Finalizada em: 15/03/2021

Capítulo Único

— Mamãe? — ouviu ser chamada por uma vozinha que soava mais sonolenta do que aparentava fisicamente.
— Meu bem, o que faz acordada? — A mulher perguntou, fechando o livro que lia, indo em direção à criança que coçava os olhos, demonstrando que ainda trazia sono em si.
— Está esperando o papai? — Perguntou, fazendo com que a mais velha sacudisse a cabeça positivamente, então percebendo que já passavam das onze da noite, mas, ainda assim, não estava preocupada, pois havia sido avisada, ela sabia que ele chegaria tarde naquele dia.
— Posso esperar junto?
— Meu amor, você tem aula amanhã, não prefere ver o papai assim que acordar? — A garotinha balançou a cabeça negativamente e deitou com seu coelhinho sobre as pernas da mãe, sabendo que a mesma depositaria ali um carinho.
— Não consigo dormir. — Ela disse, já quase de olhos fechados, lutando contra um sono que, em poucos minutos, apareceu. — Me conta aquela história, mamãe?
— Qual? — A mãe perguntou, mesmo já sabendo de qual se tratava.
— Aquela, mamãe. — Disse, aconchegando-se mais à mãe. — De quando você e o papai cuidaram de um cachorrinho dentro do hospital. — Ela disse sorrindo e, de repente, abaixou seu tom de voz e sussurrou. — Aquela em que o papai fala que foi quando percebeu que já amava a senhora havia muito tempo.
— Essa é mesmo sua história favorita. — A mãe sorriu, lembrando-se das inúmeras vezes que havia contado. — OK, você está confortável? Posso começar?
A criança não disse mais nada, apenas balançou a cabeça e esperou que a mãe começasse a contar sua história favorita.

Verão, 2015

— Com licença, você está no meu lugar! — havia escutado a voz feminina que estava bem mais irritada do que ela imaginaria, mas ignorou, já que trazia seus fones de ouvido postos e podia apenas fingir não ter escutado.
Havia sentido alguém sentar ao seu lado alguns minutos antes e, pelo cheiro de perfume amadeirado, ela também poderia imaginar o porquê da mulher contestar que aquele era seu lugar, e, melhor ainda, ela poderia imaginar a quem aquele perfume pertencia. Afinal, conhecia bem aquele perfume.
...
— Ela está dormindo, tem dois assentos vagos bem ali na frente, perto das outras garotas de sua produção, você pode se sentar ali. — Ele respondeu baixo para a mulher que chamava a atenção de todos no ônibus a esse ponto. — Elas, com toda certeza, vão gostar da sua companhia.
— Mas… — Ela tentou contestar mais uma vez, mas não houve tempo já que, antes disso, o líder de equipe que organizara aquele evento nas duas vezes que aconteciam no ano entrou no ônibus e sorriu, cumprimentando a todos os presentes, avisando também que já estavam prontos para partir.
Dan, a mulher que antes exigia seu lugar, então sentiu-se obrigada a sentar em algum lugar. Mesmo que fosse o mais distante, não tiraria seus olhos de ambos. Sim, sua obsessão era um pouco doentia, mas quem se atreveria a julgar um coração apaixonado, não é mesmo?
— Pode parar de fingir agora, ela já foi. — sentiu um arrepio ao senti-lo tão próximo de si, já que ele se aproximou de seu ouvido para avisá-la. — Aliás, você precisa melhorar sua atuação.
— Quem disse que eu estava fingindo? — A garota respondeu, abrindo um olho de cada vez e com cuidado para ter certeza de que ela realmente havia saído dali.
— Eu te conheço melhor do que ninguém. — Sua risada foi suspeita aos ouvidos de . — Normalmente, você dorme sorrindo. Seu rosto estava muito sério.
— Você sabe que essa é uma informação totalmente assustadora, não sabe? — Ela disse com os olhos arregalados. — Como você sabe que eu sorrio enquanto durmo? Ninguém nunca me disse isso.
