10. Talk To Me

Fanfic finalizada.

01 — Apenas Diga Sim


You look through
There on your face
The way that you say the things that you do
I've been through
All of the games
All of the ways that you been fooled


— Não há a menor possibilidade disso acontecer, . – Gritei exasperada, andava atrás de mim como uma barata tonta enquanto eu me recusava a assinar os papeis que havia em suas mãos.
— Mas, , essa pode ser a chance da sua vida, você vai ganhar uma comissão maravilhosa e ainda vai atuar ao lado do Chris Evans, seu ídolo, crush, amor de uma vida toda. – Ela tentava argumentar, bufei e parei no lugar e ela acabou esbarrando em mim.
— Não, isso está completamente fora de cogitação. – Virei-me de frente para minha melhor amiga e colega de apartamento e apertei na altura dos ombros. – Eu sou uma Chef de cozinha, entende? Não sou atriz, não sei cantar, sou a Chef de um bistrô. – Expliquei a ela como se ensinasse algo a uma criança.
, para de ser cabeça dura, Christopher Nolan foi pessoalmente no seu restaurante, isso é quase um evento. – Fiz careta, ela exagerava com tudo. – Ok, agora você vai me dizer que não ficou nenhum pouquinho tentada a trabalhar com o Evans?
, meu amor, entenda. Eu não sei nem se é pra ser par romântico dele, provavelmente eu vou ser a cozinheira que aparece uma vez na vida. – Ela me olhou como se esperasse um argumento melhor. — Antes que você me diga que isso é motivo o bastante para eu não ficar nervosa e aceitar a proposta, vou reforçar que não sou atriz e não quero participar de um filme.
— Mas...
— Nada de mas, eu não tenho talento pra isso, não quero ser lembrada de épocas da quais não me orgulho. – Apontei o dedo em sua direção impedindo que a mesma dissesse algo sobre as aulas de teatro que fiz anos atrás na época da faculdade. Ela ergueu as mãos e deu-se por vencida, ao menos foi o que pensei.
Deixei e seus devaneios na sala e segui para cozinha, o restaurante estava em polvorosa assim como todos os funcionários, Pierre e Javier discutiam sobre uma possível participação no filme quando me aproximei. Os dois me olharam ansiosos e eu me limitei a ignorá-los e focar na bancada de frutos do mar, era hora de preparar a moqueca que tanto me cobraram.
Essa história de ser atriz era loucura, tudo começara com uma visita inesperada do renomado diretor Chrispher Nolan na tarde de ontem, ele havia lido excelentes críticas sobre o Bistrô e viera provar do risoto de camarão que levara uma nota altíssima na última visita de crítica gastronômica. Eu estava satisfeita, depois de comer o diretor pediu para conhecer a Chef, e sendo assim fui até a mesa, o cumprimentei e agradeci aos elogios. No meio de todo assunto sobre ser fã de seu trabalho ele disse que precisava de uma Chef para treinar a atriz de seu próximo filme, um romance que contaria a história de uma Chef de restaurante que tinha problemas de autoestima e acabava se apaixonando por um importante e mulherengo advogado, que contrariando todos os padrões estabelecidos, também se apaixonava por ela. A trama teria Kate Hudson como a Chef, Charlize Theron como uma das conquistas do advogado, Sebastian Stan como melhor amigo do advogado e Chris Evans como personagem principal.
À princípio eu levei um susto, receber um convite desses não é pra qualquer um. Perguntei quanto tempo deveria durar o treinamento e de que tipo de culinária ele teria preferência, Nolan disse que eu teria um mês para transformar Kate em uma verdadeira Chef, o que é claro que não aconteceria se ela não tivesse muita disposição e alguma habilidade. Conversamos sobre o que ele tinha em mente e a forma como a personagem lidaria com seus funcionários quando ouvi o barulho de vidros estilhaçando, imediatamente me levantei e o vi fazer o mesmo, meus olhos esquadrinharam o salão rapidamente parando na mesa perto da porta da cozinha, Javier tinha o rosto pálido enquanto conversava com uma das clientes da mesa e tentava arrumar a bagunça que um copo quebrado fizera. Pedi licença ao diretor e corri para ajudar o garçom.
— Boa tarde, está tudo bem? – Perguntei sutil, a expressão no rosto de uma senhora de aproximadamente sessenta anos era assustadora. Ela parecia a madrasta da Cinderella, pronta para mandar a pobre garota ao quarto sem jantar.
— E você, quem é?
— Eu sou a Chef , dona do restaurante. – Me apresentei, sua feição mudou. – Posso ajudar com algo?
— Esse seu funcionário é um incompetente, quase derrubou a água em cima da minha neta. – Ela falava como se estivesse habituada a fazer esse tipo de cena, olhei em direção a garotinha que parecia ter uns oito anos, ela estava vermelha e parecia envergonhada. Sorri em sua direção.
— Você está bem, mocinha? – Perguntei, ignorando a forma como a avó da garota falava, ela assentiu. – Ótimo, então venha comigo, por favor. – De pronto a garota se pôs de pé, fiz um sinal chamando por Margareth, minha mais antiga funcionária e a Subchefe do restaurante. – Mag, leve essa linda mocinha para provar um dos nossos brigadeiros, acho que ela vai gostar. – Esperei a garota sumir de vista com Mag para retomar minha atenção a cliente que parecia a ponto de matar Javier, o pobre rapaz já havia recolhido os estilhaços e agora estava parado esperando alguma reação.
— Me perdoe, eu não sei o seu nome. – Comentei como quem não quer nada, ela me disse que se chamava Ursula, assenti. – Certo, dona Ursula, peço desculpas pelo inconveniente, mas Javier não é incompetente, ele é um ótimo funcionário e com certeza teve um ótimo motivo para este incidente. – Ela me estudou por alguns segundos, parecia ponderar se me xingaria ou simplesmente iria embora. Ouvimos a aproximação de Mag com a neta de Ursula, que sorria e segurava uma das bolinhas de chocolate em mãos. Ao ver a felicidade no rosto da neta a mulher pareceu se desarmar. – Espero que nos perdoe pelo incidente, muito obrigada por escolher o Brasilidade Bistrô. – Contrariando toda a situação a mulher assentiu e um sorriso mínimo surgiu em seu rosto, ela abriu a carteira e deixou alguma quantia dentro da pastinha com a conta. A pequenina acenou e após dar a mão para avó a puxou para fora, e então as duas partiram.
Quando me virei para retornar a mesa e me desculpar pelo sumiço dei de cara com Nolan parado atrás de mim, os braços cruzados se dissolveram em palmas.
— É disso que estou falando, vivacidade, doçura, tenacidade, leveza, pulso firme e jogo de cintura. – Franzi o cenho diante de suas palavras. – É isso que eu quero na minha protagonista, uma mulher de verdade com problemas de verdade, com gente de verdade. – Assenti um pouco alheia ao que se passava. Um segundo se passou antes que ele estalasse o dedo e começasse a vasculhar o bolso em busca de algo, quando o celular surgiu em sua mão ele destravou a tela digitou furiosamente. Olhei por sobre o ombro e encontrei Javier tão confuso quanto eu, o restante do restaurante parecia funcionar com normalidade, o horário de almoço já se findava e o lugar começava a esvaziar.
— Eu vou... – A fala de Mag foi interrompida pela exclamação de ânimo vinda do diretor, com os olhos arregalados nos viramos para ele.
— Acabei de avisar ao Evans que já temos a personagem que faltava para o filme. – Sorri confusa, ele não estava com o elenco formado? Será que faltava figurante? – É você que queremos, . – Arregalei os olhos. – Aposto que vai roubar a cena, e a melhor parte é que vai poder ajudar Kate diretamente nas cenas, vai ser incrível. Pense na proposta com carinho, eu retorno em dois dias para obter sua resposta, que espero sinceramente que seja um sim. – Ele falava tudo tão rápido que eu pouco conseguia assimilar. Assisti o homem se dirigir a mesa mexer na pasta com a conta, que Pierre já havia lhe entregado antes mesmo de minha chegada, e em seguida sair apressado porta afora. Caminhei lentamente até o local que ele ocupara e achei, dentro do caderninho preto, um número de telefone. O dele.
