11. Damage

Última atualização: 21/06/2023

Parte 1: Garotos

Eu gostava de garotos. Muito. Desde pequena sempre que era convidada para os eventos da empresa de minha mãe, perguntava-me se haveria algum menino bonito o qual eu pudesse admirar.
Nunca havia alguém.
Com o passar dos anos, acabei sendo enviada para uma cidade da qual parecia injusto pertencer: timidez. Sem um motivo mais forte para me fazer mudar daquele território confortável, eu acabava me entregando sem demora às sensibilidades da vida. Chorava facilmente, ficava agoniada rapidamente, às vezes sequer conseguia olhar nos olhos, ainda mais se fosse os de um menino bonito — talvez então fosse até melhor que nenhum dos funcionários de minha mãe levassem seus filhos bonitos, flertadores e gentis.
Em um dia comum, porém, o peso da timidez me atingiu num passe de mágica e de maneira contrária à revigorante. Foi suplicante; aterrorizante. Eu vi o outro príncipe encantado nesse mundo de sapos. Não sei como, mas sabia que era ele. Era Ele. A pessoa; O cara. Letra maiúscula quase como nome próprio; letra maiúscula para dar ênfase.
Letra maiúscula. Ele.
Letra minúscula: eu.
Ele era O cara, mas eu era só eu. Cabelo mais ou menos, pele ruim, roupas que não tinham o mesmo caimento que as de modelo. Olhos comuns, vida comum. Como competir e me destacar se a única coisa que me diferenciava era ser eu, só isso? Esse era o justo ponto: eu não competia. Simplesmente saía do caminho e deixava que outras pessoas vencessem, pois estar na cidade da timidez faz com que você pense que vencer não é uma opção. Você puxa a manga das roupas para cobrir as mãos porque não sabe o que fazer com elas. Você não fala com pessoas ao telefone porque tem medo que elas falem algo zombeteiro sobre sua voz. Você desiste de sair porque sua aparência não é apresentável o suficiente. Você olha o príncipe encantado, fica feliz por cinco segundos e então desvia, porque a princesa dele está lá fora, não dentro de você.
Eu vi o príncipe. Fiquei feliz por cinco segundos. Desviei.
Com os olhos lindos e cabelo arrumado na medida certa, o homem era estonteante. Ele usava um terno preto e gravata azul, mas eu podia imaginá-lo de uma forma bem menos formal, talvez cozinhando algo para nós dois ou sentado ao meu lado, em alguma festa infantil que demandasse muita animação e comida boa. Ele era bonito, mas o que chamou minha atenção foi que, mesmo com pressa, ele sorria para as pessoas. Foi delicado, observador. Ele sabia que naquela hora do dia todos estavam irritados e doidos para chegar ao lugar que precisavam ir. Trombar em alguém seria pedir para morrer naquela cidade. Ele sabia disso e foi gentil. Sabia disso e, mesmo possivelmente atrasado, deixou o dia de outras pessoas melhor.
O príncipe passou por mim, pareceu olhar-me nos olhos por dois segundos e partiu. Não sei aonde ia com tanta pressa, mas me convenci de que não era saudável saber. Ele já era de outra e, se ainda não era oficial, logo acharia A mulher.
Ele partiu e eu não olhei para trás.
Na terra da timidez, você sabe que as coisas nunca são com você, porque nada se desenvolve lá. A terra é contaminada. Na cidade da timidez, usamos mangas compridas, não falamos ao telefone com estranhos nem saímos enquanto o cabelo está molhado porque o vento deixa os fios ainda mais sem ordem. Na cidade da timidez, vou até em casa e penso no menino. Imagino onde está e porquê corria. Na cidade onde eu vivo, ele não me quer, nem sequer vai lembrar da garota comum que viu saindo da estação de trem. Na cidade onde vivo, fico braba comigo mesma por não ser magnífica. Na cidade onde quero viver, gosto de garotos e eles gostam de mim. Na cidade onde eu vivo, a timidez transformou minha segurança em conforto fechado e não consigo viver confiante.
Na cidade onde eu quero viver, o príncipe parou, voltou e perguntou meu nome. Na cidade onde vivo, ele foi embora.
Assim como minha esperança.

Parte 2: Garotos

Estou atrasado. Coisas assim acontecem comigo todos os dias, mas ninguém nunca se importa. Sinto que meu sorriso brincalhão é meu visto permanente para ser sempre desculpado. Ninguém se importa com a pequena fenda que existe nos dentes da frente; todos só querem ser apreciados e um sorriso possui essa capacidade. As pessoas se sentem apreciadas quando alguém sorri para elas, simples assim.
Sorrio para o porteiro. Pergunto como está seu cachorro. Segundo ele, Guardanapo está bem e sua pata está até melhor. Sorrio para a senhora do quinto andar que está chegando. Não sei seu nome, mas ela sorri de volta. Sorrio para mais umas três pessoas no caminho até a estação. Sorrio para uma porque gosto de seus sapatos e para as outras duas porque são o casal mais lindo que já vi. Sorrio também porque quero algo assim para mim.
Na escada rolante da estação, cada minuto passa rápido gritando "você está atrasado!", mas eu suspiro e sorrio para uma menina que parece com uma colega de faculdade. Talvez seja ela. Ou não. Ela sorri de volta. Legal. Ela é bonita.
Entre sorrisos e tic-tacs do relógio, eu enxergo uma mulher. A mulher. Não é simplesmente legal; é ela. Mangas compridas, sorria como se tivesse vergonha da própria existência e mexia no cabelo constantemente. Ela era o oposto de mim. Alguém como ela me faria querer ser pontual. Eu a vejo, ela me vê. Mas talvez seja só eu, talvez seja só a euforia daquela entrevista de trabalho. Talvez.
Quando passo por ela, ela não olha para trás. Se olhasse, jurei que desistiria da entrevista. Eu já estava atrasado de qualquer forma. Seria bom parar e quem sabe tomar um chá com ela. Perguntaria sobre seu cabelo bonito e pelo motivo de ser tão envergonhada. Perguntaria sobre muitas coisas.
Mas ela não olhou.
Então foi só eu.
Não sorrio para ninguém no resto do caminho. Ninguém parece decepcionado, mas eu estou. Estou decepcionado porque, sendo uma pessoa extrovertida, esperava ser amado por todos, assim como esperava ter minha dedicação retribuída. Estou decepcionado porque ela pode ter visto minha imperfeição dentária e ignorado a vontade de ser apreciada. Estou decepcionado por não saber seu nome. Por ter pensado que ninguém seria a exceção para mim. Não estou decepcionado, na verdade, estou triste.
O que será que ela faz no cabelo para deixá-lo tão lindo?
Cheguei na entrevista em cima da hora, mas consegui. Eles queriam alguém que "soubesse conversar com todo mundo". Sou bom com isso e não negaria mesmo. Talvez se negasse, aquela mulher iria se sentir confortável comigo e até olharia para trás.
No caminho para casa, notei que o mundo não é sobre sorrisos. Mesmo arqueando a ponta dos lábios, as coisas podem estar desabando. Mesmo evitando contato visual, a vida pode estar feliz e nos conformes. O mundo também não é sobre isso. O mundo é sobre padrões e sua capacidade de interpretá-los e ignorá-los quando necessário. Posso ser extrovertido, mas também posso ter dias ruins. Aquela mulher pode ser introvertida, mas pode gostar de ser assim — e outra pessoa além de mim vai poder gostar dela pelo jeito que é.
Gostaria de ser esse alguém.
Mas não sou.
Continuo sorrindo. É só o que sei fazer de bom.
Espero vê-la de novo.