— Eu preciso te lembrar de quantas vezes nós já viajamos juntos? — Ele respondeu como se não se importasse enquanto prestava atenção em seu celular. — Achei.
virou o celular em direção à garota, que olhou na mesma hora vendo, ali uma foto sua dormindo e que era provavelmente da última tour que eles haviam feito e ela acompanhou.
— Não me olhe assim. — Disse ele, percebendo o olhar da garota claramente questionado o porquê de ele ter aquela foto em seu celular. — Tae tirou a foto e eu apenas a guardei.
— Você me ama tanto assim? — Ela brincou.
— Talvez. — Ele disse rindo.
A garota então bocejou e ele riu mais uma vez dela.
— Parece que conversar comigo te deixa com sono, não sei se me sinto ofendido ou…— Ele congelou assim que sentiu a cabeça da garota encontrar seu ombro.
A relação deles era um pouco confusa desde que se conheceram, mas nunca realmente assumiram nenhum tipo de sentimento. Sabiam que, entre eles, havia muita cumplicidade, amizade, compreensão, mas também desejo e sentimentos que, a cada dia, ficavam mais insuportáveis.
— Ou pode ser um bom travesseiro humano e me deixar dormir durante essa viagem tudo o que eu não dormi esses dias. — Ela disse, sonolenta.
— Seu pedido é uma ordem. — Ele se aconchegou a ela, assim como ela fez com ele.
Eles não tinham medo de serem vistos juntos, justamente porque já tinham sido flagrados antes em momentos afetuosos. Sem contar que todos sabiam de sua amizade, tanto dentro quanto fora da mídia.
era um cantor famoso e deveria tomar cuidado, mas, ainda assim, não se importava. Gostava da companhia de e de ter aquele contato direto e aberto com ela.
— Ei, acorda! — Ela disse baixinho enquanto cutucava-o com cuidado, alguns minutos depois. — Chegamos!
— Já? — Os olhos do rapaz se abriram com dificuldade pelo fio de luz que entrava pela janela. — Espera todo mundo descer, quero ficar aqui mais um pouco.
já havia levantado a cabeça do ombro de , mas não havia desconectado seus braços e ele notou, levou uma das mãos até a cabeça dela, voltando para a posição anterior.
— Levantem, seus preguiçosos. — Um de seus amigos de grupo disse, fazendo cócegas em . — Nós temos trabalho a fazer.
— Eu daria tudo por mais dois minutos assim. — respondeu, suspirando, e a garota riu.
— Na volta, você aproveita. — Ela disse, levantando e pegando suas coisas.
Desceram do ônibus com as caras de sono que traziam mesmo antes de embarcarem, ambos haviam acordado cedo naquele dia.
— OK! Nós começamos agora com a distribuição dos ingressos! — Um dos organizadores avisou, juntando todos. — ! — Ele a chamou e despertou em um certo desconforto, já que aquela pessoa em particular o incomodava com sua proximidade. — Você, em questão, terá um pouco mais de ingressos para entregar, porque sua equipe é a principal, aproveite.
— Isso é, com certeza, uma punição! — reclamou assim que voltou ao seu lugar com ingressos a mais em mãos.
— Eu te avisei que rejeitar o pobre coitado sendo tão sincera não era a melhor opção. — , uma das amigas de , disse, passando os braços sobre os ombros dela. — Não é, ?
Os olhos da garota então se arregalaram assustados para a amiga, que apenas mandou um olhar confuso de volta, questionando.
— Ele não sabe! — Ela disse rápido, massageando suas têmporas em seguida, pois sabia que aquele assunto seria motivo de piada para o resto do dia.
— Você finalmente rejeitou o cara? — gargalhou, chamando a atenção de todos que conversavam entre si. — Desculpem, desculpem.
— Eu não o rejeitei... Eu só disse... — Tentou dizer, mas a amiga a interrompeu.
— Que seu coração pertencia a outro. — disse rindo. — Outro desatento no caso, porque se ele nunca percebeu e não sabe o que está perdendo...