Desde então tudo estava uma verdadeira loucura, , minha melhor amiga e fotógrafa estava surtando com a possibilidade de me ver atuando e, com essa chance magnífica segundo ela, apresentar Sebastian Stan para ela. Mas isso era insanidade, eu não tinha a menor segurança para ser atriz, não me achava bonita o bastante para isso e a última vez que tentei atuar passei por uma situação que preferia esquecer. Para completa o pacote quem estaria no filme? A pessoa mais incrível e admirável que eu tinha conhecimento, Chris Evans estaria ali, na minha frente sendo lindo e maravilhoso como sempre e eu não teria capacidade de atrair sua atenção, a não ser com o fato de ser totalmente desastrada. Pelos céus, eu acompanhava sua carreira há anos, e o admirava mais do que era considerado saudável. Infelizmente, para mim é claro, não havia a menor chance de ser notada por ele.
Margareth, Pierre e Javier se uniram a na empreitada de fazer da minha vida um inferno. Elas já haviam me chantageado, tentado me subornar e feito uma aposta, só pararam quando ameacei suspender os três por insubordinação. É óbvio que eu não faria isso, mas precisava de paz. Agora, enquanto limpava os mariscos e esperava o camarão ferver podia sentir os olhos dos quatro queimando em minhas costas.
— Se eu virar e pegar alguém me encarando vou mandar embora por justa causa, e é sério. – Avisei antes de virar para pegar o coentro e o alho, bufava e fotografava os alimentos expostos na última bancada. Ela queria atualizar o site do restaurante, e eu não me opus. Ouvi um celular tocar e não precisei virar para saber que era o dela, o do restante de nós não ficava conosco já que manusear o telefone e cozinhar não era exatamente ético ou viável, muito menos higiênico.
Terminei de temperar o camarão e o despejei dentro da abóbora, coloquei a parte de cima que ainda tinha um pedaço do caule e deixei o prato sobre a bandeja. Chamei por Pierre e pedi que levasse para mesa dez, de pronto, ele atendeu.
— Ok, eu vou falar com ela. – Ouvi a voz de minha melhor amiga soar próxima demais, ela estava aprontando. – Não tem volta, Christopher Nolan acabou de ligar dizendo que quer muito você no filme e não vai aceitar não como resposta. – Larguei a faca que usava para tratar as ostras e a fitei descrente.
— Eu não acredito que você está negociando no meu lugar, . – Falei irritada, ela mordeu a cutícula do polegar.
— Eu só o adicionei no WhatsApp, ele quem está exigindo uma resposta, parece que dois dias é demais para o homem. – Ela sorriu amarelo, eu revirei os olhos.
— Diga que eu... – Minha fala foi interrompida por um Pierre extremamente pálido entrando na cozinha, seus olhos estavam saltados e ele tinha um sorriso esquisito na boca. – O que houve? Alguém traz água, pelo amor de Deus. – Chamei por ajuda e puxei uma cadeira para o garçom sentar. Depois de beber a água ele pareceu se acalmar, a cor voltou a seu rosto e seus olhos focalizaram em mim.
— O cliente da mesa nove está te chamando, ele quer cumprimentar a Chef. – Disse como se nada tivesse acontecido, franzi a tez. Sem dizer nada lavai as mãos e tirei o avental da cintura, passei pelas portas e segui para mesa mais afastada do restaurante. Uma figura alta, de ombros largos e boné estava de cabeça baixa. Parei a meio metro da mesa e estreitei os olhos, eu conhecia aquela pessoa, e pelos céus, só podia ser brincadeira. Ignorando todos os meus instintos que me mandavam correr para cozinha e me esconder sob o balcão, me aproximei da mesa.
— Boa tarde, eu sou a Chef , o senhor mandou me chamar? – Perguntei o mais educadamente que pude, minha voz estava estranhamente contida para situação. Quando a figura ergueu a cabeça e meus olhos focalizaram a barba por fazer, o sorriso característico e os olhos absurdamente azuis minhas pernas falharam. Apoiei as mãos no encosto da cadeira a minha frente e prendi o ar, Christopher Robert Evans estava em minha frente, no meu restaurante me olhando como se eu fosse a pessoa mais incrível do mundo.
— Sim, eu pedi que lhe chamassem. – Ele levantou e esticou a mão para me cumprimentar, quando toquei sua pele senti um arrepio percorrer meu corpo. Ignorando este fato sorri contida, ele gesticulou para que eu me sentasse na cadeira em sua frente, assim o fiz. Só quando me sentei ele retomou seu lugar. Um cavalheiro, eu diria. – Eu sou Chris, é um prazer conhecê-la, senhorita... ? – A palavra senhorita soou como uma pergunta, isso só não foi mais absurdo do que o fato dele ter se apresentado. Pelos céus!
— É igualmente um prazer, senhor Evans, em que posso ser útil? – Confesso, estava pasma com minha polidez, nem no meu mais louco sonho eu estaria sendo essa mulher calma diante do homem que era o meu sonho de consumo, e de metade da população mundial, eu diria.
— Primeiro eu preciso dizer que sua comida é maravilhosa, nunca comi um camarão como este. – Sorri verdadeiramente grata, ele espelhou meu gesto. – Em segundo lugar, estou aqui graças a Nolan, ele me falou muito bem de você e eu quis conhecer a minha nova colega de elenco. – Senti o sorriso sumir de minha face e mias mãos gelarem.
— Me perdoe, senhor Evans, mas...
— Por favor, me chame de Chris, senhor Evans é formal demais. – Ele pediu ainda sorrindo. Por Deus, o que eu não faria depois de um sorriso desses? Assenti tentando retomar as rédeas da minha vida.
— Certo, Chris... Me desculpe, mas deve estar havendo um engano, eu não concordei em participar do filme. – O sorriso sumiu de seu rosto e eu quis me estapear por isso. – Na verdade eu não sou atriz, sou apenas uma Chef de cozinha, se o senhor Nolan precisar de figurantes eu posso indicar algumas amigas e... – Minha fala foi interrompida por uma gargalhada alta e contagiante que me fez querer rir junto, Evans estava com a mão sobre o peito rindo abertamente de algo que eu disse. Franzi o cenho confusa e esperei que a crise passasse, quando enfim ele estava controlado respondeu.
— Figurante? Não, não. – O vi beber um pouco da água que havia em seu copo antes de prosseguir. – Christopher não te quer como figurante do filme.
— Ah não? Então como o quê? Subchefe de Kate Hudson? – Foi minha vez de rir, a ideia soava tão louca que só podia ser piada. Dessa vez ele não riu.
— Na verdade, ela vai ser a sua subchefe. – Parei de rir na hora, encarei-o confusa enquanto minha mente tentava processar a informação. – Nolan quer você como protagonista, Kate vai ser a subchefe e par do Sebastian. – Arregalei os olhos ainda mais, se isso fosse possível.
— Se o senhor Nolan quer Hudson como subchefe e par de Stan, isso significa que se eu aceitar o papel o meu par vai ser... Você?
— Eu. – A cara de garoto propaganda da Colgate que ele fez me deixou ainda mais em pânico, jogando toda minha postura profissional de lado me ergui de uma vez e acabei batendo o joelho na mesa, com uma careta me afastei aos tropeços. – Senhorita , está tudo bem?
, meu nome é . E sim, está tudo ótimo, na verdade maravilhoso... Olha, eu preciso... Preciso ir na cozinha ver o andamento das coisas... – Não consegui pensar em mais nada e como o diabo foge da cruz, eu fugi do salão e de Chris Evans.
Assim que passei pelas portas duplas todos os rostos se viraram em minha direção, com certeza Pierre já havia contado com quem eu estava conversando. A expectativa em seus rostos só piorava a crise de ansiedade que acabava de me tomar. O ar se tornou escasso em meus pulmões e tudo começou a ficar escuro, duas mãos me sustentaram enquanto eu sentia meu corpo ir de encontro ao chão. Vozes agitadas soavam longe oscilando as vezes, tudo estava confuso e eu me deixei levar, aquilo era demais pra mim.


