10. Walk Of Shame
Finalizada em: 30/09/2018

Capítulo Único

One step, two steps
Counting tiles on the floor
Three steps, four steps
Guess this means that I'm a whore
Oh oh, hell no
How long till I reach the door?
Fuck me, my feet are sore


O som padrão do despertador começou a ecoar pelo quarto, fazendo com que ela resmungasse antes de esticar o braço a procura do aparelho. A mão esquerda de tateou o criado mudo ao lado da cama em busca do aparelho que deveria estar por ali, mas não o encontrou.
Ela soltou um suspiro de raiva e abriu os olhos, arrependendo-se assim que o fez. A claridade que entrava pelas cortinas abertas do quarto de hotel, fizeram com que ela fechasse os olhos rapidamente. Novamente, abriu os olhos e tentou se acostumar com a claridade presente no quarto.
Um peso em sua cintura chamou sua atenção e ela viu o braço masculino postado sobre ela em um sinal de posse. Virou-se, o pouco que dava para trás, vendo ainda dormindo e, como num estalo, as cenas da noite passada voltaram a sua cabeça.
Estava na Cirque Le Soir com quando o viu com alguns membros de sua escudeira. Foi impossível não sentir um comichão no meio das pernas quando os olhos azuis que ela tanto gostava, a encararam de cima à baixo com um sorriso escárnio que ela conhecia muito bem.
Depois, aconteceu o de sempre: sexo. E como ela gostava do sexo com ele! Aliás, ela tinha certeza que fazer qualquer coisa com ele deveria ser maravilhoso.
– Será que você pode desligar essa merda, por favor? - disse com seu inglês carregado de sotaque em seu tom rouco matinal. Ela se assustou com a voz repentina dele, que continuava com os olhos fechados.
– Eu levantaria se você me tirasse do seu aperto. - ele retirou o braço de cima da cintura dela, mas não antes de dar um leve aperto no local por pura provocação. Ela suspirou antes de levantar da cama, puxando consigo o lençol e o enrolando no corpo para procurar o celular pelo quarto.
Encontrou sua bolsa próxima a porta e o toque ficou mais estridente assim que ela pegou a mesma em mãos. Soltou um suspiro de alívio quando conseguiu, finalmente, silenciar aquela porcaria de toque.
– Obrigado. - murmurou, abrindo os olhos para procurá-la e sorriu ao ver a mulher com o lençol enrolado ao corpo.
– Preciso ir embora. - anunciou depois de checar as horas no aparelho que tinha em mãos.
O despertador era o sinal que ela havia colocado para lembrar que faltava uma hora para que seu irmão deixasse o hotel e fosse para o treino livre do dia. O que significava que ela não poderia demorar muito por lá para não correr o risco de esbarrar nele ou em qualquer outro membro da equipe que pudesse falar que ela foi vista saindo do quarto de .
Prontamente, ela pegou seu sutiã e sua calcinha que estavam embolados mais perto da cama. Soltou o lençol do corpo para começar a vestir as peças íntimas e sorriu com a visão a sua frente, levantando-se da cama e caminhando na direção da mulher.
– Não pode ficar mais um pouco? - ele a abraçou por trás, depositando um beijo na nuca da mais nova.
vai sair para o treino daqui a pouco. Eu não quero correr o risco de encontrá-lo no corredor. O que eu diria para ele? - falou, se afastando do abraço do homem mesmo querendo permanecer ali dentro por horas.
O envolvimento dos dois havia começado há dois anos, em uma festa antes do Grand Prix da Austrália. havia acabado de se divorciar e não sabia que ela era irmã de seu rival nas corridas, . Desde então, viajava o máximo que podia com a equipe do irmão para acompanhar as corridas e para ter algumas horas de sexo com antes e depois das corridas – principalmente, quando ele ganhava.
– A verdade, talvez. - o loiro deu os ombros, sentando-se na beirada da cama enquanto observava a mulher pegar o vestido no chão e começar a vestí-lo.
– A verdade seria que eu durmo a cada Grand Prix com o rival dele? – questionou, virando-se para encarar o piloto que soltou uma risada. – Não vai rolar, .
– Então, você prefere continuar fazendo essa caminhada da vergonha, fugindo dele em cada país do Grand Prix porque tem medo da reação do seu irmão? - ele cruzou os braços, aguardando uma resposta e a mulher suspirou.
Caminhada da vergonha é como ele tinha apelidado todas as vezes que ela saía de seu quarto de hotel às escondidas pela manhã para que o irmão não descobrisse o que acontecia entre os dois.
– Não é tão fácil assim, . - ela disse, esfregando dois dedos em cada têmpora e caminhou na direção dele, virando-se de costas para que ele fechasse o zíper de seu vestido. – Fecha, por favor?
suspirou contra as costas da mulher, mas fez o que lhe fora pedido. Ele subiu o zíper com uma lentidão incrível, controlando o ímpeto de fazer o caminho contrário e passando as costas de seus dedos nas costas lisas da mulher. se virou de frente para ele assim que ele anunciou que tinha terminado e segurou o rosto dele entre suas mãos.