A garota bufou irritada, odiava ser tão exposta na frente de uma das pessoas para quem definitivamente não queria parecer ser tão patética mas, ainda assim, segurou suas reações, ou então seria muito óbvio de quem estava falando.
— Todos prontos? — O organizador chamou mais uma vez. — Vamos começar com o trabalho então, não se esqueçam de ter cuidado em cada lugar que irão.
O propósito do dia era basicamente dar àquelas pessoas um dia de felicidade, distribuíram ingressos especiais de um show surpresa que aconteceria ali mesmo, era apenas uma formalidade, algo para terem o que guardar. O show que aconteceria seria transmitido ao vivo e todo o dinheiro arrecadado seria doado para o hospital e para o tratamento de cada um deles ali presentes.
A oportunidade era grande para eles e para todos que fariam parte desse processo, afinal, ajudar sempre fazia com que as pessoas sentissem sentimentos diferentes dentro de si. Além do mais, seria um momento ótimo para que eles pudessem escutar as histórias que as pessoas dali carregavam para si.
Ter alguém para ouvir era necessário.
— Tudo bem? — perguntou, alcançando os passos de , que parecia pensativa demais.
— Tudo, acho que fiquei um pouco pensativa. — Ela sorriu fraco para o amigo que estranhou sua quietude. — Não gosto de hospitais em geral, passei uma parte da minha vida em um, ainda é meio... Não sei... — Ela o olhou e, dessa vez, sem sorrir. — Desconfortável, eu acho.
sabia do que ela falava. Como já dito antes, a relação de ambos era realmente especial. Ele a escutava com afinco normalmente, gostava que ela confiasse nele daquela forma e vice-versa.
— O que você acha de um jantar assim que sairmos daqui? — Ele surgiu com a ideia depois de pensar por alguns minutos. — Pode ser na sua casa, você está cansada e, para você se sentir mais confortável e relaxada, enquanto você toma um banho e se troca, eu compro a sobremesa e cozinho para nós. O que você acha?
— O meu prato favorito? — Ela perguntou, sorrindo para o mais velho.
— Você é quem manda! — Ele piscou, andando um pouco mais à frente. — Não se esqueça de que vamos embora juntos então.
— Como se já não fizéssemos isso normalmente. — Ela disse, rindo.
— É verdade, nós fazemos isso desde sempre. — estranhou porque ele, de repente, pareceu pensativo, mas não se importou, sabia que ele tinha momentos assim.
Já fazia mais ou menos meia hora que eles estavam andando pelo hospital, distribuindo por várias alas, dividindo entre enfermeiras e pessoas internadas ali, cada um dos ingressos. Era óbvio que e os rapazes do grupo chamariam a atenção de todos, principalmente dos estudantes de medicina que faziam seus plantões por ali.
— Senhorita , está livre agora? — A garota encontrava-se sentada, esperando os outros se reunirem, incluindo , que havia ido com algumas internas entregar o que restava dos ingressos.
Assustou-se com uma das enfermeiras mais velhas, com quem antes havia conversado, visitando alguns quartos de pacientes mais novos que certamente gostariam de ganhar ingressos.
Ela negou com a cabeça e sorriu, esperando que a senhora dissesse alguma coisa, mas apenas viu quando ela fez um gesto com as mãos, chamando outra enfermeira que vinha com uma criança e um cachorrinho pequeno amarrado na coleira.
— Estamos com a emergência lotada por conta de um acidente de carro que envolveu muitas pessoas e a mudança de plantão acontece justamente nesse horário, então nem todos estão aqui ainda. — Ela disse com um certo olhar desesperado. — Este é . — A mulher disse, colocando a criança no colo de , que o pegou sem hesitar. — E essa pequena é . — Entregou a coleira da cachorrinha para ela. — A mãe de ambos se acidentou e está na sala de cirurgia nesse exato momento, mas não temos quem fique com ele. Você se importaria de cuidar dos dois por alguns minutos até que tudo se acalme?