I know I seen your face
In different times and places


Acordei com uma dor de cabeça absurda, a luz baixa indicava que eu não estava mais no restaurante, mas sim em casa. Mais precisamente em meu quarto, sentei-me com cuidado e apoiei as costas na cabeceira da cama, procurei por meu celular e o achei na mesa de cabeceira onde o relógio marcava sete e meia da noite. Arregalei os olhos, aquele horário o restaurante estava o caos, eu não podia estar em casa. Empurrei os lençóis para longe e joguei as pernas para fora da cama no exato momento em que a porta se abriu revelando uma preocupada.
— Graças a Deus você acordou, eu já estava maluca de preocupação! – Exclamou se aproximando e sentando-se ao meu lado. – Você nos deu um susto e tanto quando desmaiou no restaurante, chamei o doutor Tadeu e ele veio medir sua pressão, disse que você estava com o ritmo cardíaco irregular e a pressão alterada, te deu um soro e depois foi embora. – Olhei para meu braço pela primeira vez percebendo que havia um pequeno curativo.
— Eu tive um sonho muito esquisito. – Falei a primeira coisa que lembrei, ela entortou a cabeça esperando que eu prosseguisse. – Sonhei que estava no restaurante e o Chris Evans ia lá me dizer que o Nolan me queria como protagonista e adivinha... Par romântico do Evans no filme novo, acredita? – Perguntei retoricamente já me levantando e seguindo para o banheiro, permaneceu em silêncio. O que de forma alguma era normal, ela era como eu, falava pelos cotovelos. Parei na divisão entre banheiro e quarto e me apoiei na soleira virando-me para encará-la. – Não foi um sonho né? – Ela negou, eu arregalei os olhos. – Pelas calçolas de Afrodite, eu paguei o King Kong nível Ilha da Caveira na frente de Chris Evans, alguém pelo amor de Deus traz uma camisa de força pra mim!
— Quer parar de surtar? – Ela se aproximou. – Nós soubemos mais ou menos o que aconteceu já que você desmaiou e eu precisei chamar o doutor Tadeu pra te socorrer. – Arregalei os olhos. – Ele percebeu a agitação e veio perguntar o que estava acontecendo, explicamos que você havia passado mal e estava sendo levada para casa, você tinha que ver a carinha de preocupado dele, .— Ela sorriu boba, eu queria morrer. – Ele deixou o número de telefone e me fez garantir que ligaria para ele passando notícias suas.
Escorreguei lentamente em direção ao chão, como, em nome de Loki, sim por que só um deus da Trapaça me faria passar tanta vergonha, eu poderia encarar aquele homem de novo? Recobrando a consciência totalmente me levantei num solavanco, o restaurante precisava de mim e eu tinha que retomar o posto, não podia deixar a galera na mão. Pulei pra dentro do chuveiro já arrancando o pijama e ligando a ducha; tomei o banho mais rápido da história e me vesti com agilidade, penteei os cabelos e nem ousei colocar maquiagem, com certeza ninguém mais apareceria, de surpresas já bastava para um dia. Saí como um furacão com gritando atrás de mim. Depois de muita discussão eu deixei que ela me levasse até o restaurante em seu carro. Entrei praticamente correndo pela porta principal, já que aquele horário a porta dos fundos estava fechada. Acenei pata alguns clientes e me dirigi para o escritório onde coloquei a doma e o chapéu, retornei para cozinha e fui recebida por Mag de pronto questionando como eu estava, os auxiliares se aproximaram para questionar a mesma coisa. Depois de assegurar que estava perfeitamente bem e apta ao trabalho pude me concentrar, recebi sete pedidos de moqueca de peixe, para meu alívio um dos chefs já estava preparando, sendo assim me foquei em finalizar os acompanhamentos e assim que o prato estava pronto chamei por um dos garçons. No turno da noite Javier assumi o posto de Maître e por isso eu o via menos.
As horas se avançavam e o lugar parecia encher cada vez mais, o que não era típico para uma quarta – feira. Feliz pelo movimento me empenhei em fazer o máximo que pudesse, já que todos pratos estavam bem encaminhando fui auxiliar Judith com as sobremesas, enquanto ela fazia um bolo de limão com ninho, eu enrolava um brigadeiro de chocolate com morangos. O Brasilidade Bistrô servia uma variedade grande de opções de cardápios do mundo inteiro, e não podia ser diferente, já que o brasileiro era uma bela mistura de cultura de povos. Mas as comidas típicas do Brasil eram o carro-chefe do lugar, que em apenas dois anos de funcionamento se tornou um point de todas as tribos no coração de Manhattan, a possibilidade de abrir uma filial em Boston já estava sendo estudada graças aos comentários e excelente feedback dos clientes e da crítica. Eu não tinha o que reclamar.
Encaminhei os doces para as mesas e comecei a limpar a bancada para preparar os brigadeiros tradicionais, ah esses eram o xodó dos clientes juntinho com o bolo de cenoura e cobertura de chocolate.
. – Uma voz que eu conhecia bem chamou por mim, virei-me lentamente para encontrar um par de olhos azuis tão intensos que me tiraram o ar momentaneamente. Eu estava jurando que o que aconteceu mais cedo foi apenas um momento, ilusão da minha cabeça cansada, mas para minha completa surpresa ele estava ali, parado na porta da minha cozinha com uma touca de proteção no lugar do boné e um avental de peito. – Se Maomé não vai a montanha, — ele apontou para si. – a montanha vai a Maomé.
— O quê... Evans, vem comigo. – Larguei o doce e limpei as mãos em um pano qualquer, desamarrei o avental enquanto andava a passos rápidos em direção a despensa onde ficava a escada que daria para meu escritório. Eu sentia sua presença mesmo sem vê-lo, era impossível não sentir. Ele era enorme. – O que faz aqui? – Perguntei no momento em que fechei a porta, não daria três minutos para Margareth, Pierre e estarem escondidos atrás da porta tentando ouvir a conversa. Pena que minha sala tenha isolamento acústico.
— Eu vim te ver, soube que passou mal hoje à tarde. – Senti meu rosto esquentar. Passar vergonha era um dom natural que eu tinha. Ele, por outro lado, parecia genuinamente preocupado.
— Tive um mal estar... Crise de ansiedade pra ser mais precisa. – Ele pareceu surpresa e eu me senti uma maluca, pelo amor de Deus, pra que eu fui dizer que tinha ansiedade? Qual meu problema, afinal? – Mas agora estou bem. – Resolvi me sentar, não podia correr o risco de passar ainda mais vergonha, pedi que sentasse em uma das cadeiras de frente para mesa. – Me diga, posso ajudá-lo com alguma coisa?
— Na verdade, sim. – Cruzei as mãos sobre a mesa e aguardei, ele se aproximou da ponta da cadeira e me fitou com tranquilidade. – Preciso que me diga por que ser meu possível par romântico é tão assustador assim?
— O quê? – O berro que devo ter soltado o fez recuar e eu quase tombei a cadeira, coloquei mão sobre o peito com o susto da pergunta e me levantei seguindo para perto da janela, a vista era linda dali. Ouvi o barulho da cadeira se afastando e percebi que ele havia levantado. – De onde você tirou essa ideia? – Indaguei me virando e quase esbarrando em seu corpo que estava parado atrás de mim com uma expressão curiosa.
— Tirando o fato de você quase ter arrancado o joelho hoje à tarde e fugido como se eu estivesse tentando te matar... – Ele apoiou o dedo no queixo fingindo pensar, eu me sentia mortificar por dentro. – A cara que você acabou de fazer. – Engoli em seco com seus olhos voltados para mim mais uma vez.
— Certo... – Tentei organizar meus pensamentos, mas não estava sendo exatamente fácil. – Eu não... Fugi de você. – Ele arqueou a sobrancelha e entornou a cabeça como se duvidasse do que eu havia dito. – É sério, eu não estava fugindo de você... É só que... Bom, você percebeu que eu não sou atriz, certo? – Sorri constrangida. – Eu não tenho o padrão de beleza que a indústria exige para as mulheres, não tenho altura ou o corpo que eles querem, minha arte é feita na cozinha, transmitindo amor e inspiração em cada prato entende? Parece loucura, mas eu me sinto bem assim. – Ele descruzou os braços e se aproximou um pouco mais, prendi a respiração. Suas mãos pousaram nas laterais de meus ombros, sua pele era quente e dessa distância eu conseguia ver cada pintinha em suas íris.
— Não parece loucura pra mim. – Ele parecia sincera. – Eu gosto de muitas coisas além de atuar, mas sempre me senti bem fazendo isso, não pela fama e tudo mais, mas pelo prazer de fazer algo que gosto, de me transformar em alguém diferente de mim. – Assenti, era totalmente compreensível esse amor, algo parecido movia a minha profissão. – Nolan não está interessado no seu biótipo, ele gostou de você e da sua sinceridade, você é autêntica, verdadeira e intensa, não rejeite a oportunidade de conhecer algo novo só por que está com medo. – Ouvi-lo dizer aquilo me fez sentir boba, era a oportunidade pela qual mulheres de todo o mundo esperavam receber na vida, atrizes renomadas com certeza gostaria de estar no meu lugar, mas eu estava fugindo.
É claro que tudo o que eu disse era verdade, mas havia uma parte do meu passado que eu escondi e não estava exatamente pronta para revelar. Sendo assim me vi entre a cruz e a espada. Aceitar ou rejeitar, mergulhar de vez ou me enxugar e correr... Prestes a enlouquecer nesse dilema interno ouvi a porta se abrir revelando uma de olhos arregalados que passaram imediatamente para maliciosos, balancei a cabeça para quebrar o transe e notei que ainda estávamos na mesma posição. Próximos demais, com as mãos dele em meu corpo e uma mão atrevida que eu sequer notara que havia levantado estava apoiada em seu peito. Senti meu rosto corar e me afastei devagar, só então ele notou minha amiga parada na porta.
— Hum... Desculpa atrapalhar, mas o Nolan está lá embaixo com uma galera querendo te ver. – O sorriso malicioso estava escancarado em seu rosto, minha vontade de matá-la era imensa, mas eu não podia perder o réu primário com essa facilidade.
— Avise que vou descer em alguns minutos. – Olhei para o lado e vi Evans sorrindo como se tivesse escutado alguma piada. – Nós já vamos descer, só... Pede pra Mag servir alguma coisa e preparar a mesa de reunião. – Quando tornou a fechar a porta eu soltei o ar de uma vez. – Precisamos ir.
— Você vai aceitar o papel? – Sua pergunta era simples, mas tão complicada para mim. Mordi o lábio inferior.
— Sim, quero dizer, vou tentar... – Finalmente o olhei, ele parecia verdadeiramente feliz com a notícia. – Mas... – Ergui o dedo em riste, ele fechou o sorriso. – Se eu não conseguir quero a segurança de que jamais passarei por uma loucura dessas de novo, e.... Você vai ter que me ajudar. – Ele abriu um sorriso ainda maior que o anterior e me estendeu a mão.
— No que precisar. – Assegurou animado.
— Em não desmaiar de vergonha, chutar alguém enquanto danço ou morrer se precisar aparecer com qualquer roupa menor do que esta. – Apontei para doma que usava e ele riu com gosto enquanto assentia, aceitei o cumprimento e para minha surpresa fui presa num abraço acolhedor.
— Não se preocupe, eu já li suas entrevistas para os jornais, você é ótima. – Fiquei ainda mais chocada em descobrir que ele também acompanhava minha recente carreira. Afastei-me para olhá-lo e o vi com um sorriso fechado e sapeca, balancei a cabeça descrente. – O quê? Achou que eu não vi sua primeira entrevista para aquele programa de culinária brasileiro no início da carreira. – Minha boca fez um perfeito “O” e ele riu com gosto. – Vem, vamos das as boas notícias. – Puxando-me pela mão como se fôssemos velhos conhecidos Chris Evans me guiou de volta para o andar inferior, e assim, para o salão praticamente vazio do restaurante onde, para total felicidade da não, ou apenas de , eu estava prestes a dizer sim para aquela loucura.




