11. cowboy like me

Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

you're a cowboy like me (você é um cowboy como eu)
never wanted love, just a fancy car (nunca quis amor, só um carro chique)

O bar era chique demais para ser localizado em uma beira de estrada como aquela, cheio de magnatas vestidos em dinheiro e mulheres cheirando a poder para ser considerado um simples boteco. O que só podia significar uma coisa: aquilo era mais do que um bar; era o X no mapa de um viajante, o ponto de encontro para quem procura algo. Um esconderijo a olhos abertos. Alegadamente.

As lamparinas esbanjaram luzes difusas, o música dedilhada com suavidade ao fundo, as bebidas caras e cadeiras banhadas a couro de animais inocentes — afinal, como você exerce o poder, senão sentando na pele dos mais frágeis? — moldavam o ambiente de acordo com seus visitantes.

Entre todos os clones cínicos funcionantes do combustível em notas de cem, ela se destacava: . A mulher que sempre sabia o que dizer, com um sorriso que era ensinado em escolas de miss, seu cabelo negro ondulado caia pelos seus ombros enquanto ela andava através daquelas pessoas, apressando-se pela vida boa, a espreita de uma chance para ter seu lugar a mesa. Ela tinha tudo planejado e estratégico, só precisava de uma ponta de partida. Se tornaria quem queria ser, uma atriz. Alguém que vive pela arte e contempla de uma doce independência.

Suas unhas manchadas de vermelho escarlate brincaram com o pequeno copo no balcão. Ela ergueu a cabeça para o encontrar o barman bem conhecido, que ergueu a garrafa de uísque mais velha que ela em uma pergunta silenciosa. A morena ofereceu um sorriso apologético, balançando a cabeça em negação quando sentiu alguém se sentar ao lado dela.

— Já está satisfeita? — O rapaz perguntou, fazendo-a inclinar a cabeça. Ele era o tipo de homem em quem as pessoas se inspiravam para denominar o que era beleza. Mandíbula forte, presença assertiva, olhos como as florestas mais secretas, botas de combate bacanas. Sem falar nos lábios carnudos que arrodeavam um sorriso convencido, como se ele soubesse que aquele era o seu lugar tanto quanto sabia que o céu era azul. O jovem não parecia ser alguém da cidade, muito menos remetia semelhança aos homens mais velhos espalhados como gatos pingados pelo recinto. Ela podia apostar que ele possuía algumas tatuagens tão facilmente quanto ela poderia dizer que ele a estava observando
com um toque de interesse crescente. Homens nunca foram sutis. — Qual é, ainda nem é noite.

— Já passa das nove. — zombou, as sobrancelhas arqueadas para adicionar diversão à sua expressão.

Ele lambeu os lábios, a curiosidade fazendo cócegas em sua barriga enquanto ele prosseguia, suas palavras enroladas em um tom sugestivo.

— Até parece que as coisas boas acontecem antes da meia-noite.

Essa era uma dança muito antiga. Um jogo carnal que ela sabia muito bem como jogar — e, pelo jeito que ele falava, aquele cara também sabia. O final era inevitavelmente óbvio e a viagem seria agradável, para dizer o mínimo.

se perguntou se ela deveria levá-lo para casa ou não. Homens assim, ela os conhecia muito bem: jaqueta de couro, sorriso torto e um carro chique do lado de fora do bar, que provavelmente tinha sido comprado pelo seu pai. Quando se tratava de noites solitárias, esse era seu tipo principal. Ela sempre se apegou a ideia de uma noite selvagem que se dissiparia em memórias de prazer esquecidas depois de algumas horas, com eles seguindo caminhos diferentes, como se fossem sempre destinados a ser uma rua de dois rumos. Compromissos amorosos nunca foram sua especialidade ou objetivo, de qualquer maneira.

Mesmo assim, não tinha vindo aqui com intenção de pescar hoje. Pelo menos não uma noite frívola. Ela se divertiu um pouco com suas bebidas, presenteou homens mais velhos com sorrisos de lantejoulas e tentou tecer seu futuro com os fios de ouro que tinha em mãos no presente. A cada passo, as palavras da sua mãe tilintando em seus ouvidos igual as taças de champanhe dos sócios de uma empresa de carros importados há alguns metros de distância.

Mas, ele era muito bonito e a maneira como a olhava fazia a mulher doer em todas as boas maneiras. É claro que não estava procurando cuidados carinhosos quando ela chegou, mas quieta estava lenta de qualquer maneira.

Nunca diga não a uma boa oportunidade.

— Talvez você deva mudar sua perspectiva. Se você jogar direitinho, pode se divertir a qualquer hora. — Ela franziu os lábios, dando-lhe uma piscadela provocante. — Dois copos de uísque, por favor.

Ele era um caso perdido desde a primeira palavra trocada. Um tiro seria menos fatal.

— Uísque? — O homem deu uma risada leve. — Essa é uma mulher atrás do meu coração.

— Não é isso que eu quero de você. — balançou os ombros, segurando-se para não rir da confusão animada que enfeitou os traços do seu novo companheiro pela noite. Ele logo recuperou a postura, se inclinando sob o balcão.
— E o que você quer de mim, senhorita?

— Saber o que você procura aqui seria um bom começo. — Seus drinks foram colocados no balcão de mármore e tratou de agarrar o seu como, dando um gole longo sem pestanejar. A queima bem familiar em sua garganta a acalentou.

Ele arqueou uma sobrancelha: — Não quer saber meu nome antes?

— Não é assim que o mundo funciona. — A mulher piscou os olhos com simpatia, sem tirar o copo de perto dos lábios. — É tudo sobre o que você pode fazer, não é?