A garota normalmente gostava de crianças, então não se incomodaria, mas não sabia se os outros achariam o mesmo. Afinal, o show, dentre outras coisas, dependia dela também.
— Muito obrigada! — Ela disse, sorrindo. — Você está sendo de grande ajuda hoje. Eu a buscarei pelo hospital assim que tudo se resolver.
não teve muita opção além de assentir, vendo a enfermeira se retirar.
— Você tá com uma carinha de sono, . — Ela disse para o garotinho.
— Eu quero minha mamãe. — Ele resmungou, choroso.
— Sua mamãe já vem te buscar. — Ela tentou tranquilizá-lo. — Enquanto isso, o que você acha de darmos uma volta com pelo jardim?
— Qual é o seu nome? — O garotinho perguntou enquanto brincava com uma parte do cabelo solto de , que sorriu com o ato.
— Você pode me chamar de tia ! — Ela respondeu, sorrindo para ele, mas ele ainda olhava de forma desconfiada.
— E quem é aquele? — Ele perguntou, sussurrando no ouvido dela, apontando com os dedinhos em direção a , que estava observando a cena com um misto de confusão e admiração.
A mais velha girou o corpo para poder ver do que falava e finalmente viu quem estava ali, parado no final do corredor, sorrindo. Acenou para ele, chamando o mesmo para que fosse até eles e sentasse ali também. Ele, mesmo com um pouco de vergonha por ter sido pego com cara de bobo, caminhou até os três.
— Esse é o tio . — Disse assim que que o rapaz se aproximou, sentando no banco vazio a seu lado. — Tio , estes são e . Nós estávamos planejando dar uma volta pelo jardim até que a mãe de ou uma das enfermeiras voltem para buscá-los. Gostaria de nos acompanhar?
— Seria uma honra! — Ele respondeu, sorrindo.
entregou a coleira da cachorrinha para que a levasse, já que ela andava com o garotinho no colo. Caminharam até o jardim, que não era longe de onde estavam, deixando que fosse brincar no parquinho que havia ali.
— Nós ainda temos uma hora antes de começarmos a arrumar tudo, certo? — perguntou, olhando seu relógio, e ele apenas assentiu.
— Você fica bem com crianças. — Ele comentou depois de uns minutos observando brincando de longe. — Será uma ótima mãe.
— A mãe dele está em cirurgia e a enfermeira que estava com a gente antes me pediu para olhá-los por alguns minutos. — Ela disse, desconversando.
Sabia que aquela conversa implicava em pensamentos que definitivamente não queria ter naquele momento.
— Ele parece ser um bom garoto. — comentou, um pouco mais distraído dessa vez.
— Como foi com o resto da entrega dos ingressos? — Ela queria não parecer ríspida ou seca ao perguntar, mas falhou.
— Tudo bem, assim que entreguei, disse a elas que você me esperava. — Ele comentou, dessa vez virando o rosto em direção a ela. — Eu vim até você assim que pude, como sempre.
havia se distraído um tempo com o olhar dele sobre si. Olhou para todos os cantos menos para ele, tirando a atenção de por alguns segundos.
, eu…— Ele tentou dizer algo, mas foi interrompido por ela.
, onde está ? — Ela perguntou, levantando depressa, buscando pelo garoto de longe caso ele apenas estivesse em um ponto que ela não alcançava ver.
— Ele está ali no balan… — Ele parou de falar assim que percebeu que o pequeno já não estava mais ali como alguns minutos antes. — Vou procurá-lo, fique aqui com .
O rapaz saiu em busca do garotinho e o encontrou não muito longe dali, sentado em um dos bancos, olhando para algumas janelas do prédio.
— Tudo bem? — Ele perguntou, sentando ao lado do pequeno que não desviou o olhar na direção dele.
— Era por ali que a mamãe estava. — Ele disse, apontando para cima. — Senti saudade.
então sentiu seu coração pesar.
— Sua mamãe está fazendo algo importante agora, — Ele tentou explicar. — para poder estar com você o mais rápido possível. É por isso que eu e a tia estamos cuidando de você hoje. E você deixou a tia bem preocupada na verdade. Ela e ficaram doidas atrás de você.