02 — Seja Completamente Sincera

Come get a little closer
I wanna get to know ya
We ain't keeping no secrets
Start with our sheets between us tonight


Sete semanas de uma rotina completamente diferente da minha, quase dois meses de preparação para o tal filme que descobri se chamar “Tempero de amor”, quem em nome do Senhor daria um título desses para um filme? Mas... Como o gênio da história é Christopher Nolan e não eu, me limitei a sorrir amarelo e fingir amar a ideia toda. Evans me perguntou horas mais tarde, quando já estávamos na cozinha do Brasilidade terminando de finalizar um prato, algo que eu lhe ensinava nesse período, se eu também não havia gostado do nome do filme. Acabamos rindo com as piadas que esse título renderia, só paramos quando eu já estava sem ar e as funcionárias perdiam mais tempo babando no meu pseudo-pupilo culinário do que trabalhando.
Já passava das onze da noite quando fechei o restaurante, havia dispensado Mag mais cedo, já que ela precisava levar o filho no médico. estava numa sessão de fotos que ia varar noite a dentro, o restante da equipe estava tão exausta quanto eu, então decidi por fechar eu mesma. Nessas semanas tumultuadas em que eu me dividia entre o restaurante e os ensaios de preparação de elenco aprendi a conviver com pessoas que jamais imaginei sequer conhecer, Kate era uma presença constante no Bistrô, já que eu precisava ensiná-la os truques mais simples para que seu papel de Subchefe fosse o melhor possível, o que era para ser quatro semanas já estava se encaminhando para oito, a maior parte do elenco viera conhecer o local que serviria como um dos cenários do longa, a ideia deixou a todos animadíssimos e era ótimos vê-los assim. Todas as noites fechávamos tarde devido as visitas e aos próprios clientes que agora iam para jantar e descobrir qual celebridade estava ali naquela noite, a maior parte do tempo eles passavam na cozinha ou em meu escritório, mas a novidade estava deixando o lugar sempre lotado. Nós do Brasilidade agradecíamos.
Nesta noite, em específico, eu achei que seria uma boa ideia ensinar Evans a fazer um prato simples e típico, o brigadeiro. É claro que não foi exatamente genial, já que em sua segunda tentativa a panela simplesmente pegou fogo e eu fui obrigada a usar o extintor pequeno que guardava sob a bancada antes que o sistema do teto fosse acionado. As risadas foram impossíveis de conter, graças ao nosso bom senso boa parte da equipe já havia ido embora, estávamos fechando no momento do incidente.
— Você me deve três panelas inox e duas colheres de silicone, vou colocar isso na lista. – Avisei ao homem ao meu lado enquanto checava se tudo estava devidamente trancado, ele riu.
— Espere, você tem uma lista?
— Claro, se eu for arcar com tudo o que você, Kate e até o Stan já queimaram na minha cozinha vou a falência, nem o cachê do filme me salvará. – Coloquei a mão sobre o coração em um gesto dramático e ele riu alto me contagiando por fim. – Bom... Boa noite, senhor Evans, nos vemos amanhã. – Despedi-me ao me aproximar da ponta da calçada, meu carro estava na revisão então eu iria de Uber para casa, nada demais já que eu morava há vinte minutos do restaurante, só não iria a pé por causa da hora.
— Você está sem carro? – Perguntou ao notar que apenas o carro dele estava ali, assenti enquanto tentava localizar um táxi para acenar. Meu celular descarregara, então Uber não seria uma opção. – Eu te levo. – Ofereceu, eu neguei e sorri.
— Não precisa, você está cansado, além dos ensaios você ainda esteve em outro compromisso antes de vir pra cá. O dia foi puxado, não se preocupe comigo, daqui a pouco um táxi vem. – Assegurei, ele me olhou cético e caminhou até o carro, acenei esperando que ele fosse entrar no carro e seguir para sua casa, mas tudo o que ele fez foi dar uma ré e parar com a porta do passageiro aberta em minha frente. Estreitei os olhos diante de sua audácia e bufei ao dar-me por vencida, ele não desistiria e o táxi não vinha. Era ir ou ir.
— O endereço, por favor. – Pediu dando partida e parando em seguida graças ao farol.
— Eu te guio, é aqui perto. – Fizemos o trajeto em silêncio, o que me deixava desconfortável, vinda de uma família barulhenta, o silêncio me inibia, eu gostava do agito, do barulho ou de algum som fazendo fundo. Ele pareceu perceber, pois ligou o rádio e quando o olhei ele mordia um sorriso.
Depois de dobrar mais uma esquina o guiei até pararmos em frente a um prédio de dez andares, ele manobrou e estacionou próximo de um Volvo prata, meu vizinho estava em casa. Ele era o único que tinha aquele carro e o deixava na rua aquela hora. Dando-me conta de que era a primeira vez que Chris me trazia em casa achei que era justo chama-lo para entrar, então ignorei todos os alertas que minha mente insistia em gritar e fiz o convite, que para meu completo espanto foi aceito de primeira.
Saímos do carro e seguimos para o prédio, depois de cumprimentar o porteiro fomos para o elevador, apertei o número nove e subimos. Virei-me para ver minha situação depois de um dia cheio de loucuras no trabalho e me arrependi, meus olhos tinham olheiras maiores do que as manchas de um panda, meu cabelo estava o caos e eu parecia saída de um filme de guerra.
— Mas que porcaria... – Acabei falando alto demais, já que o vi se virar para saber o que eu tanto olhava. O contraste entre nós gritava, ele estava impecável com uma jaqueta azul claro sobre a camisa branca e as calças cáqui, o rosto sem marcas e os cabelos perfeitamente alinhados. Se analisassem de fora poderiam facilmente achar que ele estava me socorrendo por ter sofrido uma queda de pressão dada a minha palidez. – Gente, eu tô pronta pra estrelar “Scooby Doo, a volta dos que não foram”. – Soltei sem pensar e mais uma vez o escutei rir.
— Você é hilária, sério. – Eu não sei exatamente o motivo do riso, mas graças aos céus não precisei perguntar já que as portas se abriram e podemos sair daquele cubículo. Abri a porta e dei passagem para ele, que adentrou com seu típico ar curioso.
— Vou beber água e passar um café, preciso de cafeína. – Afirmei depois de fechar a porta. – Aceita alguma coisa? – Perguntei já na soleira da cozinha, ele parecia entretido com algumas fotos que haviam na estante.
— Água. – Foi sua resposta, dei de ombros e fui buscar enquanto ele parecia se divertir com as imagens que traziam minha família e amigos sorrindo ou em poses constrangedoras. Retornei ao cômodo com o copo em mãos e o vi com o porta retratos em que eu sorria abertamente no meio da Avenida Paulista, o riso não foi proposital, o fotógrafo disse algo engraçado e eu acabei rindo e me rendeu esta foto.
— Foi um ensaio, o presente de aniversário que ganhei dos meus pais. – Ele desviou os olhos para os meus. – Passei bastante vergonha nesse dia, foi legal.
— Imagino. – Aceitou o copo e sorveu o liquido rapidamente. Peguei o objeto novamente e segui para cozinha, não tarde a sentir sua presença no cômodo. – Você tem um apartamento lindo.
