Última atualização: 20/01/2018

Ink of Love

Já se passava das quatro da madrugada e eu ainda acordada, tinha passado a noite em meio as minhas telas e tintas.

Não era a primeira vez que passava a noite em claro em meio aos meus desenhos e pinturas, estava tão concentrada em terminar as novas telas, que a galeria de um conhecido de um ex-professor, havia me convidado a fazer, que até mesmo a pausa para me alimentar estava um tanto regrada. Somente deixava meu apartamento para levar Kooki para passear, meu cachorro de estimação havia sido resgatado há seis meses em um terreno abandonado, tive a ajuda do meu amigo naquele dia.

— Hum, acho que finalmente terminei. — disse me espreguiçando ainda com o pincel na mão, virei minha face para o lado e sorri de leve — O que achou deste Kooki, é o último.

Meu cachorro bocejou continuando deitado naquele velho tapete de retalho, coloquei o pincel no prato que estava utilizando para apoio e me voltei para a tela, com cuidado a levei para a parte arejada do estúdio onde morava. Era um lugar amplo e grande, sem divisórias que me dava ainda mais sensação de liberdade, ao fundo as únicas paredes eram do banheiro que ficava logo perto da minha cama e da arara de roupas que insistiam estar jogadas pelo chão.

Pouco mais a frente vinha o pequeno espaço de arte que havia criado para fazer meus desenhos, fotografias e pinturas, então vinha a discreta cozinha não planejada que ganhei de presente dos meus pais, combinadas a sala improvisada que tinha criado e mobiliado com a ajuda de um aluno do curso de design de produto. Felizmente minha sala era seu projeto de conclusão de curso, o que me ajudou a não gastar nada com a mão de obra. A parte que eu mais me orgulhava, era os sofás de pallet com futon que davam um toque de artesanato especial, não era luxuoso meu estúdio, mas era o que minha condição de recém-formada em Design podia pagar.

Não que eu esteja reclamando, já que ficava na cobertura do prédio e a vista não era das piores, morar em um bairro nobre de Belo Horizonte como a Savassi tinha seus pontos positivos.

— Que tal um lanchinho da madrugada? — caminhei até a geladeira e abrindo, comecei a conferir o que poderia comer, sem precisar ter aquele trabalho de fazer algo.

Bem lá no fundo da terceira prateleira, avistei uma caixinha transparente com um pedaço de torta de frango, não me lembrava o dia que havia comprado, mas era o que iria me alimentar àquela hora. Após estar satisfeita, me deitei na cama e fechei os olhos, depois de quarenta e oito horas sem dormir direito, meu corpo merecia um descanso e minha mente agradecia por isso. Ironicamente meu momento de paz e silêncio não demorou muito até que meu celular tocou, era uma mensagem de com um link de um aplicativo um tanto interessante, que reunia artistas de diversas partes do mundo e áreas de conhecimento.

— Hello Art. — sussurrei o nome do grupo ao clicar no link — Acho que já ouvi sobre isso.

Sim, eu já havia ouvido sobre o Hello Art na universidade, era uma febre entre os estudantes das áreas criativas, todos comentavam sobre grupos de debate diversos que tinham no aplicativo, mas eu nunca havia me registrado até o momento. A página inicial estava aberta diante de mim e não conseguiria ver nenhum conteúdo, a menos que me registrasse e fizesse o login. Pensei por um momento se deveria ou não aderir a moda, afinal todos os meus amigos participavam.

— Não. — fechei o aplicativo — Não vou fazer isso.

Voltei para a mensagem.

Não foi desta vez, não farei isso.”

Ri de leve enquanto enviava a resposta.

— Agora eu vou dormir. — disse para mim mesma desligando o celular.

As horas se passaram comigo em um sono profundo, acordei com alguns latidos de Kooki para a janela, acho que estavam fazendo uma pequena comemoração no prédio ao lado, me levantei espreguiçando e olhei para ele.

— Koo, pare de latir, a mamãe estava dormindo. — resmunguei passando meu olhar ao redor, tentando me lembrar onde havia deixado o celular — Onde deixei?!

Revirei as cobertas e logo o aparelho que estava desaparecido caiu no chão, o peguei rapidamente e liguei, já tinha mais uma dez mensagens de .

Deixe de ser boba.”
Eu já fiz o seu cadastro, só falta você fazer o primeiro acesso.”
Faça logo, tem vários profissionais que você vai gostar de conhecer.”
Yah, , me responda logo e diga que entrou.”
Aposto que passou a noite em claro.”
Eu vou aí na sua casa…”

Eu comecei a rir de tudo aquilo, ela estava tão empenhada a me fazer utilizar aquele aplicativo que estava me condicionando a ser vencida pelo cansaço. Cliquei no link que ela havia me mandado e baixei o aplicativo, com o login e a senha que ela já tinha registrado em meu nome, sem minha permissão entrei no tal famoso Hello Art. Minha primeira ação foi trocar a senha e confirmar meu email, não queria minha amiga monitorando meus passos ali, mesmo que por curiosidade.

Feito isso, comecei a fazer um tour pelo aplicativo para entender como funcionava, achei interessante a parte do meu perfil que poderia colocar imagens de meus trabalhos para futuros interessados, afinal o aplicativo estava se expandindo para não só profissionais, mais para clientes e empresas também. Demorei alguns minutos para preencher as informações pedidas e colocar as melhores imagens que estavam no meu celular, até que estava sendo divertido.

Finalmente cheguei a parte do fórum, onde tinha os mais diversos grupos de debate dos mais variados assuntos do mundo das artes, um lugar onde mentes criativas se reuniam para trocar ideias e fechar parcerias. De todo não foi ruim a persistência da minha amiga, talvez fosse algo positivo para uma nova profissional como eu, apesar de ser da área de biológicas cursando biomedicina, ela gostava bastante deste mundo criativo também.

— Vejamos, em qual sala eu entro primeiro?! — pensei um pouco olhando para os assuntos dos grupos de debate — Arte Urbana… Acho que vou entrar nessa primeiro.

Assim que cliquei na porta desenhada e entrei na sala. Uah!!!

Me deparei com um ambiente totalmente descolado e cheio de informações de diversos países, meu inglês estava um pouco enferrujado, mas conseguia entender quase todas as conversas paralelas que rolavam ali. Havia uma garota dinamarquesa, Dary, que estava dando algumas dicas de pintura aquarelada em tela vinílica, aquilo me deixou boquiaberta com tanto talento em uma pessoa só. Isso me fez descobrir que podia iniciar uma conversa num chat privado que o aplicativo disponibiliza, de imediato já adicionei ela na minha lista de amigos, para tirar algumas dúvidas sobre a técnica que ela usava para aquarelado.

