meses, mas já significava o mundo inteiro para ela.
― Eu te amo tanto, sabia? ― expressou, entrelaçando suas mãos na dele, que sorriu com o toque e as palavras dela.
― Eu também te amo, . Muito. ― ele retribuiu, selando seus lábios logo após, sem se importar se o batom rosa que ela usava o mancharia. Na verdade, mesmo que toda a maquiagem dela transferisse nele, não se importaria; tudo que valia para os dois era aquele momento, aquele amor, e um ao outro.”
Os corredores e o cheio de desinfetante tonteavam ainda mais do que já estava, mas precisava continuar andando. Ficou de se encontrar com a família de , tão preocupados e devastados quanto ela, mas precisavam conversar com a noiva dele e os médicos para realmente entender o que aconteceu.
Finalmente, encontrou os pais dele e seu irmão sentados em um banco, com expressões agonizantes e preocupadas, mas os três levantaram-se em sintonia quando botaram os olhos em .
― , querida, é tão bom te ver! ― a sogra, Theresa, a cumprimentou com um abraço apertado. ― Ainda estamos tentando compreender o que aconteceu.
Após cumprimentar o sogro e o cunhado, suspirou e olhou para eles, sentindo a maior culpa do universo. Teria que contar a história toda, como ela e brigaram feito por causa dele ter mentido sobre Francesca, como ele foi embora para ficar com o irmão até que se acalmasse e que se acidentou no meio do caminho. Se não fosse por ela, que foi tão dura com ele, nunca estaria naquela situação.
Então, ela contou. Cada detalhe. Adorava a família do noivo, e o sentimento era aparentemente recíproco, e o medo de que eles a julgassem pela briga era maior que tudo, porém eles mereciam a verdade.
―... E eu juro que pagarei por casa centavo das cirurgias e tratamentos que ele precisar, cuidarei do plano de saúde dele, tudo. Sinto muito, de verdade, nada disso estaria acontecendo se não fosse pela nossa briga. ― disse com grande pesar na voz e com um olhar extremamente triste, até sentir uma mão no ombro dela.
― Não se preocupe, . Vocês brigaram, qualquer casal briga, não se penalize por causa disso. Não é sua culpa. ― Josh, o irmão de , a confortou.
― É, e também ajudaremos com as despesas. Somos os pais dele, afinal. ― o sogro também tentou consolá-la, e os dois conseguiram.
― Muito obrigada, gente. Sério. ― ela agradeceu, colocando as mãos no meio do peito.
― Bem, agora tudo que temos para fazer é esperar e rezar. ― Theresa abraçou a nora, como uma forma de tentar fazer ela ficar mais confortável.
A saída de seus sogros e cunhado dali foi seu pior pesadelo; sabia que teria que ser a próxima. Notando a dificuldade de para entrar, Josh lançou um olhar compadecido e deu dois tapinhas no ombro direito da mulher, algo que fez ela respirar fundo, fechar os olhos, mentalizar rapidamente algumas preces e entrar no quarto.
O barulho da máquina que registrava os batimentos cardíacos de pareciam ecoar na mente de , seu olhar teimava em ir apenas para a pintura branca do quarto ao invés do seu noivo machucado e o cheiro de produtos hospitalares impregnava suas narinas. Entretanto, alguns segundos depois aquilo precisou terminar, e quando seu olhos azuis migraram seu campo de visão para em uma maca, cheio de gessos, fios, sangue e tubos, eles se encheram de água imediatamente.
De repente, estava do mesmo jeito, ou até pior, que estava horas atrás, quando estava em seu apartamento e descobriu que havia sofrido um acidente. Seu joelhos voltaram a enfraquecer, sua mente voltou a se perturbar e suas mãos a tremer. Quando percebeu, estava ajoelhada no chão chorando como se suas linhas d’água fossem torneiras travadas com fonte de água infinita, sem ser possível seu fechamento ou esvaziamento.
― Sinto muito, , sinto tanto, tanto... ― ela repetia com a voz embargada, balançando seu corpo para frente e para trás. ― se eu soubesse que aquela briga resultaria nisso, ah se eu soubesse...