— Obrigada, quando veio pra cá a primeira vez surtou e disse que esse seria “o cantinho das Amellzing” ou qualquer coisa assim. – Comentei distraída ao despejar o pó dentro do filtro de papel, a água fervia na chaleira elétrica. – Ah lembrei, você tem um cachorro, o Dodger certo? – Ele assentiu sorridente, o cãozinho era seu xodó e isso não era segredo. – Vou te mostrar o meu. – O chamei, passamos pela sala e seguimos até as escadas, subimos e ele parou quando chegou a porta do meu quarto. Eu simplesmente entrei, completamente olhei a qualquer coisa que não fosse achar o álbum com as imagens do Bolinho, meu pug de dois anos.
Assim que encontrei o álbum virei-me para olhá-lo.
— Vem ver, ele é lindo. – Sentei na cama com perninhas de índio e o chamei para ocupar um lugar ao meu lado, ainda receoso o vi atender o pedido. Entreguei o álbum em suas mãos e de imediato ele fez o que sabia de melhor, sorrir. Imagens do cachorro dormindo em poses estranhas, mordendo travesseiros e correndo da minha mãe pela casa nos fizeram gargalhar. Narrei histórias sobre a vez que ele fugiu com os chinelos na minha mãe para não ser ameaçado e de quando roubou a dentadura do meu vizinho e eu tive que ir devolver.
— Você disse que o cachorro havia roubado? – Evans estava vermelho de tanto rir e eu não devia estar diferente. Assenti para sua pergunta e ele literalmente despencou na cama com a mão sobre o peito enquanto ria abertamente, me peguei admirando-o como não fazia há alguns dias. Esse era um daqueles momentos em que não importava nossas profissões ou nossos status, éramos apenas bons amigos com histórias legais compartilhando um amor em comum: cachorros. Ele chorava de rir e eu não conseguia pensar em lugar melhor para estar do que ali, vendo-o ser apenas ele mesmo. Mordi o lábio ao lembrar de todas as vezes em desejei isso, apenas um sonho infantil e sem qualquer chance de ser realizado, mas bem.., Olhe só como a vida é engraçada, agora eu tinha Chris Evans na minha cama, rindo com as histórias da minha casa no Brasil e esperando que eu compartilhasse mais sobre mim. O riso foi cessando aos poucos, o vi respirar fundo e virar de lado apoiando a cabeça em uma das mãos, seus olhos me mediram como se procurassem por algo que eu não saberia especificar, naquele momento não consegui desviar, tudo parecia tão certo que chegava a ser absurdo eu conhece-lo a minha vida inteira através da televisão e agora ele estar ali, parado em minha frente com a expressão de que sabia mais sobre mim do que eu havia lhe dito.
Ouvi um apito vindo do andar debaixo que me fez pular e acertar o pé na cadeira do computador, xinguei em três idiomas diferentes enquanto corria escada abaixo. Pude ouvir sua risada, mas não compreendi o que ele havia dito. Desliguei a chaleira e despejei a água sobre o pó vendo a fumaça subir, meu coração estava estranhamente acelerado, meus movimentos pareciam mais atrapalhados que de costume e eu me recusava a procura um motivo. Apenas uma coisa era capaz de me deixar calma sob qualquer situação, cozinhar.
Olhei no relógio e já passava da meia noite, talvez o brigadeiro que ficou por fazer fosse uma boa ideia. Peguei o chocolate, o leite condensado e o creme de leite, misturei tudo na pequena panela que usava para ferver leite, coloquei-a sobre o fogão e comecei a mexer esperando dar o ponto, Evans ainda não havia aparecido, talvez estivesse olhando as fotos com calma ou quem sabe estivesse no telefone. De qualquer forma precisava terminar as tarefas antes de descobrir o que estava acontecendo, quando o chocolate começou a engrossar diminuí a chama do fogão e continuei mexendo, no momento em que a mistura desgrudou da panela eu despejei sobre um prato grande que estava no escorredor, voltei minha atenção para o café e adocei. Estava tudo pronto, deixei a panela na pia com água para facilitar a lavagem, ignorei toda a minha ética profissional e lambi a colher, rindo em seguida do pensamento bobo que tivera. Quando virei para pegar o pano de prato que estava sobre a pequena ilha me deparei com aquela imensidão azul grudada em mim, não havia notado sua aproximação e isso me assustou, meu sexto sentido sempre avisava quando alguém se aproximava, e só relaxava quando eu estava muito acostumada a uma presença.
Certo, eu estava habituada a Evans, essa era a realidade.
— Fiz o brigadeiro que ficou pendente. – Disse a primeira coisa que me ocorreu, ele permaneceu calado apenas me olhando. Senti o ar começar a faltar, minhas mãos repentinamente estavam suando e eu não sabia o porquê. – Você quer provar? – Apontei a colher que mexera a mistura em sua direção, todo aquele silêncio estava começando a me deixar nervosa de novo, o vi contornar a ilha e se aproximar com os olhos ainda presos aos meus, suas mãos vieram em direção a colher, mas passaram longe de pegá-la, ao invés disso foram parar em minhas costas, rodeando minha cintura e me puxando para mais perto de si, acompanhei o movimento de sua boca ao se aproximar da minha tirando qualquer traço de compostura que eu pudesse ter, seus lábios pressionaram os meus antes que meu cérebro fosse capaz de raciocinar e eu simplesmente larguei a colher no chão e o envolvi em meus braços, assim como ele fazia comigo. Minhas mãos foram para seus cabelos e ombros enquanto eu me sentia ser suspensa até tocar o mármore da pia, o contraste com a temperatura me fez arfar e recebi um mordida no lábio inferior por isso. Ele estava entre minhas pernas, o corpo pressionado ao meu e eu não conseguia achar um erro sequer nessa situação.
Sua boca era gentil e ditava o ritmo com sutileza, ele não exigia nada, apenas me deixava a vontade para corresponder como quisesse. O coque parcialmente desfeito em meu cabelo agora estava completamente solto, com sua mão embrenhando-se nos fios e o puxando gentilmente enquanto eu o puxava para mais perto.
Eu estava sem ar, mas sinceramente naquele momento não importava. Senti quando o toque tornou-se mais suave e isso significava que ele estava prestes a se afastar, infelizmente eu estava certa. Abri os olhos e o encontrei me olhando como se esperasse ler minha expressão, o calor que senti em todo o corpo se acumulou em minha face. Pelas barbas de Odin, o que estava fazendo? Minha respiração ainda estava acelerada quando ele olhou para o prato cheio de brigadeiro que estava um pouco afastado de nós e sorriu.
— Você tinha razão, brigadeiro é o melhor doce do mundo. – A entonação usada me fez arfar, pelas calçolas de Hera, se tivesse um buraco bem fundo para eu entrar... Bom, esse seria o momento. Mexi-me desconfortável e o vi me das espaço para descer da pia, que para minha completa vergonha era alta o bastante para eu ter que pular. Completamente desorientada coloquei o cabelo atrás da orelha e abaixei-me para pegar a colher que derrubara, atirei-a sobre a pia e percebi que se continuasse ali teria que encará-lo.
— Eu vou... Tomar banho, você pode se servir de café ou... Qualquer outra coisa, fica a vontade, eu já volto. – Falei tão rápido que não tenho certeza se ele compreendeu tudo, então fiz o que sabia fazer melhor, corri.