— É uma visão meio deprimente para uma mulher tão bonita. — Ele esperou que suas bochechas adquirissem um tom rosé, mas toda reação que conseguiu era um arquear de cenho com certa diversão. O rapaz levantou os braços em rendição, tomando um gole da bebida cor de ouro antes de respondê-la. — Tá bom, tá bom. Quero ser um ator e ouvi dizer que o Arisme ia estar por aqui.

Arisme Prime era um diretor de primeira linha. Ele era tão conhecido pelas luzes brancas dos holofotes quanto pelos sussurros que diziam que ele só contratava amigos para os seus filmes requintados. Claro, ele era um homem, ou seja, as pessoas ignoravam o nepotismo e o ovacionaram pelo trabalho sem nem pensar duas vezes. Ele era separado das suas boas ideias e movimentos de poder.

— Normalmente ele vem aqui com a amante às terças. — informou ao descansar o copo meio cheio no balcão. — Ele ama o vinho rosé.

— Como você sabe? — As sobrancelhas dele se juntaram em uma demonstração de confusão.

Ela riu. — Você não é o único empoleirado no escuro, tentando alcançar os ricaços no pedestal.

Por alguns momentos, os dois apenas permaneceram sentados ali, tomando uma bebida mais velha do que a idade dos dois. Ela, o símbolo de algo inalcançável que ele queria ter por uma noite. Ele, o desejo encarnado de relaxar e se divertir. Sabiam que seriam como linhas que se cruzam uma vez e nunca mais, a atração palpável deixava aquilo explícito. Até que uma música conhecida começou a tocar. O rapaz não pôde deixar de notar o modo com que as unhas dela batucavam no balcão de acordo com a melodia.

Ele se levantou, estendendo a mão direita para ela.

— Quer dançar, senhorita...?

. . — A morena completou, um sorriso malicioso em seus lábios pintados em escarlate. — Dançar é um jogo perigoso.
— Só é divertido se tiver um pouco de perigo. O loiro piscou para ela e agarrou sua mão. Enquanto os guiava para a pista de dança, ele acrescentou: — A propósito, eu sou .

O nome soava tão sexy quanto James Dean.

- Quer uma dica? Para quando conversar com o Arisme. — disse à medida que ele a movia com destreza, seu toque terno em sua cintura fazendo ela se perguntar como seria se ela a tocasse em outros lugares. Por agora, a moça arriscou focar em seus olhos cheios de estrelas. — Sempre diga aos ricos o que eles querem ouvir. Entre no jogo deles, até que você esteja alto o suficiente para mudar as regras.

— Você diz como alguém que tem experiência. — Ele alegou, aproximando seus rostos apenas um pouco demais. Ela o atraía como se fosse o sol do seu Ícaro. — Não me disse o que você quer fazer.

— Quer mais uma dica, ?

Ela olhava para ele, mas ele estava vidrado em seus lábios.

— Qual seria, ?

— Nunca dance com uma mulher desse jeito, sem pretender mostrar todos os movimentos que seu corpo é capaz de fazer até o final da noite.

you're a bandit like me (você é um bandido como eu)
eyes full of stars, hustling for the good life (olhos cheios de estrelas, se apressando pela vida boa)
never thought I'd meet you here (nunca pensei que eu te encontraria aqui) It could be love (isso poderia ser amor)

As conversas no salão estrategicamente decorado e arranjado se mantinham em um volume consideravelmente agradável para o vozerio que normalmente era e, desta vez, não atrapalhava a música suave que reverberou dentre as paredes do local iluminado por lustres de luzes amarelas. Mulheres vestindo as mais novas e diversas coleções de estilistas renomados, homens com barba feita e ternos do mesmo corte estavam espalhados pelo local como se soubessem exatamente com quem falar e sobre o que falar. As mulheres estavam ao lado de seus companheiros sorrindo cordialmente sem deixar suas vozes interromperem as conversas calorosas que os homens mantinham, mesmo que ainda tivessem sorrisos de fachada pintando suas feições.

Normalmente os bailes e eventos deste tipo mantinham o mesmo roteiro: chegar com belos sorrisos; aparentar ser mais rico e importante do que realmente era; manter a pose de casamento perfeito; permanecer ao lado de seu companheiro mesmo que ele comece a falar com um conhecido, que não se importavam o suficiente para lembrarem o nome, sobre como as ações da Apple haviam caído nas últimas horas e, talvez no fim da noite conversar com uma mulher sobre como fora de ótimo gosto o champagne escolhido para aquela ocasião ou sobre como as toalhas das mesas foram escolhidas com pouco cuidado e
colocadas de qualquer forma que não fosse agradável o suficiente. Acontecia tudo da mesma forma todas as vezes e resultaria em conversas na semana seguinte sobre como o Sr. Harlow estava falido de tanto manter o estilo de vida extravagante da esposa que gostava de exibir viagens para a Grécia a cada quatro meses. Sempre as mesmas pessoas falando sobre as mesmas pessoas nas mesmas ocasiões.

Aquela noite no entanto estava diferente, ao invés de ser um evento apenas para as pessoas já conhecidas de bailes anteriores, já que um grupo de pessoas que ela não reconheceu estava em uma das mesas mais bem colocadas de todo o salão. Os comentários sobre aquilo estava se tornando um pequeno burburinho entre as mulheres que se encontravam juntas em uma das mesas, mas uma delas tinha os olhos fixos em apenas uma das pessoas da tal mesa. Pensamentos corriqueiros passavam por sua cabeça enquanto ela tentava entender o que estava realmente acontecendo ali ou melhor o porquê daquilo estar ocorrendo.