Toda vez que ela achava que pararia de chorar, voltava a encarar o corpo vulnerável e mais pálido do que nunca do noivo, cheio de machucados e precisando de ajuda para respirar, fazendo com que a sua situação piorasse.
Poucas horas e já não aguentava mais, imagina se aquilo durasse mais tempo? Como que ela conseguiria sobreviver? Como que seguiria em frente, trabalharia, riria, sorriria, sairia, sabendo que seu noivo estava com a vida por um fio, deitado numa cama de hospital sem apoio algum, depois que seu último encontro foi uma briga calorosa e séria?
Ela também não sabia, e nem queria saber.
― Calma, meu amor. Só mais alguns segundos e... ― carinhosamente retirou a máscara de seus olhos. ― chegamos!
, primeiramente, ficou confusa; onde diabos eles estavam? Depois, percebeu; era o topo de um prédio, só não sabia qual, mas a vista era linda. Era possível observar toda a paisagem noturna de Manchester, uma imagem um tanto quanto inspiradora. Por último, voltou a ficar confusa; por que diabos eles estavam ali?
Talvez fosse o exagero de champanhe consumido durante o grande jantar de aniversário de quatro anos do casal, talvez fosse sua própria lerdeza, mas ficou tão ocupada olhando em volta pelo céu estrelado e os prédios igualmente altos cheios de luzes, que não percebeu que havia um homem ajoelhado atrás dela.
― Esse é o topo do prédio do estúdio Light&Flash, onde nos conhecemos e nos vimos pela primeira vez. ― ele disse, com o objetivo de fazer a mulher virar de costas para perceber sua presença.
Quando finalmente olhou para ele, o choque tomou conta do seu corpo. Podia ser lerda, mas não era burra. Mesmo ainda não mostrando uma caixa com anel dentro, já conseguia adivinhar o que significava ele ali, ajoelhado e delicadamente pegando suas mãos e falando sobre o dia em que se conheceram.
― , eu te amo, mas isso já não é novidade para você. Nós namoramos há quatro anos e nada do meu sentimento mudou. Quer dizer, estou mentindo, mudou sim, mas para o melhor. Meu amor por você evoluiu junto com o nosso relacionamento, amadureceu e ficou mais sério. Todos os dias em que acordo ao seu lado, eu sinto que aquilo seria o certo a se fazer todos os dias da minha vida. A decisão mais sábia que meu agente já fez foi marcar aquele ensaio fotográfico para a divulgação da sua loja, mas essa será a minha. ― ele tirou uma caixa de veludo branca do seu bolso, abrindo-a e revelando um incrível anel de ouro com pedras brilhantes de cor verde. ― Desde que te vi pela primeira vez, usando aquele vestidinho branco curto com a saia um tanto quanto esvoaçante, eu sabia que gostaria de te ver novamente com outro tipo de vestido branco. , quer se casar comigo?
Encantada com as palavras dele, com o seu gesto, com o ambiente e suas ações, derramou lágrimas de felicidade, sem se importar se elas borrariam sua maquiagem que demorara horas para terminar. Tudo que importava era e aquele momento maravilhoso e tocante, então não havia outra escolha de resposta:
― Sim! ― aceitou, jogando-se nos braços deles antes mesmo de receber o anel. ― Sim, sim, sim, mil vezes sim!
Aliviado, apaixonado e emocionado, a abraçou forte e logo colocou o anel no dedo dela. Ele ficou um pouco grande, mas aquilo não era relevante ― a sua nova noiva mandaria ajustar algumas semanas depois. O casal se beijou como se não houvesse amanhã, e eles até chegaram a acampar naquele topo, dormindo pelo resto da noite ali.
Ao nascer-do-sol, acordou e sua primeira visão foi o anel em seu dedo, e sua segunda foi o homem adormecido ao seu lado; homem esse que ela tinha toda a certeza do mundo que queria pelo resto da sua vida.”
Várias semanas já haviam se passado desde o acidente. fez várias cirurgias, mas, mesmo assim, ainda não tinha acordado, mesmo que seu quadro de saúde tivesse melhorado. A frustração tomava o corpo de , que só queria que as coisas voltassem a ser como antes.