Nem mesmo vi o tempo passar por ter ficado entretida com aquilo, quando olhei para a janela já estava quase no final da tarde. Fiz um lanche rápido e troquei de roupa, era a hora de levar Kooki para dar uma passeio pelo quarteirão, após ser castrado ele estava começando a ficar acima do peso, então nossa caminhada diária não podia ter um dia de pausa. Além do mais, aquilo me fazia bem também. Deixei o celular no bolso da calça de moletom que tinha vestido e segui com meu cachorro pela calçada, o pôr-do-sol estava bonito e inspirador naquele dia, talvez porque minha mente estivesse borbulhando de ideias após uma pequena conversa com a Dary sobre a nova linha de estojo aquarela da Pentel com quarenta e oito cores.

. — ouvi uma voz me gritar do outro lado da rua.
— Hum?! — virei para trás e olhei, era minha amiga e seu novo crush Jacob, um intercambista francês de sotaque forte e olhos verdes — .

Segurei o riso vendo eles atravessarem a rua até mim, Jacob estava com sua atenção voltada para o celular, provavelmente olhando as redes sociais, já que ele cursava jornalismo precisava estar sempre atualizado.

— Olá para vocês. — disse posicionando meu braço que segurava a coleira de Kooki, um pouco mais junto ao corpo para ele poder se sentar próximo a mim — O que fazem aqui?
— Recesso na universidade. — explicou ela com um sorriso malicioso — Estávamos escolhendo o que fazer agora à noite, já você pelo que estou vendo está na rotina fitness. — ela deu uma risada.
— Para uma pessoa que passa quase a maior parte do dia sentada, preciso né. — pisquei de leve para ela e sorri — E você Jacob, como está seu curso?
— Bem, consegui prolongar mais minha estadia aqui. — respondeu ele com um tom de satisfação, porém continuando com o olhar no celular.
— O que ele tanto digita aí? — perguntei curiosa esticando um pouco meu pescoço.
— Ah, ele finalmente descobriu um grupo animado de jornalismo investigativo no Hello Art. — lançou um olhar de ciúmes para ele por alguns segundos, depois voltou para mim — Mas e você? Finalmente entrou?
— Depois de todas aquelas mensagens suas, como não entrar. — a olhei com ironia — Você está já tinha feito o cadastro.
— Sabia que desta vez você não resistiria. — ela gargalhou agora — Encontrou algo legal já?
— Hum, fiz amizade com uma dinamarquesa rainha da aquarela, fiquei trocando informações com ela, até que ela me indicou um amigo cartunista que faz desenhos surreais com giz pastel oleoso, coisa que nunca imaginaria que conseguiria desenhar. — respondi com empolgação.
— Ahhh, conte mais. — ela segurou o riso, com aquele olhar de eu te avisei que era legal.
— Depois disso esse cartunista da Turquia, me convidou para uma sala vip só com artistas de rua, eu surtei geral até que a Dary me apresentou um artista coreano que faz uns grafites maravilhosos, fiquei chocada, ele fez um desenho da Rihanna usando hanbok, a roupa tradicional coreana. — nessa altura dos detalhes, eu já até senti meus olhos brilhares — Você não imagina como eu fiquei depois de ver os desenhos dele.
— Imagino sim, depois me agradece. — ela passou a mão no cabelo o jogando para trás, fazendo pose.
— Paliaça. — brinquei um pouco — Mas até que é interessante e divertido.
— Até?! — ela me olhou com desdém — Depois de todos esses detalhes do momento de descoberta? — ela gargalhou ainda mais — Quero ver sua cara daqui uma semana.
— Ah, deixa de ser chata, estou me sentindo uma criança perto deles. — suspirei um pouco — É louco, mas o mundo é cheio de pessoas talentosas e não sabemos. — admiti profundamente.
— Só não vai se enterrar nesse aplicativo e esquecer de viver. — ela olhou para o lado fixando seu olhar no celular do Jacob — Acho que agora eu terei que tomar o lugar de certas coisas.

Eu ri baixo, enquanto ela pegava o celular dele, que a olhou como um cachorro sem dono.

— Querida?! — resmungou ele.
— Não, agora é nosso momento, depois você visualiza a conversa. — ela jogou o celular dele dentro da bolsa — Você vai voltar para casa depois da caminhada?
— Vou, depois de quarenta e oito horas de trabalho, preciso de aconchego. — respondi deletando da mente dela qualquer ideia de me arrastar pra algum programa indesejado.
— Hum, então nos vemos depois. — ela me abraçou de leve e seguiu com Jacob pedindo para olhar o celular por dois minutos.

Eu ri ainda mais vendo eles indo, era a pessoa mais compreensível que eu conhecia no mundo, mas quando ela queria atenção nada ficava no caminho, nem mesmo um celular.

— Bem, vamos terminar nossa caminhada, mamãe se livrou de um encontro às cegas. — ri de leve voltando a direção que estava seguindo com Kooki.

Encontro à cegas. era mestre em arrumar um para mim, ela se sentia na obrigação de me ajudar a encontrar um namorado legal, já que minha primeira desilusão amorosa havia sido com seu irmão mais velho Sam. Porém, apesar de sempre falar para ela que eu estava bem sozinha, minha amiga insistia em encontrar cara “legais” para sair comigo, algo que nunca dava certo pois os assuntos sempre eram os mesmos, além de que eles nunca sabiam o que era Mozart. Logo Mozart, um dos melhores compositores da música clássica do século 18, isso sempre me fazia parecer uma deslocada perto deles.

— Hum, a noite está fresquinha. — me sentei num banco perto da praça da Savassi — O que acha Kooki?!

Ele me olhou e pulando em cima do banco, se deitou ao meu lado.

— Está cansado também? Acha que devemos voltar? — sorri de leve e comecei a acariciar seu pelo — A noite está agradável hoje.

Logo senti meu celular vibrar no bolso da calça, ao retirar conferi que era uma notificação do Hello Art, alguém havia me enviado uma mensagem. Fiquei curiosa e logo abri para saber, era o artista coreano me enviando algumas fotos do novo projeto que estava trabalhando, o que me fez ficar ainda mais admirada com seu trabalho. Respondi com um emoticon de surpresa e admiração, depois guardei o celular novamente no bolso e voltei para casa.

Já era tarde para Kooki tomar um banho, mas para mim não, me joguei debaixo do chuveiro e deixei a água quente fazer todo o trabalho, de descansar minha coluna que ainda sentia suas dores musculares. Após o pijama colocado, tive a brilhante idéia de pedir um delivery de comida japonesa, tinha certeza que minha noite seria deitada na cama, tentando me convencer que conseguiria ficar acordada vendo Once Upon a Time.

Ao amanhecer, a primeira coisa que fiz foi enviar a mensagem ao gerente da galeria, as cinco telas de pinturas abstratas em 3d estavam devidamente prontas, felizmente a recente exposição de talentos das artes mineiras contaria com uma profissional recém-graduada. Eu!