Parte 3: A Voz

Meu amor pela voz humana começou quando, na oitava série, li algo sobre como na Renascença os médicos acreditavam que as vozes eram emitidas a partir do coração e que por isso eram diferentes umas das outras. Desde então, passei a prestar atenção em timbres, tons e alturas de sons produzidos pelos pulmões, cordas vocais e articuladores para se comunicar de toda e qualquer forma possível.
Uma simples voz me fascinava, podendo seduzir ou produzir desgosto facilmente para com outra pessoa. Uma simples voz podia me acalmar, me deixar animada, ansiosa, feliz. Uma simples voz podia fazer com que meu dia ficasse melhor ou pior. Uma simples voz não era tão simples assim.
E foi com ela, que amava tanto, que notei que tinha feito escolhas ruins na vida.
Pelo menos uma escolha em particular: ligar para ele.
— Bom dia. — Meu erro disse para um colega que estava sentado duas cadeiras mais à frente da minha. Ele estava com um copo de café na mão e um sorriso bonito no rosto.
O semestre havia começado depois das festas de fim de ano, fazendo com que metade da turma ainda não estivesse naquele ambiente, possivelmente matando aula em algum país pequeno da Europa ou embaixo das cobertas, com preguiça.
Era onde eu queria estar também. Qualquer uma das duas opções.
As cortinas estavam abertas, permitindo que víssemos a neve lá fora, invejando quem tinha alguns dias mais até voltar para as normalidades da vida e quem sabe até fazer bonecos ou guerra de neve. Ou dormir um pouco mais que nós, meros estudantes. O cheiro dentro da sala de aula era de mesas limpas e casa fechada, sendo que provavelmente era exatamente assim que a faculdade havia deixado as salas durante as três semanas de pausa. Fechadas. No ar pairava também um pouco de angústia de estar começando mais uma aula nova e animação por ser um conteúdo mais livre.
Arte contemporânea tinha tudo para conquistar todo mundo naquele semestre.
Depois de alguns "bom dia" murmurados de volta pelo grupo, meu erro e colega de classe colocou sua mochila preta na carteira ao lado da que estava se sentando e largou seu copo de café na mesa. Ele engajou uma conversa com o possível amigo e só consegui ver a parte de trás de sua cabeça. Ele tinha cabelos tão bonitos que os fios individuais deviam ser praticamente cordas de um instrumento que eu adoraria saber tocar e conhecer de perto.
Ainda bem que ninguém ali lia pensamentos e que eu tinha filtro que me impedia de dizer aquilo em voz alta.
O professor logo chegou, fazendo com que todo mundo ficasse em silêncio e voltasse sua atenção para a frente da sala.
— Eu sei que só vi alguns rostos aqui em semestres passados, mas como essa cadeira vai ter alguns dias a menos por conta de alguns feriados, espero que vocês só digam seu nome e qual os meios que vocês usam para se alimentar de referências visuais. Como vamos trabalhar com arte puramente, espero que vocês escutem todas as respostas e pensem em pelo menos duas opções para incorporarem em suas rotinas, ok? — o professor falou.
Eu ainda não conseguia pensar muito bem no que estava acontecendo. Depois de oito meses, eu estava finalmente associando um corpo real para uma voz que me deixava extremamente feliz e ansiosa; uma voz simples, calma, que soava como música mesmo que estivesse alterada.
A voz do meu colega de classe.
A voz da pessoa com quem eu estava falando e me apaixonando como uma idiota dia após dia durante oito meses, por conta de uma ligação que eu havia feito para o número errado.
A voz dele.
Um contratenor de alcance G3 à A5, pelo que minhas breves videoaulas no Youtube podiam afirmar.
.
A voz dele começou a tomar importância em minha vida depois que tentei ligar para , namorada de meu irmão . Ela sem querer havia me passado o último dígito errado, o que me fez despejar nele sobre como meu primeiro dia de trabalho havia sido horrível porque meu irmão havia ficado de me levar, esqueceu de aparecer e fez com que eu me atrasasse terrivelmente. Claro, isso sem nem notar e sem fazer uma pausa sequer. Meu novo chefe não ficara nada feliz e, pela pressão do momento, comecei a chorar ao telefone com quem eu presumira ser a gentil . No fim, era outra pessoa.
Ele.
Nas primeiras semanas eu já estava apaixonada sem notar e a foto dele que havia visto no aplicativo de mensagens nem era parte do motivo.
comentara que eu devia deixar de ser tão medrosa e patética no amor, enquanto ficara com receio de estranhos e da possibilidade de me magoar. Por mais que ela não houvesse usado aquelas palavras exatas, eu interpretara daquela forma quando, no fim de minha festa surpresa de aniversário, eles ficaram em meu apartamento tomando chocolate quente e insistindo que eu não encontraria alguém legal se continuasse em casa, imaginando, escrevendo e lendo sobre relações inexistentes.
Eu amava vozes, mas perdia a minha quando se tratava de amor.
? — ele disse, depois de três horas de ligação naquele dia. Naquele ponto da relação, já era comum ligar e deixar mensagens de lado, já que tanto ele quanto eu não éramos bons em responder rápido. Sua voz era linda, aveludada e havia dito meu nome como se fosse a coisa mais importante do mundo.
— Oi? — respondi, depois de engolir minha saliva e tentar acalmar meus pensamentos.
— Sei que seu aniversário tecnicamente já terminou — disse, quando já passava da meia noite e meus olhos não conseguiam mais ficar abertos. Eu já tinha escovado os dentes e colocado meu pijama —, mas fico feliz de certa forma ter passado ele com você.
Sorri, pensando no quanto havia dormido feliz naquela noite, só para ser acordada de minha retrospectiva com um cutucão de uma colega.
Meu professor me olhava fixamente. Seu olhar me fez entrar em pânico, como se ele pudesse ler minha mente e soubesse que na verdade eu estava pensando em como era infantilmente apaixonada por meu novo colega de aula e em como ligava para ele sempre que pegava o ônibus para a faculdade, de ida e de volta e antes de ir dormir; que éramos uma espécie estranha e triste de namorados-não-namorados que se falavam com frequência, mas que nunca haviam se visto. Eu sequer tinha tido coragem de passar qualquer tipo de mídia social minha para ele, mantendo meu ícone de Pikachu no aplicativo de conversação que usávamos.
Pikachu!
Olhei em volta, arregalando os olhos de leve.
— O professor perguntou seu nome — a colega disse. Notei que meus colegas também me fitavam, incluindo , talvez buscando compreender minha falta de resposta para o professor. Patética. E nem havia passado da hora do almoço ainda. — E as referências.
Claro, ninguém lia mentes.
Porém, as pessoas ouviam vozes. E, mesmo sem querer acreditar que eu era relevante para , sabia que era provável que ele identificasse meu timbre mezzo-soprano e quem sabe, quando a aula acabasse, ele viesse até mim para conversar pessoalmente.
Eu ficava nervosa só de pensar em seu rosto bonito olhando para mim.
Ele era lindo demais. Tão bonito que chegava a ser injusto. Tão belo que eu ficava ansiosa só de pensar em um diálogo real, pessoalmente, então fiz a única coisa que uma pessoa madura e sensata faria e balancei a cabeça, apontando para minha garganta e negando com o dedo.
"Estou sem voz" foi o que quis dizer.
Dei de ombros e o professor acenou com a cabeça, sorrindo de leve.
— Vou fingir que acredito — disse ele, fazendo com que meus colegas rissem.
Minha atenção foi diretamente para , por mais que ele não estivesse olhando diretamente para mim, e recordei de todas as vezes que ouvi sua risada através do celular. Em algumas vezes era quando eu desatava a falar, deixando-o atordoado ou quando ele contava uma piada sem graça e a linha ficava muda. Eu me segurava o máximo que podia, até que gargalhava junto dele e ficava pensando em como seu rosto devia mudar com seu sorriso, principalmente seus olhos. E a resposta que eu não tinha antes era que seus olhos se fechavam e seus dentes brancos e alinhados ficavam à mostra, fazendo com que me questionasse como uma pessoa podia ser tão radiante. Seu nariz parecia ficar um tanto mais largo e um bigode chinês decorava suas bochechas.
Toda minha imaginação não chegava aos pés da realidade.