Ela não imaginava que tornaria a ver aqueles olhos que tanto a marcaram anos atrás novamente em um evento como esse. De certo que haviam possibilidades já que tentaram seguir o mesmo caminho, mas desde que deixou a ideia de tornar-se popular para a mídia de lado ela não imaginou que o veria novamente. Não na condição atual onde uma aliança acompanhava seu anel de noivado em seu dedo anelar. Não quando o marido dela sorria e conversava com aquele mesmo homem e podia ouvir a voz grossa e doce que um dia tocará os ouvidos dela. Não daquela forma e não em um lugar tão impessoal como aquele. Por um momento foi como se todo o local tivesse ficado em silêncio e só a cena dos dois homens interagindo tivessem cor e movimento.

Não tão distante de onde a mulher observava a interação o homem que acabara de conhecer pessoalmente uma das pessoas com grande influência na indústria cinematográfica acreditava ter acabado de encontrar um pote de ouro, tendo em vista que o diretor mostrará-se bastante interessado em falar com ele sobre projetos que estavam em andamento e até alguns que havia trabalhado antes. Ele sabia que estava próximo de conseguir o grande papel de sua carreira se conseguisse e manter uma conversa boa o suficiente com o homem que lhe explicava uma ideia em desenvolvimento. Ele não poderia perder essa chance, era tudo o que quisera durante muito tempo. Uma chance.

Porém como se fosse premeditado pelo destino, ele olhou por cima do ombro de seu parceiro de conversa e viu um par de olhos que ele conhecera muito bem alguns anos atrás o observando como se ele fosse uma criatura de outro mundo. O rapaz não esperava que isso aconteceria, mas não conseguiu evitar o calor que lhe correu a espinha quando tirou uns segundos para observá-la e ignorar completamente a voz do homem à sua frente pela primeira vez na noite. Pela primeira vez em tanto tempo não valia a pena escutar o que ele tinha a dizer, mesmo que aquilo pudesse ter algum impacto em um futuro próximo. Ele não conseguia tirar seus olhos do olhar que se mantinha fixo nele.

A partir daquele momento os movimentos dos dois se tornará automático. Nenhum deles saberia dizer com detalhes o que acontecia ao redor por que em pequenas brechas de segundos se encontravam com os olhares unidos novamente. Estava começando a se parecer com uma tortura que não teria fim, ao mesmo tempo que ela desejava ir até ele com a desculpa de que estava com seu marido ela não gostaria de se entregar tal fácil a
ele. Ele por sua vez não tinha nenhuma desculpa boa o suficiente para chegar até ela, mesmo que de forma cordial ele sabia que as pessoas iriam comentar e lançar olhares suspeitos, então ele permaneceu onde estava e hora ou outra ele se pegava preso em pensamentos e devaneios do passado que ele sabia que não deveria estar tendo naquele momento, mas era inevitável.

Por um momento pareceu que eles estavam de volta ao bar onde se viram pela primeira vez. Pessoas espalhadas por todo o espaço, alguma música que eles pouco se importavam de estar tocando e uma atração inegável entre eles. E por mais que eles tentassem manter suas mentes ocupadas o suficiente para não caírem no erro de voltar ao passado vezes de mais em uma só noite, eles não conseguiam evitar os olhares que trocavam com certa frequência.

— Bom, , eu gostaria de lhe apresentar minha esposa — o homem que gesticulava com a mão livre do copo de bebida disse conseguindo de volta a atenção do rapaz.

— Seria um prazer conhecê-la — respondeu de forma cordial e conforme o homem começara a caminhar em direção a uma das mesas, ele o seguiu em silêncio apenas sorrindo para algumas faces conhecidas.

, apesar de surpreso pela presença da mulher, não podia deixar de notar que estava cada vez mais incluído no nicho de pessoas que sempre quis: as importantes. As pessoas que as outras sabiam ao menos o sobrenome e o poder que eles tinham comparado a maioria. As pessoas que conseguiam tudo o que desejavam com sorrisos forçados e bebidas fortes e caras. Parte dele o repudiava por querer fazer parte de um mundo tão pequeno e seletivo. Já a outra parte vibrava por finalmente poder respirar um ar cheio de perfumes mais caros que um jantar no Nobu e andar com a cabeça erguida sem sentir que está sendo julgado por tal atitude. Ali estava sendo julgado também, mas não pela postura que mantinha, mas pelas possíveis vírgulas que sua conta bancária tinha.

, querida, este é — o diretor disse ao colocar uma de suas mãos nas costas da esposa chamando sua atenção para si e o convidado. — Ele é um dos rapazes que fará o teste para o papel principal do novo projeto que William e eu estamos desenvolvendo.

Os dois ficaram imóveis por meros segundos quando ela se virou e os encarou, mas desta vez ela não pôde demorar em observá-lo, então logo sorriso já agraciou sua feição e ela esticou a mão na direção do homem de olhos . Ela não poderia dar a seu marido nenhum tipo de suspeita de que já havia virado esse homem antes. Por mais conturbado e inesperado o modo como as coisas ocorreram, ela sabia o quanto significava para ele conseguir papéis como o que estava em jogo e não podia estragar tudo para ele simplesmente porque não deu certo para ela.

— Oh, olá! É um prazer conhecê-lo — ainda sorria quando disse e ele logo apertou a mão estendida dela em um leve comprimento. Ele ainda estava tentando entender como a acabara casada com alguém como o homem ao lado dele, mas ao ver o sorriso que ela tinha percebeu que não deveria se demorar com uma resposta.
— Ah, o prazer conhecê-la é meu, Sra. — sorriu sem mostrar os dentes, por alguma razão o título que ela tinha atualmente o deixará desconfortável sob os olhares de que parecia estar lendo cada pensamento que ele tinha.