Não era a primeira vez que eles entravam naquele assunto. Enquanto ele queria levar o que os dois estavam tendo à público, dava a desculpa que não iria aceitar a relação da irmã mais nova com o piloto.
Sem contar que a relação dos dois seria um prato cheio para a imprensa, afinal, era a irmã de tendo um caso com . E tudo que ela menos queria era ver seu nome nas capas de jornais por esse motivo.
– Depois conversamos sobre isso, pode ser? - grudou os lábios nos dele em um selinho rápido e caminhou em direção ao banheiro. Seus cabelos estavam uma bagunça e ela suspirou. - Eu estou com o vestido de ontem e parecendo uma louca.
O celular apitou, indicando uma nova mensagem e ela checou a mensagem de perguntando se ela já estava em casa. A amiga era a única que sabia dos encontros dela com e sempre se preocupava em saber se a amiga já tinha deixado o hotel onde os pilotos se hospedavam.
Saiu do banheiro, encontrando na mesma posição e conteve um suspiro. Não tinha tempo para brigar – e nem queria. Ele também teria o treino livre e ela tinha que ir embora do hotel.
– Preciso ir. falou que sairia às 8h e faltavam quinze minutos. Nos vemos à noite? - perguntou, calçando suas sandálias e pegando sua bolsa. O piloto concordou com a cabeça e a mulher quase rolou os olhos com o comportamento dele.
Caminhou em direção a porta do apartamento e abriu a mesma, checando se havia alguém no corredor antes de sair do quarto. Fechou a porta atrás de si com o menor barulho possível para não acordar ninguém que estava naquele andar e seguiu para o elevador com a cabeça baixa, contando os azuleijos do chão e os passos necessários para chegar ao cubículo.
Apertou o botão para descer e grudou os olhos no painel eletrônico que parecia demorar uma eternidade para chegar ao andar em que ela estava. Bufando, esticou a mão para apertar o botão mais uma vez e repetiu o ato por mais duas vezes, na esperança que fizesse o elevador vir mais rápido.
Por favor, Deus, não deixe ninguém me ver. Eu vou fazer qualquer coisa que me pedir. - suplicou quase num sussurro quando ouviu algumas vozes próximas ao corredor em que estava. – Eu prometo que não haverá mais nenhuma caminhada da vergonha.
Como um sinal divino, o elevador apitou e as portas se abriram em sua frente causando um sorriso no rosto da jovem que olhou para o teto, agradecendo ainda mais pelo fato de não haver ninguém lá dentro.
Checou o celular, respondendo a mensagem que a amiga havia mandado e encostou-se no vidro, pensando no que estava vivendo com . Os dois nunca tinham rotulado a relação – se é que ela poderia chamar assim – e se viam às escondidas. Nas festas, eventos e nas corridas, sempre se olhavam de longe e trocavam mensagens provocativas um para o outro.
Ela suspirou. Gostava de e queria estar com ele na frente de todos, mas, ao mesmo tempo, as consequências que isso poderia causar não a agradavam muito.
As portas do elevador se abriram e saiu do mesmo, após checar se o caminho estava livre. Tentou passar discretamente pela recepção do hotel, mas sua mãe não havia lhe dado o apelido de furacão à toa.
? - a voz grave de seu irmão a chamou, fazendo com que ela congelasse antes de dar mais um passo para fora do hotel. Conteve sua vontade de correr dali e girou os calcanhares, encarando que usava um boné com o símbolo da Mercedes. – O que faz aqui, sis?
– Estava na casa da . - começou, tentando pensar em uma boa mentira que justificasse sua presença por ali. – E pensei em vir aqui falar com você para saber se você pode arranjar mais alguns convites para a corrida no domingo...
– Não poderia ter mandado uma mensagem? - balançou seu iPhone na frente da irmã mais nova, que tentou esconder seu riso de nervosismo.
– Meu celular está sem bateria. - mordeu os lábios, dando os ombros.
– Quase que você não me encontra aqui. Estou esperando para irmos fazer alguns testes antes do treino. - ela concorcou com a cabeça. – Pode deixar que eu consigo o ingresso. Você vai levar um pretendente?
prendeu a vontade de rir. Mal sabia que o pretendente dela já estaria na corrida de domingo.
– Eu? Não... vai levar um. Sabe como ela é, quer impressionar o cara. - ela riu por estar colocando a amiga naquela história, mas sentia-se satisfeita por ter conseguido uma boa mentira para despistar. – Obrigada, . Bom treino.
– De nada e cuidado no caminho de volta. - acenou para o irmão e controlou sua vontade de andar o mais rápido que podia para longe daquele hotel.
Esperava que sua mentira tivesse sido tão boa quanto tinha soado em sua mente e que não tivesse desconfiado de nada. Porque ela não saberia como fugir de novo.