O professor seguiu para a próxima aluna e consegui respirar aliviada. Minha colega me olhou como se perguntasse sobre minha falta de voz súbita e fingi não ver seu ar questionador. Não tinha intimidade o suficiente para explicar no que havia me metido e tampouco era indiferente sobre ela para dar alguma resposta curta. Talvez ela esquecesse até o fim da aula.
Comecei a procurar resquícios de alguma história que havia me contado algum dia. Mesmo que ele não falasse nada muito pessoal, digna de tendências stalker como informações mais pontuais como lugar onde morava, eu lembrava de ouvir sobre —
— ... desenhar — falou —, mas nunca foi nada muito extraordinário. Ainda assim, acho que arte não é sobre ser como algum artista profissional no quesito criação. Arte é sobre os elementos, noção de cores, espaço e combinações, certo?
Ele definitivamente já havia me dito sobre gostar de desenhar e como seu irmão menor estava começando a faculdade de arquitetura e seus desenhos eram muito melhores que os dele. Mesmo assim, ele mantinha um caderno consigo sempre, porque nunca sabia quando ficaria sem o que fazer e poderia começar alguma paisagem ou aleatoriedade. Vasculhei em sua mesa para ver se encontrava algum caderno, porém sua mochila amarela estava fechada ainda.
Vi alguns colegas acenarem e sorrirem em sua direção, concordando com ele. Ele comentou sobre gostar de Monet e procurar inspirações em mídias sociais e em exposições em museus, principalmente arte contemporânea.
Pensando com mais clareza, decidi que poderia ter dito meu nome, que minhas referências vinham de videoclipes e obras de artes. Um pouco de animes também, por admirar muito as cores. Eu poderia ter ficado mais tranquila e prestado atenção nas respostas de meus colegas. Eu poderia, mas não fiz nada daquilo porque estava cega de certeza que ele me reconheceria e confrontaria sobre todas as vezes que desviei de qualquer assunto que elucidasse minha aparência física.
— Obrigado, — o professor disse, sorrindo. Parecia que a beleza dele era motivo para ser feliz e todos que interagiam com ele instantemente pareciam mais alegres. Eu, por outro lado, devia estar parecendo ter visto um fantasma. — E você, ? — ele disse, apontando para o menino ao lado de .
A aula prosseguiu animada. Em certo ponto perto do almoço começou a nevar novamente e acabei olhando pela janela quando alguma outra classe foi liberada e os alunos começaram a sair pelo campus. Vi meu irmão indo em direção ao estacionamento segurando a mão de e não consegui deixar de sorrir ao vê-la entrelaçar seus dedos.
Eu precisava contar sobre e a coincidência de estudar com ele.
A aula acabou e seus amigos ficaram conversando enquanto eu arrumava minhas coisas. se sentou na mesa, deixando uma perna mais para cima que a outra, fazendo com que sua calça subisse e sua meia preta fosse revelada. Seus pés eram cobertos por Dr. Martens pretos e seu corpo era tapado por um casaco ⅞ cinza, acompanhados de um blusão preto de gola alta e uma chamativa mochila amarela. Ele usava luvas pretas e segurava um cachecol cinza.
Ele era muito estiloso.
Sorri mais tranquila em saber que ele não poderia me reconhecer e vi meus colegas começarem a sair rapidamente, inclusive minha amiga leviana (também conhecida por simples colega). Ela gritou que tinha que sair com a namorada e já estava atrasada porque não achava que a aula iria até o limite de horário mesmo, me deixando aliviada por ter esquecido sobre minha voz. O professor, ouvindo sua meio reclamação, soltou uma breve risada e continuou desligando os aparelhos da sala.
Ajeitei meu caderno e canetas dentro da bolsa com calma porque não queria sair no mesmo tempo de . Mexi desnecessariamente em uns livros que precisava devolver na biblioteca e, quando olhei em direção à porta, ele ainda estava lá.
— Você realmente está sem voz ou só não gosta de falar em público? — ele disse. Seus amigos e nosso professor já haviam ido embora, só restando nós dois. Desviei de duas classes, indo para o corredor e então desci os três lances de fileiras com carteiras. — Porque tenho a impressão que você estava mentindo.
Sorri, envergonhada, e encaixei as alças em meus ombros.
A impressão dele estava certa, mas essa não era a primeira imagem que gostaria que ele guardasse de mim. Debatendo sobre contar ou não a verdade, dei de ombros e larguei um quase suspiro breve pelo nariz. Um leve sorriso em meu rosto deixava a resposta muito ambígua.
— Você é , certo? — ele perguntou assim que cheguei em frente à mesa do professor. A porta estava tão perto que já conseguia ver os alunos caminhando do lado de fora da sala. Inquisitei-o com o olhar, ainda incerta sobre falar ou assumir uma falsa personalidade para ele, mas, quando pensei em abrir a boca e deixar minha voz flutuar até ele, seus lábios carnudos se abriram e falaram: — Ouvi sua amiga te chamar, por isso sei seu nome.
Assim como vozes, sons também eram algo que eu gostava. Não cortadores de grama ou barulhos altos irritantes, mas sim ambulâncias ao longe, carros circulando, uma grande quantidade de pessoas conversando em um mesmo lugar. Cachorros, bicicletas, cliques de coisas se encaixando.
Telefones tocando de meu namorado-não-namorado por celular que era melhor do que eu havia pensado.
Minha boca se abriu enquanto ele se desculpava, tirando um celular do bolso e sorrindo ao olhar para a tela.
— Desculpe, minha futura namorada vai sair da aula agora e preciso ligar para ela. Eu tive que colocar um alarme para não me esquecer e telefonar em horários ruins — ele sorriu novamente, colocando as alças de sua mochila amarela em seus ombros, carregando seus materiais para longe de mim. O computador finalizou completamente, assim como o projetor e continuei parada ali. Futura namorada? — Ela também se chama , aliás. Por isso prestei atenção em seu nome.
Seus olhos ficaram pequenos de novo ao acrescer um sorriso para o mundo e o vi deslizando seu dedo pela tela.
Minha futura ligação.
Ele pensava em mim com carinho também?
Seus dedos estavam prestes a me ligar e eu continuava parada. Quando seu nome apareceu na minha tela, tentei cancelar, porém meus dedos fizeram o caminho oposto.
Obviamente.
— Ursinho? — ele disse, em tom brincalhão. Ele sempre tentava atender com os nomes mais aleatórios e idiotas possíveis. Sua atenção já não estava mais na real, só na que ele criara em sua mente. — ?
Sua existência passou por mim, fazendo com que o fantasma do vento que ele deixou no ar me atingisse em cheio. Ele era realmente ele e eu quase havia deixado que ele me descobrisse.
Sua voz já estava longe.
Ele já estava no corredor.
Eu já estava criando alternativas para passar um semestre sem falar uma palavra em aula.
Quando parecia seguro, peguei o celular rápido e fiquei aliviada em ouvir sua voz lá. E então nervosa por ouvi-lo.
— Oi. Oi, tudo bem? — falei.
— Queria você aqui comigo. Quando você vai parar de se esconder? — ele disse. Quando não respondi, ele continuou: — Como foi sua aula? Seus colegas são legais?
— Não tão legais quanto você, acredite — murmurei, sentando na mesa do professor e olhando pela porta que ele havia acabado de sair.
— Ninguém é tão legal quanto eu.
E ele estava certo; ninguém era tão legal quanto ele. Eu nunca havia conhecido alguém tão gentil e divertido como . Todas as histórias que ele me contava, as conversas que tínhamos sobre humanidade e trivialidades, todos os detalhes formavam um homem preocupado com os outros, que provavelmente segurava a porta para estranhos passarem e parava para dar informações para pessoas perdidas.
— Eu sei — suspirei. Levantei-me, seguindo o mar de alunos tentando escapar do campus para comer algo antes das aulas da tarde começarem e vi ao longe, com o celular entre o ouvido e o ombro, se equilibrando para pegar balas da máquina de doces. — Acredite, eu sei.
E quando o pacote laranja do doce favorito dele caiu pelo compartimento das comidinhas, me perguntei se se confundia com seus sentimentos tanto quanto eu, porque, naquele momento, enquanto ele sorria bobo com olhos faiscantes e murmurava que sentira minha falta como um adolescente que se declarara, ele pareceu sentir o mesmo.
Mesmo sem saber que era a minha voz que ele conhecia.
Mesmo sem saber que eu queria mais que só sons vindos dele.
Mesmo sem saber, ele pareceu sentir o mesmo que eu e aquilo fora suficiente para continuar a ligação como se nada tivesse acontecido.
Eu era patética por ele.