Com o tempo corrido, ela precisou voltar ao trabalho e tentar retomar pelo menos um pouco de sua rotina, mas nada tirava sua mente da imagem do St ’s e sua vontade de estar lá. Não se orgulhava do atendimento que fornecia aos clientes da sua loja nos últimos dias, mas ela não conseguia pensar em mais anda além da possibilidade de acordar a qualquer momento. Na verdade, agora ela deveria estar concentrada, afinal sabia que era hora de uma das cirurgias do noivo, mas não conseguia; seu corpo estava fisicamente ali, mas sua alma estava naquele hospital.
Um exemplo disso foi um momento em que ela estava ajudando uma mulher a encontrar uma bota que ela gostasse, mas, assim que sentiu seu celular vibrando no bolso de sua calça, pediu licença e atendeu imediatamente.
― , venha aqui, rápido! ― Josh, o irmão de , parecia desesperado e não disse mais nada além daquilo, passando aquele sentimento para a cunhada.
Pedindo desculpas à cliente que atendera anteriormente e ordenando uma de suas funcionárias a assumir o posto, foi correndo para o hospital como um leopardo, se frustrando a cada sinal vermelho e faixa de pedestre que precisava parar.
Andando por aqueles corredores brancos, que agora conhecia tão bem, ela ansiava cada vez mais por um rosto familiar, até que viu os sogros com expressões aflitas e mãos dadas enquanto prestavam atenção no que o médico alto e sério falava.
“Sinto muito”, foi tudo que conseguiu extrair das palavras dele, já aflita que o pior poderia ter acontecido. Isso foi agravado quando viu Theresa afundar seu rosto no ombro do marido e começar a chorar.
Sem querer incomodar eles, a mulher confusa olhava de um lado para o outro, esperando que Josh aparecesse ali, até que sentiu uma mão em seu ombro que a fez pular.
― A cirurgia de deu errado, . ― ele noticiou, mais branco que um papel. ― Ele entrou em estado de coma.
A almofada preta com triângulos vermelhos era esmagada por , que chorava litros de lágrimas após assistir “Um amor para recordar” pela centésima vez. estava lá, consolando-a enquanto acariciava as suas costas, mas, ao mesmo tempo, com vontade de rir. Namorava com ela há dois anos e já tinha visto aquele filme milhares e milhares de vezes, e sempre acabava chorando mais do que um bebê.
― Se você chora tanto assim por um filme que viu centenas de vezes, não quero nem imaginar como reagiria se eu morresse. ― ele comentou de brincadeira, não esperando que a namorada fosse olhar para ele com uma expressão incrédula e começasse a chorar mais.
― Não diga isso! ― pediu, ou melhor, ordenou.
― Tudo bem. ― riu fraco, mas depois de alguns minutos retomou o assunto. ― Porém, sério, como você reagiria se eu morresse?
― Bem, para começar, eu ficaria devastada e iria até o além para te arrastar de volta. ― ela sarcasticamente respondeu, contudo logo ficou séria. ― Mas eu não sei, . Eu realmente não sei como eu reagiria, só acontecendo para saber. Eu ficaria chocada, é claro, e muito, muito triste, só não sei como agiria diante disso.
― Ah, você não superaria. ― ele disse, com nariz empinado e atitude de superior.
― Aham. ― assentiu, semicerrando os olhos e se forçando a não rir do convencimento dele. ― Mas e aí, como você reagiria se eu morresse?
― Ficaria completamente perdido. ― dessa vez, foi sério e olhou em seus olhos. ― Não saberia como viver sem você.
― Bem, você vai ter aprender. ― fez biquinho. ― Eu quero ser a primeira.
― Não, eu quero ser o primeiro. ― ele teimou.
― , me prometa que eu serei a primeira. ― a namorada o encarou carinhosamente, então ele riu fraco e pousou a mão em cima da dela.
― Está bem, você vai ser a primeira. ― cedeu ao desejo de , sorrindo quando ela apoiou a cabeça em seu ombro.
Mal eles sabiam o que estava os aguardando.”