Talvez fosse pouco notável para as dezenas de pessoas que estavam ali, mas algo havia mudado na atmosfera desde que os pingos foram colocados nos i 's. O olhar de para já não era tão agradável e ele se perguntava como um homem no auge dos seus cinquenta e cinco anos teria se casado com uma mulher que mal completara trinta. Mas ainda tinha que manter a fachada de quem não conhecera a mulher de cabemos tão negros quanto as primeiras horas da madrugada a sua frente. Não podia desperdiçar sua chance e Dean era um dos amigos do círculo mais próximo de Prime. Sabia que se e William estavam planejando algo, com certeza Arisme estava envolvido de alguma forma e não poderia estragar isso por causa de um simples devaneio.

Algumas pessoas chamariam de destino e outras de ironia, mas naquele exato momento uma melodia conhecida começou a ser reproduzida de uma forma mais suave do que era conhecida. Era a mesma música que tocará na noite em que se conheceram, um pequeno sorriso — desta vez mais sincero — tomou os lábios de enquanto ela olhava para baixo, até que se virou para o marido colocando uma das mãos, delicadamente cuidadas e com um tom diferente de vermelho, no ombro dele e sussurrou algo no ouvido dele que olhou para com um sorriso brincalhão nos lábios enquanto acenava com a cabeça.

— Claro, querida, eu realmente acho que William esteja à minha procura e não seria educado deixá-lo esperando mais tempo — declarou enquanto ainda olhava como se estivesse tentando arrancar algum segredo obscuro dele.

sorriu para o marido e se aproximou de com um olhar que ele não conseguia bem decifrar. No momento ele sentia que estava em um jogo de tênis em que era jogado de um lado para outro, então automaticamente sorriu para a mulher a sua frente.

— Gostaria de dançar, ? Creio que não poderá te dar tanta atenção nos próximos momentos e eu não ficaria muito feliz em deixá-lo sozinho por aí — disse e novamente estendeu sua mão para ele, desta vez a palma estava virada lata cima de forma convidativa e a mulher tinha um sorriso de canto iluminando ainda mais sua feição.

, sem tirar seus olhos do azul dos dela, segurou a mão dela e logo ambos caminhavam até o espaço que era separado para quem gostasse de passar mais tempo se movendo do que sentado em conversas monótonas. As pessoas involuntariamente abriam espaço para que os dois passassem e algumas cabeças de fato se viraram para
observá-los. Ao chegarem na pista de dança, eles começaram a se mover de acordo com o som mais melódico da música e a sincronia que tinham lhes dava uma certa sensação de intimidade para que pudessem finalmente respirar um pouco mais tranquilamente. ainda tentava entender como ela havia se tornado esposa de e acabado em um baile de finalidade duvidosa ao invés de algum filme de grande bilheteria.

— Eu sei o que está pensando — quebrou o silêncio ao ver a forma em que o homem parecia disperso mesmo estando completamente ciente de seus arredores. — Meus pais acharam uma perda de tempo passar mais um ano tentando uma carreira que não aconteceria, então me apresentaram a e pouco tempo depois nos casamos. O de sempre — disse com um suspiro de indignação mesmo que ela soubesse que não havia muito que ela pudesse ter feito. — Não há muito mistério.

— Você... Mas como seus pais conhecem ele? Quer dizer, não seria mais fácil terem lhe apresentado alguém como ele quando você estava tentando seguir sua própria carreira? — ele disse enquanto olhava o salão ao seu redor devido ao fato de estarem se movendo.

— Porque aí seria fácil demais, — dera uma risada sem humor ao ouvir o que ele dissera. — Não é assim que as coisas funcionam aqui ou nesse meio. Não era proveitoso para o nome da minha família deixar que eu continuasse tentando atingir um nível disputado de estrelato, era mais fácil que eles garantissem a junção de bens de duas pessoas para que os netos deles jamais tivessem que imaginar que existe um mundo real fora do Tesla mais recente.

— Então é um casamento de fachada? — incrédulo ele perguntou, não era possível que ela havia se submetido aquilo.

— Basicamente, mas se você olhar ao redor, apenas três casamentos aqui são reais — disse ao conseguir uma brecha na música para olhar nos olhos dele. — Esse status é mais bonito por fora do que realmente é quando você faz parte. As pessoas já aceitaram que o máximo que vai conseguir de felicidade genuína é isso e, de alguma forma, está bom assim. Mantém o mundo girando. — deu de ombros. — É o que acaba se tornando.

— Me parece perturbador — com um suspiro declarou e ao olhar novamente ao redor, conseguiu notar com mais facilidade os sorrisos forçados nos rostos das mulheres. — Eu não sei se conseguiria.

— Claro que você não conseguiria, — sorriu. — Você não pegaria a parte difícil da proposta. Você não teria que abrir mão do que quer para manter um casamento que você não queria, mas você se acostumar com a ideia de ter que levar uma mulher com você sempre que aparecesse em um tapete vermelho. E muitas vezes aquela seria a única vez em que sairia com ela em público porque teria outras te esperando em bares escondidos das lentes dos paparazzis.

sentiu um nó se formar na boca de seu estômago ao escutar o que a mulher dissera. Será que teria que acabar como ou em alguns anos simplesmente para manter a alta burguesia com mais renome e poder ainda? Ou teria que ver outra pessoa colocar as próprias ambições em uma sacola e se desfazer do conteúdo simplesmente para manter um casamento onde nenhum dos dois seria realmente feliz? se perguntou naquele momento como devia se sentir ao ver ter e dar de mão beijada tudo o que ela sempre quis e nunca alcançou. Para ele parecia irreal a ideia de se colocar em segundo lugar para que outro alguém tivesse ainda mais poder sobre outros. Ele não conseguia ver sentido naquilo.