Parte 4: Nossa Voz

Minha situação não era tão complicada quanto eu havia pensado, porque três semanas depois, quando o professor fez a lista de presença em voz alta enquanto trabalhávamos no primeiro projeto da cadeira, nem pensei muito ao deixar que minha voz passasse pelos lábios em um "aqui" alto.
Encarei o caderno de desenho em minha frente, desejando que de alguma forma as folhas tivessem evoluído o suficiente para me puxar para dentro delas. Tranquei a respiração e segurei a lapiseira com tanta força que tive que soltar o plástico assim que me dei conta que o estalo que ouvira vinha do pequeno objeto sem culpa alguma de minha situação.
, que estava sentado somente uma fileira à frente da minha, sequer levantou seu olhar do computador, não reconhecendo meu timbre.
Não pude ficar decepcionada. Era um alívio não ter que fugir dele ou me fingir de muda toda vez que viesse para a aula, então continuei trabalhando e assim que terminei o pequeno e simples design que o professor nos solicitara, entreguei meu trabalho e praticamente saí correndo da sala para poder riscar mais uma semana que havia sobrevivido a pessoalmente.
Porém, nada era tão simples assim, porque ele parecia me perseguir.
A aula seguinte era escrita criativa, uma eletiva ministrada por um professor idoso simpático e atencioso que animava sempre minhas manhãs com seu bom humor e paciência. Era dia de apresentar nossas anotações, redações, post-its — o que quer que tivéssemos escrito sobre o assunto que ele passara na aula anterior. Como minha palavra fora "mão", resolvi honrar minha alma de romântica indefesa e escrevi sobre o sentimento de segurar a mão de quem se ama.
— Vá até a frente, minha querida — professor Allen disse, encorajando-me. Sorri em sua direção e fiquei animada ao ver que meus colegas pareciam curiosos sobre como eu havia transformado uma parte do corpo em arte.
Mesmo que todos tivessem sorrisos alentadores, fiquei um pouco nervosa de toda forma. A sala bem iluminada e predominantemente branca estava com poucas almas para abençoar; se haviam dez colegas naquela cadeira era muito. A atmosfera assim ficava leve e descontraída, ainda mais que todos ali gostavam de escrever e eram sensíveis com palavras, o que nos deixava solícitos e extremamente polidos uns com os outros.
Respirei fundo, coloquei a mão dentro do bolso da jaqueta jeans para retirar o papel dobrado e, ao conseguir encontrá-lo, a porta se abriu depois de duas batidas leves.
— Com licença, Professor Allen — professor Charles disse, sorrindo abertamente. Ele era uma pessoa engraçada, mas sempre se atrasava para suas aulas e aquilo me deixava muito incomodada. — Desculpe o atraso. Podemos entrar?
Sendo o senhorzinho amoroso e querido, Senhor Allen afirmou com a cabeça e logo levantou de sua mesa. Ele parou ao meu lado, colocou a mão em meu ombro e se voltou para a classe, parecendo estar anunciando para todos que na verdade eu era trouxa e havia me metido em confusão, porque logo vi e alguns de seus amigos entrarem, acompanhados de mais alguns calouros.
Provavelmente, senhor Allen usaria o termo néscio, inepto ou obtuso para me definir.
Ou as três opções.
— Pessoal, hoje o Professor Charles reuniu a turma de alunos da cadeira de Criação para escutar as histórias de vocês. Eles vão fazer o primeiro trabalho do semestre baseando-se em uma das suas referências, porque a orientação do curso acha que as aulas precisam interagir mais, se interligar. Vai ser divertido, com certeza!
Eu tinha outras palavras em mente.
Senhor Allen deu leves tapinhas em meu ombro enquanto os alunos passavam por mim, buscando lugares disponíveis para sentarem-se e me verem gaguejar ao falar sobre mãos.
Mãos!
Maldito .
Eles iam achar que eu era uma mentecapta gigante.
— Cada um recebeu uma palavra e decidiram, por espontânea vontade, escrever sobre quaisquer tema que envolvesse o que estava no papel. Vocês verão aqui como cada pessoa é um indivíduo único que interpreta cada estímulo de uma maneira, associando-o com algo que já está em sua mente ou que muito o interessa. Ou que só queriam terminar de uma vez para se livrar do projeto, claro. Espero que vocês respeitem os trabalhos e sintam-se incentivados a mostrar-nos seus projetos finais, ok? — professor Allen afastou-se e olhei para ele com certo desespero, seriamente pensando em agarrar sua mão e dizer que estava mal para poder sair da sala.
Seu olhar incentivador e amoroso me fez derreter.
Maldito senhorzinho fofo.
— Bom — comecei, meio incerta. Na fileira de mesas e cadeiras mais próximas de mim, bem na frente, estavam alguns colegas mais velhos que gostavam de escrever romance também. Seus olhares calmos me ajudaram e quase pensei em agradecê-los na hora. Eram só palavras —, bom dia. Minha palavra foi "mão" e espero que gostem.
Silêncio.
Será mesmo que não havia uma pá disponível para cavar o buraco?
Controlando minhas próprias mãos que tremiam, abri o papel, vendo minha letra emendada descuidada, e respirei fundo. Já sentia minhas bochechas ficando vermelhas, o corpo mais quente e a infernal presença de me deixando ansiosa.
Ele também estava sentado na primeira fileira e estar ciente daquilo só piorava o fato de alguns alunos estarem em seus celulares, conversando baixo ou olhando para minha fisionomia e cochichando coisas inaudíveis. Pelo menos eles sabiam o conceito de cochichar e realmente não me permitiam ouvir o que saía de suas bocas terrivelmente agressivas e sem compaixão.
Lidar com adultos era tão mais fácil do que com calouros.