— Verdade? — Ele perguntou com uma carinha ingênua que não aguentou e riu por achar fofo.
— Claro que sim! — O mais velho se levantou e ofereceu a mão para . — Antes de voltarmos, podemos passar na cafeteria e pedir um sorvete, o que acha?
— E nós pedimos um para a tia também? — Ele sorriu e assentiu para o pequeno, que então mudou sua expressão de repente. — Mas não sabemos o sabor favorito dela.
— Vou te contar um segredo. — Ele disse baixinho. — Eu sei de muitas coisas que a tia gosta e o sabor do sorvete favorito dela é uma delas.
— Você ama a tia ? — Ele perguntou de repente, surpreendendo com a pergunta. — Mamãe diz que quando alguém sabe muito sobre outra pessoa, desde os mínimos detalhes, — Ele deu ênfase na palavra “mínimos”, fazendo com que risse. — ela ama essa pessoa. Mamãe também diz que esse amor vem lá do fundo do coração.
— Sabe, ... — ajeitou o garoto em seu colo assim que chegaram na porta da cafeteria. — Sua mãe é uma pessoa muito inteligente. — Ambos sorriram um para o outro e o mais velho, em seguida, olhou para a frente, pronto para fazer o pedido deles. — Um sorvete de morango, outro de... — Ele esperou o pequeno escolher o sabor que queria e chocolate foi o que venceu. — E mais um de menta com chocolate.
Não demorou muito para que seus pedidos ficassem prontos, então eles foram diretamente em direção ao lugar onde se encontrava.
— O que eu farei agora? O que direi a mãe dele? Você será culpada por isso, senhorita . — e podiam escutar a gritaria de longe e junto viam a cena onde a garota segurava com segurança em seus braços, mas com o olhar desviado para o chão, e uma das residentes gritando em sua direção. — Você sequer responde, ainda é mal-educada.
olhou para ver a reação das pessoas ao redor e pôde vê-los um pouco mais distante, sentindo um alívio no coração.
— Graças a Deus. — Ela disse em alívio assim que viu o rapaz parado mais atrás, observando a cena.
— Eu estou falando com você! — Ela disse, segurando o braço de assim que a mesma ameaçou se retirar mas, no mesmo momento em que viu próximo delas, vindo com o garoto em seu colo e potes de sorvete, sorriu sem graça.
— Tudo bem por aqui? — Ele perguntou, desconfiado.
— Tia , nós compramos seu sorvete favorito. — A criança respondeu, animada.
— Vocês se conhecem? — A residente que ainda estava ali perguntou, confusa.
— Está tudo bem. — Ela respondeu a ele, tranquilizando o mesmo e ignorando a mulher que estava ali. — Nunca duvidei das escolhas do tio , ele me conhece bem.
olhou para o relógio, checando mais uma vez o horário, estava quase perto da hora do show que aconteceria na área externa do hospital e ela sabia que já deveria estar no local com .
— Por favor, avise a enfermeira chefe que deixou e comigo que estaremos na área do show acústico que acontecerá daqui a alguns minutos com os dois. Quando forem buscá-lo, estaremos por lá. — pediu para a residente com uma atitude um pouco mais ríspida. — Nós precisamos ir. — Sussurrou para o amigo.
Saíram caminhando em velocidade normal para que pudessem tomar seus sorvetes sem que uma lambança acontecesse pelo caminho, além de não quererem cansar , que parecia bem sonolenta àquela hora.
— Onde vocês se meteram? — disse assim que avistou ambos passando pela porta de entrada da área externa. — Estão todos loucos atrás de vocês. Que criança é essa? — Perguntou, analisando por alguns minutos. — Pelo amor de Deus, vocês roubaram uma criança e um cachorro?