Nada na história do universo deixou tão aflita quanto a incerteza da continuidade da vida de seu noivo. Ela não estava nada preparada para aquilo, então desde que seu cunhado deu a notícia, a mulher não conseguiu sentir nada além de um terrível choque.
Muitos pensamentos corriam pela sua mente; o que faria sem ? Teria que cancelar o casamento ou deixar marcado, apenas no caso de ele melhorar? E ele melhoraria? E se vivesse, mas ficasse com alguma sequela, aquilo prejudicaria a carreira dele? Quantos dias aquela tortura continuaria?
Ela tentava visitá-lo, mas não enxergava nada além de lágrimas assim que abria a porta do quarto. Não conseguia continuar com a possibilidade de ter que viver sem ele, principalmente quando aquilo aconteceu tão... repentinamente. Entretanto, teria que ser forte e vê-lo algum dia.
E aquilo demorou tanto, mas tanto tempo para acontecer.
O quarto estava arrumado do mesmo jeito de sempre. Um aparelho ajudava , inconsciente, a respirar. Seus batimentos cardíacos estavam muito lentos, o que é claro que contribuiu para a paranoia de . Dessa vez, ela não chorou. Ela não se ajoelhou no chão ou saiu correndo do quarto. Dessa vez, ficaria ali, por ele.
sentou-se na cadeira ao lado da maca em que seu noivo estava deitado, e pegou na sua mão, tentando dizer as palavras que estavam entaladas em sua garganta há muito tempo, mesmo que ele estivesse desacordado e não as ouviria.
― Ei , lembra quando você me prometeu que eu seria a primeira a ir? ― ela começou, segurando suas lágrimas. ― Então, agora, você não está cumprindo essa promessa, e você sabe o quão séria eu sou em relação à promessas. Eu sei que isso não é sua culpa, mas... por favor, acorde. Espere alguns anos, no mínimo uns sessenta anos, e aí sim você poderá talvez quebrar essa promessa, mas não agora. Eu não aceito que você vá embora agora, . Nós ainda temos um casamento para ir, lembra? O nosso. Vou usar um vestido de princesa e você vai colocar seu terno e me esperar no altar, onde diremos “sim” para a opção de passarmos a vida inteira juntos. Mas, veja, não poderemos passar nossa vida inteira juntos se a sua for interrompida agora. Nós deveríamos casar, ter nossos filhos e viver num subúrbio com uma cerca e dois pastores alemães, chorar na formatura dos nossos filhos e os incentivar a serem pessoas boas. Então trate de melhorar e tirar essa sua linda bunda daí, porque se não for com você, não terei essa vida com ninguém mais. Será impossível imaginar outro te substituindo nesses sonhos, porque eu só comecei a ter esses sonhos quando você chegou na minha vida e, se você sair dela assim, tão repentinamente, não sei o que seria de mim.
Sua tentativa de impedir que as lágrimas rolassem foi falhada, porque segundos depois de falar tudo aquilo, suas bochechas aqueceram com aquela fonte. suavemente acariciou os cabelos loiros de e deu um beijo em sua testa pálida, até que sentiu alguma coisa.
Em um pulo, recuou e observou o corpo do noivo, enquanto um de seus braços começava a se mexer e seus olhos começavam a abrir, e tudo que ela conseguiu fazer foi ir até a porta do quarto e gritar por alguém.
― Algum enfermeiro, por favor! Ajuda! ― usava toda a força em seus pulmões, até que vários funcionários vieram, acompanhados pela família do paciente.
― O que está acontecendo, ? ― Josh perguntou.
― Acho que ele está acordado. ― disse, abrindo um sorriso de alívio sem perceber.
Após alguns minutos e análises de vários enfermeiros e médicos, o veredito veio. A família de e levantaram-se das cadeiras em que estavam sentados em sintonia, aflitos pela confirmação da melhora de .