sorriu para mim e se ajeitou na cadeira. Agora que eu conseguia vê-lo por completo notava que suas calças, cinto e sapatos Oxford pretos, combinados com uma quebra de cor no suéter creme levemente para dentro da calça, seriam o fim de muitas colegas. Ele era uma utopia — o estado ideal de completa felicidade e harmonia para que todos os seres fossem atraídos por sua beleza natural e casual, sem esforço.
Lidar com adultos era mais fácil quando eles não eram .
Ele me fazia querer ser confiante, destemida e interessante. Talvez se eu conseguisse me considerar qualquer uma dessas coisas não fugiria dele e poderia dizer que queria sair com ele, ver seu rosto perto do meu ou pelo menos me apresentar como a pessoa com quem ele estava falando por tanto tempo. No entanto eu não era nenhuma daquelas características e só conseguia pensar no quão decepcionado ele ficaria ao descobrir que eu não era fisicamente a pessoa que ele havia imaginado.
O que será que ele imaginava?
— Não sei por que me faz sorrir — comecei a ler o que estava no branco papel, tentando ignorar meu coração batendo na boca, na garganta, nas pernas, nos dedos. Ele estava por todo lugar, me lembrando que na minha frente estava nada mais nada menos que a pessoa que eu gostaria de impressionar —, mas gosto de você.
A pausa que fiz deve ter durado alguns milésimos de segundos, mas foi essa eternidade toda que me fizera arrepender-me de olhar levemente para cima, analisando reações. me mirava com a intensidade que beirava o cômico. Sorri rapidamente e voltei minha atenção para a escrita, me sentindo mais tranquila, mesmo com as bochechas ainda em chamas.
— Gosto de como nossas alturas são perfeitas uma para a outra, como você me faz bem e como só consigo pensar em como nossas mãos se encaixam bem. Tão bem. — Fiz uma pausa pensando em . Era aceitável que, mesmo sem sentir-me confortável para me apresentar para ele, eu me declarasse como apaixonada? — Nossas mãos são estrangeiras uma para a outra, sendo que você só teve coragem de tomá-las por suas hoje, nessa noite fria e sem estrelas. Não fico triste que elas não estejam visíveis porque seu olhar brilha mais do que todas elas, me mostrando que você está tão feliz quanto eu, que você está se sentindo tão amado quanto eu.
Mais uma pausa.
Alguém tossiu, mas continuei:
— Enquanto seu dedão faz carinho nas costas de minha mão, pergunto-me por que fazemos isso. Por que amar você significa que andaremos no mesmo passo, sendo guiados um pelo outro por nossas mãos conectadas suando e conhecendo a textura uma da outra dessa maneira? Eu queria prestar mais atenção no silêncio bom entre nós, porém minha mente divaga e percorre caminhos que sei que não vão voltar atrás: gosto de você, por isso me anima segurar sua mão.
tinha cara de quem tinha mãos macias.
Malditas mãos.
— Anima-me segurar sua mão porque, sentindo seu perfume, envolta em sua presença e atenção, sei por que amantes fazem isso. Namorados, maridos, paixões seguram a mão de quem amam porque amar significa estar na mesma página, no mesmo paralelepípedo da calçada. Amar é combinar passos, caminhos, direções, velocidades. É segurar seus dedos com delicadeza como se fossem meu Universo finalmente se alinhando com minhas necessidades e desejos. Vontades. Amar é o consolo de contato físico, contato espiritual, emocional. Amar é segurar sua mão sabendo que posso soltá-la, mas não o fazer porque quero-te perto por mais um pouco. Segurar porque você foi o único que nunca quis soltar. Segurar porque é seguro. Segurar porque no momento que olho em sua direção, você faz o mesmo e alguma estrela brilha atrás de você, atraindo minha atenção. Até as estrelas quiseram presenciar o momento, tudo porque você me deu a mão e eu soube, no instante que nos tocamos, que você era você, eu era eu e nossas mãos foram feitas para se amar.
Fechei o papel e ouvi algumas palmas. Meus colegas da primeira fileira sorriram, honestos, e os outros pareciam talvez decepcionados que não fosse algo mais completo, mas eu estava satisfeita e Senhor Allen parecia também, pois bateu palmas e sorriu grande.
Não olhei para porque não queria saber se seus olhos eram ou não como as estrelas brilhantes de minha imaginação; se ele também gostaria de segurar a mão de quem conversou durante tanto tempo sobre tantas coisas. Fui sentar-me mais ao fundo, vendo Alice, uma menina pequena e gentil se levantar. Ela sabia contar histórias como ninguém e eu gostava como ela nunca falava sobre coisas óbvias.
Assim que ficou na frente da turma, sua mão fechada foi para seu peito em formato de "o" e depois, em um movimento como se seu braço fosse um limpador de parabrisa, seu mindinho levantou.
Oi.
Oi em libras.
Alice era muda e nossa turma havia feito curso depois de alguns meses estudando com ela. Por mais que lesse nossos lábios com facilidade, ela merecia aquilo de nós.
“Minha palavra foi pirulito e espero que vocês gostem” ela disse. Suas mãos se mexiam lentamente para que todos conseguissem acompanhar.
Senhor Allen juntou os cinco dedos da mão direita em formato de concha na frente de sua boca, afastando sua mão em seguida enquanto abria sua palma. Alice sorriu assim que ele terminou o que queria dizer ao levantar seus dois polegares e dedos indicadores ao mesmo tempo, os cruzando na frente de seu corpo e depois os separando, um para cada lado de seu corpo.
Ele estava desejando boa sorte para ela.
Meu professor projetou o texto dela no quadro porque algumas pessoas ainda não conseguiam acompanhar, porém ela não pareceu se incomodar. Sua forma pequena e confiante começou a contar o que precisava e eu sorri pelo simples fato de ela ser ela.
Minhas habilidades com libras ainda não eram das melhores, então comecei a ler seu texto, imaginando como ela usaria pirulito na história.