— Eu te explico daqui a pouco, cuida deles por mim por enquanto, por favor. — Disse, passando a coleira da cachorrinha para a amiga e entregando o garotinho com seu sorvete em mãos. — Escuta, , a tia precisa resolver algumas coisas para que o tio se apresente com seus amigos daqui a pouco, então a tia vai cuidar de você por um tempinho. — O garotinho fez um bico que quase fez com que o levasse junto.
— Não precisa fazer essa carinha, amigão! — confortou o menino, colocou a mão sobre os ombros dele e sorriu. — Você já sabe contar até cem? Se não sabe, pode pedir para a tia contar para você. Quando você chegar no cem, tia já estará aqui outra vez. Combinado?
A criança, mesmo contra a sua vontade, assentiu e voltou a atenção ao seu sorvete outra vez.
— Não deixe que ele dê sorvete à , ele veio o caminho todo tentando fazer isso. Obrigada, você é um anjo! — disse antes de sair e ir em direção à equipe, que já havia começado o trabalho.
tinha que checar a qualidade do som dos microfones entre outras coisas, então ambos estavam mais ocupados do que esperavam. Ainda assim, em sua mente, pensamentos passavam de lá para cá, atormentando sua concentração, e a presença da garota em todos os lugares para onde ele olhava não ajudava. Observava-a de longe, com seus fios de cabelos presos em um coque, com sua prancheta em mãos, checando tudo minuciosamente, além das broncas que levou do organizador por ter se atrasado.
Ele sentiu seu coração pular, ou talvez aumentar uma batida, quando subiu os olhos uma dessas vezes para um dos cantos onde estava. Ela falava com uma das pessoas da banda que auxiliaria com o acústico naquele dia, mas, assim que ela anotou algo em seu caderno, suspirou e olhou em direção a , sorrindo, acenando e balbuciando palavras que ele entendeu como "já acabei".
— Tudo certo! — A voz dela então surgiu de longe e do nada, assustando-o. — Já temos tudo arrumado e alguns minutos restando, podem ir comer alguma coisa, beber água ou ir ao banheiro se quiserem, vejo vocês em vinte minutos.
era quem cuidava da parte de organização dos shows, fossem acústico ou em estádios, grandes ou pequenos, ela era quem coordenava cada um dos funcionários que estariam trabalhando diretamente com o grupo em questão. Ela costumava ser uma pessoa organizada, mas também fácil de se aproximar. Era exatamente por isso que ela e se deram bem de primeira.
— Viu só? Eu disse que ela voltaria antes dos 100. — disse, aproximando-se deles.
fez todos os tipos de sinais possíveis para que não dissesse mais nada, mas só conseguiu deixar ele mais confuso, sussurrando apenas um “o que foi?” para ela.
— Eu cheguei no 130. — se virou, choramingando. — E ele não quer me perdoar.
— Tia contou rápido demais. — Ele disse, fazendo com que fizesse uma careta engraçada. — Amigão, você não vai mesmo perdoar a tia ? Se você perdoar a tia , eu prometo que te conto um segredo.
— Tudo bem! — O garoto disse de repente, descendo do colo de e abraçando em seguida. — Eu te perdoo.
— Se já tem alma de fofoqueiro desde pequeno, não quero nem ver quando crescer. — disse, rindo.
— Você é esperto demais para a sua idade, sabia? — disse, abraçando-o de volta e rindo. — Agora você tem que contar um segredo a ele, promessa é promessa.
então sorriu, subiu o garoto em seu colo assim que ele deixou o abraço da amiga e cochichou em seu ouvido algo que só ele escutou, fazendo o pequeno rir em seguida, dizendo “esse não vale, eu já sabia”. Ela, assim como , olhou curiosa para a cena. Afinal, não era segredo que ele realmente se dava bem com crianças, mas o que a deixou mesmo curiosa seria que, por alguns minutos, ela parou para pensar como ele seria com os próprios filhos. Ela sabia que a pessoa que casasse com ele e construísse uma família ao seu lado seria totalmente feliz.
Conseguiu invejar, por um momento, aquela posição. Afinal, desde sempre teve sentimentos por , mas sempre pensou que ele a enxergava como amiga e nada mais.