Sem que nenhum dos dois desse mais nenhuma palavra a música chegou ao fim e surpreendentemente apareceu ao lado da esposa, que agora já retornara a feição monótona e corpo mais rígido de antes, com um sorriso galanteador nos lábios e um copo novamente cheio com um whiskey que com certeza faria a vida de um trabalho muito feliz por uns meses, se convertido em dólares.

— Espero que tenham se divertido sem mim — deu uma risada um tanto animada, provavelmente devido a quantidade de álcool que já consumiu, enquanto levava novamente o copo aos lábios ingerindo mais um pouco do líquido âmbar. — Odeio interromper o momento dos dois, mas eu não poderia deixar ir pelo resto da noite sem fazer esse convite.

— Ah, claro — tentou dar uma risada parecida com a dele para mostrar interesse.
— Eu adoraria saber o que você tem em mente, .

— As quartas nós teremos um pequeno jogo de tênis na minha casa — disse e sorriu. — Eu acho que seria uma boa ideia você vir. Tenho certeza de que William já está mais que satisfeito com as coisas que você o disse mais cedo sobre os projetos anteriores dele, não faria mal acariciar o ego dele o deixando vencer em umas partidas de tênis — o sorriso de se tornava um tanto malicioso.

— Claro. Eu adoraria participar disto — a risada falsa de não soará tão convincente desta vem e logo erguia uma sobrancelha na direção dele. — Quer dizer, eu acho que não teria problema em passar mais tempo na presença de vocês em um lugar em que tenhamos uma privacidade melhor para falarmos sobre o assunto – corrigiu-se e logo a feição do diretor já voltará a ser serena e forçadamente amigável.

— Ótimo, nos veremos na quarta então — disse ao mesmo tempo em que um de seus braços circulava a cintura da mulher que estava em silêncio ao seu lado. — Vamos, querida.

telling all the rich folks anything they wanna hear, like it could be love (dizendo a galera rica o que quer que eles quisessem ouvir, como ''isso poderia ser amor")
I could be the way forward, only it they pay for it (eu poderia ser o caminho a se seguir, apenas se eles pagarem por isso)

O céu daquela quarta-feira não estava tão ensolarado quanto a ocasião requeria, o que era uma pena já que isso fazia com que o jardim da casa dos parecesse extremamente melancólico e sem vida. Não era como se a colocassem extremamente pigmentada das flores e a grama estivesse fazendo grande diferença em seu contraste contra o céu cinza acima deles. Mas tinha noção de que o clima não atrapalharia o jogo de tênis deles.

Ele ainda se sentia incomodado em pensar na situação de . Ele não conseguia parar de pensar em como ela deveria se sentir estando em uma posição como a que se encontrava. Já era de se esperar que ela já não teria mais o olhar marcante e voz estranhamente sedutora ao dizer as mais aleatórias palavras. Não, ele conseguiu ver que ela já era um reflexo do que ele conheceu um dia. Ela teve de se transformar em uma pessoa completamente nova para caber no mundo que tinha separado ao lado dele.

não podia negar que estava ansioso em como os eventos deste dia se seguiram, já que estava claro que ele estava ali para decidirem se ele realmente ficaria com o papel principal e ele tinha plena certeza de que não poderia deixar que seus pensamentos sobre as descobertas que teve algumas noites atrás atrapalharem ele. Ele teria que fazer de tudo para que ninguém suspeitasse que ele já sabia como as pessoas eram por trás daquelas câmeras e holofotes. , perdido em pensamentos, não se viu chegar até a porta de entrada da casa dos e logo após tocar a campainha, a porta fora aberta e um sorridente o esperava do lado de dentro vestindo roupas brancas típicas para um jogo de tênis.

— Ah, aqui está nossa estrela — disse enquanto lhe dava espaço para entrar no luxuoso Hall de entrada. — Estávamos falando de você há pouco, William e eu.

— Estavam? Espero que coisas boas — riu enquanto acompanhava o homem, em um caminho que ele acreditava ser o da quadra de tênis.

— Fique tranquilo, não temos nada que não seja coisa boa para falar de você — o assegurou. — Na verdade o assunto era basicamente como já encontramos a sua parceira de filmagens.

— Mas os testes para este papel ainda não começaram… — começou que agora olhava para o homem.

— Não foram necessários testes para este papel. Umas duas noites atrás, eu pedi a ajuda de minha esposa para uma leitura rápida do roteiro em uma das cenas gancho e, para a minha surpresa, ela foi extremamente certeira em como fez aquilo. E eu acabei sugerindo a William que fizéssemos um pequeno teste com e percebemos que ela fez exatamente o que nós queríamos da personagem — deu uma risada animada e olhou para o mais novo. — Dá para acreditar nisso?

— Nossa — disse tentando não pensar demais nas coisas que o homem lhe disse. Ele estava dando a o que ela sempre quisera sem nem saber. — É realmente uma surpresa, não tem como dizer o contrário.

and the tennis court was covered up with some tent-like thing (e a quadra de tênis estava coberta por algo como ouro)
and you asked me to dance
but I said, "dancing is a dangerous game" (e você me pediu para dançar, mas eu disse ''dançar é um jogo perigoso")

estava sentada com um livro no colo, ela também havia se vestido para praticar o esporte, mas tinha certeza de que não passaria tanto tempo com a raquete em mãos já que nunca fora muito boa em atividades físicas. Ela estava um tanto chateada com o céu cinza acima deles que estava coberto pelo teto de algum material muito semelhante ao vidro, por mais que gostasse de dias chuvosos, ela esperava que está quarta-feira estivesse com um céu azul vibrante e pássaros das mais diversas cores pairando sobre seu jardim para apreciarem as flores que ela cuidava com tanto zelo.