Estou com três amigos no parque. Mesmo não sendo época, está muito frio e por isso fizeram uma fogueira. Olhando para a face de cada um e sabendo que me sinto confortável com eles, pergunto-me se uma casa é um lar se ninguém mora lá. Será? Ou seria só um lugar e por isso não pode ser chamada de "lar"? Pego a felicidade, ignorando os devaneios, e coloco-a na boca. Minhas mãos tremem e meus olhos doem. É um pirulito ou cigarro? Seja o que for, é gostoso: é pirulito. Mas também me deixa feliz: é cigarro.
Não sei, não importa.
Há problemas maiores do que isso, como os pais do meu amigo de sorriso contagiante brigarem muito, porém não se separarem. Seu pai é considerado benfeitor por ser médico e, quando o vi na loja de conveniências comprando garrafas de cerveja, ele justificou ser para uma festa do hospital. Queria dizer a ele que sou viciado, não burro. Mascarado do jeito que é, ele diria alguma esperteza médica e provaria que sim, sou menos inteligente por neurônios queimados ou menos circulação de oxigênio. Ao contrário do que minha imaginação rápida construíra, o pai de meu amigo aproveitou para perguntar se eu estava tomando minha medicação e tive que mentir. Não que me importasse com ele; só não queria criar mais caso.
No outro lado da lua, a mãe de meu amigo aparece com hematomas na lanchonete em que trabalha e ninguém questiona porque todos são incentivados à indiferença. Soube que eles discutiram feio semanas atrás e que meu amigo está aqui hoje porque tentou ajudar.
O mais quieto do grupo compartilha o cigarro/pirulito comigo e suspira pesadamente. Ele me passa uma bala e eu coloco-a na língua, fechando meus olhos e colocando ar para dentro dos pulmões usando a boca. Minutos de desinibição passam-se e eu noto que ele é um menino triste porque, mesmo que não admita, teve pedaços de seu coração roubado e hoje nada possui. Nada além de traumas, medos e inseguranças.
A luz do fogo parece explodir no céu e eu sorrio com isso porque é bonito como o Natal, bonito como nada mais em minha vida.
— Ei! Tudo bem? — uma menina diz e preciso desviar os olhos do céu em chamas.
Meu amigo calado me olha e balança a cabeça. Ele não quer conversar com ela, que é seu motivo para estar ali, morrendo com almas mortas. Ele não quer conversar com ela porque a lei foi criada por desculpas não curarem tudo. Ele não quer conversar com ela porque acha que traição é crime, mas ninguém pensa o mesmo. Ele não quer conversar com ela porque ela era tudo que ele tinha.
Não respondo seu cumprimento e ela dá um sorriso vacilante. Parece com medo. Queria fazer uma piada, porque ela é bonita e eu gosto de impressionar, porém penso que já deve ser difícil estar ali.
A cidade inteira sabe que a praça é minha e de meus amigos. Ninguém sóbrio entra lá. Ninguém feliz pode sentar-se conosco, pois nossa bagagem pesaria e afundaria todo sentimento bonito. A felicidade pode ser contagiante, mas a tristeza é muito mais poderosa e influenciadora.
Meu outro amigo, o que ainda não havia dito nada, levanta-se parecendo prestes a atacar. A camiseta que a menina usa está abotoada da maneira errada e um botão sobra sozinho na extremidade da peça. Ele, amante da perfeição, leva a mão até o rosto e coça sua mandíbula de forma agressiva. A pele parece prestes a ceder naquela parte da face. Combinado com os cigarros e estresse, a tranquilidade mental perdida foi sortuda em não ter que acompanhar o resto do corpo. Ele rosna para ela e eu balanço a cabeça negando. Seu olhar para nos tênis sujos, com os cadarços trocados, e sei que ele quer morrer. Depois que perdeu a bolsa da faculdade por não ser mais o número um em sua sala, cuidar dos detalhes alheios foi sua saída.
O fogo vai se apagando e meu amigo perfeito imperfeito encara um pedaço de plástico jogado ali se contorcendo. Ele sorri sadicamente, ignorando os espasmos em sua mão. Ontem, ele me pediu um galão de gasolina e pediu também que eu não fizesse perguntas, só confiasse. Confiei e acabei esquecendo de tomar o remédio outra vez. Acontece. Dia após dia, eu esqueço.
Deveria esquecer de viver também.
— Fran morreu. Ele não resistiu aos ferimentos — ela fala. Nem notei que ainda estava ali. Sua sombra me confundia e não sabia para onde olhar. — A casa queimou em menos de cinco minutos. O irmão dele sobreviveu, mas vai ser preso porque as fotografias que eu tirei... bem, eu as entreguei para a polícia.
Do que ela está falando?
Não sei, não importa.
— Fran está aqui, idiota. Olha para ele! — aponto na direção de meu amigo. Ele não está lá.
Ninguém está.
— Ele morreu.
Ninguém está lá.
Todos morreram.
Eu lembro agora.
— O funeral vai ser amanhã. Vamos colocá-lo entre os outros. Peço que venha. Por favor.
Eu lembro agora.
Todos morreram.
O sorriso contagiante se foi porque, ao apartar a briga, pegou a pistola do pai e mirou. Errou. Mas o pai acertou "em legítima defesa". O quieto calou sua dor em um mar de desilusões, no litoral. Ele se afogou rápido, tão rápido... quem sabe seu último pensamento não fora que ele desejava que sua vida tivesse sido rápida assim. Quem sabe. O perfeito viu as listras na estrada e, encontrando imperfeições nas linhas desenhadas no chão, coçou seu rosto uma última vez e perdeu o controle do carro. E da vida.
Eles morreram.
— Tome seu remédio e venha.
Seus sorrisos somem da minha visão e ela vai embora. Mesmo sendo verão, faz muito frio e por isso a fogueira está ali. Sentado, pareço tranquilo, mas por dentro pergunto-me se uma casa é um lar se ninguém mora lá.
Não, não é. Um lar precisa de amor, decoração agradável, conforto e vida. Não tenho nada disso para julgar, então pego a felicidade, ignorando os devaneios, e coloco na boca. É um pirulito ou cigarro?
É cigarro.
Quero morrer também.