Talk to me, let's go deeper
You already know I need ya
We ain't keeping no secrets
I wanna see you, leave on the lights

Fazia mais ou menos quarenta minutos que eu estava trancada no banheiro, já havia tomado banho, escovado os dentes, lixado as unhas, hidratado o cabelo e estava pensando em uma forma de pular a janela sem me matar. A essa altura ele deveria estar achando que eu estava morta e seria tipo a Murta que Geme do Harry Potter, assombrando banheiros para sempre.
Ri do pensamento idiota, mas a verdade é que eu estava com medo. Não estava acostumada a me envolver em relacionamentos, verdade seja dita, eu jamais estive em um. Segundo a contagem de eu estava sem beijar ninguém há exatos cinco anos, quando jurei que não faria teatro jamais. E bom... Olhe em que situação estou, quanta ironia. Namorar não era minha prioridade, eu tinha medo de relacionamentos, medo de ser machucada e não queria me arriscar. Ainda que insistisse que um dia alguém apareceria e quebraria todos os muros que criei ao meu redor sem nenhum esforço, e só quando eu já estivesse envolvida demais para voltar atrás que me daria conta de que o amava.
Droga de amiga vidente.
Respirei fundo e deixei o pequeno cômodo, era hora de enfrentar a situação como a adulta que eu não era, mas precisava ser. Vesti meu amado pijama de panda e segui para o andar inferior, Evans estava sentado no sofá com uma xícara vazia entre as mãos e o olhar perdido. A jaqueta sobre o braço do sofá, a expressão confusa. Pigarreei anunciando que estava ali e ele pareceu acordar. Não disse nada no entanto, significava que a iniciativa teria que ser minha.
— Podemos comer primeiro e conversar depois? – Fiz a cara mais inocente que consegui e acabei arrancando um riso fraco, com aceno de cabeça tive passe livre para pegar o doce que repousava no mesmo lugar que o deixara minutos atrás. Não me atrevi a olhar para o lado, esse pensamento me deixaria nervosa e eu precisava estar plena para conduzir a situação. Retornei para sala com duas colheres e o prato em mãos, depositei-o sobre o sofá e sentei-me no lado oposto ao dele, ficando assim, de frente. No momento em que enchi a colher e lhe entreguei o vi o morder o lábio inferior, o que meu pouco conhecimento de quase dois meses sobre sua pessoa indicava que ele estava incomodado e prestes a dizer algo. – Tudo bem, doce depois. – Suspirei e afastei o prato. – Diga. – Pedi me arrumando de forma que pudesse me cobrir com a manta que deixava sobre o sofá, ele balançou a cabeça e imitou meu gesto em largar a colher ainda intocada.
— Por que você sempre foge? – Primeiro golpe, olá. Respirei fundo antes de conseguir montar uma frase coerente.
— Por que tenho medo de tudo... – A resposta soou mais como uma pergunta. – Eu nunca estive num relacionamento. – Seus olhos ganharam um ar de surpresa, eu dei de ombros. – Minhas experiências não foram boas o bastante para me fazer confiante, se quer honestidade aí vai, não beijava alguém há cinco anos quando jurei que não faria teatro nunca mais. – Sorri melancólica. – A ideia de que alguém como você possa gostar de mim é tão lisonjeiro quanto apavorante.
— Apavorante, porque?
— Você já se analisou hoje? Por que olha... – Tentei amenizar o clima, mas não surtiu efeitos. Estávamos tensos por si só. – Já te disse uma vez, não sou exatamente o estereótipo de beleza americana. Evans.
Ele pareceu chocado com minha frase, no instante seguinte o vi esfregar as mãos em frente ao rosto. Esperei.
— Sinceramente, eu não faço ideia de que tipo de babacas você encontrou por aí ou o que te disseram, mas , por Deus, você precisa se enxergar. – Ele tinha a voz controlada e me olhava a espera de alguma reação que não veio. – Você é inteligente, divertida, espontânea e bonita, minha nossa, como não consegue enxergar isso? Vi você conversar com mais pessoas nesses dois meses do que eu falaria em toda minha vida. A forma como trata a todos, desde o maior empresário ao faxineiro, a sutileza como entende seus funcionários, o amor que demonstra por sua profissão, o brilho que toma seus olhos quando sorri. Que parte disso tudo não te faz bonita?
A pergunta era retórica? Eu não sabia, mas algumas lágrimas vergonhosas e teimosas escorriam por meu rosto com liberdade.
— Já passou da hora de se enxergar como é, . – Um soluço de surpresa escapou ao ouvi-lo me chamar pelo apelido, era a primeira vez. – Por favor, você perguntou se eu já me analisei hoje, e você? Eu tenho trinta e oito anos e estou completamente apaixonado por uma mulher de vinte e dois com mais garra e coragem do que muitas pessoas de mais idade que conheço. – Aquela revelação me deixou atônita. Ele estava apaixonado por mim? É isso mesmo, produção?
— Chris, você...
— Pois é, , enquanto você estava preocupada demais com o que os outros pensariam a seu respeito, eu estava me apaixonando por quem você é. – Ele tirou o prato e o depositou sobre a mesinha de madeira, sentando-se perto o bastante para acolher minhas mãos entre as suas. – Não me importo se faz cinco ou dez anos que você não se envolve com alguém, o que me importa é agora. Está disposta a se arriscar comigo?
A pergunta de um milhão de dólares estava na mesa. Eu não sabia o que dizer, a verdade é que estava esperando o momento em que ele fosse rir e dizer que era tudo uma piada como Laurence fizera durante um dos ensaios de Romeu e Julieta no meu segundo ano de faculdade, ele filmara minhas reações e enviara para todos seus amigos escrotos, o que me rendeu muitos apelidos e chacotas e uma vontade imensa de largar tudo. Graças a , que estudava no mesmo campus que eu, pude continuar os estudos. Ela me auxiliara quando eu não podia pedir ajuda a mais ninguém, esse era um dos motivos de seus conselhos serem tão valiosos para mim.
Se ela estivesse aqui agora com certeza já teria me ameaçado por não ter dito sim. Ele ainda estava parado me olhando a espera de uma resposta, e eu estava em choque demais para dizer algo. Não sei dizer se foi uma interseção do céu para me ajudar ou uma pegadinha comigo, pois no instante em que abri a boca um trovão estourou do lado de fora me assustando. Pulei pra fora do sofá e deixei a manta tocar o chão revelando meu pijama mais uma vez. A expressão de susto foi substituída por um quase sorriso ao me analisar. Estreitei os olhos em sua direção.
— Não ouse. – Alertei, ele erguer as mãos e fingiu trancar a boca com um zíper invisível. Olhei para o relógio de parede e notei que as horas já se avançavam, a chuva começara a cair com intensidade e não havia a menor possibilidade de deixa-lo ir embora aquela hora com o mundo caindo lá fora. – Vamos dormir, está tarde e você não vai embora nessa chuva. – Eu sabia que ele estava esperando uma resposta, e dessa vez eu não queria fugir, mas nada me impedia de adiar um pouco mais.
— Você está fugindo de novo. – A constatação me fez olhá-lo por cima do ombro, já que eu fechava a janela e puxava a cortina para encobrir a claridade dos trovões que me apavoravam.
— Não estou, neste momento eu estou com sono e medo, acredite em mim. – Assegurei, ele assentiu. – Vem, tem algumas roupas do meu primo aqui, talvez alguma sirva em você... – Analisei-o rapidamente. – Ou não, o garoto parece um Louva-Deus, mas vamos ver o que dá. – Sua risada me fez relaxar um pouco.
Em meu quarto, vasculhei o armário em busca de roupas que fossem lhe servir, na verdade a única peça que realmente deu foi uma bermuda. Entreguei-lhe toalhas, sabonete e o deixei a vontade enquanto ia para o corredor, ele podia dormir no quarto de , já que ela com certeza estava presa no estúdio e dormiria por lá. Girei a maçaneta, mas a porta não se movera. Forcei um pouco mais e não houve resultado, ela havia trancado. Com certeza havia alguma peça grande de vidro que ela largou espalhada e teve medo de que eu quebrasse. Droga de mania desastrada.
Mais um trovão estourou no céu e eu me vi pulando de susto, com a mão no peito retornei ao quarto e encontrei Evans usando a bermuda azul escura com pinta de surfista e nada além disso. Se eu não estivesse tão assustada teria feito uma prece de agradecimento, mentira, eu fiz assim mesmo. Quando me viu parada na porta sorriu.
— Adivinha só, a trancou a porta do quarto porque deve ter comprado uma peça linda de vidro para o estúdio e teve medo que eu quebrasse. – Disse indignada enquanto ele ria. – Odeio o fato dela me conhecer tão bem. – O que nos dá duas opções, você dorme aqui bem pleno e tranquilo e eu ocupo o sofá... Ou, eu posso dormir no chão ao lado da cama. – Sorri grande em sua direção e recebi uma careta.
— E por que eu não durmo no sofá ou no chão?
— Por que você é visita e minha mãe me deu educação. – Retruquei e o vi abrir a boca pra responder. – E você vai dormir aqui porque com esses trovões daqui a pouco estou debaixo da cama com medo. – Dessa vez ele riu com gosto, fiz careta e subi na cama para abrir a parte alta do armário. Consegui pegar um lençol, mas não alcancei as fronhas. Me apoiei na cabeceira da cama já na beirada no colchão e ainda assim minha mão não tocava sequer a peça. Depois de assistir minha super performance ele se compadeceu e alcançou os tecidos para mim.
— Se não alcança, por que guardou ali?
— Eu estava com uma escada, que está na área de limpeza lá embaixo. – Dei de ombros, arrumei a cama improvisada enquanto ele ia estender a toalha. Depois de tudo pronto deitei e indiquei ele fizesse o mesmo na cama.
— Você sabe que meu lado humano, eu nem disse cavalheiro, não está nada satisfeito em te ver aí embaixo, certo?
— Não olha, vai dormir. – Respondi com um tom de riso, ele bufou e eu fechei os olhos, só então dando-me conta de que estava claro demais. Levantei para ir apagar a luz e fechar a porta quando um relâmpago clareou atrás das frestas da janela, preparei-me para o estrondo e guinchei quando o barulho ensurdecedor preencheu o quarto. Corri para cama sem pensar duas vezes, pro inferno com a vergonha, meu medo estava maior que qualquer coisa.
— Ah, então decidiu que tudo bem eu ficar na cama improvisada? – A pergunta em tom de deboche me fez atirar o travesseiro nele.
— Não, você fica aqui e eu também, quando eu acordar se tiver que morrer de vergonha ok, até lá, prefiro morrer de vergonha do que de medo. – Não pude conter o riso ao ouvir o seu.
Para minha total surpresa ele abriu espaço e esperou que eu deitasse para pode nos cobrir e se acomodar novamente. Meu corpo estava tenso o bastante para ele perceber, e ainda assim não houve comentários, toques inesperados ou qualquer gesto que pudesse me deixar desconfortável. Suspirei e deixei que o cansaço me vencesse por fim, apenas para resmungar quando o trovão soou perto demais. Ignorei todo puder possível e aproximei meu corpo do seu.
— Vai conseguir dormir com esses trovões? – Sua voz estava tão perto que me arrepiou, não seria difícil de perceber. Evans causava efeitos em mim que seria hipocrisia dizer que ninguém notara.
— Espero que sim. – Acomodei-me ainda mais e senti seu braço rodear minha cintura, ele havia entendido que não haveria resistência. – Boa noite senhor Evans. – Usei a formalidade apenas para provocar e recebi um aperto na cintura.
— Boa noite, .