X

abriu os olhos, surpreendendo-se por ter acordado antes do despertador de começar a tocar. O alemão sorriu ao perceber que a mulher continuava com a cabeça sobre seu peito e respirava tranquilamente, demonstrando que ainda continuava em seu sono profundo.
Para ele, estava cada vez mais difícil seguir escondendo o que eles tinham. Queria poder correr para abraçá-la depois de ganhar uma corrida, queria apresentá-la para as pessoas como sua namorada e enfrentaria o mundo se fosse necessário para estar com ela.
Ele não tinha dúvidas de que amava . Apesar de nunca terem rotulado o que estavam tendo, ele nunca tinha se envolvido com ninguém além dela e era apenas ela que ele queria ter ao seu lado.
O som do despertador se espalhou pelo quarto e soltou um suspiro. A mais nova se mexeu em seu peito e se virou na cama para desligar o aparelho que estava em cima do criado mudo.
Após desligar o aparelho, encarou o piloto deitado na cama e sorriu. Ela voltou a se aninhar no peito dele, depositando um beijo no local que fez com que sorrisse. Ele adorava aqueles curtos momentos de carinho que os dois possuíam.
... - chamou a atenção da mulher que respondeu com um resmungo qualquer. – Eu estou cansado de tudo isso.
– O que seria tudo isso? - ela levantou o rosto do peitoral do homem, virando-se para encará-lo. – Está cansado de nós? Você quer terminar, é isso?
– Não, não. - negou com a cabeça, sentando-se na cama. – Estou cansado de nos esconder. - ele suspirou e ela manteve o olhar fixo nele.
, você sabe que o meu irmão pode...
– Eu não quero saber do seu irmão, . - o loiro suspirou mais uma vez. – Ele pode até não gostar e não querer nós juntos, mas isso não muda o fato: eu amo você. E se você se sentir da mesma maneira, aí mesmo que eu não vou me importar com mais nada e eu te prometo que não haverá mais nenhuma caminhada da vergonha. - ele encarou a mulher que continuava quieta a sua frente. – O que você me diz?
... - foi a vez dela suspirar – Eu não sei. e eu somos muito próximos e eu não saberia como agir se ele não me apoiasse em alguma coisa, especialmente no meu relacionamento.
, a gente não pode viver eternamente assim.
– O que você quer dizer, então?
– É melhor a gente terminar. - suspirou mais uma vez, levantando-se da cama e procurando suas roupas da noite anterior.
Seu coração dizia que ela precisava argumentar, dizer que o amava, mas sua mente a lembrava das consequências que tornar o namoro público poderia trazer para os dois.
Não teve forças para encarar o homem ainda deitado na cama e fez o que fazia quase todas as manhãs depois de noites memoráveis ao lado dele: a caminhada da vergonha.