Quando acabei de ler, Alice ainda não havia terminado, então acompanhei suas mãos levarem os dedos indicador e médio até a boca, como se fosse cigarro. Depois ela fechou sua mão como se fosse uma garra, a trazendo para perto do peito, passou a palma aberta na frente do pescoço e então finalizou sua história com suas mãos se batendo nas laterais, com os polegares para baixo. “Quero morrer também”.
Não achei que ela fosse escrever algo tão obscuro e pelos olhares de meus colegas, eles tampouco esperavam, porém ainda assim todos balançam as mãos no ar.
Ela merecia muito reconhecimento por escrever algo tão oposto à sua personalidade alegre e divertida.
Meus olhos voaram para , para saber o que ele havia achado do texto. Mesmo de costas, sua postura pareceu rígida o tempo todo como se estivesse desconfortável e não consegui deixar de pensar que talvez fosse por conta dos sons que Alice emitia enquanto gesticulava para se comunicar. Muitas pessoas não sabiam como lidar com o diferente e eu tinha medo que ele fosse assim.
Ouvi as outras histórias, rindo com algumas e refletindo sobre outras mais profundas e logo Senhor Allen estava anunciando a aula como findada. Juntei meus pertences da maneira mais robótica possível e vi os pés de perto de mim tempos depois.
?
— Sim? — fingi não estar desconcertada e fechei o zíper da mochila. Como não tinha mais com o que ocupar meus olhos, inclinei meu corpo para conseguir olhar embaixo da mesa e encontrar o vazio que sabia que iria encontrar, pois não costumava colocar nada lá.
— Sei que vai ser uma pergunta muito idiota — ele disse, me fazendo olhar para sua figura parada em minha frente, com as mãos no bolso e a incomparável beleza —, mas você poderia falar uma palavra para mim?
— Uma palavra?
— Meu nome — ele falou, sem rodeios. Contratenor de alcance G3 à A5. — Você pode falar ""?
Eu podia falar ?
Desejei que estivéssemos na escola para que algum sinal pudesse tocar anunciando o fim de um período ou que alguém qualquer nos interrompesse, porém não aconteceu nada daquilo porque o inferno astral estava fungando no meu pescoço mesmo que eu não acreditasse nele. O karma de não ter segurado a porta para o zelador do dormitório do campus naquela manhã estava cutucando minhas costas com seu tridente afiado e cruel — ou seria esse o Destino?
Tivesse o nome que fosse, real ou não, eu estava parada na frente dele sem saber como continuar aquela conversa, por isso coloquei lentamente as alças de minha mochila nas costas e encarei-o, como se esperasse que ele se explicasse.
— Posso falar sim — falei, desviando da carteira e seguindo para a porta, uma vez que ele não disse nada. Senhor Allen estava desligando o computador e colocava suas folhas dentro de sua pasta transparente. Ele acenou para mim e sorriu, desejando uma boa semana. , para minha irritação, seguiu ao meu encalço. — Somente cinco letras, né? — continuei, idiota. Néscia, inepta, obtusa. — Você não consegue? Quer dizer — coloquei meu cabelo para trás da orelha, aflita com o rumo que tudo aquilo tinha tomado —, você consegue. Acabou de fazer.
Sorri amarelo e me vi fora da sala.
Suas mãos estavam nos bolsos e seus olhos brilhavam.
Malditas estrelas.
Seu olhar parecia percorrer meu rosto, procurando alguma coisa que não sabia identificar. Ao notar que sua atenção estava em meus lábios, perdi o romance e me perguntei quando havia sido a última vez que havia feito o buço. E se ele estivesse encarando por tanto tempo porque eu estava com um bigode maior que o inexistente dele?
Merda.
? — Alguém gritou, me fazendo olhar por trás dele, inclinando o corpo levemente para a direita. estava com o braço levantado por meio dos alunos, como se quisesse chamar mais a atenção do que quando gritou.
Professor Allen passou por nós sem se dar o trabalho de me salvar e fiz uma nota mental para não gostar mais tanto dele: meus olhos deviam estar clamando por ajuda e ele era escritor; devia ser sensível para compreendê-los.
Salafrário!
Silêncio.
Sem saída.
Salvação.
Silêncio.
Suspiro.
Sabendo que enumerar palavras que se encaixassem na situação e começassem com a letra S não ajudaria em nada, que só me faria parecer mais idiota, não encontrei uma boa desculpa para não poder falar com ele. não sabia mesmo quem eu era e eu só poderia estar ficando louca, então, depois de pensar em "sonsa" para me descrever e acrescentar em minha lista mental de S, falei seu nome.
A ausência posterior de som vindo dele me fez querer fechar os olhos porque falei a palavra maldita olhando diretamente para que havia chegado até nós. No entanto, pela visão periférica, enxerguei a pessoa por quem estava apaixonada parecer ter descoberto a América depois de ouvir-me.
Pedro Alvarez Cabral das vozes.
Precursor dos plot twists de ligações românticas acidentais.
Pioneiro em relacionamentos indesejados.
P… pare!
? — disse, colocando uma mão em seu ombro. Ele estava atrás de e nos olhava estranho. Provavelmente questionava de onde nos conhecíamos. — Finalmente chamou ela para sair? — Seu amigo deu um riso breve enquanto sorria para nós dois. Segurei minha respiração, olhando de para e implorando por explicações.
me olhou como se pedisse desculpas.
Olhando de mim para seu amigo, arregalou de leve os olhos e murmurou profanidades.
— Eu fiz merda, ? — ele falou, dando passos de leve para trás.
— Adivinha.
— Não? — meu colega disse, com um sorriso engraçado.
— Tenta adivinhar de novo.
acenou para mim, ainda caminhando engraçado, enquanto soltou um “eu te odeio, cara”.
— Se tem algo que aprendi com os videogames — comentou, já mais longe de nós —, é que, se você encontra inimigos, pessoas que não gostam de você, você está no caminho certo. Então é isso. — Ele fez um sinal que parecia só ser usado por surfistas e se virou, indo embora. sequer olhou para ele. — Vou precisar de ajuda depois com a mudança, ok? Boa aula!
— Você sabia que era eu? — perguntei.
— Claro.
Em um ataque de nervosismo, comecei a caminhar, deixando ele para trás. Eu não sabia como lidar com aquelas informações todas, então pareceu certo simplesmente passar por ele com pressa e sequer pedir perdão.
Pés traidores.
Pairando
Pernas sem controle.
Pensando.
Parando.
? Você está bem?
Não respondi e continuei caminhando porque meu amor platônico por ele era importante para mim e eu não estava preparada para ser rejeitada.
Amores platônicos eram importantes porque meu problema em me relacionar com minha própria aparência e minhas neuroses sempre foram maiores que a vontade de ser social e popular, fazendo com que meu maior vínculo com outras pessoas se desse por livros, histórias e imaginação, que me ensinaram sobre amar, sobre relacionamentos, sobre ser madura. Aprendi sobre um amor que não esperava nada, que amava pela satisfação da existência alheia, um amor platônico que não recebia mérito algum, crédito algum. Um amor que não me amava de volta, mas que me trazia um senso de cuidado, de peso, de sensibilidade e de carinho que muitas pessoas não compreendiam e que julgavam porque “se é platônico, se a pessoa não te ama de volta, então é sem sentido”.
A questão era que eu acreditava que talvez amor também fosse sobre exaltar o outro e não somente a si. Talvez amar assim fosse sobre admiração (do outro), felicidade (alheia) e muitos outros sentimentos que não nos diziam respeito, porque não amávamos para nós mesmos; nós amávamos o próximo, para o que não estava a nossa responsabilidade.
Então, se deixasse de ser platônico e cruzasse minha vida real, eu seria atingida por sentimentos que não só não poderia controlar, como também não teria muito controle sobre como me afetariam e magoariam. A insegurança e medo de ser rejeitada pela fantasia e carinho que eu havia desenvolvido por ele eram mais fáceis de lidar se ele não soubesse quem eu era e não tentasse se relacionar comigo por obrigação ou pena.
— Olha, tudo bem se você não quiser nada comigo. — Sua voz seguiu-me e, quando olhei para o lado, lá estava ele e toda sua beleza física e aura bela. — Eu não quis assustar você ou confrontar. Sei o quanto você não gosta disso. Mas eu precisava ter certeza de que era você e que você não seria minha tinta amarela.