03 — Fale Comigo

Talk to me, talk to me
Talk to me, talk to me
Talk to me, talk to me
Talk to me, talk to me
Talk to me


Acordei com o barulho de chaves e algo caindo, abri os olhos na tentativa de ver as horas quando notei um braço rodeando minha cintura e impossibilitando que eu me mexesse. As imagens da noite passada surgiram como um filme em minha cabeça. Chris Evans estava apaixonado por mim e queria que eu me arriscasse com ele.
O que droga eu tinha na cabeça que não havia aceitado? Essa era uma ótima pergunta a qual me faria, e ao pensar nela a mesma abriu a porta do quarto. Antes que dissesse algo seus olhos localizaram a pessoa que dividia a cama comigo e então a expressão cansada eu lugar a uma pervertida. Fiz sinal para que ficasse calada e desse fora, ela piscou marota pra mim e se foi. Com todo cuidado do mundo eu ergui o braço e substituí meu corpo pelo travesseiro. Vi Evans abraça-lo e sorrir enquanto dormia, com o coração aquecido pela cena deixei o cômodo e dei de cara com parada no corredor.
— Pode começar a falar tudinho.
Revirei os olhos e a guiei para o andar debaixo, enquanto preparava o café da manhã comecei a falar sobre o que acontecera desde que deixamos o restaurante até a cena que ela acabara de presenciar, frisando o fato de que nada acontecera, e ela deixando claro que eu era bem tapada. Normal.
— Você tá me dizendo que ele está esperando uma reposta até agora? – Assenti assoprando a xícara na tentativa de esfriar o café. – Tu é maluca ou quer um real? O que tá esperando pra dizer que aceita sim, que você tá doida pra cair dentro e se tem uma coisa que tu quer fazer é aceitar? – Arregalei os olhos para sua revolta momentânea. – , acorda pelo amor de Deus, ele te viu como você é, não se importou com os defeitos que você expôs, sabe sobre suas crises de ansiedade e disse que está apaixonado por você, qual a dificuldade em ceder?
— E se...
— Não vem com e se, não. – Apontou o dedo pra mim. – Ele não tá nem aí que você seja inexperiente ou deixe de ser, todas as suas qualidades anulam seus defeitos, toma vergonha nessa cara e vai dizer pra ele que você tá dentro. – Ela estava agindo como a irmã mais velha se propusera a ser quando nos mudamos para os Estados Unidos juntas.
— Não é por nada não, mas esse apoio aí não tem a ver com o fato dele ser amigo do Sebastian Stan, não. Ou tem? – Ela corou tanto que pensei que fosse explodi, impossível não rir de sua cara. O som de passos atraiu nossa atenção, e logo a imagem de Chris Evans usando apenas uma bermuda aparecendo na minha cozinha tirou qualquer outro pensamento da reta.
— Eu vou pro meu quarto editar fotos, bom dia pra vocês. – Com a sutileza de um elefante ela deixou a cozinha, balancei a cabeça descrente de sua falta de modos.
— Ela é uma princesa né.... – Comentei alto. – Só não disse qual.
— Eu tô te ouvindo, . – O grito de me fez arregalar os olhos.
— Te amo, linda. – Chris riu ao ouvir a porta do quarto bater.
— Conseguiu dormir? – Ele perguntou depois de se servir com café e ocupar o lugar que antes estava. Assenti depois de beber mais um gole do liquido ainda quente.
— Quer que eu diga que tive uma linda noite, senhor Evans? – Ele arqueou a sobrancelha me desafiando, eu ri da atitude. – Muito bem, eu tive uma boa noite de sono e estaria dormindo lindamente se a minha colega de apartamento não tivesse feito tanto barulho. – Ergui a xícara num brinde. – Satisfeito? — Ele assentiu.
Tomamos o café em silêncio enquanto minha mente trabalhava em todas as possíveis tragédias para resposta que eu deveria dar. Droga de ansiedade, porcaria de medo. Deixei a xícara pousar sobre a mesa e suspirei, ele me olhava por cima da porcelana, nada discreto. Mordi o lábio inferior e levantei para lavar o que havia sujado, teria que tomar um café descente na rua, já que a minha falta de tempo não me permitira ir ao mercado fazer comprar descentes. Eu podia sentir sua atenção voltada pra mim, queimando minhas costas enquanto eu procurava uma forma de não ter uma crise e ainda agir como a adulta que precisava ser.
— Ok vamos lá. – Deixei a louça no escorredor e virei para fita-lo, meu corpo apoiado na ilha que me separava da pequena mesa em que estava ocupando. – Inexperiência, ansiedade e desastre são três coisas que convivem comigo todos os dias, algumas eu consigo controlar, como a ansiedade, outras como o desastre, infelizmente não. Você está disposto a viver tudo isso? – A pergunta era simples, direta e eu me dei o direito de fazer para ter certeza de que não estava entrando numa fria. Ele parecia estar a ponto de sorrir, o que não ajudava na situação, então esperei.
— Você está devolvendo a pergunta que te fiz ontem?
— Não, estou me certificando que a resposta que darei não vai me ferir. – Fui honeste, ele assentiu e se levantou.
— Sim, . Estou disposto a viver tudo o que você estiver pronta pra mostrar. – Era o que eu precisava ouvir para contornar a ilha que ainda nos separava e abraça-lo antes de me ver pedida em um daqueles beijos que te tiram o ar, o chão e a órbita.