— Uau, ficaram maravilhosas. — disse ele num tom surpreso.
— Agradeço. — sorri de forma tímida, nunca soube receber um elogio.

Mas sabia que eram sinceros, já que Matt estava no ramo das artes a mais de quinze anos e seu olhar era bem crítico.

— Tenho certeza que você será selecionada para a próxima etapa. — confirmou ele com certa convicção — Achei que fosse algo extremamente complexo para você realizar em poucos dias, mas o resultado final me surpreendeu.
— Que isso, eu já me sinto privilegiada por terem me convidado, ainda mais por não ser conhecida ainda. — me encolhi um pouco mantendo meu olhar na tela que mais me fez querer desistir e chorar — Agradeço a oportunidade.
— Bem, não costumamos convidar jovens talentos, mas depois que o Tomich me mostrou o seu artbook de TCC sobre a composição de luz e sombra em obras monocromáticas, fiquei sem palavras. — explicou ele.
— O professor Tomich realmente gostou muito, devo admitir que ele me ajudou bastante, desde o primeiro semestre do curso ele me aconselhou a ir juntando informações e técnicas. — voltei meu olhar para ele — Felizmente no final deu tudo certo.
— Espero você no coquetel e lançamento. — ele retirou dois convites do bolso e me deu — Terão vários profissionais, imprensa e a elite mineira, o que significa possíveis clientes.
— Não vou perder por nada. — sorri pegando os convites — Agradeço novamente a oportunidade.

Eu coordenei os funcionários dele que haviam chegado para levar às telas, colocamos em cinco caixas separadas e eles levaram com cuidado para a pequena van. Me despedi novamente de Matt e voltei para o estúdio, Kooki estava sentado no beiral da janela olhando a rua, aproveitei para sua distração para limpar o lugar onde ele fazia suas necessidades, além de trocar a água e colocar mais ração.

Passei a tarde colocando um pouco de ordem e organização naquele lugar, havia lápis e tintas perdidos até mesmo em cima da geladeira, eu tinha que concordar com minha mãe que quando me concentrava em algum trabalho, era a única que conseguia me encontrar em minha própria bagunça. Quando finalmente consegui terminar e me sentei no sofá, abri o Hello Art para ver o que estava rolando nas principais salas de debate, havia duas com mais membros online que falavam sobre expressionismo e xilogravura, respectivamente.

— Hum, acho que não. — fiz uma breve careta, nenhum dos dois eram estilos que eu gostava.

Passei os olhos nas demais páginas procurando algo que finalmente conseguisse obter interesse, até que apertei acidentalmente a seta para ir para a última página de títulos do fórum, onde notei que havia uma com um único membro. A princípio achei estranho até pensei que fosse sobre um assunto tedioso, mas a sala estava listada como tema sobre música clássica e contemporânea, o que instigou a curiosidade. Até descobrir que para entrar na sala, tinha que responder corretamente uma pergunta, isso desanimava muito.

— O melhor compositor clássico? — sussurrei ao ler a pergunta — Isso é um pouco pessoal, já que existem tantos que marcaram história, a menos que…

Pensei por um instante e respondi de acordo com meu gosto.

— Mozart. — sussurrei ao digitar.

Automaticamente entrei na sala, o que me fez ficar surpresa de imediato.

— Vejamos quem é este ser que fez a pergunta. — ri de leve digitando uma mensagem de cumprimento.

: “Hello?!”

Fiquei um tempo esperando mas nada aconteceu, deixei o celular no sofá e caminhei até a geladeira, estava começando a sentir fome, o que me levou a preparar um miojo rápido para o almoço, já que o delivery de ontem havia terminado no café da manhã.

— Tenho que começar a ter uma educação alimentar decente. — desviei meu olhar para Kooki por um tempo — O que acha Koo? A mamãe anda comendo muita besteira.

Ele me olhou tombando a cabeça para o lado como se concordasse.

— Você bem que podia me apoiar mais. — voltei meu olhar para a tigela de miojo — Morar sozinha tem seus pontos negativos.

E espreguicei e caminhei de volta ao sofá, Kooki se deitou ao meu lado e ficou com seu olhar fixo na televisão.

— Você quer ver algo? — peguei o controle e liguei, coloquei Ratatouille pela milionésima vez, de alguma forma louca ele gostava daquela animação — Divirta-se, a mamãe vai comer agora.

Até que não era de todo ruim morar sozinha, ainda mais pela privacidade, mas em momentos fome eu sempre sentia falta da comida da minha mãe. Não demorou muito até que meu celular tocou, uma notificação do Hello Art, que me fez entrar rapidamente para saber se era algum sinal de vida do senhor clássico…

ClassicLord: Hello.”

Fiquei brevemente paralisada, até que a próxima frase chegou.

ClassicLord: Prefere em português ou inglês?”

O que? Será que ele sabia falar meu idioma?

: “português, se não for incômodo, kkkkk” — digitei rindo — “como sabe que falo português?”

Agora eu estava curiosa.

ClassicLord: seu perfil, está Brazil.” — digitou ele.
: “verdade, ignore a pergunta…
mas você fala português???”
ClassicLord: sim, um pouco, ainda estou aprendendo.”

Dava para perceber pela forma que escrevia, o que me fazia não querer escrever tão corretamente mesmo precisando.

: “por que a pergunta para entrar na sala?”
ClassicLord: hum, não sei, foi uma curiosidade que tive.”
: “ah, e eu fui a primeira que respondeu certo? kkkkkkk”
ClassicLord: Mozart?! foi a segunda.”

Que chato.

: “é a primeira vez que monta uma sala só para tirar curiosidade?” — aquela pergunta curiosa de minha parte.
ClassicLord: para cer sincero, esta é a última.”
: “não é cer com c, é ser com s kkkkkkkkkkkkkkkk….” — ri um pouco mais, não consegui deixar de corrigir ele.
ClassicLord: desculpe-me, sempre me confundo”
: “de onde você é?”
ClassicLord: South Korea”
: “uau, conheci um artista de rua do seu país, maravilhoso e muito talentoso.”
ClassicLord: legal, existem muitos em Hongdae, um bairro da capital Seoul.”
: “interessante, tenho uma amiga que já namorou um intercambista coreano que era de Busan”
ClassicLord: já morei em Busan quando criança”
: “eu tenho uma certa curiosidade pela ilha de Jeju, já ouvi falar bem de lá.”
ClassicLord: é um lugar refrescante.”
: “esta é uma sala sobre música, agora fiquei curiosa sobre o tipo de música que você ouve”
ClassicLord: ah, gosto de baladas, mas em alguns momentos ouço hip-hop e pop”
: “olha, pensei que fosse mesmo uma pessoa clássica, daquelas que vai em concerto de orquestra e só ouve ópera kkkkkk”
ClassicLord: eu vou em concertos e ouço ópera, mas prefiro musicais.”