Parei no meio do corredor esquecendo de meus compromissos e de meu nome. Eu estava tão nervosa e sem saber se os sinais de aviso do mundo normal estavam sendo confundidos com borboletas no estômago ou se eram naturalmente amor real e borbulhante dentro de mim.
— Tinta amarela? — questionei.
Os corredores estavam quase vazios e nós estávamos perto da porta, com vista exclusiva para o mundo afora branco de neve e inverno rigoroso. Não queria sair do prédio aquecido porque eu havia perdido meu ônibus e o próximo só viria em dez minutos. E porque era intrigante.
— Quando eu tinha uns 14 anos, li sobre Van Gogh — começou a narrar. Ele parou na minha frente e suspirou profundamente antes de continuar, parecendo desconfortável. — Era um artigo falando sobre a época que Vincent ficou mal, acabou indo para um hospital psiquiátrico e comia tinta amarela. As pessoas achavam que ele era doido, mas a justificativa dele era de que só queria ser feliz por dentro, só isso. Acho que cada pessoa tem sua própria tinta amarela; algo que é ruim, mas que nos faz sentir bem. É simbólico, sabe? O amarelo, a dor, como decidimos seguir a partir do que nos machuca, do que nos deixa triste. — virou-se para olhar pela transparência do vidro da porta e levar sua atenção visual para longe de mim. — Mesmo com medo de que você seja isso que me faz feliz agora e que vai me intoxicar mais tarde, queria saber o que você quer ser. Porque temos nos falado há meses e eu sempre deixei claro que queria conhecer você. Porque lembro quando você disse que, se pudesse escolher um superpoder, seria ler mentes, porém não conseguimos isso no momento, então quem sabe você pudesse falar comigo, me explicar o que está sentindo. Não consigo adivinhar ou ler sua mente, acredite.
— Você respondeu que queria fazer todo mundo sorrir e eu disse que isso não era um superpoder — respondi, não sabendo como endereçar o assunto que ele estava trazendo. Não era mais platônico, não era um sentimento meu. Era um sentimento nosso e eu estava com medo. — E tinta amarela? Wow, não conhecia esse seu lado clichê de escritor barato.
Meu superpoder parecia ser fugir por mais que admirasse a voz que me pedia para ficar.
— Acho que você estava certa e não é um superpoder, mas ainda assim quero fazer outras pessoas felizes sem nem saber. Não sei — colocou sua mão um pouco para o lado e nossas mãos roçaram uma na outra. Meu dedo indicador se mexeu automaticamente e encostei na pele dele. Estava quente. Sorri para o vidro, observando o reflexo dele indiretamente —, fazer você feliz sabendo que, sei lá, se importa comigo e gosta de conversar comigo também. Mesmo como amigos ou colegas de aula. O que você acha?
Minha mão encontrou na dele e nossas peles mesclaram-se porque parecia que o silêncio no meio das vozes era melhor. O contato acalentador depois de tanto tempo contando com algo além de um telefone frio. A companhia contrária a ausência física dele. Os contrastes, a sintonia, o lugar que ocorreu alguma coisa. A sensação de estar indo além de um sentimento que antes parecia um pouco menos verídico e passava a ser algo mais. Talvez fosse nosso fio vermelho encurtado pela distância mínima de alguns passos, talvez o saciar de uma saudade que existia e que sequer sabíamos.
Eu só conseguia sentir familiaridade na presença dele.
— Acho que não vamos precisar desejar superpoderes mais, não é? — ele disse.
Nossos dedos se apaixonaram e viramos nossos corpos, ficando de frente um para o outro para que nossas existências pudessem se apreciar.
se inclinou levemente para a frente e nossos narizes se encontraram. Ele fez carinho com o dele no meu, me fazendo corar e ficar um pouco menos nervosa.
— murmurei.
Seus dentes brancos apareceram em um sorriso e desapareceram em seguida ao me beijarem. Eu estava beijando a pessoa de quem gostaria de aprender as manias, o idioma, a língua, a boca, as curvas, os gostos. Estava o beijando porque estava cansada de sentir por outros corações, ser areia enquanto todo mundo amava o mar; ser escuridão quando todo mundo admirava as estrelas. Estava o beijando porque queria ser eu mesma e não outra pessoa.
— Acho que só precisamos das nossas vozes para conseguir o que queremos. Seja lá o que for, seja lá qual voz seja — comentei, recebendo um beijo rápido em resposta. Ele sorriu e não pude deixar de imitá-lo. — Eu só preciso conversar com você e não desejar ler mentes. E você só precisa abrir essa sua boca linda que todo o mundo fica instantaneamente feliz. Você é lindo, .
— Eu sei. — Nós rimos mais um pouco. — E você é mais linda ainda, . De verdade.
— Não, você que é.
— A gente pode ter nossa primeira briga aqui e agora ou você pode aceitar os fatos e ir em um encontro comigo. Podemos usar nossas bocas para algo mais proveitoso — ele disse, arqueando as sobrancelhas de forma engraçada. Quando corei, beijou minha bochecha e abriu a porta. Saímos para logo sentir o vento frio e a temperatura baixar drasticamente em segundos. — Eu quis dizer comer alguma coisa, mas fico feliz de saber que você só consiga pensar nisso agora.
Quando murmurei um "convencido", ele riu e continuou a caminhar com minha mão na dele como se isso já tivesse ocorrido em outras ocasiões e não somente em meus devaneios. Ele devia imaginar que eu me referia a ele na aula com minha história e acreditar em coincidências que justamente a mão dele fosse especial e minha palavra fosse aquela.
Não foi uma confiança que veio rápido, mas sua presença me confortou da maneira que precisava para que eu conseguisse me permitir olhar para ele, beijá-lo, gostar dele de perto.
— Quais os planos? — perguntei, ajeitando meu casaco em meu corpo. Estava extremamente frio e, por mais que eu gostasse do contato com ele, eu não queria morrer congelada lá fora. Queria era explodir de amor, por mais estúpido que aquilo soasse. A presença dele me deixava nervosa e extasiada ao mesmo tempo, me fazendo pensar como tudo aquilo havia acontecido.
— Nunca deixar você se esconder de mim novamente.
— Eu quis dizer sobre o lugar que estamos indo.
— Infinito e além? — ele brincou.
Chegamos ao café principal do campus ao deixar nossos pés vagarem sem rumo e ele manteve o sorriso infantil no rosto.
— O que foi?
— Eu tenho certeza absoluta que jamais vou esquecer sua voz ou esse seu sorriso bonito. Mas, mais do que isso, sei que vou te amar muito ainda. Espero que tudo bem por você.
Não me assustei com aquilo, porque senti toda a verdade por trás de cada sílaba e entonação. Nos conhecíamos há meses, ele parecia ser uma boa pessoa e eu poderia trabalhar minhas dificuldades com paciência e carinho; não por ele, mas por mim, por nós. Claro que ainda precisava de respostas para muitas perguntas (qual a chance de sermos colegas? Quando ele descobriu? Ele reciclava o lixo? Aquilo havia sido uma jogada de ? Ele gostava de chocolate com menta? Como ele se sente depois de ter me conhecido?), porém tínhamos tempo para cada uma delas e muitas outras.
abriu a porta como se não tivesse acabado de me fazer flutuar. Eu fui de me sentir invisível, de ultrapassar portas e paredes sem ninguém notar para me sentir nas nuvens, em um lugar que queria estar, que me sentia merecedora de pertencer. Tudo por um voto de confiança, carinho e afirmação.
— Por mim, tudo bem. Mais do que bem, na verdade.


FIM.



Nota da autora: Esse foi o primeiro ficstape que organizei, mas fiquei super feliz de poder ter essa experiência, sabe? É a segunda história que compartilho aqui, então espero que tenham amor e paciência comigo - e comentem bastante, claro; ler feedbacks ajuda demais com a motivação de continuar compartilhando histórias assim.
Qualquer coisa é só avisar, chamar pelo @himoonlight_ no Instagram ou deixar um comentário aqui no ffobs mesmo que vou responder tudinho com certeza, tá? Obrigada por ler!




Nota da beta: Que história bonita! Adorei a delicadeza dos personagens e da história deles ❤️


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.

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