A falta que a cortina dourada de raios solares fazia naquele momento torna tudo um tanto irônico, pois parecia um reflexo do que a mulher sentia ao observar os dois caminharem até o local. Era bastante incômodo para ela ignorar a forma como seu corpo a implorava por momentos que a levassem de volta a sensação que ela tivera na noite que esteve ao lado de . Era como se cada célula em seu organismo estivesse pedindo para que ela se desse uma brecha para que aquilo acontecesse só mais uma vez. Mas era óbvio que não era possível se colocar naquela situação.

Não havia sido difícil para a mulher colocar os pensamentos que teve sobre aquela noite de lado, mesmo que eles tivessem martelando sua cabeça agora que ela olhava para ele. Ela sabia as suas prioridades e sabia muito bem o que colocaria em risco se pensasse demais em memórias que deveriam permanecer no passado, então naquela mesma noite ela decidiu não passar tanto tempo voltando à dança que tiveram juntos. No entanto, ainda era difícil não se sentir ansiosa para a tarde que começava. estaria novamente junto de e ela morria de medo de que ele deixasse escapar mais do que necessário.
Definitivamente tinha pavor de que suspeitasse alguma coisa agora que ela estava finalmente a um passo de conseguir o que queria.

Seus olhos se encontravam escondidos pelas lentes negras do óculos de sol que ela usava, então ela podia levantar a cabeça e olhar diretamente para os dois homens que entravam na quadra particular sem criar suspeitas para si. Ela via que vestia basicamente a mesma coisa que , a única diferença era o boné vermelho que ele tinha na cabeça.
Por um breve momento ela se perguntou como era possível ele continuar tão bonito como na primeira vez em que o viu. Até mais bonito, ela se arriscaria a dizer. Era algo sobre ele que tornava toda a sua aura sedutora e atraente para ela. Como se ele fosse um ímã que puxava para si os olhares magnéticos dela.

Ainda observando de longe e escondendo o resto do rosto com o livro em suas mãos, ela conseguia ouvir a risada dele que fazia os pelos de seu corpo se arrepiarem em um choque sem eletricidade. Ela precisava dar um jeito nisto, porque se tudo ocorresse como o planejado, ela não poderia ter este tipo de reação durante todas as vezes que se encontrassem no futuro.

Ela prestou atenção em como comprimentou William e nas pequenas risadas que ambos deixaram escapar até que o homem mais velho e corpulento, tivesse que voltar a partida que estava tendo com e deixasse o loiro parado a poucos metros de distância dela. Com um pequeno sorriso nos lábios, se levantou e caminhou até ele enquanto usava uma de suas mãos para colocar as madeixas negras para um lado do ombro.

— Ora, ora, não é que você realmente veio? — ela disse ao parar do lado dele e observar a partida de tênis à sua frente. — Eu achei que você não viria, normalmente as pessoas evitam vir — deu de ombros ao olhar para ele.

— Normalmente as pessoas não estão dispostas a realmente arriscarem o que tem para ir em busca de suas ambições — sorriu ao olhá-la. — É normalmente elas passam o resto da vida se arrependendo de não terem feito.

— Talvez você esteja certo — disse ela pensativa ao analisar por baixo das lentes negras a expressão dele que se mantinha serena. — Ou talvez você só queira provar muito para quem fará um esforço mínimo por você — concluiu.
— Cuidado, , esse é um jogo perigoso de apenas um perdedor. Você tem que saber como joga e com quem joga.

— Se você me ajudar, poderá ter dois ganhadores desta vez — com um sorriso malicioso ele disse e a encarou.

— Se você precisa de ajuda para ganhar, significa que você já está perdendo — disse e voltou para onde estava, tomando cuidado para mover os quadris de forma não exagerada mas que ela sabia que teria a atenção dele.

Com uma pequena risada, voltou a assistir o jogo dos dois homens em busca de manter seus pensamentos longe da mulher.

I've got some tricks up my sleeve takes one to know one

Vamos lá, rapaz — disse William, parceiro de que estava como produtor do filme, após ver que perderá mais um ponto. — Eu não posso ser tão bom assim, até o Jeff consegue me vencer com uma grande vantagem — deu uma risada que pela primeira vez soou um tanto vitoriosa.

— Ah, eu estou dando o meu melhor, Will — respondeu , apesar de estar mentindo sobre seu desempenho, divertido. — Talvez a próxima partida não seja tão fácil quanto está.

— Isto é o que veremos, rapaz — gargalhou alto e bebeu uns goles de água da sua garrafa.
— Estou finalmente conseguindo colocar em prática as técnicas que nunca deixava já que tem mania de ser um grande exibido.

— O que você chama de exibido eu chamaria de talento natural, meu caro Will — respondeu que se encontrava parado do lado de fora da quadra para observar o jogo.

As horas não demoraram a passar e por incrível que pareça, eles conseguiram pegar o esboço de um crepúsculo que estava escondido por todas aquelas nuvens carregadas enquanto deixavam a área externa da casa e iam em direção ao pequeno bar que tinha. havia se esquecido do real motivo pelo qual estava ali e realmente se divertiu ao lado dos homens. Estava sendo uma tarde extremamente agradável para todos os envolvidos, até havia participado de um jogo onde vencerá , apesar de todos saberem que foi cortesia do homem para com a esposa. não pode deixar de notar que e se davam demasiadamente bem para um casamento arranjado e ficou feliz pela mulher estar ao menos com alguém que lhe fizesse bem na medida do possível.