— O que você disse para ele? — Ela perguntou assim que alegou que levaria o garoto para tomar água e que aproveitaria e daria um pouco para , já que o dia estava quente, dizendo que eles descansassem um pouco antes da apresentação.
— Algo óbvio que eu já sabia, mas ficou mais visível nesta tarde. — Sua cabeça encostava na parede atrás de si e ele olhava as outras pessoas que passavam pelo corredor à sua frente, mas seu sorriso involuntário surgiu quando lembrou.
— Você não vai me contar também? — Ela perguntou, curiosa, mas não obteve uma resposta a tempo, já que os amigos de grupo de o chamaram perto de onde os instrumentos se encontravam para perguntar algo que não entendeu. — Você pode me contar depois, vai lá, vou atrás deles para ver se precisam de ajuda com .
foi a primeira a ameaçar sair dali, mas foi interrompida por , que chamou por ela antes.
— Você quer mesmo saber? — Ele perguntou, sabendo que aqueles eram os seus famosos vinte segundos de coragem insana que resolveram aparecer.
Sabia que poderia se arrepender de agir por impulso daquela forma, mas que também poderia gostar do final daquela história.
O sorriso dela em confirmação apenas fez com que a confiança dele aumentasse.
“Poderia aquilo ser amor também?”, ele pensou antes de dizer alguma coisa.
— Eu disse que te amava!


, a esse ponto, sequer estava acordada, e a mãe também, ambas dormindo abraçadas no sofá da casa. Foi a cena que encontrou assim que chegou. Sorriu e sentiu o peito cheio daquele mesmo sentimento que sentiu anos atrás, quando viu a mulher acenando para o garotinho sorrindo. Sim, aquilo era amor e era tudo de mais precioso que ele sentia dentro de si.
Ele pegou a filha no colo e a levou ao seu quarto, deixando-a de maneira confortável em sua cama. Antes de sair, deu um beijo em sua cabeça com cuidado para que não acordasse, desejando um “boa noite” silencioso.
— Amor! — Ele se ajoelhou ao lado da esposa, chamando-a baixo para que não ecoasse pela casa. — Vamos, levanta, vamos dormir na cama.
— Onde está ? — Ela perguntou, tateando o seu lado e não encontrando a pequena.
— Está dormindo no quarto dela. — Ele respondeu sorrindo enquanto mexia em uma das mechas de cabelo da mulher que estava caída sobre seu rosto. — Vamos para o nosso, vem.
O homem, que viu a sonolência que a esposa trazia, decidiu que a deixaria descansar. Pegou-a em seus braços, fazendo com que a mesma se aconchegasse nele, e a levou em direção ao quarto que compartilhavam.
— Sempre o mesmo cheiro. — Ela disse, abraçando-o mais. — Senti sua falta, me pediu para contar aquela história outra vez.
Ele a deixou sob a cama e foi se trocar sem respondê-la de imediato.
— Ela e o amor dela pela história em que os pais finalmente se deram conta de que se amavam. — Ele respondeu sorrindo e puxando-a para mais perto assim que se juntou a ela na cama. — Ela sabe que foi decidido a existência dela naquele mesmo dia, assim como eu soube que você seria a mãe dos meus filhos um dia.
— Eu amo você, muito! — Ela respondeu de olhos fechados e com a voz sonolenta.
— Não tanto quanto eu. — Ele beijou a testa dela, fechando os olhos em seguida. — Eu amo vocês.


Fim.



Nota da autora: "Meu deus gente, que surto foi esse? Não sei nem como cheguei a esse casal aqui, eu sofri escrevendo com esses dois de uma forma que olha, vocês nem imaginam. Gostaria de agradecer a biba por esse plot que foi sonhado e ela ajudou a desenvolver e, claro, a minha própria mente por me dar gatilhos dessa forma todos os dias hahaha
O que acharam? deixe seu comentário aí embaixo me dizendo sua opinião.
Obrigado por ter lido!
Xoxo Caleonis"

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