― Ele está acordado. ― assim que ele disse isso, pôs as mãos no peito, Josh bateu palmas e os pais dele se abraçaram de felicidade. ― Já que ele estavam em um coma, pode ter sofrido algumas consequências, então teremos que mantê-lo em observação. Uma coisa que notamos é que sua voz está um pouco falhada e o canto direito de seu lábio inferior com alguns tremores, o que pode ter sido um dos efeitos, mas ainda não sabemos se ele é duradouro ou não, porém não afetará em nada na sua vida diária se for e a única coisa que aconteceu. De resto, parece bem e está chamando por uma “”.
― Ah, essa sou eu. ― a noiva alegremente anunciou, mas antes de ir consultou a família de . ― Mas se vocês quiserem ir primeiro, está tudo bem.
― Não querida, pode ir. Vocês precisam resolver algumas coisas. ― Theresa disse, sorrindo de forma carinhosa para a nora.
Então, novamente, andou até o quarto e delicadamente abriu a porta, logo notando o olhar lindo de em sua direção.
― Oi, sumida. ― ele disse, confirmando o que o médico disse para ; sua voz estava realmente falhada e seu lábio tremendo.
O plano dela era apenas ir calmamente até ele, sorrindo e sendo civilizada, mas não conseguiu. No momento em que o viu ali, vivo, acordado e olhando para ela, correu até ele e o abraçou ― ou sua maca.
― Não acredito que você está realmente acordado! ― emocionada, ela beijou sua bochecha. ― Sinto muito por tudo, . Tipo, demais. Nunca deveria ter reagido daquele jeito.
― Que isso, . Eu menti para você, você tinha toda a razão para ficar chateada. ― disse, quase perdendo o ar de tanto falar, fazendo a noiva ficar preocupada.
― Ei, descanse, não fale muito. Te quero vivo e bem até o casamento. ― ela exigiu, sorrindo e acariciando seu rosto, ou pelo menos a parte sem fios e equipamentos. ― Juro que nunca mais vou exagerar e vou passar a te ouvir mais.
― E eu juro que não vou mentir para você sobre coisas assim. ― disse, e foi possível ver que ele estava tentando formar um sorriso. ― Eu te amo, . Tanto.
― Eu também te amo muito, . ― retribuiu, ainda sem acreditar naquele milagre.
Três meses tinham se passado e, agora, aguardava nervosamente pelo aparecimento de . Vestido num terno, ao lado do padre, ele mal podia esperar por vê-la no vestido branco o qual ela fez tanto mistério sobre.
Ele se recuperou bem, aliás. O tremor no canto do lábio realmente foi um sequela, mas diminuía a cada dia. Ainda tinha que usar uma bengala por causa de seu joelho, mas com seu progresso na fisioterapia, logo se livraria daquilo também. até sugeriu que eles adiassem o casamento, achando que ele não conseguiria andar direito até o altar, mas insistiu. Depois de tudo, queria que ganhasse o casamento que queria.
Quando a banda começou a tocar a marcha nupcial e os convidados se levantaram, sentiu todo o seu corpo arrepiar. Contudo, essa sensação foi nada comparado ao que ele sentiu quando as portas da igreja se abriram e apareceu, com um vestido digno de uma princesa, os cabelos presos e um tanto quanto disfarçados pelo enorme véu e um sorriso que ofuscava todas as velas e lustres naquele lugar.
Enquanto caminhava até o altar, já chorando de emoção, tanto ela quanto sabiam que aquela vida não seria fácil. Seria cheia de altos e baixos, e alguns baixos poderiam parecer impossíveis de superar, mas eles passariam por tudo juntos. Afinal, era aquilo que importava e nada mais.
Então, eles deram início ao que seria apenas o começo. Aquilo não seria uma linha reta, seria cheia de curvas, mas ela nunca teria um fim.
Fim
Nota da autora: Oi, amores! Aqui estou eu, em mais um ficstape HAHAHA. Espero que tenham gostado, porque eu sei que AMEI escrever essa fic <3 Bem, qualquer erro de português ou script falem comigo, ok? Amo muito vocês e até a próxima! ^~^
Outras Fanfics:
Before The Sunset (Originais/Em andamento)
The Night We Met (Outros/Em andamento)
07. Gonna Get Caught (Ficstape #99: Don't Forget, Demi Lovato)
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