Opa!

ClassicLord: mas também gosto de músicas mais modernas e contemporâneas, digamos que meu país tem uma diversidade boa para quem gosta de música” — ele parecia seguro em sua resposta.
: “já tive um pequeno contato com músicas coreanas, o que me deixou impressionada com a qualidade, principalmente dos vídeos musicais”
ClassicLord: ah sim, o investimento aqui é bem grande”
: “imagino, você somente aprecia ou trabalha na área?”
ClassicLord: sou produtor, cantor e compositor” — aquilo deveria soar de forma humilde e modesta, mas…

Agora fiquei surpresa.

: “você trabalha em alguma empresa grande?”
ClassicLord: sim, mas não posso dizer o nome”
: “hum, então você é um cantor importante”
ClassicLord: basicamente”
: “agora estou curiosa, o que faz aqui no Hello Art?”
ClassicLord: curiosidade.”
: “curiosidade?” — faz sentido, todos entram por curiosidade.
ClassicLord: vi uma staff da empresa uma vez, perguntei o que era e ela me mostrou, ela estava numa sala de assuntos sobre figurinos de artistas”
: “então ficou curioso e acabou entrando?”
ClassicLord: sim.”
: “basicamente o que todo mundo faz kkkkkkkkkkkk”
ClassicLord: posso fazer uma pergunta?”
: “claro.”
ClassicLord: o que seria esse kkkkkkkkkkkk?
: “é uma expressão de riso que uso”
ClassicLord: ahhhhh.”
: “kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk”
ClassicLord: e você? o que faz da vida?”
: “acabei de me formar em design, estou me especializando em artes plásticas, desenho monocromático e fotografia em sépia”
ClassicLord: uau, isso é legal, admiro quem tem talento para desenho e essa área mais artística
se eu tivesse, certamente seria um escritor de webtoon, transformaria minhas músicas em histórias”
: “bem cada um com seu dom kkkkkkkk mas também tenho uma forte admiração para quem compõem músicas e escrever histórias, haja imaginação para isso
o que seria webtoon?”
ClassicLord: são revistas digitais no estilo mangá, mas os desenhos de alguns são um pouco mais realistas”
: “sério? eu gosto de mangá, me indica uma?”
ClassicLord: cheese in the trap
é um dos mais famosos que existe”
: “vou começar a ler hoje mesmo, principalmente para saber como são os traços dos desenhos, eu fiz um curso de desenho em mangá há dois anos”
ClassicLord: e gostou?”
: “é uma técnica meio diferente de desenhos realistas ou de criação de moda, mas gostei bastante de aprender, conhecimento nunca é demais, principalmente pra mim que gosto de desenhos”
ClassicLord: e você só faz em 2d?”
: “hum, não kkkkkkkkkkkk mas desenhos em 3d dão muito trabalho, então prefiro fazer em software mesmo”
ClassicLord: agora fiquei curioso para ver seus desenhos”
: “Posso te mandar se quiser.”
ClassicLord: manda em um chat privado, vou deletar essa sala”
: “desistiu de fazer sua curiosidade?”
ClassicLord: digamos que outra tenha se despertado mais forte”
: “ohhhh kkkkkkkkkkkkkkkkk”
ClassicLord: preciso ir agora, mas espero seus desenhos”
: “Pode esperar, vou enviar”

Fiquei olhando por um tempo para a tela no celular até que surgiu uma mensagem de erro, avisando que aquela sala havia sido apagada.

— Uau, parece que essa conversa rendeu. — sussurrei ao olhar as horas, desviei meu olhar para meu cachorro que se espreguiçava ao meu lado — Hum, seu preguiçoso, temos um passeio para dar.

Ri de leve me levantando do sofá e indo até a arara de roupas, precisava colocar roupas mais leves, pois aquele dia estava mais quente que os outros, tirei uma foto aleatória de Kooki já com a coleira de passeio e postei no meu instagram, aquele era o sinal que nosso momento fitness estava para começar. Passei o olho em minhas postagens passadas, havia mais fotos de Kooki do que minhas, o que me fez pensar que meu cachorro era mais fotogênico do que eu.

— Kooki, eu deveria deixar este instagram só para você. — ri de leve enquanto ele mantinha seu olhar na porta — Ah, eu sei que você quer passear, seu malandro.

Ele deu o primeiro latido para a porta me fazendo sorrir de leve.

— Ok, vamos para a nossa caminhada diária. — segurei firme na alça da coleira e guardando o celular no bolso, saímos pela porta.

Em todas aquelas horas ao ar livre, não conseguia parar de pensar no misterioso senhor clássico, saber que era um cantor famoso mesmo que do outro lado do mundo, me deixava um pouco mais curiosa. Ainda mais por ter desenvolvido uma conversa tão suave em um curto espaço de tempo, isso sim foi surpreendente, uma pessoa de uma cultura diferente conseguiu manter minha atenção, por mais tempo do que eu poderia imaginar. Conseguindo me deixar com vontade de conversar ainda mais com ele.

— Kooki, a mamãe está com fome, vamos ter que passar em algum lugar antes de voltar para casa. — lancei meu olhar para o semáforo e esperei o sinal abrir para atravessar com ele.

Segui até uma padaria em que gostava de ir, felizmente Kooki podia entrar comigo, demorei algum tempo até finalmente escolher tudo o que queria e ir para o balcão de pagamento. Quando chegamos em casa, Kooki foi direto para seu cantinho parecia estar faminto, mas claro que nosso passeio havia sido mais demorado que de costume, enquanto isso fiz o meu lanche noturno.

- x -

Finalmente havia chegado a noite do coquetel, eu estava animada por causa das minhas telas que seriam expostas, meu primeiro trabalho após o final da graduação. Felizmente ficaria no meu estúdio cuidando do Kooki, eu havia oferecido o outro convite para ela, porém minha amiga estava passando por um momento um pouco delicado e solitário, preferindo ficar alguns dias morando comigo e não indo a festas ou algo do tipo.

— Tem certeza que não quer ir? — perguntei novamente ao pegar minha carteira e as chaves do carro dela.
— Tenho, prefiro ficar aqui vendo A culpa é das Estrelas. — ela estava deitada na minha cama enrolada em uma manta com o notebook mais a frente, virado para ela.
— Tem certeza que você está bem? — a olhei preocupada.
— Estou sim. — ela respirou fundo e me olhou — Só estou tentando sobreviver a uma junção de gripe, tpm e solidão.
— Quando você diz solidão…
— Como você já sabe, Jacob teve que ir as pressas para a França, algo relacionado a família. — ela se encolheu mais um pouco — Justo agora.
— Pense positivo, vai ficar tudo bem. — eu sorri para ela e segui até a porta — Bom filme para você.
— Não se preocupe, se divirta, vou cuidar bem do Kooki. — advertiu ela.
— Pode deixar. — assenti.
— E tire muitas fotos para o senhor clássico. — ela deu uma gargalhada, nem parecia a deprimida amiga de segundos atrás.