Mesmo que o pensamento de e se darem bem o deixar mais tranquilo, ele não conseguia ignorar o fato de que uma sensação estranha queimava na boca de seu estômago sempre que lembrava que estava casada com alguém como . Ele não sabia explicar o porquê de se incomodar tanto com os toques sutis que presenciou nas poucas horas que passou na presença dos dois e era ainda mais difícil para ele imaginar o que tinha que se sujeitar para manter satisfeito com o casamento. Ele detestava a ideia de que alguém estava tendo tudo aquilo com ela e não sabia o quão especial ela era ou lhe dava o afeto e carinho que ela merecia.

Ele detestava que era e não ele que estava com ela.

William, e agora bebiam um Whiskey que teve que prestar bastante atenção em como estava escrito para poder entender o nome. O líquido âmbar acalentava sua garganta e deixava um rastro adocicado na ponta de sua língua.

— O papel é seu — disse ao tomar mais um gole da bebida. — Nós conseguimos um teste seu para um dos projetos anteriores de Arisme e particularmente fiquei bem satisfeito com o que vi.

— A pergunta agora é saber se você vai conseguir atuar tão bem com a Sra. sabendo que o marido dela estará no set ao mesmo tempo — disse William em um tom risonho enquanto tomava o último gole de sua bebida.

Naquele instante sentiu seu coração bater como nunca antes e ele soube que definitivamente sua vida e carreira mudariam de forma definitiva. Ele só rezava para poder atuar tão bem quanto e fingir que nada acontecia ou iria acontecer.

now you hang from my lips (agora você se segura nos meus lábios) like the Gardens of Babylon (como os portões da Babilônia)
with your boots beneath my bed (com as suas botas embaixo da minha cama) forever is the sweetest con (para sempre é a trapaça mais doce)

É simplesmente fácil se perder nas luzes de Hollywood. sabia disso mais do que qualquer pessoa naquela sala de cinema — exceto, talvez, por sua companheira de elenco, que se encontrava sentada confortável ao lado do seu marido troféu.

Depois de sorrisos dignos do tapete vermelho, conversas frívolas sobre roupas, apertos de mão e flashes das câmeras, e estavam sentados na mesma fileira, prestes a assistir o filme pela primeira vez em sua pré-estreia. Aquilo era o ponto final, o destino que os dois sempre clamaram pertencer a eles.

Ainda assim, tudo que passava pela cabeça de era como atuar no papel do amor da vida dela tinha sido simplesmente natural para ele. O modo que o corpo dele se inclinava em qualquer oportunidade do seu toque suave, a maneira que ele memorizou todos os sinais espalhados pela sua pele âmbar, o jeito adorável que ela não conseguia abrir pacotes de ketchup na hora do almoço e sempre dava para ele abrir, até seus gritos enfurecidos quando eles brigavam atraiam ele.

não era estúpido. No auge dos seus vinte e seis anos, ele tinha plena consciência de que sexo tinha um poder surreal em relacionamentos, e que nem toda atração sexual ou conexão instântena queria dizer que ele estava apaixonado. Ele havia repetido isso para si mesmo ao menos um milhão de vezes depois da sua noite com anos atrás. Eles apenas tinham química, o que era comprovado durante as cenas. Seus objetivos sempre estiveram escancarados na sua mente como uma tatuagem, e amor nunca tinha sido um deles. O loiro era o tipo de homem de quem as mulheres comentavam no almoço sobre o tempo em que ele passou na cidade, mas que logo mudavam de assunto para dizer qual surpresa romântica seus respectivos amores tinham preparado para as bodas.

Sempre o amante nômade, nunca a casa de alguém. Mas tudo era antes.
Todavia, todos os seus planos pareciam ter sido jogados quando segurou na sua mão ao cumprimentá-lo naquele baile idiotamente chique, que arrecadava uma quantia risível para a caridade quando comparada ao valor patrimonial que aquelas pessoas tinham. No início, ele se perguntou como conseguia se encaixar tão bem naquela cena, sem aparentar qualquer esforço. Agora, ele se pergunta como sair dessa. Porque é quem interpreta relações interpessoais agora: mentindo sobre ligar para a bolsa de valores, enganando paparazzis ao sair com uma nova socialite todo dia, sorrindo para câmeras gulosas e fingindo não querer interromper a estreia do seu primeiro grande trabalho para arrancar a mulher que ele amava dos braços do marido dela.

Ainda bem que ele é um bom ator.

Seu lado racional ainda não desistiu dele. Então, ele permanece sentado em seu assento, encarando a abertura do seu estrelato na tela do cinema.

Para , as cadeiras que a separavam de pareciam um oceano de distância. E, mesmo que não soubesse nadar, ela só queria pular naquelas águas. O efeito de ter ele para si, de sentir que pertencia a alguém por meses tinha permanecido enterrado embaixo da sua pele como uma doença silenciosa. Todos os seus ossos doíam para tocá-lo, mas, toda vez que ela sequer cogitava em erguer a mão para alcançar ele em seus pensamentos ilícitos, o peso da sua aliança a trazia ao chão novamente.

Por muito tempo, via o casamento como uma prisão. Crescer em uma casa extremamente elitista e patriarcal tem esse pequeno efeito colateral. Ela não queria o que seu pai e sua mãe tinham: uma união pintada por um homem que tolera o amor e uma mulher que o celebra. Era simples ignorar a necessidade alheia por um sentimento romântico, ao invés disso, ela decidiu focar em suas amizades e sua carreira. Apesar dos resmungos julgadores do seu pai e dos pedidos da sua mãe para que ela se casasse o mais rápido possível, ela conseguiu trilhar o seu próprio caminho. O problema é que, se a estrada te leva a um lugar vasto e não asfaltado, todos consideram que aquilo é o fim da viagem, um deserto que deve ser ignorado, enquanto dá marcha ré para voltar e pegar outro caminho. No caso de , isso ocorreu quando, após inúmeros testes, ela descobriu que seu pai estava diretamente influenciando os diretores a não aceitar sua filha nos papéis, porque ela tinha perdido tempo demais e precisava se casar.