X

So walk this way
(We're walking, we're walking)
Walk this way
(We're walking, we're walking)
So walk this way
(We're walking, we're walking)

se controlava para não roer todas as unhas enquanto acompanhava pelas televisões a corrida. Faltavam duas voltas e seu irmão só ganharia o campeonato se conseguisse chegar até em segundo colocado, mas estava longe disso devido a um problema nos pneus.
, no entanto, seguia em segundo lugar atrás de seu colega de equipe e ela sabia que era questão de tempo para que os engenheiros da escuderia pedissem para que Raikkonen desse passagem para assumir a pole, ganhar a última corrida da temporada e, consequentemente, o campeonato.
Ela sentia seu coração se dividindo a cada volta. Sentia-se triste por ver o irmão perder o campeonato, mas ao mesmo tempo queria correr para abraçar por ganhar seu quinto campeonato.
Quando Raikkonen diminuiu e liberou a passagem, sentiu vontade de começar a gritar. Acelerou ainda mais e ultrapassou o companheiro, já podendo ver a bandeira quadriculada ao longe.
Grazie ragazzi per la gara!¹ - anunciou em italiano para sua equipe após passar pela bandeira. Seu coração estava pronto para saltar de seu peito e ele não poderia estar mais feliz por conquistar aquele campeonato.
saiu do carro assim que o parou próximo ao local onde receberia o troféu e assim que viu o mar de gente de vermelho, correu na direção dos engenheiros e mecânicos de sua engenharia. O alemão foi abraçado pelo monte de pessoas que estavam ali completamente felizes por aquele final de temporada tão esperado.
Se afastou, cumprimentando seu companheiro de equipe e procurou por ela no meio de todas aquelas pessoas que estavam ali. Encontrou a mulher parada próxima a entrada com uma outra mulher ao seu lado, provavelmente esperando o irmão.
O alemão retirou o capacete vermelho e o segurou enquanto caminhava na direção da mulher que arregalava cada vez mais os olhos com a aproximação do piloto. Ele sorriu na direção dela e com a mão livre, a puxou para perto de si, unindo os lábios em um beijo de amor.
se recuperou do choque quando sentiu fazendo um carinho em suas costas e levou as mãos ao redor do pescoço do mesmo. Por alguns segundos, ela conseguiu se esquecer de onde estavam e que, tecnicamente, eles tinham terminado. Naquele momento só ele e ela importavam.
Porém, quando o alemão partiu o beijo e ela abriu os olhos, ela conseguiu enxergar o irmão a alguns passos de distância de . O olhar de era um misto que ela não conseguia descrever.
encarou a mulher por alguns segundos com um semblante confuso ao perceber que ela tinha o olhar em um ponto fixo atrás dele e pensou que fosse por causa do público do local. O piloto virou para trás, encontrando e entendendo o porquê da mulher estar daquela forma.
Ele respirou fundo, voltando a encarar a mulher e sorriu na direção dela.
Bata palmas agora, se você vai fazer essa caminhada comigo.

¹"Grazie ragazzi per la gara", traduzido do italiano: "Obrigado, caras pela corrida".




Fim.



Nota da autora: Meu primeiro ficstape! Espero que tenham gostado da estória! Para ler as outras fanfics que eu escrevo, é só participar do meu grupo no Facebook. Não esqueçam de comentar para fazer uma autora muito feliz!





Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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