Eu saí pela porta rindo dela, talvez eu tiraria sim algumas fotos para ela, havíamos conversado tanto nos três últimos dias, sobre a conexão que a música tinha em algumas áreas artísticas. Algo que me fez descobrir mais outros pontos em comum que tínhamos, como filmes e atores de Hollywood favoritos, livros de ficção e até mesmo games mais famosos da atualidade.

Indo para o coquetel!” — escrevi esta mensagem e enviei no chat privado para ele.

O senhor clássico havia mesmo me feito prometer que tiraria fotos das minhas telas expostas e enviaria para ele, chegou até brincar que compraria uma.

— Oh, que bom que chegou. — disse Matt assim que passei pela entrada da galeria, ele parecia um pouco diferente usando smoking, já que seu estilo casual sempre predominava com jeans e camisa polo.
— Jamais perderia, mais uma vez obrigada pelo convite. — sorri de leve.
— Várias pessoas gostavam da sua tela, já pode se considerar convidada para a exposição da matriz em São Paulo. — anunciou ele com empolgação.
— Sério?! — estava surpresa — Estou ainda mais agradecida.
— Não agradeça, suas telas estão entre as dez melhores da exposição, nós é que agradecemos. — ele sorriu e estendeu a mão para o lado — Venha, quero te apresentar a editora chefe da revista Kasa.
— Claro. — assenti o seguindo para a direção indicada.

Foi uma noite incrível que me fez estar entre vários profissionais conceituados, além de me aproximar do público alvo das artes, Matt estava tão empolgado em me apresentar para algumas pessoas influentes que quase não consegui tirar muitas fotos. Mas nos minutos oportunos consegui registros até mesmo de trabalhos de outros profissionais, final da noite ao voltar para casa tinha muita história para contar a .

, cheguei. — disse ao entrar já fechando e trancando a porta — Está acordada?

Olhei para a direção da cama e o notebook já estava com a tela abaixada de uma lado da cama, minha amiga estava toda embrulhada na manta e encolhida do outro, com os fones no ouvido e aparentemente em sono profundo. Kooki se levantou do tapete onde dormia e veio ao meu encontro com alegria.

— O Kooki da mamãe. — eu acariciei ele de leve sorrindo — Sentiu minha falta? A noite da mamãe foi muito longa e divertida.

Ele deu um latido alto.

— Shi!! — fiz o sinal de silêncio com o dedo indicador — A tia está dormindo.

Eu caminhei até o banheiro, ao passar pela arara de roupas peguei meu pijama, era a hora de me preparar para dormir, ou não, eu havia passado todo o evento com o celular no bolso e sem internet, estava curiosa para saber se o senhor clássico estava online. Assim que saí do banheiro me sentei no sofá e peguei o celular que estava dentro da carteira, liguei o wi-fi e uma chuva de mensagens e notificações chegaram na tela do aparelho.

Tinha algumas mensagens de alguns grupos de debate que eu estava seguindo, duas mensagens de Dary com alguns vídeos de técnicas de aquarela que ela tinha prometido me enviar, além de quatro mensagens do artista de rua coreano com seu novo trabalho registrado nas ruas de Manhattan. E lá estava a notificação que eu queria muito.

ClassicLord: acabo de ver sua mensagem, como foi seu evento?”

Dei um suspiro de felicidade, algo estranho de minha parte.

: “maravilhoso”
ClassicLord: uahhhh… isso é bom.”
: “está on… pela hora não deveria estar trabalhando ou almoçando?”
ClassicLord: estou fazendo ambos”
: “sério?”
ClassicLord: sim, estava praticando um pouco, mas parei para me alimentar”
: “hum, que bom que está cuidando da sua saúde”
ClassicLord: preciso bastante, mas não vamos falar de mim, como foi lá além de maravilhoso?”
: “Minhas telas serão expostas em São Paulo também”
ClassicLord: uahhhh congratulations.”
: “agradeço kkkkkkkkkkk fiquei muito animada com isso, apesar de não poder ir para a exposição lá”
ClassicLord: por que não pode?”
: “primeiro porque minha grana está pouca e segundo, varei um estágio em uma agência de publicidade de amigo da minha ex-professora da universidade”
ClassicLord: isso é bom?”
: “demais, essa minha ex-professora indicou três alunos para fazer estágio nessa agência que é uma das melhores de Belo Horizonte, mesmo sendo bom a exposição das minhas telas, não posso desperdiçar a oportunidade de obter experiência em um emprego fixo”
ClassicLord: escolheu com sabedoria então”
: “parece que sim kkkkkkkkkkk”
ClassicLord: desejo que no futuro você possa se tornar conhecida por suas obras e poder ir a todas as exposições”
: “agradeço seu desejo
o que vai fazer depois do almoço?”
ClassicLord: voltar a praticar”
: “você tem alguma apresentação importante?”
ClassicLord: comeback”
: “o que seria isso?”
ClassicLord: meu retorno aos palcos com uma música inédita, denominamos isso de comeback”
: “nossa, você são cheios de termos aí, não é?”
ClassicLord: mais ou menos, algo mais que você não entende?”

Pensei por um instante, eu até poderia pedir a ele para me explicar várias coisas, mas eu gostava muito de pesquisar e estudar para isso.

: “prefiro ir descobrindo aos poucos kkkkkkk
você é cantor solo ou tem um grupo?”
ClassicLord: tenho grupo”
: “nossa, daqueles com mais de 400 membros? kkkkkkkkkkkkkk
desculpa, mas acabei descobrindo que tem grupos com muitos membros.”
ClassicLord: bem, digamos que no meu todos conseguem cantar”
: “não vai mesmo me dizer qual é?”
ClassicLord: não posso, me desculpe”
: “para proteger a imagem de vocês”
ClassicLord: mais ou menos”
: “hum….”
ClassicLord: espero que não fiquei com raiva”
: “oh não, não sou assim, te entendo, soube que a mídia coreana pega pesado com seus artistas”
ClassicLord: thank you, por entender”
: “mudando de assunto, acho que posso saber mais sobre sua vida pessoal, já que a profissional é um segredo.
ou não pode?”
ClassicLord: pode, o que deseja saber?”
: “você já fez faculdade, ou pretende fazer, tem irmãos? já veio ao brasil?”
ClassicLord: podemos mudar de pergunta?”
: “mas você disse que eu poderia perguntar”
ClassicLord: digamos que de acordo com as minhas respostas, alguns artistas poderiam ser descartados de sua lista de possibilidades”

O que? Como ele conseguiu pensar sobre isso em um curto espaço de tempo, se nem eu havia chegado a este ponto?