O que mais doeu não havia sido o machismo escancarado, nem mesmo a sua falta de fé nela ou a sabotagem dentro da sua própria casa. O que cortou seu espírito foi que seu pai tinha feito ela duvidar de si mesma. Depois de tantos nãos, depois de tantas portas batidas na sua cara, noites sem sono e raiva crescente, quase começou a acreditar no que eles diziam. Ela duvidou de si mesma, do seu talento, da sua coragem e das suas habilidades. Ela pensou que estava louca por não seguir os passos de seus pais.

Aquela era o momento em que decidiu que o casamento não seria uma prisão para ela, mas uma rota de fuga. A única coisa que um homem respeita é outro homem, ela nunca acreditou que uma grande mulher deveria estar atrás de um grande homem, todavia, agora ela sabia que pelas costas, poderia arrumar a situação ao seu favor como um show de marionetes. Ela iria vencer no jogo deles. Então, ao invés de perambular pelo arcaico bar em busca de uma chance de provar o seu valor, procurou por quem duvidasse dele.

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Magnata da indústria cinematográfica, era surpreendente que ele não fosse um babaca como a maioria dos homens naquele recinto. Solteiro aos cinquenta anos, esbanjava charme e sempre estava cercado de puxa-sacos. Não levou mais do que um sorriso gentil, um vestido bonito brilhante, risadas forçadas e uma conversa sobre vinhos para que ele demonstrasse interesse em levá-la para casa e mantê-la. sempre soube dizer aos ricos pretensiosos o que eles queriam ouvir, mesmo que fossem baboseiras como isso poderia ser amor. Assim, ela saiu de casa, cuidou do terreno como fazia com suas plantas em casa até surgir uma oportunidade perfeita. Ela nunca mais ia depender de outra pessoa.

Aquele momento deveria ser tudo para ela e era. Não havia coisa que ela quisesse mais do que se ver no rolo de filme. Ainda assim, seu coração teimoso batucava em sua caixa torácica como uma criança insistente cutucando um adulto, como se questionasse, e eu?
Para onde eu vou? Para onde nós vamos? A gente já chegou?

Porque apareceu, tão bonito quanto no dia em que eles se conheceram. Andando por aí como uma força magnética imprescindível. sempre pensou que ele havia sido mais uma daquelas paixões que acontecem e são boas de lembrar, mas que não se leva para a vida toda. Ela pensou que seria só mais uma daquelas coisas.

Agora, ela ergue a cabeça para assistir o desenrolar do filme, imaginando a ironia que era, o único lugar seguro para esconder seu maior segredo só poderia ser estampado na tela. Sua personagem era o disfarce perfeito para beijar , segurá-lo, prová-lo, amá-lo.

Não deveria ser uma surpresa para nenhum dos dois que, assim que a cena de abertura brilhou na sessão, com suas imagens tão altas, eles estavam sentindo-se minúsculos.

Olhares roubados repletos de desejo estavam mais presentes no cinema do que qualquer subtexto ou fala. As borboletas que eles cultivavam em seus estômagos durante meses estavam tentando escapar pelas suas bocas desesperadamente, mas acabavam presas em suas gargantas. afrouxou a gravata, enquanto a mulher ao seu lado - Cintia, sua agente - comentava sobre como alguma cena seria boa para a divulgação online. cruzou e descruzou as pernas várias vezes, sendo acalentada pelo marido dizendo que ela tinha ido bem.
, vestida de Elizabeth, segurou em seus ombros, guiando-o para a cama. , mais vivendo que interpretando Marcus, seguiu a liderança da mulher sem pestanejar. Ele daria tudo que ela pedisse apenas para observá-la.

— Aposto que não vai se esquecer de mim. — Ela ronorou ao sentar no colchão, ainda perigosamente perto dele.

Ela simplesmente não conseguia se afastar.

— Acha mesmo? — A morena assentiu, e o homem lambeu os lábios. Suas mãos tão próximas da cintura dela, como se estivesse prestes a tocar uma obra de arte.

— Tenho certeza.

— E quanto a você? — Ela se afastou um pouco, arqueando uma sobrancelha em sinal de questionamento. Seus braços a puxaram para o seu colo. — Vai conseguir me esquecer?

Ele simplesmente não conseguia deixá-la ir.

— Não. Eu nunca poderia te esquecer.

Ela sussurrou na porta dos seus lábios antes de finalmente beijá-lo.

Suas mãos estavam perdidas no cabelo de , que tinha um batom vermelho e bochechas rosadas. Ele tinha recordações escaldantes daquele dia. Assim que a gravação terminou, e tinham se beijado de verdade pela primeira vez em anos. Ela tinha sido sua naquela noite e em todas as noites e manhãs que se seguiram, enquanto aquele set estivesse de pé.

Aquilo era demais. Felizmente, o resto da plateia estava entretida demais com o drama no filme para notar a veracidade transbordando a tela.

oh, I thought, (oh, eu pensei)
this is gonna be one of those things (isso será uma daquelas coisas) now I know (agora eu sei)
I'm never gonna love again (eu nunca vou amar de novo)


Fim



Nota da autora: Tem TANTO tempo que eu não posto fic que escrevi com alguém! Obrigada por aceitar em cima da hora, Mari! Espero que vocês curtam a fic de uma das melhores músicas do álbum. Não esqueça de deixar comentário!

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