As gravações do filme começaram no fim de setembro, todo o elenco aplaudira e surtara quando descobriram que Evans e eu estávamos juntos. Graças a esse pequeno segredo que de segredo não tinha nada, conheci Robert Downey Júnior, que fora ao estúdio apenas “conhecer a garota que enlaçou o coração do Picolé”, uma piada maldosa sobre o papel de Evans como Capitão América.
Tínhamos a programação de gravar em seis meses o filme, com cenários divididos entre o Brasilidade, alguns pontos principais do Uper East Side e uma rápida ida à Veneza nos rendeu seis meses de muita loucura. finalmente havia conhecido Sebastian Stan, num jantar na casa de Evans ela simplesmente surtara e precisou dos quarenta minutos no banheiro antes de finalmente falar com ele. Quem era eu para julgar, certo?
Para minha completa surpresa eu havia me adaptado ao papel, que segundo Nolan, fora feito para mim. Kate, Stan, Evans e todo o elenco fora bastante generoso comigo. As cenas mais difíceis eram as internas onde precisávamos ser um casal solto e sem restrições, já que o filme teria a classificação de quatorze anos e isso permitia algumas cenas mais calientes, eu sempre ruborizava, Chris sempre ria e beijava minhas bochechas vermelhas, Nolan achava adorável e o câmera man já havia desistido de tentar nos enquadrar no ângulo que ele queria.
Estávamos prontos para divulgar o material, o que incluía entrevistas em programas de TV. Numa dessas saídas fomos parar no programa de ninguém menos que Jimmy Fallon. Durante toda a entrevista respondemos sobre os filmes, o que esperávamos do lançamento e quais as chances de haver uma parte dois. Eu fui questionada se pretendia largar a carreira como Chef para me tornar integralmente atriz.
— Não, definitivamente cozinha é o meu negócio. – Um coro de “aaah” inundou a plateia, um trecho do filme já havia sido exibido e eles pareceram gostar. – Mas talvez eu faça algumas pontas como figurante, tipo o Stan Lee. – A plateia vibrou e Jimmy sorriu animado.
— Muito bem, estamos quase finalizando o programa e eu vou perguntar. – Não me movi, apenas aguardei. Durante todo esse tempo não haviam tocado no assunto do nosso namoro, apesar de haver muitos rumores pelos corredores das redações. – Algumas fontes nos disseram que vocês são o mais novo casal de Hollywood, isso é verdade? – Olhei para Chris, que já me fitava com um meio sorriso. Dei de ombros e estiquei minha mão para que ele pudesse pegar, a cara de choque de Fallon foi impagável, assim como a gritaria que tomou a plateia.
— Acho que isso é um sim, por favor, me contem um pouco sobre isso. – Ele pediu tão afoito quanto uma fangirl, prendi o riso.
— Ele me perguntou se eu estava disposta a arriscar come ele. – Fui sucinta e honesta, senti um leve aperto em meus dedos e o olhei mais uma vez, todo o estúdio estava em silêncio a espera da resposta, assenti confirmando que ele poderia dizer o que estava pensando.
— Ela me disse que tinha três coisas que faziam parte dela e queria saber se eu estava disposto a lidar. – Jimmy guinchou e eu não contive o riso. – Ansiedade, desastre e inexperiência... Bom, ela é extremamente desastrada, do tipo que bate o pé na quina do sofá quatro vezes na semana. – Todos riram, eu mordi o indicador da mão livre. – A ansiedade é um problema que enfrento há anos, e melhor do que ninguém sei como é, óbvio que esse não seria um problema. – Um coro de “Awn” foi ouvido e eu balancei a cabeça, ele estava prestes a me deixar sem graça como havia prometido que faria quando duvidei que ele seria capaz. – E sobre a inexperiência, pelo fato de ser mais nova, bom... Talvez eu tenha algo para ensiná-la. – O sorriso torto e sugestivo fez a plateia gritar em polvorosa e Jimmy bater palmas enquanto eu puxava minha mão para esconder o rosto.
Chris Evans seria um homem morto quando o programa acabasse.
— Um ótimo ponto foi tocado, a diferença de idade não foi um tabu pra vocês? – Destampei o rosto, mas não ousei olhá-lo.
— Não, definitivamente. – Respondi de pronto, era um dos assuntos com os quais tínhamos que lidar diariamente. – Se tem uma coisa que aprendi é que com certeza temos coisas a ensinar um pro outro, e bom... Acredito que isso, o nós, é o que basta. – Dei de ombros e mais uma vez o estúdio enlouqueceu, me fazendo rir.
Jimmy encerrou a entrevista, agradeceu e tirou fotos. Nos fez prometer voltar em breve, e então estávamos dispensados.
— Sabe que é um homem morto, certo? – Indaguei assim que ocupamos o banco traseiro do SUV. Ele tirou os óculos escuros e riu, puxando-me para perto de si.
— Vai acabar com seu réu primário logo comigo? – Ele afastou-se um pouco para me fitar. – Acha que vale a pena?
Fingi ponderar uma resposta.
— Com você? Do aprendizado ao réu primário, querido. – Evans riu antes de capturar meus lábios num beijo viciante e cheio de promessas. Promessas essas que eu estava louca para que ele cumprisse, uma a uma eu seria sua aluna mais aplicada.
Say your peace
The words that come out
Out of your mouth, I wanna hear
We can't be
Something divine, planets align
Where we should be
(...)
Talk to me






Fim!



Nota da autora: Pelo tapa-olho de Odin, achei que não fosse conseguir terminar. Mas cá está, quero deixar meu muito obrigada pela oportunidade de poder participar desse ficstape, a beta responsável e todos os envolvidos nesse projeto. Espero que gostem da história e por favor não deixem de comentar. Até breve.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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