: “você é esperto.”
ClassicLord: me desculpe”
: “oh não, já disse para não se desculpar
hum, vamos tentar de novo?”
ClassicLord: sim”
: “o que gosta de comer?”
ClassicLord: comida coreana?”
: “pode ser kkkkkkkkkkk”
ClassicLord: jajangmyeon e bulgogi”
: “hum…”

O que seria isso?? Fiquei me perguntando?

ClassicLord: e você?”
: “comida brasileira?”
ClassicLord: pode ser”
: “gosto de strogonoff de frango e batata palha”
ClassicLord: uahhh frango é bom”
: “você gosta de frango?”
ClassicLord: que coreano não gosta” — aquilo me pareceu um comentário super natural, como se eu conhecesse coreanos.
: “você precisa experimentar coxinha de frango, é o patrimônio nacional do brasil”
ClassicLord: hum, vou me lembrar disso”
: “nossa, mais uma coisa em comum”
ClassicLord: sério? você está contando?”
: “claro, não é todo dia que encontro uma pessoa que conhece Mozart, gosta de A Viagem de Chihiro, seu ator favorito é o Johnny Depp, chorou com a morte do Mufasa, viu todos os filmes de Harry Potter, joga LoL, vê animes, ouve ópera e ainda gosta de frango”
ClassicLord: uau, tudo isso”
: “me esqueci de acrescentar que é um excelente compositor”
ClassicLord: você acha?”
: “claro, traduzi a letra que me mandou, achei muito linda e comovente”
ClassicLord: isso me deixa motivado”

Surpreendente, mas a cada vez que conversávamos eu conseguia encontrar ainda mais pontos de conexão e interesses em comum com ele, a única coisa que ainda me deixava com receio era não saber realmente quem ele era. Aquilo me fazia a todo momento pensar em não acreditar em metade das coisas que ele escrevia, um nome eu só queria um nome, nem conhecia mesmo os grupos de kpop, não custava nada ele dizer pelo menos seu nome.

, já chegou? — resmungou de repente da cama.
— Já!
— Não vai dormir? — ela ergueu seu corpo — Me desculpa, tomei sua cama e nem deixei o colchão pra você.
— Não se preocupe, nem estou com sono ainda, pode voltar a dormir. — expliquei mantendo meu olhar na tela do celular pensando no que poderia escrever para ele.
— Está conversando com o coreano clássico? Ele já disse quem era? — perguntou ela na curiosidade.
— Não, ele não disse, mas estamos conversando sim.
— Hum, então não vou atrapalhar. — ela virou para o outro lado e voltou a dormir.

Aquele lado discreto de que fazia nossa amizade crescer ainda mais, ela era curiosa e sempre tentava me ajudar querendo saber os detalhes da minha vida, porém jamais ultrapassava os limites e respeitava minha privacidade. O celular vibrou em minha mão chegando outra mensagem, a tela havia apagado nos poucos segundos que meus olhos se desviaram para minha amiga e depois meu cachorro.

ClassicLord: tenho que voltar, te desejo uma boa noite”
: “bom dia
vamos conversar amanhã?”
ClassicLord: se você quiser”
: “então até amanhã”

- x -

Os meses foram se passando com meu estágio na agência Moonlight, era divertido trabalhar em um ambiente descontraído e estimulante visualmente. Eu dividia meu tempo entre cursos de especialização, estágio, trabalhos extras particulares, passeios noturnos com o Kooki e conversas na madrugada com o senhor clássico. A única hora que conseguíamos conversar era quando ele almoçava, pelo menos ele dizia que estava almoçando.

Nossos assuntos variavam muito de acordo com o dia e com o que estava acontecendo em nossas vidas, mas de forma inesperada ele passou a me contar em poucos detalhes sobre como estava indo seu comeback e as vendas dos álbuns. Aquilo me fez brincar com ironia, dizendo que eu poderia comprar se ele dissesse quem era, mas não deu muito certo, além do mais haviam muitos grupos fazendo comeback ao mesmo tempo ao longos destes meses.

Era final de sexta, quando Matt me enviou um email me convidando para participar de uma exposição nova, aberta para a divulgação de jovens talentos na área artística e desta vez eu poderia escolher o que fazer, como fazer e a influência que minhas obras teriam. A parte legal é que eu poderia fazer qualquer tipo de obra, sendo fotografia, desenho, pintura ou escultura. O que me levou a querer fazer as que mais gostava, porém só não tinha nenhuma ideia sobre o tema que faria.

: “tenho novidades” — mandei uma mensagem privada para o senhor clássico na esperança que não demorasse para ler.

Desliguei o computador da empresa e peguei minha bolsa, meu expediente já estava no fim e me encontraria com e Kooki na padaria, felizmente minha amiga estava com as tardes livres e sempre dava uma olhada em meu cachorro. Assim que cheguei as escadas para descer até o térreo do prédio, meu celular vibrou no bolso, uma mensagem.

ClassicLord:estou curioso para saber” — foi a resposta dele.
: “uahhh... acordado a esta hora?”
ClassicLord: estava no estúdio de gravação, vamos lançar um single especial para nossa tour”
: “vocês terão tour? #surpresa”
ClassicLord: sim, tour mundial e talvez passaremos na américa do sul”
: “jinja?” — aquilo sim era novidade.
ClassicLord:nunca falei tão sério, ultimamente tenho expressado muito meu desejo em ir para o ocidente”
: “hum, nem imagino qual seria a causa deste desejo” — modéstia.
ClassicLord: mas não era para falar sobre isso, a novidade era sua”
: “ahhhhh verdade, fui convidada para participar de outra exposição”
ClassicLord: jinja?”
: “sim, de jovens talentos e poderei fazer a obra que eu quiser desta vez”
ClassicLord: e já sabe o que vai fazer?”
: “não, estou um pouco indecisa porque gosto de várias coisas ao mesmo tempo
acho que sempre tive dificuldades em manter o foco em alguma coisa kkkkkkk
por isso tive que iniciar meu tcc desde o primeiro período, sabia que eu iria mudar e mudar de ideia ao longo dos anos”
ClassicLord: hum, se quiser uma inspiração” — um tanto ousado da parte dele.”
: “hummm kkkkkkkkkkkkkkkkkk
e o que você me propõem?”
ClassicLord: eu”
: “o que?” — aquilo estava meio confuso agora.
ClassicLord: você em algum momento já pensou em fazer obras de arte inspiradas em músicas?”
: “não, mas parece interessante” — parecia mesmo interessante.
ClassicLord: se quiser posso te ajudar com isso.”
: “e como seria? vai compor para mim?”
ClassicLord: talvez”
: “talvez? oferece ajuda e fala talvez?”
ClassicLord: bem, então irei compor para você, este será meu presente”
: “presente? hum....”
ClassicLord: sim, hoje completamos 200 dias que nos conhecemos”
: “200 dias? já?
nossa são pouco mais de seis meses??”
ClassicLord: sim”
: “o tempo passa bem rápido”
ClassicLord: sim, mas estou grato por ter te conhecido, gosto da sua amizade”
: “também gosto da sua amizade, apesar de você saber quase tudo sobre mim e eu não saber nada sobre você
essa balança está em desequilíbrio”
ClassicLord: mianheyo… mas se eu falasse quem sou, em menos de cinco minutos saberiam quem eu sou”
: “nem tanto, às vezes passamos uma vida com uma pessoa e não a conhecemos por completo”
ClassicLord: devo concordar com isso?”
: “claro”
ClassicLord: então, prometo que no futuro, irei me apresentar devidamente a você, então poderá me conhecer de verdade”
: “vou cobrar”
ClassicLord: é uma promessa”
: “tenho que ir agora, estou em frente as escadas e preciso ir para casa”
ClassicLord: estará online mais tarde?”
: “claro, preciso do meu boa noite direto da coreia”
ClassicLord: então irei praticar agora arduamente, para poder te dar boa noite depois”

Eu sorri como uma boba até que a tela do celular se apagou, joguei o aparelho dentro da mochila e desci as escadas correndo. Por mais que fosse somente uma amizade, o tempo que passava conversando com ele fazia meu dia um pouco mais alegre e divertido, ainda mais quando ele tentava me ensinar a falar coreano.

— Me desculpe a demora. — disse ao chegar correndo na padaria.
— Eu e Kooki começamos a pensar que você tinha se esquecido de nós. — brincou .
— Desculpa mesmo. — eu acariciei de leve meu cachorro e depois abracei minha amiga — Me perdi em uma conversa com o senhor clássico, pouco depois que saí da agência.
— Nossa, a essa hora? — ela me olhou curiosa.
— Eu também fiquei chocada quando vi ele online. — ri de leve pegando a coleira da mão dela — Então o que comprou para mim?
— Eu nada, estava te esperando para comprarmos juntas. — ela deu me ombros — E enquanto escolhemos, já quero os detalhes da conversa.
— Como você é curiosa. — sussurrei desviando meu olhar para dentro da padaria.
— Ahhhh, só quero seu bem. — reclamou ela.
— Eu estou bem, nós somos somente amigos. — adverti ela.
— Me engana, seus olhos vivem brilhando quando fala dele, mesmo sem nunca tendo o visto. — retrucou ela com tanta verdade.
— Eu só não o vi por causa… Você já sabe o motivo, além do mais, ele me prometeu que se apresentaria para mim formalmente.
— Só não pago para ver, porque quero ver de camarote. — ela deu uma gargalhada indo até a geladeira de yogurts.

Eu ri baixo da minha amiga, sabia que ela torcia pela minha felicidade, mas depois de todos esses 200 dias conversando com o senhor clássico, já imaginava que não seria muito fácil para nós dois nos conhecermos oficialmente, menos ainda manter algum relacionamento além da amizade. Algo que não impedia meu coração de acelerar, enquanto conversava com ele todos os dias na hora do almoço.

Demoramos um pouco para escolher o que compraríamos, não quis nada então só comprei algo para meu café da manhã do dia seguinte, nosso jantar foi em uma cafeteria próxima ao meu prédio. Pelo menos tinha algo que queria comer a muito tempo, o procurado Petit Gateau.

— Quando teremos nosso momento garotas de novo? — perguntou ela.
— Agora só depois da exposição. — respondi com um suspiro fraco — Vou começar a preparar minhas telas, sou esperarei as composições dele.
— Hum, depois diz que só é amigo. — ela riu — Sabe-se lá quantas músicas ele vai compor para você, se isso é amizade, quero uma assim também.
— Yah, você já tem seu francês, pare com isso. — a repreendi.
— Bem, o Jake mandou uma mensagem dizendo que voltaria no mês que vem, estou torcendo para que seja verdade. — ela deu um sorriso largo e esperançoso.
— Fighting! — disse num tom animado.
— Que isso?! — ela me olhou — Você está andando muito com este coreano, já está até pegando as manias deles.
— Acho que sim. — eu ri com ela — Agora eu vou, dá tchau para a tia .
— Até mais Kooki. — ela sorriu para ele e acariciou seu pêlo.

Nos abraçamos e cada uma seguiu sua direção, não morava muito longe de mim, pois ficava em uma república mais próxima ao Hospital das Clínicas da UFMG, onde estava fazendo seu estágio. Voltei tranquilamente para o estúdio com Kooki, logo que chegamos ele foi direto para a vasilha de ração, que dó, meu dog estava com fome e a mãe desnaturada conversando com a amiga.

Joguei a mochila em cima da cama e me espreguiçando fui em direção ao banheiro, tomei uma ducha quente e rápida, coloquei meu pijama e um avental por cima. Inicialmente trabalharia com pintura, uma a óleo, duas acrílicas e três aquarelas, como eu deveria apresentar dez obras, optei for fazer também quatro pinturas digitais. As técnicas já estavam selecionadas, só faltava minha inspiração.

ClassicLord: Já chegou em casa?”  — foi a primeira mensagem que chegou assim que peguei o celular.
: “acabei de chegar”
ClassicLord: hum…”
: “e você? não está muito cedo para seu almoço?”
ClassicLord: teremos um fanmeeting na hora do almoço”
: “ahhhh… e eu devo saber o que é isso?”
ClassicLord: é um evento entre o grupo e as fãs, onde tem algumas apresentações e brincadeiras, coisas assim, é divertido e nos aproxima mais do nosso público”
: “que interessante e elas pegam autógrafos também?”
ClassicLord: não, autógrafos são no fansign”
: “nossa…” — muitos termos…
ClassicLord: deu pra entender?”
: “ah sim, deu sim kkkkkkkkkkk
e você está se alimentando agora?”
ClassicLord: estou, não muito, mas estou sim”
: “que bom, eu estava separando minhas telas, estou animada para começar a pintar”
ClassicLord: hum… eu encontrei um caderno com algumas composições que fiz a um tempo, se me prometer que não vai deixar ninguém ver as músicas”
: “não deixarei, somente vou expressar os sentimentos das suas canções em minhas pinturas, mas não deixarei ninguém saber, a menos que você fale de onde saiu a ideia”
ClassicLord: uahhhhh…. sério mesmo? promete?”
: “segredo nosso”
ClassicLord: mandarei assim que voltar para o dormitório”
: “hum, você mora no dormitório?”
ClassicLord: às vezes, quando não quero ficar só eu vou para lá”
: “então você já tem uma casa só sua?”
ClassicLord: assim como você”
: “eu tenho o Kooki, já é uma companhia maravilhosa”
ClassicLord: sinto uma certa inveja dele”
: “do meu cachorro?”
ClassicLord: ele está com você perto, eu não”

E quem disse que eu tinha palavras para digitar mais algumas coisa naquele momento?

- x -

Faltava uma semana para a inauguração da ExpoJuvenil, depois de quase dois meses de trabalho, felizmente já estava terminando os últimos detalhes dos meus quadros, todos os dez tinham a sua individualidade, porém de forma respectiva apresentavam trechos de uma mesma música, Ink of Love. Como se fossem peças de um quebra cabeça, em que cada quadro estava uma cena que se encaixava na outra, formando uma única história.

No início foi um pouco trabalhoso montar uma história ilustrativa daquela canção, mas aos poucos entendendo os sentimentos que cada estrofe da música passava, eu conseguia visualizar mais claramente, como um trailer de um filme. Ao final, optei pelos quadros não terem nenhum tipo de moldura, até mesmo os que teriam a plotagem da pintura digital, eu queria dar um sentido de continuidade a eles, caso fossem colocados em ordem seguida em um espaço.

: “este é o último” — digitei ao enviar a última foto para ele — “o que achou?”
ClassicLord: uahhhh… é incrível, seu talento é incrível”
: “digo o mesmo para sua música
incrível”
ClassicLord: estou feliz por ter gostado, fiquei triste por não ter conseguido compor outra”
: “ahhh, por favor, não fique
esta foi suficientemente maravilhosa, conseguimos contar uma história em dez quadros e muita diversão”
ClassicLord: isso me deixa mais aliviado”
: “então, após a exposição você pretende lançar a música?”
ClassicLord: talvez, ainda não falei sobre isso com o manager, mas seria legal”
: “fique à vontade, talvez em agradecimento eu possa até emprestar meus quadros para seu mv”
ClassicLord: sério?”
: “claro, amigos agradecidos fazem isso”
ClassicLord: amigos”
: “sim, somos amigos não somos?”
ClassicLord: somos”
: “me alivia saber que você me considera sua amiga”
ClassicLord: tenho que ir agora, temos uma gravação”
: “algum programa musical?”
ClassicLord: não, programa de entretenimento”
: “hummm… qual?”
ClassicLord: segredo”
: “ah yah… tudo é segredo agora?”
ClassicLord: mianheyo…”
: “te deixarei então
tenha uma boa gravação
bom dia”
ClassicLord: boa noite”

Eu continuei olhando para a tela do celular, uma palavra ainda estava ecoando em minha mente: amigos. Será que um dia poderemos passar disso?

— Devo sorrir porque somos amigos, ou chorar porque nunca passaremos disso? — sussurrei para mim mesma colocando o celular sobre a bancada e desviando meu olhar para a tela — Essa frase nunca foi tão real em minha vida.

Apesar dos meus pensamentos sempre estarem se desviando para ele, eu tentava manter o máximo de concentração em meu trabalho. Apesar do senhor clássico sempre estar expressando sobre sua vontade de vir ao Brasil, mesmo com seu manager dizendo que não poderia no momento, eu ainda nutria uma pequena esperança que ele pudesse vir pelo menos para ver o final da exposição.

Os dias se passaram e a cada novidade, eu informava o senhor clássico sobre todos os preparativos da galeria, deste a disposição do layout do espaço que seria das minhas obras, até a colocação das telas. No dia da inauguração, a galeria estava tão cheia quanto no dia da exposição dos profissionais, a ExpoJuvenil estava dando fortes indícios de que seria um completo sucesso.

— Boa noite para minha artista favorita. — disse ao se aproximar de mim, ela estava acompanhada de Jacob.
— Boa noite. — sorri de leve — Uah, que bom que conseguiu vir Jake.
— Sim, estou feliz e animado, já vi duas telas suas e fiquei fascinado. — disse ele.
— Veja as outras para descobrir a história por trás dela. — incentivei.
— Claro que vamos, viemos só por sua causa. — assentiu — Você deixou o Kooki sozinho em casa?
— Não, levei ele para casa dos meus pais, assim ele teria mais companhia, já que eu estava ficando mais tempo aqui na galeria arrumando tudo.
— Hum... — ela desviou seu olhar para Jacob que estava indo em direção a uma tela que estava próxima da janela lateral — Então alguma mensagem?
— Ainda não, já tem dois dias que ele não dá sinal de vida. — dei um suspiro fraco — Me forcei até a pesquisar no Naver pra saber se houve algum acidente na Coreia.
— Hum, garota está mesmo apaixonada.
— Yah, não é isso, é só preocupação de amiga. — esclareci.
— Sei. — ela me olhou de forma séria e debochada.
?!
?!
— Vá ver meus quadros. — reclamei.

Eu ri de leve, ela estava meio certa, mas não iria admitir.

Entre os flash das câmeras e entrevistas, um certo tumulto começou a ocorrer na entrada da galeria, assim como vários cochichos sobre uma personalidade internacional que havia adentrado o lugar. Fiquei confusa no início, até que sem explicações meu coração começou a acelerar, fiquei estática onde estava bem ao centro do espaço que estava minhas telas, meu olhar confuso se voltou para um homem que apontou na porta de entrada.

Senti minhas mãos ficarem frias, mesmo meu coração estando acelerado, meus olhos seguiam fixamente seus passos até mim, aquele coreano estava vestindo um terno azul marinho com all star branco, algo extremamente normal para um k-ídol. Mesmo sendo a primeira vez vendo-o de perto, me lembrava de algumas fotos que já tinha visto em muitas das minhas pesquisas sem sucesso, ele era ainda mais bonito pessoalmente.

— Annyeonghaseyo, cheo neun imnida. — ele se curvou e sorriu de uma forma fofa, felizmente pelo menos aquilo eu sabia o que significava.
— Olá, eu sou a . — retribui o cumprimento em português — Agradeço por ter vindo a minha exposição.

Mesmo com quase todas as pessoas da galeria em nossa volta, mesmo com todos aqueles flash das câmeras, olhar fixamente nos olhos dele me faziam sentir que havia somente nós dois naquele lugar.

Depois que se conhece, não esquece
Depois que se encontra, não perde
Depois que se abraça, não larga
Tinta de amor, quando mancha, não apaga.”
- Tinta de amor / Henrique e Juliano



Surpresas: A vida é uma caixinha misteriosa que nos deixa surpreendidos a qualquer momento, sendo positiva ou negativa, o segredo está em como vamos reagir a estas surpresas.” - by: Pâms


The End...



Nota da autora:
Mais uma fic, espero que tenham gostado, fiz baseado em um shipp que ainda tenho esperanças que vai dar certo, YoRaha é de você que estou falando!!! kkkkkkkkkkk
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!


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